Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
1. Introdução
A abertura econômica, na década de 90, apresentou um quadro favorável a competitividade no
setor automotivo. Houve um aumento significativo nas vendas de automóveis devido a
inserção de carros populares com preços relativamente mais baixos favorecendo o aumento da
demanda nas empresas. O crescimento desenvolveu-se de forma mais acentuada em meados
da década seguinte. Com as medidas adotadas pelo governo à época, cidadãos de baixa renda
puderam ter acesso a veículos mais novos e com valores mais elevados contribuindo
consideravelmente para o aumento do consumo de automóveis entre os brasileiros.
O presente estudo foi feito em parceria com uma empresa revendedora de automóveis, situada
na cidade do Rio de janeiro. Os proprietários desejam adquirir um sistema ERP que permita
gerenciar de forma integrada suas vendas, estoque, fluxo de caixa, contabilidade etc. No
entanto, diante da diversidade de softwares existentes no mercado e a extensa quantidade de
critérios para avaliar, decidir o mais adequado para implantar é uma tarefa complexa, que
2
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
envolve diversos fatores dificultando a seleção. À vista disso, o objetivo desta pesquisa é
auxiliar os gestores no processo de seleção do sistema de gestão que melhor atenda às
necessidades da empresa, utilizando o método AHP (AnalyticHierarchyProcess), que permite
a seleção ou a escolha de alternativas, em um processo que considera diferentes critérios
deavaliação, permitindo o julgamento dos critérios de forma qualitativa e quantitativa.É
considerado pela literatura um dos métodos de apoio a decisão mais reconhecidos e
difundidos cientificamente.
2. Referencial teórico
2.1 Enterprise resourceplanning (ERP)
No Brasil, os sistemas ERP são chamados de sistemas integrados de gestão empresarial e
passaram a ser largamente utilizados a partir da década de 1990. O crescimento expressivo
desses sistemas se deu ao fato de as empresas passarem por um ambiente de negócios
altamente competitivo, levando-as a buscarem novas alternativas para se manterem no
mercado.
Para Oliveira (2005), as ferramentas ERP são sistemas que agregam valor ao processo
administrativo e operacional e que coordena uma rede de bancos de dados, disponibilizando
aos usuários confiabilidade e uma resposta ágil em tempo real. Nesses bancos são
consolidadas todas as informações de uma empresa em um único sistema facilitando o fluxo
de informações entre os diversos processos existentes, desde o chão de fábrica até a alta
organização.
3
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Carvalho et al. (2009) afirmam que o ERP quando bem desenvolvido ajuda as empresas na
integração das tarefas executadas pelos seus vários departamentos, tais como finanças,
vendas, o monitoramento dos processos de materiais,logística, contabilidade, gestão da
qualidade e recursos humanos. Auxiliando os gestores na tomada de decisões e centralizando
as informações em um nível de acesso facilitado (MÜLLER e RAFALSKI, 2013). Dessa
forma, podemos afirmar que o ERP auxilia as empresas a alcançarem um de seus maiores
desafios que é controlar todos os seus processos e informações, garantindo agilidade e
eficiência nas atividades empresariais, pois é capaz de mensurar todos os detalhes do negócio,
em tempo real. Ademais, permite que as organizações tenham maior assertividade nas
tomadas de decisão e como resultado o sucesso nos negócios.
O ERP divide-se em módulos de informações que, na maioria das vezes, atendem quase todos
os departamentos, como mostra a Figura 1.
4
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Segundo Corrêa et al. (2009), além de um software de qualidade são necessárias mais três
condições para a obtenção do sucesso na implantação: O comprometimento da alta direção
com os objetivos da implantação; o treinamento intensivo e continuado em todos os níveis e o
gerenciamento adequado do processo de implantação.
Uma das explicações para o sucesso da pesquisa operacional no âmbito empresarial reside na
objetividade das técnicas que conformam seu arcabouço metodológico, instrumentalizadas na
prática por meio de modelos que tem a potencialidade de traduzir, de forma clara, objetiva e
estruturada, as situações problemáticas vivenciadas no dia a dia organizacional
(LONGARAY, 2013). É uma ferramenta com um grande potencial gerencial, pois possibilita
o fornecimento de informações essenciais aos gestores capazes de auxiliar nas tarefas de
planejar, organizar, executar, controlar e tomar decisões com mais eficiência e clareza. Sua
utilização tem sido estendida à: indústrias, indústria militar, economia, engenharia de
produção e civil, governos, hospitais, entre outros.
Para Santos et al. (2016) a Pesquisa Operacional atua em cinco grandes áreas que se inter-
relacionam, conforme a Figura 2.
5
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Quando uma decisão envolve critérios diferentes, algunscom juízo de valor e, logo,
subjetividade, interesses diferentes, algumas vezes conflitantes, várias alternativas de solução
e o dever de se obter uma solução de consenso, usam-se os métodos de decisão multicritério
(MultiCriteriaDecision Making – MCDM) (YU, 2011).
6
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
quando se propõe comparar entre si, várias alternativas de decisão, recorrendo ao uso de
múltiplos critérios.
A primeira etapa do método AHP é a construção de hierarquias. São três níveis de decisão,
sendo que o primeiro nível indica o objetivo do problema, o segundo exibe os critérios que
servirão de base para avaliação das alternativas e no terceiro nível estão as alternativas para a
solução do problema, conforme a Figura 3
7
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
De acordo com Saaty (1991), depois de definida a estrutura hierárquica de decisão, são
construídas as matrizes de comparação par a par, a partir dos julgamentos dos especialistas
apresentada na Tabela 1 e para atribuição dos pesos será utilizada uma escala de 1 a 9,
denominada Escala Fundamental de Saaty, como mostra a Tabela 2.
Critérios C1 C2 C3 C4 Prioridades
C1 1
C2 1
C3 1
C4 1
Total
Fonte: Saaty (1991)
Essas comparações são para obter os valores de importância ou prioridades entre os critérios,
ou seja, a proporção de domínio de um critério em relação ao outro. Observa-se que os
elementos da diagonal principal são iguais a 1, pois um elemento tem igual importância
quando comparado com ele próprio. Assim, a₁ ₁ = 1.
8
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Segundo Costa (2006), os dados desses julgamentos permitem o cálculo das Prioridades
médias locais, que tem como objetivo identificar as prioridades em cada nó de julgamento do
processo de decisão do problema. As Prioridades médias locais são as médias das linhas das
matrizes normalizadas e após calculadas, será possível verificar quais as alternativas
obtiveram as maiores prioridades de acordo com o critério julgado. Assim, a finalidade é
identificar um vetor de Prioridades global, que mantenha a prioridade associada a cada
alternativa em relação ao objetivo global. O cálculo da Prioridade global é obtido através da
média aritmética das linhas de cada um dos critérios.
Em seguida, é necessário fazer a verificação de consistência dos dados que é realizada através
do cálculo do maior autovalor da matriz (λMax). Este é encontrado a partir do somatório do
produto de cada elemento do vetor de prioridade pelo total da respectiva coluna da matriz
comparativa original(COSTA, 2006).Este valor é encontrado através da Equação 1.
Aw = λmáx.w(1)
Saaty (1991) propôso cálculo da razão de consistência dos julgamentos (RC) para confirmar
se a matriz pode ser considerada consistente. O RC é calculado com base no índice de
consistência (IC), que permite avaliar o grau de consistência da matriz de julgamentos
paritários e no índice de consistência aleatório (IA), que é obtido de forma randômica. O
cálculo da razão de consistência é representado pela Equação 2.
RC = IC/IA (2)
Onde,
9
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Para Saaty (1991), se o valor encontrado para a razão de consistência for menor ou igual a
0,1, então, a matriz de julgamentos é considerada consistente. Se for superior, as comparações
devem ser revisadas, pois podem existir inconsistências nos julgamentos.
3. Proposta de solução
10
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
a)Custo aquisição: Critério utilizado para demonstrar o valor do dispêndio total que a
empresa terá ao implementar a alternativa escolhida. Outros fatores também estão incluídos,
tais como, equipamentos necessários, customização etc. Não se limita somente ao valor do
produto. Em resumo, expressa todos os custos referentes a implantação do sistema;
c)Tempo de implantação: É o tempo que leva entre a aquisição do software até a utilização
plena da ferramenta; e
d)Suporte: Esse critério busca analisar a qualidade do suporte oferecido. Será verificado a
duração do tempo na resolução dos problemas ou dúvidas e qual a tecnologia utilizada para
esse atendimento.
Em seguida, foi feita uma pesquisa de mercado onde foram decididos os sistemas integrados
que devem ser considerados. Assim, foram analisadas três alternativas à luz de quatro
critérios. A Tabela 4 apresenta uma breve descrição desses sistemas.
11
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
Software especialista no
Software especialista no Software especialista no
setor automotivo, com
setor automotivo, setor automotivo, específico
reconhecido prestígio no
experiência há 5 anos no para pequenas empresas,
mercado, experiência há
mercado e atuando no atuando no estado do Rio de
15 anos e clientes em
estado do Rio de janeiro. janeiro.
vários locais do país.
Fonte: Autores (2019)
12
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
A seguir, foi feito a normalização dos valores apresentados na tabela matriz de decisão para
que todos os critérios tenham a mesma ordem de grandeza, resultando no somatório
ponderado de todos os critérios, conforme a Tabela 6.
A etapa seguinte consiste na realização dos julgamentos entre os critérios de acordo com a
Escala fundamental de Saaty. Para isso foi desenvolvido um questionário, o qual requisitava
que os administradores da empresa com base no conhecimento do negócio julgassem suas
prioridades em relação aos critérios apresentados. Através dessa coleta de dados obteve-se a
matriz de comparação paritária dos critérios de avaliação, denominada matriz de ponderação.
O resultado dessa avaliação é visto na Tabela 7.
13
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
É importante fazer a comparação entre os critérios, pois são eles que indicam qual é a melhor
opção segundo as preferências do decisor. A leitura da Tabela 7 aponta que:
Logo após os julgamentos, foi calculado o quociente de consistência da matriz, que teve o
valor inferior a 0,1, ou seja, abaixo do limite estipulado, concluindo que os resultados
encontrados foram considerados consistentes.
A última etapa do AHP consiste na síntese de prioridades. Foi feito a normalização da matriz
de ponderação que consiste em dividir cada elemento da matriz pelo total de sua coluna. Em
seguida calcular o vetor prioridade que é obtido através do cálculo das médias das linhas da
matriz de ponderação normalizada. A Tabela 8 apresenta a matriz de ponderação normalizada
em conjunto com seu vetor prioridade.
14
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
A partir deste resultado, é preciso multiplicar a matriz de decisão normalizada que se encontra
na Tabela 6 pelo vetor prioridade mostrado na Tabela 8, conforme a expressão a seguir:
4. Resultados
Ao final da aplicação do AHP, de acordo com o conjunto de informações apresentadas pelos
gestores, a metodologia permitiu o ranqueamento dos softwares disponíveis e, como resultado
final, o sistema Autoline apresentou-se como o mais adequado, uma vez que reuniu um
conjunto de características qualificadoras determinantes para a sua escolha. A análise da razão
de consistência apontou um resultado dentro dos padrões estipulados, assegurando que as
informações são precisas e que as premissas do método foram respeitadas. Dessa forma, o
sistema Autoline foi o escolhido para ser o sistema de gestão da empresa,como pode ser
observado na classificação a seguir.
15
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
5. Considerações finais
A aplicação do método da análise hierárquica como ferramenta auxiliar na tomada de decisão
resultou na ordenação das alternativas disponíveis. Para isto, foi feito uma análise detalhada
dos critérios e subcritérios estabelecidos pelos administradores da organização, de acordo com
a estratégia da empresa. O resultado encontrado levou em consideração três potenciais
softwares previamente selecionados, quatro critérios principais e considerou para cada critério
um nível de preferência diferenciado, com base na escala fundamental de Saaty, que
funcionou como peso para diferenciar o grau de importância de cada um.
As comparações par a par podem constituir erros nos julgamentosdos decisores, Entretanto, o
método AHP possibilita a realização de um teste para a confirmação da consistência dos
valores atribuídos nessas comparações, o qual foi realizado e resultou em um grau de
consistência aceitável e de acordo com as premissas previstas no modelo, confirmando assim
a alternativa indicada.
Assim, pode se afirmar que a pesquisa realizada cumpriu o seu objetivo na medida em que
conseguiu selecionar um sistema ERP para uma revendedora de automóveis, por meio do
método AHP, conferindo maior transparência e robustez ao processo decisório.
REFERÊNCIAS
ABREU, A. O.; CAMPOS, R. O método AHP/ABC aplicado em uma indústria de serviços. In: XXVII Encontro
Nacional de Engenharia de Produção, 2007. Foz do Iguaçu – PR. Anais do Encontro Nacional de Engenharia
de Produção - ENEGEP, 2007.
ANDRADE, E. L. Introdução à Pesquisa Operacional: Métodos e modelos para análise de decisões. 4 ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2009.
CORRÊA, H.; GIANESI, I. G. N.; CAON, M. Planejamento, programação e controle da produção: MRP
II/ERP - conceitos, uso e implantação. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
COSTA, H. G. Auxílio multicritério à decisão: método AHP. Rio de Janeiro: ABEPRO, 2006.
16
XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. 22 ed. São Paulo: Atlas,
2005.
VOLLMAN, E.T. et al. Sistemas de Planejamento & Controle da Produção para o gerenciamento da
Cadeia de Suprimentos. 5 ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
Yu, A. S. O. Tomada de decisão nas organizações: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2011.
ZWICKER, R.; SOUZA, C.A. (2003). Sistemas ERP: conceituação, ciclo de vida e estudos de casos
comparados. In: SOUZA, C.A.; SACCOL, A.Z. (Org.). Sistemas ERP no Brasil: teoria e casos. São Paulo:
Atlas, 2003.
17