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1. Introdução
A busca por competitividade trazida pelo aumento da concorrência no mercado globalizado
foi um motivador para o desenvolvimento de técnicas e de sistemas de produção que
permitissem reduzir custos, aumentar a produtividade e qualidade dos produtos ou serviços.
Dentre as estratégias que surgiram no século XX para vencer a feroz concorrência
internacional, algumas consolidaram-se como excelentes meios para melhorias de processos e
aumento da lucratividade das empresas. Um exemplo foi o Lean Manufacturing, ou Produção
Enxuta, que foi responsável pelo sucesso do Sistema Toyota de Produção, referência para o
desenvolvimento da indústria automobilística naquele século (ANTUNES, 2008). Outro caso
de sucesso é o Seis Sigma, que foi criado na década de 1980 por Bill Smith na Motorola e se
destacou pelos resultados expressivos conseguidos por Jack Welch na General Electric (GE)
nos anos 1990 (SHAFER; MOELLER, 2012).
Essas duas metodologias são voltadas para melhoria de processos para geração de valor ao
serviço, além de serem complementares na medida em que o Lean proporciona mudanças
rápidas para aumento da produtividade e o Seis Sigma utiliza, para melhoria da qualidade,
ferramentas estatísticas e o ciclo DMAIC, que é constituído pelas etapas: Definir (Define),
Medir (Measure), Analisar (Analyze), Melhorar (Improve) e Controlar (Control). O
alinhamento e a afinidade entre os dois métodos fizeram surgir uma nova metodologia
estruturada sobre a combinação da filosofia e das ferramentas de ambos: o Lean Seis Sigma
(ARNHEITER; MALEYEFF, 2005).
Apesar de haver preocupação cada vez maior com a gestão das operações nas empresas
brasileiras a fim de atender às exigências do mercado globalizado, ainda é possível encontrar
no seu dia-a-dia diversos processos que são realizados sem o nível de planejamento e controle
necessários para obter a sua máxima eficiência e atingir de forma satisfatória os requisitos dos
seus clientes internos e externos.
No caso do transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP), objeto deste estudo, é importante
considerar o custo e o prazo de entrega ao cliente. Consumidores residenciais geralmente não
mantêm botijão reserva em suas casas, portanto, necessitam do produto novo imediatamente
após sua solicitação para a continuidade de suas atividades de cocção. Já clientes empresariais
costumam ter produtos estocados, especialmente quando o GLP é essencial para o
funcionamento do negócio, como é o caso de restaurantes e lanchonetes, por exemplo. Ainda
assim, o dia e o horário de entrega não deixam de ser requisitos de muitos desses clientes, por
isso faz-se necessário um bom planejamento para que o atendimento seja satisfatório.
Este trabalho tem como objetivo aplicar o Lean Seis Sigma para melhoria dos processos de
venda e entrega do segmento industrial envasado de uma distribuidora de GLP em
Aracaju/SE, que corresponde às vendas diretas da companhia aos restaurantes, lanchonetes,
fábricas e outras empresas da região metropolitana da capital de Sergipe. Definiu-se como
metas aumentar em 50% a margem líquida e reduzir em 30% o tempo médio de saída (TMS)
da equipe de entrega do industrial envasado com uso da metodologia Lean Seis Sigma.
2. Lean Seis Sigma
Lean Manufacturing consiste em eliminar desperdícios, que são entendidos como tudo aquilo
que não agrega valor ao cliente, bem como trazer maior velocidade aos processos da empresa.
O objetivo é produzir mais utilizando menos recursos, motivo pelo qual ficou conhecido
como Produção Enxuta (WERKEMA, 2006).
Já o Seis Sigma pode ser entendido como uma estratégia gerencial com o objetivo de
aumentar a lucratividade das empresas a partir da melhoria dos seus processos e orientação
aos clientes internos e externos. A sua metodologia baseia-se no ciclo DMAIC, com uso
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Essas ferramentas podem ser utilizadas em conjunto de modo que uma complemente a
aplicação das outras. O Mapa do Processo auxilia o levantamento das causas potenciais do
problema que são plotadas no Diagrama de Ishikawa, cujas variáveis de entrada podem ser
avaliadas em relação ao seu impacto nos indicadores-chave do processo e ao esforço
necessário para eliminá-las com uso da Matriz de Causa e Efeito e, em seguida, plotadas na
Matriz de Esforço versus Impacto para sugerir estratégias de priorização do tratamento das
causas que apresentem maior impacto e menor esforço de eliminação (WERKEMA, 2012).
Nessa fase é medido o nível sigma do processo, por meio da análise de sua capabilidade.
Porém, é necessário antes verificar se os dados coletados seguem uma distribuição normal,
com uso da estatística P-valor, que indica a adequação dos pontos à distribuição normal. Se
esse índice for superior a 0,05, a distribuição é normal e a capacidade pode ser analisada.
Caso contrário, os dados devem ser normalizados (MONTGOMERY et al., 2009). O
procedimento pode ser resumido de acordo com a Figura 2.
Figura 2 - Etapas para análise de capacidade de um processo
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Os softwares utilizados foram o Microsoft Excel, para tratamento de dados e registros; Bizagi
Modeler, no desenho do mapa do processo; e Minitab 17, para análises estatísticas e plotagem
de gráficos.
5. Resultados e discussão
5.1 Fase de definição
Inicialmente, foram definidos margem líquida e TMS como CTPs e prazo de entrega como
CTQ. Realizou-se também o mapeamento do macroprocesso. Este consiste em receber o
pedido do cliente, preencher a Autorização de Carga para Controle (ACPC) com as
informações necessárias à emissão de nota fiscal, após a qual ocorrem as vendas e, por fim,
realizar o faturamento pós-venda. Assim, foi construído o Diagrama SIPOC do Industrial
Envasado, conforme a Figura 4.
Figura 4 - SIPOC do Industrial Envasado de Aracaju/SE
S I P O C
Customers
Suppliers Inputs Process Outputs
CONSUMIDORES /
FORNECEDORES INSUMOS PROCESSO PRODUTOS
CLIENTES
PEDIDO DE GÁS LP
CLIENTE CAPTAÇÃO DE PEDIDOS
ENVASADO
EMITISSÃO DE NOTA
CONFERENTES ACPC
FISCAL
CONSUMIDOR
VASILHAMES VAZIOS INDUSTRIAL
CLIENTE ENVASE DE PRODUTOS
GLP
PRODUTOS ENVASADOS
PRODUTOS ENVASADOS DESCARREGAMENTO/
NOTAS FISCAIS
PRODUÇÃO VEÍCULO POSICIONADO À CARREGAMENTO DE
LANÇA VEÍCUO
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antecipada por meio de vale gás. Assim, esse indicador foi tratado com base em seu valor
médio e não foi alvo de estudos de variabilidade. Seus dados estão apresentados na Figura 5.
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Para a margem líquida, foram encontradas 14 causas potenciais, sendo a maior parte delas
enquadrada na categoria “método”, como mostra a Figura 9:
Figura 9 – Diagrama de Ishikawa para margem líquida baixa
Método Mão-de-obra Medição
Método Mão-de-obra
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de saída
Impacto Esforço para
baixa
Causas potenciais levantadas total da eliminar a
causa causa
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Em relação ao TMS, houve uma redução de 39%, com queda de 90 minutos entre agosto e
dezembro de 2014 para 55 minutos de janeiro a junho de 2015. Além da média, a
variabilidade do processo também reduziu bastante, apresentando quantidade muito menor de
pontos fora da curva e de variação do indicador comum, como mostra a Figura 15.
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200
Tempo de saída
150
100
50
Antes Depois
C2
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controle, o que significa que as causas comuns de variação do processo passaram a gerar
menores oscilações, conforme a Figura 18.
Figura 18 - Cartas de controle do tempo de saída
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OBJETIVO DO PROJETO
Aumentar a margem líquida e reduzir tempo médio de saída da operação de venda e entrega para
clientes empresariais de P-13, P-20 e P-45 (industrial envasado)
JUSTIFICATIVA / HISTÓRICO
O menor tempo de saída e maior agilidade do processo aumentaram a capacidade de entrega da equipe.
Apesar da perda de um grande volume de vendas de vale gás no ano de 2014, o melhor desempenho do
processo permitiu a captação de um volume adicional que compensou tal perda e possibilitou um
aumento de margem bruta, já que o preço de venda diretamente ao consumidor é superior.
A programação dos pedidos e consequente redução de distâncias percorridas de forma desnecessária
conferiu maior eficiência à operação.
A área comercial passou a ter maior controle sobre as vendas, assim como o faturamento eficiente para
os clientes eliminou perdas devido a uma precificação mais assertiva.
As maiores dificuldades encontradas foram referentes à demanda a outras áreas, que não veem a
operação como prioridade, bem como à mudança de hábitos dos clientes que estavam acostumados a
tratar diretamente com os motoristas, que lhes conferiam maior flexibilidade às entregas e ao
faturamento.
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