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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE JORNALISMO

RENATA DE JONAS BASTOS

O PALHAÇO EM FOTOFILME

Campo Grande
2010
RENATA DE JONAS BASTOS

O PALHAÇO EM FOTOFILME

Trabalho experimental apresentado como requisito parcial


para aprovação no curso de Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo/UFMS

Orientador Prof. José Márcio Licerre


Co-orientador Prof. Dr. Mario Ramires

Campo Grande
2010
RESUMO

Este trabalho experimental procurou explorar as potencialidades de significação da técnica


cinematográfica, fotofilme, como alternativa de suporte digital para a reportagem jornalística.
A principal motivação está ligada à observação das novas exigências do mercado midiático
atual, que parecem apontar cada vez mais para produtos híbridos e para a convergência dos
meios.
Na construção de sentido da narrativa buscou-se o fotojornalismo como base, através do
estudo dessa linguagem. Objetivou-se trabalhar as imagens não apenas de forma ilustrativa e
o áudio não como pano-de-fundo, mas de tal forma que trouxessem informações, principal
objetivo do Jornalismo.
O resultado final foi a produção de uma reportagem no suporte fotofilme. O palhaço Pedro
Paulo Quadrini foi escolhido como personagem por motivações de gosto pessoal da autora
pelas artes circenses e também pela riqueza de imagens e sons, materiais elementares para a
construção desta narrativa. Preferiu-se dar voz a uma pessoa anônima, para que esta contasse
algo de universal e atual.

Palavras-chave: fotofilme, fotojornalismo, palhaço, multimídia


ABSTRACT

This work aimed to explore the potential significance of the cinematographic technique,
photofilm as an alternative to digital media news story. The main motivation is linked to
observation of the new requirements of the current media market, which seem to aim more for
hybrid products and media convergence.
In the construction of meaning in narrative sought to photojournalism as a basis, through the
study of this language. The objective was to work the images not only as an illustration and
not as audio rags-to-bottom, but in such a way to bring information, the main objective of
Journalism.
The end result was the production of a report in support photofilm. The clown Quadrini Peter
Paul was chosen as a character motivated by personal taste of circus arts by the author and
also by the wealth of images and sounds, basic materials for the construction of this narrative.
Preferred to give voice to an anonymous person to tell that this is something universal and
current.

Keywords: photofilm, photojournalism, clown, multimedia


5

SUMÁRIO

RESUMO 3
ABSTRAT 4

INTRODUÇÃO 6
DESENVOLVIMENTO 8
2.1 FOTOFILME, AUDIOFOTOGRÁFICO OU 9
ÁUDIO SLIDESHOW
2.2 JORNALISMO 11
2.3 FOTOJORNALISMO 12
2.4 O USO DA LINGUAGEM DO 15
RADIOJORNALISMO
2.5 FOTOJORNALISMO NO FOTOFILME 16
2.5.1 PROCESSO DE CRIAÇÃO NO 17
FOTOJORNALISMO
2.6 CRIAÇÃO DO FOTILME 18
2.7 TEMA 19
MATERIAIS E MÉTODOS 23
3.1 PERÍODO PREPARATÓRIO 23
3.2 EXECUÇÃO 24
3.3 ALTERAÇÃO DO PLANO DE TRABALHO 27
RESULTADOS E DISCUSSÕES 30
4.1 DIFICULDADES ENCONTRADAS 31
4.2 ORÇAMENTO/DESPESAS 32
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA 36
6.1 LIVROS 36
6.2 PERIÓDICOS 36
6.3 OUTROS DOCUMENTOS 36
6.4 REDES, SITES E OUTROS 37
6.5 E – BOOCK 37
6.6 FILMES 37
6.7 ENTREVISTAS 37
6.7.1 ENTREVISTAS INFORMAIS ABORDANDO O 37
TEMA DO CIRCO NO MATO GROSSO DO
SUL
6.7.2 ENTREVISTAS INFORMAIS PARA A 37
DECISÃO DOS PROGRAMAS UTILIZADOS
PARA EDIÇÃO
ANEXO 1 39
ANEXO 2 41
ANEXO 3 43
ANEXO 4 56
6

INTRODUÇÃO

Este produto experimental pretende explorar as potencialidades de significação da


técnica de animação de som e imagens, como suporte, na construção das reportagens
jornalísticas. A principal motivação está ligada à observação das novas exigências do mercado
midiático atual, que parecem apontar cada vez mais para a convergência das linguagens e dos
meios.

No decorrer do trabalho decidi usar os três termos mais encontrados nas literaturas estudadas
para designar esta técnica audiovisual, conforme melhor se encaixassem em cada citação.
Quando falo de fotofilme, me refiro às produções cinematográficas, já quando uso o termo
áudio slideshow1 e audifotográfico, estou falando da área de produção no Jornalismo.
Entretanto, os três termos se referem a técnicas e princípios de construção semelhantes.

Lembrando que o objetivo do trabalho é explorar as potencialidades específicas do fotofilme,


ou seja, da técnica que o cinema usa para animar fotografias, as transições de imagens, a
combinação de sons, as potencialidades utilizadas do som para produzir ambientação. Enfim,
recursos que até então se fizeram mais presentes no uso dessa técnica nas produções
cinematográficas do que nas Jornalísticas.

No cinema da década de 60 essa técnica audiovisual foi utilizada como alternativa para ditar
ritmo à narrativa. Outros cineastas experimentaram o fotofilme como suporte único para
contar suas histórias. Sobre eles falo adiante. No Jornalismo o audiofotográfico ou áudio
1
slideshow vem sendo utilizado como suporte para notícias que rendem uma profundidade
maior, entretanto, de forma ainda tímida.

1
No artigo apresentado no Intercom 2009 “Áudio slideshow como formato para reportagens multimídia:
primeiras aproximações” de autoria de Marcelo Freire Pereira de Souza e Rodrigo Carreiro, os autores tomam
como áudio slideshow dois tipos de produção na Web. A que o leitor ouve o áudio e enquanto isso pode escolher
as fotos que vê, formato apresentado nas galerias de imagens. Bem como a produção “fechada”, por assim dizer,
onde os elementos áudio e imagens estão criando juntos a narrativa da reportagem, a qual nos interessa para este
trabalho experimental.
7

O mercado jornalístico está voltado às multimídias e à linguagem. Sendo assim a animação de


imagens em conjunto com o áudio pode configurar uma alternativa para apresentação de
reportagens, ou seja, notícias com aprofundamento, como vamos delimitar no próximo tópico.
Ressaltando-se aqui o baixo custo de produção dessa técnica.

Para a escolha do tema desta reportagem foi levado em conta que tivesse um forte apelo
visual e auditivo, e que desse gancho para uma reportagem jornalística na qual se pudessem
explorar as diversas potencialidades do fotofilme como narrativa de informações. Assim, o
tema escolhido foi arte circense, mas o personagem principal foi alterado durante a execução
do trabalho, como já explicado no item anterior (4).
8

DESENVOLVIMENTO

Este produto experimental pretende explorar as potencialidades de significação da técnica de


animação de som e imagens, como suporte, na construção das reportagens jornalísticas. A
principal motivação está ligada à observação das novas exigências do mercado midiático
atual, que parecem apontar cada vez mais para a convergência das linguagens e dos meios.

No decorrer do trabalho decidi usar os três termos mais encontrados nas literaturas estudadas
para designar esta técnica audiovisual, conforme melhor se encaixasse em cada citação.
Quando falo de fotofilme, me refiro às produções cinematográficas, já quando uso o termo
áudio slideshow1 e audifotográfico, estou falando da área de produção no Jornalismo.
Entretanto, os três termos se referem à técnicas e princípios de construção semelhantes.

Lembrando que o objetivo do trabalho é explorar as potencialidades específicas do fotofilme,


ou seja, da técnica que o cinema usa para animar fotografias, as transições de imagens, a
combinação de sons, as potencialidades utilizadas do som para produzir ambientação. Enfim,
recursos que até então se fizeram mais presentes no uso dessa técnica nas produções
cinematográficas do que nas Jornalísticas.

No cinema da década de 60 essa técnica audiovisual foi utilizada como alternativa para ditar
ritmo à narrativa. Outros cineastas experimentaram o fotofilme como suporte único para
contar suas histórias. Sobre eles falo adiante. No Jornalismo o audiofotográfico ou áudio
2
slideshow vem sendo utilizado como suporte para notícias que rendem uma profundidade
maior, entretanto, de forma ainda tímida.

O mercado jornalístico está voltado às multimídias e à linguagem. Sendo assim a animação de


imagens em conjunto com o áudio pode configurar uma alternativa para apresentação de

2
No artigo apresentado no Intercom 2009 “Áudio slideshow como formato para reportagens multimídia:
primeiras aproximações” de autoria de Marcelo Freire Pereira de Souza e Rodrigo Carreiro, os autores tomam
como áudio slideshow dois tipos de produção na Web. A que o leitor ouve o áudio e enquanto isso pode escolher
as fotos que vê, formato apresentado nas galerias de imagens. Bem como a produção “fechada”, por assim dizer,
onde os elementos áudio e imagens estão criando juntos a narrativa da reportagem, a qual nos interessa para este
trabalho experimental.
9

reportagens, ou seja, notícias com aprofundamento, como vamos delimitar no próximo tópico.
Ressaltando-se aqui o baixo custo de produção dessa técnica.

Para a escolha do tema desta reportagem foi levado em conta que tivesse um forte apelo
visual e auditivo, e que desse gancho para uma reportagem jornalística na qual se pudessem
explorar as diversas potencialidades do fotofilme como narrativa de informações. Assim, o
tema escolhido foi arte circense, mas o personagem principal foi alterado durante a execução
do trabalho, como já explicado no item anterior (4).

2.1. FOTOFILME, AUDIOFOTOGRÁFICO OU ÁUDIO SLIDESHOW

O fotofilme é uma técnica que mais se aproxima da animação, pelo fato de também ser
concebida quadro a quadro. Por isso, recebe ainda o nome de “fotografia de animação” ou
áudio slideshow e audiofotográfico, no Jornalismo. A técnica é a junção de uma seqüência de
imagens organizadas em conjunto com sons, sejam eles, música, ruídos ou falas de uma
entrevista. As imagens e o áudio se inter-relacionam para criarem uma narrativa
cinematográfica. O fotofilme assemelha às histórias em quadrinhos, mangás, e fotonovelas,
onde também existe mais de uma linguagem, que constrói a narrativa.

Esta técnica também encontra espaço em peças publicitárias, clipes, aberturas de filmes e
vinhetas de seriados exibidos na televisão, trabalhos de curta duração que podem ser
desenvolvidos dentro de pequenas estruturas produtivas. No âmbito de uma produção
cinematográfica, os limites impostos pelos recursos financeiros disponíveis são decisivos,
assim o fotofilme é uma alternativa “barata”, o que não significa, entretanto, que tenha um
potencial expressivo inferior ao de uma técnica mais “cara”.

Um dos pioneiros no desenvolvimento e produção de fotofilme no Brasil é o físico Marcello


Tassara. Suas experiências nos mostram que não se deve desprezar as proximidades da
técnica com a do cinema em vídeo continuo, que é formado, “em sua essência, por fotografias
que, colocadas em seqüência em um ritmo rápido, ganham vida, são animadas pelo toque
‘mágico’ do movimento contínuo”, destaca ELIAS (2009).
10

Em 1978, o físico Tassara realiza, como produto de pesquisa do mestrado, o filme


experimental Abeladormecida, uma animação com apenas uma fotografia. Tassara busca a
imagem dentro da imagem, chegando aos grãos de prata da única foto que compõe o filme de
13 minutos. O animador - editor da animação fotográfica, multiplica o material que tem em
mãos usando a table top, aparelho utilizado antes da era digital, que permite filmar as imagens
impressas em material fotográfico fixadas na mesa.

A câmera ficava acoplada em um eixo paralelo ao tampo da mesa, de maneira que pudesse
descer e subir, assim obtendo zoom e mergulhos de efeitos cinematográficos. O texto
escolhido para compor a narrativa foi Finnegans Wake, de James Joice em conjunto às
músicas Ommagio a Joyce, do compositor italiano Luciano Berio e a música para balé A Bela
Adormecida, op.66, de Tchaikovsky.

Uma das experiências mais conhecidas realizadas no cinema é o filme La Jetée (1962), onde
Chris Marker cria uma narrativa fictícia unindo fotografias ao áudio e utiliza movimentos
cinematográficos, por meio da table-top para construir uma narrativa. Na mesma época, o
cinema fez uso desta técnica em passagens, como no filme Dois homens e um destino - Butch
Cassidy and the Sundance Kid, de George Roy Hill (1969). Onde as fotografias ditam ritmo à
narrativa no momento em que os personagens saem de Nova Iorque para Bolívia. As imagens
envelhecidas artificialmente ganham um significado importante para a construção da obra,
pois os ladrões deixam no passado, nas fotos, a vida boa, para então viver em fuga.

Recentemente, o cinema iraquiano também usou a técnica do fotofilme em Quem quer ser
milionário (2008). A seqüência de planos estáticos dita um ritmo frenético à história.
Entretanto, atualmente com os programas de edição de vídeo e imagem, não é necessário
utilizar a table top, capturando quadro a quadro. Digitalmente pode-se animar e manipular as
imagens e o som por meio de programas como Vegas, FinalCut, Cinelerra, ou mesmo
software simples como Windows Movie Maker, o qual se tornou acessível a população, sendo
possível criar animações caseiras de fotografias e músicas se utilizando dos efeitos básicos
disponíveis, como movimentos de câmera, zoom out e zoom in.
11

2.2. JORNALISMO

José Marques de Melo (1994:65) acredita que a reportagem “é o relato ampliado de um


acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são percebidas
pela instituição jornalística”. Entendemos por reportagem, ampliar o conteúdo informativo
agregando imagens, ambientes sonoros, entre outros elementos que contribuam para a
narrativa.

Ou ainda como destaca Nilson Lage (199:149) o processo de informar pela reportagem passa
da mera construção de mensagem para se concretizar em conteúdo, o qual está inserido em
“Plataformas digitais e produtos, como telefones celulares com acesso a Internet, câmeras de
vídeo, player de áudio” conforme ressalta Nelia R. Del Bianco (2010:03). Assim, os
profissionais da área da comunicação devem procurar desenvolver produtos que atendam a
demanda multimídia do mercado.

Sabemos que como afirma Gilmar R. Silva (2010:84) “O assunto é mobile, esqueça o papel,
concentre-se nas telas digitais. Telas de diferentes formatos, tamanhos e tecnologias.” Logo, o
fotofilme pode configurar uma alternativa para apresentação de reportagens, ou seja, desses
conteúdos que expandem a notícia, trazendo conteúdos ampliados, de tal maneira que o
profissional de jornalismo precisa pesquisar em diferentes fontes, documentais, pessoais, pela
observação direta dos fatos, só para citar alguns mais trabalhados pelo professor Edson Silva.

Em palestra ministrada no Festival de Arte e Tecnologia 2.0 de Campo Grande, a autora Lúcia
Santaella ressaltou que hoje em dia qualquer um dá a notícia por Twitter, Facebook, entre
outras ferramentas de comunicação instantânea em redes. Assim, cabe ao Jornalismo
encontrar sua função, que antes era a de informar. Pensando nisso é que acreditamos que
buscar diferentes elementos narrativos, para abranger o maior número de informações
possíveis dentro da proposta de reportagem, pode ser um caminho para o Jornalismo.
Aprofundar-se no fato, partindo da notícia para a reportagem, que forma conteúdos mais
complexos.

SOUZA (2002:06) ainda afirma a importância de se conhecer a linguagem que está


trabalhando. “A qualidade, performance e facilidade de utilização das modernas máquinas
fotográficas e do software de tratamento de imagem torna mais importante conhecer e
12

dominar as linguagens do que os equipamentos.”. No caso do fotofilme é uma linguagem


própria que integra o cinema à fotografia, ao passo que o primeiro já é uma linguagem híbrida
quando usa o áudio e o visual para construir sentido.

Neste cenário podemos observar que as fronteiras entre mídias e linguagens estão cada vez
menos perceptíveis. É importante conhecermos e fazermos uso das diversas linguagens
híbridas as quais encontramos para informar, construindo narrativas mais complexas,
agregando os sons em suas diversas nuances á imagem, também em suas diferentes
possibilidades de significação e construção de sentido.

O fotofilme que propomos neste trabalho, como suporte para reportagens jornalísticas, traz
em seu cerne o fotojornalismo, para que se sustente como uma produção da área de
Jornalismo. Mas também ganha sentido, a partir do estudo da linguagem do radiojornalismo,
em não menos importância para a construção narrativa, como apresentamos nos próximos
dois capítulos.

2.3. FOTOJORNALISMO

A base diferencial na utilização do fotofilme como suporte deste trabalho experimental de


reportagem jornalística é a construção da linguagem fotográfica, que o diferencia dos
fotofilmes cinematográficos, e pode ser qualificada como fotodocumentarismo, uma vertente
do fotojornalismo.

A diferença do fotojornalismo para fotodocumentarismo está na criação de projeto. Enquanto


o primeiro trabalha com imagens inesperadas, dos fatos imediatos de uma notícia, o segundo
pode organizar um projeto sobre o tema que será fotografado, pesquisar e refletir, para então
ir a campo capturar como este tema se relaciona com o meio no qual está inserido.
Independente disso, “fazer fotojornalismo ou fazer fotodocumentarismo é, no essencial,
sinônimo de contar uma história em imagens”, ressalta Sousa (2004:12)”

O fotojornalismo é uma atividade sem fronteiras claramente delimitadas. Entretanto, pode-se


dizer que tem por finalidade primeira, informar. O reporter-fotográfico utiliza a fotografia
13

para observação, análise e para emitir opinião sobre o fato a partir da construção da
linguagem fotográfica, ou seja, a criação de sentido.

Numa produção de fotofilme voltada à publicidade, a linguagem utilizada para construção de


sentido das imagens é a de persuasão, ou seja, a fotografia de publicidade, a qual tem como
principal objetivo levar o leitor da imagem a consumir o produto/marca. Já em um fotofilme
utilizado para o cinema, a linguagem empregada é a cinematográfica, e assim por diante.

Existem alguns elementos que contribuem para a formação da narrativa através de imagens.
Esses elementos devem ser conhecidos pelo fotojornalista para que ele possa ter domínio da
informação que está capturando. Entre esses está o enquadramento, que corresponde ao
espaço da realidade visível representada na fotografia. Quando se faz um recorte, está se
reenquadrando. Normalmente para que a informação principal seja ressaltada retira-se os
elementos que desviem a atenção de quem lê a imagem. No fotofilme, ao aproximarmos uma
imagem, ou nos distanciarmos dela, estamos reenquadrando.

Outra classificação da disposição dos elementos numa imagem é apontada por SOUSA
(2004:68):

- Plano Geral - são planos abertos, fundamentalmente informativos, que representam a


ambientação. Ideal para eventos de massas e paisagens. Aqui o próprio cenário pode ser o
personagem da narrativa;
- Plano de Conjunto - são planos gerais mais fechados, podendo-se identificar claramente
ações dentro dele;
- Plano Médio – pode-se identificar personagens, é um plano mais próximo. Um plano,
considerado pelo autor, próximo da visão “objetiva” do fato;
- Grande Plano – esses enfatizam detalhes, como expressões de pessoas.

Outro ponto importante em relação aos planos são os ângulos em que a imagem é capturada.
Assim podemos classificar o plano normal, como a visão mais “objetiva”, um ângulo paralelo
ao tema fotografado. Já os planos picado e contrapicado, se referem a imagens,
respectivamente, capturadas de um ângulo acima e abaixo do tema.
14

Quando temos um plano capturado abaixo do eixo da imagem, pode-se considerar que o
motivo fotografado é valorizado, exaltado, mostra grandeza. Já na posição contrária,
fotografando-se por cima o objeto, a imagem carrega o sentido de inferiorização. Logo, fica
clara a relação da disposição dos elementos no espaço da realidade visível representada na
fotografia com a idéia ou sensação que se quer passar ao leitor da imagem.

Dentro deste plano de enquadramento temos os elementos de composição que transmitem


uma idéia ou uma sensação. Na fotografia existem zonas de atração, que podem ser
determinadas pela regra dos terços, ou seja, divide-se a imagem igualmente em duas linhas
horizontais e duas verticais, que se cruzam formando pontos de atração visual.

Para se obter uma mensagem mais dinâmica prioriza-se o desequilíbrio de composição nestes
pontos. Já se a intenção é estaticidade, prefere-se uma imagem equilibrada, a qual apresente
simetria. O olho humano, principalmente o ocidental, percorre a imagem em forma de “Z”.
Sua atenção passa do canto esquerdo superior para o direito, e cruza a fotografia chegando ao
canto inferior esquerdo, por último segue ao campo direito inferior.

Entretanto, alguns elementos presentes na imagem podem fazer com que o leitor faça um
percurso diferente do habitual. Por exemplo, objetos que formem linhas de condução, como
uma linha diagonal da direita para esquerda até o motivo principal da imagem. Esta linha
conduz o olhar.

Outros elementos podem ser destacados, como o claro e o escuro, as manchas ou sombras,
pontos, contraste de cor, texturas, e o enfoque, ressaltando aqui a profundidade de campo, que
é a distancia entre os pontos nítidos mais próximos e os mais distantes do ponto focado.

Entretanto a fotografia ontologicamente, como destaca Sousa (2004:12), é incapaz de oferecer


determinadas informações. Logo é necessário uma segunda linguagem, texto ou som, que
possa indicar o sentido da mensagem impressa pela reporter-fotográfico. Um exemplo citado
pelo autor é que a fotografia não consegue mostrar conceitos abstratos como a "inflação". Por
mais que se fotografe etiquetas de preços, o leitor da imagem precisa de uma indicação.

No suporte fotofilme a indicação para o sentido da imagem é o áudio, que assim como a
fotografia tem sua própria criação de sentido. O silêncio tem um sentido, a mudança de tom,
15

de altura, todas as nuances criam um sentido à narrativa. Em conjunto com a imagem, o áudio
conta uma história, mostra sua ambientação, seus personagens, as ações que eles exercem.

2.4. O USO DA LINGUAGEM DO RADIOJORNALISMO

Partindo-se da avaliação, do artigo de André Zielonka e Mônica Kaseker, sobre o que foi
produzido no Núcleo Caixola de Projeções Audiofotográficas, identifica-se o uso do áudio
apenas como forma musical, fotografias em sucessão simples sem movimentos
cinematográficos. E a falta de elaboração, de complexidade nas narrativas. Conclui-se no
artigo que esta “linguagem tem muito a ser desenvolvida e explorada”.

Identificando esta constatação, decidiu-se buscar no radiojornalismo a linguagem de um áudio


com maior riqueza de informações, desde os ruídos do ambiente, às músicas, falas. Recursos
como volume dos diferentes áudios na composição da narrativa. A linguagem do rádio tem
grande proximidade da fala cotidiana, assim possui características próprias que segundo
Ortriwano (1985:78), é o meio de comunicação mais privilegiado pelas peculiaridades
intrínsecas a ele. A autora divide e apresenta oito dessas características e para este trabalho
ressaltamos apenas quatro.

A linguagem oral permite que o ouvinte receba a informação e possa fazer outras atividades,
como, por exemplo, ver a narrativa fotográfica do fotofilme. Outro ponto importante é que
não é necessário que o ouvinte seja alfabetizado para que receba e processe, dentro de suas
experiências, a mensagem falada. Além do mais o rádio tem a magia de envolver o ouvinte,
fazendo-o participar da narrativa, da criação do ambiente, a partir de um “diálogo mental”
(1985:80), o que se caracteriza por sensorialidade. Desperta a imaginação através da
sonoplastia e dos recursos emocionais das palavras. Por tanto permite que a mensagem tenha
nuances individuais.

Destacamos também o baixo custo de produção do rádio em comparação à TV e aos veículos


impressos. Outra característica, que se aplica perfeitamente para o momento em que estamos
vivendo é a instantaneidade. Os fatos podem ser captados e transmitidos no momento em que
ocorrem, “O rádio permite trazer o ‘mundo’ ao ouvinte enquanto os acontecimentos estão
16

desenrolando” (1985:80). Fato que não é mais privilégio apenas do rádio, mas vale destacar
como peculiaridade do jornalismo contemporâneo.

2.5. FOTOJORNALISMO NO FOTOFILME

No Jornalismo o potencial expressivo do audiofotográfico ou fotofilme como suporte ainda é


pouco estudado. Entretanto, o tema entra em reflexão no meio acadêmico com a publicação
do artigo. A busca de um novo sentido para o ver e o ouvir na construção audiofotográfica;
ZIELONKA, André; KASEKER, Mônica. Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
Curitiba, PR, no Intercom 2008.

No ano seguinte, 2009, a discussão ganha continuidade com o artigo Áudio slideshow como
formato para reportagens multimídia: primeiras; SOUZA, Marcelo Freire Pereira de;
CARREIRO, Rodrigo. Universidade Federal da Bahia e Faculdade Social da Bahia, 2009.
Apresentado no mesmo congresso de comunicação, Intercom, o trabalho analisa algumas
produções jornalísticas voltadas para a internet, em galerias de vídeo e imagens, nas quais o
leitor pode ver a sequência que deseja ou seguir a apresentação sugerida.

Entre produções jornalísticas que serviram de referência ao presente trabalho de conclusão de


curso, destacam-se as produzidas na “Mostra Caixola”, do Núcleo Caixola de Projeções
Audifotográficas da PUCPR, onde “o participante deve construir uma seqüência de imagens
que deve ser apresentada com uma música ou qualquer outra forma de áudio”, conforme o
regulamento de participação.

Outra referência é o site da “Revista Brasileiros”. A sessão “Digitais”, utiliza deste recurso
audiovisual para narrar histórias de personagens anônimos, que contam suas experiências, em
geral, ligadas as suas profissões. Na voz das próprias pessoas pode-se assistir “um jeito
diferente de contar histórias”, como ressalta a tela de abertura da sessão. As imagens
capturadas por diferentes fotógrafos são em preto e branco e os audiofotográficos mostram
grande simplicidade na montagem utilizando como recurso apenas o fade para a passagem
suave de uma fotografia para outra.
17

Os personagens, apesar de narrarem sobre suas próprias vidas, também estão falando de
outras pessoas que tem as mesmas experiências que eles. Por exemplo, a senhora Dilma
Severina Santiago que cuida dos banheiros públicos na Rua 25 de março, em São Paulo, narra
seu cotidiano, sua experiência, e está falando de uma realidade que não é só dela, mas de
muitas outras mulheres e homens que passam também por situação semelhante.

Outro exemplo de produção jornalística que utiliza como suporte o fotofilme é “El Travesti”,
uma reportagem do especial “360” desenvolvida pelo jornal “El Pais da Colômbia”. Neste
vídeo o personagem conta sua história pessoal, entretanto a narrativa vai muito além do
personagem, ela alcança as dificuldades e alegrias de muitas pessoas em semelhantes
vivências. A reportagem utiliza de planos mais fechados, mais intimistas, mostrando detalhes
do corpo, dos objetos, ambientando a narrativa.

2.5.1. PROCESSO DE CRIAÇÃO NO FOTOJORNALISMO

O fotojornalismo além de ser “O inesperado, o acidental, a circunstância incide na produção


da imagem e disso advém muito da vitalidade e do frescor do fotojornalismo”, como aponta
PEREIRA JUNIOR (2006:111), é também a construção elaborada do profissional, dentro dos
limites do quadro e do visor de seu equipamento. Sobre isso, KOSSOY (2002:28) propõe
etapas para “o fazer fotográfico”, que são uteis na construção da narrativa jornalística.

Ele define como ponto de partida a seleção do assunto, passando pela escolha dos
equipamentos (câmera, objetiva, filtros etc.) e a seleção do “quadro”, o enquadramento do
assunto, que “trata-se da organização visual dos elementos constantes do assunto no visor da
câmera com o propósito de se alcançar, segundo determinadas condições de iluminação, um
certo efeito plástico na imagem final”.

A etapa seguinte é a seleção do momento, “a decisão de pressionar o obturador num


determinado instante visando a obtenção de um resultado determinado/planejado”. Nesta
escolha está presente a técnica fotográfica: relação velocidade/abertura do diafragma para
exposição correta de luz. Já a próxima etapa, diz respeito à tecnologia, a seleção de materiais
e produtos para o processamento das imagens, que neste caso seriam a escolha dos softwares.
18

Por último, a etapa de seleção de possibilidades destinada a produzir determinada “atmosfera”


na imagem final. Neste momento, KOSSOY se refere às interferências diretas na imagem, sua
manipulação, ajuste de luz, cor, contraste, etc.

2.6. CRIAÇÃO DO FOTOFILME

Durante a produção das imagens existe um tempo que separa o momento de captura de uma
para o da outra, podendo ser um minuto, um segundo ou mesmo horas de diferença. Há o
tempo interno de cada fotografia, tecnicamente chamado de tempo de exposição, ou seja, o
tempo em que o obturador permaneceu aberto para capturar a imagem. Há, por fim, o tempo
que a fotografia permanece na tela, este é determinado pela edição do fotofilme.
Por último, existe o tempo da narrativa, da história que está sendo contada.

Este processo de filmar as imagens nos permite criar diferentes significações a partir da
estaticidade da fotografia, buscando imagens dentro das próprias imagens. Assim pode trazer
detalhes da imagem aos olhos do espectador, criando novos significados a partir dos
diferentes quadros que uma imagem pode gerar.

“Ao fotografar, o profissional não só pensa no que é registrado, como


na significação que aquela imagem transmitirá a quem a veja. Para
produzir sentido, a imagem depende do repertório de quem fotografa,
edita e vê a cena”. (PEREIRA 2006:111):

Entretanto, quando se trata de fotofilme não podemos esquecer que uma imagem interfere na
outra, assim como o áudio também interfere e contribui para construir a narrativa. Uma
linguagem pode afirmar, adicionar ou negar uma informação dentro da narrativa.

Ao assistir aos vídeos produzidos na sessão “Digitais” da “Revista Brasileiros”, percebe-se


que a fotografia é usada apenas como ilustrativa, sem adicionar informações que não foram
ditas pelo personagem-narrador. Logo, temos PEREIRA (2006:113) que cita Santaella e
North, para classificar a imagem com relação ao contexto em que esta está inserida:
19

- Imagem inferior ao texto: ela só o completa, é redundante;


- Imagem superior ao texto: portanto, ela domina, pois é mais informativa;
- Imagem e texto têm mesma importância: integrados, complementam-se.

Esta classificação é referente ao texto escrito. Entretanto, Pereira (2006:114) faz outra citação
dos mesmos autores que sustenta esta relação também para imagem e texto sonoro. Sataella e
North dizem que “Mesmo quando se usa o recurso ‘cineminha’, em que uma cena é mostrada
fotograma a fotograma, a imagem interfere na imagem seguinte”.

Quando se está montando o fotofilme é importante observar a construção da narrativa.


Utiliza-se um pré-roteiro para captar o áudio e também as imagens. Assim, a seleção pós-
produção é mais fácil, pois já se sabe o que quer e é mais fácil de se lidar com o acaso, logo,
se tem um controle maior da produção.

A montagem é uma das fases mais importantes deste processo de criação do fotofilme, pois é
a partir da seqüência das imagens escolhidas e também de quando entra determinado áudio
em combinação com uma determinada imagem que se cria a estrutura da narrativa e constrói
os sentidos.

2.7. TEMA

O site www.acervodovelho.com.br serve como material de pesquisa sobre o tema circo,


porque introduz sobre o surgimento da arte, de forma abrangente:

“Pode-se dizer que as artes circenses surgiram na China, onde foram


descobertas pinturas de quase 5.000 anos em que aparecem acrobatas,
contorcionistas e equilibristas. A acrobacia inclusive era uma forma de
treinamento para os guerreiros de quem se exigia agilidade,
flexibilidade e força.”

Já o circense Antonio Torres (1998:13) ressalta a imprecisão que existe em torno do


surgimento das artes circenses, seja em local fechado, seja em apresentações de rua. “Procurar
a resposta para essa pergunta tem sido um exercício de imaginação para pesquisadores e
20

historiadores do Brasil e do Mundo”. Torres lança a hipótese de que a semente do circo pode
ter sido lançada no momento em que o primeiro homem fez uma brincadeira engraçada, “o
que hoje chamamos de palhaço”.

Também destaca a versão em que os números circenses eram apresentados nas Olímpiadas,
ou seja, que o surgimento do circo pode ter sido na Grécia Antiga e no grande Império
Egípcio, onde existiam domas de animais, atividade em destaque nas artes circenses. Também
é importante lembrar que durante as guerras existiam desfiles de homem fortes conduzindo
escravos e animais exóticos o que demonstrava a dominação de lugares distantes dali. E com
as conquistas durante o Império Romano, as artes circenses ganharam o Mundo.

Antônio Torres apresenta um panorama histórico das artes circenses no Brasil. O livro é um
documento mais imagético, apresentam em fotografias as famílias circenses no contexto
brasileiro, como eram suas vidas, algumas famosas gagues de palhaços, as estruturas dos
circos, como era a formação dessas famílias, de onde vieram, enfim mapeia as atividades
circenses desde seu início na História do Brasil até o ano de 1998, quando a edição foi
lançada. Nesta época já temos o circo contemporâneo marcado pela formação dos artistas
dentro das escolas.

Mas neste momento do trabalho é importante destacar a diferença apresentada por Torres
(1998:16), entre circo e artes circenses. As artes circenses têm origem no sagrado e nas
atividades esportivas, já o circo – picadeiro, lona, pipoca, trapézios, animais exóticos, o
grotesco – é a forma de entretenimento de diversos povos e culturas. O circo composto de
apresentações de equilíbrio a cavalo nasce em 1770 pelo cavaleiro inglês Philip Asteley. A
estrutura de picadeiro aparece por uma questão de física, quando Astley percebe que é mais
fácil manter-se de pé, sobre o cavalo, a galope, dentro de um círculo perfeito.

Essas literaturas contribuíram também para entendermos como era o universo circense e como
o palhaço estava inserido neste mundo. Por exemplo, quando Torres destaca a magia que o
palhaço traz às ruas citando o autor Gilberto Vilar.

O palhaço saiu pelas ruas, propagandear o espetáculo. E improvisando


uma espécie de promoção: molhava uma tampinha no tinteiro e fazia
21

uma marca de tinta no braço dos meninos. Quem chegasse ao circo


com a marca, entrava de graça. (TORRES, 1998:29)

Vale destacar a entrevista com um dos palhaços mais conhecidos no Brasil, o Carequinha,
onde Torres (1998:32) dialoga com o artista que nasceu imerso em uma família circense
tradicional, mas que no desenvolvimento de sua carreira foi parar na televisão, que em 1951
está sendo inaugurada. Outro palhaço que deve ser destacado é Benjamin de Oliveira, o
palhaço negro, chamado de “O Rei dos Palhaços do Brasil” e assim o título de “O Rei dos
palhaços” de São Paulo é dado a outro personagem bem conhecido e também importante na
cena circense, o palhaço Piolin (1989:40).

Com o material disponível no blog “O Panorama Histórico do Circo em Mato Grosso do Sul”,
podemos entender a formação do cenário circense no Estado. Este texto provém de pesquisas,
financiadas pela FUNARTE (Fundação Nacional de Arte) e realizadas pelos artistas circenses
Anderson Bosh e Mauro Guimarães.

O material apresenta como marco de intensificação da chegada das famílias circenses, a


divisão do Estado. “Acredita-se que a abertura do novo estado tenha propiciado a entrada
destas companhias pequenas e que tenha ocasionado a fixação de algumas delas que até hoje
atuam em Mato Grosso do Sul, como a Família Perez em Campo Grande”.

Na década de 90, o circo se renova e nasce o Novo Circo, que faz um diálogo com as artes
cênicas em geral. As apresentações dos números formam um enredo, diferente do Circo
Tradicional, no qual as apresentações são isoladas. Neste cenário, artistas sul-mato-grossenses
foram aprender a arte circense na Escola Nacional de Circo da FUNARTE, e retornaram nos
anos 2000, montando projetos e espetáculos de trupes e manifestações individuais. O que
demonstra que a atividade circense em Mato Grosso do Sul está em alta.

Em A Arte de tecer o presente: narrativas do cotidiano (1982:31), Cremilda Medina ressalta


que narrativas jornalísticas do cotidiano são uma oportunidade de apresentar “histórias de
personagens da cidade que jamais chegariam à consagração nos meios de comunicação.”
Apoiando nesta afirmação, percebemos a importância de escolher como personagens pessoas
que não são “vistas”, anônimo da cotidiana mídia cotidiana, do personagem Pedro Paulo
Quadrini.
22

Assim, através de suas experiências pretendeu-se apresentar o cenário onde eles estão
imersos. Tratando não só de um assunto individual, mas também universal, já que outras
pessoas também levam a vida como artistas, ou em outras profissões e possuem suas
motivações apesar das dificuldades que suas escolhas de vida apresentam.
23

MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. PERÍODO PREPARATÓRIO:

Durante o período preparatório foi possível conhecer um pouco da literatura das artes
circenses, suas origens, o funcionamento desta profissão, os principais personagens, a ligação
com a sociedade nas diferentes épocas a partir do seu desenvolvimento na história, se atendo à
história brasileira. Essa pesquisa jornalística foi uma fonte importante na contextualização,
para que pudesse dar sentido à narrativa fotográfica e para as perguntas da entrevista.

Com as observações na internet das produções de audiofotográficos3, áudio slideshow, na área


do jornalismo, e os fotofilmes, fotocine, stop motion, multivision, utilizados no cinema, pôde-
se destacar como referência para o presente trabalho experimental as narrativas mais
complexas, que apresentam imagens construindo sentidos bem elaborados, assim como, o
áudio utilizado não só como ilustrativo, ou trilha sonora ditando o ritmo da narrativa
imagética, mas também que trouxesse a ambientação, ruídos do local, ou seja, informação, a
busca da atividade jornalística.

As reuniões presenciais com o orientador e o co-orientador não tiveram uma constância,


porém, regularmente houve a troca de emails para que as dúvidas fossem sanadas e para que
os orientadores dessem direcionamento ao trabalho. Em casos especiais, optou-se por
encontros, como aconteceu na mudança do personagem, porque a decisão era muito
importante para a continuidade do trabalho e seu resultado final.

Durante a produção foi preciso revisitar textos apresentados na disciplina de Pesquisa,


Entrevista e Reportagem Jornalística, Teoria de Comunicação, Comunicação de Massa,
Comunicação Alternativa, entre outros textos básicos para a definição do conceito de
Jornalismo, fio condutor do trabalho experimental de conclusão da graduação. Revisitar textos
de matérias complementares ou optativas oferecidas durante o curso também foi importante,
como os textos das aulas de Fotografia Básica e também os de Leitura da Imagem, ambas
3
Entende-se aqui por audiofotográfico os vídeos jornalísticos produzidos a partir de fotografias, termo delineado
no artigo: “A busca de um novo sentido para o ver e o ouvir na construção audiofotográfica”.
24

oferecidas pelo Curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS).

As literaturas que abordam o tema fotojornalismo foram priorizadas para aprofundar o


trabalho, pois, chegamos à conclusão de que o principal diferencial deste trabalho
experimental estava na linguagem da fotografia. Então, os estudos de fotojornalismo foram
importantes para sustentar o fotofilme como produto jornalístico e não cinematográfico,
apesar de termos utilizado das possibilidades narrativas do cinema. Bem como, os estudos da
linguagem do radiojornalismo, destacando a igual importância entre os dois elementos,
imagem e som, para a construção da reportagem.

3.2 EXECUÇÃO:

Depois de termos escolhido o personagem da narrativa do fotofilme experimental, foi


necessário uma pré-entrevista para conhecermos a especificidade da história que seria narrada
na reportagem. Para só então entendermos de que maneira ele está inserido na sociedade
contemporânea, família, amigos, mercado de trabalho em Campo Grande, etc.

O personagem contou sua história, livremente, apenas com uma condução nossa para que
priorizasse fatos relacionados ao seu palhaço e às artes circenses, tomando cuidado para fazer
o mergulho necessário à reportagem. Com esta conversa fluída pudemos traçar um pré-roteiro
de perguntas (anexo 1), destacando e organizando para delinear um foco para a produção do
fotofilme.

Da mesma forma preenchemos uma tabela (anexo 2), apresentada no curso de audiovisual:
Mídias Contemporâneas: Narrativas Populares, oferecido pelo Oi Futuro e Pontão de Cultura
Guaicuru, módulo ministrado por Iván Molina, diretor da Escuela de Cine y Artes
Audiovisuales de La Paz, Bolívia. A tabela esqueleta o início, o desenvolvimento e o desfecho
do fotofilme experimental.

Esta ferramenta é muito utilizada em documentários. Observamos que é apenas um guia de


imagens a serem captadas e de falas mais significativas para captação de áudio e não um
modelo fechado, pois se trabalha com o imprevisto também. Elegemos desta forma para que
25

não tivesse tempo desnecessário de áudio, nem um número excessivo de imagens, pois
dificultaria a edição e a escolha dos elementos narrativos.

Depois do pré-roteiro de perguntas e tabela estarem “na ponta da língua”, gravamos a


entrevista no dia 14 de setembro de 2010. Para preservar a qualidade do áudio, realizamos no
estúdio de TV do curso de Jornalismo da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul), isolando assim qualquer som indesejado. A ferramenta utilizada foi um gravador portátil
digital Mega Star DRV – 910. As entrevistas foram transcritas (anexo 3) para facilitar a
visualização de seu conteúdo.

O próximo passo foi o ensaio fotográfico, realizado em 09 de outubro de 2010. Neste,


realizado durante a observação direta, usamos uma Sony H-50, equipamento amador
avançado. As fotos foram tiradas na resolução de 3M, 72dpi e no formato 3:2. A intenção foi
produzir fotos com informações que fossem além da entrevista captada pelo áudio, ou que
ressaltassem informações que seriam mais bem apresentadas na linguagem imagética, como
por exemplo, a ambientação das ruas por onde o palhaço segue, como é a composição do
palhaço, seu figurino, seus trejeitos.

Durante a observação direta também foi o momento de captar o áudio ambiente, trazendo
mais uma informação valiosa dos ruídos das ruas, do movimento dos carros, das buzinas, das
pessoas falando, do vento, enfim toda a ambientação do local onde o personagem exerce seu
trabalho. Porém, com apenas um gravador portátil, não foi possível uma precisão e com uma
maior amplitude de captação no desenvolvimento do trabalho, decidimos descartar estes sons
por possuírem muitos ruídos.

A medida para escolha do áudio dependeu das imagens obtidas. Priorizamos o enfoque da
pauta, que se caracterizou pela forma de interação do palhaço com o público que passa.
Assim, buscamos falas que pudessem dizer sobre o trabalho de malabarismo do palhaço, a
relação com ambiente e a receptividade das pessoas. E claro de uma forma mais ampla, como
está o cenário em Campo Grande, do ponto de vista de quem faz um trabalho de rua e os
anseios do personagem.

Sobretudo, o áudio elegido diz aquilo que as fotos não conseguiram expressar melhor ou que
acreditávamos que seria importante ressaltar. Após a escolha do áudio fizemos um texto das
26

sonoras elegidas para a montagem do audiovisual (anexo 4) e então separamos, no programa


Soundtrack, descartando aquilo que não seria utilizado em primeira decisão, o que pode ser
chamado de corte grosso. Logo após fizemos o tratamento de qualidade de áudio, como
ajustes de volume e normalização das ondas.

Para edição das fotos, pedimos auxilio de uma profissional que vem estudando os recursos do
Photoshop CS3, a fotógrafa Leila Nocko. Com sua ajuda pudemos ajustar cores e luzes,
pequenos problemas enfrentados durante a captação das imagens, para deixá-las com
uniformidade, pois o tempo estava muito nublado no dia do ensaio. Também pensamos em
passar as imagens para preto e branco, assim disfarçaria estes problemas de iluminação e
também traria dramaticidade ao fotofilme, mas, decidimos manter as cores e tentar aproximá-
las da realidade.

Após o ensaio fotográfico pôde-se criar a narrativa. A experimentação de softwares decidimos


instalar o Adobe After Efects e o Premiere, porém como não era um pacote original, já no
final do processo de edição não conseguíamos encerrar o filme, pois estava deformando a
imagem e travando algumas timelines (linhas de tempo para trabalhar a imagem e o som no
filme).

Assim tivemos que refazer a edição no mesmo programa. Quem nos auxiliou foi o editor
Gilmar Galache. Recomeçamos a edição mantendo os mesmos movimentos e transições, até
mesmo áudios e seqüência de imagens, ou seja, nada substancial foi alterado. Mas, neste
momento descobrimos algumas escolhas que poderiam melhorar a qualidade

Os recursos de transição em sua maioria são fades, que são transições suaves de uma imagem
para outra e também usamos movimentos de câmera, o recurso que se assemelha ao utilizado
antigamente, a table-top, o qual permite “caminhar” sobre a imagem, encontrar
enquadramentos diferentes dentro da fotografia. Com este recurso pudemos fazer novos
enquadramentos ressaltando alguns elementos narrativos.

No Premiere escolhemos a partir de pesquisa com profissionais, o formato DV Ntsc –


Widescreen, áudio 48 kHz e 29, 97 frames por segundo. Montamos primeiro a narrativa
imagética de forma não cronológica, já tendo pré-selecionado. Após isso, padronizamos o
tempo de apresentação das imagens, decidindo um valor igual para as imagens que tivessem
27

planos iguais, por exemplo, todas as imagens fechadas têm um tempo que fica na tela, e todas
as aberto outro tempo, e ainda as imagens que receberam movimentação tem um tempo
diferenciado para a apreensão.

Estes detalhes e decisões foram importantes para dar ritmo à narrativa e unicidade aos
movimentos, trazer uma noção de sequencia e suavidade de uma imagem para a outra.
Percebemos que quando se faz um zoom in no personagem, obtemos o sentido de “entrar”
naquela história, então o ideal é mostrar outras imagens próximas na sequencia, que mostrem
detalhes, para depois “afastar-se” do personagem e mostrar o local, enfim, o seu entorno.

Em outro arquivo montamos o áudio, re-selecionando, buscamos as falas mais significativas,


e principalmente prezamos pela precisão nas falas, o que o personagem dizia tinha de ser
extremamente forte para a narrativa e conciso. Depois das duas narrativas montadas,
colocamos em um mesmo arquivo do programa de edição, e assim ajustamos a seqüência das
imagens ao áudio. Poucas mudanças necessárias, alguns cortes e ajustes de posição apenas.
Lembrando aqui, que tivemos de refazer este processo inteiro após os problemas enfrentados.

Com o fotofilme finalizado sentimos necessidade da música, para encaminhar o ritmo da


narrativa. Logo, o Gilmar Galache sugeriu um amigo dele, Alexandre Marinho, que sem ver o
produto por conta do escasso tempo que tínhamos para finalização, sabendo apenas da história
de Pedro Paulo Quadrini e dos elementos presentes na imagem, compôs uma trilha para o
fotofilme. Gravamos com uma câmera de vídeo Sony HDR SR 12, gravado em dolby
surround 5.1 e depois editamos separadamente no Soundtrack, e depois juntamos ao restante
do fotofilme no Premiere.

3.3. ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO

A principal mudança na produção jornalística esteve na escolha do personagem, que a


princípio era a Família Real Pantanal, o único circo itinerante de Mato Grosso do Sul que
ainda roda pelo interior e pelos bairros da cidade de Campo Grande. Entretanto, devido ao
pouco tempo para a produção do fotofilme, decidimos por um personagem que atuasse
inteiramente na cidade, assim evitaria o deslocamento e poderia tornar o trabalho mais rico
tendo um tempo maior de aproximação e imersão na história do personagem.
28

O trabalho procurou explorar as potencialidades do fotofilme, ou seja, as linguagens sonoras e


visuais que o assunto pudesse render para que fosse construída a narrativa da reportagem
jornalística. Logo, preferimos manter o mesmo tema, artes circenses, por sua riqueza
audiovisual, entre outros motivos mencionados ao longo deste relatório

Em conversa com pessoas que atuam na área de artes circenses na cidade, descobrimos uma
história atual, na qual o personagem não falava de uma narrativa individual, e sim de maneira
universal sobre motivações e anseios humanos. O personagem Pedro Paulo Quidrini, o Pepa,
é um artista que apresenta seu palhaço, que faz malabarismos nos sinais da cidade. Contar a
história de Pepa é apresentar um nicho do cenário cultural de Campo Grande, é mostrar a vida
de pessoas que escolheram viver da arte, seus anseios, dificuldades e principalmente suas
motivações.

O personagem é anônimo, seguindo o conceito de Cremilda Medina em “A Arte de Tecer o


Presente” e dos vídeos observados na sessão “Digitais” do site da “Revista Brasileiros”. Aqui
pretendi dar voz àqueles que não têm espaço para contar suas experiências nos Meios de
Comunicação de Massa, sabendo que essas pessoas também constroem a identidade do meio
em que estão inseridas.

Outra mudança está na pesquisa de material produzido pela mídia local sobre o personagem.
Como decidimos por uma pessoa anônima, que não tem espaço na grande mídia, esta pesquisa
foi desnecessária. Preferimos optar por investigação mais ampla sobre o tema, arte circense,
em produções fotojornalísticas e em fotofilmes, como referência para a construção da
narrativa jornalística, que é o resultado final desta pesquisa. Essas produções são citadas nas
referências bibliográficas.

Na execução do trabalho, em busca da qualidade de áudio e nos cortes da edição, optamos


pela gravação da entrevista em ambiente fechado utilizando um gravador digital portátil.
Método que não estava previsto no pré-projeto, mas que ao prezarmos pela qualidade e
“limpeza” do áudio foram incluídos. E durante a edição final percebemos a necessidade de
trilha sonora para dar outro ritmo à narrativa, já que a fala do personagem era
predominantemente calma e lenta.
29

Durante o trabalho, paralelamente, estávamos participando de um curso de audiovisual


promovido pelo Pontão de Cultura Guaicuru e Oi Futuro “Mídias Contemporâneas:
Narrativas Populares”. No módulo “Fotografia e Câmera” ministrado pelo cineasta boliviano
Iván Molina, foi apresentado um guia de roteiro, em forma de tabela com os itens: início,
desenvolvimento e desfecho. Este modelo é muito utilizado para documentários, logo achei
útil à melhor visualização da organização do material sonoro e imagético da produção do
fotofilme.

A outra mudança foi a gravação em vídeo, que estava prevista para auxiliar no relatório e que
não foi realizada por ter de mobilizar outras pessoas para gravar. Decidimos não utilizar esta
ferramenta, até porque seria mais material para editar, ressaltando aqui o tempo reduzido para
a execução e edição do fotofilme, após o estudo da literatura e das produções feitas com essa
técnica.
30

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo central foi descobrir novas possibilidades narrativas a partir da técnica


cinematográfica de animação de fotografias, chamada de fotofilme. Por meio dos
conhecimentos adquiridos da técnica, principalmente nas observações dos trabalhos
realizados pelo pesquisador Marcelo Tassara, e da sessão “Digitais”, foi possível identificar as
principais características deste suporte audiovisual.

No pré-relatório foi apresentada a mudança no objetivo específico. Nele, tínhamos de


desenvolver uma abordagem sobre a relação vida/trabalho da família circense Perez, do Circo
“Real Pantanal”, que por motivos abordados no tópico “Alterações no plano de trabalho”, foi
substituída pelo palhaço Pedro Paulo Quadrini.

Com este personagem pudemos mostrar como vive um artista em Campo Grande trabalhando
com esta arte milenar, como está esse cenário na cidade e principalmente suas dificuldades e
seus anseios, pontos que seriam abordados a partir da família Perez. Assim, os aspectos de
enfoque da pauta foram ajustados para a realidade de Pedro Paulo.

Os testes nos softwares da Adobe After Efects e Premiere, bem como no da Aplee,
Soundtrack foram realizados, ação também prevista como objetivo específico do trabalho.
Acreditamos que foi pouco tempo para obtermos domínio de todos os programas e seus
recursos. Entretanto, acreditamos que pudemos experimentar e explorar dentro dos limites de
prazos a interação das linguagens auditivas e imagéticas. Vale ressaltar que as possibilidades
narrativas desta técnica estão longe de serem esgotadas.

Assim acreditamos que o objetivo de eleger um programa de edição foi alcançado, pois
existem vários possíveis, e pensamos que depende muito da adaptação de quem vai usar e
também do que se pretende da edição, ou seja, como planeja a construção da narrativa.
31

4.1 DIFICULDADES ENCONTRADAS:

A maior dificuldade encontrada foi durante a escolha do tema, porque além de ter uma boa
história para ser abordada como Jornalismo, o personagem teria de oferecer um apelo visual e
auditivo significante para a construção da narrativa, já que falamos aqui de uma produção
audiovisual.

Outra dificuldade intrínseca ao exercício do Jornalismo, é estar em função da disposição do


entrevistado, pois o personagem precisou dispor de seu tempo em três momentos. O primeiro
foi para expor sua vida em conversa informal, o que demanda um poder de convencimento
por parte do entrevistador, pois por várias vezes as pessoas não querem “abrir” suas vidas.

Outro momento foi durante a atuação como palhaço e nos bastidores, para que pudesse ser
realizado o ensaio fotográfico e por último era necessário dispor de um tempo para a gravação
da entrevista em estúdio. Posteriormente, gostaríamos de fazer outro ensaio à busca de
melhores representações imagéticas, mas a falta de tempo impossibilitou, o que limitou um
pouco a diversidade de imagens e assim a narrativa do fotofilme.

A falta de iniciação em edição de imagem e vídeo, elementos que o curso de Jornalismo da


UFMS não oferece aos alunos foi outra dificuldade durante a produção do fotofilme.
Diferente da edição e manipulação do áudio que são trabalhados nas aulas de radiojornalismo
com um nível de complexidade suficiente para que o aluno, se desejar, os desenvolva
profissionalmente após a Universidade.

Assim, talvez com uma familiaridade maior desses recursos de edição e características
próprias destes softwares para imagens e vídeos, seria facilitada a escolha e o trabalho com os
programas utilizados para produção deste fotofilme, ou seja, os editores de imagem, som e
audiovisual.

Uma questão complexa é o fato de que o planejamento da produção é uma fase importante
para que exista foco no trabalho. Porém, deve ser encarada como um guia, porque quando se
vai a campo tratamos com o acaso. Por isso muitas fotos que na primeira tabela (anexo 2)
estavam previstas, foram abandonadas após a captação do áudio.
32

Outra questão importante é que ensaios prévios para o fotodocumentarismo podem contribuir
para a qualidade do fotofilme, pois se têm o reconhecimento do local, os ângulos possíveis,
detalhes de iluminação, cores, enfim as possibilidades para saber o quanto rende de imagens.
Não desprezando as potencialidades do fotofilme usando o fotojornalismo, mas destacamos a
dificuldade de montar este produto audiovisual sem planejamento das imagens e do áudio.

4.2 ORÇAMENTO/DESPESAS

A tabela 1 apresenta o orçamento e despesas para realização deste trabalho.

Tabela 1 – Apresentação do orçamento para do trabalho


Discriminação Valor unitário (R$) Valor Total em (R$)
Programa Adobe CS4
20,00 - pacote 20,00
Master Colection
Editor de vídeo
50,00 por hora trabalhada 2.100,00

100,00
Editor de foto 50,00 por 45 fotos

Ônibus 2,50 por viagem 15,00

7,80
DVD gravável 0,78

1.20
Papel para capa do DVD 1,20 a folha
33

CONCLUSÃO

O fotofilme é um suporte viável para as produções jornalísticas, já que tem baixo orçamento e
que pode ser apresentado em diversas formas. Devido à convergência dos meios e aos
produtos híbridos, cada vez mais presentes no mercado, a produção de fotofilme oferece as
potencialidades narrativas exigidas, ou seja, a multimídia, a convergência de linguagens
auditivas e visuais.

Acreditamos que este suporte digital apresenta uma reportagem sintética densa, composta
pelo fotojornalismo e pela linguagem radiojornalística. O produto pode ser acompanhado de
um arquivo de áudio da entrevista organizada por uma edição simples, um texto em
profundidade ou ainda uma galeria de fotos extras, para quem quiser mais detalhes sobre a
reportagem.

A decisão de cortar falas e imagens tem de ser muito precisa porque ao longo da pesquisa
encontramos grande quantidade de material e tivemos de nos ater ao enfoque da pauta.
Usamos o ditado de que “menos é mais”. Quando se tem frases bem escolhidas e fotografias
que “contam” com eficácia o que se pretende mostrar da história do personagem já basta,
assim não nos alongamos desnecessariamente.

Usamos a pesquisa em profundidade de textos, documentos, entrevistas, bem como das


observações diretas - ferramentas aprendidas no curso de jornalismo - para construir uma
reportagem sobre a vivência de um anônimo, o qual não tem espaço na grande mídia. O
produto é jornalístico porque tem periodicidade, universalidade, é um assunto atual e permite
difusão, seja nas páginas da internet, como o trabalho já está disponível no Youtube, intitulado
“O Palhaço em Fotofilme”, ou como produto digital para telefones, iPhones ou mesmo para se
assistir no DVD de nossas casas.

Após a finalização deste trabalho percebemos que para um apuro de qualidade do fotofilme é
necessário o domínio das ferramentas disponíveis nos softwares escolhidos para a produção,
pois com este conhecimento as possibilidades narrativas se multiplicam. Porém, durante o
curso não recebemos este conhecimento, pois os programas usados por nós são atrasados.
34

Para este audiovisual é importante o uso de programas de edição de áudio, de fotografias, bem
como um software de montagem, onde se tem escolhas de transição das imagens,
sobreposição de áudio, entre outras. Estes domínios são cada vez mais exigidos aos jornalistas
pelo mercado multimídia e usar como referência o cinema, as galerias de imagens
fotojornalísticas, documentários, programas de radiojornalismo, ajudam-nos a construir nossa
própria narrativa.

Estes programas de edição são escolhidos conforme a intenção de quem irá produzir o
fotofilme. Percebemos que são inúmeros, porém suas ferramentas e possibilidades narrativas
são semelhantes, por isso, experimentar e testar são as melhores formas de escolher os
softwares ideais. Concluímos, portanto que a escolha está ligada às preferências e à adaptação
de uso do produtor.

Outro fator que contribui para as possibilidades narrativas é o tamanho das fotografias. Tendo
uma resolução alta, acima de 9M, podemos explorar com mais qualidade as imagens dentro
da imagem, focar áreas que não seriam percebidas sem cortes e assim obter enquadramentos
pós-produção. Mas, com uma resolução de 3M e 72 dpi, utilizada no trabalho, também se
consegue alguns mergulhos, aproximações, nas imagens.

Podemos identificar a dificuldade de trabalhar áudio e imagem separados para depois juntá-
las em uma narrativa coerente. Ressaltamos aqui que dentro dos 20 anos do Curso de
Jornalismo da UFMS, não encontramos nenhum trabalho que propusesse o fotofilme como
produto jornalístico. E também encontramos dificuldade para achar autores da área de
jornalismo que pudessem falar sobre o assunto, porque apenas a partir de 2009 é que se
começou a discutir academicamente.

Por estes fatores é que bebemos do cinema e das produções práticas nos sites de jornalismo
que encontramos. Notamos que a criatividade e as referências colaboram, entretanto o
domínio das questões técnicas como tamanho de imagem, tamanho de tela para o fotofilme,
tipo de arquivo das imagens e do áudio, fazem a diferença na qualidade.

Após a produção acreditamos que o fotofilme pode ser um suporte de grande acessibilidade,
pois conforme a escolha das imagens e das mensagens sonoras é possível transmitir em um
mesmo produto informações para deficientes, sejam esses visuais ou auditivos, característica
35

do produto experimental que não foi trabalhada especificamente, entretanto que fica como
uma perspectiva para novos estudos narrativos.
36

BIBLIOGRAFIA

6.1. LIVROS

LAGE, Nilson, A reportagem, São Paulo: Ática, 1999.

TORRES, Antonio. O Circo no Brasil, RJ: Funarte: SP: Atração, 1998.

LARA, Cecília de. De Pirandella a Piolin: Alcântara Machado e o Teatro no Modernismo, Rio
de Janeiro: Instituto Nacional de Artes Cênicas, 1987.

KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na trama fotográfica, Cotia – SP: Atleliê Editorial,
2002.

BARTHES, Roland. A Câmera Clara: nota sobre a fotografia; tradução de Júlio Castañon
Guimarães. Rio Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente: Narrativas do cotidiano, São Paulo: Summus,
1982.

PEREIRA, Junior. Guia para a edição jornalística, Petrópolis – RJ: Vozes, 2006.

SOUSA, Pedro Jorge. Fotojornalismo: Introdução à história, às técnicas e à linguagem da


fotografia na imprensa, Florianópolis - SC, Letras Contemporâneas, 2004.

LIMA, Ivan. Fotojornalismo Brasileiro: Realidade e Linguagem, Petrópolis - RJ: Vozes,


1991.

ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação


dos conteúdos, São Paulo: Summus, 1985.

6.2 PERIÓDICOS:
Bianco, Nélia Del, O Futuro do Rádio no Cenário da Convergência Frente às Incertezas
Quanto aos Modelos de Transmissão Digital, Revista de Economia Politica de las
Tecnologias de la Información y comunicación; Vol XII, n 1, janeiro a abril, 2010.

6.3. OUTROS DOCUMENTOS:

FREIRE, Marcelo, SOUZA, Pereira e CARREIRO, Souza; Áudio slideshow como formato
para reportagens multimídia: primeiras aproximações; INTERCOM 2009, Universidade
Federal da Bahia
e Faculdade Social da Bahia
37

ZIELONKA, André e KASEKER, Mônica; A busca de um novo sentido para o ver e o ouvir
na construção audiofotográfica; INTERCOM 2008, Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Curitiba, PR.

ELIAS, Érico. Da fotografia ao cinema: os fotofilmes de Marcelo Tassara. Studium, nº29,


2009. Disponível em WWW.studium.iar.unicamp.br/29/6.html

6.4 REDES, SITES, E OUTROS:


www.acervodovelho.com.br acesso em 15 de maio de 2010;
WWW.revistabrasileiros.com/digitais último acesso em 05 de novembro de 2010;
http://panoramahistoricodocircoemms.blogspot.com/ acesso em 07 de junho de 2010;
http://www.reportage-bygettyimages.com/ acesso em 03 de maio de 2010;
http://www.elpais.com.co/reportaje360/ediciones/cali-ciudad-que-no-duerme/ acesso em 27
de setembro de 2010;
http://www.mostracaixola.com.br/ último acesso em 20 de outubro de 2010;
http://www.likecool.com/Thrush--Video--Gear.html acesso em 24 de outubro.

6.5. E – BOOK:
Silva, Gilmar Renato da, Novos Jornalistas – Para entender o Jornalismo hoje, licença da
Creative Commons, 2010.

6.6. FILMES:
La Jetée (1962) – Cris Marker
Abeladormecida (1978) – Marcello Tassara
Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969 ) - George Roy Hill
Juvenília (1994) - Paulo Sacramento

6.7. ENTREVISTAS:

6.7.1. ENTREVISTAS INFORMAIS ABORDANDO O TEMA DO CIRCO NO MATO


GROSSO DO SUL:

Andrea Freire, coordenadora do Pontão de Cultura Guaicuru;


Mauro Guimarães, artista do grupo de teatro Circo do Mato;
Anderson Lima, artista do grupo de teatro de Flor e Espinho.

6.7.2. ENTREVISTAS INFORMAIS PARA A DECISÃO DOS PROGRAMAS


UTILIZADOS PARA EDIÇÃO:
Elton Perez, editor de vídeos;
Gilmar Galache, cineasta, editor de vídeos e fotógrafo;
Bianca Freire, responsável pelas atividades de multimídia do Pontão de Cultura Guaicuru e
Jornalista;
Ivan Molina, cineasta, diretor e professor da Escuela de Cine y Artes Audiovisuales de La
Paz, Bolívia.
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PARECER DA COMISSÃO COORDENADORA:

LOCAL/DATA:

Assinatura do presidente da comissão Assinatura do parecerista (quando houver)

__________________________________
__________________________________

Assinatura do orientador (a) Assinatura do(s) acadêmico (a/s)

__________________________________
__________________________________
39

ANEXO 1

Roteiro de perguntas após pesquisa prévia e conversa com o personagem:


Quando, como, e onde foi que você apresentou pela 1ª vez seu palhaço? (Festival? e depois a
1ª vez no sinal?)
O que é o palhaço para você?
(nome do palhaço, que elementos ajudaram (a música?) a composição? Que tipo de palhaço
é?
Por que resolveu desenvolve-lo? trabalha-lo?
Como você se sente quando está de palhaço? Ele te serve de escape? (para expressar algo seu
que o Pedro Paulo nao consegue?)
Como é trabalhar no sinal? Em qual sinal você mais se apresenta na cidade? Qual o horário
mais receptivo?
Como as pessoas te recebem (reações)? Quem são as mais receptivas? Obs - Elas estão
prontas pra te "atropelar", apressadas para seus trabalhos, compromissos...Qual o seu
sentimento quando está se apresentando? Depende do horário para você mudar sua
performace ou são sempre os mesmos números?
Qual o tempo p/ mostrar sua arte?
Como é o preconceito? Existe? (Fechar a janela, virar o rosto, "é apenas um cara que faz umas
coisinhas para ganhar dinheiro")
Como é se "montar" na rua? O místico do palhaço, a magia, ainda existe (p/ publico)? ou se
perde ao ver você se arrumando na rua?
Qual é a dificuldade na escolha de trabalhar com arte e viver dela, se sustentar a partir dela?
Mas, principalmente por que te motiva a continuar mesmo diante das dificuldades que lhe
aparecem?
Você faz outros trabalhos para ganhar dinheiro? Quais?
Você pensa em um dia largar o sinal? Montar espetáculo para palco italiano ou rua?
Como está o mercado em Campo Grande? Você iria para fora para outros cenários?
Qual sua profissão?
O que você faz para melhorar sua performace? Treinos? Ensaios? Oficinas?
O que a música traz para o seu palhaço?
Como começou com a música na sua vida?
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Qual faculdade você faz? No que ela contribui para a formação do seu palhaço?

Quem é o artista para você? (conceito) Você é um artista?

Como sua família (e namorada) encara isso? Aprova, apóia? Existe tradição familiar?

Você mora com a família, mas morava com a Iara, conte esta história, e explique o porquê
voltou para casa de seus pais. (se quiser dividir esta história)
41

ANEXO 2

Guia de Roteiro para fotofilme


Imagens Áudio Observações
Início - Cidade de Campo - Som ambiente de Perguntas:
Grande cidade p/ quando Como é trabalhar no
- Pessoas passando na chega a bike sinal/ Em qual sinal
rua - Respostas do você mais se
- Casa de Pepa – Pepa apresenta na cidade/
organizando material Qual o tempo p/
- Região do sinal mostrar sua arte/
- Casa de Pepa – Como as pessoas te
organizando material recebem
- Pessoas passando na
rua
- Pepa de bicicleta pela
cidade
- Região do sinal
- Maquiando sentado
no meio-fio

Desenvolvimento - Fazendo - Respostas do Perguntas: Como é


malabarismo no sinal Pepa se "montar" na rua/
- As pessoas dando - Música – O místico ainda
dinheiro “batuque Pepa - existe (p/ publico) ou
- Dinheiro no chapéu gravado” ele se perde ao ver/
- Espera pelo sinal Como você se sente
vermelho quando está de
- Malabarismo no sinal palhaço/Como
no meio dos carros, começou com o seu
retrovisores palhaço
- Desfazendo a (Entra -Imagens
maquiagem volta para casa, em
- Indo embora de bike casa)/ /Como sua
- Casa família (e namorada)
- Família (foto de encara isso? Aprova,
porta-retrato) apóia?Você mora
- Fotos com Iara com a família, mas
- Quarto – morava com a Iara,
ambientação conte esta história, e
- Preparação para ir ao explique o porquê
ensaio voltou para casa/
- Ensaio de música Quais outros
- Palhaço indo para a trabalhos você faz
rua de novo para ganhar dinheiro/
Você pensa em um
dia largar o sinal//
Como começou com
a música/ O que a
42

música traz para o


seu palhaço / O que
você faz para
melhorar sua
performace

Final - Malabarismo - Música ao fundo - Imagens rápidas


- Outdoor pela cidade - Respostas do Perguntas: Como
com a propaganda do Pepa está o mercado em
Pepa - Permanece Campo Grande?
- Malabarismo apenas a música Você iria para fora
- Imagens do ensaio - para outros
música cenários/Qual é a
- Cidade dificuldade na
- Região de sinal – escolha de trabalhar
Obelisco com arte e viver
- Imagens do Ensaio dela? Mas,
- Malabarismo principalmente por
- Palhaço se que te motiva a
arrumando continuar mesmo
- Malabarismo no sinal diante delas/ Qual
- Família sua profissão/ Quem
- Malabarismo é o artista? (conceito)
- Música
- Tela em Branco com
a fusão de várias
imagens –
música/palhaço...
(Imagens Intercaladas)
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ANEXO 3

Transcrição da Entrevista com Pedro Paulo Quadrini, Pepa


Data: 14/setembro
Horário de início: 15h30
Duração: 56:46
Local: Estúdio de TV da UFMS

Como começou com o palhaço?


Eu comecei meu palhaço trabalhando no sinal mesmo. Eu tinha um grupo de amigos que
queria montar um grupo de teatro mais voltado para o circo, ai um desses meus amigos falou
assim: Pepa você leva jeito para palhaço, então conversa com Marcelo, Marcelo Picole é um
grande amigo meu, que trabalha com teatro, ele já desenvolvia um trabalho de palhaço, ai ele
foi e deu a primeira dica pra mim.
Eu lembro que ele me deu duas dicas importantes que me fizeram seguir a partir daquele
ponto. Falo: O palhaço tem um jeito especial de andar, ele se desloca de maneira diferente no
palco ou aonde ele estivar. E você tem que ter um cuidado especial com o nariz de palhaço
que para onde você olhar é para aquele ponto que as pessoas também vão olhar. O nariz de
palhaço ele funciona como um foco. E daí pra frente comecei a seguir esta linha.
Primeiro em casa, treinando em casa. Na verdade nessa época ai eu já desenvolvia um
trabalho no sinal é já fazia malabarismo no sinal, só que sem a estética do palhaço. Mas daí
desse ponto pra frente eu comecei a coloca a estética do palhaço no meu trabalho de sinal.
Antes meu trabalho do sinal era uma coisa que apenas para ganhar dinheiro. Dinheiro rápido
para uma balada ou alguma coisa assim. Nada muito consistente. Ai daí pra frente eu comecei
a levar mesmo, a pensar um pouco mais o que poderia fazer, pensar um uma composição para
o meu número legal, o que a gente chama de set , um set de malabarismo, comecei a pensar
num set de malabarismo legal bem composto e que tivesse as gagues de palhaço.
Ai eu fui treinando isso, o lugar onde eu fui treinando isso foi na rua mesmo, então sinal.
Então na verdade o primeiro lugar em que eu realmente me apresentei como palhaço foi na
rua, foi fazendo malabarismo no sinal. Eu lembro que naquela época eu ainda fazia na
Avenida Mato Grosso com a Rua Rio Grande do Sul e ali eu comecei fazer, naquela época eu
ainda não fazia claves de malabarismo, naquela época eu ainda fazia swing, que a gente
conhece, aquelas cordinhas com os pesos na ponta. Na verdade era uma variação de swing,
44

que a gente conhecia como flag, que é uma bandeira que quando gira tem um movimento bem
bacana e ali eu comecei coloquei o nariz de palhaço.
Primeiro foi só o nariz de palhaço fazendo uma coisa sem graça, no meu ver sem graça e ai eu
fui começando a interagir, eu fui entender que palhaço na verdade era uma interação mesmo
com as pessoas ai eu fui interagindo com os carros a hora que eu ia pegar dinheiro, ia
conversando com as pessoas ia brincando. E ali eu fui criando a experiência de como
trabalhar o meu palhaço o que, que seria o meu palhaço, tanto que hoje eu não tenho um
número de palhaço a não ser o do sinal, que é um número rápido, como um poquetshow, mas
o meu trabalho de palhaço quando as pessoas me chamam é mais pela interação com as
pessoas, não tenho um número de 15 minutos, eu vou conversando com as pessoas, vou
brincando, fazendo gagues rápidas.
Como é o teu palhaço, quem é?
O palhaço está em descoberta ainda, eu ainda não sei como é que é o meu palhaço. Tanto que
existem várias denominações para o palhaço, bufão, augusto, parlapatão, entre outros. E eu
ainda não descobri o que que é o meu palhaço. Tanto que eu não tenho um nome para o meu
palhaço. Eu to agora começando a estudar, procurando livros, para começar a compreender o
que eu to fazendo, é a partir dessa compreensão do que eu to fazendo é que eu vou começar a
crescer.
Até então eu acredito que, isso é uma coisa comigo, eu acho que eu to um pouco parado, eu
faço, apresento, mas acredito que evoluir desse ponto, então agora, na verdade a partir de
agora eu comecei a evoluir, eu comecei a estudar e comecei a saber o que eu to fazendo. E
sabe o que eu sou dentro dessas denominações, claro que denominações são coisa muito
superficiais, mas eu acredito que a gente precisa saber o que é , o que nós somos, para a gente
conseguir dar o próximo passo.

O seu palco é a rua. Como é estar de frete para os carros, na correria do dia-dia?
Eu procuro logo que fecha o sinal eu procuro não pensar no nervosismo das pessoas, eu entro
e começo a fazer meu número, eu começo a ter contato com as pessoas e ver como elas estão
de verdade quando eu olho para frente, quando eu consigo para de fazer, terminei meu
número de malabarismo, no momento que eu tiro o meu chapéu e vou buscar o meu cachê.
Nesse momento é que eu vou olhar as pessoas, é claro que as vezes, que momento em que eu
to fazendo malabarismo ai tem um cara que começa a dar umas aceleradas, também é fácil de
contornar, sem lá eu jogo as claves para cima finjo que estou assustado e as vezes eu consigo
passar tanta credibilidade nesse movimento que até a pessoa começa a rir entendeu? Acho que
45

isso é interessante, acho que quando a pessoa ta nervosa ela pode até acelerar o carro, mas se
eu fizer uma brincadeira alguma coisa, ou mesmo parar e xingar ele, claro, xingar.
Seu palhaço é que xinga?
Meu palhaço é um palhaço nervoso. Ele é muito calmo, ele é brincalhão, mas de vez em
quando ele dá umas... ele briga com as pessoas, se atrapalham ele, se assustam ele, se
assustam ele principalmente. Quando me assustam, quando assustam meu palhaço, eu
começo a discutir com as pessoas, isso é legal porque as pessoas , é nesse ponto que eu acho
que elas quebram, que elas quebram aquela casca, ai tipo rola a interação mesmo, de olhar no
olho, da pessoa brincar.
Tem um horário que as pessoas ficam mais receptivas? Você muda o número dependendo do
horário, do local?
Na verdade hoje eu faço malabarismo apenas no cruzamento da Mato Grosso com antiga
Avenida Furnas, que hoje mudou o nome eu não lembro o nome comple...não lembro o nome
certinho. Mas é a antiga avenida Furnas, aquela que some ali na lateral do Shopping. E ali
naquele ponto o sinal o semáforo ele tem um tempo exato, então hoje, como eu faço apenas
lá, o meu número, ele é feito com o tempo exato para aquele semáforo, eu posso até dar uma
mudada em alguma coisa rápida ali, mas é uma coisa muito pequena que não faz muita
diferença no número.
A questão da receptividade das pessoas naquele ponto, eu acredito que aquele ponto da
cidade, as pessoas são mais receptíveis, talvez pela condição socioeconômica dessas pessoas,
é uma área mais nobre onde passam carros ali, de pessoas que estão saindo do shopping, indo
para as suas casas, as pessoas ali são mais tranqüilas, elas não estão tanto no stress do
trabalho, e ai essas pessoas são mais receptivas. Agora é claro isso não é uma regra, porque
tem pessoas que você vê que é do trabalho mesmo e que elas estão trabalhando que elas estão
estressadas, mas elas interagem com a gente.
Uma coisa interessante que eu acho muito legal cara, quanto mais, quando você vê que a
pessoa é mais pobre, pode assim dizer, ela colabora mais, é claro, não colabora na quantidade,
mas ela se dispõe a dar um ... da dar qualquer contribuição, já as pessoas que tem mais
condições, que tem mais condição né, elas não dão sempre, na verdade elas se fecham. Eu
acho engraçado isso né, tem as pessoas digamos, os trabalhadores, que tão trabalhando, que
digamos que a renda dele oitocentos reais, tem as pessoas que estão trabalhando e que a renda
é dois mil reais, tem as pessoas que não trabalham que talvez a renda seja, não sei, cinco mil
reais, e as pessoas que são ricas, que nem imagino uma renda. Essas pessoas que são ricas, a
maioria delas, infelizmente,parece que é uma regra, a maioria delas não se abre para a gente.
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Agora essas pessoas, digamos, que ganham dois mil reais, que tem uma condição um poder
aquisitivo médio, elas, do médio para baixo que elas se abrem, pelo menos comigo, não sei se
é pra outros artistas, mas essas pessoas com condições média para baixo elas interagem muito
mais do que aquelas com o poder aquisitivo mais alto. Eu não sei se por medo, por
preconceito, eu não acho que as pessoas que tem o poder aquisitivo mais alto tem medo de ser
rebaixadas, abrindo o vidro para dar alguma coisa, não sie se elas não tem troco na carteira,
talvez elas possam não ter troco na carteira. Talvez né, não sei.
Perfil de quem é receptivo.
Normalmente quando tem uma criança junto, não é uma regra. Eu não consegui ainda traçar
um perfil dessas pessoas, mas normalmente quando tem uma criança junto, normalmente o pai
chama a criança, pede para mostrar, nem sempre isso é um fator determinante para que ela me
dê uma grana. Mas ele chama para mostrar, há pelo menos uma interação. Tem vezes que o
pai chama a criança e a criança não tá nem ai para o palhaço, quem ta brincando mais é o pai,
porque o pai gosta. Tem vezes que nenhum dos casos, a criança não dá atenção e o pai não dá
atenção.
Agora uma pessoa...se são mulheres ou homens que dão mais atenção, é difícil, eu acho que o
gosto pelo palhaço, vai muito do humor do dia, tem pessoas ...por eu fazer malabarismo no
sinal sempre no mesmo lugar, então eu encontro muito as mesmas pessoas, e tem dia que uma
pessoas que passa todos os dias me da uma risada, de vezes em quando me dá uma grana, tem
dia que ela e ela não olha para mim. Então acho que conta muito do humor o que ta
acontecendo no dia dela, como é que tá a vida dela. Se é uma coisa muito pesada, eu acredito
que se é uma coisa familiar muito pesada eu acredito que é difícil ela se comover com a
minha apresentação. Eu acho que é alguma coisa mais momentânea, um cara que fechou,
fechou ela na rua ou alguma coisa que aconteceu no escritório, mas uma coisa mais rápida, eu
eu acho que ela tem ainda...quando ela me vê, ela se obriga a esquecer daquela coisa, me
utiliza como um ponto de fuga para esquecer aquilo.
Eu não consigo determinar um ponto em comum nisso. Eu já pensei, eu quis fazer, durante
um tempo eu até levava um caderninho, para tentar, meio que traçar um perfil das pessoas.
Talvez escrever o livro um dia, não sei. Mas eu não consegui, eu não consegui fazer isso,
talvez com uma pesquisa maior, mas eu acho que é muito pouco tempo para...é uma coisa
muito rápida, a gente imagina o que tá acontecendo com essas pessoas, não como você fazer
uma idéia, porque logo depois que abre o sinal, você ta pensando naquela pessoa, logo fecha o
sinal e você tem mais aquele batalhão de carro. É muita gente e depois você fica pensando em
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outras coisas e ai passar uma pessoa, tem da um assovio do outro lado da rua, fala: ó palhaço.
Então são várias coisas acontecendo.
Fora do carro há contribuição?
Sim, Sim.Várias vezes as pessoas passam na rua, passam na rua e gostam e vão lá e
contribuem, tem vezes que até teve uma mãe, que tava com o filho que você via que as
condições dela não era, o poder aquisitivo dela não era alto, era na verdade bem baixo assim,
isso era o que dava para perceber no primeiro momento. E ai ela pegou e deu um real para o
filho, pra ele poder me dar, ai o legal é que a criança foi lá deu, ela pedir pra...mas o
engraçado é que a mãe, você via um sorriso nos olhos delas, você via eu elas estava se
sentindo satisfeita por poder contribuir. Talvez ela já gostasse de palhaço desde criança então
ela estava se sentindo satisfeita. Ela não tava fazendo aquela coisa...nao...vai me faltar
depois...não, ela deu aquilo e saiu feliz.
Quando a pessoa gosta, é claro que ainda tem aquela coisa, campo grande é uma cidade ainda
cheio de estereótipos, as pessoas , elas, não sei se posso assim dizer, mas as pessoas, elas
acham que porque um palhaço está no sinal que quem vai dar dinheiro são os carros, então o
número de pessoas que estão passando na rua e dão dinheiro é bem menor do que o dos
carros. Mas sempre tem as exceções né.
Outros cenários, outras cidades.
Eu tenho vontade de ir para São Paulo fazer alguns cursos, ir para São Paulo fazer alguns
cursos, e ficar uns quatro anos lá, talvez. Conhecendo o cenário, ver o que que tem pra lá.
Tenta mesmo fazer sinal, não só sinal né, mas fazer apresentações em bares. E procurar quem
esteja interessado para poder...
Aqui em Campo Grande tem muita gente que trabalha com isso, tem palhaços muito bons,
mais de vez em quando, o pessoal se fecha muito, então a gente não consegue ter uma troca
de idéias. Hoje eu to conseguindo já trocar idéia com algumas dessas pessoas, e já ta me
ajudando muito. Agora acredito que lá fora, fazendo curso, La fora que eu digo é São Paulo,
Santa Catarina, Belo Horizonte, eu acho que talvez me ajudaria muito. E também para
conhecer novos ares, eu acho que o palhaço, ele é palhaço, por causa de suas vivências, ele
utiliza suas vivências para fazer as brincadeiras. E depois o palhaço não é nada mais do que, a
pessoa exagerada e a pessoa transmiti suas experiências.Então provavelmente eu gostaria,
provavelmente, se eu fosse para outros lugares, conhecer outros lugares, provavelmente, ia me
ajudar muito a aumentar essa bagagem junto ao meu clown.
O que o palhaço representa para o Pedro Paulo Quidrini?
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Hoje eu to tentando descobrir o que é o meu palhaço para mim. É engraçado, se hoje você
pergunta para uma pessoa quem é você, talvez ela não saiba responde e hoje se perguntar
como é o seu palhaço eu não sei responder. E se perguntar quem é você eu também não sei
responder. A gente não para muito para pensar nisso, e com certeza quando eu to fazendo o
meu palhaço, quando eu to trabalhando com ela eu me sinto muito mais livre, muito mais
leve. Com certeza eu fico cansado depois do trabalho, mas é divertido. Você tem várias
experiências é um trabalho inesperado, você não sabe o que vai acontecer. Eu vou lá interajo
com uma pessoa, ela responde de um jeito eu faço outra brincadeira e daqui a pouco a gente ta
conversando há dez minutos só fazendo piada um com o outro.E é legal isso, é inesperado,
então acaba que no final eu me sinto bem por ter feito meu palhaço, por ta trabalhando com
ele. Por estar, não sei como dizer, mas por estar com ele, por estar com o meu palhaço. Com
certeza eu fico bem tranqüilo, agora eu não sei se quando eu to estressado eu pego minhas
coisas e vou fazer e vou, pegou meu figurino, me maquio e saio clown.
É realmente artístico, tanto que hoje eu não tenho como meu, na verdade eu nunca tive ele
como um robie, eu sempre vi uma possibilidade profissional no meu clown. Na verdade eu
comecei pensando profissionalmente nele, e hoje eu já tenho, e é claro ainda
profissionalmente, eu tenho como um projeto de vida, porque nao tem coisa melhor que do
que rir, acho que a risada, é muito bom cara, nao tem coisa melhor. E quando a gente ta de
palhaço a gente ri muito e acho que é isso cara, nao tem coisa melhor que isso. É uma coisa
que eu gosto de fazer que me dá dinheiro, então nao tem porque eu nao levar par ao resto da
minha, claro, talvez se um dia acontecer alguma coisa, nao sei, também nao quero nem pensar
nisso.
É dinheiro suficiente, ou você precisa de outra renda para complementar?
Hoje o meu clown ele..., não o meu clown, eu não trabalho apenas com o meu clown, na
verdade eu trabalho com teatro. Mas hoje eu to caminhando para montar uma renda que daqui
talvez um ano eu consigo morar sozinho pagar meu aluguel, eu to...cada vez mais eu to
crescendo, fechando mais trabalhos, e isso ta aumentando de pouquinho em pouquinho, e uma
coisa que é consistente, dá para sentir que é consistente, por mais que é um trabalho que é
freelancer, você sente que ta acontecendo cada vez mais, os intervalos de um trabalho para
outro estão diminuindo. E as pessoas estão sempre contratando, o que eu acho que é...O
importante, eu acho, que é não ficar sossegado,ah ta vindo trabalhos eu to tranqüilo. Mesmo
com esse trabalhos eu tenho que estudar mais e vou correr mais atrás para que venham outros
trabalhos. Eu ano trabalho só com palhaço com teatro, na verdade hoje eu trabalho
basicamente com teatro.
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Faço propagandas, não é que eu faço propagandas, eu fiz duas propagandas, na verdade eu fiz
quatro propagandas, e agora começou a surgir de novo e cada vez mais ta surgindo mais
trabalhos.
Quais são outros trabalhos?
É só isso, propaganda.
Ações são geralmente com o palhaço?
Sim, ou não. Pode ser com o palhaço, pode se como ator mesmo, como cômico simples, sem
maquiagem, sem figurino, mas basicamente isso é o meu trabalho. Antigamente eu trabalhava
com música, eu tocava numa banda que era “O Vitor Morello e a rapa do tacho”, e eu tocava
toda quart-feira no vinte, e então, vinte um bar, vinte um bar é um bar aqui em campo grande,
bem legal de pop rock, e ai eu comecei a tocar com o Vitor, começou só nós dois e entrou o
baixista, entrou o guitarrista, depois entrou o baterista e nos fomos seguindo do começo do
ano passado, no começo do ano de 2009 até o final do ano de 2009, até o primeiro trimestre
de 2010 e ai nós tocamos lá toca quarta-feira regularmente.
Então isso dava uma renda pra mim, infelizmente não dava muita coisa porque musico não é
muito valorizado, acho que musico é menos valorizado do que um artista de teatro, de circo.
Então tocava, dava uma renda, mais era muito pela vontade de tocar.
O clown veio depois?
O clown veio antes na verdade, por muito tempo eu fiquei estagnado. Assim, sem trabalhar
meu clown, ai eu voltei a trabalhar meu clown, depois que eu fui convidado a participar de um
trabalho pela Chico Maria Produções, ai a Rane Abreu me convidou, eu e o Vitor tínhamos
uma dupla de palhaços, eu e o Vitor Morello e nós fizemos um trabalho por ela e depois e
logo depois ela já tinha falado que talvez ia rolar outros trabalhos, e ai comecei a trabalhar,
estudar um pouco mais e comecei a trabalhar bastante com ela. Hoje eu sou um...faço parte da
Chico Maria Produções, a Chico Maria, ela é uma, não deixa de ser...ela é uma associação de
artistas , todo mundo que ta lá trabalha, to mundo pode fechar serviços e fica uma comissão
para a produtora...e ai fica uma porcentagem para a produtora, para pagar nota, essas coisas. É
bem interessante porque ela oferece alguma estrutura, porque as empresas pedem muito para
gente muito trabalho e perguntam se você tem nota, eu não tenho nota, e posso comprar uma
nota na prefeitura mais eu pago caro por isso e acaba que as vezes não vale a pena. Ela
proporciona esse tipo de estrutura, e também um trabalho que é só comigo, ela vai e tem uma
pessoa que me ajuda na produção do trabalho, as vezes é a Rane, as vezes é a Kele Gerial. Ou
se não eu posso ajudar na produção deles. É bem legal é uma coisa que todo mundo se ajuda e
ganha dinheiro.
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E esse trabalho que eu fiz com a Chico Maria foi um pouco depois...foi quase no final da
nossa carreira lá no vinte um, da carreira do “Vitor Morello e a Rapa do Tacho”. Nesse
momento, nesse tempo todo eu não trabalhava com o palhaço, na verdade, a única coisa que
eu trabalhava com circo era dá aula num projeto, num projeto para crianças, aula de circo. De
acrobacias de solo, num projeto aqui em campo grande. Ai eu dava aula lá, mas eu não me
adaptei muito bem, eu vi que eu tinha muito jeito para dar aula ai eu parei.
Qual é a rotina quando resolve fazer sinal?
Quando eu resolvo fazer sinal...
Quando é isso?
Normalmente quando eu resolvo fazer sinal, hoje, hoje em dia é quando eu abro a carteira e
infelizmente eu vejo que não tenho dinheiro. Isso é uma coisa que tá me chateando muito hoje
porque ta acabando que minha apresentação no sinal não está se tornando uma coisa mais tão
artística eu to pesando mais no dinheiro, naquele quebra-galho pro final de semana, mas
quando eu resolvo fazer o sinal é normalmente no dia, ou no dia anterior, normalmente eu
faço nas sextas, quintas ou nas sextas...ou no sábado, ou as vezes sexta e sábado. E ai quando
eu resolvo eu acordo e vou para a faculdade, volto para casa arrumo minha mochila e coloco
meu figurino.
Como é o figurino?
Meu figurino é um figurino bem simples, é um, é uma roupa que parece com o Nhõ-Nhõ, que
é uma calça, não é uma calça, é um bermudão que, que vai do umbigo até o meio da canela,
com o suspensório e ai eu coloco uma camiseta branca por baixo, meu chapéu coco, e um
meião banco que vai até...ele fica por baixo da barra dessa calça, desse bermudão. Então é
legal porque fica parecendo que eu sou uma criancinha, uma criança grande, ai eu esse
figurino exatamente para fazer sinal. Então é fácil, se eu estiver de short eu coloco por cima
roupa, porque normalmente não é sempre que a gente consegue achar uma estrutura uma loja,
uma padaria, que empresta para gente um banheiro para fazer uma maquiagem. Ai eu
preciso de uma coisa rápido, que eu consiga me vestir rápido, ai eu coloco isso na mochila e
vou.
Ai eu pego minha bicicleta e vou pedalando, normalmente eu levo uns quarenta minutos para
chegar no local, ai eu chego na guia mesmo, ou as vezes numa escadinha que tem ali, próximo
da esquina uma escadinha pequenininha, eu sento coloco minha roupa, e meião já vo com ele
no tênis, então depois que eu coloquei minha roupa é só colocar o maião. Ai eu me maquieo
ali na região mesmo, as pessoas me olhando, eu tento ser um pouco rápido para que nos
intervalos que os carros, que o sinal ta verde, que os carros, os carros estão passando, então as
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pessoas não estão prestando muita atenção em mim. Nos intervalos eu vou lá e me maquio
rápido. Minha maquiagem é bem simples, então eu faço minha maquiagem rápido.
Por que esse cuidado?
Eu acho interessante que as pessoas tenham a surpresa de ver, de ver o palhaço. Quando as
pessoas vêem antes, elas até correspondem, eu poderia até não ter tanto essa preocupação,
mas...Por que aquela pessoa que ta me vendo, que ta me vendo eu me maquia ela não vai ver
minha apresentação, ela não vai...ela pode até ta interagindo comigo, mas daqui a pouco ela
pode estar daqui a cinco minutos do outro lado da cidade, então...Mas eu acho interessante
quando as pessoas tem aquela surpresa de ver, de que ele ta sentado ali na guia e do nada e
levanta e pronto, ta com o nariz, ta maquiado, já começa a fazer alguma brincadeira. É uma
coisa de surpresa...uma criança..ta ai...Não tanto pelos adultos, mas uma criança vendo o
palhaço se montando...
Acho que o palhaço tem uma magia, então, se a pessoa vê, se uma criança vê, eu tenho medo
que quebre essa magia na cabeça dela.
O que a música trouxe para o seu palhaço?
Quando eu tinha meu palhaço, quando eu já tinha meu trabalho de palhaço, não tinha a
música ainda, eu não era músico, e até eu começar a ser músico, no começo do ano de 2009,
no primeiro trimestre, eu ainda não...No meio do primeiro trimestre na verdade, eu não
tinha...Eu até sabia tocar uma percussão aqui, outra ali, mas uma coisa bem simples. Então eu
não trabalhava nada com isso, eu tinha meu clown, mas não utilizava música nele. Talvez
pegava um bongô, e fazia uma batucada, tipo que rufem os tambores, parararara...
Só isso, uma coisa bem simples, depois que eu comecei a tocar eu fiquei um tempo parado,
mas quando eu voltei para trabalhar com a Rane, eu voltei com a idéia do clown, os trabalhos
da Chico Maria normalmente são musicais, nos chegamos lá fazendo cortejo com música e
nós cantamos cantigas de roda, então acabou que eu comecei a utilizar a música, então...usar
as percussões fazendo base pras músicas né, tocando um baião no pandeiro, ou as vezes,
mesmo um samba e alguma coisa assim. Com certeza me ajudou, eu não sou um palhaço
musical, digamos...pega o violão e criar musiquinhas, nada disso acho que eu sou um palhaço
que faz batucada. Se eu to com um pandeiro na eu fico ali tocando um funk, brincando com a
molecada. Alguma coisa desse tipo.
Ela contribuiu porque hoje quando eu trabalho sempre levo o pandeiro para tocar as músicas e
cantar várias músicas, eu aprendi várias cantigas, essas coisas, mas não é o meu foco, assim...
Ajudou a te dar ritmo no caminhar do palhaço?
52

Eu acho que não (pausa bem grande), acho que não trouxe esse ritmo. Ritmo eu já tinha antes,
na verdade eu tive que aprender a...eu tive que trazer o pandeiro pro meu ritmo. Meu andar
não é uma coisa ritmada, digamos, é uma coisa totalmente, não chega a ser fora do controle.
Mas, eu posso ta andando normal, numa velocidade normal, e daqui a pouco eu vou correr e
como trabalhar isso com o pandeiro? Ai foi mais complicado pra mim, ainda hoje eu peno
para conseguir, pra mim...conseguir usar alguns instrumentos em cena.
Você pensa em largar o sinal?
Penso, Penso, cara. Na verdade eu não penso em largar o sinal, eu queria fazer sinal...chegar
um momento em que eu faça sinal puramen.... pensando na arte. É claro, fazer malabarismo
no sinal é uma arte mambembe, e o mambembe, ele tem como... tem na sua base mesmo, que
as pessoas, elas pagam o cachê do artista, então ele...Eu li num livro que esse é o modo mais
justo de um artista receber, receber seu cachê. Porque as pessoas elas julgam se gostaram e ai
elas vão, se elas gostaram elas podem aplaudir e pagar o cachê do artista, ou se elas não
gostaram elas não dão, fica a critério de cada um.
Mas, eu gostaria de não ter a necessidade de fazer sinal só quando eu não tenho dinheiro.
Entendeu? Porque como eu trabalho com prestação de serviço, tem dias que...tem semanas
que eu faço três apresentações, mas até eu receber esse dinheiro leva vinte dias e as vezes eu
to sem dinheiro naquele momento, ai eu vou fazer o que? Vou fazer sinal. É bom da uma
graninha aqui, ajuda alguma coisa, mas é não dá o prazer, eu não acho uma coisa legal ter
que sair de casa para fazer sinal apenas quando eu preciso de dinheiro. Eu gostaria de um dia
mesmo com dinheiro, tenho dinheiro, tendo minha renda, tenho dinheiro na minha conta,
talvez tenha um carro, e fala: Ah! Vou fazer sinal hoje. Pensando mais na arte do que no
dinheiro. Hoje o que eu tenho vontade de fazer é trocar o sinal por apresentações em bares.
Porque eu acho que eu vou....a parte do sinal já ficou tétrica, eu acho, eu entro lá eu já sei o
que vou fazer, sei a minha reação no final, é claro quando eu vou receber o dinheiro ali, eu
tenho várias reações que eu tenho que lidar, mas a parte do malabarismo eu não consigo mais
sair daquilo. Não tenho nem como sair daquilo, é um tempo muito curto. E como eu não tenho
o sinal como um trabalho, eu vou só pro sinal quando eu preciso de dinheiro, eu não sento em
casa e falo assim: eu vou criar um novo número de sinal. Ou eu vou criar um novo figurino
para sinal. Então eu acho que já ta ficando pobre tudo isso.
O que eu quero fazer agora é tentar fazer apresentações em bares. No mesmo molde,
apresenta, faz uma apresentação, não de malabarismo, apresentação de palhaço, com a
integração com o publico, depois eu tirou o chapéu e quem quiser pagar o cachê paga, mas
pelo menos eu vou ta trabalhando a minha atuação. Eu acho que eu tenho que mudar um
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pouco os ares, eu também acho que to um pouco cansado de fazer sinal. É um dinheiro
bacana, mas chega uma hora que cansa, entendeu? Ou talvez se eu fizesse sinal em outros
lugares, em outras cidades, acho que isso seria legal também.
Quem é o artista? O conceito de artista para você? Você se considera um artista?
Cara eu não tenho muita...eu acho meu pretensioso quando a gente fala assim, eu sou artista.
Hoje eu me considero artista, hoje eu sei que eu sou artista porque eu não consigo pensar em
outro profissão pra mim. Entendeu? ... E artista é uma profissão. Hoje eu desempenho a
profissão de artista, e eu não consigo ver daqui pra frente de repente, ah vou fazer um
concurso, eu abomino a idéia de concurso, fazer qualquer concurso.
Só que eu acho muito pretensioso falar ah eu sou artista, eu não tenho certeza...se eu sou...se
eu sou...artista. Acho que eu tinha que estudar mais, acho que eu tinha que correr mais atrás,
fazer mais cursos, trabalhar mais na área para eu falar assim ah...Para alguém chegar e assim:
ah o que você é? Ah eu sou um artista! Ainda eu gaguejo se a pessoa pergunta assim: ah o que
você é? Eu sou...eu sou...palhaço. Eu não tenho a certeza e a confiança de falar isso pras
pessoas, entende? Agora eu to começando a ter mais essa confiança, eu acho que... as pessoas
também já começaram a me ver muito em trabalhos e ai já tão associando minha figura com a
de um artista. Já tão falando assim, a o Pepa, ele é artista. Agora eu to começando a me sentir
mais segura de falar, que eu sou artista.
Agora eu fico pensando o que é o artista? Qual a função que ele desempenha? Eu não sei
dizer se ele tem um compromisso com a sociedade, eu não sei. Não sei se é interessante que
um artista faça filantropia pra que seja considerado um artista. Não sei eu acho que eu to...
num processo de descoberta, em várias coisas. Na minha vida nesse momento, agora este ano
de 2010 começou um período de muitas descobertas pra mim e eu ainda to descobrindo tudo
isso né. Até então eu era músico, agoraeu não sei se eu podia falar que era artista. Não deixa
de ser, um músico não deixa de ser artista, mas mim, na minha cabeça eu era músico. Eu não
tinha trabalho com isso, hoje eu to trabalhando com isso. Num período de um ano em meio.
Um ano e meio mais ou menos que eu que comecei a trabalhar, na verdade eu tive alguns
trabalhos em 2009 que eu fiz, mas ah...Mas não sei se eu posso falar isso, na minha cabeça e
não era...nada disso antes, eu era um músico e era professor, dava aula e...só isso, então agora
que eu to começando a trabalhar com isso. E agora que eu to começando a estudar isso, agora
que eu falo é uns seis meses pra cá, talvez seis, oito meses pra cá. Deste período pra cá que eu
fui começar a estudar, que eu fui começar a me descobrir, que eu to pensando quem realmente
eu sou, que to querendo saber quem é o meu palhaço, to querendo saber qual o nome do meu
palhaço.
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É claro que muito disso se deve ao tempo, da gente não ter tempo de correr atrás, de parar
para estudar essas coisas, a gente que faz faculdade, é complicado mas...Hoje é que eu me
sinto, que eu tenho a gana que quer fazer essas coisas, de falar assim, não eu sou palhaço e
como é que é meu palhaço. Eu sou músico, quero estudar música, como que eu vou fazer? O
que que eu gosto de verdade, será que eu gosto de samba, será que eu gosto de rock? Tudo
agora.
Tanto que eu tocava com o Vitor Morello, eu parei e agora to tocando com uns amigos meus,
to tocando samba, o nome da nossa banda é Tracajá e hoje eu to me perguntando: Será que eu
gosto de samba mesmo? Será que o que me move mesmo é o samba? Ou o rock? Eu já to
nessa dúvida existencial. Acho que minha vida sempre foi uma dúvida existencial. Aliás para
todos né?
Relação familiar com o trabalho.
A minha família sempre foi muito positiva, ela...no começo não gostava que eu fizesse sinal,
malabarismo no sinal, mas depois de um tempo eles foram sacando que minha vida era essa.
Eles foram entendendo que eu sou...um artista. Pausa. (50:03) Outro dia eu tava conversando
com a minha mãe, e ela tava falando que meu pai ta meio parado, ta meio estagnado, ele não
ta mais conseguindo evolui no trabalho dele. E ai eu falei, poxa mas o papai sabe mexer tanto
com as coisas, ele podia montar uma empresa de gesso, que faz serviço com gesso. Nos temos
um tio que trabalha com isso, eu tenho um tio na verdade. Ai eu falei para ela, e ela: mas
infelizmente não faz. E meu pai infelizmente precisa de alguém que esteja fazendo junto com
ele. Ai ela falou assim: na verdade ele queria que você tive do lado dele, mas ele não entende,
ele não entende que você é artista, ele não entende, você é artista, você não nasceu pra
trabalhar desse jeito.
Ai eu falei puxa vida até minha mãe já ta falando isso, eu acho que é verdade entendeu? É eu
sou um artista, eu sou um artista, não tem jeito. Só que...eles sempre acharam legal que eu
fizesse teatro, sempre eles ajudaram muito, eles não tem nenhuma formação de teatro nada
disso, nunca fizeram, minha mãe é mais louquinha, mas...foi uma adolescente mais pirada,
mas nunca teve teatro assim.
Agora eu tenho um tio, hoje falecido, que era artista, que era pintor. Então essa aceitação de
eu começar a fazer artes visuais na federal e mexer com teatro, foi uma coisa bem tranqüila
porque na família, no total assim, já tinha artista e as pessoas, minha família sempre foi muito,
família eu falo não só meus pais, meus tios, eles já estavam acostumados com isso, então
todos gostaram, é claro que quando eu tinha 18 anos e fazia teatro, fazia essas brincadeiras
com meus amigos ninguém olhava para mim e fala: ah ele vai trabalhar com isso. Todo
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mundo fala, ah legal, beleza, mas você vai trabalhar com o que? Acha que eu desempenharia
outro função, sei lá. Um trabalho comum, acham que eu ia trabalhar num trabalho de uma
carga horária de 40 horas semanais, renda fixa, carteira assinada...
Hoje o pessoal já ta começando a entender, já...já...aceitar, meus pais são super tranqüilos.
Acho que eles são mais tranqüilos porque eles entenderam...Meus pais trabalharam com
carteira assinada só na adolescência, meu pai trabalhou, quer dizer, minha mãe...na verdade
até os 30 anos eles trabalharam...depois eles começaram...eles montaram o negócio deles, e
eles são autônomos, até então. E eu nasci, e desde que eu nasci eu vejo o meu pai trabalhar ele
tinha uma transportadora antigamente, tinha que transportar ele transportava porque precisava
ganhar dinheiro, então trabalhava ao máximo para conseguir ganhar dinheiro. autônomo
trabalha muito, cara, se você for ver. Hoje, assim, eu tenho...se você tiver três trabalhos num
dia, se for tomar meu dia inteiro, eu vou pegar os três trabalhos num dia, então? E se no outro
dia tiver trabalho eu vou pegar porque precisa acumular dinheiro porque eu não sei quando
vai ter outro trabalho.
Então hoje...e eu acho que eu cresci vendo meus pais desse jeito, então eu comecei a pensar
nisso, eu nunca quis ser empregado, entendeu? Acho que com certeza as coisas seriam mais
fáceis se eu soubesse ser empregado. Se seu falasse...Se eu..Porque eu não sei, eu não consigo
entender a idéia de você ter que trabalhar um mês inteiro pra você pegar o dinheiro no final do
mês. Entendeu? Você trabalha o mês inteiro, durante oito horas por dia e você vai ganhar
digamos mil reais. Hoje talvez eu faça cinco trabalhos no mês, cinco ou seis trabalhos no mês
e eu consigo mil reais, entendeu? É mais fácil, muitas pessoas falam: puxa eu quero trabalhar
com isso também. Mas pode ser que no outro mês eu não ganhe nada, então tem que pegar o
dinheiro e fazer render.

Mas os meus pais sempre foram...hoje eles estão mais positivos assim, são mais tranqüilos,
antigamente eles ainda ficavam mais assim... mas com relação a incentivar a fazer teatro, não:
faz teatro. Eles nunca incentivaram assim, antigamente...eles nunca incentivaram a trabalhar
com teatro: ah vai lá trabalha com teatro, você tem que trabalhar com teatro... É legal...Mas...
eles incentivavam fazer teatro, mas como um robie. Agora eles já entenderam e já incentivam
também assim: ah tem que trabalhar...minha mãe falava, ai Pepa, se ta vendo que o pessoal
ganha dinheiro fazendo vídeo no you tube, ela acha que vídeo no you tube dá dinheiro.você
tinha que fazer isso daí também, o pessoal fica famoso.
Conversa paralela sobre o you tube.
Vou começar a ouvir minha mãe...
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ANEXO 4

Roteiro de Montagem de áudio

Início

Fala eu nunca quis ser empregado, entendeu? Acho que com certeza as coisas seriam mais
fáceis se eu soubesse ser empregado./
É mais fácil, muitas pessoas falam: puxa eu quero trabalhar com isso também//
Autônomo trabalha muito, cara, se você for ver. Hoje, assim, eu tenho...se você tiver três
trabalhos num dia, se for tomar meu dia inteiro, eu vou pegar os três trabalhos num dia//
Antigamente eu trabalhava com música, eu tocava numa banda que era “O Vitor Morello e a
rapa do tacho”, e eu tocava toda quart-feira no vinte, e então, vinte um bar, vinte um bar é um
bar aqui em campo grande, bem legal de pop rock//
Então isso dava uma renda pra mim, infelizmente não dava muita coisa porque musico não é
muito valorizado, acho que musico é menos valorizado do que um artista de teatro, de circo//

Fala Eu acho interessante que as pessoas tenham a surpresa de ver, de ver o palhaço. Não
tanto pelos adultos, mas uma criança vendo o palhaço se montando...
Acho que o palhaço tem uma magia, então, se a pessoa vê, se uma criança vê, eu tenho medo
que quebre essa magia na cabeça dela//
Eu comecei meu palhaço trabalhando no sinal mesmo. Eu tinha um grupo de amigos que
queria montar um grupo de teatro mais voltado para o circo, ai um desses meus amigos falou
assim: Pepa você leva muito jeito para palhaço, então conversa com Marcelo, Marcelo Picola
é um grande amigo meu, que trabalha com teatro/ai ele foi e deu a primeira dica pra mim//

Ele falou: O palhaço tem um jeito especial de andar, ele se desloca de maneira diferente no
palco ou aonde ele estiver. E você tem que ter um cuidado especial com o nariz de palhaço
que para onde você olhar é para aquele ponto que as pessoas também vão olhar. O nariz de
palhaço ele funciona como um foco. E daí pra frente comecei a seguir esta linha//
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Cena 3
Fala Antes meu trabalho do sinal era uma coisa que apenas para ganhar dinheiro. Nada muito
consistente//
Primeiro foi só o nariz de palhaço fazendo uma coisa sem graça/ai eu fui começando a
interagir
eu fui entender que palhaço na verdade era uma interação mesmo com as pessoas //

Cena 5
Fala O palhaço está em descoberta ainda, eu ainda não sei como é que é o meu palhaço.//
Tanto que eu não tenho um nome para o meu palhaço.
Eu to agora começando a estudar, procurando livros, para começar a compreender o que eu to
fazendo, é a partir dessa compreensão do que eu to fazendo é que eu vou começar a crescer.

Cena 6
Fala Eu procuro logo que fecha o sinal eu procuro não pensar no nervosismo das pessoas, eu
entro e começo a fazer meu número, eu começo a ter contato com as pessoas e ver como elas
estão de verdade quando eu olho para frente/ no momento que eu tiro o meu chapéu e vou
buscar o meu cachê/
é claro que as vezes, que momento em que eu to fazendo malabarismo ai tem um cara que
começa a dar umas aceleradas, também é fácil de contornar/
sei lá eu jogo as claves para cima finjo que estou assustado e as vezes eu consigo passar tanta
credibilidade nesse movimento que até a pessoa começa a rir entendeu? //
Cena 7
Fala A questão da receptividade/ Eu não consegui ainda traçar um perfil dessas pessoas/
Então acho que conta muito do humor o que ta acontecendo no dia dela, como é que tá a vida
dela/
Eu já pensei, eu quis fazer, durante um tempo eu até levava um caderninho, para tentar, meio
que traçar um perfil das pessoas./Mas eu não consegui, eu não consegui fazer isso, talvez com
uma pesquisa maior, mas eu acho que é muito pouco tempo para...é uma coisa muito rápida
porque logo depois que abre o sinal//

Cena 8
Fala Várias vezes as pessoas passam na rua, passam na rua e gostam e vão lá e contribuem/
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Quando a pessoa gosta, é claro que ainda tem aquela coisa, campo grande é uma cidade ainda
cheio de estereótipos, as pessoas , elas, não sei se posso assim dizer, mas as pessoas, elas
acham que porque um palhaço está no sinal que quem vai dar dinheiro são os carros, então o
número de pessoas que estão passando na rua e dão dinheiro é bem menor do que o dos
carros.//
Aqui em Campo Grande tem muita gente que trabalha com isso, tem palhaços muito bons,
mais de vez em quando, o pessoal se fecha muito, então a gente não consegue ter uma troca
de idéias. Hoje eu to conseguindo já trocar idéia com algumas dessas pessoas, e já ta me
ajudando muito.

Cena 9
Fala Com certeza eu fico cansado depois do trabalho, mas é divertido. Você tem várias
experiências é um trabalho inesperado, você não sabe o que vai acontecer. Eu vou lá interajo
com uma pessoa, ela responde de um jeito eu faço outra brincadeira e daqui a pouco a gente ta
conversando há dez minutos só fazendo piada um com o outro.//
Hoje o que eu tenho vontade de fazer é trocar o sinal por apresentações em bares// a parte do
sinal já ficou tétrica, eu acho/ Não tenho nem como sair daquilo, é um tempo muito curto.
Eu tenho vontade de ir para São Paulo fazer alguns cursos/ Conhecendo o cenário, ver o que
que tem pra lá. Tenta mesmo fazer sinal, não só sinal né, mas fazer apresentações em bares//
É realmente artístico, tanto que hoje eu não tenho como meu, na verdade eu nunca tive ele
como um robie, eu sempre vi uma possibilidade profissional no meu clown. Na verdade eu
comecei pensando profissionalmente nele, e hoje eu já tenho, e é claro ainda
profissionalmente, eu tenho como um projeto de vida, porque não tem coisa melhor que do
que rir, acho que a risada, é muito bom cara, não tem coisa melhor.//

Hoje o meu clown ele..., não o meu clown, eu não trabalho apenas com o meu clown, na
verdade eu trabalho com teatro.

Cena 10
Fala A minha família sempre foi muito positiva, ela...no começo não gostava que eu fizesse
sinal, malabarismo no sinal, mas depois de um tempo eles foram sacando que minha vida era
essa. Eles foram entendendo que eu sou...um artista.
É eu sou um artista, eu sou um artista, não tem jeito. // Vou começar a ouvir minha mãe...
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...eu acho meio pretensioso quando a gente fala assim, eu sou artista. Hoje eu me considero
artista, hoje eu sei que eu sou artista porque eu não consigo pensar em outro profissão pra
mim. Entendeu? ... E artista é uma profissão.// Agora eu fico pensando o que é o artista? Qual
a função que ele desempenha? Eu não sei dizer se ele tem um compromisso com a sociedade,
eu não sei.
que rufem os tambores, parararara...
Imagens se repetem em ritmo frenético.

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