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de séries e webséries
Além da tela - Processos
criativos e gestão da
indústria cinematográfica
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Informações
da disciplina
Curso
Além da tela - Processos criativos e gestão
da indústria cinematográfica
Disciplina
Estética e produção de séries e webséries
Carga-horária
30 Horas
Professor(a)
Dr. José Roberto Sadek
Mini currículo
Graduado em Comunicações e Artes pela
Universidade de São Paulo (1980) e em Arquitetura
e Urbanismo pela Universidade Mackenzie
(1980), Mestre em Ciências da Comunicação
pela Universidade de São Paulo (1985). Artista
convidado pela Fulbright na Tisch School for
the Arts, New York University. Doutor em
Comunicações pela Universidade de São Paulo
(2006). Secretário Adjunto da Cultura na Cidade
de São Paulo de 2005 a 2012. Publicou o livro
“Telenovela: um olhar do cinema” (2008). Diretor
executivo da Organização Social de Cultura APAA
- Associação Paulista dos Amigos da Arte. De 2015
a 2016, Secretário Adjunto de Cultura do Estado
Conheça um
de São Paulo. Secretário da Cultura do Estado de
pouco mais
sobre o professor
São Paulo de setembro de 2016 a abril de 2017.
acessando Professor dos Cursos de Cinema, de Cinema de
o QR CODE.
Animação, na FAAP - Faculdades Armando Álvares
Penteado desde 2008. Pratica Taichi Chuan há
décadas.
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Apresentação da disciplina
A tecnologia do século XXI embaralhou as fronteiras entre as modalidades de difusão,
praticamente eliminou as diferenças entre os diversos tipos e tamanhos de telas.
No final do século XX, a televisão era um eletrodoméstico vendido na mesma loja da
batedeira, da geladeira, da máquina de lavar roupa. No entanto, o aparelho de TV
já ficava na sala da casa, espaço mais nobre, servia para assistir a emissões de canais
abertos e, com a distribuição de sinais por cabos, assistir também à programação das
TVs a cabo. O computador era uma máquina ligada à rede mundial de computadores,
servia para fazer pesquisas científicas e tecnológicas, trocar informações, administrar
projetos, agilizar a comunicação entre pessoas comuns, pesquisadores e empresas.
O telefone celular servia para falar com outras pessoas, para o dono do aparelho ser
achado em qualquer lugar, ser encontrado imediatamente.
Hoje, século XXI, qualquer pessoa pode ver qualquer audiovisual, de qualquer duração,
em qualquer tipo de tela, a qualquer hora e em qualquer lugar. Na prática, não há mais
distinção entre canais de difusão, nem entre aparelhos exibidores.
Para cada tipo de público, de história, e de tela de preferência, haverá uma duração
mais adequada. Por exemplo, se a tela mais provável para se ver aquele audiovisual for
o telefone, é bem provável que a duração seja curta e que a estética seja bem simples.
Duração curta porque há muita coisa a distrair, está espectadora e seu tempo de
atenção será menor. Estética simples porque o tamanho de tela não requer elaboração
tão grande, pouco se vê do segundo plano, não se vê bem os detalhes como se pode ver
numa tela enorme de cinema. É claro que se pode ver este mesmo audiovisual nas telas
gigantes, mas será atípico. Assim como um filme gravado em alta definição, de duas
horas de duração, com produção elaborada, paisagens longas e amplas, grandes atrizes
e atores, efeitos especiais, pensado para telas de salas de cinema pode ser visto no
telefone, mas a perda de qualidade será enorme. Tanto um quanto o outro podem ser
vistos na tela do seu notebook.
Em resumo, quando criamos um projeto, seja por encomenda, seja por vontade própria,
é recomendável ter em mente a duração e o público preferencial com o qual se pretende
falar. E é bom lembrar que não teremos qualquer controle sobre quem vai ver, onde
verá, a que horas e porque irá assistir àquela história.
As diferenças de histórias contadas por séries ou seriados, seja para web, para
plataformas, para TVs a cabo, seja para TVs abertas, não é mais tão grande como foi no
passado.
Temas da disciplina
Estrutura e personagens
Introdução ao tema das séries em capítulos
4
Introdução ao tema
Tema 01
5
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Introdução ao tema
As empresas que contratam seriados acompanham os projetos até o final da linha, ou seja, até que
eles estreiam na tela. Ao contratar, elas sabem de antemão onde vão exibir, seja numa faixa de
programação, seja num horário determinado, seja num catálogo geral de filmes, seriados e séries,
seja no YouTube. Estes profissionais que fazem o acompanhamento talvez não conheçam tanto do
fazer audiovisual como os produtores, mas sabem exatamente o que suas plataformas esperam e
precisam. Eles têm ingerência nos projetos durante sua produção. Você que nos lê e nos assiste, não
sinta que esta interferência é um assunto pessoal ou é contra a qualidade do que você escreve ou
dirige. Tem que dialogar, entender o ponto de vista deles, eles poderão também entender o nosso.
Eles querem o melhor, nós também queremos o melhor. O que a gente acha melhor nem sempre
combina com o que eles acham melhor. O que eles acham melhor muitas vezes vem de pesquisas
internas que não estão ao alcance do público. Por isso, tem que conversar para chegar a algum
acordo satisfatório. Em geral, a relação entre autores e contratadores é respeitosa, mas, às vezes tem
turbulências, afinal, somos todos humanos, não é?
Você tem um podcast chamado “Relação contratadores e produtores” que aprofunda bem esta
relação dos contratadores com as produtoras. Acesse via QR Code. Vale a pena ouvir.
Aqui no Brasil a indústria gosta de trabalhar em grupos nas chamados salas de roteiristas – um certo
fetiche entre os iniciantes – uma sala em que um grupo de autores trabalha junto, coordenados por
um ou uma roteirista chefe. Se você for para uma sala destas, é recomendável se preparar, conhecer
o material já escrito, estudar o assunto (tema, estética, personagens, gênero, anotações anteriores,
prioridades de tom e de ação), evitar palpites fora do universo em questão, e não insistir demais se
sua ideia não for acatada. Há vários motivos para esta recusa. As conceituações e pressões feitas com
a coordenação da sala não são necessariamente do conhecimento dos autores, e sua sugestão pode
já ter sido descartada anteriormente em alguma reunião. É um trabalho em grupo, tem líder e tem
contratante (não presente). É uma sala de criação, não de chateação nem de recreio.
A divisão de trabalho entre as pessoas do grupo varia de sala pra sala: algumas conceituam tudo
em conjunto e dividem os capítulos pelos autores presentes; outras têm os conceitos já mais
amadurecidos e daí designam alguns capítulos para cada roteirista do grupo; outras ainda tem um
grupo (ou uma só) de roteiristas cuidando de todas as escaletas e outros abrindo os roteiros. Sempre
que você escrever alguma parte ou um capítulo, ele irá para aprovação da roteirista chefe. Que a fará
seguir adiante para os Super Chefes.
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Introdução ao tema
Acesse o podcast “A Em geral as etapas depois do argumento são: escaleta de todos os capítulos;
sala de roteirista” via amadurecer e remodelar essas escaletas; fazer outra versão mais da escaleta,
QR CODE:
agora bem mais detalhada; e depois o roteiro versão 1. Disse em geral, porque
nesta área não tem regra, criação é um processo bem individual.
A grande vantagem das séries e seriados é a engenharia de escala. Desde a primeira metade
do século passado o cinema já as fazia, portanto, séries e seriados não são novidade, são
velhas conhecidas dos estúdios de cinema. Relevante é que séries e seriados significam uma
boa economia: cenários, atrizes, atores e técnicos, e efeitos especiais são sempre os mesmos
em todas as unidades. Em vez de um conjunto de cenários, de atores e de técnicos pra cada
unidade, é um contrato só pra toda a temporada. As gravações são muito mais rápidas e mais
concentradas, o que também se traduz em outra economia bem significativa. Audiovisual é
caro e trabalhoso. Com as séries, é possível trabalhar num sistema industrial. Todos querem
fazer mais horas de histórias com menos dinheiro.
01 . Seriados temáticos
São filmes que estão agrupados por tratarem do mesmo tema, e terem mais ou menos a mesma duração. Não há
ganho de escala. Seus episódios podem ser vistos em qualquer ordem, suas histórias se bastam em cada unidade, tem
começo meio e fim na mesma unidade. Por exemplo, uma série sobre alimentação dos animais. A baleia come um tipo
de alimento, a onça outro, a lagartixa outro diferente, em comum temos animais que se alimentam. Uma série sobre os
presidentes da república, ou as grandes cantoras brasileiras, ou os grandes astros do futebol, cada um é um, viveu num
determinado momento, num lugar diferente, além de cantar, jogar futebol ou presidir o país, nada mais há em comum.
Uma série sobre filósofos importantes entrar neste tipo de seriado. Nosso vínculo é com a temática. Bons exemplos
são Black Mirror, Modern Love, Cenas de um Casamento, Eletronic Dreams e muitos seriados de documentários.
Cada unidade é uma narrativa única, todas tem apenas o mesmo tipo de abordagem e o mesmo tema para todos os
episódios. Merli é um caso ambíguo, porque apresenta um filósofo em cada episódio, mas os protagonistas seguem
suas vidas complicadas em capítulos. Veremos mais adiante.
Imagem 01
Imagem 02
Imagem 03
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Introdução ao tema
Na falta de outro nome, vamos chamar este conjunto de séries mistas. Não é uma tipificação definida pela teoria
nem generalizada no mercado, mas temos que lhe dar algum nome para podermos trabalhar. São as séries que têm
o comportamento de episódios em um plot, tem começo, meio e fim na mesma unidade, e, ao mesmo tempo, tem
outros plots que seguem de capítulo para capítulo. Em geral, o plot típico de episódio é procedimental, começa e
termina na mesma unidade. Os plots que envolvem as personagens permanentes, brigas, amores, disputas, traições
etc seguem de capítulo para capítulo. Greys Anatomy é um exemplo com quase 20 temporadas, Merli, Lie to Me,
Sob Pressão são outros exemplos de excelência. Mantém-se o ganho industrial com contatos, atrizes, atores, equipe
técnica. O vínculo dos espectadores é com as personagens fixas, que seguem seus dramas a cada capítulo.
Imagem 04
Leituras obrigatórias:
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Estrutura e personagens
dos seriados
Tema 02
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Estrutura e personagens dos seriados
Seriados temáticos
Um seriado temático Quando são ficção, seguem mais ou menos o padrão clássico
dos três atos: 1- contexto e desarmonia, 2- desenvolvimento,
é como um guarda- 3- resolução, como vimos na aula dois sobre roteiro de ficção.
chuva, cada episódio Trata-se da mesma estrutura dos longas-metragens, que o
mercado gosta de dividir em três atos. Em geral há três atos,
do seriado é um, todos mas há quem trabalhe com 4, ou 6 atos. Nada que mude a
diferentes entre si, mas direção geral do fluxo narrativo, que conflui sempre para
resolução da desarmonia inicial. É necessário ter algum
abrigados na mesma desarranjo no início para que a história possa seguir adiante.
embalagem – tema, Este problema inicial nos guiará até o clímax e a conclusão.
É importante que esta desarmonia não demore para se
vinheta, arte, difusão. apresentar, posto que temos em geral uma hora (de 50
minutos mais ou menos) para desenvolver e concluir a história.
Modern Love é um ótimo exemplo: cada episódio tem um conjunto de protagonistas, que têm algum desencontro
amoroso, e antes do final, o problema se resolve. Isso não quer dizer que necessariamente tenha que ter final feliz ou final
fechado, é possível ter finais abertos, mas precisam concluir a desarmonia inicial. Cada episódio pode se passar numa
cidade diferente, com gente de etnias, sexualidade e idade diferentes, lugares também diferentes. Cada uma é uma
narrativa válida desde que fale de amor nos dias de hoje. Cada episódio provavelmente tem um roteirista diferente, assim
como diretor e equipe também diferentes. O resultado é desigual, cada episódio pode ter um estilo narrativo, uma estética,
um comportamento de câmera, um jeito de decupar, um tipo de direção de atores. Não é um problema, faz parte da
escolha de seriado por temática, com unidades diferentes e estanques.
Uma das grandes vantagens desta modalidade de seriados, é que pode-se seguir para outras temporadas sem
necessariamente ter muitos episódios elaborados. Com três ou quatro já se pode falar em outra temporada, com acontece
com Black Mirror.
Quando são documentários, também tem um padrão de narrativa, em que o problema se apresenta, as explicações
seguintes detalham o problema e depois os esclarecimentos. Em geral terminam com uma conclusão. Toda esta estrutura
que suporta as histórias é discreta, quase nunca os espectadores notam.
Imagem 05 - Parte 01
Seriados em episódios
Nos seriados em episódios, cada episódio tem uma história que começa
e termina no mesmo programa, na mesma unidade. No entanto, os
protagonistas, o contexto, o tempo, o lugar são os mesmos. Cada
episódio de certa maneira repete o padrão clássico de três atos sobre o
qual já falamos: 1- contexto, desarmonia, problema; 2- desenvolvimento,
confronto; 3- resolução, conclusão.
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Estrutura e personagens dos seriados
Acesse o podcast
Imagem 05 - Parte 02
“Seriados infantis”
via QR CODE:
Cada episódio poderá ter algumas personagens diferentes, as personagens móveis, eventuais, ligadas
diretamente ao plot em que se trabalha (como os pacientes de um hospital, ou o criminoso a ser encontrado).
O que vincula os espectadores são as personagens fixas, que são sempre as mesmas em todos os episódios.
Teremos que conviver com estes mesmos personagens em todos os episódios e nas temporadas seguintes. De
temporada para temporada podemos ter algumas mudanças, mas o grupo central permanece. Veremos isso
mais adiante. Neste caso, temos um mesmo estilo narrativo previamente definido para todos os episódios,
temos a mesma estética, o mesmo tipo de decupagem, mesma edição, mesma direção de atores. É um pacote
que caracteriza a opção de seriado em episódios, além, obviamente, da economia de escala.
Cumpre destacar aqui que, embora sejam pouco mencionadas nos estudos e nos cursos de roteiros, a faixa
infantil precisa e consome muitos seriados. É um público em formação, com grupos etários diferentes, cada
um com um nível de compreensão também diferente, merecem um estudo à parte. Este grupo infantil (que
podemos considerar de zero a 13-15 anos), tem sido mais abastecido com seriados do que com séries. Não é
uma decisão gratuita, tem relação direta com o poder de atenção, com a concentração e a memória, com o
foco de interesse, e tem base nos estudos cognitivos desta turma mais jovem.
Temos um excelente podcast “Seriados infantis” que fala sobre os seriados infantis e o processo cognitivo
das crianças, vale a pena ouvir. Acesse via QR Code.
Curiosamente, o grupo dos idosos tem também características específicas, mas não tem recebido a atenção
dos produtores e programadores. O Brasil – e o mundo – fica cada vez mais idoso. Este grupo etário tem suas
especificidades de temas, grau de concentração, padrão cognitivo, mas não se tem notícias de produtos
voltados para este faixa crescente da população.
Personagens
A escolha das personagens nos seriados (e nas séries) é fundamental. Esta definição não acontece rapidamente, em geral
os autores aprimoram e aprofundam as personagens à medida que escrevem novos episódios. Personagens e plots tem
uma relação dialética. Por isso é interessante alinhar alguns episódios antes de definir e fechar quais serão e como serão as
personagens. A composição destas personagens principais, que estarão em todos os episódios, é vital.
Antes mesmo de pensar na história pregressa de cada um (back story), é interessante começar com alguns atributos. Quais
os critérios? Atributos opostos ajudam muito, de saída indicam tensão entre estas personagens. Elas agem de maneira
oposta, encaram o mundo de maneira diversa, decidem de modo distinto e contraditório entre si. Ótimo, já temos espaço
para fricção e conflito entre elas.
Ter alguns atributos complementares também ajuda. Um grupo tem habilidades diferentes, personalidades diferentes,
mas em conjunto podem atuar contra algum problema ou inimigo comum, maior e mais potente. Com atributos
complementares, eles são mais fortes no protagonismo, são mais capazes de vencer os antagonistas. Imagine um grupo de
ladrões: um entende de computadores, outro é bom de luta, outro é sedutor, outro um gênio de planejamento, outro é um
frio abridor de cofres. Juntos conseguem roubar as joias do museu. Separados, no máximo batem carteiras na estação de
trem. Atributos iguais redundam, nada acrescem aos plots que desenvolveremos. Em geral não criamos personagens que
não servem para nada, não contribuem com a narrativa.
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Estrutura e personagens dos seriados
Vamos ver um ótimo exemplo, da série Two and a Half Men. Uma tabela de atributos pode ajudar. Vamos
construí-la aos poucos para entender melhor. Alan (Angus T. Jones) e Charlie (Charlie Sheen) moram juntos.
Alan Charlie
Yin Yang
Introspectivo Extrovertido
Generoso Egoísta
Planejador Imediatista
Romântico Sexualidade funcional
Bons padrões de convivência Pouco se importa com os demais
Bebe socialmente e pouco Bebe muito sempre
Trabalha muito e ganha pouco Trabalha pouco e ganha muito
Quer educar bem o filho, uma criança de uns 10 anos Trata o sobrinho com um igual de 35 anos
Procura ser o exemplo para o garoto Desorganiza a educação que o pai quer dar ao filho
Fonte: autoria própria
Além disso, são irmãos, filhos da mesma mãe e do mesmo pai. Já podemos imaginar aqui
uma porção de situações interessantes e engraçadas no conflito entre os dois ao lidar um com
o outro e cada um com o mundo à sua volta. Este conflito entre os dois é da mesma natureza
que os conflitos que eles podem ter com outras pessoas, com instituições, com leis, e regras.
São os chamados conflitos exteriores, aqueles conflitos que todos têm com o mundo à sua
volta.
As personagens também precisam de problemas interiores, que chamamos de conflitos
internos, contradições consigo mesmo. Então, vamos seguir na tabela e ampliar pra tributos
de conflito interior, coisas de cada um com si mesmo.
Alan Charlie
Yin Yang
Introspectivo Extrovertido
Generoso Egoísta
Planejador Imediatista
Romântico Sexualidade exacerbada
Bons padrões de convivência Pouco se importa com os demais
Bebe socialmente e pouco Bebe muito sempre
Trabalha muito e ganha pouco Trabalha pouco e ganha muito
Quer educar bem o filho, uma criança e uns 10 anos Trata o sobrinho com um igual
Procura ser o exemplo para o garoto Desorganiza a educação que o pai quer dar ao filho
Muita atividade afetiva, mas inseguro com as relações
Homem seguro, mas tímido afetivamente
amorosas
Evita compromisso com namoradas, com o sobrinho,
Assume integralmente a paternidade e maternidade do filho,
com o irmão
Entediado, não precisar trabalhar muito e ainda assim é
Esforçado, mas sem sucesso no trabalho
um sucesso
Sente-se obrigado a cuidar o irmão porque o irmão o recebeu em sua Apoia-se no irmão, mas não consegue reconhecer nem
casa agradecer pelo apoio
Empenha-se em suas conquistas, mas não sabe como se
Inveja as conquistas do irmão, sente-se sozinho, é carente
livrar delas
Pensa no futuro, especialmente do filho. Quer uma relação duradou- Não pensa no futuro, mas suas namoradas querem
ra com alguma parceira nem que seja sua ex-mulher relações duradouras e um futuro
Para temperar esta dupla, a empregada Berta (Conchata Ferrell) é uma simpática e
Acesse o podcast
“Criação de personagem”
desbocada gordinha que não os respeita e que fala o que lhe vem à mente, sem se preocupar
via QR CODE: com seus patrões, na verdade trata-os como filhos. E a mãe deles, Evelyn (Holland Taylor)
uma senhora vaidosa e bonita (tipicamente uma perua), que quer ser mais jovem do que
é, vive de aparências, quer arranjar um namorado. Gosta do neto, mas não tem paciência
para ficar com ele, prefere a frivolidade das amigas e das saídas com pretendentes. Não se
envolve muito com os problemas dos filhos, é uma visita quase formal, sempre interessada
em outras coisas que não a vida doméstica. É a antítese da avó tradicional. Ela é atraente
para os filhos (Freud explicaria bem), e olhando-a, entende-se um pouco porque os filhos
são como são.
Estes atributos referem-se às primeiras temporadas, em que eles eram jovens e Jake
(Jon Cryer), o filho de Alan era um garotinho de uns 10 anos de idade. Com a sequência de
temporadas, Jake cresce, fica adolescente, as demais personagens envelhecem um pouco,
a idade chega para todos, o ator Charlie Sheen se cansa, afasta-se e o seriado toma outro
Acesse a videoaula rumo.
“Estrutura e
personagens dos
seriados em episódios” Temos então protagonistas com atributos opostos entre si, e, ao mesmo tempo, têm
via QR CODE:
conflitos consigo mesmo, o que dá mais camadas e dinâmica às personagens Alan e Charlie.
Obviamente os autores não chegaram a este complexo de atributos de repente. Estudaram,
experimentaram, mudaram, refizeram bastante até chegar a esta formação forte, curiosa,
engraçada e consistente.
O exemplo acima é de um seriado que fez enorme sucesso, teve 12 temporadas com cerca de
20 episódios por temporada, 8 das quais com o mesmo ator (Charlie Sheen) interpretando
Charlie. Depois Charlie Sheen saiu e foi substituído nas demais 4 temporadas.
O material que temos à nossa disposição para pensar nas personagens é vasto e eclético,
dependerá muito do repertório dos autores.
Leituras obrigatórias:
Tema 03
15
15
Estrutura e personagens das séries em capítulos
Há outra característica complexa nas personagens de séries, que não estão nas personagens
dos seriados. Elas têm arco, ou seja, as personagens alteram alguns traços de sua personalidade
e de seu comportamento em função dos aprendizados e necessidades que a jornada impõe.
São personagens em processo. Mesmo que estejam psicologicamente já formados, a vida
(neste caso vida=plot) os ensina, faz com que entendam melhor a si mesmos e aos demais. Esta
peculiaridade de percorrer um trajeto implica em uma construção dramática mais elaborada,
com alguma lógica, e longe de coincidências e gratuidades. As mudanças das personagens
precisam fazer sentido na organização interior delas mesmas, e precisam ser, de alguma
maneira, bem aceitas pelos espectadores sob pena de se distanciar da história, e, portanto, de se
desligarem do nosso trabalho, o qual é, em última análise, mantê-los ligados e imersos na nossa
história e com as nossas personagens. Um eventual distanciamento dos espectadores tem um
preço alto para nossa narrativa, rompemos o envolvimento emocional deles com as personagens
e com a história. É bem verdade que cada gênero narrativo requer um grau diferente desta
coerência. Séries e seriados com muita ação tem um filtro mais generoso com inconsistências das
personagens e dos plots. Seriados e séries de super-heróis, mais ainda. As histórias dramáticas,
as com fundo psicológico e lógico tem um alto grau de exigência no quesito coerência.
No caso de alguns super-heróis e heróis teimosos e monotemáticos, eles não têm arco, mas é
possível que o arco seja do contexto. Já que ele não muda a si, ele muda o universo à sua volta.
Por isso são super poderosos, porque mudam a realidade.
Num roteiro, a primeira coisa é sabermos o final. Sem saber o final, não saberemos o melhor caminho a ser
percorrido pela série. Por “melhor” aqui entenda-se o mais adequado, o mais divertido, o mais surpreendente,
dentro da lógica previamente definida pelo gênero, pelo tom e pelo público preferencial. Todos podem ver
qualquer série, elas estão disponíveis para todos, mas a proposta de uma série tem como alvo algum público
mais específico, seja do horário, seja do gênero dramático, seja da faixa etária. Quem define este público
são nossos contratantes ou nossos produtores, são eles que nos contratam para escrever, são eles que tem a
responsabilidade final pelo produto.
Depois de decidir o final, o passo agora é visualizar o todo da temporada. Cada autor ou grupo de autores trabalha
de uma maneira, mas, em síntese, tendem a organizar o plot principal distribuído pelos capítulos. Ou seja, a autora
define o que acontece no plot principal em cada capítulo. A figura aqui deixa isso mais claro. Por exemplo, numa
parede, ou num arquivo, ou em vários arquivos, separamos os capítulos da série. Temos séries com 5, com 7, com 8
capítulos, mas para nosso exemplo, usaremos 13. Ainda hoje o número de 13 capítulos equivale a uma temporada
de TV aberta, mais ou menos três meses, por isso por um bom tempo este foi o tamanho escolhido para as séries.
Em cada um deles escrevemos sinteticamente o que acontece no plot principal.
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Estrutura e personagens das séries em capítulos
Imagem 06
O uso de cores ajuda muito, caso seja do seu agrado. Olhamos o conjunto e vemos se esta evolução,
ainda pouco desenvolvida, está a contento. Podemos em seguida fazer o mesmo com alguns plots
secundários, como mostra a figura seguinte. Veja que os plots secundários não começam todos no
primeiro capítulo, eles aparecem aos poucos, alguns terminam rápido, outros, que iniciam em capítulos
mais adiante, podem durar até o final da temporada.
Imagem 07
Temos então um plano geral da série. É um bom momento para mudar ações de
lugar, alterar plots secundários, é uma boa oportunidade pra vermos a história em
funcionamento.
O próximo passo então é aprofundar este conteúdo. Agora, em vez de escrever
sinteticamente o que acontece com cada plot em cada capítulo, vamos detalhar quase
como uma escaleta, cena por cena. Pode-se ainda fazer alterações que não se afastem
muito das diretrizes já definidas para a série. No nosso exemplo, vamos ver apenas os
três primeiros capítulos.
Imagem 08
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Estrutura e personagens das séries em capítulos
Acesse o podcast
“Estruturas das séries”
Imagem 09
via QR CODE:
Imagem 10
Depois de abrirmos
cada capítulo em cenas
do plot principal,
faremos a mesma
coisa com os plots
secundários.
Cada capítulo terá, então, sua composição mais ou menos definida. É outro
bom momento para ordenar e reordenar as cenas, complementar o que falta,
cortar o que excede. Dentro de cada capítulo, podemos analisar a ordem geral
em que todas as cenas de todos os plots se apresentam. Há cortes complicados?
Aceitamos. Temos cenas que não se comunicam com a seguinte? Revisamos. As
relações de causalidade não funcionam? Revemos. A cada etapa a gente olha o
todo e as partes e faz as correções necessárias. Chegamos assim a uma escaleta
de todos os capítulos da série.
O passo seguinte é abrir a escaleta, passar da escaleta para o roteiro, detalhar
mais as cenas e incluir os diálogos.
Temos um excelente podcast “Estrutura das séries” que aborda justamente este tema de estruturação
de série. Ouça via QR Code e aproveite.
Muito frequentemente os plots E (de episódios) são de procedimentos similares, como cuidar de um
paciente, dar aulas numa classe rebelde, cuidar dos passageiros de um navio de cruzeiro, investigar um
crime. Ocorrem entre as personagens fixas e outras eventuais, que aparecem e somem na mesma unidade.
Os plots C (de capítulos) ocorrem com as personagens fixas, com aquelas que são do grupo permanente
da história. À medida que os plots C evoluem, eles tendem a ocupar mais a atenção dos espectadores, e
sobrará menos lugar para os plots E. Ao se aproximarem do final da série, os plots C ficam mais intensos,
vão ocupar quase todo tempo de tela. Estes plots C são os que abrirão novos plots para as próximas
temporadas, por isso, acontece de termos o último capítulo ocupado somente pelos plots C, já que tem
que concluir os plots C que vinham desde o começo, e ainda mais, tem que abrir novos espaços para novos
plots, que tem, entre outras funções, a de agarrar os espectadores e de os manter plugados na próxima
temporada.
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Estrutura e personagens das séries em capítulos
Para a plateia, será um misto de sentimentos: a conclusão da desarmonia inicial, que os alivia e
Acesse o podcast
“O ganho e os capítulos”
os alegra (ou entristece), dará o assunto por encerrado; a triste despedida das personagens que
via QR CODE: acompanharam por tanto tempo, com quem sofreram junto, por quem torceram e de quem ficarão
longe a partir de agora; e a inquietação quanto ao que virá pela frente nos novos plots que se
anunciam. De fato, acabar nunca é fácil.
A conexão, o gancho
Cada capítulo precisa terminar com um convite à continuação da história. Chamamos esta
ocorrência dramática de gancho, na linguagem informal. Este gancho dependerá do gênero e do
número de plots de cada série específica.
No caso do primeiro capítulo, pode haver um incidente que se resolve neste mesmo capítulo, e
que inaugura uma outra nova desarmonia que seguiremos no capítulo seguinte. No entanto, na
maioria das vezes, o disparador dramático inicial gera um desequilíbrio que será remediado apenas
no final da temporada. Cada caso é um caso, cada série é uma série, não há receita de sucesso.
Acesse a videoaula
“Estrutura e
personagens das
séries em capítulos”
via QR CODE:
Em todos os casos, os capítulos terminam com um suspense, uma indagação forte, uma nova
problemática (um plot) que se abre. É importante que os espectadores fiquem mobilizados
para seguir adiante naquela série. Nos primeiros capítulos é desejável que o gancho tenha
relação com o plot principal, para que ele fique mais solidamente presente na memória e na
emoção dos espectadores. Os ganchos seguintes podem se relacionar a plots secundários,
mas ainda assim plots importantes, ou que tenham relação clara com o plot principal. O fato
relevante é que devemos deixar nosso público apreensivo, inquieto, interessado em ver como
as coisas seguirão.
A ideia mais natural parece ser que o capítulo seguinte responda ao gancho do capítulo
anterior. Sim, mas eventualmente, o capítulo seguinte pode começar com outro assunto,
outras personagens em outras situações, e, algum tempo depois, mas não muito adiante,
o gancho será respondido. Como em tudo nesta área, não tem certo nem errado, teremos
sempre o que parecer mais interessante aos autores, mais compatível com o tipo e gênero da
série em questão.
Você pode em seguida escutar o podcast “O ganho e os capítulos” sobre estas conexões
entre capítulos para se aprofundar neste tema. Aproveite e assista a videoaula “Estrutura e
personagens das séries em capítulos”, acessando-os via QR Code.
Leituras obrigatórias:
01 DOUGLAS, Pamela. Writing the TV Drama Series. Los Angeles, CA: Michael Wiese Productions, 2018.
02 ROSETT, Sara. How to write a series. Monee, IL: McGuffin Inc, 2020,
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Começo e final das
séries, as próximas
temporadas
Tema 04
20
20
Começo e final das séries, as próximas temporadas
Acesse o podcast
“O programa piloto”
via QR CODE: Capítulo inicial das séries
Vamos agora detalhar mais o capítulo inicial. O primeiro capítulo muitas
vezes é chamado de piloto, porque, para conseguir financiamento ou
aprovação do projeto, ele funciona como um programa teste, sujeito a
alterações e críticas internas, e pode sofrer reparos de adequação após os
olhares dos contratantes ou do público teste. Todavia, há casos mais raros
em que o piloto não é o primeiro capítulo.
As principais funções do programa inicial são: localizar geograficamente a série; definir o momento
histórico (hoje, nos anos 1820, no ano 2050); indicar gênero predominante (terror, suspense, aventura,
policial, romance, comportamento, superação entre muitos outros); definir o ritmo da narrativa; o tipo
de violência ou de erotismo; mostrar e caracterizar quem é a protagonista e a eventual antagonista, tudo
isso vem logo no início. Os espectadores precisam saber, logo no começo, o que os espera ao seguir
aquela série. Estas informações ajudam os espectadores a mergulhar na narrativa. São itens fáceis de
serem indicados, muitas vezes na própria abertura, ou no primeiro plano apresentado na tela estas coisas
se definem. As imagens são muito eloquentes.
Como disse logo acima, também cabe ao primeiro capítulo mostrar quem são as protagonistas desta
narrativa. Todo o cuidado com a criação das personagens precisa ser tomado e agora é hora de
apresentar estas personagens de maneira criativa, em ação, e não em explicação. Há muitos exemplos
interessantes de apresentação das personagens: Modern Family, Killing Eve, Dexter, Breaking Bad,
Stranger Things , Soprano Family e muitas outras, sempre no primeiro capítulo da primeira temporada.
Os capítulos iniciais das temporadas seguintes funcionam de outra maneira porque já conhecemos a
maioria das personagens da temporada anterior.
Para exemplificar, veja o primeiro capítulo da primeira temporada da longeva série Modern Family
no youtube. Especificamente, veja os 4 minutos antes dos créditos iniciais do capítulo. Depois, veja
o capítulo inteiro. Vários grupos de personagens são apresentados. Nos 4 minutos do começo todos
os protagonistas são apresentados em ação. É uma abertura antológica. Nela a gente vê que as
personagens estão bem delineadas, as relações entre as personagens estão estabelecidas, a dinâmica
entre elas e a sociedade que as envolve está bem clara. A direção da cena também é excepcional, seja na
atuação das personagens, seja no timing. É um capítulo imperdível, como é o inicial de Game of Thrones,
de Sense 8, de Big Little Lies, da Soprano Family, de Mulheres da noite, de 8 em Istambul e muitas
outras. É um bom exercício assistir aos primeiros capítulos das primeiras temporadas.
Se, por exemplo, tratamos de uma série de aventura com crimes e mortes, este capítulo de abertura
deve mostrar ou sugerir crimes e mortes. Podem ser espetaculares, fazem parte do show. Se o ritmo é
muito dinâmico ou é mais calmo, veremos inicialmente também. Este capítulo é o cartão de visitas da
série, portanto, vai prometer o que irá cumprir. Algumas vezes, este capítulo é uma parte da ação, não
entendemos bem o que acontece, mas seguimos adiante. É como se essa abertura fosse a continuação
de uma história que não vimos no começo. Logo nos capítulos seguintes, a série nos explica porque
tivemos tanta agitação, tanta emoção no primeiro. Em outras palavras, a cara da série, o jeitão da
série é apresentado no primeiro capítulo. O porquê e o como chegaram até aquele momento pode ser
explicado mais adiante. O começo da história não teria tanta ação ou tantas emoções como as que foram
apresentadas, por isso há essa inversão de capítulos, pode haver este começo já no meio dos eventos
em andamento. Neste caso, a ordem cronológica da história seria outro capítulo, talvez o terceiro e o
quarto, daí o primeiro, depois o quinto e assim por diante. Na tela, começamos com aquelas situações
que chamam mais a atenção, aquelas que representam mais e melhor a série. Este tipo de procedimento,
de começar a série com uma parte da história que não é de fato seu início cronológico é frequente, é uma
espécie de truque que funciona.
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Começo e final das séries, as próximas temporadas
Este incidente incitante pode ser de qualquer natureza, mas precisa ser visto, presenciado pelos espectadores. Pode ser
um acidente involuntário, um acidente premeditado, uma ação proposital para desarranjar a ordem vigente. Esta ruptura
é um dos poucos lugares em que uma coincidência não é considerada dramaturgia vulgar. Há gêneros mais leves em que
as coincidências acontecem com frequência, mas nas séries mais articuladas, mais atentas à qualidade da dramaturgia, é
melhor evitar coincidências e se apoiar mais nas relações de causalidade. Relações de causalidade, ou de causa e efeito,
são as ações provocadas pelas personagens, ações que tem algum propósito, obedecem à necessidade do plot ou das
personagens. E estas ações tem como consequência reações à sua altura.
Este momento inicial de quebra da rotina é fundamental nas narrativas. Porque ver uma série em que tudo continuará como
estava? Qual a razão para seguir uma história se nada mudará? Porque, se as personagens ficarão como estão, se o contexto
é igual, e se tudo seguirá na mais monótona rotina? Esta quebra do equilíbrio será trabalhada pelas personagens até o final,
quando um novo tipo de equilíbrio se apresentará. Há casos em que este incidente inicial se resolve rapidamente, e, quando
isso ocorre, logo aparece outro problema maior ainda pra ser resolvido, o qual será o fio condutor até o capítulo final.
Primeiro capítulo
Disparar a história
Apresentar
personagens Mostrar a
desarmonia
Cartão de visitas
Como cada série tem como alvo um determinado público, os finais variam:
algumas acabam em final feliz, outras em final aberto, outras ainda
surpreendem e se afastam do tradicional final feliz. Tem público para tudo.
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Começo e final das séries, as próximas temporadas
Que isso não sirva de consolo, mas o mais importante é mantê-los na história até o final. É nosso desejo que eles possam
amar a conclusão, mas nem sempre alcançamos.
Outra responsabilidade deste momento final é abrir as portas, isto é, a expectativa e o interesse para continuar a
acompanhar a vida daquelas personagens. Trata-se então de apontar para a próxima temporada. O capítulo final conclui
uma trajetória, resolve a desarmonia anterior, e em seguida aponta para novos desafios para aquelas personagens que o
público ama e com as quais se identificou, só que agora em outro patamar. Embora tudo tenha corrido da maneira como
ocorreu, novos embates, novos problemas virão pela frente. Devemos então esperar pela próxima temporada. Todos
os envolvidos, autores, atores, técnicos, produtores, empresas produtoras, plataformas querem a nova temporada. O
resultado da primeira temporada é que determina se haverá sequência. O público é quem decide.
Novas temporadas
A continuidade da série depende principalmente do interesse do público. Todavia, há problemas de
outra natureza que podem definir os destinos da série: atrizes ou atores que têm outros compromissos;
contratos de direitos que emperram; resultado de público diferente do esperado pela plataforma
(apesar do sucesso naquele nicho de espectadores); desinteresse de espectadores de outros países,
embora no país de origem tenha sido bem aceita; e, no caso brasileiro, há o ingrediente da falta absoluta
de financiamento. São fatores que podem determinar a descontinuidade da série e que estão fora do
alcance do tema desta aula.
Podemos introduzir novas personagens que trazem consigo outros problemas diferentes daqueles da
temporada anterior; podemos achar que tudo foi resolvido quando, na verdade, resolveu-se apenas
uma parte do problema que continuará na temporada seguinte; podemos fazer algumas alterações no
contexto de modo a prolongar os plots em outra realidade ou em outro contexto, ou seja, resolvemos as
desarmonias apresentadas inicialmente, mas o contexto muda e teremos então que recomeçar a partir
das novas mudanças trazidas pela alteração de contexto; podemos retomar a história pregressa de alguma
personagem principal e trazer novos desdobramentos para a vida futura; podemos voltar ao passado e
mostrar qual caminho foi percorrido até chegar ao momento em que a primeira temporada começou;
podemos matar alguma personagem, e a continuidade será uma trajetória de vingança dos parceiros do
falecido; podem ser informados que um dos aliados era, na verdade um espião dos adversários, enfim, há
uma gama bem grande de caminhos plausíveis, verossímeis para continuidade.
Nas séries fantásticas e nas juvenis, as relações de causalidade nem sempre são muito
observadas – faz parte do gênero, não é demérito – e, sem muita razão diegética,
acontecimentos surpreendentes são incluídos para que haja a continuidade da
série, como por exemplo aparecer uma nova nave com alienígenas diferentes; uma
personagem morta aparecer viva e retomar os conflitos; novo adversários que pareciam
vencidos voltam a atormentar a comunidade; a eliminação do problema que parecia
resolvido toma formas diferentes mas continua lá; uma personagem antagonista que
foi tragada pelas águas turbulentas de uma cachoeira caudalosa reaparece nos minutos
finais em outro lugar, remontando seu bando sem que os protagonistas saibam; um
trauma da protagonista é relembrado e nos leva a outro tempo para entender e resolver
o problema; o herói solitário segue viagem pelo universo em direção a novos desafios e
novas aventuras.
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Começo e final das séries, as próximas temporadas
Acesse o podcast
“Mercado
internacional e Os novos caminhos da série terão participação das
plataformas contratadoras, seguindo suas pesquisas internas
parcerias”
via QR CODE:
As séries que tem muitas temporadas trocam de autores e de diretores ao longo do tempo.
A competência e o talento deles é que trouxe a série até esta nova temporada, mas a
continuidade requer novos ares, novas abordagens e talentos diferentes. Ninguém consegue
ser genial sempre nas mesmas condições e com as mesmas personagens. É saudável que
haja essa troca, revigora a série. Aplausos para a turma que sai, e que vai para outra série que
também está em outras temporadas e que precisa de novos talentos. Assim segue a vida.
Acessea videoaula “O
começo e o final das
séries: as próximas Carreira internacional
temporadas” via QR
CODE:
Os produtores brasileiros e a classe do audiovisual frequentemente reclamam que as plataformas
não produzem localmente a quantidade de séries e seriados compatível com o tamanho do público
e o tamanho dos ganhos financeiros auferidos por estas plataformas no Brasil. As respostas, sempre
discretas, é de que não há roteiros e propostas tão boas, não há equipes em número suficiente, e que não
há mão de obra qualificada, argumentos que não condizem com a verdade. Parecem mais versões para
tergiversar o assunto do que os fatos comprovam. A legislação nacional é pouco eficiente para forçar
estes players a investir mais aqui, e alguns governantes pouco se importam com uma indústria que ocupa
muita mão de obra, que gira muitos milhões, e que gera outros tantos milhões em taxas, impostos e
empregos, sem contar o valor simbólico e cultural da produção brasileira.
As emissoras de TV se preocupam bastante com o público do país. É certo que elas têm também braços
em outros países, mas dão muita atenção aos locais e às medições de público nacional.
As plataformas pensam em ter conteúdos locais quando tem muitos assinantes, que é o caso brasileiro.
Elas querem ter séries e seriados produzidos no país, mas olham também o alcance de seus produtos
exclusivos em outros países. Quanto mais países e plateias diferentes gostarem daquela série, mais
chances ela terá de sobreviver e seguir para novas temporadas.
Esta chegada a outros países costuma ter também forte apoio de marketing, seja enaltecendo atrizes
e atores, seja elogiando o país produtor, seja alardeando o gênero. Quando se pensa num produto
audiovisual, é recomendável considerar a expansão além das fronteiras. Cenas gravadas em outro país
ajudam, ter em cena atores de outros países ajuda, falar em mais de uma língua também aumenta as
chances da série ou do seriado. Quando as plataformas decidem pela produção de uma série, já levam em
conta a receptividade daquele tipo de proposta em outros países.
A soma de fatores favoráveis de fato ajuda na carreira da série. Temos um podcast “Mercado internacional
e parcerias” que trata exclusivamente do mercado internacional para as séries brasileiras.
A presença estridente em festivais e mostras, e a conquista de premiações força a divulgação da série, o
que também favorece. Coprodução com outros países é outro grande facilitador para transpor fronteiras.
Finalizando o tema sugerimos que assistam a videoaula “O começo e o final das séries: as próximas
temporadas’’. As próximas temporadas” para apreender ainda mais o conteúdo abordado. Acesse via
QR Code.
Leituras obrigatórias:
01 ESQUENAZI, Jean-Pierre. As Séries Televisivas. Lisboa: Edição Textos e Grafia, Ltda, 2010.
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