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História da Linguagem Áudio Visual
SUMÁRIO
1. A Imagem 3
2. A Sétima Arte 10
3. O cinema e linguagem 11
5. A linguagem cinematográfica 17
6. O audiovisual 18
8. A decupagem 20
9. Raccord 22
10. A continuidade 26
15. As Objetivas 37
17. A montagem 39
18. A iluminação 41
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ocasionalmente reviverem posteriormente o Por volta de 5.000 a.C. o povo chinês re-
passado ou, até de forma inconsciente, como alizava apresentações de histórias por meio
nossos antepassados primitivos, deixar infor- de um processo muito similar a exibição de
mações para as futuras gerações. um filme.
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de celulose flexível composta por sais de pra- A película cinematográfica foi desenvolvi-
ta. Essa composição química é sensível à ex- da pelo assistente do inventor norte-ameri-
posição da luz e permite que a imagem seja cano Thomas Alva Edison, William Kennedy
registrada no negativo. Dickson. Dickson criou uma tira celulose com
15 mm de largura que, mais tarde, passaria
O fotógrafo inglês Eadweard Muybridge re- a ter 35 mm tornando-se padrão até os dias
alizou uma experiência nos Estados Unidos atuais. Em 1891, Thomas Edison patenteia
para provar que um cavalo tirava as quatro o Cinetógrafo que viria a ser considerado o
patas do chão quando galopava. antecessor das câmeras de filmagem.
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Cinématographe
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jetivo dos caçadores de imagens era a reali- dupla exposição de filmes como trucagens
zação de filmagens nos locais que visitariam para a composição de suas narrativas. Méliès
e, em 1896, um desses caçadores de ima- também proporcionou a intertextualidade de
gens realizou o que foi considerada a primei- elementos cênicos e dialógicos do teatro para
ra reportagem cinematográfica: A coroação o cinema.
do Czar Nicolau II em Moscou. Veja: http://
www.youtube.com/watch?v=2b-Cfe7fPok Verdadeiramente, o cinema foi uma arte
desde o princípio. Isto é evidente na obra de
A invenção dos irmãos Lumière cai no in- Méliès, para quem o cinema foi o meio, de re-
teresse de futuros diretores que começam a cursos prodigiosamente ilimitados, de pros-
desenvolver uma linguagem para o cinema. seguir suas experiências de ilusionismo e de
prestidigitação no teatro de Robert-Houdin:
Esses visionários iniciam experiências e come-
existe a arte desde que exista a criação ori-
çam a implantar narrativas e vínculos discursi-
ginal (mesmo instintiva) a partir de elemen-
vos oriundos de outras áreas. No cinema dos
tos primários não específicos, e Méliès, como
Lumière e Thomas Edison, a linguagem cine- inventor do espetáculo cinematográfico, tem
matográfica era parecida com a do teatro por direito ao título de criador da Sétima Arte
não possuírem diversidades de enquadramen- (MARTIN, 2005, p. 21).
tos e movimentos de câmeras. A câmera era
estática e o único movimento que existia era Marie-Georges-Jean-Méliès
os dos personagens. Nesse sentido, a imagem
captada só proporcionava uma visão única so-
bre a ação que ocorria na tela.
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recursos que revolucionaram a linguagem ci- mais curtos para aumentar a dramaticidade.
nematográfica. O suspense é forte, e o resgate, catártico.
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Com o passar dos anos, o homem come- e o único movimento que existia era o pró-
çou a desenvolver novas técnicas para repro- -fílmico6 captado por uma câmera fixa.
duzir imagens que representavam o seu coti-
diano e também como forma de arte. Nos primeiros filmes de Auguste e Louis
Lumière e Thomas Edison, a câmera filmava
As pinturas nas paredes das cavernas co- um acontecimento, uma ação ou um inci-
meçaram a ter a interpretação pessoal do dente. Muitos desses filmes pioneiros eram
apenas um plano (DANCYGER, 2007, p. 3).
homem, o que a tornou em um elemento
artístico. Apoiado nessa evolução, o filósofo
Era assim que os irmãos Lumière faziam
e matemático grego Platão criou a mimese
suas experiências com o cinema, na realida-
para teorizar as obras artísticas criadas pelo
de, esses experimentos não eram ficção e sim
homem. O filósofo considerava o mundo em
filmes que mostravam o cotidiano das pes-
que vivemos como cópia inferior ao mundo
soas. Para a época, esses filmes aguçavam
das ideias, que para ele, eram perfeitas. A
a curiosidade e as emoções dos expectado-
reprodução por meio da arte era considerada
res que, em algumas exibições, chegaram a
como um movimento inferior. Platão enten- se levantar das cadeiras durante a exibição
dia a arte como uma imitação mal feita do do filme “Chegada de um Comboio à Esta-
real capaz de enganar por ser uma desseme- ção da Ciotat” (L’Arrivée d’un train en gare
lhança e um distanciamento da verdade. de la Ciotat) com medo de serem atropeladas
pelo trem. Veja o vídeo: www.youtube.com/
Por outro lado, o filósofo grego Aristóteles
watch?v=RP7OMTA4gOE
tinha um posicionamento diferente de Platão.
Para Aristóteles, a mimese era o resultado da
interpretação e da transformação através da
3. O cinema e linguagem
arte. Para ele, o artista, ao contrário de co- 3.1. O primeiro cinema
piar, é capaz de interpretar, criar e transfor-
mar através de sua obra.
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Com a sua evolução, o cinema expandiu enquanto o cinema mostra. Durante a leitu-
a composição de suas narrativas como tam- ra de um romance, a pessoa imagina como
bém desenvolveu a própria mise em scène7, as personagens e os cenários são compostos
essa linha evolutiva ajudou na transformação e também a interação entre ambos. No caso
da linguagem cinematográfica. do cinema, acontece que esses elementos são
mostrados dentro de uma percepção previa-
4. A linguagem narrativa clássica mente dispostas pelo trabalho da equipe de
produção e pelo ponto de vista do diretor. Isto
4.1. A narrativa clássica
é, a dinâmica cinematográfica exige que ato-
res se adaptem as características sociais e psi-
cológicas de uma determinada personagem.
Aquele ator não é a personagem que foi cria-
da para um determinado romance literário, é
uma pessoa que vai representar as caracte-
rísticas da personagem e o mesmo acontece
com o cenário. Outro fator é que na adapta-
ção fílmica muitos elementos da narrativa li-
terária podem ser omitidos devido à dinâmica
da linguagem cinematográfica. Porém, o que
O norte-americano G.W. Griffith foi um dos
se deve entender é que o filme adaptado não
grandes contribuintes para desenvolvimento
é o romance, mas uma forma diferenciada de
da linguagem cinematográfica. Seus experi-
se mostrar uma determina história literária.
mentos se baseavam na literatura e, principal-
mente, nas obras do romancista inglês Charles
Diante desse cenário, Griffith se baseava
Dickens. Tratava-se de um remanejamento da
nas referências espaciais, temporais e nas ca-
literatura para o cinema na qual o cineasta
racterísticas da personagem para realizar uma
procurou manter a fidelidade e o ponto de
adaptação. Isso ajudava o cineasta a adaptar
vista do escritor. A linguagem literária apon-
o texto literário em cenas e a experimentar
tou para Griffith as referências que serviam
um processo de captação e de montagem di-
para estruturar as narrativas de suas histórias
no cinema. Dessa forma, as referências espa- ferenciados aos de sua época em cima dos
ciais, temporais e sociais das narrativas literá- caminhos trilhados por Porter.
rias de Dickens inspiravam a estruturação das
Griffith passou a dividir as cenas em planos
narrativas cinematográficas propiciando ação
e vida às personagens dos filmes de Griffith. e teve que desenvolver um modo de reprodu-
zir as ações das personagens nessas condi-
O processo de adaptação não era tão sim- ções para facilitar o entendimento do espec-
ples, o texto literário possui formato e elemen- tador. Dessa forma, passou a aplicar regras
tos diferentes ao texto de um roteiro fílmico. que envolviam posicionamento e movimento
A grande diferença é que um determinado da câmera em relação à ação das persona-
romance conta uma determinada história gens dentro de um determinado set de filma-
gem. Essas regras geravam uma reprodução
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Termo de origem da língua francesa e se refere ao
posicionamento e movimento das personagens no set de filma-
daquilo que as pessoas estavam acostumadas
gem. a enxergar no mundo a sua volta.
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4.2. O cinema dos cineastas construti- Esse movimento construtivista associou vá-
vistas russos rios conceitos à linguagem cinematográfica e
colaborou para o entendimento dos fatores
psicológicos que o conteúdo da montagem
trazia ao espectador. Várias formas de cons-
trução da montagem foram concebidas du-
rante o movimento construtivista.
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gem, um grupo de pessoas foi convidado para assistir a experiência e, no final, cada indiví-
duo deveria dar um parecer sobre o que assimilou durante a exibição. A maioria dos convidados
comentou e elogio o desempenho interpretativo do autor que mudava a sua expressão de acordo
com o significado de imagem. Assim, o púbico via o olhar de tristeza do ator quando apareceu a
criança no caixão e de alegria quando o prato de sopa era mostrado. Porém, o interessante é que
o autor não reagiu em momento algum a essas situações. Na verdade, não havia expressividade,
pois Kuleshov havia pedido, durante a filmagem do plano, para que o autor ficasse parado e com
expressão neutra; o autor também não tinha o conhecimento sobre os outros planos.
Experiência de Kuleshov
Com essa experiência, Kuleshov percebe que a expressividade do ator russo era uma cria-
ção das mentes das pessoas que assistiram ao filme. Cada unidade de plano era exatamente
aquilo que representava: um ator, um prato de sopa, um caixão etc. A montagem criava
uma interpretação, até certo ponto, bem aberta e criativa; a força dos planos unidos é que
gerava uma mensagem que não estava contida nos planos isolados. Contudo, os planos iso-
lados possuíam um enunciado objetivo e direto, porém, quando unidos com outros planos,
constituíam uma subjetividade implícita dentro da obra.
Por outro lado, Griffith dissolve as ações por agentes dramáticos que permitia uma va-
riação na abertura do quadro que se modificaria de acordo com as necessidades da narra-
tiva em relação ao desenvolvimento da cena com as ações das personagens. Por exemplo,
primeiro temos um plano médio mostrando um grupo de pessoas e depois vamos para um
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plano próximo mostrando a reação emotiva do seu significado. Outro exemplo é o código
de uma personagem; depois voltamos para o Morse que é um sistema que representa le-
plano médio onde as pessoas observam a re- tras, números e sinais gráficos que são emiti-
ação daquela personagem. No cinema russo dos por meio de sons originados por um apa-
daquela época, por meio da ideia de monta- relho chamado de telégrafo. Assim, para que
gem construtiva, o que se privilegiava era o os códigos se transformem em mensagem é
peso de cada plano individualmente. Assim, necessário que emissor e receptor conheçam
no cinema russo existia um afastamento das as regras nas quais foram desenvolvidos por
relações sensoriais e motoras vividas pelo meio da experiência e do aprendizado.
espectador em seu cotidiano.
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acabou por criar os códigos que até hoje são elementos imagéticos embutidos dentro da
respeitados como o conceito de uma lingua- composição de um determinado plano e fun-
gem narrativa clássica. cionam como elemento estético ou como for-
ma de apresentar alguma subjetividade. Tam-
A composição da linguagem cinematográ- bém podemos relacionar elementos como a
fica é constituída, atualmente, com códigos iluminação, posicionamento e movimento da
imagéticos e sonoros que fundamentam a câmera como códigos emissores de mensa-
transmissão de enunciados que formam o di- gens.
álogo entre emissor e receptor.
6. O audiovisual
6.1. A linguagem do cinema para outras
mídias
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Alemão. Realizador de Nosferatu, um ícone do movimento cine- óbvias como: temática, modo de represen-
matográfico alemão, pós-primeira guerra mundial. O expressio- tação dos atores, a abordagem da direção e
nismo procurava, assim como o construtivismo, uma alternativa
à narrativa clássica, afastando-se das relações sensório- motoras vários outros fatores que fazem das novelas
encontradas na realidade. um sistema à parte na dramaturgia.
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8. A decupagem
8.1. Um trabalho fundamental
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ter sido transformada por um roteirista num falando aqui de um cinema mais autoral, em
roteiro literário que será trabalhado pelo dire- que a decisão do corte final (montagem) está
tor. Caberá a ele decidir a melhor maneira de também a cargo do diretor, temos que ter em
utilizar os planos obedecendo a uma codifica- mente que muitas vezes, ao chegarmos à lo-
ção que será criada por ele. cação, contingências externas e até mesmo
de fórum íntimo podem levar o diretor a mu-
Ele pode, por exemplo, decidir que a nar- dar sua ideia.
rativa será linear, que será um grande flash-
back, ou ainda, que será cheia de elipses, ou 8.2. O plano sequência
que tenha sua linearidade temporal totalmen-
te desconstruída, como Tarantino fez em Pulp O plano-sequência é uma câmera que está
Fiction. Não importa, a decisão é dele. em movimento constante dentro de uma
determinada cena. O filme A Bruxa de Blair
No entanto, ao conceber e dirigir cada pla- (1999) possui diversos planos-sequências
no ou ao posicionar a câmera e os componen- durante as perseguições nas personagens.
tes que estarão presentes, o diretor deverá
ter plena consciência do que estará planejan- Este recurso da linguagem cinematográ-
do para obter o resultado pretendido, não só fica assegura, de algum modo, uma per-
ali durante a captação, mas também, e isto é cepção dos acontecimentos e uma leitura
fundamental, na edição. Lembrem-se: o mes- mais livre do seu significado por parte do
mo plano é primeiramente captado para de- espectador, uma vez que, não deixando a
pois ser editado. Quando editado ele quase sua atenção de ser condicionada pela(s)
nunca será igual ao plano captado: terá seu escolha(s) do realizador, ocorre de uma for-
tempo reduzido por um corte, ou ampliado ma menos determinista do que através do
por um slow-motion; poderá ser entrecortado recurso à mudança deliberada e calculada
por outros planos, ou até mesmo ser retirado de planos própria da montagem (NOGUEI-
RA, 2010, p 47).
do filme por uma decisão de montagem. O
filme do roteiro literário é diferente do que sai
Esse tipo de plano pode representar o olhar
da decupagem técnica, e este, por sua vez
da personagem ou do espectador que se tor-
é diferente do que foi captado e acaba por
nar cúmplice ou testemunha sobre uma de-
tornar-se outro depois de montado; um filme
terminada ação dentro de uma cena.
é um processo vivo em constante transforma-
ção.
O que ocorre durante a realização do pla-
no-sequência é a movimentação constante da
Quando o diretor faz a sua decupagem téc-
câmera, dos personagens e dos objetos. São
nica, ele divide as sequências do roteiro lite-
planos difíceis de serem realizados, exigem
rário em planos. Um filme pode ter 100 sequ-
muita elaboração, paciência e, acima de tudo,
ências e 400 planos, ou 100 sequências e 200
muito ensaio.
planos; vai depender do modo como o dire-
tor quer apresentá-lo. Este número é sempre
Um plano-sequência não prescinde da
uma previsão, quase nunca essa estimativa
montagem, esta é feita diretamente durante
é mantida, quanto mais ao se tratar de fil-
a captação, ou seja, o diretor está montan-
mes da indústria, quando o diretor quase não
do – sem cortes - o filme enquanto capta a
participa da montagem. Mas, como estamos
imagem. Quando a câmera se movimenta em
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meio à ação, ela vai criando pequenos “planos” dentro do plano maior. Não há cortes, mas
há montagem. Temos exemplos de diretores e planos-sequências antológicos, como o da
abertura de Marca da Maldade de Orson Welles, ou ainda os incríveis planos que Ruy Guerra
criou para Os Deuses e os mortos e para Os Fuzis. No primeiro, existem planos-sequências
de seis minutos, o chassi da câmera teve que ser adaptado. O cinegrafista era Dib Lutif, um
mago com a câmera na mão e um ícone da história do cinema. Veja a clássica cena de A
Marca da Maldade: http://www.youtube.com/watch?v=kmklPD32rk8
A fantástica abertura do filme de Orson Welles. Repare como existe uma “montagem”
inserida no plano. Lembram-se dos mil olhos do cine-olho russo? Pois é. A câmera de Welles
se posiciona em lugares inatingíveis por um observador comum.
9. Raccord
9.1. O raccord é a transposição
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Outro tipo de corte é conhecido é a elipse que é definida quando fazemos a ligação en-
tre planos diferentes dentro de uma cena. A personagem aparece na cena dentro de um
box de chuveiro. O plano mostra o box do lado de fora com a cortina fechada aparecendo
uma silhueta da personagem. No próximo plano a personagem aparece se banhando. Na
sequência, é mostrado um detalhe do chuveiro ligado e, para finalizar, volta-se a cena da
personagem ao banho.
O efeito esperado é como se existissem duas câmeras filmando ao mesmo tempo. Porém,
para que a cena tenha um sentido é necessário que os planos tenham um tempo de dura-
ção conciso e de forma dinâmica com a ação. Pode-se observar que o processo de captação
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das imagens ocorreu em três momentos distintos e com a utilização de uma única câmera.
Geralmente, os planos não são gravados na mesma sequência em que foram filmados. O
processo de organização da cena é realizado no processo de montagem. Na realidade não
existe uma ação contínua da personagem que não aparece entrando no box e nem ligando
o chuveiro. O que acontece é salto no corte de um plano para outro interrompendo a ação
contínua da personagem. Nesse caso, a elipse não interfere na compreensão do espectador
em relação à cena devido à falta dos movimentos da personagem.
No entanto, as cenas podem ser montadas de uma forma contínua em relação à ação.
Temos uma personagem fazendo uma refeição; na primeira tomada encontramos a persona-
gem sentada em uma mesa com um prato de sopa em sua frente. A mesma tomada mostra
a pessoa pegando uma colher e colocando no prato e movimentando-a em direção à boca.
Ao iniciar o movimento, pode-se fazer um corte para uma tomada, com um plano mais de-
talhado, que mostra a colher colocando a colher na boca para ingerir o alimento.
A elipse pode estar também ligada ao tempo nas narrativas cinematográficas, no clássico
“2001 – uma odisseia no espaço” filme do diretor Stanley Kubrick, produzido em 1968, que
possui uma mudança temporal quando o homem primitivo lança um osso na direção ao céu
e, logo sem seguida, aparece uma nave trafegando no espaço. Dessa forma, o cineasta deu
um salto de milhões de anos de uma era primitiva para o futuro.
A elipse pode alterar a referência temporal em períodos curtos e longos (dia, semanas,
meses e anos) e também realizar um recuo no tempo. Essa última forma de elipse temporal
é conhecida com flashback.
Porém, poderemos estar unindo dois planos que estejam em continuidade espacial, mas
que não estejam exatamente em continuidade temporal. Posso ter no plano A uma perso-
nagem enquadrada em plano médio e decido que a quero enquadrar em close no plano B.
O plano A poderá ser ligado ao plano B através do que é chamado de raccord de eixo que
nos oferece uma perfeita continuidade espacial; veja que não mudaríamos a direção de
câmera entre a realização dos dois planos, de modo que não mostraríamos uma mudança
significativa no fundo do plano A para o fundo do plano B. Este tipo de corte ocorre quando
o plano A se aproxima ou se afasta da personagem através do plano B, ou seja, no plano A
estamos em um plano médio e no plano B estamos num close - aproximação. Ao contrário
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teríamos plano A em close e o plano B em plano médio. O que importa é que o deslocamento
da câmera mantenha a mesma direção da linha imaginária que liga a câmera à personagem,
tanto no plano A quanto no plano B (raccord de eixo); não há um deslocamento lateral da
câmera, só há um “deslocamento” para frente ou para trás. Este “deslocamento” não precisa
ser feito através do avanço ou do recuo físico da câmera, podemos realizá-lo com a troca
de lentes; por exemplo, de uma 50 mm (normal), para uma 85 mm (tele), ou então através
da utilização de uma lente zoom. Porém, podemos também considerar como continuidade
espacial, quando parte do cenário encontrado no plano A aparece no plano B. Por exemplo,
em A estamos num plano geral, que mostra um carro começando a fazer uma curva, no
plano B o pegamos num outro ponto da curva. Vários elementos, inclusive a própria curva,
estão presentes em ambos os planos fazendo a continuidade espacial.
É importante ressaltar que isto só ocorre nos casos em que haja uma modificação sig-
nificativa de elementos de compõe ambos os planos. Se ao cruzarmos do plano A, onde
aparecia a personagem A, para o plano B enquadrando a personagem B, mas mantivermos
A ainda em quadro ao lado de B, não estaremos realizando uma descontinuidade temporal,
mas sim uma continuidade.
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momento deixamos de entender que se trata Como primeiro exemplo, podemos citar
de uma perseguição e de que A persegue B. os casos em que uma personagem aparece
num plano A segurando um copo cheio de
refrigerante, para depois aparecer no plano
B segurando o copo vazio. Cansamos de ver
estes erros em alguns programas de TV que
se ocupam em mostrá-los. São chamados de
erros de continuidade, no entanto, eles não
se restringem a simplicidade do caso do copo.
A continuidade é um elemento extremamente
complexo e merece uma análise detalhada.
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o corredor ele tivesse decidido subir uma es- outro plano mais à frente. Neste caso ano-
cada que sobe no sentido contrário ao que taremos as novas direções de olhar ao final
ele vinha, é claro que A ao sair pela esquer- deste plano e as respeitaremos ao rodar o
da no plano A, deverá entrar a esquerda no plano seguinte, contudo, como não filmamos
plano B. os planos na ordem em que serão monta-
dos, é necessário um trabalho minucioso de
anotações concernentes ao posicionamento,
a movimentação e a direção dos olhares das
personagens em cada plano. Podemos per-
ceber por aí a importância do trabalho da/o
continuista.
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De modo muito breve, podemos dizer que o eixo da ação é uma linha imaginária que atravessa o
espaço à frente da câmara, unindo as personagens, por exemplo, a linha que se pode depreender
num diálogo entre duas personagens ou numa perseguição (NOGUEIRA, 2010, p. 144).
Essa regra estabelece, nas cenas em que possuem um diálogo, um eixo que obedece
a linha do olhar de uma personagem para o olhar de outra personagem. Desse modo,
assegura-se que a montagem da cena não corra o risco de possuir uma desordem espacial.
Quando num roteiro literário nos deparamos com uma sequência, teremos, como já vi-
mos, que decupá-lo em planos.
Esta decupagem acontecerá de acordo com a vontade do diretor, contudo, existem duas
formas de abordagem que ele deverá escolher. Na primeira hipótese ele parte da sequência
como um todo. Então ele posiciona a câmera na quarta parede, e filma toda a sequência
numa ação integrada, única. Isto só é possível quando a ação se desenrola num espaço limi-
tado pela capacidade de apreensão da imagem pela câmera. Os americanos chamam a este
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tipo de plano de master shot, nós o chama- Lembremos que o plano constitui uma
mos de plano guia. Não confundamos com o unidade técnica de tomada de vista e de
plano-sequência, que, como já vimos, a câ- montagem, enquanto que no momento da
mera se movimenta compondo uma “monta- rodagem o plano inclui as imagens e os sons
captados entre o princípio e o fim da ação e
gem” sem corte.
do seu registro, no filme visto pelo espectador
Após filmar o seu plano guia, o diretor irá corresponde àquilo que foi conservado na
montagem e a diferença de comprimento
desconstruí-lo em quantos planos achar ne-
entre um e outro pode ser considerável
cessário.
(GARDIES, 2006, p. 17).
Também é importante salientar que a Por outro ponto de vista, esse plano pode
angulação e o tamanho estão vinculados à trazer novas referências quando este plano
percepção do cineasta em relação à ação for usado com um sentido subjetivo. Essa
no momento da concepção do plano. Outro subjetividade pode determinar a superiori-
ponto a ser considerado é que cada plano se dade de um ambiente hostil como no caso
conecta ao outro e a escolha correta de sua do filme documentário Nanook Of the North.
composição é de fundamental importância O plano geral ajudava a identificar a luta de
para a narrativa fílmica. Nanook com o ambiente em que vivia.
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Plano americano
12.3. O plano conjunto
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Plano médio
12.6. Close up
Este é o plano já perde a referência espacial e temporal e o seu forte é a fonte de infor-
mação que, no caso de uma pessoa, pode fornecer informações faciais, emocionais e até
psicológicas.
Close
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História da Linguagem Áudio Visual
O Big close up é o plano que detalha objetos e partes específicas do corpo de uma
personagem. É o plano do detalhamento.
Big close up
Plongée
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História da Linguagem Áudio Visual
A câmera está quase no nível do chão, pegando a pessoa de baixo para cima. Se fosse
possível estabelecer uma significação para este tipo de plano, poderíamos dizer que se
trata de um posicionamento que confere uma ideia de poder à personagem, ou ao objeto
captado. Dentro desta perspectiva, poderíamos atribuir a sensação inversa ao plongée, que
pode ter como leitura um ar de superioridade, grandeza, arrogância para a personagem que
está sendo filmada.
Contra plongée
13.3. Zenital
A câmera está posicionada no zênite, ou seja, no alto, virada para baixo, num anglo
de 90º. Esta imagem mostra as pessoas “achatadas” sobre o piso. Pode ser interessante
quando acompanhamos, com uma aérea, um carro na estrada. Porém, é necessário que ele
esteja a 90º, do contrário passa a ser um plongée.
Zenital
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Tilt
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14.4. Travelling
Como o nome já diz, é o movimento em que a câmera viaja, passeia. Seja num carrinho
sobre trilhos, na mão, num carro, num barco, num trem, num avião, helicóptero, balão etc.,
ou seja, em qualquer veículo, ou ainda com a utilização de um steadicam.
Sua diferença para a panorâmica é que, neste caso, a câmera desloca-se no seu eixo
perpendicular ao chão. O travelling também pode estar ligado a um movimento de grua so-
bre trilhos numa combinação que fará que além de andar para frente ou para trás, ele suba
e desça.
Existem travellings em grua antológicos, como aquele que está presente no plano-sequ-
ência que abre o filme “Marca da Maldade de Orson Welles”.
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Veja que esta posição não é propriamente dos componentes de uma objetiva. No caso
uma negação aos valores encontrados nos fil- de uma objetiva de 50 mm, o número de len-
mes de Hollywood, mas apenas um momento tes varia entre cinco e seis.
de reflexão e de consciência da existência de
outros cinemas, com outra abordagem, outro O cinema sempre se utilizou de lentes
ritmo, enfim, com estéticas diferenciadas. (objetivas) com diferentes distâncias focais,
mas em determinado momento surgiram as
Vale muito a pena sair um pouco deste uni- lentes zoom, que contêm um sistema que
verso voltado apenas para um tipo de cine- abrange distâncias focais diferentes, por isto
ma e nos aventurarmos por outras culturas. mesmo elas têm mais elementos ópticos, ou
É cada vez mais difícil, às vezes parece que seja, mais lentes que as objetivas comuns, o
todo o cinema mundial se transformou num que as torna mais escuras. Além do que, elas
só cinema, numa mesma maneira de contar produzem uma imagem menos limpa, menos
histórias, mas não é bem assim. Existem no- definida.
vos centros de produção, como o Afeganistão,
o Iran (apesar da censura), o Egito, a Palesti- A televisão adotou as zooms por serem
na e o sudeste asiático que apresentam filmes mais práticas. Com elas não é necessário a
bem diferenciados da mesmice mundial. troca de objetivas entre os planos, prática
mais corriqueira no cinema. Por exemplo, re-
Há também a enxurrada de produções na alizo um Plano Conjunto com uma objetiva
internet e tornou-se imprescindível o trabalho normal de 50 mm e depois troco no plano
de garimpo para pesquisá-los. Há muita gente seguinte para uma objetiva 85 mm para rea-
nova experimentando novos rumos, no entan- lizar um close.
to, veja que a intenção por trás da obra deve-
rá ser seu parâmetro; ninguém melhor do que
você para determinar o que deseja transmitir
e qual o seu público.
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História da Linguagem Áudio Visual
Posso também fazer nossa personagem en- A qualidade de um filme depende e muito
trar por uma porta no corredor e sem corte da qualidade de sua montagem.
de câmera, imediatamente depois, fazê-lo sair
pela mesma porta, bem mais velho. Neste caso A significação de um plano depende da-
eu estaria me utilizando do mesmo espaço, quilo que ele representa, que unida a repre-
mas em tempos diferentes. sentação de outro plano resultará numa sig-
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História da Linguagem Áudio Visual
nificação diferente das significações de cada Muito usado em filmes de ação, o para-
um dos planos unidos pela montagem. lelismo mostra duas cenas que ocorrem ao
mesmo tempo. Temos uma personagem fu-
A montagem dá o senso de pontuação e gindo de um malfeitor dentro de uma casa.
concisão que são resultantes da união de Ao mesmo tempo, temos o mocinho da histó-
planos. ria e aproximando da casa rapidamente para
salvar a personagem em perigo. Dessa for-
A justificativa psicológica da montagem cor- ma, num determinado momento, é mostrada
responde às exigências da visão de um espec- a cena da personagem em perigo que, logo
tador perfeito. Lembre-se de que no cinema em seguida, é substituída pela imagem do
construtivista russo, o movimento chamado de mocinho correndo para salvá-la. Essa troca
cine-olho nos ensinou que a câmera pode ser de cena é repetida algumas vezes para criar
posicionada numa infinitude de lugares. Suas certa tensão sobre as ações das personagens
imagens representam a visão de um especta- que ocorrem de forma simultânea.
dor ideal que estaria posicionado pelo diretor
num ponto ideal de observação de ação. 17.2.3. Simbolismo
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18.3. A luz de ataque ou luz chave (KEY 18.5. Contraluz (Back Light):
LIGHT)
Esta é a luz que toca o objeto ou a perso-
Poderemos adotar, a princípio, o sol como nagem, vindo por trás, ela ilumina sua parte
ataque. Ele será a luz que incidirá diretamente posterior. A contraluz tocará os cabelos da
sobre o objeto, ou a personagem. Sua função personagem e criará um afastamento desta
é valorizar a dimensão e forma do objeto. em reação ao fundo do quadro, acentuando o
contorno de suas formas. Consideramos con-
Key light traluz toda aquela que venha de um ponto
que esteja além do eixo de 180º em relação
à câmera relembrando uma luz do lado de lá
do eixo - até o ponto em que ela esteja di-
retamente atrás da personagem, numa linha
direta a câmera, produzindo uma silhueta.
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HAUSER A. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
HAUSER, A. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1972.
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