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ISB N 978-85-352-3760-3
BRUCE BLOCK
TRADUÇÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO AMERICANA
97 53523603 CAMPUS
Este best-seller oferece uma visão
Consulte também nosso catálogo completo, Criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais
últimos lançamentos e serviços exclusivos no site
www.elsevier.com.br Tradução
Claudia Mel/o Beihassof
Revisão Técnica
Marcus Ligocki
ELSEVIER CAMPUS
Do original: 77ie Visual Story:
Media, 2 nd cd.
Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Elsevier lnc.
Copyright <D 2008 Bruce A. Bloclc Published by Elsevier lnc. Ali rights reservcd.
ISBN 978-85-352-3760-3
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem
ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceituai. Em qualquer das hipóteses,
solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possa-
mos esclarecer ou encaminhar a questão.
Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos
ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ
B61 ln
Block, Bruce A.
A nanativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais/
Bruce A. Block; tradução Cláudia Mello Belhassof. - São Paulo: Elsevier, 20 l O.
Tradução de: The Visual Story: Creating the Visual Structure of Film, TV anel Digital
Media.
Apêndice
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-352-3760-3
Agradecimentos ix
Prefácio xi
Introdução xiii
1. Os componentes visuais
2. Contraste e afinidade 9
3. Espaço 13
6. Cor 143
7. Movimento 179
8. Ritmo 211
Apêndice 285
Bibliografia 305
Índice 307
vii
Gostaria de agradecer aos meus alunos da University of Southern California
e aos milhares de outros alunos e profissionais que frequentaram minhas aulas e
seminários em universidades, escolas de cinema, agências de propaganda,
escritórios de design e produtoras de cinema do mundo todo. Este livro só foi
possível graças a essa interação.
Ninguém progride sozinho. Meus professores Word Baker, Lawrence Carra,
Sulie e Pearl Harand, Dave Johnson, Bernard Kantor, Eileen Kneuven, Mordecai
Lawner, William Nelson, Neil Newlon, Lester Novros, Woody Omens, Gene
Peterson, Mel Sloan, Glenn Voltz, Jewell Walker e Mort Zarkoff me inspiraram
e continuam a fazê-lo.
Os aspectos práticos de fazer cinema que discuto aqui são resultado do
trabalho de profissionais talentosos em filmes publicitários, documentários,
videogames, sites na Internet, programas de televisão, animações e filmes de
longa-metragem. As experiências que compartilhamos foram fundamentais para
o amadurecimento das ideias apresentadas neste livro. Sou especialmente grato
a Bill Fraker, Neal Israel e Charles Shyer, que me ajudaram a dar os primeiros
passos em Hollywood.
Agradeço ao Dr. Rod Ryan pelos comentários inteligentes sobre o Capítulo
6, "Cor", a Judith Kent e Brad Chisholm por suas observações editoriais, e a
Alan Mande! pela cena usada no Apêndice.
Recebi muito estímulo e apoio de Chris Huntley, Richard Jewell, Jane
Kagon, Billy Pittard, Ronnie Rubin, meus grandes amigos Alan Dressler e Eric
Sears, e meu irmão David Block.
Um agradecimento especial a Suzanne Dizon.
Bruce Block
Los Angeles, Califórnia, 2007
ix
~-------------
-----------------,(__P_re_f_á_c_io__),____ _
xi
GD Prefácio ELSEVIER
xiii
Introdução ELSEVIER
Você vai aprender a estruturar a imagem com o mesmo cuidado que um escri-
tor estrutura uma história ou um compositor estrutura uma música. Entender a
estrutura visual permite que você transmita humor e emoção, proporcione uni-
dade e estilo à sua produção e, mais importante, encontre a relação crítica entre
a narrativa e a estrutura visual.
Aqui, talvez pela primeira vez, você vai ver a importância dos princípios
visuais para a produção prática. Alguns desses princípios existem há milhares
Os componentes visuais
de anos; outros são resultado de tecnologias novas e em desenvolvimento.
Os conceitos deste livro beneficiarão roteiristas, diretores, câmeras, desig- O ELENCO DE PERSONAGENS VISUAIS
ners de produção, diretores de arte e editores que sempre se deparam com ques-
tões visuais com as quais qualquer cineasta já se defrontou. Os alunos que se Em todos os lugares aonde vamos, nos deparamos com imagens. Imagens fixas
sentaram na fria sala de aula de Eisenstein tinham o mesmo objetivo básico dos em livros, revistas e museus; imagens em movimento em filmes, na televisão,
cineastas de hoje: fazer um bom filme. Este livro vai ajudá-lo a concretizar esse em concertos e em teatros; nós jogamos videogames e navegamos na Internet.
objetivo. Observamos muitas imagens - grandes, pequenas, em movimento, paradas,
coloridas ou em preto e branco mas todas elas são imagens.
Este livro ensina a entender e controlar essas imagens.
Toda imagem é composta de narrativa, elementos visuais e, algumas vezes,
sons. Em conjunto, esses três elementos transmitem o significado da imagem
para o espectador. Se a imagem for uma propaganda, o espectador pode ser
persuadido a comprar um produto. Se a imagem for um jogo de computador,
a narrativa, os elementos visuais e o som podem tornar o jogo viciante. Se a
imagem for um filme, o espectador pode ser emocionalmente afetado.
As imagens podem ser subdivididas em três partes fundamentais:
111 Narrativa: Partes fundamentais de trama, personagens e diálogos
111 Som: Partes fundamentais de diálogos, efeitos sonoros e músicas
111 Elementos visuais: Quais são as partes fundamentais dos elementos visuais?
Cenários? Acessórios? Figurino? Essas respostas são muito limitadas - as
partes fundamentais de todos os elementos visuais são os componentes
visuais básicos.
1
CD A Narrativa Visual ELSEVIER El.SEVIER
Os componentes visuais
9
GD A Narrativa Visual ELSEVIER
ELSEVIER
Contraste e afinidade
GD
intensidade, ou dinâmica, da reação emocional do público ao ler um livro, ouvir
uma música ou ver uma imagem. A reação do público pode ser emocional (ele
chora, ri ou grita) ou fisica (os músculos das pessoas se contraem, elas cobrem
os olhos, elas dormem). Normalmente, quanto mais intenso o estímulo visual,
mais intensa é a reação do público.
Um bom escritor estrutura cuidadosamente palavras, frases e parágrafos.
Um bom músico estrutura cuidadosamente notas, compassos e ritmos. Um dire-
tor, cineasta, designer de produção ou editor estrutura os elementos visuais apli-
cando o Princípio de Contraste e Afinidade aos componentes visuais básicos.
O efeito do Princípio de Contraste e Afinidade pode ser demonstrado com
um desenho simples:
Essas tomadas são exemplos de afinidade tonal. Uma delas usa apenas preto
e cinza escuro, e a outra usa dois tons claros de cinza.
Qual das duas metades desse quadro é mais intensa? A metade da direita está
Todos os componentes visuais (espaço, linha, forma, tonalidade, cor, movi-
cheia de linhas contrastantes que criam uma intensidade visual. A da esquerda
mento e ritmo) podem ser descritos e usados em termos de contraste e afinidade,
não tem intensidade, por causa da afinidade visual. Cada metade do quadro tem
e nós discutiremos isso nos capítulos a seguir.
uma personalidade visual diferente.
Dito de maneira simples, contraste significa diferença, e afinidade significa
Veja mais um exemplo, usando dois filmes de curta-metragem hipotéticos:
semelhança.
O Princípio de Contraste e Afinidade determina:
D D
Quanto maior o contraste em um componente visual, maior a intensi-
dade ou dinâmica visual. Quanto maior a afinidade em um componente
visual, menor a intensidade ou dinâmica visual.
D D
contraste = maior intensidade visual
afinidade= menorintensidadevisual
O que significa intensidade visual? Uma montanha-russa de última geração 5 6 7 8
é intensa; um cachorrinho dormindo não é. Uma sequência de ação selvagem em
um ótimo filme é empolgante; a imagem de uma calma costa do mar em um dia Esse é o storyboard do primeiro filme. O storyboard é um conjunto de dese-
nublado não é. Um jogo de computador pode ser empolgante ou entediante. Um nhos que ilustra como será a aparência final de um filme. Cada tomada nesse
comercial de televisão pode ser inquietante ou tranquilizador. Um documentário filme dura um segundo. O quadro começa branco e fica preto, depois branco,
pode ser alarmante ou reconfortante. Essas reações emocionais se baseiam na preto etc. Essa alternância de branco e preto continua por vários minutos.
A Narrativa Visual ELSEVIER
Espaço
2 3 4 O espaço é um componente visual complexo. Ele não apenas define a tela
na qual todos os outros componentes visuais são vistos; o espaço em si tem
□□□ CJ
diversos subcomponentes que devem ser explicados. Este capítulo é divi-
dido em duas partes. A JJrimeira parte define os quatro subcomponentes do
espaço: profundo, plano, limitado e ambíguo. A segunda parte discute a
5 6 7 8 relação de aspecto, as divisões da superfície e o espaço aberto e fechado.
ESPAÇO PROFUNDO
O espaço profundo é a ilusão de um mundo tridimensional em uma superfície de
tela bidimensional. É possível proporcionar ao público a experiência visual de
ver um espaço tridimensional (altura, largura e profundidade), embora a profun-
didade seja ilusória. Nunca há uma profundidade real, pois a tela sobre a qual a
imagem existe é apenas bidimensional.
O público acredita que vê profundidade em uma tela bidimensional por
causa de informações de profundidade.
13
4 A Narraiiva Visual ELSEVIER Espaço 15
As informações de profundidade
Perspectiva de um ponto
O espaço profundo, a ilusão de profundidade em uma superfície bidimensional,
é criado através do uso de informações de profundidade. Essas informações são Esse é o tipo mais simples de perspectiva.
elementos visuais que criam urna ilusão de profundidade.
Perspectiva
A mais importante informação de profundidade é a perspectiva. Ao criar uma
profundidade ilusória para uma tela plana, é essencial saber reconhecer a pers-
pectiva no mundo real.
.------
t
A Na1-i-ativa Visual ELSEVIER
Espaço
GD
Um exemplo clássico de perspectiva de um ponto ocorre quando ficamos de
pé no meio de uma ferrovia. Os trilhos parecem se encontrar ou convergir cm
um ponto de fuga no horizonte. Os trilhos nunca se encontram de fato; eles con-
tinuam sempre paralelos, mas parecem convergir em direção ao ponto de fuga.
PF
Os trilhos da ferrovia criam um plano longitudinal. Esse plano se estenderia
até o horizonte, mas, no diagrama, ele é reduzido em prol da clareza. Nós asso-
ciamos essa convergência à distância. Quanto mais os trilhos convergem, mais
distantes parecem.
A convergência ocorre no mundo real e no mundo da tela, mas, neste, ela
ocorre em uma superfície bidimensional e é uma informação da profundidade
ilusória. Os trilhos da ferrovia parecem ir em direção à profundidade da ima-
gem, mas não há profundidade real em uma tela plana.
As linhas ao longo das partes superior e inferior do plano agora parecem se encon-
trar ou convergir em um único ponto, chamado de ponto de fuga ou PF. Normalmente, Perspectiva de dois pontos
o ponto de fuga aparece no horizonte, embora possa aparecer em qualquer lugar. Isso
O próximo nível, mais complexo, é a perspectiva de dois pontos, que usa dois
cria um plano longitudinal, uma informação extremamente importante para a pro-
pontos de fuga. Existem diversas maneiras pelas quais a perspectiva de dois
fundidade ilusória. O plano longitudinal parece ter profundidade. Um dos lados do
pontos pode ser produzida:
plano p1:u-ece ainda mais distante, embora ele exista nessa superfície plana de papel.
GD A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER Espaço
GD
Esse plano longitudinal tem apenas um ponto de fuga. Linhas adicionais Existem dois pontos de fuga. As linhas superior e inferior do plano con-
foram acrescentadas ao plano para tornar a convergência mais evidente. vergem para um ponto de fuga localizado à esquerda do quadro. As laterais do
plano convergem para um segundo ponto de fuga localizado acima do quadro.
Se a posição de observação for levantada, as laterais do plano longitudinal vão
convergir para um ponto de fuga abaixo do quadro.
Dois pontos de fuga também podem ser gerados usando-se duas superfícies
longitudinais separadas.
PF /
. . Ei~bo'.·a ~~s _pontos de fuga estejam escondidos atrás dos planos longitudi-
nais, c1md,t ha lmhas convergentes.
/
/ PF
/
/
\ 1 /
\ 1 /
~' PF
Essa tomada também ilustra a perspectiva de três pontos, mas a posição de
Essa é a visão de um prédio alto. Todas as linhas do prédio convergem para observação está acima do prédio.
um dos três pontos de fuga. A perspectiva, os pontos de fuga e os planos longitudinais podem ser aplica-
dos a qualquer objeto 110 mundo real, como ilustram as imagens a seguir.
Quando a câmera está 110 nível dos olhos, um ator é como um plano frontal
achatado.
PE
Essa tomada tem profundidade porque as três pessoas foram colocadas em três
planos separados. Uma está no primeiro plano (FG), outra está no plano interme-
Quando um ponto de fuga sai do quadro, sua capacidade de atrair a atenção diário (MG), e a terceira está no plano de fundo (BG). Separar os objetos nos pla-
do público diminui. nos FG, MG e BG aumenta a diferença de tamanho entre eles. Perceba, também,
Passar da perspectiva de um ponto para a de dois pontos e para a de três como as pessoas nos planos FG e BG criam um plano longitudinal. Evidentemente,
pontos é uma progressão visual. Quanto mais pontos de fuga, maior a ilusão de as três pessoas estão sepm·adas pela mesma distância, pois estão na mesma super-
profundidade. Um ponto de fuga cria a ilusão de profundidade, mas acrescentar fície plana (esta página). A alteração de tamanho cria a ilusão de profundidade.
um segundo ou terceiro ponto aumenta a ilusão de espaço profundo. Esse conceito pode parecer simples e óbvio, mas a diferença de tamanho é
É possível usar quatro, cinco, vinte ou mais pontos de fuga em uma imagem. Se um método extremamente importante de criar profundidade ilusória em urna
este livro fosse um exercício de desenho (e não é), passmíamos um tempo apren- superfície plana. Em Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles,
dendo as complexidades da perspectiva de vários pontos. Mas um público que o posicionamento dos atores e a ilusão de profundidade se baseiam principal-
assiste a um filme ou vídeo não percebe mais do que três pontos de fuga. Essa limi- mente na perspectiva e na diferença de tamanho. Na verdade, essa informação
tação é uma vantagem para o cineasta porque significa que só existem três níveis de de profundidade às vezes é chamada de posicionamento em profundidade.
profundidade ilusória possíveis quando usamos perspectiva e convergência.
Movimento
Lembre-se de que, por mais que se acrescentem pontos de fuga, não há pro-
fundidade real. Os desenhos e as fotografias usados aqui para ilustrar o espaço A profundidade ilusória é criada quando se movimenta um objeto em frente à
profundo existem na superfície plana e bidimensional de uma página. Toda a câmera ou quando se movimenta a própria câmera. No Capítulo 7, o conceito de
profundidade é ilusória. movimento será ampliado para outras áreas.
Movimento do objeto
Diferença de tamanho
Um objeto é qualquer coisa que está na frente da câmera: uma pessoa, um ani-
Quando um objeto de tamanho conhecido fica menor, ele parece mais distante; mal, uma cesta de basquete, uma cadeira, um carro, um barco, um facho de luz;
quando fica maior, parece mais próximo. não faz diferença.
Existem apenas duas direções básicas pelas quais um objeto no mundo real
pode se movimentar em frente à câmera. O objeto pode se mover paralela ou
ELSEVIER Espaço
28 A Narrativa Visual ELSEVIER
!
Ol Ao acrescentarmos um ponto de fuga, temos um diagrama exato da distân-
cia a mais que o corredor que está no FG parece percorrer, embora ambos, na
verdade, percorram a mesma distância. À medida que compara a velocidade
aparentemente mais lenta e o movimento aparentemente mais curto do corredor
que está no BG em relação ao corredor que está no FG, o espectador acredita
O movimento paralelo ao plano da imagem pode ser na direção esquerda- que o corredor que está no BG está mais distante (o corredor que está no BG
direita, acima-abaixo, diagonal ou circular. também é menor, o que aparenta profundidade). A aparente diferença na velo-
Um único objeto se movimentando paralelamente ao plano da imagem não cidade e na distância percorrida gera a informação de profundidade chamada de
é capaz de criar profundidade, mas o espaço profundo é criado na superfície de movimento relativo.
uma tela plana quando dois ou mais objetos em diferentes planos se movimen- A profundidade ilusória também é criada quando um objeto se movimenta
tam paralelamente ao plano da imagem. perpendicularmente ao plano da imagem. Os objetos que se movem na direção
da câmera ou para longe da câmera estão se movimentando perpendicularmente
ao plano da imagem. O movimento perpendicular abrange desde se mover dire-
tamente para a câmera até se mover na diagonal em profundidade por todo o
quadro.
Movimento da câmera Quando a câmera faz um dolly in, o ator no FG ficará maior com mais rapi-
Existem três movimentos de câmera que criam movimento relativo e profundi- dez que os dois atores no BG. Isso se deve às distâncias dos atores do FG e do
dade ilusória. São eles: dolly in/out, travelling à esquerda/à direita e grua para BG em relação à câmera.
cima/para baixo. Não importa como a câmera está sendo movimentada (por
dolly, grua, carro, helicóptero, plataformas mecânicas especiais ou simples-
mente por mãos) - os mesmos princípios básicos são aplicáveis.
-
• •
55'
- .
6'
.....
• •
50'
[ CAM. POSIÇÃO 2
CAM. POSIÇÃO 1
t
POSIÇÃO Nº 1 - -
.
A tomada usa um ator no FG e dois atores no BG. Quando a câmera faz um
movimento de pedestal para cima, o ator que está no FG passa rapidamente e sai
da parte inferior do quadro, e os atores que estão no BG se movimentam para
baixo de maneira mais lenta. Quando a câmera faz um movimento de pedestal
para baixo, o ator que está no FG entra rapidamente no quadro, mas os atores
que estão no BG praticamente não se movem.
A tomada com movimento de pedestal produz o mesmo tipo de movi-
mento relativo criado pela tomada com travelling, mas, em vez de gerar um
A câmera é erguida ou abaixada, normalmente por um braço mecânico. movimento relativo horizontal, a tomada com movimento de pedestal gera
um movimento relativo vertical.
Nos três casos, o movimento da câmera gera movimento relativo nos obje-
tos. É o movimento relativo que cria a ilusão de profundidade na tela bidimen-
sional plana.
Difusão textura/
Todo objeto tem textura e detalhes. Uma parede lisa de reboco tem uma textura
suave com quase nenhum detalhe, e uma suéter de lã tem uma textura cheia de
nós com muitos detalhes texturais. A profundidade criada pela diferença nos
detalhes texturais é chamada de difusão textural.
36 A 1'larrativa Visual ELSEV!ER ELSEVIER
Espaço
GD
E~sa fotografia ilustra a difusão textura!. Os fãs que estão nos assentos
no FG apresentam textura e detalhes individuais Os fãs sentados no BG
~ão reduzidos a pontos minúsculos, e seus detalhes texturais ind;'v iduais
desaparecem. o~ objetos com mais detalhes texturais parecem estar mais
perto, e os objetos com menos detalhes parecem estar mais longe. Essa foto
também incorpora outras informações de profundidade. corno mudança de
tamanho e perspectiva. À medida que cada nova informação de profundi-
dade for explicada, as características sobrepostas das informações ficarão
nítidas.
Difusão aérea
A difusão aérea depende das partículas no ar. Essas partículas podem ser poeira.
neblina, chuva, poluição, fumaça ou qualquer coisa suspensa no ar que encubra
a visão do BG.
A difusão aérea causa três alterações visuais em urna imagem que criam a A qualidade visual é completamente diferente em um dia com neblina. A
ilusão de profundidade. A difusão aérea causa urna perda nos detalhes e na tex- difusão aérea agora acrescenta informações de profundidade à imagem. Os
tura, diminui o contraste tonal da imagem e altera a cor dos objetos para a cor detalhes dos prédios agora sumiram, e há uma falta generalizada de contraste
da difusão aérea em si. tonal. As cores muito claras e muito escuras do prédio são substituídas por tons
intermediários de cinza.
A neblina também altera a cor dos objetos para cinza (a cor da difusão
aérea). Se a difusão aérea fosse uma poluição marrom, o prédio mais dis-
tante teria se tornado marrom. A difusão aérea encobre os detalhes textu-
rais, diminui o contraste tonal e altera a cor dos objetos que aparecem na
tornada.
Para que a difusão aérea seja uma informação eficaz de profundidade, deve
haver um objeto não afetado pela difusão aérea e outro objeto afetado pela difu-
são aérea na mesma tomada. A comparação entre os dois objetos cria a profun-
didade.
A perda de detalhes texturais devido à difusão aérea parece semelhante à
difusão textura!, mas as causas são diferentes. A difusão textural utiliza a distân-
cia real para gerar uma perda de detalhes. A difusão aérea não utiliza a distância
real, mas as partículas que estão no ar, que encobrem os detalhes texturais e
fazem o objeto parecer mais distante.
Em um dia claro, sem difusão aérea no ar (sem poluição, neblina, chuva, Alteração na forma
névoa etc.), podemos dizer que a visão está "brilhante" ou "clara". O que esta- Uma alteração na forma de um objeto é percebida como informação de profun-
mos descrevendo é a abundância de detalhes texturais e cores não contaminadas didade ilusória. A alteração na forma pode ocorrer em objetos que se movimen-
que são visíveis em um dia no qual não há difusão aérea. tam ou em objetos estacionários (que não se movimentam).
A t\larrativa Visual ELSEVIER
ELSEV[ER Espaço
GD
\
/
(1 I
J 1
J
\ I
·, I
"-..,/
Uma xícara, por exemplo, muda de forma quando gira ou quando a câmera
se movimenta ao seu redor. Vista da altura da mesa, ela parece um retângulo,
Reduzir as mãos a silhuetas mostra que a mesma mão pode ter formas mas, quando vista de cima, é um círculo. Quase todos os objetos mudam de
diferentes. forma (silhueta) quando viram ou quando a câmera se move ao redor deles no
espaço tridimensional.
1 -
JANELAS
INFERIORES
JANELAS
SUPERIORES
Posição superior/inferior
A localização vertical dos objetos no quadro afeta sua distância aparente do
espectador. Objetos na parte mais alta do quadro parecem mais longe, e objetos
na parte mais baixa do quadro parecem mais perto.
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSE:YIER
Espaço
GD
8 8 LINHA DO HORIZONTE
8
8
Abaixo do horizonte, os objetos mais altos no quadro parecem mais longe.
O oposto é verdadeiro acima do horizonte, onde os objetos mais altos no quadro
parecem mais perto.
Sobreposição
Quando um objeto sobrepõe outro, cria-se uma profundidade ilusória.
A Narrativa Visual ELSEVIER ~
ELSEVIER ap1tulo Espaço
GD
Os objetos podem estar em foco ou borrados. Quando uma informação de
profundidade sai de foco, ela perde suas características de espaço profundo e
se torna um espaço plano ou limitado (ambos serão discutidos posteriormente
neste capítulo). Um BG borrado pode parecer mais distante de um FG em foco,
mas o resultado não é o espaço profundo. Uma informação de profundidade só
pode ser eficaz se estiver em foco.
Imagens 30
As primeiras imagens estereoscópicas - desenhos, na verdade - apareceram no
início dos anos 1830. Assim que a fotografia foi inventada, as fotografias estereos-
cópicas apareceram em tÓda parte. O primeiro filme 3D foi exibido em 1915 e,
desde então, produtores e exibidores o usaram em uma variedade de situações
visuais. A paralaxe criada por duas imagens na tela, cada uma vista por um dos
Os planos devem ser frontais, e não longitudinais. Aqui está o plano frontal
olhos, pode criar uma sensação realista de profundidade. As variáveis distância
que foi apresentado anteriormente neste capítulo.
interocular, ponto de convergência e foco da lente exercem, cada uma delas,
um papel importante na determinação da quantidade de espaço profundo que o
público perceberá.
O 3D funciona melhor quando usado em conjunto com as informações de
profundidade que discutimos neste capítulo. Sem elas, a experiência 3D é insa-
tisfatória porque as informações de mundo real que estamos acostumados a
experimentar não estão presentes nas imagens 3D. Nosso apoio do mundo ·real
em infonnações de profundidade é tão forte que, sem elas, a sensação de espaço
profundo diminui.
ESPAÇO PLANO
O espaço plano é o contrário do espaço profundo. O espaço profundo pro-
porciona a ilusão de uma imagem tridimensional em uma superfície de tela
bidimensional. O espaço plano não é uma ilusão. O espaço plano enfatiza a
qualidade bidimensional da superfície de tela. Isso cria um tipo completamente
diferente de espaço visual. O Capítulo 9, "Narrativa e estrutura visual", vai
mostrar como usar e dar significado a todos os tipos de espaço discutidos neste
capítulo.
As informações de plano
Assim como o espaço profundo possui informações específicas para criar uma
profundidade ilusória, o espaço plano tem suas próprias informações. Ao se O plano frontal enfatiza a bidimensionalidade da superfície de tela. O dia-
criar um espaço plano, as informações de profundidade devem ser eliminadas e gr~ma revela as superfícies frontais na fotografia. Não há superfícies longitudi-
substituídas por informações de espaço plano. nais, e os pontos de fuga foram eliminados.
◄f----►
!
,__________J
-1
Esse movimento paralelo pode ser de um lado para outro, para cima e para
baixo, na diagonal ou em círculo.
-1----------:- -7
O movimento perpendicular ao plano da imagem deve ser evitado porque ativa
informações de profundidade em excesso. Uma exceção a essa regra, o movi-
mento perpendicular ao plano da imagem capturado com uma lente teleobjetiva,
será discutida na próxima seção deste capítulo.
1 ,. ' •
do can1p~'1 ui11Ünu1. cnt:10 aigurnas úrcas do quadro saen1. de foco. Quando Lnn
1' ;,orrado. de wrna plano.
..........~ , . , , . , , . ; , - . . . . . , ~ - - - - - - - - - ~
\~
~
~ 1
Q:c
Ao fazer um wom-in, todos os objetos, independentemente de sua distância da
câmera, aumentam de tamanho na mesma proporção. A profundidade do campo
Fazer um tilt significa movimentar a câmera em um eixo vertical. Não se diminui, então uma parte maior da imagem sai do foco. Objetos fora de foco, não
cria movimento relativo com um tilt. Os verdadeiros tílt e panorâmica ocorrem importa que informações de profundidade contenham, são vistos como espaço
quando a câmera está armada sobre seu ponto nodal, algo que será explicado no plano. O wom-out também elimina o movimento relativo e, embora a profundidade
Apêndice. do campo aumente, o wom-out em si não acrescenta profundidade à imagem.
Por fim, existe o zoom. Um zoom não é, na verdade, um movimento da O espaço plano exige que os movimentos de câmera do espaço profundo
câmera, mas é o equivalente, no espaço plano, ao dolly no espaço profundo. (dolly inlout, travelling à esquerda/à direita e grua) sejam evitados. No entanto,
Muitos diretores de fotografia e diretores têm fortes opiniôes negativas em existe uma exceção na qual é possível manter o espaço plano usando-se uma
relação ao zoom. Normalmente, eles acham que o zoom é uma forma rápida e tomada com travelling.
desestimulante de conseguir uma tomada com dolly. É verdade que uma tomada
com dolly demora mais para ser montada do que uma tomada com z:oom, mas a
P A R E D E
diferença não é apenas econômica ou prática. A diferença está no tipo de espaço
visual que o zoom ou o dolly produz.
O zoom cria um espaço plano por inúmeras razôes. O mais importante é que
0-------
a câmera não se movimenta fisicamente, então não há movimento relativo. Um
wom-in aumenta tudo o que estiver no quadro à mesma velocidade. O FG, o
1
MG e o BG ficam maiores em uníssono, como se tudo na imagem existisse em
um único plano achatado. O movimento relativo é erradicado. Um zoom-in tam-
bém altera a distância de foco da lente, alterando-a de grande angular para lente
teleobjetiva. À medida que a distância focal da lente aumenta, a profundidade
A Narrativa Visual ELSEVIER
ELSEVIER
Espaço
GD
Nessa ilustração, um ator (A) caminha ao longo de uma parede e a câmera
faz um dolly próximo ao ator. A câmera faz um dolly em paralelo ao plano fron-
tal da parede, e isso manterá sua superfície frontal e plana.
Também é possível manter o espaço plano quando um objeto se movimenta
perpendicularmente ao plano da imagem, mas existem restrições em termos de
escolha da lente e distância entre o objeto e a câmera. -
Lente de 500 mm 985 pés
1.000 pés
4-------.
-------- •
1 pé
Lente de 18 mm
15 pés
Agora, o ator começa a 1.000 pés de distância, caminha 15 pés e para a 985
pés de distância da câmera. O ator se movimentou os mesmos 15 pés de distância
em direção à câmera, mas nenhuma das informações de profundidade aparece.
Isso é verdadeiro para qualquer tipo de lente, embora esse exemplo use uma lente
teleobjetiva. Como o ator continua muito longe da câmera, não haverá alteração
de tamanho, ganho de detalhes ou aumento na velocidade do objeto. Embora o
Nessa situacão, a câmera usa uma lente grande angular de 18 mm. Um ator ator esteja se movendo perpendicularmente ao plano da imagem, não haverá
caminha em di;eção à câmera, vindo de uma distância de 15 pés. À medida que informações de profundidade ativadas, porque há muito pouca diferença entre
o ator se movimenta em direção à câmera, muitas informações de profundidade J .000 pés e 985 pés de distância da câmera. A distância relativa entre a câmera e
são ativadas. A alteação de tamanho, os detalhes texturais e a alteração de velo- o ator permanece praticamente constante, então o espaço plano será mantido.
cidade criam um espaço profundo.
A Narrativa Visual ELSEVIER
ELSEV[ER
Espaço
GD
Difusão textura! Embora a difusão aérea possa ser uma informação de profundidade, aqui a
Objetos sem textura parecem mais longe, e objetos com muita textura parecem difusão aérea (neve caindo) eliminou todos os detalhes e texturas da imagem
mais perto. Para conseguir um espaço plano, evite essas diferenças porque elas inteira. A maior parte da tomada não tem textura e contraste e é da mesma cor.
criam profundidade.
Isso cria um espaço plano.
Para enfatizar o espaço plano, todos o~ objetos devem ter a mesma quanti--
dade de detalhes texturais. Um espaço mais plano é produzido quando existe Alteração na forma
uma homogeneização ou semelhança de textura cm wda a imagem. M?,mer o Ao criar um espaço estritamente plano, os objetos nunca devem mudar de
espaço plano através da manipulação da textura do FG e do BG é difíciL mas forma. Um filme de animação gráfica plano pode conseguir isso, mas eliminar
evitar objeto~ com muita textura no FG pode ajudar a manter o espaço plano. a mudança na forma devido a viradas e rotações no espaço do mundo real tri-
dimensional é extremamente difícil. Um cineasta pode minimizar alterações na
forma, mas é impossível eliminá-las.
Separação tonal
A tonalidade refere-se à escala de cinza. Manter o espaço plano requer uma
redução da amplitude da escala de cinza dentro da imagem. Lembre-se de que
objetos mais claros normalmente parecem mais perto e objetos mais escuros
parecem mais longe.
Difusão aérea
A difusão aérea pode criar um espaço plano se a difusão dominar todas as infor-
mações de profundidade na imagem.
O espaço plano pode ser enfatizado quando a amplitude tonal de uma ima-
gem estiver confinada a apenas um terço da escala de cinza.
Essa imagem, sem contraste tonal, é plana.
GD A Narrativa Visual ELSEVTER ELSEVJER
Espaço
Posição superior/inferior
A posição dos objetos em relação ao quadro pode ajudar a criar o espaço plano.
Difusão textura!
Normalmente, objetos com mais detalhes texturais parecem mais perto. Se os
objetos no BG têm mais detalhes texturais, eles tendem a vir para a frente ou
avançar na direção do FG. Objetos no FG que não têm detalhes texturais tendem
a recuar em direção ao BG.
Diferença de tamanho
Como objetos maiores parecem mais perto e objetos menores parecem mais longe,
a informação de profundidade pode ser invertida. Se objetos maiores forem colo-
cados no BG e objetos menores no FG, o espaço da imagem ficará achatado.
ESPAÇO LIMITADO
O espaço limitado é uma combinação específica de informações de espaço profundo
e plano. O espaço limitado usa todas as informações de profundidade, exceto duas: Essas tomadas contêm muitas informações de profundidade, incluindo alte-
ração de tamanho, difusão textura!, separação tonal e de cores. posição superior/
• Planos longitudinais. Os planos longitudinais do espaço profundo são subs-
inferior e sobreposição. Mas convergência e perspectiva, a mais importante
tituídos por planos frontais achatados.
informação de profundidade, não é usada, Os planos longitudinais normalmente
e Movimento do objeto perpendicular ao plano da imagem. O movimento em
direção à câmera ou contrário a ela deve ser reduzido ou eliminado. Os obje- associados ao espaço profundo foram substituídos por planos frontais.
tos só devem se mover paralelamente ao plano da imagem.
O espaço limitado é um plano espacial desafiador a se seguir. Alfred Hitchcock
e Ingmar Bergman o usaram em muitos de seus filmes. Esse tipo incomum de
espaço tem um éstilo visual específico que o separa dos espaços profundo e
plano. A escolha de um tipo de espaço para sua produção é algo que será discu-
tido no Capítulo 9.
Os planos frontais (FG, MG, BG) encontrados em imagens com espaço limi-
tado podem ser vistos com mais clareza nesses diagramas. O espaço limitado
L
GD A Narrativa Visual ELSEVIER
ELSEVIER Capítulo 3 1 Espaço
GD
pode incluir no mínimo dois planos frontais ou no máximo três. Quando exis-
tem mais do que três planos frontais, fica difícil separar visualmente os planos .
Essa imagem contém apenas urn plano frontal, então o espaço é plano, e não
limitado. Embora o piso e a parede estejam, na verdade, em planos separados,
eles não se separam visualmente.
O espaço limitado requer separação física e visual entre os planos frontais.
Existe urna grande diferença entre a separação física e a separação visual. O espaço
limitado requer ambas. Dois objetos podem estar muito distantes fisicamente,
mas, quando vistos através de uma câmera, podem parecer muito próximos.
FG MG BG
ESPAÇO AMBÍGUO
O espaço ambíguo oc~e quando o espectador é incapaz de entender o verda-
deiro tamanho ou a relação espacial entre os objetos que estão na imagem.
A maioria das imagens não é ambígua. Normalmente, as imagens contêm
informações visuais que revelam o sujeito, o tamanho real dos objetos e a loca-
lização da câmera em re],a(ão ao sujeito. Esse tipo de imagem cria um espaço
Nessa imagem, existe uma clara separação visual entre o MG e o BG por reconhecível.
causa das informações de profundidade.
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER Capítulo 3 1 Espaço
GD
Fazer zoom mantém o espaço plano, mas, se você odeia a lente de zaom, PARTE DOIS: O QUADRO
não use uma.
4. Reduza a separação tonal/de cores. É importante reduzir o contraste tonal A Parte Dois explica diversos conceitos espaciais secundários que tornam o
espaço mais útil visualmente. Isso inclui a relação de aspecto (definir a propor-
e condensar a escala de cinza. O designer de produção deve reduzir a escala
ção física de um quadro), divisões da superfície (dividir o plano da imagem) e o
tonal do set para um terço da escala de cinza. A cor deve ser limitada a apenas
espaço aberto (criar um espaço fora da tela). Por fim, o Princípio de Contraste e
cores quentes ou apenas cores frias. Reverter a informação de profundidade
da separação tonal e de cores pode aumentar ainda mais o espaço plano. Afinidade será relacionado ao espaço.
5. Use lentes teleobjetivas. Uma lente teleobjetiva mais comprida exclui
informações de profundidade por causa do estrito campo de visão da lente. RELAÇÃO DE ASPECTO
A lente mais longa exige que os objetos sejam posicionados mais longe da
A relação de aspecto é um par de números que indica a relação de tamanho entre
câmera, eliminando as informações de profundidade de diferença de tama-
a largura e a altura de um quadro. Por exemplo, 1.5: 1 é uma relação de aspecto.
nho e difusão textura!. Quando os objetos são do mesmo tamanho, a ima-
O primeiro número, 1.5, é a largura do quadro. O segundo número, normal-
gem parece mais plana. Não se engane de pensar que uma lente teleobjetiva
mente 1, indica a altura do quadro. Um sinal de dois pontos (:) normalmente
achata oticamente a imagem - isso não é possível. Usar as informações
separa os dois números. Os números da relação de aspecto são a proporção entre
de espaço plano, e não apenas uma lente, cria um espaço plano. Veja no
largura e altura, e não o tamanho real do quadro.
Apêndice uma explicação completa sobre lentes e espaço.
6. Deixe os objetos ficarem borrados. Usar pouca profundidade de campo
permitirá que o plano de fundo fique fora de foco. Objetos borrados elimi-
nam a profundidade e enfatizam o espaço plano.
A Parte Um deste capítulo apresentou os tipos básicos de espaço visual, mas o
espaço é um componente visual complexo. A Parte Dois discutirá o quadro em si.
r 1.5:1
l - - - - - - 1.5 - - - - - - -
\sse quadro tem uma- relação de aspecto de 1.5:1, que foi determinada
medindo a altura (normalmente usando-se a medida de 1) e depois comparando
a altura com a largura. Como a largura é uma vez e meia maior que a altura, a
relação de aspecto é de 1.5: 1.
A relação de aspecto de um plano da imagem pode ser determinada pela
divisão da largura medida pela altura. Por exemplo, uma tela com 20 pés de
altura e 60 pés de largura tem uma relação de aspecto de 3.0: l. A matemática
desse cálculo é simples: 60-;- 20 = 3. A tela é três vezes mais larga do que alta.
O termo relação de aspecto pode ser aplicado a qualquer tipo de filme de
cinema, vídeo ou quadro digital. Isso inclui a câmera em que capturamos ima-
gens e as telas em que vemos filmes.
Câmeras com abertura total fotografam uma imagem em toda a área de 1.33.
Super 35 é outro termo para uma câmera com abertura total. Essas câmeras
normalmente são usadas para filmar tomadas com efeitos especiais, porque a
1.85:1
área da imagem cobre o quadro todo, oferece uma resolução maior e permite
maior flexibilidade no reposicionamento da imagem durante a pós-produção.
Filmes inteiros são filmados em Super 35, pois isso permite que a versão final
seja lançada em uma variedade de proporções da imagem.
l
1.85
D D
D D l
1.66
A maioria das filmadoras de 35 mm grava em uma parte de 1.33 menor do A relação de aspecto padrão para telas de cinema na Europa é 1.66: 1. A tela
quadro de 35 mm, chamada de abertura acadêmica. Essas câmeras não fotogra- é 12/3 vezes mais larga do que alta.
fam uma imagem na lateral esquerda do quadro porque essa área é usada para
a trilha sonora do filme (indicada pela linha pontilhada). Filmes gravados com
câmeras de abertura acadêmica não têm a flexibilidade de relação de aspecto
disponível em câmeras de Super 35 .
i 2.40:1
l ...
..;,___ _ _ _ 1.76 - - - - • ~
r
2.2:1 A maioria das telas de televisões de alta definição (HDTV) têm uma relação
de aspecto de 1.76: 1 ou 16 x 9 (16 unidades de largura e 9 unidades de altura).
j Os programas de televisão feitos antes de 2002 eram produzidos na antiga
relação de aspecto NTSC de 1.33:l. Desde então, a maioria das produções de
- - - - -- - 2.2
televisão é feita no formato HD 1.76: 1. Essa proporção é quase compatível com
filmes de cinema 1.85: 1 padrão filmados depois de 1952 (antes de 1952, os
longa-metragens eram filmados com relações de aspecto de 1.66:1 e 1.33:1).
Um filme também pode ser lançado em 70mm, que tem uma relação de Imagens de 1.33 de televisões convencionais não se encaixam na tela de 1.76.
aspecto de 2.2: 1. Mais detalhes sobre 70 mm são fornecidos no Apêndice. Muitas televisões HD inserem faixas pretas nas laterais de telas de 16 x 9 ou
Imax e Omnimax, desenvolvidos no final dos anos 1960, são dois formatos distorcem a imagem para fazer com que diversas relações de aspecto se encai-
de tela gigantes, que usam câmeras especiais de 65 mm e projetores exclusivos xem ou para preencher a tela de 1.76: l.
de 70 mm. Cada quadro de Imax ou Omnimax tem 15 furos de largura, com Problemas de compatibilidade da relação de aspecto ocorrem sempre que
uma relação de aspecto da tela de aproximadamente 1.3:l. O Imax usa lentes filmes de cinema de 2.40, 1.85 ou 1.66 são apresentados em telas de televisão
esféricas normais e é projetado em uma tela plana gigantesca. O Omnimax usa convencional ~TSC de 1.33. Veja no Apêndice uma explicação para esse pro-
uma lente olho de peixe e é projetado em uma tela enorme, inclinada, em for- blema e suas sol~ções.
mato de cúpula.
DIVISÕES DE SUPERFÍCIE
' A tela é uma superfície plana que pode ser dividida em áreas menores usando
1 1.33:1
divisões de superfície. Essas divisões proporcionam uma ferramenta única para
a narrativa visual.
l 1.33
Dividindo o quadro
Existem diversas maneiras de se dividir o quadro: metades, três partes, grades,
quadrado sobre um retângulo e a seção de ouro.
Metades: A maneira mais simples de dividir o quadro é ao meio. :
1
As telas de televisão e computador têm uma faixa limitada de relações de
1
/
aspecto. Uma televisão NTSC padrão e muitas telas de computadores têm apro-
ximadamente 1.33: l.
Quando medimos o quadro ou tela de 1.33:1, a largura é 11/3 vezes maior
que a altura. Outra maneira de descrever a relação de aspecto da televisão é 4 x 3,
o que significa que ela tem quatro "unidades" de largura e três "unidades" de
altura. Muitas vezes, a relação de aspecto da televisão é descrita como 3 x 4, o A divisão do meio pode ser horizontal, vertical ou diagonal (a diagonal pode
que é tecnicamente incorreto, mas ainda se refere à relação de aspecto de 4x3. ser da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda).
Três partes: O quadro pode ser dividido em três partes.
GD A Narrat i va Visual ELSEVIER
ELSEV IER
Capítulo 3 1 Espaço GD
Esse quadro foi dividido usando-se a proporção áurea. Não haverá duas divi-
sões do mesmo tamanho, mas elas sempre serão relacionadas ao quadro como
um todo. Uma explicação detalhada da seção de ouro aparece no Apêndice.
O divisor de superfícies
Qualquer coisa que divida o quadro em duas ou mais áreas é um divisor de
Na maioria das vezes, as divisões são verticais, mas também podem ser hori-
zontais. Na pintura, a divisão vertical em três partes é chamada de tríptico . superfícies.
Grades: Obviamente, o quadro pode ser dividido em quatro, cinco, seis ou
mais partes. Todas essas divisões são grades.
C)
O divisor pode ser uma tela dividida oticamente (mostrando duas ou mais
A grade envolve uma ampla gama de variações. imagens separadas) , como em Kill Bill (Kill Bill), de Quentin Tarantino. No
Quadrado sobre um retângulo: Essa é uma divisão de superfície única, entanto, o divisor normalmente é um objeto real que aparece na tomada.
que ocorre em qualquer quadro retangular.
1 1 11 1
GD A Narrat iva Visual ELSEVIER ELSEVIER
Capítulo 3 j Espaço
GD
Uma grade pode ser criada pela complexa arquitetura de um cômodo ou por
padrões de luzes e sombras.
Adicionar uma divisão de superfície coloca o ator em uma nova área menor
do quadro. A divisão de superfície age como uma cerca visual e confina a aten-
ção do público para uma parte do quadro.
Aqui, a divisão de superfície em grades leva o espectador a se concentrar na Em cada uma dessas imagens, uma nova relação de aspecto é criada, usando-
mulher e, depois, no homem que está no BG. A divisão de superfície direciona se uma divisão de superfície. Toda a ação acontecerá dentro do novo quadro
a atenção do espectador para uma parte do quadro e a mantém ali. temporário.
3. As divisões de superfície podem alterar a relação de aspecto fixa de uma ima- 4. As divisões de superfície podem fazer comentários sobre a situação de uma
gem. Um filme ou programa de televisão é limitado a uma relação de aspecto história.
(existem algumas exceções que alteram a relação de aspecto durante o filme,
como Napoleão (Napoleon, 1927), de Abel Gance, e Projeto Brainstorm
(Brainstorm, 1983), de Douglas Trumbull. Alterar a relação de aspecto é útil
porque uma relação de aspecto fixa pode ser entediante ou inadequada para
algumas partes de uma história.
Os espectadores são inicialmente confrontados com a tela de 1.33, 1.85 ou 2.40
quando entram no cinema ou se sentam em frente a uma tela de televisão ou
computador. A relação de aspecto da tela não muda. Imagine um museu de
arte em que todas as pinturas sejam exatamente do mesmo tamanho, da mesma
forma e estejam em molduras idênticas. Uma moldura fixa não é necessaria-
mente correta para todos os quadros. A diversidade visual na proporção da tela é
útil. Aspectos de uma história podem ser mais visuais quando se divide o quadro
A divisão em três partes ajuda a transmitir a sensação de confinamento do
em metades, três partes, grades ou quadrados.
personagem.
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 3 J Espaço
ELSEVIER
Telas grandes
É mais fácil criar um espaço aberto em uma tela grande. Na verdade, quanto maior
a tela, mais fácil. Telas de Imax gigantescas podem criar facilmente um espaço
aberto, mas telas grandes de cinema convencional em grandes cinemas podem
funcionar quase com a mesma qualidade. À medida que a tela aumenta, as linhas
de moldura se movimentam para os limites da nossa visão periférica. Com telas
gigantescas como a Omnimax, as linhas de moldura podem ficar completamente
fora de alcance, de modo que nossa visão fica cercada de uma imagem que não tem
nenhuma linha de moldura. À medida que as linhas de moldura se movimentam e
sae~ do campo de visão, aumentam as chances de se criar um espaço aberto.
~ - A medida que a tela diminui, as chances de criar um espaço aberto também
diminuem. As telas de televisão e computador não produzem espaço aberto por-
1
\ que são pequenas demais e têm linhas de moldura marcantes. Na maioria das
situações na televisão, o cômodo exibido é cheio de móveis, e isso cria linhas
verticais e horizontais adicionais que fortalecem as já fortes linhas de moldura
da televisão em si. Não há possibilidade de as imagens em uma tela de televi-
são ou computador excederem o ambiente exibido, então o espaço permanecerá
fechado. Imagens feitas em dispositivos portáteis de vídeo sempre serão fecha-
das. Um ambiente de home theatre cuidadosamente controlado usando uma TV
com tela grande pode promover o espaço aberto, mas uma sala de cinema ofe-
rece a melhor chance de criar um espaço aberto por causa da tela gigantesca e
do ambiente escuro que diminui a ênfase das linhas de moldura.
Um movimento aleatório multidirecional que ocupa o quadro pode conter
Forte movimento visual intensidade visual suficiente, ou dinâmica, para empurrar as linhas de moldura
O movimento é o componente visual que falta nas linhas de moldura e, por isso, é e criar um espaço além do quadro real. Quando o público observa a tela, o movi-
-, a arma mais provável contra o espaço fechado. Um movimento visualmente mais mento domina visualmente as linhas de moldura, e o público sente o espaço
forte que a linha de moldura pode criar um espaço aberto. As linhas de moldura visual fora do quadro.
da tela são âncoras visuais sólidas e imobilizadas que enquadram a imagem. Um O movimento para dentro ou para fora do quadro também pode criar um
movimento ou conjunto de movimentos extremamente dinâmico dentro da ima- espaço aberto. O movimento deve ser amplo em relação ao quadro, lento o sufi-
gem pode dominar a linha de moldura e dar ao público uma sensação de que o ciente para ser visto pelo público e, ainda assim, rápido o suficiente para gerar
movimento está ocorrendo tanto dentro quanto além do quadro da imagem. uma intensidade visual que ultrapasse as linhas de moldura.
CB A Narrativa Visu a l ELSEVIER
ELSEVIER
Capítulo 3 1 Espaço GD
É difícil imaginar uma tomada sem linhas estacionárias. Eis uma imagem de
um prédio e um diagrama mostrando as linhas estacionárias criadas por ele. As
linhas ocorrem com tanta frequência no mundo real que parece quase impossí-
vel eliminá-las. Até mesmo uma linha do horizonte pode impedir que um espaço Esse é um exemplo de contraste de espaço dentro da tomada. A divisão de
seja aberto (e é por isso que um deserto aberto raramente é um espaço aberto). superfície separa as metades profunda e plana da imagem.
Quanto mais linhas estacionárias em uma tomada, mais fechada ela se toma.
Como o espaço aberto é tão difícil de produzir e raramente ocorre, ele cria
um contraste espacial incomum e gera tremenda empolgação e intensidade para
o espectador. Os espaços profundo, plano e limitado não têm significado emo-
cional específico para um público, mas o espaço aberto é uma exceção. O espaço
aberto sempre gera uma resposta emocional e muscular extrema do especta- 1
dor. A importância dessa intensidade será discutida no Capítulo 9, "Narrativa e
estrutura visual".
CONTRASTE E AFINIDADE
Os diversos aspectos do espaço visual podem ser relacionados ao Princípio de
Contraste e Afinidade. Lembre-se de que o contraste e a afinidade podem ocorrer
dentro da tomada, de uma tomada para outra e de uma sequência para outra.
Veja esses exemplos de diferentes tipos de contrastes e afinidades de espaço.
1 1 1 1
o 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Klute e Manhattan foram filmados por Gordon Wi lli s. Klute é um exemplo sólido
Veja esse c láss ico noir do espaço profundo. Esse filme é um catálogo de dicas so- de espaço plano consistente, que cria a atmosfera claustrofóbica da história. Manhat-
bre como usar o espaço profundo e obter o máximo de efeito. Evidentemente, Cidadão tan usa espaço plano e divisões de superfície para isolar os personagens que não se
Kane (Citizen Kane), também de Orson We ll es, é outro excelente exemplo de espaço comunicam.
extremamente profundo.
A testemunha (Witness, 1985)
D ireção de Peter We ir
Espaço plano e divisões de superfície Rote iro de Earle Wal lace e W illi am Kel ley
Fotografia de John Seale
Klute - o passado condena (Klute, 1971) Design de produção de Stan Jolley
++++Di reção de Alan Paku la
Roteiro de Andy e Dave Lewis
Fotografia de Gordon Wi lli s
D ireção de arte de George Jenkins
O espaço ambíguo é usado para criar tensão e confusão no púb li co. Os persona-
gens são arrastados em uma história cheia de mistério e ilusões questionáveis.
O espaço ambíguo caracteriza essa atmosfera.
Espaço limitado
Fanny e Alexander (Fanny and Alexander, 1982)
Direção e roteiro de Ingmar Bergman
Fotografia de Sven Nykvist
Design de produção de Anna Asp
Bergman e seu diretor de fotografia Sven Nykvist são mestres no uso do espaço plano e
do espaço limitado. Isso cria um mundo visual único para suas histórias.
Linha e forma
As linhas estão em toda parte no mundo real. Por exemplo, portais têm duas
linhas verticais, e uma bola de vôlei tem uma linha curva. O mundo real também
é cheio de formas. Uma porta é um retângulo, e uma bola de vôlei é uma esfera.
As linhas e as formas são ligadas porque definem umas às outras.
LINHA
A linha difere dos outros componentes visuais porque as linhas só aparecem
devido a contrastes tonais ou de cores. Dependendo desse contraste, uma linha
pode ser revelada ou obscurecida. As linhas existem em uma quantidade infinita
de maneiras no mundo real e no mundo da tela. Para facilitar seu reconheci-
mento, as Linhas podem ser divididas em sete tipos perceptuais: borda, contorno,
fechamento, interseção de planos, imitação através da distância, eixo e rastro.
Borda
A linha aparente em tomo dos limites de qualquer objeto bidimensional é cha-
mada de borda.
95
GD A Narrativa Visual ELSEVIER
Capítulo 4 1 Linha e forma
El.SEVfER
a linhas. Aceitamos esse desenho de quatro linhas como uma representação das
bordas da página, mas, na verdade, uma folha de papel ou qualquer objeto bidi- Contorno
mensional não tem linhas.
A linha aparente em tomo da borda de qualquer objeto tridimensional é cha-
mada de contorno. A maioria dos objetos no mundo real é tridimensional e tem
altura, largura e profundidade. Percebemos uma linha em torno desses objetos.
• •
• •
Aqui, os pontos principais são as cabeças das pessoas. O fechamento cria
um triângulo e uma linha diagonal.
Interseção de planos
Quando dois planos se encontram ou formam uma interseção, eles parecem
criar uma linha.
Todos os cantos de qualquer cômodo podem criar uma linha se houver con-
traste tonal entre os dois planos.
As vigas dessa torre não são linhas; são grandes traves de aço, embora, a
uma certa distância, pareçam linhas. O mesmo é verdadeiro no caso de postes
de linha telefônica ou a distante estrada deserta. Quando vistos de uma certa
distância, os objetos parecem finos o suficiente para imitar uma linha.
Eixo
Muitos objetos apresentam um eixo invisível que passa por eles, e isso é perce-
bido como uma linha. Pessoas, animais e árvores são exemplos de objetos que
têm um eixo.
Se a escala tonal for alterada para excluir o contraste entre as duas paredes
(ou planos), as linhas desaparecem. Quando o contraste tonal é exagerado, as
linhas se tomam mais aparentes.
A interseção de dois planos é uma forma extremamente comum de gerar
linhas. Os cantos de móveis, janelas, portais e a interseção de paredes podem
criar linhas se houver contraste tonal entre os dois planos.
Rastro
Rastro é o caminho de um objeto em movimento. Quando um objeto se movi-
menta, ele deixa um rastro ou linha em seu caminho. Existem dois tipos de
rastro: real e virtual.
Rastros reais
Quando certos objetos se movimentam, eles realmente deixam um rastro ou
linha visível para trás.
Um avião que escreve mensagens no céu deixa uma linha de fumaça para
trás quando voa, e esquiadores descendo uma montanha cheia de neve deixam
uma linha na neve com seus esquis.
A fumaça e as marcas na neve não são linhas de verdade, é claro; são uma
imitação através da distância ou contorno, criando um rastro deixado para trás
pelo objeto em movimento.
Rastros virtuais
A maioria dos objetos não deixa um rastro ou linha real quando se movimenta,
Nem todos os objetos têm um eixo. Um quadrado não tem um eixo único mas gera uma linha virtual ou invisível. Um rastro virtual é uma linha que deve-
definido, mas um retângulo tem.
mos imaginar.
A Narrativa Visual
ELSEVIER
Capítulo 4 1 Linha e forma
ELSEVIER
Aqui está uma imagem e sua versão em alto contraste que simplifica a escala
U~ pá_ssaro em voo ou um carro em movimento, por exemplo, gera ras- tonal e revela o motivo linear. O motivo linear é descoberto quando se enfatizam
tros vrrtua1s. As linhas deixadas para trás pelo pássaro ou carro só existem na os contrastes tonais na imagem.
imaginação do espectador. Como os rastros lidam com objetos em movimento Existem duas maneiras de se reduzir qualquer imagem a contrastes tonais
voltaremos ao assunto de linhas e rastros no Capítulo 7, "Movimento". ' simples e revelar o motivo linear. Muitos diretores de fotografia usam uma
lente de contraste para observar suas tomadas e verificar os contrastes tonais.
Uma lente de contraste é usada como um monóculo, mas sua lente é extrema-
MOTIVO LINEAR mente escura, normalmente na cor marrom ou azul escuro. Olhar através dessa
~ualquer im~gem pode ser reduzida a linhas simples. Isso se chama motivo lente aumenta o contraste de uma imagem e revela o motivo linear. Outra
li_near. O motivo linear de uma imagem pode ser qualquer combinação de linhas maneira de ver o motivo linear é simplesmente estreitar os olhos. Estreitar
circulares, retas, verticais, horizontais ou diagonais. os olhos aumenta o contraste de uma imagem, reduz os detalhes e enfatiza as
linhas que criam o motivo linear.
1.
Capítulo 4 J Linha e forma
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
No mundo real, a fonte que está nessa imagem tem duas cavidades redondas.
No mundo da tela, as linhas curvas das cavidades não são curvas de maneira
alguma. O diagrama revela que as linhas da cavidade da fonte são quase retas.
As únicas curvas dessa imagem são os arcos.
O Capítulo 9 examinará o motivo linear de filmes inteiros e mostrará a
importância do motivo linear para a estrutura visual.
CONTRASTE EAFINIDADE
A linha é usada para produzir contraste ou afinidade de três maneiras: orien-
tação_, direção e {l!lalidade. Lembre-se de que o contraste e a afinidade podem
ocorrer dentro da tomada, de uma tomada para outra e de uma sequência
para outra.
' ~streite os olhos ao olhar para essa tomada. O motivo linear é diagonal.
E essencial, ao avaliar ou definir um motivo linear, que você analise a linha
na tela bidimensional, e não a linha na vida real.
Orientação
Orientação é o ângulo das linhas criado por objetos sem movimento ou estacio-
nários.
A maioria das linhas criadas por bordas, imitação através da distância e
interseção de dois planos são linhas estacionárias. Isso inclui cantos de cômo-
dos, portas, janelas, móveis, calçadas, parapeitos, árvores, prédios etc.
Os três ângulos da orientação das linhas são horizontal, vertical e dia-
g_9n:;i.l. \.1
A Na rrat iva Visua l ELSEVIER
Capítulo 4 1 Linha e forma
ELSEVTER
Esta tomada ilustra a afinidade da orientação dentro da tomada. Essas duas imagens ilustram a afinidade da orientação de uma tomada para
outra, pois o ângulo das linhas estacionárias é o mesmo.
A Narrativa Visual Capítulo 4 1 Linha e forma
ELSEVIER ELSEVIER
Direção
A direção refere-se ao ângulo das linhas ou rastros criados por objetos em movi-
mento. Nos desenhos a seguir, a seta indica a direção do rastro criado pelo
objeto em movimento.
BWLZJE;J
Existem oito direções nas quais um objeto pode se mover na tela.
Qualidade
A qualidade das linhas refere-se à natureza linear (reta) ou curvilínea (curva)
de uma linha.
D
1
1 /
2
í G 3 4
- ...
- 1 1
-
Essas imagens ilustram o contraste ou a afinidade de qualidade das linhas
dentro da tomada. O contraste de linhas retas e curvas aumenta a intensidade
visual geral. A afinidade das linhas retas mantém a intensidade visual baixa.
4lllllf
FORMA
Assim como existem tipos básicos de espaços e linhas, existem formas básicas.
As formas básicas são o círculo, o quadrado e o triângulo equilátero. As formas
existem em um espaço visual que pode ser plano ou profundo. Portanto, as Muitas outras formas, incluindo o cilindro e o cone, muitas vezes são incor-
formas podem ser classificadas como bidimensionais (espaço plano) ou tridi- retamente classificados como formas básicas. Quando vistos de baixo, o cilin-
mensionais (espaço profundo). dro e o cone parecem idênticos e não dão a menor ideia de que um deles tem
4llllf'
uma ponta. Isso os desqualifica como formas básicas porque eles escondem a
identidade da forma verdadeira.
Outro motivo pelo qual muitas formas não são classificadas como básicas é
porque elas tomam complicado demais o reconhecimento da forma. As diferen-
ças das formas básicas devem ser fáceis de ver.
Em termos visuais, é muito difícil notar pequenas diferenças na forma dos
objetos. Um público não consegue ver a diferença de forma entre uma pirâ-
mide de três lados e uma pirâmide de quatro lados, por exemplo. O círculo, o
quadrado e o triângulo são visualmente diferentes, úteis e estão no alcance per-
ceptivo do público. A simplificação toma possível a estruturação do complexo
componente visual da forma.
CONTRASTE E AFINIDADE
i
,:
11
'I
2. Avalie a luz. Como a linha existe por causa dos contrastes tonal ou de cor, a
linha pode ser controlada através da luz. À medida que uma imagem ganha con-
traste tonal, mais linhas aparecem. Clarear ou escurecer um objeto pode criar ou
esconder linhas para alterar o motivo linear.
3. Ensaie o movimento com cuidado. Quando um objeto se movimenta, ele
cria uma linha ou rastro horizontal, vertical ou diagonal. Cada uma dessas três
linhas transmite uma intensidade visual diferente para o público.
4. Crie um storyboard do motivo linear. A linha é um fator importante no
planejamento de tomadas. Um storyboard é uma série de desenhos que ilustra a
composição das tomadas. Mas o storyboard a seguir esboça o motivo linear da
orientação das linhas de uma tomada para outra.
O motivo linear diminui ou aumenta a intensidade visual de qualquer sequên-
cia. Não importa se a sequência é uma violenta perseguição de carro ou uma con-
versa tranquila; o contraste ou a afinidade das linhas pode orquestrar as alterações
-
de intensidade da cena.
- ~-
EJEJ~§
1 2 3 4
B~C=J8
5 6 7 8
Visualmente, essa sequência cresce em termos de intensidade em direção a Motivo linear diagonal
um clímax. No Capítulo 9, esse conceito será revisto no relacionamento com a Assassinos por natureza (Natural Bom Killer, 1994)
Direção de Oliver Stone
estrutura de uma narrativa.
Roteiro de Quentin Tarantino e David Veloz
O controle da forma exige uma avaliação cuidadosa da silhueta de um Fotografia de Robert Richardson
objeto: Design de produção de Victor Kempster
l. Avalie as formas:
a. Ator. Se o ator e o figurino são reduzidos a silhuetas, qual é a forma
básica?
b. Cenários. Defina as linhas para descob1ir as formas na sua imagem. Linhas
horizontais e verticais normalmente criam quadrados e retângulos. Linhas dia-
gonais criam tliângulos.
c. Adornos do set. Defina as formas básicas dos móveis e de outros adornos
do set.
2. Controle a luz. A luz pode mudar ou enfatizar as formas básicas dos objetos
que estão na imagem. Um padrão de luz pode criar uma forma circular, qua-
drada ou triangular.
3. Simplifique. A forma funciona melhor se for fácil o público identificar
semelhanças e diferenças. Use a escolha de lente e o ângulo da câmera para
enfatizar ou remover linhas e formas na tomada.
Grande parte do filme usa um motivo diagonal para traçar um paralelo entre o estado
mental dos personagens principais e a situação caótica que eles provocam.
Formas de espaços
O conformista (The Conformist, 1969)
Filmes para assistir Direção e roteiro de Bernardo Bertolucci
Fotografia de Vittorio Storaro
Motivo linear
Conduzindo Miss Daisy (Oriving Miss Daisy, 1989) Design de produção ele Fernando Scarfiotti
Direção de Bruce Beresford
Roteiro de Alfred Uhry
Fotografia de Peter James
Design de produção de Bruno Rubeo
Esse filme enfatiza a forma dos espaços. Cada sequência cio filme altera seu uso da forma.
_;.;J,__
-,-,
A arquitetura da casa e da piscina cria o motivo linear básico da maior parte do filme.
CONTROLANDO A ESCALA CINZA
Os poucos adornos do set tornam a estrutura arquitetônica ainda mais importante.
Existem três maneiras de se controlar a tonalidade, ou brilho, dos objetos em
uma tomada: controle de reflexão (direção de arte), controle de incidência (ilu-
minação) e exposição (ajustes de câmera e lente).
127
------i.._
A Narrativa Visual ELSEVIER Tonalidade
ELSEVIER
Se uma produção requer um visual escuro, pinte sua cena com tons escuros,
vista roupas de cores escuras, use apenas objetos de cores escuras e remova todos
os objetos claros da tomada. A escuridão das imagens será determinada pela escu-
ridão dos objetos existentes na tomada. A produção será escura, porque tudo que
será filmado é escuro. Um ator não pode usar uma camisa branca; ela deve ser
cinza ou preta. Em contraposição, para criar um visual claro, remova todos os
objetos escuros e substitua-os por objetos claros. Para dar a uma produção um
visual contrastante, use apenas objetos muito escuros e muito claros nas tomadas.
Se o controle de reflexão da tonalidade será usado em uma produção inteira,
toda a iluminação deve ser plana e sem sombras. Deve haver a mesma quanti-
dade de luz em toda parte, porque a escala de cinza será controlada pelo valor
real de brilho dos objetos, e não pela iluminação. Isso coloca o controle tonal
nas mãos do diretor de arte e do figurinista.
Esses são tons escuros.
___,;j___
A Narrativa Visual ELSEVIER Tonalidade
ELSEV!ER
Veja aqui duas tomadas da mesma cena. Uma usa o controle de reflexão,
em que a escala de cinza é controlada pelo valor real de reflexão dos objetos,
e a outra usa o controle de incidência, em que as tonalidades são criadas pela
iluminação.
Exposição
Exemplos excelentes de controle de incidência da iluminação podem ser O terceiro método para controlar a escala tonal de uma tomada é ajustar a lente
vistos em filmes noir. O termo, cunhado pelos franceses, significa "filme ou câmera. Esse tipo de controle é menos seletivo que o controle de reflexão ou
escuro" e foi inicialmente usado para descrever filmes de gênero da década de de incidência. Quando o obturador da câmera ou a abertura (f-stop) da lente é
1940. A tradição continua hoje em filmes como Chinatown ( Chinatown, 197 4 ), ajustado, a imagem toda fica mais clara ou mais escura. O controle da exposição
de Roman Polanski, e Os imorais (The Grifters, 1990), de Stephen Frears. Os não consegue fazer, de maneira seletiva, que uma camisa fique mais clara ou
filmes com histórias noir, de terror e de suspense muitas vezes enfatizam o uma parede fique mais escura sem afetar todos os outros objetos que estão na
controle de incidência da escala de cinza. É claro que havia grande quanti- tomada.
dade de controle de incidência da iluminação antes dos filmes noir. Os filmes A escala tonal da exposição normal se altera como um todo quando altera-
mudos, gravados em preto e branco, dependiam de expressivos esquemas de mos a abertura.
iluminação para transmitir a atmosfera e as emoções da história.
---1._
A Na rrat i va V i sua l ELSEVIER Capítulo 5 1 Tonalidade
ELSEVIER
CONTRASTE EAFINIDADE
O contraste e a afinidade de tonalidade são fáceis de entender, porque a escala
de cinza organiza a tonalidade com perfeição. Lembre-se de que o contraste e a
afinidade podem oconer dentro da tomada, de uma tomada para outra e de uma
sequência para outra.
A estrutura visual tem exempl os maravilhosos de esca la tonal co ntro lada por direção
de arte e iluminação.
Cada sequência do film e usa uma arrum ação diferente dos co mpo nentes visuais
bási cos. O co ntrole ton al va ri a de coin c idência para não co incidênc ia e de ton alidade
contro lada por iluminação para co ntrolada por direção de arte.
O filme faz uma lenta progressão de uma esca la tonal contro lada por direção de arte
para a co ntro lada por iluminação. Esse esquema tonal acompa nha o surto emocional
do personagem prin c ipal.
Capítulo 6
Cor
A cor, sem dúvida, é o componente visual mais incompreendido. Provavelmente
devido aos erros no ensino das cores que recebemos quando crianças, nosso
conhecimento das cores e como elas funcionam é quase inútil.
LUZ
Usamos a luz do sol ou as luzes artificiais para iluminar objetos, de maneira
que possamos vê-los. Ingenuamente, podemos dizer que a luz do sol é uma luz
"branca" normal porque não parece alterar a cor dos objetos. Um carro branco
estacionado ao ar livre ainda parece branco, então a luz do sol não é averme-
lhada, esverdeada ou azulada. A luz do sol parece ser uma lui "branca" normal.
Por outro lado, o mesmo carro branco estacionado em um cômodo escuro,
iluminado apenas com uma luz vermelha, parece alterado. O carro parece ver-
melho. A luz vermelha não é "normal". Mas a luz do sol também não é normal
nem branca.
143
- ----- - -------
jogando-as sobre uma superfície em comum. Nos locais onde as duas cores de
luz se sobrepõem ou se misturam, uma terceira cor é produzida.
VELA
O sistema aditivo é usado com mais frequência na iluminação teatral (peças
de teatro, concertos de música, espetáculos de circo, boates etc.). Um refletor
60WATT vermelho e um refletor azul são voltados para um artista no palco e, nos locais
onde os refletores se sobrepõem, produz-se a cor magenta. Esta é a mistura de
CINEMA/TV cor aditiva. A luz vermelha adiciona seus comprimentos de onda à luz azul , e
uma terceira cor, magenta, é o resultado.
As telas de televisão e de computador não misturam as cores usando o sis-
LUZ DO DIA
tema aditivo. Veja no Apêndice uma explicação da mistura de cores em monito-
res de computadores e televisões.
Aqui estão quatro espectros visíveis, cada um gerado por uma fonte de luz
diferente. Cada espectro tem uma proporção diferente de cor. Uma vela gera A roda das cores do sistema aditivo
uma luz avermelhada; uma lâmpada caseira de 60 watts tem uma luz alaran- Uma roda das cores organiza as cores e mostra a relação entre elas. A roda das
jada; as luzes de palco usadas na fotografia colorida são laranja; e a luz do dia cores do sistema aditivo é a seguinte:
é predominantemente azul. Embora nenhuma dessas fontes de luz gere uma luz
branca, o sistema de visão humano tem a capacidade de se ajustar às variações
de cor em diferentes fontes de luz e fazer todas elas parecerem luz branca. Para
ver uma explicação detalhada das fontes de luz e sua relação com filmes e tem-
peratura das cores, leia o Apêndice.
SISTEMAS DE CORES
Existem sistemas básicos para organizar e misturar cores: aditivo e subtrativo.
Embora esses dois sistemas compartilhem termos e certas características, cada
um deles deve ser considerado separadamente.
O sistema aditivo
O sistema aditivo de cores envolve a mistura de luzes coloridas. As luzes colo-
ridas são misturadas pegando-se uma luz de uma cor e uma luz de outra cor e
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 6 1 Cor
ELSEVIER
As cores primárias no sistema aditivo são'vennelho, verde e azul. Combinar sistema subtrativo. As cores em uma loja de tintas são misturadas usando o sis-
duas cores primárias gera as outras cores necessárias para completar a roda das tema subtrativo. Os corantes usados para tecidos e tapetes, as tintas de impres-
cores. Lembre-se que o sistema aditivo é uma mistura de luzes. são para revistas, livros e jornais, a tinta para paredes, carros, eletrodomésticos,
VERMELHO+ AZUL = MAGENTA e as cores que aparecem na natureza - todos usam o sistema subtrativo.
O sistema subtrativo
O sistema subtrativo de cores é completamente separado do sistema aditivo,
embora ambos compartilhem termos e certas definições. O sistema subtrativo
é usado na mistura de pigmentos, o que inclui tintas e corantes. Esse sistema
parece mais familiar porque todo mundo já misturou tinta na aula de pintura ou
pintou um cômodo. A mistura subtrativa é fácil como despejar uma cor de tinta
em outra.
Outro problema com o ensino das cores é que a identificação das cores é subje- Dentre as três cores vermelhas - qualquer uma delas pode ser "vermelho
tiva. As pessoas têm ideias diferentes em mente ao descrever uma cor. É impossível maçã do amor".
saber exatamente o que alguém quer dizer quando fala vermelho, azul ou verde. A única maneira de descrever uma cor específica é ter uma amostra da cor
A variedade de cores que as pessoas aceitam como primárias abrange uma gama em mãos. Sistemas comercialmente disponíveis , como o Sistema de Cores
infelizmente ampla. Além disso, fabricar a tinta exata para criar uma cor verda- Pantone e o Sistema de Cores Munsell, oferecem amostras de cores que são
deiramente primária é quase impossível, e a padronização dos nomes das cores é aceitas no mundo todo. Esses sistemas especificam uma cor com base em tabe-
difícil, por isso tendemos a aceitar uma ampla gama de cores como primárias. las numeradas ou amostras de cor, e não em uma descrição verbal.
Pergunte a qualquer pessoa que esteja no negócio de impressão de imagens Se não houver amostras de cor disponíveis, existem três termos que podem
em revistas ou livros e ela lhe dirá que as cores primárias subtrativas sempre descrever verbalmente qualquer cor: ~~,__b~o_e_s~t~r~ção.
foram magenta, amarelo e ciano (e preto para compensar as inadequações das
tintas de impressão). Impressoras de jato de tinta e laser para computadores Matiz
também usam as cores primárias do sistema subtrativo.
Os filtros coloridos que são usados nas lentes de câmeras e em luzes de
palco também usam o sistema subtrativo. Esses filtros normalmente são de
vidro colorido ou folhas de acetato chamadas de gelatina. As cores dos filtros
são misturadas de maneira subtrativa quando se coloca um filtro sobre outro.
Os resultados da mistura são exatamente os mesmos de quando se misturam
tintas. A sobreposição de filtros ciano e magenta cria a cor azul. A sobreposição
de filtros magenta e amarelo criaoven:nelho:-Xsobreposição de filtros ciano e
amarelo c r ~ e . Se os filtros magenta, amarelo e ciano forem sobrepostos
juntos, ocorre o preto ou nenhuma transmissão de luz. Cada filtro subtraiu seu Os oito matizes são mostrados aqui. Matiz é a posição de uma cor na roda das
comprimento de onda dos outros dois, acabando com a luz. No Apêndice, expli- cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, ciano, azul, violeta (ou roxo) e
caremos como os filtros de câmeras podem afetar a cor da luz. magenta. É isso. Só existem oito matizes. Rosa, marrom, turquesa e bege não
Este não é um livro de instruções para artistas sobre como misturar tintas são matizes. Usar o nome do matiz é uma boa maneira de começ~desci:e:ver
aquarelas, acrílicas ou óleo. As teorias e sistemas para a mistura de cores para uma cor. Sinais de Pare são vermelhos, um abacaxi é amarelo, a grama é verde.
artistas variam muito, dependendo da escolha do artista em termos de fabricante Embora esses comentários não tenham sutilezas, descrever as cores exatas
de tinta e estilo de trabalho. O objetivo deste capítulo é identificar, organizar e usando palavras é impossível.
controlar a cor na fotografia de produções de filmes e vídeos.
Brilho
OS COMPONENTES BÁSICOS DA COR
O brilho (às vezes chamado de valor) é a adição de branco ou preto ao matiz. O
Falar sobre cores é difícil porque as palavras nunca conseguem ser precisas para se brilho é a posição de uma cor em relação à escala de cinza. - ·
descrever uma cor. As lojas que vendem tintas usam nomes como "Resgate do Rei",
"Liberdade" ou "Sorrento" para descrever as cores em seus catálogos. Designers
de interior usam palavras como "champignon" ou "pêssego", que podem descrever
genericamente uma cor, mas ainda não são muito específicas. Às vezes, as cores
recebem nomes como "calma do mar" ou "romance", que revelam mais sobre a
emoção que a cor deseja proporcionar do que uma descrição da cor em si.
Por fim, é impossível descrever uma cor de maneira precisa usando pala-
vras. Que cor é "vermelho maçã do amor"? Adicionar branco a um matiz vermelho cria um vermelho claro (chamado de
rosa). Adicionar preto a um matiz vermelho gera um vermelho escuro (chamado
de castanho ou vinho).
Ao meio-dia, o céu é azul brilhante ou claro. No crepúsculo, o céu é azul
escuro. As palavras só conseguem descrever uma cor de maneira geral.
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo ( 1 Cor
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rado. ~ n z a l ! cor se torna, mais d e ~ a ~ ~
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~~~ •••••••
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1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
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Aqui estão os pares complementares subtrativos. À medida que as cores
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complementares são misturadas, elas dessaturam a outra e, quando misturadas
em proporções iguais, criam o cinza.
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Matiz, brilho e saturação são os únicos termos necessários para se descrever
uma cor. Esses três termos não são exatos, mas usá-los é melhor do que usar as
•• •
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 6 1 Cor
ELSEVIER
Esse diagrama pode ser feito para cada uma das seis cores básicas da roda
das cores.
Matiz
O contraste de matiz ocorre quando as principais diferenças de cor em uma
tomada se devem ao matiz.
Eis aqui uma roda das cores e, ao lado dela, a mesma roda reproduzida em
preto e branco. Amarelo é a cor saturada mais brilhante. O laranja é quase tão
brilhante quanto o amarelo. O vermelho, o verde e o ciano saturados parecem
tons intermediários de cinza. Azul e violeta são as cores saturadas mais escuras.
É importante conhecer os níveis de brilho inerentes de diferente matizes
saturados. Um amarelo saturado sempre atrai o olhar do espectador primeiro,
não apenas porque é saturado, mas também porque é muito brilhante. Um azul As diferenças de cor nessa imagem se devem a alterações no matiz.
saturado sempre parece muito mais escuro que um amarelo saturado. Ao adi-
cionar branco, o nível de brilho do azul pode ser aumentado para se igualar ao
do amarelo, mas o azul não retém sua saturação porque é brilhante demais. É
impossível criar uma roda das cores básicas na qual todos os matizes sejam
simultaneamente iguais em termos de brilho e saturação.
A afinidade de matiz ocorre quando todas as cores em uma imagem se As duas imagens da página anterior são ilustrações de afinidade (tudo em
baseiam em um único matiz. Todas as cores da tomada são verdes, embora o vermelho escuro) e contraste (azul brilhante e escuro) de brilho dentro da
brilho e a saturação possam variar. sr rJ e,, \ ', \ D / 1
°" \ r-, r f\ ' A 1 (,".'.\ tomada. O contraste e a afinidade de brilho podem ocorrer dentro da tomada, de
1 -
O esquema de cores de Gritos e sussurros ( Cries and Whispers), de Bergman, uma tomada para outra e de uma sequência para outra. r
baseia-se em um vermelho clareado, escurecido, saturado ou dessaturado. O
contraste e a afinidade podem ocorrer dentro da tomada, de uma tomada para
Saturação
outra e de uma sequência para outra.
Uma imagem que usa apenas cores saturadas ilustra a afinidade de saturação;
Brilho já uma que usa apenas cores saturadas e dessaturadas ilustra o contraste de
O brilho refere-se à escala tonal das cores de uma tomada. Uma cena que usa saturação.
apenas cores muito brilhantes e muito escuras ilustra o contraste de brilho.
Uma cena que usa apenas cores brilhantes apresenta afinidade de brilho.
Quentes/ frias Veja estes exemplos de afinidade de quente e frio dentro de uma tomada. O
contraste e a afinidade de quente/frio podem ocorrer dentro da tomada, de uma
tomada para outra e de uma sequência para outra.
Extensão
A extensão das cores lida com o brilho e a proporção física de uma cor em
relação a outras cores.
muito escuro, tende a ser ignorado. À medida que qualquer cor escurece, dimi- do branco e mais escura quando colocada ao redor do preto. A cor suscetível
nui sua capacidade de atrair o olhar. adota o brilho da tonalidade vizinha.
Esse exemplo usa o ciano como cor suscetível e o preto ou o branco como vizi-
nha. Quando o ciano é cercado de branco, o ciano parece mais escuro. Cercar o
mesmo ciano de preto faz com que o ciano pareça mais claro . .
A cor suscetível muda em oposição ao brilho da tonalidade vizinha. À
medid a que a proporção do branco ou do preto vizinhos aumenta, a tonali-
dade do matiz suscetível parece se afastar da tonalidade do plano de fu ndo. À medida que a proporção das cores complementares muda, a cor maior
Se a proporção e a distribuição do preto ou do branco mudam em relação ao ~ torna~se menos suscetível, e a cor menor torna-se mais suscetível. O vermelho
\ ...l -"Y'
2,C.::. 1
Cores análogas
Nessa ilustração, o laranja é a cor suscetível. Uma amostra de laranja
As cores análogas são vizinhas na roda das cores. A terceira regra de interação
sobre um plano de fundo vermelho vai parecer amarela. A mesma amos -
das cores declara que, quando cores análogas são colocadas próximas umas
tra de laranja sobre um plano de fundo amarelo vai parecer mais averme-
às outras, elas parecem se afastar ou se separar em sua posição na roda das
cores. lhada.
A Nar rati va Vi sua l ELSEVIER Capítulo 6 1 Cor
Uma roda das cores pode diagramar essa interaç.ão. O plano de fundo verme- )
lho empurra o laranja na direção do amarelo. O plano de fundo amarelo empurra
o laranja na direção do vermelho. ---
Como a interação das cores pode ser usada na produção prática? Suponha
que uma sequência de ação requeira chamas vermelhas e, para dar um efeito
dramático, elas devem parecer um vermelho o mais saturado possível. Usando
a interação das cores, é possível criar uma situação na tela que vai ajudar as
chamas a parec~rem mais saturadas. A solução envolve contraste simultâneo e
)
/ contraste sucessivo.
r--, Se um plano de fundo ciano for colocado atrás das chamas vermelhas, as
chamas vão parecer mais saturadas, pois as cores complementares aumentam a
saturação. Isso é contraste simultâneo (contraste dentro da tomada). As chamas
vermelhas vão parecer mais saturadas porque o espectador está olhando simul-
taneamente para cores complementares.
---1::.... Outra solução envolve anteceder a cena do fogo com uma sequência de
[ tomadas principalmente em ciano. Isso é contraste sucessivo porque a cor ciano
é vista primeiro e a cor vermelha complementar vem em seguida (da mesma
maneira que o contraste de uma tomada para outra). Se o público vê o ciano por Coloque este livro a cerca de 30 centímetros de distância dos seus olhos em
aproximadamente 15 segundos e, depois, vê a cor vermelha complementar, as uma fonte de luz forte. Fique à vontade. Encare o ponto no círculo ciano por um
chamas vermelhas parecem muito mais saturadas. minuto e, depois, transfira seu olhar para o ponto no círculo branco. Você deve
Os motivos fisiológicos exatos para o funcionamento dos contrastes suces- ver um círculo de cor vermelha aparecer rapidamente no círculo branco.
sivo e simultâneo não são completamente compreendidos. No entanto, um ,...---- O círculo de cor vermelha que você viu é chamado de pós-imagem. A
experimento simples pode demonstrar o fenômeno básico. ~ -imagem aparece por inúmeros motivos. O olho sempre produz as cores
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 6 1 Cor
ELSEVIER
----. ; omplementares do que enxerga. Quando você encarou o círculo ciano, pode Quase todas as cores desses filmes são um matiz vermelho que foi iluminado,
ter percebido que o ciano estava ficando menos saturado ou menos intenso. escurecido ou dessaturado.
Isso acontece, em parte, porque os receptores de cor dos seus olhos estavam
começando a se cansar.
Ao mesmo tempo, seu sistema visual, ao ser bombardeado por uma cor
ciano, se ajustou para encontrar uma cor "branca" normal. Lembre-se de que o
sistema visual humano está sempre se ajustando a cores e luzes. Como o verme-
lho é o complemento do ciano e a mistura dos dois em proporções iguais cria um
f cinza neutro (um equivalente visual do branco), seu sistema visual adicionou a
7'/ cor vermelha para tentar transformar o ciano_em -;m ~inza neutro. Q u ~ a
atenção mudou para o círculo branco, você viu a cor vermelha que seu sistema
..... visual havia adicionado ao ciano em uma tentativa de fazê-lo parecer neutro.
r --------- Quando esse princípio é aplicado ao problema do fogo vermelho, você pode
entender como anteceder ou cercar o vermelho com uma cor ciano força o
público a gerar uma cor vermelha mais saturada para as chamas.
ESQUEMAS DE CORES
Essa imagem mostra um esquema de cores vermelhas monocromático.
Matizes complementares
México é laranja e Ohio é azul); os primeiros planos são azuis e os planos de Dissociação tripla
fundo são laranja; a luz da frente é azul e a luz de fundo é laranja. É claro que
essas combinações também podem ser revertidas.
Dissociação quádrupla
Evidentemente, envolve quatro matizes, normalmente equidistantes na roda das
cores. Uma dissociação quádrupla é um esquema extremamente complexo.
Esse roteiro de cores separa o tempo presente do passado com dois diferen-
tes esquemas de cores.
AT01L--J □□ □□
Esse roteiro de cores mais detalhado especifica a gama de cores para diver-
sas tomadas a cada quatro sequências de uma narrativa. Observe como os esque-
mas de cores mudam à medida que a narrativa progride.
Não subestime o valor das cores como componente visual. O público nota
AT02 □□ D:==: □
as cores imediatamente e reage a elas emocionalmente. Animações e jogos de
computador apoiam-se muito no roteiro de cores, já que todas as cores devem
ser criadas. No Capítulo 9, veremos outras abordagens à criação e controle de
l
as cores usadas tenham significado visual para o público. azul (complemento do amarelo) e a cor amarela restante parece mais dominante.
O departamento de arte pode manipular a paleta de cores. Em Peggy Sue - Usar filtros coloridos na lente da câmera pode ser delicado. Existe urna
/seu passado a espera (Peggy Sue Got Married, 1986), o visual antigo de fotos ampla gama de filtros de cor disponível para todos os tipos de fotografia. Esses
Kodachrome de 1950 foi conseguido porque a grama foi pintada de um verde filtros são extremamente confiáveis e afetam a imagem de maneiras específicas
incomumente saturado e as calçadas foram pintadas de roxo. Em O dilema de uma e previsíveis. Mas, quando outros tipos de filtros coloridos de vidro ou plástico
vida (The Red Desert, 1964), de Michelangelo Antonioni, tudo que aparece em não padronizados são colocados sobre uma lente, podem ocorrer problemas. A
uma cena de rua, incluindo frutas e vegetais em um carrinho, foi pintado de cinza. cor de filtros não padronizados que você avalia com os olhos pode não ser a cor
O esquema de çores de O poderoso chefão (The Godfather, 1972) é basica- que você vai obter em película ou vídeo. Um filtro não padronizado que parece
mente preto, branco e vermelho. Portanto, sets, locações, vestuários e cenários azul aos olhos pode parecer magenta em película, por exemplo. Experiências ou
foram escolhidos e pintados com esse esquema específico em mente. Chinatown testes são o único método de se prever adequadamente como a película ou as
(Chinatown, 1974) tem um esquema de cores baseado em amarelo e laranja (a câmeras digitais reagirão aos filtros coloridos não padronizados.
cor de plantas secas e áridas), com a eliminação do azul, a menos que estivesse
associado à água. Filtros de iluminação
O público tem uma memória ruim para cores. Se pedirmos para um espectador Os filtros coloridos podem ser colocados em luzes. Diversos fabricantes ofere-
se lembrar de uma amostra específica de azul, ele será incapaz de selecionar esse cem uma ampla gama de folhas plásticas coloridas chamadas de gelatina que
azul em um grupo de azuis semelhantes mas diferentes. Essa falta de memória estão disponíveis em qualquer cor imaginável.
para cores pode ser usada em seu benefício no controle das cores. O matiz, o bri- A colocação de gelatina nas luzes usa o sistema subtrativo. Sempre que uma
lho e a saturação da cor de um objeto podem ser manipulados de uma sequência gelatina é colocada sobre uma luz, a saída de luz diminui. A gelatina colorida
para outra, e o público não perceberá a mudança de cor. A cor dos objetos pode absorve sua cor complementar e transmite sua própria cor.
ser mudada com tinta ou corante, da mesma maneira que a iluminação muda o bri- A gelatina padronizada para fotografia normalmente é calibrada em graus
lho dos objetos. Em ambos os casos, o espectador não perceberá a manipulação. Kelvin e, de maneira precisa e previsível, aquece (com gelatina laranja) ou esfria
A fotografia de uma cor muitas vezes é diferente de como ela é na vida real. (com gelatina azul) a cor da iluminação. Outro grupo de gelatina padronizada
Esse problema é chamado de localização da cor. Ele ocorre quando as cores é mais seletivo e remove apenas pequenas quantidades de um matiz específico.
mudam de matiz, brilho ou saturação ao serem reproduzidas em película, video- A gelatina não padronizada é fabricada para iluminação em palcos de teatro
teipe, sistemas de captura digital, equipamentos de televisão ou tintas e corantes e não tem nenhuma correlação com os ajustes de câmeras de filme ou vídeo.
para impressão. A resolução de uma tela de computador ou televisão afeta a loca- Embora essa gelatina não padronizada possa produzir efeitos coloridos espeta-
lização. Uma tela de alta definição (em conjunto com uma fonte de alta definição) culares, ela deve ser cuidadosamente testada antes do uso.
reproduz as cores com maior precisão do que uma televisão NTSC convencional.
O processo de fabricação afeta a resposta de cor dos diferentes chips de captura
de imagens em câmeras digitais. Por exemplo, uma flor amarelo saturado pode Hora/Locação
parecer brilhante demais e excessivamente saturada, quando vista em uma tela A cor pode ser controlada pela hora do dia e pela cor da locação ou ambiente.
digital. Um grupo de matizes de azul escuro pode parecer preto em película. Sem A cor da luz do dia muda à medida que o Sol se move no céu. O nascer do
testar ou experimentar, é impossível determinar como uma cor pode mudar. sol parece mais lavanda; a luz do meio-dia é mais azul; e o pôr do sol é mais
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
Cor
Matiz saturado
Gritos e sussurros (Cries and Whisp ers, 79 72) Esse fil me acontece em duas locações. O verm elho, o laranja e o amarelo são destin a-
Direção e roteiro de Ingmar Bergm an dos ao deserto . Os az uis e os verdes são atribuídos à paisagem rural.
Fotografia de Sven Nykv ist
Design de produção de Marik Vos-Lundh Embriagados de amor (Punch Drunk Lave, 2002)
D ireção e roteiro Paul Thomas Anderson
Fotografi a de Robert Elsw it
Design de produ ção de W illi am Arnold
O diretor disse qu e sua primeira ideia para o film e era a im agem de três mulh eres ves-
tidas de branco, de pé em um a sala verm elh a. O fi lme tod o usa um a paleta de co res Atribui-se aos doi s person agens prin cipais um mati z qu e perm anece con stante no
limitada de ve rmelh o, normalm ente um verm elh o muito saturado . film e tod o. Para ele, azul; e, para ela, vermelho.
A Na rr at i va V i sua l ELSEVIER Capítulo 6 1 Cor
ELSEVJER
A cor vermelh a é usada com moderação para representar a morte. Todos os outros
mati zes são dessaturados ou removidos da paleta de cores.
Fotografado inteiramente na frente de telas verdes, todos os planos de fundo e
Um sonho de liberdade (Th e Shawshank Redemption, 1994) cores foram cr iados na pós- produ ção, com o uso de co mputadores . Essa técnica
Direção e roteiro Frank Darabont
permite um contro le extremamente específico sobre todos os componentes visuais . A
Fotografia de Roger Deak in s
co r só é usada para acentuar os elementos visua is.
Design de produção de Terrence Marsh
MOVIMENTO REAL
O movimento real só ocon-e no mundo real. Quase tudo o que se movimenta
em nosso mundo tridimensional é classificado nessa categoria. Pessoas cami-
nhando, pássaros voando e can-os em movimento são exemplos do constante
movimento real que vemos dia1iamente.
MOVIMENTO APARENTE
Quando um objeto estacionário é substituído por outro objeto estacionário, a
mudança entre os dois objetos pode ser percebida como o movimento de um
único objeto. Isso cria o movimento aparente.
Filmes e vídeos utilizam esse princípio. Quando o movimento real do mundo
real é gravado em filme ou vídeo, ele é transformado em uma série de imagens
estáticas. Filmes e vídeos podem reproduzir essas imagens estáticas a 24 ou
30fps (quadros por segundo), e a imagem parece se mover, mas o movimento é
aparente, e não real. Para provar isso, podemos "congelar um quadro" ou "pas-
sar" pelos quadros do filme/vídeo e ver cada imagem estática individualmente.
As animações são feitas de uma série de desenhos ou imagens individuais que,
quando exibidos a 24 ou 30fps, parecem se mover.
179
A Narrativa Visual ELSEVIER
ELSEVIER
Movimento
GB
O movimento aparente também oc01Te no mundo real. Fileiras de luzes em O movimento induzido às vezes ocorre em um cruzamento de ruas. Imagine
outdoors podem piscar em uma sequência específica. Quando o ritmo do pisca- que você esteja em um carro parado próximo a um ônibus grande. Se o ônibus
pisca é rápido o suficiente, as luzes parecem "perseguir" ou se mover ao longo se mover lentamente para a frente, você pode achar que seu ca1To está andando
das fileiras de lâmpadas. para trás. Você não está se movendo de verdade, mas o movimento do ônibus
para a frente induz a sensação de movimento no seu carro, e você sente que está
se movendo na direção contrária à do ônibus.
MOVIMENTO RELATIVO
O movimento relativo oc01Te quando o movimento de um objeto pode ser esti-
mado por sua mudança de posição em relação a um segundo objeto estacionário.
2 3 4
o o
Uma série de imagens estacionárias em setas de néon em um letreiro ilumi-
nado pode dar a aparência de uma única seta em movimento. Se cada seta for
iluminada por pouco tempo em uma sucessão rápida (indicada pelos números 1
a 4), a seta parece se mover.
O movimento é aparente porque não há movimento real de maneira alguma,
. ----- •-----
apenas uma série de imagens estacionárias que mudam rapidamente. O círculo preto parece se mover porque sua posição muda em relação ao
círculo verde estacionário e ao quadro.
No mundo da tela, o movimento visual só pode ser produzido quando um
MOVIMENTO INDUZIDO objeto se movimenta em relação à linha do quadro. Quando os objetos não se
O movimento induzido ocorre quando um objeto em movimento transfere seu movimentam em relação à linha do quadro, não há movimento.
movimento para um objeto estacionário próximo. O objeto estacionário então
parece se mover, e o objeto em movimento parece estacionário.
o o MAPA
O círculo preto está se movendo para a direita, mas, sob certas condições,
o círculo verde vai aparentar se mover para a esquerda. Normalmente, o movi-
mento se transfere para o objeto menor e mais brilhante.
Nuvens em movimento sobre uma lua estacionária constituem um bom
exemplo de movimento induzido. Se a velocidade da nuvem estiver correta, a VISÃO DA CÂMERA
lua vai aparentar se mover e as nuvens vão parecer estacionárias. A lua parece Filme um carro em movimento no deserto abe1io. O deserto oferece um ambiente
se mover na direção contrária ao movimento real da nuvem. visualmente esparso, com apenas uma linha do hmizonte. O mapa mostra que o
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimento
ELSEVJER
carro vai andar em círculos em volta da câmera, e a câmera vai fazer uma panorâ-
mica com o carro, mantendo-o centralizado no quadro. O resultado será que o carro de câmera. Agora, o can-o cria um movimento relativo porque sua posição está
vai parecer estacionário em relação ao quadro. Visualmente, não há movimento do mudando em relação ao quadro. O carro vai se mover pelo quadro da parte supe-
carro porque a relação física entre o carro e o quadro não se altera. Não há movi- rior direita para a inferior esquerda.
mento relativo porque não há nada no quadro que revele o movimento do ca.JTo.
Uma situação visual muito diferente ocorre quando mudamos a locação. } ,MOVIMENTO SIMPLES E COMPLEXO
/
•
_/
••
No mundo real, o movimento real oc01Te em duas e três dimensões. Mas a
superfície da tela é apenas bidimensional, portanto os objetos no mundo da tela
• •
MAPA
◄ ►
!
VISÃO DA CÂMERA
/O
No mundo da tela, só existem algumas poucas direções bidimensionais nas
Em uma locação na floresta, o carro vai andar no mesmo círculo em volta da quais um objeto pode se mover: horizontal, vertical, diagonal ou circular. São
câmera. Quando a câmera fizer uma panorâmica para seguir o carro, as árvores conhecidos corno movimentos simples.
no plano de fundo vão se mover na direção contrária à da panorâmica da câmera. Os objetos no mundo real só podem se mover em profundidade, avançando
O movimento das árvores vai revelar que o carro está se movimentando, embora ou retrocedendo em relação à câmera quando filmados. Na tela, pode parecer
o carro não esteja se movendo em relação ao quadro. As árvores em movimento que esses objetos se movimentam em profundidade em direção ao espectador
geram um movimento aparente, e o espectador transfere esse movimento para o ou para longe, mas é uma profundidade ilusória. Nada pode se mover em pro-
carro. Ainda não há movimento relativo porque o carro permanece estacionário fundidade na tela porque a tela é plana. O movimento do objeto que parece se
em relação ao quadro. mover em profundidade em uma tela plana é chamado de movimento complexo
porque combina diversos movimentos em um único objeto em movimento.
A terceira locação é uma estrada aberta. Dessa vez, o carro vai se movimen-
tar pelo quadro e a câmera permanecerá estacionária. Não haverá movimento
OE) A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
Movimento
I
No mundo real, um carro pode realmente se mover em três dimensões e ir
em direção à câmera. No mundo da tela, o carro não pode se mover em direção
/O
Um objeto pode fazer um movimento horizontal, vertical, diagonal ou circu-
ao espectador porque a tela é plana. O movimento do carro na tela parece pro-
fundo porque os movimentos simples são combinados. A parte superior do lar. Mesmo quando um objeto na tela parece se mover em três dimensões, todo
caITo está se movendo para cima, a parte inferior está se movendo para baixo, o movimento real está apenas na superfície da tela.
--------
o lado esquerdo está se movendo para a esquerda, e o lado direito está se
movendo para a direita. Quanto mais movimentos simples combinados em um Qualidade
único objeto, mais complexo ou profundo o movimento vai parecer na tela. O
carro na tela também usa as informações de profundidade de alteração de tama-
nho, difusão textura! e mudança de velocidade para criar a ilusão de movimento
tridimensional.
público está olhando para o rosto de um ator, seu ponto de atenção normalmente
será atraído para os olhos. Qualquer ponto de fuga na tela atrai a atenção do
espectador. O ponto de atenção do público também será atraído para contrastes
ou diferenças em qualquer um dos componentes visuais.
Direção
Quando o público movimenta seu ponto de atenção no quadro, o movimento
de seus olhos c1ia um rastro. Lembre-se de que o rastro é o caminho de um Agora, a distância percorrida é curta. Posteriormente neste capítulo, discuti-
objeto em movimento e, aqui, o objeto em movimento é o ponto de atenção do remos o continuum de movimento, em que a escala do movimento do olhar do
público. público é fundamental.
CONTRASTE EAFINIDADE
Como os objetos, a câmera e o ponto de atenção do público geram movimento,
existem muitas maneiras de se aplicar contraste ou afinidade. Lembre-se de que
Como a tela é plana, só há três direções em que o ponto de atenção pode se Movimento de um único objeto
mover. Como sempre, as opções são horizontal, vertical e diagonal. Um objeto em movimento gera uma linha. Essa linha, chamada de rastro, pode
ser real ou virtual. Veja o Capítulo 4 para obter uma descrição completa de
Qualidade linhas e rastros. A intensidade visual do movimento de um objeto pode ser
Se o público estiver vendo um objeto em movimento que gera uma linha curva, determinada pela análise do rastro.
o movimento de seus olhos se curvará. Se o movimento que ele está observando
for linear, seu ponto de atenção vai gerar linhas retas. Quando o público movi- Com movimento/Sem movimento
menta seu ponto de atenção entre objetos estacionários, ele faz o caminho mais O maior contraste ao movimento de objetos é nenhum movimento. É possí-
curto; portanto, o movimento do olho normalmente cria linhas retas. vel montar uma produção inteira sem movimento de objetos. Isso às vezes é
chamado de posicionamento de tablado, no qual o movimento dos objetos é
Escala minimizado em prol da arrumação estacionária dos objetos que estão no quadro.
A escala refere-se à distância que o ponto de atenção do público percorre em No entanto, normalmente, os objetos se movimentam com direção, qualidade,
relação à linha do quadro. escala e velocidade.
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimento
ELSEVTER
Direção
t TOMADA Nº 5 TOMADA Nº 6
► ►
TOMADA Nº 7 TOMADA Nº 8
TOMADA Nº 9 TOMADA Nº 10
TOMADA Nº 3 TOMADA Nº 4
As tomadas nº 9 e nº 10 ilustram a afinidade da qualidade do movimento de
A tomada nº 3 é um exemplo de contraste de direção do rastro dentro da objetos. A intensidade visual é baixa porque o objeto se move na mesma direção
tomada. Embora o rastro diagonal seja mais intenso, é o rastro vertical que e com a mesma curva em ambas as tomadas.
contrasta mais com o rastro horizontal. A tomada nº 4 ilustra como o rastro
diagonal tem muita afinidade direcional com o rastro horizontal e é mais intenso Velocidade
que o vertical. Um objeto em movimento tem velocidade lenta, média ou rápida. Se todos os
objetos se movem à mesma velocidade, gera-se uma afinidade e a intensidade
Qualidade é baixa. Se um objeto se movimenta em uma velocidade diferente dos outros
O movimento de objetos pode gerar rastros retos ou curvos. objetos, gera-se um contraste, que produz intensidade visual.
r
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimento
ELSEVIER
.... - .
TOMADA Nº 17 TOMADA Nº 18
TOMADA Nº ii TOMADA Nº i2
A tomada nº 17 cria ainda mais intensidade porque usa linhas diagonais.
A seta representa o objeto em movimento no FG e as linhas paralelas que Embora haja afinidade entre o movimento de objetos no FG e o motivo linear
são o motivo linear do BG. Quando um objeto em movimento e um BG são diagonal do BG, a intensidade é alta porque a diagonal é inerentemente muito
combinados, cria-se imediatamente uma relação visual, baseada no Princípio de intensa. A tomada nº 18 tem a maior intensidade porque usa linhas diagonais
Contraste e Afinidade. opostas. A imagem explora a intensidade inerente em linhas diagonais, e os ângu-
los perpendiculares do movimento de objetos no FG e o motivo linear do BG.
Esses diagramas são apenas um guia geral para as complexas interações que
podem ocorrer entre o rastro no FG e o motivo linear do BG. Os verdadeiros
sujeito, velocidade, tamanho, tonalidade e cor do objeto que está no FG e o BG
I
podem alterar a afinidade ou o contraste da relação visual.
•-------►
Movimento da câmera
O movimento da câmera pode ser usado para aumentar ou reduzir a intensidade
TOMADA Nº 13 TOMADA Nº i4 visual. Lembre-se de que o contraste e a afinidade podem ocorrer dentro da
tomada, de uma tomada para outra e de uma sequência para outra.
O par menos visualmente intenso de rastro de objeto no FG e motivo linear
do BG é ilustrado pela tomada nº 13. Um objeto em movimento horizontal e Com movimento/Sem movimento
um motivo horizontal de BG têm afinidade máxima. As linhas horizontais são O maior contraste ao movimento de câmera é nenhum movimento. Uma produ-
inerentemente as menos intensas, então linhas horizontais paralelas são a com- ção inteira pode ser filmada apenas com uma câmera estacionária ou, no outro
binação menos dinâmica. Mais dinâmica, porém ainda com intensidade baixa é extremo, uma câmera constantemente em movimento. Outra abordagem seria
a tomada nº 14, em que o objeto se move em paralelo ao motivo linear vertical usar o movimento da câmera em apenas uma tomada. Esse único movimento
doBG. de câmera vai gerar contraste e intensidade visuais. Da mesma maneira, se a
L
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimenio
l'LSEVIER
câmera estiver constantemente em movimento e parar por apenas uma tornada, essas linhas em diagonais. As linhas diagonais sempre são mais intensas do que
o contraste visual também será criado, embora a intensidade não seja tão sig- as linhas horizontais ou verticais.
nificativa. Uma câmera portátil, sendo usada sem o auxílio de dispositivos especiais de
apoio ou nivelamento, cria mais movimento quando o operador de câmera se
Movimentos 2D/3D esforça para manter o nivelamento da câmera ou para manter o desnivelamento
da câmera. Um movimento em constante mudança de nivelamento para desni-
As opções de movimento da câmera podem ser limitadas a movimentos bidi-
velamento se traduz em aumento da intensidade ou dinâmica visual.
mensionais (panorâmica, tilt, wom) ou tridimensionais (dolly, travelling, grua).
Uma rotação de eixo em movimento tem ainda mais dinâmica, porque todas
A diferença entre eles é visualmente significativa:· Os movimentos bidimensio-
nais evitam a ocoffência de movimento relativo, e os movimentos tridimensio- as linhas de urna tomada giram sobre o eixo. Quanto maior a quantidade de giro,
·. nais geram movimento relativo. mais intenso o contraste visual quando comparado a urna câmera nivelada.
(Father of the Bride, 1991), a câmera lenta muitas vezes é usada quando o pai
sonha acordado com a filha.
4 5 6
A ação também pode ser acelerada. A câmera under-cranking de Richard
Lester em Os reis do iê iê iê (A Hard Day's Night, 1964) acrescenta ener-
gia e humor a sua narrativa; Stanley Kubrick acelera uma cena de sexo em 7 8 9
Laranja mecânica (A Clockwork Orange, 197 l) para comentar sua natureza
impessoal. No filme não verbal Koyaanisqatsi - uma vida fora de equilíbrio
(Koyaanisqatsi, 1983), a fotografia de lapso de tempo é usada para criar uma Para referência, os quadrantes são numerados de l a 9.
suneal visão introspectiva da civilização. O continuum de movimento é menos crítico em uma tela pequena.
Dispositivos digitais portáteis têm telas minúsculas, medindo apenas 1-2 pole-
CONTINUUM DE gadas, então o continuum de movimento mal chega a ser um componente visual
nessas telas. Como a tela média de televisão ou computador tem apenas 21
O Princípio de Contraste e Afinidade pode ser usado com continuum de movi-
polegadas, o espaço físico disponível para contraste de continuum é limitado.
mento, permitindo o controle da intensidade visual gerado pelo movimento
Telas de televisões de home theater oferecem oportunidade maior para se usar o
dos olhos do público ao olhar para a tela. Assim como qualquer outro compo-
continuum de movimento, mas as telas de salas de cinema e formatos gigantes-
nente visual, a afinidade de continuum diminui a intensidade visual, e o con-
cos, como lmax (com telas na faixa de centenas de polegadas), usam contraste
traste de continuum aumenta a intensidade visual. O continuum de movimento
e afinidade de continuum de movimento para afetar profundamente a estrutura
ocorre dentro da tomada e de uma tomada para outra.
visual.
Usar o contraste de continuum de movimento requer saber qual área da tela
O continuum de movimento lida com dois conceitos:
o público está observando ou seu ponto de atenção. Os componentes visuais que
_ atraem a atenção do público são: e Como o ponto de atenção do espectador se movimenta dentro de uma
tomada
• Movimento
• Como o ponto de atenção do espectador se movimenta de uma tomada para
O objeto mais brilhante
outra
A cor mais saturada
Os olhos dos atores
• O objeto com maior contraste de componente visual tomada
Para indicar qual área ou quadrante do quadro o público está observando, A afinidade de continuum dentro de uma tomada pode ser criada sem qualquer
pode-se desenhar uma grade com nove regiões sobre a tela ou quadro. movimento da câmera ou dos objetos.
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimento
ELSEV!ER
As mesmas duas pessoas agora estão mais distantes. O contraste de conti- A afinidade de continuum ocorre quando os objetos em movimento atraem e
nuum de movimento é criado, porque o ponto de atenção do espectador deve se orientam a atenção do espectador. Um homem entra no quadro e caminha até
l
L
A Narrativa Visual ELSEVIER Movimento
ELSEVJER
uma mulher que está aguardando. O homem para perto da mulher e, depois de Continuum de uma tomada para outra
um instante, a mulher se afasta.
O continuum de movimento se torna ainda mais importante quando as tomadas
são editadas em conjunto.
n
TOMADAS Nº 1 + Nº 2
Uma das tomadas pode ser recomposta para criar afinidade de continuum de
movimento de uma tomada para outra.
TOMADA Nº 3
u
TOMADA Nº4
u
TOMADA Nº 1
n
TOMADA Nº 2
TOMADAS Nº 3 + Nº 4
u
TOMADAS Nº 3 + Nº 4
quadrante.
[SJGJ □ EJ
2 3 4
5 6 7 8
[ZJITJEJD
5 6 7 8
g 10 11 12
9 10 11 12
13 14 15 16
LJOJDEJ
13 14 15 16
Movimento
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
CZJ □ [gOJ
intenso porque usa a afinidade visual. O storyboard nº 3 é o mais intenso, por
causa dos contrastes visuais de qualidade de linha, direção e continuum de
movimento.
2 3 4
O continuum de movimento é planejado e criado pelo diretor e pelo diretor
de fotografia, mas acaba ficando sob o controle do editor. Evidentemente, o
)controle de continuum do editor será limitado pelas tomadas geradas durante a
· produção, mas o editor que entende o continuum de movimento tem urna ferra-
menta adicional para manipular a intensidade das cenas e das sequências.
Na sala de edição, é fácil determinar para onde o público está olhando em
5 6 7 8 qualquer tomada. Observe a tomada e preste atenção em seu próprio ponto de
atenção. Interrompa a sequência e marque a tela com um lápis litográfico. Você
LJITJWDJ
9 10 11 12
provavelmente descobriu o ponto de atenção correto com base em seus próprios
instintos naturais. Se ainda não estiver seguro, observe a sequência sem som,
em uma câmara escura, e sua intuição visual normalmente assumirá e direcio-
nará seu olhar para o mesmo ponto da tela que vai atrair o público.
O continuum de movimento é um componente visual quase invisível que
[ZJ[S]~l2J
exerce um enorme impacto sobre o público. À medida que o tamanho da tela
aumenta, também aumenta a chance de se ter mais contraste de continuum de
movimento. À medida que o tamanho da tela diminui, também diminuem as
chances de se ter contraste de continuum.
13 14 15 16 O contraste e a afinidade de continuum de movimento afetam a intensidade
ou dinâmica da sequência editada. A intensidade visual aumenta à medida que
O storyhoard nº 3 é cheio de contrastes. Existe contraste de linhas retas e se usa mais contraste de continuum e diminui se houver afinidade de continuum
curvas, rastros diagonais, horizontais e verticais, e contraste do continuum de de movimento.
movimento. O quadrante do ponto de atenção nunca é o mesmo de uma tomada A afinidade de continuum orienta o ponto de atenção do público à medida
para outra. Em cada corte editorial, o público deve mudar seu ponto de atenção que ele observa o quadro. O cineasta pode manipular o público e controlar a
para outro quadrante para encontrar o próximo objeto em movimento. área da tela que ele observa (fator fundamental em comerciais de televisão).
Movimento
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
Movimento da câmera
O barco - inferno no mar (Das Boot, 1981)
Direção de Wolfgang Peterson
Roteiro de Wolfgang Peterson
Fotografia de Jost Vaca no
Design de produção de l<laus Doldinger
Alternância
O ritmo de um metrônomo existe porque há um som seguido de um momento de
silêncio. Sem alternância entre som e silêncio não pode haver ritmo.
Existem muitos tipos de alternância. Existe a alternância entre som e silên-
cio, entre sons graves e agudos ou sons com volume alto e baixo, por exemplo.
Os sons do tique-taque de um relógio, de passos e de uma bola quicando
revelam seus ritmos por causa da alternância. Ruídos de fundo, como o som
constante do zumbido de um ventilador ou uma cachoeira, não têm ritmo por-
que não têm alternância.
Repetição
A alternância do metrônomo deve se repetir. Uma única batida de um metrônomo
não produz um ritmo. Som - silêncio - som - silêncio - som cria um ritmo.
Não conseguimos reconhecer o ritmo de passos se a pessoa só der um passo.
Se uma bola quicar apenas uma vez, não cria ritmo.
Tempo
O metrônomo tem um controle de velocidade para alternar o tempo entre os sons.
Todos os ritmos têm uma taxa de alternância e repetição que se chama tempo. A
diferença rítmica entre andar e correr é o tempo. Um longo intervalo de tempo
cria um tempo lento, e um curto intervalo de tempo cria um tempo rápido.
O metrônomo produz um ritmo que ouvimos, mas agora vamos definir o
ritmo que podemos ver. O ritmo visual é definido pelos mesmos subcomponen-
tes de alte_rnânc}a, repetição e tempo. O ritmo visual pode ser criado por objetos
estacionários, objetos em movimento ,e corte editorial.
211
Ritmo
G!D A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
iguais) reduz a intensidade visual, e o contraste (a tomada lB-1 tem quatro áreas
RITMO DE OBJETOS ESTACIONÁRIOS
desiguais) aumenta a intensidade visual. A arrumação dos objetos no quadro
O ritmo visual é criado quando colocamos objetos estacionários no quadro. Isso (composição) e as linhas criadas por esses objetos são a chave para se entender
é chamado de composição. Dito de maneira simples, composição é a arrumação o ritmo visual em objetos estacionários.
dos objetos em um quadro.
TOMADA Nº 1
TOMADA Nº 2
TOMADANº 1A TOMADA Nº 1B
N N
à Ã
o D o
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D s D
E E
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I - s
TOMADA Nº 1A-1 TOMADA Nº 18-1 I ê I
A A A
e D e
O motivo para a maior intensidade da tomada lB é revelado quando dese- A A A
D D
nhamos linhas para ligar os pontos. A tomada IA-1 divide o quadro em quatro A A
áreas iguais, e a IB-1 divide o quadro em quatro áreas desiguais. O Princípio de TOMADA Nº4
Contraste e Afinidade nos diz que a afinidade (a tomada IA-1 tem quatro áreas
1
f
L
A Narrativa Visual ELSEVIER Ritmo
ELSEVIER
TOMADA Nº 5
NÃO
O quadro em si tem quatro linhas importantes que podem contribuir para
o ritmo visual. As linhas verticais e horizontais do quadro ajudam a definir a
repetição visual criada pelas linhas dentro do quadro.
TOMADA Nº 6
Até mesmo a faixa central estreita pode ser dividida em terços a serem alter-
nados. O retângulo cinza e as faixas estreitas à sua esquerda e direita criam
alternância. O retângulo cinza é destacado, e as duas áreas laterais não são des-
tacadas.
ELSEVIER
A Narrativa Visual
ELSEVIER
i Ritmo
GiD
Agora o quadro está dividido em mais partes, e o tempo aumenta. três Um substituiu o retângulo, mas os subcomponentes do iitmo visual ainda
quadrados estacionários (que não se movimentam) representam um iitmo mode- são os mesmos. Um retângulo substitui o ator e revela linhas que dividem o
rado. O espectador está consciente das linhas de moldura e, quando adiciona- quadro em áreas separadas. Existe alternância. O ator se torna o destaque cer-
mos linhas pontilhadas ao retângulo, a alternância, a repetição e o tempo são cado de áreas não destacadas. Existe repetição porque o quadro é dividido em
revelados. Existe alternância entre os retângulos, o espaço ao redor deles e as mais de uma área, e o tempo é lento. Essa imagem tem um iitmo visual lento
linhas de moldura. Existe repetição nos próprios retângulos, e existe um tempo e levemente irregular. Se o ator estivesse centralizado no quadro, o iitmo seria
mais rápido criado pelo número de divisões do quadro. lento e regular.
Essa tomada com dois atores divide o quadro em mais áreas. Ao adicionar-
mos retângulos e linhas, revelamos a alternância, a repetição e o tempo da
tomada. A tomada tem um ritmo moderado e regular.
@:D A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
Ritmo
Gill
e Entrando e saindo do quadro
e Movendo-se em frente ou atrás de outro objeto
e Movendo-se e parando
íll> Mudando de direção
O movimento de uma bola pode demonstrar os seguintes quatro métodos de
criar ritmo visual primário.
TOMADANº 13
A bola que está entrando no quadro não consegue criar ritmo visual porque
uma única batida não tem alternância, repetição e tempo.
Um objeto deve se mover em relação à linha de moldura para criar movimento. Um ritmo pode ser criado se a bola entrar e sair do quadro porque isso pro-
A maioria dos movimentos de objetos não gera ritmo. duz alternância e repetição. As linhas de moldura funcionam como destaques
Existem dois tipos de ritmo para objetos em movimento: primário e secun- visuais em contraste com a área não destacada do quadro. A repetição ocorre
dário._.Omovimento de um oojetõ-foterro criaum-fffinoprimário. Quando uma porque existem duas linhas de moldura, e a bola cruza as duas.
parte do objeto inteiro se move independentemente, pode ser criado um ritmo Se vários objetos entram e saem do quadro, cria-se um ritmo visual mais
secundário. complicado. Cada entrada e saída do objeto produz uma batida visual adicional.
Mudando de direção
Uma mudança na direção, quando acontece mais de uma vez, também cria um
ritmo visual.
TOMADANº 16
Ritmo secundário
O ritmo secundário é gerado pelo movimento de parte de um objeto que já gera
um ritmo primário.
TOMADANº 17
3 2
Ritmo editorial
Existe ritmo na edição. Toda vez que o editor faz um corte pode ser produzida
uma nova batida rítmica.
O ritmo editmial tem os mesmos componentes básicos de alternância, repe-
tição e tempo. A alternância editorial ocorre porque o corte é o destaque ou a
batida, e o tempo entre os cortes é a alternativa não destacad Quanto mais
contraste visual nos componen es visuais de umâ tomaôa para outra, mais forte
a batida produzida pelo corte.
G cor. Sua a~nidade visual fará com que a batida rítmica criada pelos entrecortes
eJa menos rntensa.
-t--_))ois tipos de repetição visual ocorrem quando se faz um corte. O primeiro
~ a repetição editorial. Ocorre porque uma bayda é produzida por todos os
cortes ou edições. Com cada corte, o padrão de repetição é continuadG._ -
1
__\ - O segundo tipo é a repe~ão pictoria!, _qu~orre -:-qµando as~mas toma- '
~ das são repetidas. Se o editor estiver entrecortando dois close-u s em ma
~ uma-repetição·. O público vê as duas tomadas alternadas
@etidas várias vezes. Quanto mais vezes as mesmas tomadas forem repeti-
das, mais aparent~ toma a.s~etição, criando afinidade visual. A intensidade
visual diminui cada vez que a mesma tomada ·é repetida. ·
Por fim, existe o tempo editorial. Qualquer série de edições terá um tempo
que vai permanecer constante, ficar mais rápido ou mais lento. É mais fácil o
público perceber o ritmo visual em sequências com tempos de corte mais rápi-
Essas duas imagens têm contraste de tonalidade. Uma é extremamente dos. À medida que aumenta o intervalo entre edições, diminui a percepção do
escura e a outra é clara. Quando essas duas tomadas são entrecortadas, o con- público sobre o tempo editorial. O que, na verdade, é um tempo lento pode ser
traste tonal de uma tomada para outra cria uma batida rítmica forte. entendido como nenhum tempo, porque a duração do intervalo entre edições
Ritmo
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVIER
Controle editorial do ritmo Touro indomável (Raging Bull), Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia) e
A fragmentação permite que o ritmo de uma cena seja alterado. O tempo dos Cidadão Kane (Citizen Kane) são exemplos desse tipo de ritmo visual geral.
subeventos pode ser aumentado ou diminuído na edição.
Variedade visual
A filmagem contínua e a fragmentada são fatores importantes na variedade
visual geral de uma produção. Se o público vai assistir a um filme de duas horas,
por quanto tempo ele consegue assistir a algo que é apenas fragmentado? Em Esse ritmo de staccato representa um ritmo mais rápido e mais energético,
qu~gonto a fragmentação vai perder seu impacto visual? Às vezes, a estrutura muitas vezes usado em comédias físicas. Uma noite na ópera (A Night at the
visual precisa de variação entre contínuo e fragmentado apenas para evitar que Opera), Levada da breca (Bringing Up Baby), Apertem os cintos - o piloto
os elementos visuais se tomem entediantes. sumiu! (Airplane) e De volta para o futuro (Back to the Future) têm ritmos
visuais sugeridos por essa linha de fluxo .
Encontrando um ritmo
Fragmentar um evento muitas vezes é difícil para atores que estão tentando des-
cobrir o ritmo geral de uma cena ou sequência. O evento contínuo permite que
Essa linha de fluxo lentamente ondulante tem um ritmo mais lento, que faz
os atores desenvolvam ritmos que podem não surgir durante subeventos curtos.
mudanças graduais e mais suaves. Retorno a Howards End (Howards End),
Hannah e suas irmãs (Hannah e Her Sisters), Asas do amor (Wings of the Dove)
Opção do diretor
e O sexto sentido (The Sixth Sense) seguem esse padrão rítmico.
A narrativa pode sugerir uma abordagem contínua ou fragmentada. Uma cena Toda narrativa tem um padrão rítmico de linha de fluxo. Pode ser uma com-
que envolve tempo real pode funcionar melhor com uma tomada contínua. Uma binação desses exemplos ou uma linha totalmente diferente. Desenhar uma
cena que envolve uma ação complexa pode ser mais bem filmada de maneira linha de fluxo para o ritmo é uma forma fácil de visualizar a sensação rítmica de
~ragmentada, de modo que o editor possa manipular as complexidades físicas. sua produção. Essa ideia será mais elaborada no Capítulo 9.
As vezes, um evento é tão complicado que só pode ser entendido quando os Na época dos filmes mudos, as orquestras muitas vezes tocavam música
subeventos são fragmentados. Outras vezes, um evento parece mais real se for durante a filmagem, para ajudar os atores a criarem a atmosfera e o ritmo ade-
filmado continuamente, sem manipulação editorial. quados de uma cena. Hoje em dia, como gravamos com som, o uso de música
- Uma técnica contínua ou fragmentada não tem regras rígidas de uso . Você no set durante a filmagem é difícil; no entanto, é possível ensaiar com música
deve avaliar a natureza de cada cena e decidir qual técnica é melhor para a ou até mesmo com um metrônomo.
narrativa. Eis algumas configurações padrão de metrônomos:
CONTRASTE EAFINIDADE
Existem várias maneiras pelas quais o ritmo pode criar contraste ou afinidade.
Essa linha de fluxo representa os ritmos de narrativas que se alternam entre ( Lembre-se de que o contraste e a afinidade podem ocorrer dentro da tomada, de
grandes picos e vales rítmicos. O poderoso chefão (The Godfather), Ran (Ran), l ma tomada para outra e de uma sequência para outra.
Gill A Narrativa Visual ELSEVIER
Ritmo
ELSEVIER
Exposição
O início de uma história é chamado de exposição. A exposição pode ser definida
como os fatos necessários para começar a história. Esses fatos incluem a iden-
tidade dos personagens principais (mas não se limitam a isso), sua situação na
trama, a locação e a época. Se o público não recebe os fatos de que precisa (ou
pensa que precisa), ele pode nunca se envolver na história porque está distraído
na tentativa de preencher as lacunas da exposição.
Os fundamentos básicos da exposição foram inicialmente descritos e usados
por Aristóteles no teatro grego, mas os exemplos que apresentaremos neste livro
se limitarão a longas-metragens. Ao longo dos anos, os roteiristas desenvolve-
ram diversas técnicas para usar a exposição em suas histórias.
Uma técnica de exposição consagrada é a cartela ou rol! (inserção de carac-
teres estáticos ou em movimento). Rastros de ódio (The Searchers, 1956), de
John Ford, começa com uma cartela de texto que simplesmente declara a expo-
sição de época e local: "Texas, 1868".
233
f''
Um conflito externo envolve uma situação física. O conflito externo ou físico saindo, mas o público consegue ver o trenó da infância de Kane com a inscrição
em Tubarão (Jaws) refere-se a uma cidade e um tubarão. Os caçadores querem "Rosebud" enquanto ele desaparece em um incinerador. Essa tomada final da
matar o tubarão antes que ele acabe com o lucrativo comércio turístico do verão. resolução explica Kane e sua infância perdida.
Os filmes da série Kill Bill (Kill Bill, 2003, 2004) envolvem vários conflitos A resolução em Tubarão (Jaws) é rápida e simples. O tubarão foi morto e
externos baseados na vingança. Os filmes da série De volta para o futuro (Back o chefe de polícia está reunido com o cientista. O mar voltou a ser seguro para
t~ the Future, 1985, 1990) envolvem conflitos externos físicos causados pela nadadores. Na resolução, os dois homens nadam calmamente até a praia, e a
viagem no tempo. música sinistra que sinalizava a aproximação do tubarão sumiu.
O conflito em uma narrativa pode ser interno e externo. Em Casablanca Intriga internacional (North by Northwest, 1959), de Hitchcock, tem uma
(Casablanca), tentar encontrar transporte aéreo para fora do país é o conflito resolução de 20 segundos. Thornhill ergue Kendall até o leito do trem, beija-a e
externo. O conflito emocional interno envolve o amor de Rick por Ilsa. À medida o trem desaparece em um túnel.
que os conflitos se intensificam, os dois se entrelaçam. Em Cidadão Kane ( Citizen Quando a resolução requer mais informações, pode-se usar uma cartela ou
Kane), o conflito externo é a busca física do repórter para descobrir o significado rol!, como em Loucuras de verão (American Graffiti, 1973) e Clube dos cafa-
de "Rosebud". Em sua busca, o repórter esbarra nos conflitos internos emocionais jestes (Animal House, 1978). Essas cartelas explicam o que aconteceu com cada
entre Kane e suas esposas, amigos e inimigos. A sangue frio (ln Cold Blood, personagem depois da formatura.
1967), de Richard Brooks (1967), envolve um conflito externo em busca de dois Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption), Pacto de sangue
assassinos e um conflito interno para entender suas motivações. Guerra nas estre- (Double Jndemnity) e O pai da noiva (Father of the Bride) usam narração
las (Star Wars, 1977) envolve o conflito externo de derrotar Darth Vader e O con- durante a resolução para explicar os sentimentos dos personagens e para com-
flito interno de Luke para encontrar a força e resolver seu problema de autoestima. pletar a história.
Os infiltrados (The Departed, 2006), de Martin Scorsese, tem o conflito externo
de encontrar o informante e o conflito interno acerca da moralidade pessoal.
O GRÁFICO DA ESTRUTURA DA
Um conflito aumenta em intensidade à medida que a narrativa progride. A
parte mais intensa de um conflito é o clímax. No clímax, os personagens principais Toda história, não importa se for longa ou curta, tem exposição, conflito, clímax
devem escolher um caminho e ganhar ou perder. No clímax, o conflito interno ou e resolução. A história pode ser um comercial, um videogame, um documentá-
externo tem de terminar. O clímax de Tubarão (Jaws) é a sequência de ação final rio, um programa de televisão ou um roteiro de filme de longa-metragem.
no mar e a morte do tubarão. Em Se meu apartamento falasse (The Apartment), Uma narrativa normalmente existe na forma de palavras escritas em uma
Baxter pede demissão do emprego e encontra o amor. No clímax de Retomo a página. Isso é ótimo se você estiver lendo a história, mas é necessário um for-
Howards End (Howards End), Henry Bast é assassinado. O clímax de A sangue mato diferente para visualizar a estrutura de uma narrativa. A estrutura de qual-
frio (ln Cold Blood) é o flashback para os assassinatos da família Clutter. quer narrativa pode ser traçada em um gráfico.
Dependendo de suas ideias específicas sobre a estrutura da narrativa você
pode ajustar o momento exato do clímax. Não importa como você vai defini-lo Gráfico A
o clímax sempre ocorre no topo do conflito. ' 100
Resolução INTENSIDADE
DA NARRATIVA
A r~solução proporciona um momento para a narrativa terminar. O público
precisa de tempo para se recuperar da intensidade do clímax e refletir sobre 0
conflito da narrativa. Além disso, situações e personagens da trama secundária
podem precisar de tempo para completar totalmente suas histórias.
A resolução Casablanca (Casablanca) ocorre no aeroporto, depois de Rick O 1O 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11 O 120
ver Ilsa e Victor voarem para longe em segurança. O conflito acabou. Rick se DURAÇÃO DA HISTÓRIA
encontra com o chefe de polícia e volta aos negócios de sempre, caminhando e EM MINUTOS
sumindo na escuridão.
O conflito físico em Cidadão Kane ( Citizen Kane) parece terminar sem Esse é o gráfico da estrutura de uma narrativa. O eixo horizontal do Gráfico
uma resposta à palavra misteriosa "Rosebud". A resolução mostra os repórteres A indica a duração da narrativa (120 minutos, neste exemplo). O eixo vertical
A Narrativa Visual ELSEVIER Narrativa e estrutura visual
ELSEVIER
representa a intensidade da narrativa. A intensidade da narrativa refere-se ao representa de modo mais preciso os altos e baixos na intensidade de uma narra-
grau de conflito da história. O O na escala de intensidade da narrativa indica tiva. Embora a linha seja denteada, sua direção ascendente geral é a mesma da
ausência de intensidade, e o 100 indica intensidade máxima. linha no Gráfico B. O conflito da narrativa aumenta em intensidade até alcançar
o clímax e, depois, diminui rapidamente em intensidade durante a resolução.
Gráfico B Todos os filmes mencionados neste livro seguem essa estrutura.
100 ex
Intriga internacional (North by Northwest, 1959)
INTENSIDADE
DA NARRATIVA Este filme de Hitchcock é um excelente exemplo de estrutura da narrativa por-
que a construção dos eventos que se intensificam é extremamente clara. A narra-
tiva pode ser quebrada em sequências em uma lista de sequências da narrativa.
Você precisa conhecer o filme Intriga internacional para entender a lista de
o sequências da narrativa a seguir. Se não viu esse filme, precisa vê-lo agora.
O 1O 20 30 40 50 60 70 80 90 1 00 11 O 120
Cada sequência da narrativa foi categorizada como exposição, conflito, clí-
DURAÇÃO DA HISTÓRIA max ou resolução:
EM MINUTOS
EX=Exposição
CO=Conflito
Uma linha traçada no gráfico representa a intensidade da narrativa. No CX=Clímax
Gráfico B, a história começa com a exposição (EX), onde a intensidade danar- R=Resolução
rativa é baixa, ou em O na escala de intensidade da narrativa. A intensidade
começa a aumentar à medida que a narrativa se movimenta em direção ao con- Lista de sequências da narrativa
flito (CO). A intensidade do conflito continua a aumentar até o clímax (CX), 1. EX: Roger Thornhill é um executivo atarefado.
que é a parte mais intensa do conflito da narrativa. Na resolução (R), a intensi- 2. CO: Thornhill é sequestrado.
dade da narrativa diminui e a história termina.
3. EX: Thornhill conhece Vandamm na mansão.
A narrativa começa com a exposição, o conflito aumenta em intensidade até o 4. CO: Direção embriagada.
clímax e, depois, se encaminha para o final. As variações neste gráfico da estru- 5. CO: Delegacia de polícia e retorno à mansão.
tura da intensidade da narrativa serão discutidas posteriormente neste capítulo. 6. CO: Thornhill encontra o quarto de hotel e escapa.
7. CO: Nações Unidas.
Gráfico e
8. EX: Quartéis de Inteligência.
100
9. CO: Estação Central.
10. CO: Thornhill conhece Kendall no trem.
INTENSIDADE 11. CO: Estação de trem de Chicago.
DA NARRATIVA 12. CO: Avião pulverizador.
13. CO: Hotel em Chicago.
14. CO: Leilão.
15. EX: O professor intervém.
o 16. CO: Centro de Visitantes do Mt. Rushmore.
O 1O 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11 O 120
17. CO: Kendall e Thomhill se reconciliam.
DURAÇÃO DA HISTÓRIA 18. CO: Thomhill no hospital.
EM MINUTOS 19. CO: Casa de Vandamm.
20. CO: Caminhada até o avião de Vandamm.
O Gráfico C apresenta a mesma intensidade geral da narrativa que o Gráfico 21. CX: Mt. Rushmore.
B, mas a linha reta foi substituída por uma linha denteada. Essa linha denteada 22. R: Thomhill e Kendall no trem.
A Narrativa Visual ELSEVIER
T
!
ELSEVIER
! Narrativa e estrutura visual
Gráfico D
21 l. EX: Thornhill chega de ônibus.
100 2. CO: Dois carros e um caminhão passam por perto.
3. CO: Homem chega e pega um ônibus.
12
22 4. CO: Ataque nº 1 do avião.
5. CO: Ataque nº 2 do avião com metralhadoras.
6. CO: Thornhill tenta parar um carro que está passando.
7. CO: Ataque nº 3 do avião com metralhadoras.
º--------------------
º
17 18
5. EX: Wombosi na TV; Abbott e Conklin. A trama de Identidade Bourne é mais complexa do que a trama de Intriga
6. EX: Caixa de cofre em banco suíço. internacional, mas aplicam-se os mesmos elementos estruturais. Na sequência
7. EX: Hall da embaixada dos Estados Unidos. de abertura, são apresentados todos os personagens e suas situações básicas.
8. CO: Perseguição na embaixada dos Estados Unidos. Note corno as sequências 1 e 4 no gráfico são mais intensas. Esses breves
9. CO: Boume conhece Marie. arroubos de intensidade são chamados de picos. Embora a sequência nº 1
1O. EX: CIA convoca todos os agentes especiais. seja intensa, ela é parte da exposição. Ela oferece ao público fatos de que
11. CO: Dirigir até Paris. ele precisa para iniciar a narrativa, incluindo a época, as marcas de tiros e
12. EX: A CIA rastreia Marie. a conta bancária. A exposição continua quando Bourne enfrenta o policial
13. CO: Lanchonete de beira de estrada. no parque e abre a caixa no cofre do banco. A exposição também apresenta
14. CO: Chegada ao apartamento em Paris. diversos personagens, locações e situações que lentamente se interconectam
15. CO: Luta no apartamento em Paris. à medida que a narrativa progride. Uma nova exposição aparece posterior-
16. CO: Estação Gare du Nord. mente, corno pistas para a identidade de Bourne e sua relação com Wombosi
17. CO: A polícia persegue o Mini Cooper. e a CIA.
18. EX: Wombosi no necrotério. O principal conflito externo/interno envolve Bourne tentando entender
19. CO: Hotel; corte de cabelo de Marie. seu passado, e o conflito secundário é a batalha política entre Conklin e
20. CO: Wombosi é assassinado. Abbott na CIA. O primeiro grande conflito é a sequência nº 8 (perseguição
2 l. CO: Hotel Regina. na embaixada). Essa sequência também é exposição porque é a primeira vez
22. EX: Boume descobre uma ligação entre o necrotério e Wornbosi. que o público vê Bourne reagindo sob uma enorme pressão. O conflito con-
23. CO: Chegada à fazenda. tinua a se intensificar à medida que Bourne se aproxima de descobrir quem
24. EX: Fazenda; crianças dormindo. ele é e o que fez.
25. CO: Luta na fazenda e saída de Maiie. No clímax, Bourne força um encontro com Conklin. Bourne se lembra de
26. CX: Bourne telefona para Conklin. sua tentativa de assassinato e escapa. Na resolução, Conklin é assassinado e
27. CX: Encontro na Pont Neuf. Bourne se reencontra com Marie.
28. CX: Bourne enfrenta Conklin. Suas ideias sobre a estrutura da narrativa de Identidade Bourne podem
29. CX: Bourne se lembra de sua missão. ser diferentes dessa lista. O gráfico pode traçar as intensidades de qualquer
30. CX: Luta na escadaria. estrutura da narrativa, não importa corno você interpreta a exposição, o con-
31. R: Conklin é assassinado. flito, o clímax e a resolução. A ideia importante é criar um gráfico que trace
32. R: Abbott apresenta um novo plano. as intensidades da narrativa. É o primeiro passo para se construir uma estru-
33. R: Bourne encontra Marie. tura visual.
Gráfico F
30 Lista de sequências da narrativa de Retorno a Howards End
100 31
(Howards End)
15 17 25
Veja a seguir um detalhamento das sequências da narrativa de Retorno a
Howards End. Você deve conhecer o filme para entender o gráfico. Se não viu
26
8 esse filme, precisa vê-lo agora.
24
EX=Exposição
11 13 CO = Conflito
o CX=Clírnax
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11 O R=Resolução
Minutos 1. EX: Correspondência sobre o término do noivado de Helen Schlegel.
2. EX: Helen e Leonard Bast se encontram; Wilcox chega.
Os números no Gráfico F correspondem aos números da lista de sequências da 3. EX: A família Bast vive na pobreza.
narrativa de Identidade Bourne. 4. CO: Margaret Schlegel e Ruth Wilcox se tornam amigas.
A Narrativa Visual ELSEVIER Narrativa e estrutura visual
EL5EVIER
5. CO: Ruth morre; seu testamento é destruído. conflito físico, motivado por um conflito interno, ocorre no clímax da naITativa,
6. CO: A família Schlegel conhece a família Bast. quando Henry Bast é assassinado.
7. CO: Helen se interessa por Leonard.
8. CO: Henry sente atração por Margaret. VISUAL
9. CO: Helen tenta ajudar Leonard.
10. CO: Margaret chega a Howards End. Os termos usados para descrever as três partes básicas da estrutura de uma nar-
11. CO: O envolvimento de Henry com Jackie é revelado. rativa também se aplicam à estrutura visual.
12. CO: Leonard e Helen se apaixonam.
13. CO: Leonard recusa a caridade.
14. CO: Helen está grávida de Leonard.
15. CO: Helen quer dormir em Howards End. -Assim como existe exposição da naITativa, também existe a exposição visual. A
16. CX: Charles mata Leonard. exposição da narrativa define os personagens, a situação da história, a locação e
17. R: A família Schlegel mora em Howards End. a época. A exposição da narrativa estabelece os elementos básicos da narrativa.
A exposição visual define como os componentes visuais básicos serão usados
para apoiar a nanativa.
Gráfico G A naITativa começa: "Era uma vez uma família feliz." Essa exposição pode-
16 ria ser expandida para: "Era uma vez uma família feliz que vivia no espaço
plano com formas quadradas e cores quentes." Agora temos narrativa e exposi-
ção visual. As regras para filmar a fall111ia foram criadas.
Os cineastas usaram a exposição visual para fornecer uma definição visual
da família.
9 A narrativa e a exposição visual devem ser reveladas ao mesmo tempo. Em
Tubarão (Jaws), de Steven Spielberg, a música, o visual e a exposição danar-
rativa ocorrem simultaneamente. O público ouve a música sinistra (o tema do
tubarão), uma câmera se move lentamente sob a água em busca de vítimas (a
O 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
visão do olho do tubarão), e o tubarão devora um nadador inocente (o tubarão é
Minutos um assassino). Spielberg estabelece' a exposição musical, visual e da narrativa
na sequência de abertura de seu filme:
O público conhece as regras da personalidade do tubarão, da música e da
Retorno a Howards End é a história de três famílias que vivem na Inglaterra visão da câmera nessa exposição. O público recebeu todos os fatos de que pre-
durante o início do século XX. Os problemas da fall111ia Wilcox moralmente cisa para iniciar a narrativa.
falida, da honorável fall111ia Schlegel e da vitimizada fall111ia Bast se entrelaçam. Em Tubarão, as regras musicais, visuais e da narrativa criadas na exposi-
A história começa com quase nenhum conflito ou intensidade (nº 1 até 4). O ção nunca mudam. A música-tema acompanha o aparecimento do tubarão, a
grande elenco de personagens é apresentado, e uma série de coincidências une visão do tubarão sob a água é sempre filmada da mesma maneira, e o tubarão
as famílias Schlegel, Wilcox e Bast. O conflito aumenta quando Ruth Wilcox continua a atacar. O público associa completamente a música e o ângulo da
morre, seu testamento é destruído (nº 5). O conflito atinge um nível intenso câmera ao tubarão, de modo que se torna desnecessário mostrar o tubarão
quando Jackie Bast revela seu antigo romance com Henry Wilcox (nº 11). O de fato.
conflito atinge sua maior intensidade quando Charles Wilcox mata Leonard As músicas-tema e o ângulo da câmera mostrados na exposição automatica-
Bast (nº 16). Na resolução (nº 17), a família Schlegel vive em Howards End, e mente ativam o medo no público.
a família Wilcox se espalha. A exposição visual pode estabelecer a estrutura visual para todos os com-
O conflito em Retorno a Howards End é interno e não externo ou físico. ponentes visuais básicos. Qualquer componente visual pode ser atribuído a
A história é contada através do conflito emocional dos personagens, e não por quase qualquer emoção, atmosfera, situação ou traço de personalidade. Defina
um evento físico, como ataques de tubarão ou perseguições de carro. O único o significado de um componente visual na exposição da mesma maneira que
A Narrativa Visual ELSEVIER Narrativa e estrutura visual
EL5EVIER
a exposição define a personalidade dos personagens, situações e locações em Em Tubarão, a tomada final do filme é uma lenta tomada ampla à medida
qualquer narrativa. que os sobreviventes nadam em direção à praia. Todos os contrastes visuais do
As regras visuais definidas na exposição se tornam orientações para clímax sumiram, e a tomada final usa apenas afinidade.
todos os envolvidos na produção. As escolhas de componente visual em
termos de espaço, linha, forma, tonalidade, cor, movimento e ritmo ajudam
a determinar as lentes, os ângulos de câmera, as locações, o figurino e os O GRÁFICO DA ESTRUTURA VISUAL
elementos de design corretos para sua produção. As regras visuais propor-
cionam unidade, estilo e (através do uso de contraste e afinidade) estrutura
visual a uma produção.
100 ex
~
Conflito e clímax visual
A estrutura visual, assim como a estrutura da narrativa, tem conflito e clímax. INTENSIDADE' CO
DA NARRATIVA ~
Os componentes visuais básicos podem ser estruturados usando-se o Princípio
de Contraste e Afinidade para crescer em intensidade e alcançar um clímax EX
visual.
O Princípio de Contraste e Afinidade determina: O iO 20 30 40 50 60 70 80 90 100 11 O 120
9 Quanto maior o contraste em um componente visual, mais aumenta a inten- DURAÇÃO DA HISTÓRIA
sidade visual ou dinâmica. EM MINUTOS
• Quanto maior a afinidade em um componente visual, mais diminui a inten-
sidade visual ou dinâmica. Esse gráfico conhecido representa a intensidade da nmntiva. Ele indica a expo-
Dito de forma mais simples: sição, um conflito que se intensifica, um clímax e uma resolução. Um segundo
gráfico pode ser adicionado para representar a intensidade visual.
CONTRASTE=MAIOR INTENSIDADE VISUAL
AFINIDADE=MENOR INTENSIDADE VISUAL
Cada componente visual pode criar contraste ou afinidade para controlar a
~r· Í
100 ex
--! . intensidade visual e a estrutura visual.
"i Um escritor usa palavras para criar a intensidade da narrativa. Um músico
/ usa melodias para criar intensidade musical, e agora temos espaço, linha, forma,
INTENSIDADE
\, tonalidade, cor, movimento e ritmo para criar intensidade visual. DA NARRATIVA R
' A estrutura visual criada pelos componentes deve acompanhar a intensidade
da estrutura da narrativa. O Princípio de Contraste e Afinidade permite que o
cineasta aumente ou diminua a intensidade visual dentro de uma tomada, de o
uma tomada para outra ou de uma sequência para outra.
CONTRASTE
Resolução visual
INTENSIDADE
O final de uma narrativa é chamado de resolução, e a estrutura visual também VISUAL
tem uma resolução. Na resolução da narrativa, o conflito termina e a intensi-
dade da narrativa diminui. A intensidade visual também deve diminuir usando
o -------------120
DURAÇÃO DO FILME
o Princípio de Contraste e Afinidade. À medida que aumenta a afinidade dos AFINIDADE
componentes visuais básicos, a intensidade visual diminui.
A Narrativa Visual ELSEVIER
T ELSEVIER
i Narrativa e estrutura visual
~
PLANO
INTENSIDADE eo
DA NARRATIVA
ex ex
INTENSIDADE
DA NARRATIVA
eo INTENSIDADE
eo
DA NARRATIVA
EX EX
PROFUNDO
PROFUNDO
ESPAÇO
PLANO
PLANO
aparecem três vezes na nanativa (indicadas no gráfico da narrativa com um colocados nos gráficos são arbitrários e completamente flexíveis. Eles podem
X). Essas aparições se tornarão mais intensas se usarmos contrastes visuais de ser anumados de qualquer maneira que funcione melhor para sua produção.
espaço. Os picos na estrutura visual mostram como o espaço muda subitamente Os gráficos são lembretes para se pensar sobre cada componente. Criar um
de plano para profundo. O contraste entre o espaço plano e o profundo adiciona gráfico para cada componente revela como os componentes visuais vão funcio-
intensidade visual. A parte mais intensa da nanativa de vampiros é uma luta nar em relação aos outros e à estrutura da narrativa.
dramática entre o herói e o vampiro. É importante lembrar que todos os gráficos de componentes visuais devem
Para dar mais intensidade a essa sequência, o espaço alterna rapidamente se alinhar sob o gráfico da nanativa, de modo que a relação entre as duas estru-
entre profundo e plano de uma tomada para outra. Os dois gráficos ilustram cla- turas fique clara.
ramente como a intensidade visual e a da nanativa são conectadas. A estrutura Antes de os componentes visuais poderem ser considerados, entenda e trace
visual caminha em paralelo à estrutura da nanativa. o gráfico da estrutura da nanativa, porque a estrutura do componente visual
Os picos visuais são usados não apenas para conflitos externos - os picos deve servir de base para a narrativa.
podem acentuar um conflito interno ou emocional em uma nanativa. Talvez a Os gráficos normalmente são produzidos na preparação de sua produção. Na
nanativa seja sobre uma mulher tentando se lembrar do passado. Os picos são pós-produção, os gráficos podem ser ajustados ou redesenhados com base em
usados para criar a intensidade visual motivada pelas memórias da mulher. Seus uma avaliação dos contrastes e das afinidades visuais na filmagem de fato. Se
pensamentos podem se tornar mais agitados, se adicionarmos contraste visual, você tiver problemas com uma sequência, criar gráficos e analisar a estrutura
ou mais suaves, se adicionarmos afinidade visual. A motivação para qualquer visual editada ajuda a encontrar uma solução para o problema.
alteração visual é sempre encontrada na estrutura da nanativa.
Exemplo nº 1
USANDO OS GRÁFICOS
Os gráficos podem diagramar a estrutura para cada componente visual. Traçar
Desenhar gráficos é uma forma simples de estruturar rapidamente os compo- um gráfico força o cineasta a considerar como aquele componente visual vai
nentes visuais. contribuir para a estrutura visual e se relacionar com a estrutura da narrativa.
Os gráficos podem ser usados para planejar estruturas para os componentes
visuais ao longo do curso de uma nanativa inteira, de uma sequência, de uma
cena ou até mesmo de uma única tomada.
Diferentes combinações de componentes visuais são fáceis de desenhar e alte-
rar à medida que você encontra o melhor plano visual para sua produção. Tente
diferentes combinações de componentes visuais. Os rótulos nos gráficos visuais
podem ser alterados, simplificando as variações e alterações de componentes. NARRATIVA
AMBIG.
NARRATIVA NARRATIVA
ESPAÇO ESPAÇO
- L..__ 1 1
PROFUNDO RECON.
Ao reverter os rótulos de profundo e plano, toda a estrutura do espaço mudou. Esse gráfico indica como o espaço ambíguo e o espaço reconhecível serão
Os gráficos permitem uma rápida reorganização das ideias visuais. Os rótulos usados. Nesse exemplo, o espaço ambíguo vai aparecer três vezes.
"+"'"
Esta narrativa é sobre uma criança que tem pesadelos aterrorizantes. O espaço Exemplo nº 3
ambíguo será usado para as sequências de sonhos. Assim como Spielberg usou Esta narrativa é um drama de tribunal. Um advogado precisa defender um
uma música sinistra para o tubarão em Tubarão, essa narrativa usa o espaço cliente que é indubitavelmente culpado. O advogado entra em conflito com a
ambíguo para indicar os pesadelos da criança. moralidade das questões, e, no final, a justiça prevalece.
O espaço ambíguo se toma mais extremo e intenso à medida que a narrativa
progride. O espaço mais ambíguo ocorre na parte mais intensa do conflito da
narrativa, o clímax. A estrutura da narrativa e a estrutura visual agora estão
conectadas, de modo que a intensidade visual aumenta à medida que a intensi-
dade da narrativa aumenta.
NARRATIVA
Exemplo nº 2
Esta é uma história de ação sobre um detetive perseguindo um condenado fugi- ESPAÇO
tivo através de uma cidade grande. O detetive tem paixão pela justiça, e o con-
denado é um assassino terrível. PROFUNDO
FORMA
QUADRADOS
NARRATIVA
COR
MOVIMENTO 1
HORIZONTAL
HORIZONTAL 1,;;:::::::::::::::::_
Esse gráfico, o plano para o motivo linear do filme, combina uma progressão
com contraste e afinidade. O motivo linear começa com linhas verticais e depois
progride para linhas diagonais. À medida que o motivo linear se toma diagonal, As regras visuais são todas constantes. A estrutura visual usa apenas espaço
as sequências visuais da narrativa adquirem intensidade por causa da reação profundo, formas quadradas, cores frias e dessaturadas, uma escala tonal mais
emocional do espectador às linhas diagonais. escura e movimento horizontal.
No clímax da narrativa, a progressão é interrompida, e o motivo linear Manter todos, ou quase todos, os componentes visuais constantes pode ser
abruptamente se alterna entre linhas horizontais, verticais e diagonais. uma excelente estrutura visual, se isso for adequado às necessidades da narra-
Esse contraste visual cria a maior intensidade no clímax da narrativa. Na tiva. Os atores serão responsáveis pela construção do conflito porque os com-
resolução, o condenado é capturado, o conflito termina, e o motivo linear se ponentes visuais não serão orquestrados para adquirir contraste. A afinidade dos
toma horizontal. A estrutura do motivo linear caminhou em paralelo com a componentes visuais cria uma unidade visual geral, mas não haverá construção
estrutura da narrativa. Os elementos visuais apoiaram a narrativa. de intensidade ou clímax na estrutura visual.
A Narrativa Visual ELSEVIER Narrativa e estrutura visual
ELSEVIER
nº 4 Os termos "quente" e "frio" usados no gráfico de matiz não são muito específi-
Esta é uma história sobre crianças de uma fazenda que fogem de casa, ficam cos. Esta produção usa laranja e amarelo, que mudam para amarelo e ciano no
perdidas em uma floresta e são resgatadas. A ideia da narrativa é criar um retrato clímax. Vermelho, azul e magenta não serão usados de maneira nenhuma na
romântico da vida rural no século XIX. paleta de cores desta produção.
Os componentes visuais de tonalidade e brilho da cor são os mesmos, por-
tanto a tonalidade é um componente visual extremamente importante quando se
trabalha com cores. Uma escala de cinza foi acrescentada ao gráfico de brilho
para deixar mais evidentes os valores tonais. Observe como o controle da escala
NARRATIVA tonal muda de controle de reflexos (direção de arte) para controle de incidên-
cia (iluminação). (Acesse www.elsevier.com.br/a_naintiva_visual e confira o
Exemplo nº 4 em cores.) Também há uma mudança súbita de coincidência para
não coincidência de tonalidade.
MATIZ
BRILHO
SATURADO
TONAL
ILUMINAÇÃO
DIREÇÃO DE ARTE
D D
NÃO COINCIDÊNCIA
COINC. Como o gráfico de matiz não é suficientemente específico, foi criado um
roteiro de cores. As cores ciano e amarelo na parte inferior são usadas no pico
COINCIDÊNCIA frio indicado no gráfico de matiz.
AFI NIDADE
DIAGONAL
NARRATIVA
LINHA
VE RT/HORIZ.
REDONDA O gráfico da estrutura da narrativa ausente foi substituído por um gráfico que
simplesmente delineia as partes básicas de qualquer estrutura: começo, meio e
FORMA fim.
Esse gráfico da estrutura, que substitui o gráfico da narrativa, se toma o guia
para as mudanças na intensidade visual. Esse gráfico substituto da narrativa
QUADRADA pode ser a estrutura para um logo de 10 segundos, uma sequência de caracteres
ou uma chamada na televisão.
...
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 9 1 Narrativa e estrutura visual
ELSEVIER
Os gráficos dos componentes visuais de espaço, tonalidade e linha adquirem A exposição da narrativa não tem intensidade ou conflito, mas as fotografias
afinidade ou contraste para apoiar o gráfico da estrutura. Observe como os com- da exposição visual são extremamente dinâmicas, cheias de contraste de tona-
ponentes visuais começam com picos intensos, caem de intensidade e depois lidade. Isso torna a exposição visual mais intensa do que o clímax visual, que
rapidamente aumentam usando contraste no final. Para fazer com que o final pode não ser a intenção dos cineastas. Se as fotos da exposição com afinidade
tenha mais intensidade do que o início, diagonais são introduzidas no final, mas tonal não puderem ser encontradas, pode ser viável usar outros componentes
não são usadas no início. visuais para reduzir a intensidade geral da exposição visual. Ao mesmo tempo,
outros componentes visuais podem ser usados para adicionar contrastes ao clí-
max, de modo que este adquira o máximo de intensidade visual.
Exemplo nº 8
Também existem situações em que a estrutura visual deve se basear em cer-
tos elementos visuais preexistentes, como filmes em arquivo, fotografias
antigas ou arte vintage. Nesses casos, trabalhe do final em direção ao início.
Em vez de desenhar gráficos que lhe dizem o que criar, trace gráficos que NARRATIVA
identifiquem os componentes visuais específicos no material existente. Essa
é a única maneira de entender a estrutura que você vai criar quando as ima-
gens forem editadas em conjunto. A diferença entre uma imagem vintage que
você encontra e uma nova imagem que você produz com uma câmera é sua CONTRASTE
capacidade de controlá-la. Toda imagem, não importa a fonte, usa os mesmos
sete componentes visuais básicos em conjunto com o Princípio de Contraste TONALIDADE
e Afinidade.
AFI NIDADE
DIAGONAL
MOVIMENTO
NARRATIVA
DA CÂMERA
NENHU M
RÁPIDO
CONTRASTE
RITMO
EDITORIAL
TONALIDADE
LENTO
AFIN IDADE
INTENSIDADE BAIXA
,,r
y-
2
ples ao complexo.
nº 10
DIAGONAL~
LINHA
HOR./VERT.
TRIANGULAR
11---------
FORMA NARRATIVA
QUADRADAl--------..;..,- LIMITADO
FRIO
MATIZ
PROFUNDO
QUENTEl-----..... ==--- AMBIG.
DESAT. ESPAÇO
SAT.
RECON.
SAT. DIAGONAL
LINHA
ILUMINAÇÃO
TONALIDADE
HOR./VERT.
CURVA
1,1
LINHA
I!
RETA
l. Narrativa: intensidade
~
2. Espaço: plano/profundo
NARRATIVA
3. Espaço: ambíguo/reconhecível
· 4. Espaço: aberto/fechado
SAT. 5. Espaço: divisões de superfície
6. Linha: qualidade
COR
7. Linha: intensidade
DESSAT. 8. Linha: direção
9. Forma: 2D/3D
CONTRASTE
10. Forma: círculo, quadrado, triângulo
BRILHO
11. Cores: matiz
AFINIDADE 12. Cores: brilho (mesmo que escala tonal)
NÃOCOINC.
13. Cores: saturação
TONALIDADE
14. Cores: quentes/frias
15. Cores: complementares
16. Tonalidade: de incidência/de reflexos
COINC.
17. Tonalidade: coincidência/não coincidência
DIAGONAL
18. Movimento (objeto): direção
MOVIMENTO
19. Movimento (objeto): Rápido/lento
20. Movimento: continuum de movimento
HOR IZONTAL
21. Movimento (câmera): 2D/3D
RÁPIDO 22. Ritmo (objetos estacionários): rápido/lento
RITMO 23. Ritmo (objetos estacionários): regular/irregular
24. Ritmo (objetos em movimento): rápido/lento
LENTO 25. Ritmo (objetos em movimento): regular/irregular
~
AFI NIDADE 26. Ritmo (editorial): rápido/lento
CONT. DE MOV.
27. Ritmo (editorial): regular/irregular
28. Ritmo: contínuo/fragmentado
CONTRASTE O primeiro gráfico é sempre a estrutura da narrativa. Co~o os ele~entos
visuais estão sendo usados para contar a história, entender e diagramar a mten-
sidade da narrativa em detalhes é fundamental. Mantenha a estrutura visual
simples. Os exemplos deste capítulo variam em complexidade para demonstrar
Eis a maioria dos componentes visuais colocados em gráficos em relação à nar- diferentes abordagens, mas a melhor abordagem muitas vezes é a mais simples.
rativa. Devido a limitações de tamanho da página, esta série de gráficos foi Embora todos os componentes visuais devam ser controlados, muitos podem
dividida em duas páginas. O gráfico da narrativa é repetido no topo de ambas permanecer constantes, sem alteração. Progressões e alterações visuais são fer-
as páginas. ramentas importantes que devem ser usadas com parcimônia. Uma estrutura
Inclua quantos gráficos sua produção exigir. Toda vez que um componente visual excessivamente elaborada será difícil de controlar e possivelmente com-
visual é acrescentado sob o gráfico da narrativa, ele força o cineasta a responder plexa demais para o público absorver ou entender.
a perguntas sobre a estrutura visual. Quanto mais específicos os gráficos setor-
nam, mais fácil posicionar os atores, escolher locações, projetar sets, escolher
cores, posicionar a câmera, escolher lentes e decidir o estilo de iluminação.
Embora esse conjunto de gráficos não inclua todos os subcomponentes, ele
proporciona uma ideia dos controles visuais gerais disponíveis para qualquer
produção. Eis uma lista mais abrangente:
Capítulo 1 O
1
PONTO DE VISTA
O termo ponto de vista tem uma variedade de significados. Muitas vezes ,
refere-se ao ângulo da câmera, no entanto, neste livro, ponto de vista refere-se ~ I
maneira como o autor deseja que o público se sinta emocionalmente em relação__J
ªº sujeito ou à narrativa. , ,
Por exemplo, se um roteirista cria um detetive, a narrativa será escrita com
determinado ponto de vista em mente. Alguns exemplos de ponto de vista são:
• Detetive como um gênio intelectual que resolve enigmas (Sherlock Holrnes)
• Detetive como um solitário resmungão e sarcástico (Sam Spade)
• Detetives como pessoas da alta sociedade, ricas e brilhantes (Nick e Nora
Charles)
• Detetive como um incompetente desajeitado (inspetor Clouseau)
• Detetive como uma peste infantil e inconveniente (Ace Ventura)
Em todas as narrativas, o sujeito é um detetive, mas o público se sente diferente
em relação a cada um desses detetives, porque o autor tinha diferentes pontos de
vista O ponto de vista criado pelo roteirista é um elemento fundamental da narra- 1
tiva, orque é a principal indicação para a escolha dos componentes visuais j
Pontos de vista específicos podem ser encontrados em qualquer boa nar-
rativa. Trapaceiros são bandidos desesperados em Os imorais (The Grifters,
1990) e cavalheiros agradáveis em Golpe de mestre (The Sting, 1973). O cow-
boy americano é um ícone heroico em Os brutos também amam (Shane, 1953) e
um assassino moralmente ambíguo em O passado não perdoa (The Unforgiven ,
1992). Dr. Fantástico (Dr. Strangelove, 1963), uma comédia negra, e Código
de ataque (Failsafe, 1964), um drama trágico, são, em essência, a mesma histó-
ria de destruição nuclear com pontos de vista opostos. A guerra é um pesadelo
alucinógeno em Apocalypse Now (Apocalypse Now, 1979) e um dever patrió-
tico em Patton - rebelde ou herói? (Patton, 1969).
Tomar-se campeão de boxe pode ter diferentes resultados e diferentes pon-
tos de vista. Em Rocky - um lutador (Rocky, 1976), o fato de perder a luta cria
267
A Narrativa Visual ELSEVIER Capítulo 1 O I Prática, não teoria
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um herói vencedor. Em Touro indomável (Raging Bull, 1980), o fato de ganhar ponto de vista e fazer escolhas visuais. Ter ótimos instintos é um talento único
a luta produz um fracassado autodestrutivo. Em Garota de ouro (Million Dollar e inexplicável que pode resolver problemas na estrutura visual.
Baby, 2004), o fato de tentar vencer cria uma trágica abnegação. Quando você lê um roteiro pela primeira vez ou se reúne com o elenco e a
Comerciais de televisão sempre têm um forte ponto de vista: equipe de produção, existem momentos de inspiração baseados apenas nos seus
instintos. Você tem o clarão de uma ideia. Algo novo pula na sua mente para
• Uma bebida tem um ótimo sabor. resolver um problema. É aí que os instintos são ótimos.
• Uma bebida provoca diversão ao ser ingerida. Use-os. Você pode nunca entender por que seus instintos estavam corretos,
• Uma bebida faz de você um atleta. mas, quando você vê o produto final, sabe que tomou a d~cisão correta: .
• Uma bebida faz com que você seja socialmente desejável. Entretanto não deixe os instintos enganarem você. As vezes, os mstmtos
Videogames têm pontos de vista: são incompletos, duvidosos ou errados. Escolhas instintivas podem ser ape-
nas velhos hábitos ou ideias incipientes que parecem boas mas acabam sendo
• Os conflitos são bonitinhos. decepcionantes. "Se você estivesse lá, ia funcionar" é uma explicação ineficaz
• Os conflitos são enigmas.
para uma escolha instintiva ruim.
• Os conflitos são violentos. Se os instintos falharem e a inspiração sumir, entender os componentes
• Os conflitos são nojentos. visuais básicos e a estrutura visual pode ajudá-lo a elaborar seus instintos origi-
Documentários têm pontos de vista: nais, tomar decisões e resolver problemas visuais.
rJ;; certas imagens chamarem sua atenção, pergunte-se por quê. D que há no específicas que indicam alguma cor (florestas, praias etc.)? Descubra os compo-
espaço, na linha,_na forma, na tonalidade e na cor das imagen~;-algué~ - nentes visuais corretos analisando o roteiro.
0
e-quepocle funcionar na sua produção? Você pode recriar ou elaborar uma
SELECIONANDO ECONTROLANDO OS COMPONENTES VISUAIS
; estrutura visual emprestada. Faça um álbum com imagens de outras pessoas
I~ue inspiraram s~as_ es~olhas de componentes visuais. Dê uma cópia desse O processo de selecionar e controlar os componentes visuais pode ser desenco-
album para os pnnc1pais membros da sua equipe de produção, para que eles rajador. Embora todos os componentes visuais devam ser controlados, a estru-
possam ver o que você tem em mente. tura de cada componente deve se manter simples. Para escolher os componentes
2. Vá a uma biblioteca e leia tudo o que encontrar sobre o sujeito de seu pro- visuais, comece respondendo a estas perguntas:
jeto. Você vai descobrir informações que vão inspirar novas ideias para a
criação da estrutura visual. • Qual é a história?
3. Veja filmes antigos. Existem milhares de filmes que você não viu. Explore • Qual é o ponto de vista?
• Onde é a locação da história?
um pouco. Filmes antigos têm milhões de ótimas ideias visuais para se pegar
emprestado ou melhorar. Na primeira vez que você vir um filme, deixe o Eis alguns exemplos que respondem a essas perguntas e levam a uma estru-
som ligado. Se o filme parecer promissor em termos de pesquisa, desligue tura visual.
, o som e veja-o novamente. Quanto mais vezes você o vir mais detalhes
,, - :::.------ '
\ perceberá sobre a estrutura visual. I - A trama (The Para/lax View, 1974)
4. Contrate um artista para desenhar interpretações conceituais. Trabalhe com
pessoas visualmente criativas e sonhe com a aparência de sua produção. 1. História: um repórter de jornal honesto e impulsivo se infiltra em uma socie-
Estude os desenhos dessas pessoas porque isso vai ajudá-lo a descobrir a dade secreta de assassinos. O repórter tenta desmascará-los, mas subestima
estrutura visual para sua produção. Em animação, dezenas de artistas criam seus recursos e é assassinado.
centenas de desenhos conceituais, explorando maneiras de estruturar os 2. Ponto de vista: dramático e sombrio. O repórter está preso e condenado. Os
assassinos são onipresentes, opressivos, frios, perversos e ameaçadores.
componentes visuais. Experimente. Desenhe algo e veja como ficou .
3. Locação da narrativa: época de hoje, em uma cidade grande.
Respostas simples às três perguntas facilitam a descoberta de uma estrutura visual.
Escolha analítica Cada componente visual deve transmitir as emoções ditadas pelo ponto de
J As escolhas de componentes e a estrutura visual podem ser encontrados pela vista.
Lanálise do texto e do ponto de vista do autor. Espaço: que tipo de espaço é sombrio, perverso e ameaçador? Existem qua-
tro escolhas básicas: profundo, plano, limitado e ambíguo. O espaço ambíguo
Uma boa dica para descobrir o ponto de vista do autor é sua própria reação
emociónal. Por exemplo, a narrativa faz você rir, chorar ou ter medo? As des- pode fazer o público se sentir ameaçado devido à ausência de informações
crições, os personagens e a trama escritos devem transmitir os humores e as visuais, mas é impossível usar o espaço ambíguo durante o filme todo.
emoções que o autor queria que o público experimentasse. Como o texto ou a Que outro tipo de espaço pode criar a ambiente frio e perverso que faz o
narrativa fez você se sentir? São esses sentimentos qu_e_você, o cineasta, deve espectador se sentir preso por uma presença opressiva? A resposta é plano,
fazer o pú!>_lico sentir. profundo ou limitado; qualquer espaço pode ser definido durante a expo-
.,,...-- Faça uma lista dos sete componentes visuais básicos e considere cada um sição como "frio e perverso". A exposição da narrativa estabelece os fatos
") como uma pergunta. Que tipo de espaço é sugerido pela narrativa e seu ponto necessários para iniciar a narrativa, e a exposição visual apresenta o espaço
l de vista? que vai apoiar a narrativa.
Muitas vezes, existem pistas no roteiro. O autor escreve sobre corredores O ponto de vista emocional da narrativa será associado a qualquer espaço
longos e estreitos, que indicariam superfícies longitudinais e espaço profundo. apresentado na tela.
Outra locação pode ser descrita como um cômodo minúsculo e apertado, que Os cineastas podem ter uma abordagem mais pessoal para o espaço da nar-
sugere um espaço plano. rativa. Eles podem sentir que apenas um tipo específico de espaço trans-
Se a narrativa acontece à noite, quão escura ela deve ser? A narrativa sugere mite sobriedade, prisão e perversidade. Com base em instintos, pesquisas
não coincidência de tonalidade, de modo que o sujeito seja difícil de ver, ou ou gosto pessoal, os cineastas decidem que o espaço plano é a única opção
Í o sujeito deve ter mais coincidência e ser fácil de ver? Existe um esquema de possível. Todas as tomadas serão planas porque esse é o único tipo de espaço
cores sugerido pela narrativa? O autor menciona cores de figurinos ou locações que transmite aprisionamento, perversidade e medo.
.
A Narrativa Visual
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Capítulo 1 O I Prática, não teoria
Linha e forma: que tipos de linhas e formas parecem sombrias, frias e amea- 1. História: um policial honesto descobre a corrupção em uma cidade pequena.
çadoras? De que maneira linha e forma podem transmitir a ideia de um 2. Ponto de vista: os personagens detestáveis (exceto o policial), a locação e a
assassino onipresente?
situação são sinistros, sujos, corruptos e perigosos.
A locação da narrativa é uma cidade grande, que já é repleta de formas hori- 3. Locação: uma pequena cidade miserável na fronteira entre o México e os
zontais, verticais e quadradas. Um bom plano pode ser enfatizar as formas Estados Unidos.
quadr~das como símbolo dos assassinos e eliminar diagonais e triângulos.
Tonahd~de: esta história é uma tragédia. Tonalidades mais escuras podem Espaço: o filme inteiro será em espaço profundo, tomando os elementos
transrmtrr uma atmosfera dramática e perversa. visuais dramáticos e imponentes. O espaço profundo representa a atividade
~ escala tonal desta produção será limitada à metade inferior da escala de corrupta amplamente difundida na cidade.
cmza. Linha e forma: uma ampla gama de linhas e formas será usada para dar
Co~es: um esquema de cores para esta narrativa pode usar apenas cores variedade visual ao filme. As diferenças de forma serão enfatizadas, como
azms de modo a cnar uma atmosfera e um ambiente frio e hostil arcos curvos em contraste com portas e janelas retangulares .
Movi~ento_: ~ ausência de movimento da câmera pode fazer o ·espectador Tonalidade: todas as tomadas vão explorar sombras escuras e dramáticas e
se sentrr apns10nado. Como o espaço geral será plano, os atores estarão fisi- contrastes tonais.
~ame_nte confinados, nunca se movendo em profundidade. Todos os objetos, Movimento: para aumentar a sensação de espaço profundo, a câmera fará
m:lumdo ato_res, se moverão em paralelo ao plano da imagem. grua e dolly, e os atores se movimentarão perpendicularmente ao plano da
Ritmo~ um, n_tmo le~to e deliberado pode gerar ansiedade no público. Uma imagem.
alteraçao sub1ta no ntmo do movimento e da edição cria contraste e assusta Ritmo: os ritmos visuais das composições e a edição terão o máximo
ou choca o espectador. possível de contraste de uma sequência para outra. Algumas cenas serão
filmadas em uma única tomada contínua, e outras serão altamente frag-
A testemunha (Witness, 1985) mentadas. A ideia é acrescentar variedade visual e uma forte intensidade
visual a cada sequência.
Eis outro exemplo no qual o ponto de vista da narrativa impõe as escolhas de
componentes visuais: A testemunha.
Alguém tem que ceder (Something's Gotta Give, 2003)
1. História: um rapaz do campo, visitando uma cidade grande, acidentalmente Por fim, mais uma história e sua escolha de componentes visuais.
testem_unha um assassinato. Um detetive de polícia protege O rapaz e mata 0
assassmo. 1. História: contrariando todas as previsões, um playboy inveterado se apai-
2. Po~t~ de vista: dramático. Fazendeiros são bons, honestos e simples. A xona por uma mulher divorciada da idade dele.
polícia~ exceto pelo _detetive, é corrupta, desonesta e complicada. 2. Ponto de vista: o amor é elegante, divertido e romântico.
3. Locaçao da narrativa: uma fazenda e uma cidade grande. 3. Locação: um condomínio de luxo em uma praia da Costa Leste dos Estados
Unidos e uma cidade grande.
~Iano de co~po~entes visuais: como as duas locações representam qua-
lidades emocionais opostas, atribua componentes visuais opostos às duas Plano de componentes visuais: esse olhar espirituoso e profundo para as
locações básicas: relações amorosas enfatiza a interação dos personagens. Os componentes
Regi~o rural: ~spaço pla~o; linhas horizontais; formas simples; afinidade visuais serão simples e visualmente secundários, de forma que os atores
tonal, cores teluncas; movrmento lento ou nenhum movimento da câmera· possam dominar a tela.
ritmo lento. ' Espaço: o filme inteiro será uma suave combinação de espaço plano e limi-
Região urbana: espaço profundo; contraste entre linhas verticais horizon- tado.
tais e dia~onais; formas complexas e contrastantes; contraste tonal/nenhuma Ocasionalmente, o espaço profundo será usado para enfatizar breves momen-
cor; movlfllento da câmera errático e feito por dispositivos portáteis· con- tos dramáticos.
traste entre ritmos rápidos e lentos. ' Linha e forma: as locações e a arquitetura dos sets vão enfatizar linhas retas
verticais e horizontais.
A marca da maldade (Touch of Evil, 1958) Tonalidade: as cenas diurnas serão claras e enfatizam a afinidade. As cenas notur-
nas serão mais escuras, com contraste moderado, enfatizando a coincidência de
Eis outra estrutura visual baseada em uma análise da narrativa. tonalidade. O contraste extremo será evitado porque parece dramático demais.
f
Cores: azuis e amarelos claros e dessaturados na praia, e cores quentes na • Use a pré-visualização. O Pre-Viz é um software que cria sets e atores vir-
cidade. Todas as cores devem parecer convidativas, e não tristes e sombrias. tuais em um computador. Esse estúdio virtual oferece um storyboard em
Movimento e ritmo: afinidade visual. tempo real e adequado à lente, com movimentos que podem ser editados em
conjunto, como um filme finalizado. . . .
Existem vários programas disponíveis que permitem constrmr sets virtuais
USANDO A ESTRUTURA VISUAL
ou inserir as medidas das locações, adicionar atores em movimento e esco-
Tomar decisões sobre os componentes visuais é essencial para o controle da lher posições de câmera e lentes adequadas.
estrutura visual. Diferentes diretores, diretores de fotografia e designers de pro- Sequências de ação complexas para filmes com efeitos especiais no~al-
dução trabalham de maneiras diferentes para resolver o problema de encontrar mente são testadas no Pre-Viz, para que os problemas possam ser resolvidos
uma estrutura visual. durante a preparação. Para seu filme O quarto do pânico (The Panic Room,
Eis algumas sugestões para encontrar um método que funcione para você. 2002), David Fincher pré-visualizou o filme inteiro antes de começar a fil-
mar com atores nos sets reais. Spielberg usou um sistema Pre-Viz em tempo
• Você pode evitar planejar qualquer coisa e encontrar uma estrutura visual à
real no set para combinar live-action com efeitos especiais em sua refilma-
medida que filma, um dia de cada vez. Isso funciona bem se você for rápido,
extraordinariamente talentoso e inteligente. gem de Guerra dos mundos (War ofthe Worlds).
• Pense no processo de preparação como uma peça de teatro. Reúna seus ato-
Não há nada mais empolgante que a colaboração instantânea do elenco e da
res e ensaie sua produção como se fosse uma peça de teatro. Se você conse-
equipe, mas também não há nada mais potencialmente desastroso.
guir ensaiar o roteiro inteiro em tempo real, terá uma oportunidade única de
A espontaneidade pode criar elementos visuais incríveis, mas é difícil de
ver a história sem interrupções do começo ao fim. Você não terá essa visão
manter, difícil para os outros trabalhadores prepararem ou acompanharem e
potencialmente desastrosa. de sua produção outra vez até entrar na sala de edição.
• Faça anotações sobre seus planos antes de chegar ao set. Escreva no roteiro Durante esse período de ensaio, você poderá se concentrar na história e nos
suas ideias sobre o significado e o ponto de vista de uma cena. atores sem as distrações dos equipamentos técnicos e sem restrições de agenda.
Traduza os gráficos de componentes visuais em lembretes simples. Se um Você pode encontrar a melhor posição para os atores, aprimorar o po?to ~e
componente vai adquirir contraste ou afinidade, escreva uma observação vista da narrativa e desenvolver ideias para estruturar os componentes visuais.
para si mesmo sobre essa mudança. Os diretores muitas vezes fazem ano- Considere como cada componente visual pode funcionar para ajudar a con-
tações no roteiro sobre o estado emocional de um ator ou a arrumação de tar sua história e quais aspectos do ponto de vista e da interpretação dos
uma cena. Lembretes sobre as escolhas de componentes visuais e a estrutura atores pode ser enfatizado por um componente visual.
visual também podem ser escritos nas margens do roteiro. Anotações rápidas Quando os ensaios estiverem maduros, membros importantes da equipe
sobre contraste tonal, movimento da câmera, opções de lentes ou fragmenta- podem ser convidados para assistir, e uma estrutura visual colaborativa pode
ção, por exemplo, podem trazer a estrutura visual à memória do diretor. ser desenvolvida. Os ângulos de câmera podem ser discutidos ou pode-se
Quanto mais cedo você começar esse processo, melhor. Quando você se usar uma câmera de vídeo para registrar os ensaios e fazer experiências com
prepara, colabora com seu diretor de fotografia e seu designer de produção ângulos de câmera.
em termos de como escolher e controlar os componentes visuais. Reserve • Leve os atores às verdadeiras locações e grave os ensaios. Filme todos os
um tempo para permitir o amadurecimento de suas ideias visuais. Depois, ângulos necessários, edite e veja se gosta do resultado. As câmeras de vídeo
reveja e aperfeiçoe seu plano de estrutura visual. No set, suas anotações o são baratas e fáceis de usar, de forma que é possível produzir uma versão
lembrarão de implementar suas ideias visuais e seguir seus pensamentos. ensaiada de uma produção inteira. Estude essa versão e veja como os com-
• Faça storyboards. O principal objetivo de um storyboard é visualizar toma- ponentes visuais estão funcionando.
das antes de você filmar. Se você quiser que os storyboards sejam úteis, não Se os atores estiverem ocupados, leve amigos à locação e faça fotos de refe-
pode menosprezá-los. rência que representem as tomadas que você vai filmar depois com seus atores
Storyboards bem bolados são um compromisso tão importante quanto o e sua equipe. Storyboards desenhados à mão podem gerar problemas, porque
roteiro. os desenhos muitas vezes são impossíveis de recriar com uma câmera de ver-
Você pode precisar redesenhar os storyboards muitas vezes, assim como um dade. Tirar fotografias estáticas com uma câmera na locação real gera um con-
roteirista deve reescrever um roteiro. Criar storyboards é uma oportunidade de junto de imagens que são mais precisas que storyboards desenhados à mão.
pré-visualizar tomadas e melhorá-las. Use os storyboards para descobrir como Experimente filmar diversos ângulos de câmera e decidir posteriormente
compor as tomadas, posicionar os atores e usar os componentes visuais. quais são os melhores.
A Narrativa Visual ELSEVIER
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Capítulo 1 O I Prática, não teoria
As fotografias podem revelar problemas com os ângulos de câmera, as opções Um comercial de carro pode fazer um automóvel parecer suave, silencioso e
de lentes, a tonalidade, a linha, a forma e a cor. Criar essas fotografias estáti- elegante ao enfatizar a afinidade dos componentes visuais:
cas permite testar as escolhas de componentes visuais antes da filmagem.
Espaço: plano
Linha: horizontal
O RESULTADO
Forma: círculo e curvas
O resultado final de qualquer processo de preparação é sempre o mesmo. Você Tonalidade: terço intermediário da escala de cinza
está buscando maneiras de encontrar uma estrutura visual que vai contar sua his- Cores: cores frias dessaturadas
tória e expressar seu ponto de vista. Neste livro, a maioria dos exemplos envolve Movimento da câmera: horizontal
histórias normalmente encontradas na televisão e em filmes de longa-metragem. Movimento de objetos: afinidade de continuum
Mas os princípios da estrutura visual se aplicam a todo tipo de produção que Ritmo: afinidade de ritmo lento e regular
aparece em todo tipo de tela. Existem maneiras específicas de abordar a estru- O mesmo carro pode ser feito de maneira a parecer veloz, barulhento e sel-
tura visual dependendo do tipo de produção em que você está envolvido. vagem através do contraste de componentes visuais:
Espaço: profundo contrastando com plano
A propaganda Linha: diagonais contrastando com horizontais
Forma: contraste de formas básicas
Uma propaganda pode ser um leiaute para comercial, outdoor ou revista. Pode
Tonalidade: tonalidades contrastantes
aparecer na televisão, pular na tela do seu computador ou ser visto em um dis-
Cores: contraste de matiz, brilho e saturação
positivo digital portátil.
Movimento: contraste de movimentos bi e tridimensionais; contraste de
Uma propaganda, como qualquer outra produção, precisa de estrutura. Pode
continuum
ser uma estrutura tradicional, com uma clara definição de exposição, conflito,
Ritmo: ritmos contrastantes e padrões incisivos
clímax e resolução, ou menos tradicional, excluindo ou reposicionando elemen-
tos da estrutura da narrativa. Seja qual for a estrutura da narrativa usada, serão Essas escolhas de componentes visuais poderiam ser aplicadas a qualquer
utilizados componentes visuais para produzi-la. produto ou serviço.
Uma propaganda deve se destacar da sufocante concorrência e convencer O Princípio de Contraste e Afinidade sempre aumenta ou reduz a intensi-
um consumidor a comprar um produto ou serviço específico. A exclusivi- dade visual. Uma barra de sabão não tem dinâmica visual intrínseca, mas um
dade visual muitas vezes é criada pela tecnologia. Assim que um novo truque carro esportivo tem. Ao usar o contraste de componentes visuais, a barra de
visual é inventado, ele aparece em comerciais, tentando atrair a atenção do sabão pode se tornar tão dinâmica e intensa quanto o carro esportivo. Por outro
espectador. A nova ideia visual muitas vezes desencadeia uma moda visual. lado, a afinidade visual pode reduzir a intensidade de qualquer produto. Filmar
Ao longo dos anos, essas modas passageiras incluíram imagens múltiplas, e editar tomadas de um carro esportivo dinâmico usando o máximo de afinidade
telas divididas, foco suave, foco seletivo, manipulação de matiz e saturação, vai reduzir ou eliminar toda a intensidade intrínseca do carro e torná-lo tão sem
coloração falsa, morphing, variações de tipografia e fonte, lentes para distor- vida quanto a barra de sabão.
ção, faixas pretas, edição rápida, fotografia estroboscópica, filmagem com Os comerciais e seus parentes visuais - logos de identificação, apresen-
câmeras enfileiradas, lapso de tempo, câmera lenta ou rápida e aceleração tações visuais ou rótulos - são breves. A estrutura padrão de exposição, con-
ou desaceleração de movimentos. O truque visual parece exclusivo até ser flito, clímax e resolução pode ser mais flexível e permitir outras estruturas.
excessivamente utilizado, e aí há uma mudança para a próxima descoberta Geralmente, a duração é curta demais para que o público perca uma mudança
tecnológica. Os truques visuais realmente são novas maneiras de se controlar de intensidade na estrutura. O pico de intensidade no começo de uma estrutura
os componentes visuais básicos. de formato longo pode ser usado, mas pode permanecer intenso na duração da
Em comerciais, os elementos visuais muitas vezes têm precedência sobre o estrutura. Manter a intensidade visual máxima por 5, 10 ou 15 segundos é pos-
conteúdo da narrativa. Na verdade, é comum os elementos visuais se tornarem o sível se os componentes forem cuidadosamente controlados para manter o con-
conteúdo. Os elementos visuais devem ser cuidadosamente estruturados porque traste visual. A afinidade visual pode ser usada para gerar o efeito contrário.
não se trata de elementos visuais apoiando uma narrativa, são apenas elementos
visuais no papel de elementos visuais. As escolhas de componentes visuais se O documentário
tornam ainda mais críticas porque eles são os únicos mensageiros do ponto de Os documentários muitas vezes são associados a circunstâncias incontroláveis,
vista. mas isso não é uma desculpa para ignorar o controle dos componentes visuais.
....
A estrutura visual sempre pode ser controlada, mesmo em situações em que isso Um documentário, como qualquer outra narrativa, trata de um conflito. A
parece impossível. narrativa pode ser tradicional, representando pessoas em conflito (por exemplo,
Existem três tipos básicos de produção de documentários: batalhas em épocas de guerra, argumentações em tribunais, situações de disputa
familiar, atletas competindo etc.).
• Usar filmagens prontas que você encontrou
Mas a definição de um conflito pode ser ampliada no caso de documentá-
• Filmar em uma situação controlada
rios. Um conflito no documentário também pode ocorrer entre o cineasta e o
• Filmar em uma situação não controlada
público.
O conflito se transforma em "será que o público vai entender ou aceitar as
Filmagens prontas
informações apresentadas pelo cineasta?". Se o documentário for informativo,
Filmagens prontas significa que a produção usará apenas fotografias, filmes ou como o público deve se sentir emocionalmente em relação às informações que
vídeos existentes que foram feitos por outras pessoas. está recebendo?
Os primeiros passos são escrever a narrativa, encontrar um ponto de vista e Deve ser positivo ou negativo? Como o público se sente é o ponto de vista.
desenhar uma estrutura visual para apoiar a narrativa. Um ponto de vista específico Ambos os tipos de documentário devem ter um forte ponto de vista. Ele
deve ser definido de modo que se possa fazer a melhor seleção de material visual. pode não ser descoberto até o final das filmagens, mas um ponto de vista é
Embora alguns cineastas de documentários recriem eventos históricos usando fundamental. Sem um ponto de vista, não existe maneira de se saber como con-
atores, muitos documentários usam fotografias antigas ou filmes de arquivo. trolar qualquer um dos componentes visuais, porque você não saberá quais as
Analise o material visual e defina os componentes visuais básicos inerentes sensações emocionais que devem ser transmitidas ao público.
às imagens. Os contrastes ou afinidades criados pelos componentes visuais no
material de arquivo afetarão a estrutura visual da produção finalizada. Documentário não controlado
A refilmagem de fotografias estáticas oferece uma oportunidade para recom-
Filmar um documentário em uma situação não controlada é uma tarefa difícil
posição da câmera, movimento da câmera e continuum de movimento. Cortar
porque é impossível prever o que vai acontecer, se é que algo vai acontecer.
e recompor uma fotografia pode tomá-la mais adequada ao ponto de vista e à
Um claro entendimento do seu ponto de vista pode ajudar. Quando algo acon-
estrutura visual da narrativa. Considere a velocidade da câmera em movimento e
tece em uma situação não controlada, como você quer que o espectador se
as linhas criadas por seu movimento horizontal, vertical e diagonal. Que área de
sinta emocionalmente sobre isso? Você pode precisar desenvolver diferentes
·uma fotografia o público está vendo e para onde irá sua atenção na próxima foto-
planos visuais e ter a capacidade de mudar seus planos rapidamente, depen-
grafia? Use contraste e afinidade de continuum de movimento para planejar a
dendo da situação.
posição das fotos no quadro, como elas se movimentarão e como elas serão edi-
Avalie sua locação de filmagem cuidadosamente antes de começar e
tadas. Dê uma estrutura visual às imagens de arquivo que apoiam a narrativa.
tente aproveitar os elementos visuais que já existem no local. Será que colo-
Como o material visual deve ser encontrado, e não criado, o controle sobre
car a câmera em uma posição mais adequada vai aproveitar os componentes
os componentes visuais e o Princípio de Contraste e Afinidade é mais difícil. Os
visuais que já estão no local? Será que lentes específicas ajudam a incluir
gráficos ainda são úteis porque vão lembrar ao cineasta de seguir uma estrutura
ou excluir certos componentes visuais? Quanto mais você souber sobre seu
visual que apoie a narrativa. Uma série de fotografias enfadonhas e não estrutu-
sujeito e ponto de vista, mais fácil será filmar as imagens que transmitem
radas não consegue apoiar um roteiro bem escrito.
suas ideias.
O maior controle surge na sala de edição. Aqui, a filmagem pode ser anali-
Documentário controlado sada e transformada em gráficos para os componentes visuais básicos. A natu-
Uma situação de documentário controlado permite que o cineasta administre reza da ação em suas tomadas vai governar como as imagens são editadas em
os componentes visuais. Mesmo que o documentário esteja repleto de pessoas conjunto, mas tome cuidado com o contraste e a afinidade nos componentes
falando em close-up, é possível ter um alto nível de controle. Que tipo de espaço visuais, pois isso vai afetar as emoções dos espectadores.
você vai colocar atrás das pessoas falando? Que cores? Que tipo de iluminação?
Que tipo de linhas e formas? Que lente você vai usar? Todos os componentes
visuais básicos aparecerão em todas as tomadas. Como você vai usá-los?
O videogame
A resposta a essas perguntas é o ponto de vista. As escolhas de componentes A única diferença entre uma narrativa tradicional e a narrativa de um videogame
visuais sempre serão baseadas em como o cineasta quer que o público se sinta é que o espectador tem algum controle sobre a trama. No entanto, isso não
em relação ao sujeito. exime o criador do videogame de controlar os componentes visuais.
A Narrativa Visual ELSEVIER ELSEVrER
Capítulo 1 O I Prática, não teoria
Parte da experiência de qualquer videogame é sua estrutura e a progressão Programas de televisão com várias câmeras
na jornada ou nas metas do jogo. O Princípio de Contraste e Afinidade pode O uso de várias câmeras é aplicado em produções em estúdio e em locações.
tornar a estrutura do jogo mais visualmente dinâmica à medida que o jogo
.Cada tipo de produção tem seu mundo próprio. O estilo de filmagem em estúdio
progride.
com várias câmeras usado em comédias de situação, dramas diários , programas
À medida que um jogador avança para um novo nível, a intensificação do
de jogos e programas de entrevistas foi desenvolvido na década de 1950 e ainda
conflito do jogo deve se refletir na estrutura visual. Conforme o jogador se apro-
é usado hoje em dia.
xima do final (ou do clímax) de cada episódio ou nível, os elementos visuais
Programas de comédias de situação e dramas diários produzidos em
devem se intensificar ou adquirir contraste.
estúdio são posicionados, desenhados e filmados como uma peça de teatro
Todos os componentes visuais estão sendo usados em todos os videogames,
no proscênio do palco de teatro. A ênfase é colocada nos atores, e isso é
e os jogadores reagem aos contrastes e afinidades visuais. Planejar uma estru-
tura visual, criar regras visuais e usá-las em um videogame melhora muito a ótimo, mas, se você desligar o som, perceberá que o diálogo transmite todo
experiência de jogar. o conteúdo.
A maioria das alterações na estrutura visual é minimizada devido a limitações
A Internet
da produção. Com exceção de pequenas variações no design do set, na ilumina-
ção e no figurino, esses programas compartilham um estilo visual idêntico.
A Internet é simplesmente outra superfície bidimensional usada para exibir Programas de perguntas e respostas têm um cenário permanente, projetado
imagens que contêm espaço, linha, forma, tonalidade, cor, movimento e ritmo. para dar ao programa um visual exclusivo. Depois de projetado, não há variação
Todas as ideias de estrutura visual discutidas neste livro se aplicam a todas as de um episódio para outro no estilo visual desses programas. Embora os estilos
imagens exibidas na Internet. de câmera de diferentes programas variem (alguns têm mais contraste visual
Podemos carregar uma tela conosco. Essa tela pequena - ou, às vezes, que outros), depois que o estilo da câmera é estabelecido, ele raramente muda.
minúscula - tem certas limitações visuais. À medida que o tamanho da tela O único elemento que muda são os novos participantes.
diminui, fica mais difícil criar o espaço profundo. Programas de entrevistas têm ainda menos variações. Os programas de entre-
A capacidade da tela de computador de exibir diferenças de tamanho é ina- vista são arrumados de maneira plana e são cópias dos leiautes uns dos outros.
dequada, porque a tela normal é pequena. Essa dimensão física limita muito o Embora cada programa tenha seu próprio estilo de cenário de fundo (cor, forma,
tamanho de objetos grandes e dificulta a visualização de objetos pequenos. As linha, tonalidade), os componentes visuais básicos permanecem idênticos de
telas de PDAs são ainda menores. um programa para outro. A única variação é o convidado.
A importante informação de profundidade de alteração de tamanho não pode
Reality shows filmados em locações têm um visual completamente diferente
ser usada em telas minúsculas.
dos filmados em estúdio. A natureza física de muitos reality shows estimula
Se todos os objetos de uma imagem têm a mesma quantidade de detalhes
usos mais dinâmicos dos componentes visuais. A maioria dos reality shows
texturais, a imagem parece plana. Vídeos na Internet podem ter esse problema,
substitui o espaço plano da produção em estúdio por um espaço profundo. As
dependendo da resolução da imagem descarregada. Telas minúsculas de PDAs
lentes grande-angulares usadas em reality shows para televisão incluem mais
têm uma resolução tão baixa que os detalhes texturais não podem ser percebidos.
A informação de profundidade da separação tonal é difícil de usar porque informações de profundidade.
os vídeos têm uma escala tonal limitada. Brancos claros e pretos escuros não Câmeras portáteis e altamente móveis podem criar com facilidade linhas
podem ser reproduzidos porque a faixa de contraste fica fora da capacidade diagonais, movimento relativo. e alterações de ritmo que são desnecessárias ou
técnica ou da condição de visualização das telas minúsculas. O preto é especial- impossíveis de produzir em uma situação de estúdio com várias câmeras. A
mente difícil de criar porque a maioria das telas de vídeo são vistas em ambien- colocação cuidadosa da câmera força o movimento de objetos perpendicular
tes com muita iluminação. ao plano da imagem, que é muito mais dinâmico que o movimento paralelo em
As imagens na Internet ou transmitidas para PDAs não fazem distinção entre comédias de situação e programas de entrevista.
mudanças sutis de cor e tendem a reproduzir cores semelhantes mas diferentes A locação muitas vezes muda drasticamente em reality shows, por isso
de maneira idêntica. Esse fenômeno é chamado de localização da cor e ocorre existem oportunidades para contrastes constantes em todos os componentes
em qualquer meio de reprodução de cores. Ao ignorarem diferenças sutis de cor, visuais. Muitos reality shows envolvem atividades físicas sem diálogos, enfa-
as telas perdem profundidade. A localização de cor é discutida de modo mais tizando os componentes visuais no ambiente, em vez de close-ups de pessoas
completo no Capítulo 6, "Cor". falando.
A Narrativa Visual ELSEVIER Prática, não teoria
ELSEVJER
televisão com uma Criar gráficos, definir um ponto de vista e escolher os componentes visuais
Programas de televisão com uma única câmera tendem a encontrar regras espe- é fundamental para a produção de qualquer conjunto de imagens desenhadas à
cíficas para os componentes visuais e depois exploram essas regras para fazer mão ou geradas por computadores.
com que o programa pareça exclusivo. O estilo visual de um programa é mais Todos os aspectos deste livro têm relação direta com a criação de filmes de
reconhecível à medida que as escolhas de componentes se tornam mais extre- animação e devem ser usados com ainda mais controle do que em uma produção
mas. Essas escolhas normalmente envolvem: de live-action.
~ Escolhas de espaço:
NÃO SURTE
a. Os atores podem ser colocados no espaço plano ou profundo.
b. Os sets e as locações podem ser longitudinais ou frontais. É fácil pensar demais em tudo e ficar atolado no controle dos componentes
• Escolhas de câmera: visuais. Não deixe isso acontecer - mantenha a simplicidade. Quanto mais
a. Montada em dolly ou câmera portátil claro você puder ser em relação ao controle dos componentes visuais, mais fácil
b. Uso de lentes com zoom ou apenas lentes com distância focal fixa será para sua equipe ajudá-lo e para o público perceber a estrutura que você
e. Movimento da câmera motivado ou não motivado planejou. Você precisa de regras visuais.
d. Movimento lento ou rápido da câmera É mais fácil fazer boas escolhas visuais quando existem regras a seguir. Se
e. Lente grande-angular ou teleobjetiva não houver regras, não haverá resposta certa ou errada para qualquer pergunta.
~ Escolhas de cor: Pense em imagens memoráveis ou favoritas que você já viu em uma tela.
a. Limitar a faixa de matiz, brilho e saturação Lembre-se de que uma tela é uma página de um livro ou revista, um outdoor, um
b. Acrescentar efeitos na pós-produção quadro em um museu, uma televisão, um monitor de computador ou uma tela de
@ Escolhas de iluminação: cinema. Na base de todas essas imagens, quer seu criador tivesse conhecimento
a. A luz pode ser coincidente ou não coincidente. ou não, estão os componentes visuais.
b. A escala tonal pode ser controlada por iluminação ou direção de arte. Alguns artistas, roteiristas, diretores, cineastas, designers e editores não
@ Escolhas de ritmo: conseguem explicar como escolhem determinados componentes visuais. Outros
a. Estilo de cobertura contínua ou fragmentada sabem exatamente por que o fizeram. Qual método é melhor? Na verdade, não
b. Edição tradicional ou estilos editoriais comjump-cutting não motivado importa nem um pouco. Quer a escolha tenha sido acidental, instintiva ou cuida-
dosamente premeditada, ela chegou à tela e teve o efeito certo sobre o público.
O estilo visual realmente é um conjunto de componentes visuais básicos
O que dizer da espontaneidade? Use-a. As regras visuais são uma estrutura.
cuidadosamente escolhidos.
Você não vai ser preso por quebrar uma regra visual, mas deve ter em mente o modo
Regras específicas de componentes visuais funcionam bem para progra-
como a quebra de uma regra afetará o público. Não se desespere com regras que
mas de televisão que devem produzir muito material rapidamente. É mais
tomam a produção irreal, mas entenda como e por que a estrutura visual funciona.
fácil tomar decisões porque as escolhas de componentes visuais são pro-
Podemos aprender com o passado. Assista a filmes antigos, vá a museus para
positadamente limitadas para manter o estilo do programa. Programas de
ver ótimas fotografias e pinturas, mas não as examine com um microscópio.
televisão muitas vezes usam diferentes diretores; portanto, definir o estilo
Você pode ficar tão preocupado com detalhes minúsculos que a ideia geral da
visual ajuda a manter uma aparência consistente, independente das alterações
imagem se perde. Seja cuidadoso. O público só vai ver sua imagem uma vez se
de pessoal.
você tiver sorte, e mais de uma vez se você for extremamente sortudo. O público
pode não perceber os detalhes minúsculos. Será que os detalhes devem ser igno-
O filme de animação rados e apenas os aspectos visuais gerais devem ser controlados? Não. Mas há
um espaço intermediário no qual temos de ser capazes de equilibrar praticidade
Não importa se sua animação é tradicionalmente desenhada à mão ou produ- com realidade.
zida com um computador. A animação oferece a maior quantidade de controle Estabelecemos regras porque elas ajudam o público de duas maneiras.
visual, já que tudo deve ser criado. O número de possibilidades de controle Primeiro, elas são responsáveis pela unidade visual do filme, porque se tornarão
visual é muito mais complexo, pois muito mais escolhas devem ser feitas. Não familiares para o público. Quando você usa regras, a produção assume uma apa-
há diferença entre o mundo da live-action e o mundo da animação. Ambos com- rência específica, ou estilo visual. O estilo visual é uma arrumação específica
partilham uma linguagem visual em comum. dos componentes visuais básicos.
A Narrativa Visual ELSEVIER
T
Segundo, usar regras visuais em conjunto com o Princípio de Contraste
e Afinidade proporciona ao público uma experiência visual que caminha em
paralelo com a experiência da narrativa. O público deseja ser levado em uma
v---------------------l( Apêndice )1------ 1
1
jornada. Quando ele observa qualquer tela, quer ser levado para um mundo que
tem estrutura da narrativa e estrutura visual. Mesmo que a jornada dure apenas
1O segundos, ele quer a jornada e quer a estrutura. Não apenas a estrutura da PARTE A
narrativa, mas a estrutura visual também.
O ladrão de bicicletas (The Bicycle Thief), Cidadão Kane (Citizen Kane), Fotografia com ponto nodal
Psicose (Psycho ), Duro de matar (Die Hard), Gritos e sussurros ( Cries and A panorâmica e o tilt com ponto nodal ocorrem quando o centro ótico da lente é
Whispers), O poderoso chefão (The Godfather), Lawrence da Arábia (Lawrence colocado diretamente no eixo do movimento de panorâmica e tilt da câmera.
ofArabia), Manhattan (Manhattan), O resgate do soldado Ryan (Saving Private
Ryan), A regra do jogo (Rules of the game), Rastros de ódio (The Searchers),
Pacto de sangue (Double lndemnity), Yojimbo, o guarda-costas (Yojimbo),
Touro indomável (Raging Bull), Branca de Neve e os sete anões (Snow White),
da Disney, Os incríveis (The lncredibles), seu videogame favorito, um ótimo
programa de televisão ou comercial têm aparências exclusivas porque suas
regras visuais são muito fortes.
A função dos componentes visuais é apoiar a narrativa. Você deve conhecer
sua narrativa, entender sua estrutura e ter um ponto de vista. Conectar a estru-
tura visual à estrutura da narrativa permite que você estimule suas escolhas
visuais. Assim como um escritor faz escolhas quando escreve uma história, um
ator faz escolhas quando interpreta um papel, e um músico faz escolhas quando
compõe uma melodia, o cineasta deve fazer escolhas quando cria imagens visuais.
Os componentes visuais básicos, em conjunto com o Princípio de Contraste
e Afinidade, permitirão produzir imagens melhores que se comunicam com o
público. T
Isso mantém o centro ótico da lente fixo, à medida que a câmera faz uma
panorâmica ou um tilt.
Desenvolvido originalmente para fazer movimentos de câmera em minia-
tura e fotografia de efeitos especiais, o tilt e a panorâmica com ponto nodal
não geram absolutamente nenhum movimento relativo do FG para o BG. A
maioria dos suportes de tripés convencionais de câmeras não é preparada para
a fotografia com ponto nodal e sempre gera um nível baixo mas perceptível de
movimento relativo entre o FG e o BG.
PARTE B
Profundidade de campo: efeito das lentes sobre o espaço
Embora a lente grande-angular tenha uma profundidade maior de campo, todas
as lentes têm a mesma profundidade de campo quando o tamanho da imagem
do sujeito permanece o mesmo.
Eis um exemplo:
285
f
ELSEVIER ELSEVIER
pés
100mm 18mm
Essa é uma visão superior ou planta baixa de uma parede, um ator (indicado
pelo ponto) e uma câmera. A câmera, com uma lente teleobjetiva de 100mm, está
armada a 14 pés de distância de um ator em frente à parede, mas a parede está fora
de foco e queremos que tanto o ator quanto a parede estejam em foco. Sem mover
a câmera, mudamos para uma lente grande-angular de 18 mm que pensamos ter O ator A, que está no primeiro plano, ficará extremamente grande no quadro
"uma profundidade de campo muito maior". e _ve;e~os vári~s detalhes do seu rosto e dos seus cabelos. O ator B, a 100 pés de
Agora, o ator e a parede estão em foco, mas estão pequenos demais no qua- distancia, ficara pequeno em comparação e não veremos nenhum detalhe. O ator
dro, então aproximamos a câmera para obter o mesmo tamanho de imagem do A parece maior porque está a apenas 1 pé de distância da câmera. O ator B está a
ator que tínhamos com a lente teleobjetiva de 100mm. 100 pés de distância da câmera - ou 10.000% mais longe. Não é de surpreender
Quando a câmera estiver a 2,5 pés de distância em frente ao ator, teremos que o ator B pareça tão pequeno quando comparado ao ator A.
duplicado o tamanho da imagem que tínhamos com a lente de 100mm, mas a Mantendo a câmera exatamente no mesmo local, coloque uma lente teleob-
parede estará fora de foco novamente. Veremos mais da parede porque o ângulo jetiva de 500mm na câmera e olhe outra vez.
de visão da lente de 18 mm é muito amplo, mas a parede estará fora de foco
como estava com a lente teleobjetiva de 100mm a 14 pés.
Todas as lentes terão a mesma profundidade de campo se tivermos o mesmo
tamanho de imagem.
Isso não significa que lentes grande-angulares não ajudam na criação da
profundidade ilusória. Elas ajudam. Mas a lente grande-angular ajuda porque
nos força a colocar os objetos mais próximos da câmera.
ATOR A ATOR B
A tomada n. º 2 parece plana porque não há informações de profundidade na
tomada. Apenas um dos dois atores estará em foco, e sabemos que, quando um
objeto está fora de foco, ele não pode funcionar como informação de profundi-
Essa é uma visão superior ou planta baixa que mostra a câmera e dois atores.
dade. O ator A está próximo demais da câmera e será filmado como uma forma
Observe que o ator A está a apenas 1 pé de distância da câmera e o ator B
fora de foco.
está a 100 pés de distância da câmera.
Essa cena, filmada com uma lente grande-angular de 15 mm, ficaria mais ou Mantendo os atores no mesmo local, a câmera com a lente teleobjetiva de
500mm se afasta 2.500 pés (quase meia milha).
menos assim:
Apêndice ELSEVIER Apêndice
ELSEVIER
entre os objetos e a câmera, parece se tornar plano, mas ele apenas parece mais
plano porque tudo está à mesma distância da câmera.
A questão, aqui, é que uma lente não é capaz de "comprimir" ou "aprofun-
dar" uma tomada. Não dependa de lentes teleobjetivas ou grande-angulares para
criar espaço plano ou profundo. A lente pode ajudar, mas a criação desses dois
tipos de espaço se deve à distância entre os objetos e a câmera e à capacidade da
lente de incluí-los na visão.
É possível filmar uma cena de espaço profundo usando uma lente teleobje-
tiva? Sim, embora seja mais fácil com uma lente grande-angular porque a lente
mais ampla pode incluir mais informações de profundidade.
É possível gravar um filme de espaço plano com uma lente grande-angular?
Sim, embora às vezes seja mais fácil usar uma lente teleobjetiva, porque ela
A tomada n. 0 3 (a seguir) parece muito plana. Ambos os atores estão em foco exclui as informações de profundidade muito rapidamente.
e parecem ter quase o mesmo tamanho porque estão praticamente à mesma dis-
tância da câmera. O ator A está a 2.501 pés de distância e o ator B está a 2.600 PARTE C
pés de distância. O ator B está apenas 4% mais longe que o ator A. Essa tomada
parece plana por causa da distância entre os objetos e a câmera. A lente teleobje- Lentes anamórficas e filme de 70 mm
tiva não é capaz de comprimir a imagem. Ela não tem poderes mágicos para tor- Lentes padrão são chamadas de lentes esféricas ou "planas". Elas são usadas
nar plano ou achatar o espaço. A cena parece plana porque todos os objetos que para gravar filmes de 1.33, 1.66 e 1.85, e todos os programas de televisão a
estão no quadro estão relativamente à mesma distância da câmera, o que elimina que você assiste. Esférica ou "plana" significa que os elementos de vidro da
a maioria das informações de profundidade. No entanto, a lente teleobjetiva pode lente são arredondados (e não oblongos ou assimétricos) e geram uma imagem
excluir as informações de profundidade. não distorcida. (As lentes esféricas são usadas em todas as câmeras estáticas.)
Mantendo a câmera a 2.500 pés de distância, coloca-se uma lente grande- No início da década de 1950, Hollywood adotou um sistema que usava lentes
angular de 15 mm na câmera. anamórficas ou asféricas que distorciam propositadamente a imagem. Esse sis-
tema, que se tornou famoso inicialmente na 20th Century Fox, era chamado de
Cinemascope.
li "'
Os atores distantes aparecerão como pontos minúsculos, mas, se a imagem Essa é uma tomada 2.40: 1 vista através do visor da câmera. Usando uma
for ampliada, a tomada n.0 4 ficará exatamente como a tomada n.º 3. lente anamórfica, a imagem ampla se encaixaria em um quadro padrão de 1.33: 1
Quando usamos lentes teleobjetivas mais longas, somos forçados a recuar a em um filme de 35 mm.
câmera para incluir e compor os objetos no quadro. Quando recuamos a câmera,
obtemos mais e mais distância entre a câmera e os objetos que estamos fil-
mando. Isso força todos os objetos que estão em foco a permanecerem a uma
distância maior da lente. Quando isso acontece, o espaço, devido à distância
ELSEVIER
ELSEVIER
A B
□I D
D 1~ - - - - - - , D
□! D
D! D
□! D
□! D
e D
Essa é a mesma tomada, vista no filme de 35 mm. A imagem foi espremida
pela lente anamórfica da câmera para caber no quadro padrão de 1.33: 1 em um
Esse quadro 2: 1 será dividido usando a proporção áurea.
filme de 35 mm.
A B
PARTE D
A proporção áurea
A proporção áurea é uma divisão de superfície que tem sido usada há muito e F D
tempo na arte, desde a Antiguidade Clássica. Eis aqui as instruções para se
obter uma proporção áurea com base no livro Composing Pictures, de Donald
Agora, transfira o comprimento de CE para a parte inferior do quadro,
Graham.
criando o ponto F.
Apêndice ELSEVIER Apêndice
ELSEVIER
PARTE E
Cor e graus Kelvin
e G F D Diferentes fontes de luz geram luzes de cores diferentes. Vemos a maioria das
fontes de luz como branco neutro ou sem cor porque nossos sistemas visuais
são capazes de compensar as diferentes fontes de luz colorida, mas nenhum
Transfira o comprimento de FD para a parte inferior do quadro, criando o
deles produz luz branca. Podemos classificar essas diversas fontes de luz com
ponto G.
um sistema desenvolvido no final da década de 1800 por Lorde William Kelvin
e ainda em uso nos dias de hoje.
A B
[ AZUL VERMELHO l
o ~ ~
\ 1 /
~
y
1 1
e G H F D
A escala Kelvin nos ajuda a descrever e comparar a cor da luz emitida a partir de
diversas fontes. Quanto mais baixo o número Kelvin, mais vermelha é a luz, e quanto
Transfira o comprimento de CG para a parte inferior do quadro, criando o mais alto o número Kelvin, mais azul é a luz. A escala é calibrada em graus, embora
ponto H. esses números usados em iluminação não tenham nada a ver com temperatura. Uma
Desenhe linhas verticais a partir dos pontos G, H e F. luz de 5.600K não é necessariamente mais quente que uma luz de 2.700K.
A vela com 1.800 K parece razoavelmente baixa na escala Kelvin e emite uma
A B luz colorida vermelha/laranja. Se colocarmos a luz da vela através de um prisma,
ela produzirá um arco-íris, mas ele terá predominância de luz vermelha/laranja.
A lâmpada de 60 watts também produz uma luz laranja, embora não tão
laranja quanto a vela. A temperatura da cor da lâmpada de 60 watts é de apro-
ximadamente 2.800 K, o que a coloca um pouco mais próxima da ponta azul do
espectro visível. Uma lâmpada de 40 watts é mais vermelha (2.700K), e uma
lâmpada de 100 watts é mais azul (2.900K), embora todas as lâmpadas caseiras
normais fiquem mais vermelhas com o uso.
Os refletores de cinema são fabricados para emitir luz a 3 .200 K. Eles ainda
continuam na parte mais vermelha do espectro, mas não tão vermelha quanto a
e G H F D lâmpada de 60 watts ou a vela.
O tamanho físico ou brilho da luz não faz nenhuma diferença. Se o refletor
foi fabricado para uso em cinema ou vídeo, seja uma lâmpada de 50 watts ou
ELSEVIER ELSEVIER
uma lâmpada de 20.000 watts, ele vai emitir luz a 3.200 K. Existe uma exceção Os filmes não têm a capacidade de se ajustar ao nosso cérebro. Os filmes
quando se trata da luz do dia. cinematográficos são feitos para ser compatíveis (ou equilibrados) com apenas
No nosso quadro, o pôr-do-sol recebeu a temperatura de cor arbitrária de duas fontes de luz. Filmes com cenas internas - ou balanceados para luz de tungs-
4.300 K. A luz do dia normal tem 5 .600 K; então, quando o sol se põe, o número tênio - são feitos para perceber a luz de 3 .200 K como "normal".
Kelvin diminui continuamente (a luz fica mais vermelha) à medida que o sol se Filmes com cenas externas - ou balanceados para luz do dia - são feitos
aproxima do horizonte. para perceber a luz de 5.600K como "normal". Qualquer outra combinação de
Ao meio-dia, a luz do dia em um dia normal tem aproximadamente 5.600K. filme e fonte de luz altera a cor da cena no filme. Para o olho humano, os dois
Dependendo das condições climáticas, da locação, da direção em que você está tipos de luz parecem neutros porque podemos nos ajustar, mas o filme não tem
olhando e da época do ano, essa leitura Kelvin muda. Em altitudes maiores, onde capacidade para se ajustar sozinho.
há menos atmosfera, a temperatura da cor do céu pode chegar a 50.000 K.
A temperatura da cor do dia tem predominância de luz azul e violeta, embora
também contenha um pouco de vermelho, amarelo e verde. Um tipo especial de
refletor foi projetado para a produção de filmes e vídeos, para simular com mais
precisão a cor do dia. Fabricados por uma variedade de empresas, mas generi-
camente chamados de refletores HMI (Hydrargyrum Medium-Arc Iodide), esses
instrumentos de iluminação produzem uma temperatura da cor da luz seme-
lhante à luz do dia.
Todas as fontes de luz mencionadas até aqui (o sol, os refletores de palco, as Com essa combinação, a captura da cor no filme será precisa. A temperatura
lâmpadas caseiras e as velas) podem ser agrupadas e chamadas de fontes de luz de da cor do filme na câmera combina ou equilibra a temperatura da cor da luz. A
espectro contínuo porque cada uma delas contém todos os comprimentos de onda captura da cor no filme vai parecer normal.
de luz visíveis em diversas proporções. Qualquer fonte de luz do espectro contínuo
gera um espectro visível ou arco-íris, embora a proporção das cores varie de acordo
com a fonte de luz, mas todas as cores estarão lá. Luzes fluorescentes, néon, de 5600K 5600K
vapor de sódio e de mercúrio são chamadas de fontes de luz de espectro descontí-
nuo, pois sua proporção dos comprimentos de onda do espectro visível são muito
irregulares. Por esse motivo, elas não podem ser classificadas na escala Kelvin.
luz e fotografia
A luz de uma vela e a luz do dia diferem muito em termos de brilho e de cor. A cor vai permanecer precisa aqui porque o filme na câmera combina ou equi-
Imagine olhar para uma única vela acesa em um quarto escuro e depois abrir libra a temperatura da cor da fonte de luz. A captura da cor no filme será normal.
uma janela ampla, permitindo que a luz do dia entre no cômodo. Em alguns
segundos, seus olhos se ajustam ao brilho e à cor azul da luz do dia e tudo parece 3200K 5600K
"normal". Agora, feche a janela e, no quarto escuro, olhe para a vela. Sua luz
agora vai parecer extraordinariamente laranja. Mais uma vez, em alguns segun-
dos, seus olhos vão se ajustar, a escuridão não vai parecer tão escura, e a luz
laranja da vela vai parecer branca.
Nem a luz do dia nem a vela têm luz branca neutra. A luz do dia é azul
demais, e a vela é laranja demais. Ambas parecem neutras porque nosso sistema
visual tem a extraordinária capacidade de se ajustar às variações de brilho e cor Aqui, a cena é externa na luz do sol de 5.600 K, mas com um filme de 3.200 K
da maioria das fontes de luz. Na verdade, nosso cérebro constantemente faz na câmera. A imagem terá um matiz azul porque a luz do sol de 5.600 K tem
ajustes para assegurar que percebemos o que parece ser uma luz branca neutra. uma temperatura da cor mais alta (mais azul) do que a luz de 3.200K com que
Esses ajustes visuais acontecem automaticamente, assim como nossa respi- o filme é fabricado para ver como normal.
ração.
ELSEVIER ELSEVIER
damente. Qualquer alteração de cor pode ser artisticamente correta, mesmo que
5600K 3200K seja uma incompatibilidade técnica entre a temperatura da cor da fonte de luz e do
filme. A única cor coneta é aquela que você deseja para sua produção final.
Muitos cineastas misturam temperaturas da cor para criar uma aparência
mais natural ou variada para uma cena. No mundo real, misturamos as tempe-
raturas da cor o tempo todo.
Um quarto, por exemplo, pode ser iluminado com luz do dia entran~o pela
Com a incompatibilidade reve1iida, o filme de 5 .600 K e uma fonte de luz de janela e uma lâmpada de leitura de 60 watts. Podemos não perceber as d:feren-
3.200K resultarão em um matiz laranja na cor da imagem. A fonte de luz tem ças de cor como fazemos rapidamente em uma tela, mas a presença de diversas
uma temperatura da cor mais baixa (mais vermelha) do que a temperatura da cor temperaturas da cor pode gerar uma ampla variedade de estilos visuais.
da película virgem de 5.600K.
Existe uma solução simples para o desequilíbrio das temperaturas da cor PARTE F
da iluminação e do filme. Um filtro pode ser adicionado à lente da câmera ou à
fonte de luz. O filtro altera a temperatura da cor da luz que atinge o filme. Misturando cores em monitores
As telas de televisão e de computador não usam o sistema aditivo. A cor nas
3200K 5600K telas de televisão e de computador se deve a um sistema chamado de mistura
ótica, que é semelhante mas diferente do sistema aditivo. Se examinarmos telas
FILTRO 858 de televisão e de computador com uma lente de aumento, veremos que a tela é
composta de centenas de fileiras de minúsculos pontos ou quadrados vermelhos,
azuis e verdes. Isso acontece em telas de televisões convencionais com tubo,
telas de plasma e de LCD.
Aqui, um ator está de pé ao ar livre, na luz do sol de 5.600K. Há um filme de Quando uma cor vermelha aparece na tela, apenas os pontos vennelhos se
3 .200 K na câmera. Filmar sob essas condições fará com que a cor do filme fique iluminam. Quando uma cor magenta aparece na tela, tanto os pontos vermelhos
azul demais. quanto os azuis se iluminam.
Como a luz do sol é azul demais, um filtro pode ser usado para remover um Quando o branco aparece na tela, todos os pontos se iluminam. Os pontos
pouco dessa luz azul. Na roda das cores subtrativas, o amarelo é oposto ao azul vermelhos, azuis e verdes são colocados bem próximos, mas não se sobrepõem.
(cores complementares). Colocar um filtro amarelo alaranjado (comumente Os pontos são tão pequenos que nossos olhos os misturam para produzir mis-
chamado de filtro 85B) sobre a lente da câmera absorve uma parte de suas cores turas de cores.
complementares (a indesejada luz azul) e efetivamente abaixa a temperatura da O sistema aditivo exige que as cores se sobreponham quando se misturam.
cor da luz do sol para 3 .200 K. Como as três cores nunca se sobrepõem em uma tela de televisão ou de compu-
Isso equilibra a fonte de luz e o filme. Um filtro absorve suas cores complemen- tador, não podemos chamar isso de mistura aditiva. Um software de computador
tares. Ele é subtrativo porque absorve ou remove comprimentos de onda da luz. pode ser calibrado como RGB (aditivo) ou CMYK (subtrativo), mas a tela de
Para compensar essa perda de luz, a abertura da lente deve ser de dois terços computador ou televisão mistura as cores por mistura ótica.
de um ponto (com um filtro 85B) para se obter a exposição adequada.
Mídias de armazenamento digital ou de vídeos não têm classificação da tempe- PARTE G
ratura da cor, mas os ajustes eletrônicos das câmeras de vídeo têm. Ao ativar o equi-
líbrio de branco em uma câmera, seu ajuste eletrônico fará a compensação e fará
Batida direcional
com que a luz que entra pareça neutra e branca. Algumas câmeras de vídeo podem A batida (termo desenvolvido no teatro) não se refere ao ritmo. Uma batida
realizar automaticamente o equilíbrio de branco ao captar a luz ambiente que entra direcional pode ser definida como uma relação ou situação básica em uma ce~a.
na lente e instantaneamente acertar o ajuste eletrônico do sistema de vídeo. Uma cena pode ser dividida em várias batidas direcionais. Cada nova batida
Combinar a temperatura da cor do filme e da fonte de luz é uma prática comum; sinaliza uma alteração nas relações do personagem dentro da cena.
no entanto, existem muitas vezes em que o desequilíbrio das duas é intencional. Esta cena ilustra as batidas direcionais. Ela acontece nos bastidores de um
Você pode querer que sua imagem seja azul ou laranja demais e, dessa maneira, teatro, onde Jim Schreiber, um universitário, procura uma cantora de rock cha-
uma incompatibilidade entre luz e filme fará com que você atinja sua meta rapi- mada Maisy Adams.
~ Apêndice
ELSEVIER Apêndice
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BATIDA n.º 1:
CAMARIM DO TEATRO BATIDA n.º 5:
JIM (tira o contrato do bolso do casaco) Você não imagina como estou
Jim está de pé no camarim, olhando em volta. Maisy entra.
MAISY Quem é você ... ?! feliz.
MAISY É, já captei essa vibração.
JIM Eu .. •?um .. . vim ver a Srta. Adams. Em .. . a porta estava aberta.
Ele estende uma caneta para ela.
MAISY Ainda está. Feche-a quando sair.
JIM Quem é você? MAISY Você sabe que eles querem que eu esconda do público a minha
verdadeira identidade.
~ISY A cabeleireira dela. Agora me diga: vou ter de chamar a polícia?
JIM Não vou contar a ninguém.
Jim começa a sair, para e fecha a porta.
Ela assina o contrato e o devolve a Jim.
BATIDA n. º 2: JIM Bem, vejo você na próxima semana.
JIM Não posso ir embora sem que ela cumpra sua promessa. MAISY Aproveite o show de hoje à noite.
MAISY O quê? JIM Eu .. .bem .. . não tive tempo de comprar um ingresso.
JIM Tenho de dizer à Srta. Adams: (recitando de memória) Você estava MAISY Então assista dos bastidores.
a~~ndada para fazer um show no baile da nossa universidade, mas seu empre- Maisy pega um passe de bastidores em cima da mesa do camarim, arranca a
sano c:nc:lº~· Talvez você tenha recebido uma oferta financeiramente melhor, parte de trás e gruda a parte colante na perna da calça de Jim.
mas_ nos Ja adiantamos 7.500 dólares pelo aluguel do espaço e pela impressão Maisy sorri e Jim fica ruborizado.
dos mgressos. ?s alunos e os professores estão contando comigo para conseguir FIM
sua apresentaçao. Tenho uma responsabilidade para com eles.
MAISY Bem, você está com um sério problema, garoto. o que faz você Esta cena pode ser dividida em cinco batidas direcionais. Cada nova batida
pensar que vou ajudá-lo? indica uma mudança na intenção ou na relação entre Jim e Maisy.
BATIDA n.º 3: BATIDA n.º 1: Jirn está nervoso e Maisy está hostil.
BATIDA n. 0 2: Jim se toma mais confiante e permanece no camarim.
Jim percebe que está falando com Maisy Adams sem seu característico
cabelo verde. BATIDA n.º 3: Maisy revela sua identidade e Jim defende sua causa.
JIM Você é Maisy Adams? BATIDA n.º 4: Maisy concorda; Jim fica feliz.
BATIDA n.º 5: Maisy flerta com Jim.
MAISY Claro. Olhe, eu preciso fazer um show.
JIM Mas o que houve com seu cabelo?
As batidas são úteis de várias maneiras diferentes. Os roteiristas usam as bati-
MA1sy M~u cabelo não é naturalmente verde. Olhe, por que você achou
que eu o aJudana? das para organizar a trama de uma cena e as alterações de relacionamento entre
personagens. Os diretores usam as batidas para orientar os atores. As batidas
JIM Desesper_o ... e as letr_as de suas músicas. Elas falam de tratar as pessoas
são a chave para se entender a estrutura da narrativa, as cenas e as relações entre
com amor e respeito e honestidade. Achei que você era uma pessoa sensível e ia
personagens. Existem diversas maneiras de se definir as batidas direcionais.
entender que um ser humano decente poderia morrer.
MAISYQuem? 1. Atuação. A maneira como os atores interpretam suas falas, as expressões
JIMEu! em seus rostos e sua linguagem corporal podem delinear as alterações de batida.
Nós entendemos a mudança de um personagem em termos de atmosfera, neces-
BATIDA n. º 4: sidades e sentimentos se cada batida for interpretada de modo adequado pelo
MAISY Escute, errr .. .. ator. Um ator pode transmitir a intenção de um roteirista se entender e usar a
JIM Jim. Jirn Schreiber. batida direcional.
MAISY Você está me fazendo sentir culpada por cantar no outro show Por 2. Posicionamento. As batidas também podem ser delineadas pelo posiciona-
outro lado: co~o você acha que eles vão se sentir se eu cancelar O show d~les? mento dos atores. Cada vez que uma batida muda, os atores se reorganizam para
JIM Fico tnste por eles. Mas não tão triste quanto fico por mim. mostrar como sua relação mudou. O diretor move os atores para novas posi-
MAISY Acho que meu empresário pode resolver essa questão. Ele está com ções (sentados, de pé, caminhando etc.) em relação uns aos outros para ajudar
um p__roblema; um problema criado especialmente por ele. Você tem um contrato a transmitir para o público que as relações ou intenções mudaram. As peças de
ou nao? teatro usam muito esse método para delinear batidas.
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3. Câmera. A câmera pode ser usada para indicar alterações de batida ao se Um filme com uma câmera para televisão ou cinema é limitado apenas por
mover para uma nova posição. O movimento da câmera normalmente é ligado seu cronograma e pelo talento da equipe de produção para encontrar as melho-
ao movimento de objetos no quadro. Quando uma nova batida começa, a câmera res maneiras de controlar as batidas.
se move para uma nova posição em relação aos atores. Ao usar esse método, a Ignorar as batidas transforma uma cena em sequências longas e contínuas
câmera não efetua cortes; as cenas são filmadas continuamente. sem forma. Delinear as batidas proporciona estrutura a uma cena, e isso ajuda o
4. Câmera/editorial. Supondo que a cena foi fragmentada, o editor recebe público a entender a cena.
muitas tomadas diferentes (master, tomada com duas pessoas, tomadas sobre os
ombros, close-ups etc.) da cena inteira. Essa variedade de tomadas é chamada
de "cobertura". PARTE H
O editor examina a cobertura e delineia as batidas direcionais ao organizar a
cobertura.
O editor pode começar com uma mas ter ampla para a batida n. º 1. A batida n. º 2 Quando longas-metragens são exibidos na televisão, ocorre um consagrado problema
pode usar apenas as tomadas sobre os ombros, e a batida n. º 3 usaria apenas os de relação de aspecto. Um filme de cinema de 1.85 não cabe em uma tela de televisão
close-ups. Existem muitas variações possíveis da cena usando essa abordagem, convencional NTSC de 1.33. Existem duas maneiras de se resolver o problema.
já que a cena foi filmada de tantos ângulos diferentes. A meta do editor é dar à
cena uma estrutura, de maneira que as mudanças de batida sejam claras.
5. Componentes visuais. Uma mudança de batida pode ser delineada por uma
alteração em um componente visual. Mudar o espaço de profundo para plano,
por exemplo, ajuda o público a sentir a mudança de batida.
ÁREA DA IMAGEM 1.85
Nas batidas n.º 1 e n.º 2, o camarim pode ser filmado em espaço plano
e com cores frias. Na batida n.º 3, Maisy pode se sentar à mesa do camarim e
acender a luz do espelho, chamando a atenção para quando Jim percebe que ela
é a cantora. Ao mesmo tempo, o espaço pode se tomar profundo para ajudar a
aumentar o conflito visual. A batida n.º 5, a resolução, pode fazer os atores se
moverem para uma área diferente do camarim, com uma parede de cores quen-
tes no plano de fundo e um retomo ao espaço plano. Quanto mais alterações nos Uma opção é chamada de faixas pretas (letterboxing). As partes inferior e
componentes visuais, maior a intensidade das mudanças de batida. superior da tela de televisão de 1.33 não são usadas, permitindo que a relação
Um diretor pode escolher uma ou qualquer combinação dessas abordagens para de aspecto adequada do filme apareça no meio da tela da TV. As estreitas faixas
delinear a batida. Se você delinear as batidas através da atuação e do posiciona- pretas nas partes inferior e superior da tela de televisão de 1.33 alteram a relação
mento, sua tendência será de gravar seus filmes de maneira mais contínua, com de aspecto da tela para l. 85: 1. Muitos espectadores de televisão consideram as
menos edições e menos cobertura. Se você fragmentar suas cenas e filmar com faixas pretas inaceitáveis porque partes da tela ficam vazias.
cobertura, poderá decidir na pós-produção como lidar com as mudanças de batida.
Muitas vezes, o método de delinear a batida é determinado pelo cronograma
ou por limitações da produção. Os dramas cotidianos da televisão são obrigados ÁREA DA IMAGEM ADICIONAL
a gravar tantas cenas por dia que é impossível fazer posicionamentos e movi-
mentos de câmera complexos. Eles confiam nos atores para delinear as batidas,
porque isso gasta menos tempo.
As comédias de situação de televisão com diversas câmeras têm mais tempo ÁREA DA IMAGEM 1.85
para posicionar as cenas, mas são limitadas pelo estilo de gravação ao vivo e
pelos sets com três paredes. Existe mais posicionamento de atores para delinear
as batidas, mas os ângulos de câmera são limitados. Nessas situações, as batidas
normalmente são delineadas pela atuação e pelo posicionamento.
___________
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"- ÁREA DA IMAGEM ADICIONAL
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Um filme de cinema de 1.85 também pode ser visto na tela cheia de uma
televisão de 1.33.
Em vez de inserir faixas pretas, a área da imagem acima e abaixo do quadro
de 1.85 é revelada para se adequar à tela de 1.33. Um espectador de televisão
vê a área fora do quadro de 1.85, que não foi projetada em cinemas. Embora o
quadro de 1.33 não esteja na proporção correta para a composição do filme, a
tela da televisão está repleta com uma imagem.
O problema piora quando se exibe um filme de 2.40: 1 em uma tela de tele-
visão de 1.33: 1. Existem duas soluções.
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