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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

A INFLUÊNCIA DA INFORMAÇÃO
(TELEMETRIA) NA GESTÃO DE
FROTA: UM ESTUDO DE CASO EM
UMA EMPRESA DE TRANSPORTES DE
MÉDIO PORTE DO INTERIOR DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Cristiano Salles (UNIARA )
cristianosasilva@hotmail.com
Jose Luis Garcia Hermosilla (UNIARA )
jlghermosilla@hotmail.com
Ethel Cristina Chiari da Silva (UNIARA )
e-chiari@uol.com.br

O acesso à informação tem se apresentado como um aspecto decisivo


na estrutura organizacional das empresas. A utilização de sistemas que
apresentem informações precisas e on-line tem mudado a velocidade
que as decisões são tomadas na empressa. Um setor que tem investido
em tecnologia é o transporte rodoviário de cargas. Dentre os projetos
de tecnologia destaca-se o gerenciamento por uso da telemetria. O
avanço da tecnologia e o uso mais eficiente da informação
possibilitaram elevar os níveis de qualidade dos serviços logísticos,
agregando valor ao negócio. O trabalho tem por objetivo mensurar o
impacto que o uso da telemetria provoca sobre o desempenho de uma
frota de transporte rodoviário. Os indicadores selecionados para o
acompanhamento do processo foram: valor financeiro das infrações
com multas, consumo de combustível, índice de acidentes e número de
infrações. O período de tempo utilizado para análise compreendeu o
ano de 2014 (ano de referência, sem a tecnologia de monitoramento a
distância/telemetria) e de 2015 (ano de implantação do sistema de
telemetria). Os resultados mostraram redução de 16,3% dos gastos
com multas, 10,1% no consumo de combustíveis, 47,7% nas
ocorrências de viagens e 31,5% no número de infrações.

Palavras-chave: Telemetria. Indicadores de desempenho. Gestão de


frota. Transporte rodoviário.
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1. Introdução
A implantação de uma nova tecnologia da informação (TI) tem se tornado imprescindível para
a melhoria do desempenho de um sistema logístico integrado, podendo gerar maior
produtividade, qualidade e também confiabilidade dos dados, com reflexos no processo
decisório dos gestores operacionais em termos de assertividade e tempo. Sousa e Oliveira
Neto (2013, p.1) afirmam que a integração entre a tecnologia da informação e a cadeia de
suprimentos, leva a melhoria na qualidade do serviço, na comunicação, no acesso as
informações, além de promover “confiabilidade, credibilidade, responsividade, redução de
custos, competência, flexibilidade”.

De acordo com Marques (2011), o padrão de vida elevado nos países desenvolvidos assim
como seu comercio, são suportados por sistemas logísticos eficientes, fortemente embasados
na tecnologia da informação, como forma de contrapor os elevados custos do transporte,
principal elemento deste sistema.

No caso dos países latino americanos, além dos custos de transporte, a precariedade da
estrutura viária decorrente da falta de investimentos, também se apresenta como grande
limitação ao processo de transporte de cargas, comprometendo a eficiência operacional e
energética do sistema logístico, também agravados por outros problemas como acidentes,
roubos de carga, deficiências de regulação, distorção da matriz de transporte dentre outros.
(ERHART; PALMEIRA, 2006).

Em situações como esta, Teixeira, Oliveira e Helleno (2014, p.1) afirmam que “o controle das
funções de veículos para diagnosticar, em tempo real, falhas operacionais, pode representar
uma atividade importante, especialmente em veículos usados para transporte de cargas. Este
controle permite diagnosticar ou prevenir problemas graves de forma antecipada”. Nesse
sentido, a telemetria, que é uma tecnologia inovadora, auxilia na organização já que permite
aos usuários saberem com exatidão, o desempenho de sua frota, para melhorar a qualidade e a
produtividade da empresa.

Segundo Bueno (2007), a telemetria tem sido útil para empresas que utilizam o modal
rodoviário, devido a sua eficiência, baixo custo de compra, fácil manuseio, alta precisão, e
possibilidade de definir parâmetros para uma boa gestão de sua frota, o que pode promover a
melhora do desempenho organizacional. Carraro e Silva (2013, p.7) afirmam que “a eficiência
logística pode trazer diferencial competitivo que possibilite alavancar as participações no

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mercado, aumentar os pedidos e servir de exemplo para as melhores práticas neste segmento.”
Diante deste cenário e da escassez de trabalhos científicos aplicados, a questão que se coloca
é quais os impactos do uso da tecnologia de telemetria sobre a gestão de uma frota de
transporte rodoviário?

O trabalho tem por objetivo mensurar o impacto que o uso da telemetria provoca sobre o
desempenho de uma frota de transporte rodoviário. Para atingir o objetivo proposto, a
pesquisa de caráter qualitativo, baseou-se no caso de uma empresa de transporte rodoviário de
médio porte, que implantou o sistema de telemetria para controle da frota. Os dados coletados
foram: violações por excesso de velocidade, multas recebidas por infrações, consumo de
combustível em litros, média de consumo km/litro e número de incidentes de trânsitos que
foram extraídos da base de dados da empresa, os quais foram analisados de forma cronológica
(antes e após a implantação do sistema de telemetria).

2. Transporte Rodoviário de Carga


Segundo a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT, 2014) atualmente, cerca de
60% dos transportes de cargas no país são realizados pelo modal rodoviário.

Dentre as vantagens desse tipo de modal, estão o oferecimento de serviços porta a porta, sem
exigir carregamento ou descarregamento entre origem e destino, como ocorre nos modais
aéreo e ferroviário, e sua frequência e disponibilidade, tornando-o o mais flexível dentre os
demais, ainda que, no caso de caminhões, estes possam ser avaliados como menos
capacitados para o manuseio de determinados tipos de fretes, quando comparados ao modal
ferroviário, considerando as restrições de segurança e as limitações dimensionais e de peso
dos embarques das autoestradas (ALMEIDA; SCHULITER, 2012). Outras vantagens que o
modal apresenta são a adequação para curtas e médias distâncias, simplicidade no
atendimento das demandas, agilidade no acesso as cargas, menor manuseio da carga e menor
exigência de embalagem, desembaraço na alfândega feito pela própria transportadora,
complementar aos outros modais, possibilitando a intermodalidade e a multimodalidade.
(CAXITO, 2011). Apesar das vantagens, o mesmo autor pontua inúmeras desvantagens do
modal como elevado valor do frete para determinados casos, menor capacidade de carga
dentre os demais modais, e baixa competitividade para o transporte de longas distâncias.

2.1. A tecnologia da informação no sistema logístico

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A informação sempre foi um elemento de vital importância na logística, no entanto, seu papel
atualmente tem sido muito mais evidente na melhoria da estratégia competitiva das empresas.
A transferência e o tratamento das informações hoje em dia, permitem melhor gerenciamento
das organizações, além da prestação de um serviço de maior qualidade.

Diante deste contexto e das novas tecnologias disponíveis no mercado, as empresas devem
estar atentas as alterações ou mudanças do mercado, tanto no transporte quanto na
movimentação de mercadorias (BALLOU, 1993).

Diante deste cenário, Valente, Passaglia e Novaes (2008, apud RODRIGUES; ROSA, 2012)
alertam sobre a necessidade de modernização no serviço de transporte, pois as empresas estão
procurando na tecnologia novos conceitos e novos procedimentos, além de eficiência e
melhoria contínua no serviço oferecido.

De acordo com Ferrante e Rodriguez (2004), o uso da tecnologia da informação gera maior
confiabilidade no atendimento as necessidades dos clientes, gerando maior credibilidade,
alavancando o nível de serviço e reduzindo os custos.

Devido a importância assumida pelo transporte como meio de conexão na cadeia de


suprimento, as empresas transportadoras de cargas foram forçadas a aumentar o controle de
seus veículos, incorporando em seus serviços o gerenciamento de risco, o controle de frete,
das informações geográficas (GIS), o rastreamento por satélite, a roteirização, dentre outros.
(BACIC; AGUILERA, 2005).

Dentre as tecnologias de informação atuais para soluções logísticas da área de transporte, as


mais usuais são o rastreamento e o sistema de telemetria.

Rodrigues e Rosa (2012) afirmam que o sistema de rastreamento tem como principal
informação a posição geográfica, obtida na maioria das vezes por GPS, possibilitando neste
caso a emissão de relatórios de localização do veículo, o monitoramento das partes mecânicas,
a assistência enquanto na estrada, o fornecimento de informações sobre as condições do
tempo e do tráfego, o rastreamento da operação, o controle do fluxo de carga, a assistência
para programação de horários e escolha de rotas e, emissão de alertas no caso de roubos e
sequestros.

A troca de informações entre veículos de central de monitoramento, varia conforme as


características e demandas de cada operação, sendo as tecnologias mais utilizadas para o

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rastreamento de veículos o rádio, telefonia móvel e satélite. (QUEIROZ FILHO;


CUGNASCA, RODRIGUES, 2009).

Para Rodrigues e Rosa (2012) no modal rodoviário 60% do valor das cargas estão em veículos
rastreados, aspecto este importante para as seguradoras, pois o índice de recuperação desses
veículo em caso de roubo situa-se acima de 85%, fazendo com que o prêmio da apólice
diminua em até 30%.

2.2. Considerações gerais sobre telemetria


A origem da palavra telemetria vem de termos gregos como tele, que significa longe ou
remoto, e metron, que relaciona-se a medida, e de forma sucinta pode ser definida como uma
técnica de obtenção de dados a distância, com a transferência de dados coletados para o
monitoramento, medição e controle (VISSOTTO JUNIOR, 2004).

Teixeira, Oliveira e Heleno (2014) informam que a telemetria referia-se, há alguns anos,
apenas a operação com telêmetros, instrumentos ópticos para medir distância de interesse de
um analisador e transmissão de dados para posterior análise. Com o avanço tecnológico, o
termo telemetria passou a ser empregado também como forma de medição à distância em
diversas áreas, desde o automobilismo e aviação, passando pela agricultura e medicina até a
biologia. Sendo que é instalada em locais de difícil acesso, possibilitando o monitoramento
constante destes sistemas em outro local, possuindo diferentes necessidades de distância e
banda de transmissão.

Esses dados podem ser coletados de maneira analógica ou digital, sendo o analógico realizado
via cabo entre os sensores instalados no veículo; já a captura das informações de telemetria é
realizada meio digital através do barramento CAN (Controller Area Network) em veículos
modernos.

Segundo Godoy et al (2010) CAN é um protocolo de comunicação desenvolvido para troca


rápida de informações, e é baseada em mensagens, no caso da telemetria as mensagens são
trocadas através de um módulo instalado no veículo. É um novo sistema adotado pela
indústria automobilística, sistema todo eletrônico que fornece informações seguras e precisas
dos componentes do veículo. Ela aponta falhas com maior apuração de detalhes para tomada
de decisões sobre comportamento do motorista e performance do veículo.

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A partir de 2009, estes veículos começaram a ser comercializados com padrões de tecnologia
embarcada que permitiam a leitura do equipamento de telemetria, mais eficiente na detecção
de falhas e com possibilidade de intervenção no caso de anomalias.

A figura 1 ilustra os pontos de coletada das informações no veículo, enquanto a figura 2


ilustra o aparelho de telemetria, que é composto por um teclado alfa numérico, modulo de
comunicação, chicote, sirene, botão de pânico e sensores para portas, painel e engate. Após a
instalação, o aparelho é configurado de acordo com as regras de segurança da empresa e as
informações são coletadas através de digitação de macros que ocorre entre motorista e a base
operacional. A leitura dos dados de velocidade, distância percorrida, infrações, rotação e
demais informações são realizadas pela leitura do barramento CAN do veículo, ou seja, não é
utilizada nenhuma apuração sensorial.

Figura 1- Pontos de coleta no veículo

Fonte: Grupo Cielo (2012).

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Figura 2 – Aparelho de telemetria

Fonte: própria empresa

Avancini, Helleno e Simon (2015) buscando identificar ganhos com a implantação da


telemetria em uma empresa de transporte de passageiros rodoviário interestadual, valendo-se
dos indicadores de desempenho de qualidade, custos, atendimento, moral e segurança do
trânsito, observaram algumas melhorias: a qualidade ficou acima de 77%; houve redução dos
custos; o atendimento teve um percentual de 97% de pontualidade; a satisfação dos
colaboradores alcançou a meta em 85%, e a segurança se manteve na meta, com registro de 1
acidente a cada 33.000.000 de km rodados. Junto a esses indicadores, verificou-se a
pontualidade e precisão das informações em tempo real, por meio dos painéis de controle da
frota. Concluíram que os indicadores melhoraram, assim como a qualidade, precisão, e o rigor
das informações, pontuando que o sistema fornece feedback no momento em que se faz
necessário, trabalha com dados detalhados dos problemas e propõe resoluções para os
problemas, minimizando ou mesmo solucionando as falhas.

3. Estudo de caso

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Foi selecionada para análise, uma empresa de médio porte do segmento de transporte de
cargas, da região central do Estado de São Paulo, que por motivos de segurança foi
denominada de 1000 Transportes Ltda. Esta organização foi escolhida pelo fato de ter
implantado um sistema de telemetria e também por permitir o acesso dos pesquisadores às
informações necessárias para a compreensão deste processo. O sistema de gestão da frota por
telemetria foi implantado em janeiro de 2015, com o objetivo de reduzir custos como multas,
consumo de combustível, manutenção dos veículos e índice de acidentes. Os indicadores
selecionados para o acompanhamento do processo foram valor financeiro da infrações com
multas, consumo de combustível, índice de acidentes e número de infrações. O período de
tempo utilizado para análise compreendeu o ano de 2014 (ano de referência, sem a tecnologia
de monitoramento a distância/telemetria) e de 2015 (ano de implantação do sistema de
telemetria). Todos os dados analisados foram extraídos diretamente dos aparelhos instalados
no barramento CAN dos veículos.

Conforme depoimento do responsável pela gestão da frota da empresa, a adoção do sistema de


telemetria partiu da necessidade de maior controle sobre os indicadores de desempenho
utilizados como o consumo de combustível, a frequência de acidentes e de infrações e a
qualidade dos serviços prestados aos clientes. A empresa adquiriu inicialmente 64
equipamentos de telemetria, a um custo unitário de R$ 1.105,00, com custo mensal de
manutenção unitário de R$ 90,00, equivalendo a um valor total de R$ 70.720,00 com custos
totais mensais de manutenção de R$ 5.760,00.

Após instalação do equipamento no veículo, a comunicação é feita via satélite através de rede
GPS/GPRS, disponibilizando o trafego de dados entre veículo, tecnologia e empresa. Todos
as informações são guardadas na internet e disponível para empresa e gerenciadoras de riscos
contratadas, como ilustra a figura 3.

Figura 3 - Diagrama de comunicação

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Fonte: própria empresa

Para esta investigação, foi acompanhado o desempenho de uma frota com 64 veículos do tipo
cavalo mecânico da marca Volvo, modelo FH 12 440 cv, engatado em uma carreta tipo tanque
com eixo espaçado, onde foram acompanhados em tempo real durante o ano de 2015 com
diferentes motoristas em viagens de um percurso de aproximadamente 960 km, com origem
na cidade de Bebedouro e com destino a cidade de Santos, eleita a rota padrão de comparação.

Apesar do estudo ter se baseado na frota como um todo, a base de dados foi montada a partir
dos relatórios de cada veículo, denominado de relatório da jornada do motorista,
exemplificada na figura 4, que mostra a jornada do veículo ATM-8793 com apuração do
período de 20 dias. Este detalhamento é importante, pois mensura o tempo total por viagem,
o tempo total do motor ligado, o tempo em que o veículo ficou desligado, o excesso de
velocidade mostrando quantas vezes o motorista do veículo atingiu a velocidade máxima,
inclusive pista molhada, freadas bruscas, acelerações bruscas, e km percorrido.

As apurações foram feitas diariamente, e enviadas através de e-mail para os gestores de cada
operação. A cada seis meses o motorista pode ser premiado caso não haja nenhuma infração e
se o mesmo houver atingido a meta estabelecida de Km rodado.

Quando é instalado a telemetria em um veículo, é realizada a configuração de parâmetros de


acordo com a política de segurança da empresa e de seus clientes. Esse cadastro é enviado
para o veículo. A partir do envio das configurações é validado se o veículo processou com
sucesso as informações.

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A tecnologia telemétrica permite o registro de dados e mensuração do desempenho da frota,


demonstrando detalhadamente informações como tempo de hora de motor, distância
percorrida, quantidade de infrações, relatórios gerados por ligar e desligar a ignição, consumo
total e médio de combustível, e penalidades.

De uma maneira geral, o sistema exibe todos os eventos gerados pelo computador de bordo,
tanto a forma de condução dos motoristas quanto informações de desempenho do veículo. A
empresa utiliza planilhas de controle e um TMS (sistema utilizado pela empresa para controle
do transporte de carga, gerenciamento de fretes, cadastros e consultas) para tratar os dados
extraídos da telemetria.

Figura 4 - Relatório da jornada do motorista

Fonte: própria empresa


3.1. Análise dos dados e resultados
Os resultados apresentados foram obtidos de relatórios e indicadores de desempenho
capturados pelo sistema de telemetria, e referem-se a frota como um todo (64 veículos). Desta

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forma, os valores apresentados devem ser entendidos como absolutos, à exceção do consumo
de combustível por km rodado que será a média dos veículos.

Antes da implementação, as informações das infrações com a excesso de velocidade eram


feitas através de leitura de disco tacógrafo que duravam 7 dias, e somente após esse período é
que os gestores tomavam as decisões cabíveis. Com a telemetria, as informações são em
tempo real e a tomada de decisão é mais rápida e assertiva. As análises do disco não eram
precisas, pois os motoristas conseguiam adulterar o equipamento pinando a agulha que faz a
leitura. Com os dados da telemetria, fica impossível o motorista intervir no resultado real, pois
as informações são extraídas diretamente do barramento CAN do veículo.

Com relação ao indicador de velocidade, a telemetria permitiu verificar picos de excesso de


velocidade e as reincidências cometidas pelos motoristas por período, como pode ser visto na
figura 5 que ilustra o consolidado das infrações equiparando os dois períodos, antes e após a
implementação da telemetria. Os dados da ilustração revelam uma redução de 31,5% nas
violações, fato este atribuído pelos gestores, ao monitoramento diário destas infrações.

Figura 5 - Indicador de violações por excesso velocidade

Fonte: própria empresa


Quanto ao indicador relacionado ao valores pagos com as infrações de trânsito (multas), o uso
da telemetria apresentou redução de custos com estes eventos; a figura 6 apresenta os gastos

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com esses eventos nos períodos 2014 e 2015, e revela redução de 16,30%, o que representa
uma economia da ordem de R$ 26.902,00.

Figura 6 - Indicador valor pago devido a multas

Fonte: própria empresa


O consumo de combustível é outro indicador importante que compõe os custos dos serviços
prestados; a falta de seu controle impacta diretamente no resultado financeiro da empresa, e
por este motivo foi avaliado no período, como pode ser visto na figura 7. Nota-se que o
controle mais apurado do consumo de combustível em litros resultou em uma economia de
aproximadamente 556.796 litros com relação a 2014, representando até então uma redução de
10,1% em volume consumido, considerando um valor médio do diesel de R$ 2,70, a empresa
economizou aproximadamente R$ 1.503.399,20.

Figura 7 - Indicador de consumo de combustível

Fonte: própria empresa

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O consumo médio de litros por Km rodado foi outro importante indicador avaliado na
pesquisa, e que permitiu fazer o monitoramento desse processo de gestão da frota, que
também envolve a participação direta dos motoristas; dependendo do resultado apresentado
por este indicador, os motoristas poderão passar por reciclagem para que possam atingir a
meta estipulada pela empresa, que no caso é ficar acima da média de 2,10 km/litro. A figura 8
revela que o uso da telemetria proporcionou uma melhora de desempenho do veículo quanto a
este quesito, uma redução de em 11,05 % no consumo, fato que comprovou a economia total
em volume apresentada na figura 7 anterior.

Figura 8 - Indicador de consumo km rodado/litro

Fonte: própria empresa


O número de eventos devido a incidentes de trânsito é outro fator considerado importante na
gestão de frota que foi avaliado nesta pesquisa como pode ser observado na figura 9, a qual
revela uma redução destas ocorrências em viagens da ordem 47,7% com o uso da telemetria.

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A parametrização dos limites de velocidades, permitidos com a telemetria proporcionou um


efeito educativo dos motoristas com consequente redução de incidentes nas estrada. Os
resultados encontrados nos anos de 2014 e 2015 apontaram a melhora nestes eventos,
representando uma média de 5,7 ocorrências/mês, valor este considerável dentro da meta
estipulada para empresa que é 5,3 ocorrências/mês.

Figura 9 - Número de ocorrências

Fonte: própria empresa.


O quadro 1 resume as vantagens que a empresa conquistou no uso da telemetria na gestão da frota depois da
implantação em 2015.

Quadro 1 - vantagens que a empresa conquistou com o uso da telemetria

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Fonte: própria empresa.


Como pode ser observado no quadro 2 referente a síntese das economias em termos
financeiros auferidos com a implantação e uso da tecnologia (telemetria), os resultados em
reais, proporcionados pela redução dos valores pagos com multas e também pela economia de
combustível, é muito superior ao gasto com a aquisição e manutenção dos equipamentos de
telemetria citados no início (R$ 70.720,00 referente a aquisição e R$ 5.760,00 mensais com
manutenção). Vale ressaltar que em linhas gerais a economia financeira real é superior ao
valor apresentado, pois neste não foram computados outros ganhos como menor desgaste dos
pneus, maior vida útil do veículo, etc.

Quadro 2 - Economia financeira que a empresa conquistou com o uso da telemetria

Fonte: própria empresa.

4. Conclusões
A empresa considera que o uso da telemetria é imprescindível para o desempenho de um
sistema logístico integrado por fundamentar a base para a tomada de decisão no ambiente
operacional.

A utilização da telemetria é motivada por diversas razões, dentre as quais se destacam o


aumento da produtividade, a segurança e o controle da frota, e o desenvolvimento dos fatores
humanos, consideradas neste processo como sendo os mais importantes para o cumprimento
das metas estipuladas pela empresa. A tecnologia permite uma retroalimentação imediata dos

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serviços prestados ao cliente assim como das ações de seus executores, estimulando a análise
e o aprendizado rápidos, com base nos indicadores.

Neste trabalho foi possível analisar a influência da telemetria no transporte rodoviário de


cargas, que proporcionou maior coordenação das atividades da transportadora e contribuiu
para a melhoria do nível de competitividade da organização, frente a um mercado cada vez
mais exigente.

A tecnologia da informação usada (telemetria) pôde auxiliar na redução de custos e na


otimização do transporte, uma vez que permitiu a agregação de valor aos serviços prestados
ao mesmo tempo que respondeu as demandas por melhores práticas de gerenciamento da frota
e de seus motoristas. Para realizar a implementação, a empresa investiu na customização dos
sistemas existentes com o sistema de telemetria. Também, com essa ferramenta, tornou-se um
diferencial para conquista de novos clientes.

REFERÊNCIAS
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htt://www.antt.gov.br. Acesso em: 3 jun. 2015.

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