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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE JORNALISMO

Gabriel Luis Pereira

EMERGÊNCIAS EM JORNALISMO AUDIOVISUAL:


O USO DA FERRAMENTA LIVE STREAMING

Mariana
2022
Gabriel Luis Pereira

EMERGÊNCIAS EM JORNALISMO AUDIOVISUAL:


O USO DA FERRAMENTA LIVE STREAMING

Pesquisa apresentada ao curso de Jornalismo


da Universidade Federal de Ouro Preto, como
requisito parcial para aprovação na disciplina
de TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO II.

Orientador: Prof. Evandro José Medeiros Laia

Mariana
2022

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha mãe, Graça Pereira, mulher forte e corajosa que me
ensinou sobre o amor, a paciência e a honestidade através do exemplo. Agradeço também ao
meu pai, Mauro Bernardes, que não mede esforços para fazer o impossível acontecer. Este
diploma também é uma conquista de vocês.
Ao meu irmão, Luiz Felipe Pereira, por todas as noites em claro de conversas tão
sagazes, pelo pensamento subversivo e por me ensinar a compartilhar, te admiro e amo.
A minha noiva e melhor amiga, Talita Ferraz, que todo dia me inspira e me faz ser
melhor, obrigado pela convivência, por todo o carinho e empatia, você é incrível.
Ao meu sobrinho, Benício, que com tão pouca idade já me ensina tanto sobre a vida e
me inspira a lutar por um futuro mais justo.
Aos amigos e companheiros de Mariana e do mundo, em especial: Carmem
Guimarães, Bruno Andrade, Clube dos 5 (Carla Cruz, Xexéu, Lucas Miranda, Lívia e Júlia
Maia), Cintia Soares, Yago Pinheiro, David Slvestre, Júlia Souza, Mayron Brito, Mariana
Botão, Matheus Buranelli, Sandy Oliveira, Malu Silva e Igor Diniz, por terem me acolhido
tão bem e por terem tornado os anos da graduação tão divertidos.
Ao meu querido orientador, Evandro Medeiros, pela paciência, pelos ensinamentos
durante toda a graduação e por expandir as possibilidades de construção deste trabalho.
Aos professores da Universidade Federal de Ouro Preto: Lara Linhalis, Anderson
Medeiros, Adriano Medeiros, Michele Tavares, Carlos Jáuregui, Coração, Hila Rodrigues e
tantos outros. Obrigado pela generosidade, pelos ensinamentos e por fazerem tanto com tão
pouco em tempos de obscurantismo e ataques à educação, nós passaremos.
Às fontes entrevistadas para a realização do produto: Amanda Botelho, Leonardo
Attuch e Steve Seguin.
Muito obrigado!

2
RESUMO
Esta pesquisa surgiu da necessidade de se pensar novos paradigmas do jornalismo
audiovisual, que vêm sendo estabelecidos junto com a evolução da internet e das tecnologias
de produção ao vivo na última década, cuja forma, há pouco tempo, era financeiramente
excludente e exclusiva para grandes empresas e veículos de comunicação, mas que agora se
torna mais acessível por meio do live streaming. Ensaiamos algumas formas de vislumbrar o
uso desta ferramenta enquanto uma tecnologia-chave para a transformação desta ecologia das
redes e da televisão. Também mapeamos e identificamos as apropriações realizadas por
streamers, midiativistas e jornalistas independentes (estes últimos com uma atenção especial)
na experimentação destes novos formatos de transmissões ao vivo pela internet, as lives,
sobretudo neste recorte temporal de pandemia e comunicação remota causados pela
Covid-19.

ABSTRACT
This research arose from the need to think about the paradigms of audiovisual journalism,
being created along with the evolution of the new era of the internet and the latest live
production technologies in the decade, whose form, not long ago, was financially excluding
and exclusive to big companies and media outlets, but which is now more accessible through
live streaming. In the following pages, we will try some ways of envisioning the use of this
tool as a key technology for an ecological transformation of networks and television. Map
and identify how appropriations made by streamers, media activists, and independent
journalists (the latter with special attention in these cases) in the experimentation of these
new formats of live broadcasters, especially in this time frame of pandemic and remote
communication trained by Covid-19.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………. 4
2 AUDIOVISUALIDADES EMERGENTES ………………………………………………6
2.1 LIVE STREAMING, COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI? ……………………………8
2.2 LIVES NA PANDEMIA ……………………………………………………………..14
3 MAPA DO PRODUTO …………………………………………………………………...20
3.1 CONCEITO…………………………………………………………………………..20
3.2 DESCRIÇÃO DAS FONTES ………………………………………………………..20
3.3 REFERÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DO PRODUTO ………………………….22
3.4 PROPOSTA…………………………………………………………………………..24
3.5 TRATAMENTO ……………………………………………………………………...25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………….26
REFERÊNCIAS …………………………………………………………………………….27

4
1 INTRODUÇÃO
Em seus primórdios, o vídeo tinha como suporte fundamental a sua gravação em
película, um método analógico de registrar imagens em um tipo de material plástico
fotossensível, composto geralmente por triacetato de celulose e sais de prata, o filme. Capaz
de gravar o negativo das imagens capturadas através de uma lente para posteriormente serem
reveladas, registrando um instante de uma determinada quantidade de matéria, em um
determinado recorte geográfico. Embora não haja um consenso, dizem que foi só com os
irmãos Lumière e o cinematógrafo, apresentado ao público em 1895, que pudemos perceber
pela primeira vez o movimento das imagens gravadas em película, através da exibição rápida
e em sequência dos fotogramas captados. Foram 32 anos de cinema “mudo” até que, em
1927, o áudio passasse a compor as obras cinematográficas, a cor viria logo depois, em 1932.
De lá pra cá, transformando junto com os hábitos de consumo, o vídeo já adotou
diversos suportes, desde a película de filme e o VHS como formatos analógicos, até os
formatos digitais para internet, passando pelo DVD e o BluRay, este último sem muita
penetração, justamente pela popularização da banda larga. Conforme a tecnologia avançava,
estes formatos digitais foram sendo otimizados a fim de obter a melhor nitidez e resolução
possível, ao passo que o tamanho total que os arquivos ocupavam de armazenamento ia sendo
diminuído, fenômeno conhecido como compressão. Somado ao aumento da largura de banda
das redes e com a chegada de tecnologias de conexão mais velozes, isto possibilitou que
pudéssemos realizar pela primeira vez a transferência de vídeos em tempo real pela internet,
não demorou muito para que fossem criados protocolos, para que isto fosse, de fato, possível.

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2 AUDIOVISUALIDADES EMERGENTES
Para trazer contextualização e interpretar os fenômenos destas novas tecnologias
próprias da internet, recorreremos aos estudos sobre a televisão, seus gêneros e formatos,
principalmente sobre os trabalhos de Machado (2000), que volta a atenção à qualidade do
conteúdo que é efetivamente produzido e transmitido nos produtos audiovisuais da televisão,
elencando suas características através de exemplos de produções televisivas brasileiras. E
Manuel Castells (2013), o qual investiga as ações de movimentos sociais na era das
sociedades em redes, com ênfase no fenômeno que batizou de “autocomunicação”.
No dia 18 de setembro de 1950, há 71 anos, a televisão fez a sua estreia no Brasil, em
uma transmissão ao vivo com uma câmera só, já que o segundo equipamento apresentou
defeito antes mesmo de entrar no ar. O sinal partia da TV Tupi, a quarta emissora de televisão
fundada no mundo, a primeira da América Latina, pertencente aos Diários Associados.
Conta-se que, para a estreia e para os primeiros dias de operação, Assis Chateaubriand, dono
do grupo, adquiriu cerca de 200 aparelhos televisores e deu de presente a pessoas influentes
do país naquela época, além de espalhar outra parte dos aparelhos por bares e restaurantes da
cidade de São Paulo, uma maneira de fazer a população acompanhar a programação e se
acostumar com a nova engenhoca. Foi então que às 17 horas e 30 minutos daquele dia, no
canal 3 de São Paulo, surge a imagem da atriz-mirim Sonia Maria Dorce, que na época tinha
apenas 6 anos e usava um cocar. Para aquela criança, não devia parecer grande coisa, mas foi
da boca dela que saiu a primeira frase transmitida na TV em terras brasileiras: “Boa noite.
Está no ar a televisão do Brasil”, seguida pela estreia do primeiro programa televisivo, a TV
na Taba, que contou com a participação de artistas consagrados do rádio, como Inezita
Barroso, Lolita Rodrigues, Airton Rodrigues e Lima Duarte.
O alto custo das televisões naquela época tornava financeiramente inacessível para a
maioria dos cidadãos. À medida que os aparelhos foram se tornando mais baratos, a TV se
popularizou de uma maneira estrondosa, sendo até mesmo encarada por magnatas da mídia e
pesquisadores da comunicação como um suporte de comunicação “de massa”, resultando em
uma certa dispersão da atenção sobre as suas experiências. (MACHADO, 2000).
A despeito de todos os discursos popularescos e mercadológicos que tentaram e
ainda tentam explicá-la, a televisão acumulou, nestes últimos cinqüenta anos de sua
história, um repertório de obras criativas muito maior do que normalmente se supõe,
um repertório suficientemente denso e amplo para que se possa incluí-la sem
esforço entre os fenômenos culturais mais importantes de nosso tempo.
(MACHADO, 2000, p. 16).

6
Apesar da grande penetração deste meio entre quem assiste, nota-se que há tempos o
Brasil segue uma tendência de monopolização dos veículos de comunicação, sobretudo de
emissoras de TV e Rádio, acelerados pelos interesses dos grandes conglomerados de mídia
(CASTELLS, 2013). Isso é o que também aponta o Monitoramento da Propriedade da Mídia
(ou MOM, da sigla em inglês), realizado por uma parceria entre o Ministério de Cooperação
Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, o coletivo brasileiro de comunicação
Intervozes e os Repórteres Sem Fronteiras, baseados na França. Segundo esse estudo, apenas
5 famílias controlam 26 dos 50 maiores veículos de comunicação do Brasil. Tal relatório
também demonstra uma falta de capilaridade geográfica destes veículos, fazendo com que,
quando falamos sobre a televisão, grande parte da programação disponível para a população
ao longo do dia seja proveniente de uma das quatro maiores emissoras, de cobertura nacional
(MOM, 2017). Devido ao alto custo de operação e das dificuldades de se conseguir uma
concessão pública para a transmissão ao vivo do sinal de TV e Rádio no Brasil, a
comunicação popular estava sempre restrita a estas grandes empresas (e empresários) de
comunicação, que concentram poder.
Se antes era preciso possuir uma mídia física, como o VHS e o DVD, ou sintonizar na
programação da TV para consumir algum produto audiovisual, agora estes e outros conteúdos
estão disponíveis ao vivo e on demand para serem acessados através do streaming, sem a
necessidade de fazer download do material no armazenamento no dispositivo que reproduz.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD),
realizada pelo IBGE em 2019, o aparelho de televisão estava presente em 96,3% dos
domicílios brasileiros. Em toda a série histórica, esta foi somente a primeira vez em que
houve uma ligeira retração neste indicador, que reduziu 0,1% em comparação com o ano
anterior. Essa mesma pesquisa ainda aponta a presença do smartphone em 94% dos
domicílios, sendo este o principal dispositivo de acesso à internet, que por sua vez estava
disponível em oito a cada dez domicílios. Entre as atividades realizadas por usuários, “assistir
a vídeos, inclusive programas, séries e filmes” foi citada por 88,4% dos entrevistados (IBGE,
2019). Tais indicadores relacionados acima fornecem um panorama dos hábitos de consumo
de conteúdos audiovisuais dos brasileiros e aponta para uma transformação destes hábitos nos
últimos anos.

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2.1 LIVE STREAMING, COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
Com a invenção do smartphone e das redes sociais somados à evolução da banda
larga e das ferramentas de produção audiovisual, a criação de conteúdo para a internet passou
a estar acessível para uma fatia maior da população. Pela primeira vez, pequenos canais de
comunicação e veículos de imprensa independentes puderam colocar o seu trabalho a
disposição de qualquer um que estivesse conectado. A Mídia NINJA, por exemplo, passou a
ocupar o seu espaço nas redes sociais com a cobertura de manifestações urbanas, sobretudo
as de caráter político e cultural, mas foi mesmo durante os protestos de junho de 2013, que o
grupo ganhou projeção nacional. Na ocasião, o grupo usava smartphones e uma
estrutura-gambiarra, montada em um carrinho de supermercado, para conseguir realizar lives
diretamente da rua. Deu até no New York Times: “Um grupo, chamado N.I.N.J.A., [...] tem
circulado pelas ruas com smartphones, câmeras e um gerador em um carrinho de
supermercado – um estúdio de produção improvisado e itinerante”1 (ROMERO e
NEUMANN, 2013). O trabalho desta mídia livre durante os atos que se iniciaram pautados
pelo aumento das passagens de ônibus em 2013 marcaram o início de um novo modo de se
cobrir manifestações populares no Brasil, com o uso das tecnologias live streaming.
O trabalho do grupo funcionou como um tipo de vigilância, proteção para os
manifestantes, contra a violência policial. As transmissões são feitas, via de regra,
com o uso de um aparelho de telefone celular, com uma conta pós-paga, com acesso
à Internet, além das baterias extras e do equipamento de proteção do midiativista,
como o capacete. (LAIA, 2016, p. 21).

Diferentemente dos grandes veículos da mídia tradicional que se recusavam a realizar


a cobertura dos protestos ou o faziam com um certo distanciamento dos manifestantes, muitas
vezes criminalizando todo o movimento e até mesmo aqueles que estavam ali para cobrir os
atos do seu interior, os NINJAs estavam no front, misturados em meio à multidão, registrando
tudo sob uma perspectiva completamente singular, diferente da que estávamos acostumados
até aquele momento, interagindo diretamente com os atores sociais que fazem parte daquele
processo social. Pode-se dizer que os grandes veículos de imprensa foram, de fato, agendados
pelos midialivristas, mas somente passaram a realizar a cobertura das manifestações quando
foram diretamente atacados.
Apenas após o protesto de 13 de junho de 2013, marcado pela forte repressão
policial que chegou até a ferir jornalistas que realizavam a cobertura, os veículos da
grande imprensa começaram a transmitir o evento. A Rede Globo foi uma das mais
criticadas durante os atos, por ter inicialmente tratado os manifestantes como
“vândalos” e por não ter disponibilizado uma cobertura ao vivo das mobilizações,

1
Texto original, em inglês: "One group, called N.I.N.J.A., [...] has been circulating through the streets with
smartphones, cameras and a generator held in a supermarket cart – a makeshift, roving production studio”.

8
sendo acusada até de manipular – para menos – o número de manifestantes, como
forma de minimizar a relevância das ações. (MAGALHÃES, 2018, p.200)

Esse tipo de cobertura e ocupação do ciberespaço realizada por jornalistas, streamers


e midiativistas no Brasil, aludem a grandes mobilizações populares ocorridas pouco antes das
jornadas de junho, quando do estopim do movimento que veio a ficar conhecido como
Primavera Árabe, com início na Tunísia em 2010. Depois de se recusar a continuar pagando
propina a autoridades locais, Mohamed Bouazizi, um vendedor de frutas tunisiano, ateou
fogo no próprio corpo em frente a sede do governo regional. O ato de autoimolação em
protesto contra as más condições de vida, o desemprego e a corrupção foi filmado e
compartilhado massivamente nas redes sociais, culminando em uma convulsão social no país,
posteriormente este mesmo sentimento de revolta se espalhou, sobretudo do norte da África e
Oriente Médio, mas também em outras regiões do mundo como na Espanha, através do
movimento 15M, e nos Estados Unidos, com o Occupy Wall Street, em Nova York.
De início, eram uns poucos, aos quais se juntaram centenas, depois formaram-se
redes de milhares, depois ganharam o apoio de milhões, com suas vozes e sua busca
interna de esperança, confusas como eram, ultrapassando as ideologias e a
publicidade para se conectar com as preocupações reais de pessoas reais na
experiência humana real que fora reivindicada. (CASTELLS, 2013, p. 9-10)

O sucesso das reivindicações desses movimentos devem ser analisados em cada caso
específico, entretanto o que é comum a todos eles é sua forte organização através das redes
sociais, já que estas são “espaços de autonomia, muito além do controle de governos e
empresas, que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de comunicação como
alicerces de seu poder” (CASTELLS, 2013). Em grande parte das manifestações, a repressão
policial e a cobertura controversa da mídia hegemônica também marcavam profundamente os
atos ao redor do mundo, enquanto isso, jornalistas independentes fotografavam, filmavam e
transmitiam tudo diretamente da rua. Esta foi a primeira vez que manifestantes estavam
respaldados com abundantes evidências dos abusos que aconteciam durante os protestos,
participando ativamente da disputa de narrativas pelo apoio da opinião pública.

Ninguém esperava. Num mundo turvado por aflição econômica, cinismo político,
vazio cultural e desesperança pessoal, aquilo apenas aconteceu. Subitamente,
ditaduras podiam ser derrubadas pelas mãos desarmadas do povo, mesmo que essas
mãos estivessem ensanguentadas pelo sacrifício dos que tombaram. (CASTELL
2013, p. 9)

9
Para descrever um pouco do trabalho de jornalistas e midiativistas como o do coletivo
Mídia Ninja durante as manifestações, recorreremos a um vídeo2, em formato de dossiê,
ainda hoje disponível no canal do grupo no YouTube. Situações como a que será narrada a
seguir é apenas um entre vários outros casos que evidenciam as potencialidades da
comunicação independente com o uso de ferramentas nativas das redes, o papel cidadão da
mídia independente em relatar fatos através de uma visão diferente daquela que ecoa entre os
veículos hegemônicos, subversiva, demonstra de maneira ainda mais nítida a necessidade de
sua existência em casos de truculência e violência do Estado.
No dia 22 de julho de 2013, Papa Francisco chegava no Rio de Janeiro para a Jornada
Mundial da Juventude, o primeiro evento internacional do seu pontificado, enquanto isso nos
arredores do Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro, um protesto
convocado por integrantes de partidos políticos, coletivos feministas e LGBTQIA+ acontecia
de maneira pacífica. Em determinado momento do ato, já em um cruzamento próximo ao
Palácio Guanabara, a polícia bloqueou a marcha dos manifestantes, que queimaram um
boneco de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro naquele momento. Tudo aconteceu
muito rápido, no front do protesto alguns manifestantes retiraram as grades de contenção que
obstruiam o caminho da manifestação, entre eles estava Bruno Telles, um estudante de 25
anos, que aparece à direita da Figura 1. Poucos segundos mais tarde, uma bola de faíscas
surge no canto superior direito da imagem (Figura 2) e explode aos pés da fileira de policiais
militares da tropa de choque. Era um coquetel molotov, que foi arremessado por alguém de
fora do quadro. No exato momento do impacto do artefato incendiário caseiro, uma bomba de
efeito moral também explode aos lado de Bruno Telles e outros manifestantes que estavam ao
redor, é possível visualizar a posição de Bruno poucos quadros antes das explosões, que
recuava, com as mãos vazias, à direita da Figura 3.
No mesmo vídeo, ainda é possível ver a prisão do estudante, perseguido até ser
imobilizado com o choque elétrico de um taser, um tipo de arma “menos letal”, terminologia
utilizada pelas forças de segurança. Até mesmo quando já estava no chão, rendido, Bruno foi
eletrocutado no peito por alguns segundos, chegando a ficar desacordado.

2
Vídeo disponível em: “Vandalismo de Estado - Policiais Infiltrados Começam Violência nos Protestos do Rio
#EagoraCabral?”

10
Figura 1: Posição de Bruno alguns segundos Figura 2: Momento em que o molotov é lan-
antes das explosões. çado. Bruno está logo atrás do poste à direita.

(Fonte: Mídia Ninja) (Fonte: Mídia Ninja)

Figura 3: Momento das explosões do mo- Figura 4: Policiais infiltrados se identificam para os
lotov e da bomba de efeito moral. colegas fardados.

(Fonte: Mídia Ninja) (Fonte: Mídia Ninja)

Bruno foi preso por (supostamente) portar artefatos explosivos em uma mochila e
arremessá-los contra a polícia, entretanto nas imagens fica claro que o estudante não portava
uma mochila e nem carregava nada em suas mãos, fortes evidências de uma prisão injusta.
Este vídeo ainda exibe um flagrante do momento em que um coquetel molotov é arremessado
por um homem de camiseta preta com estampa, características similares de um policial
infiltrado (P2) que se identifica para seus colegas de corporação e adentra as fileiras da
Polícia Militar momentos mais tarde, causando confusão até mesmo entre os fardados, que
abordaram o agente disfarçado e seu parceiro, repreendidos aos gritos de “é polícia!”,
estragando de vez o disfarce (Figura 4).
Devido à baixa resolução das imagens e a ausência de outras evidências que
comprovem a identidade do autor do coquetel, é impossível dizer se quem arremessou o
molotov e o policial infiltrado se tratem da mesma pessoa, mas como diz o lema do Meteoro
Brasil: “No Jornalismo não importa o que a gente acha, importa o que a gente sabe”, e o que
a gente sabe é que essas imagens registradas de maneira autônoma foram reunidas e tiveram

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forte repercussão pela internet, sendo exibidas até mesmo no Jornal Nacional, corroborando
para a desconstrução dos crimes imputados a Bruno Telles, que teve o seu caso arquivado
uma semana depois.
Ainda neste mesmo dia, dois integrantes da Mídia Ninja também foram detidos sob a
acusação de “incitação à violência”, Felipe Assis e Felipe Peçanha, o segundo conhecido
como "Carioca", abordado por outro P2 que se recusou a dar a sua identificação. No
momento da revista pessoal, Felipe ainda transmitia para os canais da Mídia Ninja e era
assistido por mais de 5 mil pessoas, que acompanhavam ao vivo a abordagem da PM, o que
parece ter intimidado um pouco os agentes de segurança. Quando estava prestes a ser
conduzido para a delegacia de polícia, antes de ser colocado na viatura, o streamer fez a
multidão de manifestantes saber que o seu smartphone estava ficando sem bateria e que
precisava de um outro, prontamente seu pedido foi atendido por um homem não identificado
que participava do ato. Os protestos, que até então estavam previstos para serem finalizados
às 21 horas, foram então estendidos aos gritos de “Libertem a Mídia Ninja!” até quase 23h,
em vigília próximo ao 9º DP, localizado no Catete, local para onde os detidos foram
conduzidos. Ao ser liberado, já pelas dez e meia da noite, Felipe Peçanha deu a seguinte
declaração em frente à delegacia: “Me impediram de fotografar, fazer vídeos e transmitir o
que acontecia. Isso é um exemplo claro da ditadura velada que enfrentamos no Rio”3.
Para tentar explicar um pouco sobre o trabalho dos streamers, nome dado àqueles que
estão por trás das lives, transmitindo com o uso de um único smartphone ou quem o faça em
colaboração com uma rede de vários atores como o caso da Mídia Ninja, precisamos
impreterivelmente discorrer sobre o funcionamento técnico de seu suporte fundamental, o
streaming. Um filme da Netflix ou um vídeo do YouTube ainda são armazenados em suportes
físicos, mas agora estão nos servidores destas plataformas, equipamentos desenvolvidos para
armazenar e transferir todos estes conteúdos até as telas do espectador, através da internet. No
caso do live streaming e sua particularidade em relação à operação ao vivo, este caminho
pode ser um pouco mais complexo, pois começa com a captura da imagem e som através de
câmeras e microfones, estas imagens são então codificados seguindo protocolos de
transmissão como o WebRTC ou o RTSP, sigla de Real Time Streaming Protocol
(SCHULZRINNE et al., 2016), que basicamente é uma instrução de como estes arquivos de
vídeo que estão sendo produzidos em tempo real devem ser codificados e transformados em
pacotes de dados pelo encoder, posteriormente estes pacotes são então enviados pela internet
3
FARINA, C. et al. Detenção de integrantes da ‘Mídia Ninja’ prolongou os protestos, Veja, 22 jul 2013.
Disponível em: “https://veja.abril.com.br/brasil/detencao-de-integrantes-da-midia-ninja-prolongou-os-protestos/

12
aos servidores da plataforma que hospeda as transmissões e só então segue para a as telas do
consumidor final. Todo este caminho entre a captação e a recepção das imagens é percorrido
em segundos, intervalo temporal que pode ser ignorado em termos práticos.

RTSP é uma protocolo em nível de aplicação para a configuração e controle da


transferência de dados com propriedades de tempo real. RTSP fornece um
framework extensível para permitir o controle da transferência on demand de dados
em tempo real, tais como áudio e vídeo. Fontes de dados podem incluir tanto
ficheiros de dados ao vivo como clipes armazenados (SCHULZRINNE et al., 2016,
tradução nossa)4.

A diferença essencial entre os conteúdos disponíveis on demand e o live streaming é


que o primeiro se trata de um conteúdo gravado, editado e armazenado, sua transmissão se dá
a partir do momento que o espectador aperta o play na plataforma de sua preferência, em
seguida os primeiros segundos do vídeo são carregados, criando o buffer. Assim que o
conteúdo passa a ser reproduzido, o carregamento do ficheiro continua paralelamente em
segundo plano, caso haja problemas na conexão com a internet e o carregamento seja
interrompido, a reprodução do vídeo é pausada assim que chega ao último quadro carregado
pelo buffer, podendo retornar em seguida se a conexão for restabelecida. Nesta modalidade,
os conteúdos podem ser consumidos sem hora marcada, on demand, enquanto no caso do live
streaming, a imagem e o som são captados em um intervalo temporal bastante curto em
relação a quem assiste ao vivo, caso ocorra algum problemas com a conexão tanto de quem
emite como de quem assiste, o fluxo de transmissão em tempo real é quebrado, retornando já
em um momento posterior caso a conexão seja restabelecida. Em algumas plataformas, é
possível que o conteúdo ao vivo permaneça gravado após o término da transmissão, ficando
disponível “on demand” para todos aqueles que não assistiram ou querem assistir uma outra
vez mais tarde.
Grandes veículos da mídia hegemônica, que ainda mantêm a sua programação na TV
aberta, também passaram a utilizar o streaming no ambiente virtual, através da retransmissão
da programação da TV para a internet, seguindo as lógicas de adaptação dos conteúdos para
exibição em múltiplas telas (EMERIM, 2017). Em 2015, a TV Globo lançou o Globoplay,
serviço de streaming da emissora que, além da transmissão ao vivo da programação da TV
aberta, contava também com conteúdos on demand e produções exclusivas no plano
premium, disponível para dispositivos móveis e também através do site. Esta migração foi

4
Texto original, em inglês: “RTSP is an application-layer protocol for the setup and control of the delivery of
data with real-time properties. RTSP provides an extensible framework to enable controlled, on-demand
delivery of real-time data, such as audio and video. Sources of data can include both live data feeds and stored
clips.”

13
seguida posteriormente pelas outras emissoras, algumas seguindo este mesmo modelo
baseado em aplicativos, enquanto outras transmitem diretamente para plataformas como o
YouTube e a Twitch.

Como os meios de comunicação de massa são amplamente controlados por


governos e empresas de mídia, na sociedade em rede a autonomia de comunicação é
basicamente construída nas redes da internet e nas plataformas de comunicação sem
fio. As redes sociais digitais oferecem a possibilidade de deliberar sobre e coordenar
as ações de forma amplamente desimpedida. (CASTELLS, 2013, p. 18-19).

Pequenos e grandes canais de comunicação agora competem com a grande oferta de


todo tipo de conteúdo e também disputam a atenção do mesmo público, o internauta, que não
zapeia mais por um punhado de emissoras da TV aberta ou algumas mais da TV a cabo, mas
tem acesso a milhões de canais ao redor do mundo, criando a própria programação não-linear
e em múltiplas telas, no computador, no tablet, na televisão ou no smartphone, podendo
interagir diretamente com os streamers através das ferramentas de chats, super chats,
doações, comunidades de membros e comentários.

a TV deixou de ser apenas um aparelho de composição de mobília dentro dos lares,


ou seja, a TV está em todo lugar, preenchendo as lacunas para além das telas,
coexistindo numa espécie de transfiguração do ponto de vista da produção,
circulação e do consumo televisivo. (ANDRADE, 2020, p. 4).

2.2 LIVES NA PANDEMIA

Desde que a Organização Mundial da Saúde elevou o estado da contaminação da


Covid-19 à pandemia, em março de 2020, e a consequente adoção do isolamento social como
medida de contenção do vírus, grande parte das interações sociais, que antes aconteciam de
maneira presencial, passaram a ser realizadas de maneira remota. Segundo dados do Mapa
brasileiro da Covid-19 (INLOCO, 2020), durante os dois primeiros meses da pandemia (e
somente durante eles), período compreendido entre o final de março de 2020 e a segunda
quinzena de maio do mesmo ano, as taxas de isolamento social no Brasil se mantiveram
acima dos 50%. Neste recorte temporal, além das notícias que chegavam de todo lugar do
mundo sobre o vírus, vimos também uma pulverização das lives realizadas pela internet.
Festivais culturais, oficinas, apresentações artísticas, aulas e toda a infinidade de outras
atividades que aconteciam de maneira presencial, causando o que convencionamos chamar de
aglomeração, precisaram se adaptar a esta nova realidade comunicacional, fazendo com que o
YouTube, “o maior aglutinador de mídia de massa da internet no início do século 21”

14
(BURGESS, 2009, p. 9), se tornasse também a maior plataforma de conteúdos ao vivo da
internet.

O YouTube e todos os portais de vídeo on-line que o seguiram transformaram


definitivamente a nossa maneira de absorver conteúdo. O momento agora não é de
aguardar o próximo YouTube, Twitter ou Facebook, mas de descobrir o que essas
ferramentas farão daqui para a frente e o que poderemos fazer com elas.
(BURGESS, 2009, p. 9)

Em um primeiro momento, as lives musicais se destacaram como principais produtos


deste tipo de transmissão, levando públicos imensos para a frente das telas, embalados pela
hashtag #FiqueEmCasaECanteComigo. Um exemplo deste movimento é a live da cantora
sertaneja Marília Mendonça, que em abril de 2020 foi assistida simultaneamente por 3,3
milhões de espectadores da “#LiveLocalMaríliaMendonça”. Por mais de 3 horas, a rainha da
sofrência cantou diretamente da sala de estar de sua casa, formato mais ‘íntimo’ adotado por
diversos artistas naquele momento, conquistando o primeiro lugar no ranking de maior
público em live musical de 2020, em setembro do mesmo ano, quando somava 55 milhões de
visualizações. Este reconhecimento se soma com o clipe de “Graveto”, música de autoria da
mesma cantora, que foi considerado o videoclipe mais visto do ano (de 2020) no YouTube
Brasil, com 230 milhões de visualizações. A íntegra da live foi retirada do canal da artista no
YouTube dois meses mais tarde.
Durante a realização deste trabalho, em novembro de 2021, a cantora sofreu um
acidente aéreo. O avião em que estava caiu próximo a uma cachoeira em Piedade de
Caratinga, em Minas Gerais. Neste avião, além da cantora, estavam o seu tio e assessor
Abiceli Silveira, o produtor Henrique Bahia, o piloto e o copiloto. Todos morreram, uma
lástima para a música brasileira. A morte precoce da cantora deixou o país devastado, e a
comoção se espalhou por todo o mundo. Naquele momento de luto, somada à dor que já
enfrentávamos com a partida de mais de 610 mil vidas devido à Covid-19, é necessário
chamar a atenção para a desastrosa cobertura jornalística do acidente, isto em minha
avaliação, realizada por parte dos veículos de comunicação, sobretudo no ao vivo.
Sendo os artistas figuras públicas de maior ou menor alcance, estão evidentes os
motivos de valores-notícia e interesse público para a noticiabilidade de sua morte. Também é
natural que homenagens sejam prestadas aos que se foram, ainda mais quando partem de
maneira tão abrupta. Entretanto, acusações de oportunismo, sensacionalismo, falta de ética,
morbidez e até mesmo de racismo recaíram sobre determinados veículos da mídia no caso do
acidente de Marília Mendonça. Para falar das emissoras de TV, Globo, Band e Record

15
rearranjaram a programação do fim de semana para dar espaço à cobertura do trágico
acontecimento. Até aí não há um problema na forma, mas veremos que há no conteúdo, a
saber.
Na sexta-feira, enquanto ainda chegavam as primeiras informações sobre o acidente, a
Globo News exibiu em um link ao vivo a retirada dos corpos das vítimas do avião, este fato
por si só já levanta toda a discussão acerca do que deve ou não ser exibido na televisão.
Enquanto os bombeiros retiravam a terceira vítima da aeronave em uma maca, a manta
aluminizada que cobria o corpo se levantou com o vento e partes da roupa xadrez que a
cantora usava puderam ser vistas diante das câmeras. A ação, que não foi proposital,
confirmou a morte de Marília, gerando assim uma controvérsia, visto que, em um primeiro
momento, a assessoria da cantora havia comunicado que ela estava no hospital e bem.
No dia seguinte, como era de se esperar, a maior parte da programação das emissoras
foi ocupada com conteúdos especiais relacionados com a carreira de Marília Mendonça, com
a grade sendo intercalada entre homenagens para a cantora e um link ao vivo diretamente do
velório dela e de seu tio, que foi aberto ao público. Já no enterro, solenidade que era
reservada aos familiares e amigos mais próximos, a Globo errou outra vez, transmitindo para
a TV aberta as imagens de um drone que sobrevoava o cemitério, mostrando o momento
íntimo de despedida da família.
Como se não bastasse, no dia seguinte, a programação seguiu ao vivo com Luciano
Huck, herdeiro das lacunas deixadas nas tardes dominicais pela demissão de Fausto Silva, o
Faustão. O apresentador, que estava acostumado com a comodidade da edição dos programas
gravados desde quando estava à frente do “Caldeirão do Huck”, teve que performar ao vivo
no “Domingão com Huck”, em um programa dedicado à memória de Marília Mendonça. Em
uma super síntese, o programa foi uma catástrofe. O apresentador comunicou informações
erradas sobre o acidente e a carreira da cantora, constrangeu os convidados pressionando para
que cantassem em um momento de profunda tristeza e ainda demonstrou falta de empatia ao
enfileirar palavras de cunho gordofóbico sobre Marília e sobre a dupla sertaneja Maiara e
Maraísa5; além de se colocar como assunto central ao mencionar, por ao menos três vezes,
um incidente que ocorreu com ele e a sua família em 2015, quando o avião em que estava
precisou fazer um pouso forçado em Mato Grosso do Sul, relativizando a morte da cantora.
Na televisão ao vivo, tudo aquilo que era considerado excesso para a produção
audiovisual anterior se converte em elemento formador, impregnando o produto
final das marcas da incompletude, da indomesticabilidade e, num certo sentido, da

5
Para não incorrer nos mesmos erros do apresentador, fizemos a escolha de não reproduzir neste
trabalho as palavras ditas por ele, que consideramos preconceituosas.

16
bruteza, que constituem algumas de suas características mais interessantes. Pode-se
dizer que, na transmissão direta de televisão, a tentativa se confunde com o
resultado, o ensaio com o produto final. (MACHADO, 2000, p. 131).

Falando estritamente das tecnologias de transmissão ao vivo, Arlindo Machado


(2000) chama atenção para o seu caráter imprevisível e irrepetível, seus elementos
formadores também incluem as possíveis (e prováveis) falhas técnicas, erros de coerência
narrativa, da linguagem audiovisual, ou mesmo a ação de elementos externos que interferem
diretamente no resultado do produto. Estas quebras de continuidade se dão sempre como uma
fatalidade em qualquer transmissão ao vivo, o que introduz um elemento de suspense, já que
as coisas podem não sair como planejado e não há formas de se remover um trecho que já foi
ao ar sem que o remendo apareça, direcionando a atenção do espectador para secções da cena
que não contribuem para a coerência narrativa.

Em geral, os programas são pré-gravados não para possibilitar uma edição posterior
ou maior controle dos resultados, mas por comodidade técnica ou mesmo por razões
econômicas e institucionais. No entanto, mesmo esses programas pré-gravados são
produzidos e editados nas mesmas circunstâncias que os programas ao vivo
(portanto, em tempo presente), ou em condições muito próximas deles.
(MACHADO, 2020, p. 126).

Devido a este caráter de indomesticabilidade e perda de controle sobre o produto


final, a transmissão ao vivo é não raramente proibida durante regimes autoritários e
ditatoriais, como foi o caso da ditadura civil-militar estabelecida no Brasil no golpe de 1964,
quando até mesmo a votação da emenda que propunha o restabelecimento das eleições diretas
no Congresso Nacional em 1984, já no fim do regime, teve a sua transmissão ao vivo vetada
pelo governo (MACHADO, 2000). Tal decisão demonstra, naquele momento, a influência da
televisão e, em especial, ainda hoje, da cobertura ao vivo na opinião pública. Parece consenso
pensar que a interpretação dos fatos em tempo real se dá de uma maneira mais nítida, quase
irrefutável, já que a recepção dos acontecimentos por parte dos espectadores acontece de
maneira concomitante, senão com um ligeiro atraso em relação aos repórteres que cobrem in
loco, além de não haver espaço para grandes edições e nem para a censura. Contudo, com um
olhar um pouco menos ingênuo, vale reputar que existem muito mais coisas entre o que é
mostrado e o que não é.
Toda a lógica de produção e edição dos programas gravados incorpora o ritmo de
produção ao vivo, para além da duração definida da transmissão direta. Isto quer dizer que,
em ambos os casos, a operação se dá com pouco recuo temporal entre o acontecimento do
fato e a sua transmissão (MACHADO, 2000). Com a internet, esta lógica de produção se

17
tornou ainda mais dinâmica sob a demanda dos internautas, que passam horas por dia
conectados e consumindo novos conteúdos, até mesmo os assuntos e as notícias mais quentes
parecem ter se tornado mais perecíveis na lógica do ciberespaço.

As equipes precisaram também se acostumar com novas formas de obtenção de


matéria-prima para a realização da programação ao vivo e seus eventuais
empecilhos. A relação mais direta com as fontes e a realização de entrevistas via
internet ficaram cada vez mais comuns. (ANDRADE, 2020, p. 10).

Durante a pandemia, o fazer jornalístico também teve de ser adaptado à nova


realidade comunicacional, apesar de o trabalho de reportagem ser considerado serviço
essencial. Uma parcela expressiva dos veículos de imprensa, incluídos os núcleos de
jornalismo das grandes emissoras de TV, mandou sua redação (ou boa parte dela) ao home
office. Cada um, agora, precisava cuidar de seu próprio aparato técnico, acumulando também
novas responsabilidades, como o cuidado com o microfone, webcam e a conexão com a
internet. Os participantes das lives eram então colocados em contato com outros convidados
por meio de salas de videochamadas, desenvolvidas especialmente para obter a melhor
definição de imagem e som com a menor latência possível, moldados às necessidades das
transmissões.
As imagens obtidas através de um smartphone já vinham desde a última década
tomando gradualmente o seu espaço nos telejornais. À medida que o acesso aos aparelhos foi
se tornando mais pulverizado entre a população, o flagrante em vídeo de um fato por um
cinegrafista “amador” se fazia mais provável que por um cinegrafista “profissional”. O uso de
imagens de um celular na televisão era impensável há alguns anos, pois a resolução da
imagem ainda importava muito mais que o seu conteúdo – os intocáveis cânones da qualidade
técnica perduraram até que não fosse mais possível competir com a rapidez da internet.

De lá para cá, aos poucos, as imagens produzidas fora do controle da redação


ganharam as telas e competem, com relativa vantagem, com as imagens dos
cinegrafistas, quando o assunto é imediatismo. O fato, categoria nobre do
jornalismo, passa a ser registrado não mais pelo repórter, que agora parece estar
readequando seu papel na produção da notícia. (LAIA, 2015, p. 39).

Com a chegada do coronavírus e todo o processo adaptativo descrito no parágrafo


anterior, vimos as câmeras dos dispositivos móveis ocupando de vez a programação na TV.
Em um momento no qual o contato físico era evitado, boa parte da interação pessoal era
mediada por telas. Então, o que coube ao telespectador e às emissoras foi aceitar a qualidade
de imagem inferior, os travamentos e as frequentes perdas de conexão com a internet – uma
afronta ao “Padrão Globo de Qualidade”.

18
De certa forma, o telespectador já está familiarizado com essa linguagem mais
caseira, que falha, que perde a conexão, que trava, mas que é legítima e traz um
efeito de sentido de verdadeiro. Ao assumir os possíveis ruídos durante uma
transmissão, tal como o uso de máscaras por parte da equipe de reportagem externa,
o canal cria um laço de cumplicidade com o destinatário/consumidor/telespectador,
que se sente representado. (ANDRADE, 2020, p. 10).

Logo no início do isolamento social, em 15 de março de 2020, no ano em que a TV


completava 70 anos no Brasil, um novo canal estreou a sua programação, a CNN Brasil. Em
seu lançamento, a emissora fez a escolha deliberada de transmitir primeiramente para as
plataformas digitais (às 18h do dia 15/03/2020), para só duas horas mais tarde estrear também
na TV (às 20h do mesmo dia). A escolha da CNN demonstra mais uma vez a importância da
internet até mesmo para emissoras da TV a cabo; o veículo estava presente em seis diferentes
plataformas, sendo elas: YouTube, Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn e o site CNN
Brasil, além da transmissão no canal 577 da TV a cabo, apesar de ser um canal da TV, parece
não existir preferência de qual plataforma dar a notícia em primeira mão. A aposta da
emissora foi manter a maior parte de sua grade ancorada na transmissão ao vivo, o que
produz um certo efeito de elasticidade na programação.
Três novos valores-notícia foram elencados por Satuf (2014) para sustentar a
produção de notícias nesta nova configuração de ecologia midiática: a hashtag, a redundância
e a participação/colaboração (SATUF, 2014, p. 326 apud. ANDRADE, 2020, p. 13). A
hashtag funciona como uma ferramenta de indexação dos assuntos, aglutinando postagens e
ranqueando os assuntos mais comentados do momento em algumas palavras precedidas pelo
símbolo de jogo da velha (#). A redundância trata do agendamento de notícias sobre o mesmo
assunto em plataformas e canais distintos, o que oferece maior confiabilidade devido aos
diferentes processos de apuração e checagem de fatos de cada redação. E por último, mas não
menos importante, temos os valores de participação ou colaboração, que tratam justamente do
poder do espectador em participar ativamente na produção de notícias, tomando um papel de
interator. Seja em um primeiro momento por meio da sugestão de pautas, colaboração com a
cessão de imagens de cinegrafismo amador ou através dos comentários no chat e participação
ao vivo. “Os modelos tradicionais de transmissão televisiva desenvolvem modos simbióticos
de relação com as mídias emergentes” (BECKER, 2016, p. 57, apud ANDRADE, 2020, p.4).

19
3 MAPA DO PRODUTO
Para a confecção do roteiro, debruçaremos sobre as etapas de organização da
produção e discurso do documentário de Puccini (2009), neste caso, por se tratar de um
produto baseado em entrevistas, o trabalho será organizado em formato de documentário
direto, com o roteiro em aberto, que se estende por toda a realização do filme e é, de fato,
decidido principalmente na mesa de corte.

3.1 CONCEITO
Os pontos de vista aqui apresentados englobam as experiências de iniciativas de
jornalismo diretamente envolvidas na produção de conteúdos em live streaming, buscando
compreender as apropriações de tecnologias de transmissão live streaming na produção de
notícias realizadas por estes veículos. Este trabalho não tem, de maneira alguma, o objetivo
de esgotar o tema ou mesmo lançar um olhar sobre a produção live streaming como um todo.
Contempla somente algumas perspectivas subjetivas, das fontes contactadas e de um
estudante de Comunicação, que observa este determinado número de experiências, dentro de
uma certa bolha virtual mediada pelos algoritmos, em um recorte temporal de pandemia e
comunicação remota.

3.2 DESCRIÇÃO DAS FONTES


Entre os atores sociais contactados para a realização deste trabalho estão
comunicadores que atuam diretamente com a produção de conteúdos jornalísticos para canais
de comunicação da internet. O primeiro é um jornalista de biografia já experimentada e
passagens por redações de grandes veículos de comunicação de projeção nacional, Leonardo
Attuch já trabalhou na revista VEJA, Correio Braziliense, IstoÉ e o Estado de Minas. Em
2011, fundou o Brasil 247, site de notícias de viés progressista e valores humanistas, que
defende o pleno exercício da democracia, o desenvolvimento da economia nacional, o
multilateralismo na política externa e a informação como um direito de todos os cidadãos.
Atualmente, Attuch é diretor-presidente, integrante do conselho editorial e apresentador da
TV 247, canal de vídeos da Brasil 247, fundada em 2017. A TV 247 mantém 5 programas
diários de formato ao vivo em sua programação: “Bom dia 247”, “Giro das 11”, “Boa noite
247” e “O dia em 20 minutos”. Entretanto, engana-se quem pensa que estes são os únicos
programas transmitidos na grade da 247, recorrentemente produções especiais compõem a
programação, de modo que, em um dia comum, não é raro que o número de lives ultrapasse

20
os 12 programas, entre estes outros estão: “Pauta Brasil”, “Léo ao quadrado”, “Brasil
popular”, “Globalistas”, “Estação Sabiá”, “Mais-esquerda”, “O mundo como ele é” e “Live
do Conde”; além de diversos outros conteúdos, como o Boletim 247, entrevistas com
personalidades políticas do campo progressista, pensadores, jornalistas e programas especiais
do grupo de juristas Prerrogativas. Logo no início da pandemia da Covid-19, todos
trabalhadores da TV passaram a trabalhar remotamente, acumulando também novas
responsabilidades, como o cuidado com o microfone, a webcam e a própria conexão com a
internet.
Foi por não enxergar as notícias da comunidade nas páginas dos jornalões da grande
mídia que o jovem Rene Silva, ainda com 11 anos, criou o Voz das Comunidades. Cria do
Morro do Adeus, uma das favelas pertencentes ao Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e
inspirado pelo jornal do Grêmio Estudantil da escola em que estudava, Rene enxergou uma
oportunidade de falar sobre os verdadeiros problemas sociais dos moradores e reivindicar
melhorias para a população do Complexo do Alemão. De lá pra cá, a equipe aumentou, Rene
se formou em Jornalismo, a ONG ganhou corpo e passou a realizar coberturas importantes,
ampliando sua cobertura para fora do Complexo do Alemão. Sempre apresentando a favela
como potência e não como um celeiro de problemas, sem deixar de pautar as verdadeiras
mazelas da comunidade. Ainda nos primeiros meses de pandemia, também apostaram no live
streaming de modelo remoto, cada um de sua própria casa, ao exemplo de “Covid-19 nas
favelas”, que trazia informações a respeito da pandemia, além de prestação de serviços, como
um tira-dúvidas sobre o Auxílio Emergencial com especialistas. Não se passou muito tempo
até que os programas “Bom dia VOZ” e “Estação VOZ” estreassem na programação, o
primeiro trazendo notícias do dia a dia das comunidades, enquanto o segundo, com uma
abordagem mais cultural, exaltava os talentos das favelas, ambos ainda de modo remoto. Em
um momento posterior, pouco depois da live de comemoração do aniversário de 15 anos do
Voz das Comunidades, o veículo passou a realizar coberturas in loco, diretamente da rua, com
destaque para os atos pela morte de Kathlen Romeu e seu bebê, assassinadas pela PM no
Complexo de Lins; as manifestações em frente à cidade da Polícia, contra a operação
ocorrida no Jacarezinho em maio de 2021, que deixou ao menos 29 mortos; e mais
recentemente a cobertura do Desfile das Escolas de Samba no carnaval de 2022, no mês de
abril. Quem conversa com a gente é Amanda Botelho, jornalista, social media e repórter do
Voz das Comunidades. Amanda é graduada em Jornalismo pela Unicarioca e atualmente
cursa pós-graduação em Mídias Sociais.

21
Para nos ajudar a compreender o funcionamento da tecnologia por trás do streaming,
conversamos com Steve Seguin, fundador e desenvolvedor do VDO.Ninja (antigo
OBS.Ninja), um serviço gratuito e open-source, isto é, de código aberto, que conecta fontes
de vídeo remotas de alta qualidade a estúdios de produções ao vivo ao redor do mundo em
ultra-baixa latência, com o uso da interface de programação de aplicação peer-to-peer
WebRTC, que permite aos navegadores executar aplicações de videochamada e
compartilhamento de imagem sem a necessidade do uso de um servidor para a operação, tudo
através do navegador. Devido a grande demanda por ferramentas de produção ao vivo durante
a pandemia da Covid-19, este serviço passou por diversas atualizações e otimizações de
forma bastante acelerada, se tornando uma ferramenta poderosa para fazer intervenções ao
vivo pela internet.
Sob a perspectiva de cada um deles, buscamos elencar características que tornam a
colaboração entre o jornalista, o hardware, o software e as redes de comunicação globais,
ferramentas tão especiais para a produção de conteúdos ao vivo.
Uma das principais motivações para a realização deste trabalho parte de um anseio
pessoal em utilizar o live streaming como ferramenta além do fazer jornalístico, enquanto
suporte para transmissão de toda a sorte de conteúdos, frutos da criação colaborativa
relacionados à educação, divulgação científica, manifestações artísticas, culturais e políticas.
Remetendo a experiências anteriores dentro e fora do ecossistema acadêmico, como o projeto
de extensão Show de Talentos6, que no início da pandemia da Covid–19 produziu eventos
culturais ao vivo no YouTube e Instagram, com apresentações de artistas da comunidade
ufopiana; o Observatório Jornalismo(s)7, que busca imaginar jornalismos (im)possíveis,
promovendo conversas “selvagens” sobre comunicação e o Núcleo de Transmissão
Audiovisual pela Internet8, o Nutrans, que desde agosto de 2020 oferece suporte na
transmissão dos eventos acadêmico-científicos da Universidade Federal de Ouro Preto. Todos
estes projetos tendo o live streaming como principal ferramenta de distribuição.

6
Canal do Show de Talentos
7
Canal do Observatório Jornalismo(s)
8
Canal do Nutrans

22
3.3 REFERÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DO PRODUTO
Tanto referente às escolhas de fotografia e tratamento das imagens de cobertura
quanto em relação à dinâmica narrativa dos fatos, as produções da Vice9 são uma referência
importante para a concepção deste trabalho. Nesta série de reportagens que trata sobre o
fracasso da política de guerra às drogas e o proibicionismo ao redor do mundo, o
apresentador introduz os fatos e os diálogos de uma maneira participativa (Figura 5), a partir
de sua própria visão de mundo e falas de outros atores sociais entrevistados. Inserções de
imagens, letterings e elementos de edição que contribuem para a coerência narrativa também
são utilizadas para completar a história.
A escolha pela televisão de tubo antiga enquanto dispositivo (Figura 6) serve como
moldura para a inserção das imagens de cobertura e tem a intenção de transportar os
espectadores para um passado até bastante recente, em que a única tela que estava presente
em nosso dia a dia era a tela da televisão; aventando a ideia de pós-televisão, neologismo
utilizado por realizadores como a Mídia Ninja e Leonardo Attuch, da TV 247, ou
hipertelevisão, termo um pouco mais abrangente e conceitualmente estruturado, apresentado
por Scolari (2014); Por este motivo, boa parte dos conteúdos também é apresentado no
aspecto de imagem próprio da era das TVs de tubo, ou seja, 4:3. À medida que as imagens
mais recentes vão sendo exibidas, há também uma sutil mudança neste aspecto, que passa a
adotar o formato 16:9, passando a ter como molduras os próprios dispositivos dos
espectadores.
Em se tratando de materiais de arquivo, este filme também adota indiretamente a
fotografia e os elementos visuais inseridos pelos próprios realizadores destas produções,
originais, como a identidade visual do canal, letterings, inserções sonoras, elementos de
edição e o próprio layout das câmeras dos participantes das lives, que muitas vezes se repete
devido ao uso de serviços bastante disseminados, como o Streamyard (Figura 8).
No que diz respeito ao encadeamento do enredo e a dinâmica narrativa proposta, que
alterna entre as falas dos atores sociais entrevistados, materiais de arquivo e intervenções
realizadas pelo apresentador na narrativa dos fatos (passagens); além das reportagens da Vice,
hoje percebo que o roteiro de apresentação também foi criado despropositadamente com a
inspiração em formatos de podcasts. Esta consideração só foi percebida ao longo do processo
de edição do material, e com certeza remete ao entusiasmo deste realizador com as produções

9
Revista e agência de notícias internacional que cobre temas que vão da arte independente e cultura pop até
notícias e investigações mais aprofundadas em crimes cibernéticos.

23
sonoras nestes últimos tempos. Com esta percepção, e se de alguma forma pudesse retornar a
fase de produção do roteiro, certamente teria feito algumas escolhas diferentes.

Figura 5: Plano com o apresentador Jamie Figura 6: Plano de uma televisão, utilizada
Clifton, em uma reportagem da Vice.10 para a inserção de imagens de cobertura.
/

(Fonte: Vice) (Fonte: Vice)

Figura 7: Live do Voz das Comunidades. Figura 8: Live da TV 247.

(Fonte:Voz das Comunidades) (Fonte: TV 247)

3.4 PROPOSTA
Produto audiovisual documental de média-metragem baseado em entrevistas com
jornalistas, midiativistas e streamers, que busca compreender parte das transformações
provocadas pelo uso das tecnologias de live streaming nos processos de produção de notícias
sob a perspectiva de cada um deles, explorando as potencialidades dessa tecnologia e
buscando por aproximações e distanciamentos com processos comunicacionais anteriores.
Sobretudo dentro do recorte temporal da pandemia da Covid-19, lançando o olhar
principalmente sobre duas iniciativas de Jornalismo, a TV 247 e o jornal Voz das
Comunidades.

10
Vídeo disponível em: “Brazil’s Drug Wars Just Got Even Deadlier | The War on Drugs”

24
3.5 TRATAMENTO
Para compreender a emergência destes formatos, conversaremos com atores sociais
diretamente envolvidos com a transmissão ao vivo como práxis diária, e buscaremos entender
os fenômenos recentes dessa linguagem no ambiente das redes sob a perspectiva de cada um
deles. Procurando por características que se aproximam e se distanciam dos formatos
presentes nas transmissões de rádio e televisão (broadcast). E estas entrevistas se darão de
modo remoto através do serviço StreamYard, assumindo parte dos elementos de layout da
plataforma e adicionando outros posteriormente (transições em glitch, GCs, ruídos de
imagem, overlays, mockups, etc.), a entrevista com Steve deve ocorrer através do VDO.Ninja
com gravação simultânea através do Open Broadcast Software (OBS Studio). Existe a
previsão de gravação de apresentação em estúdio, para ancorar a narrativa principal do
produto.
Nas primeiras sequências, a entrevista com Steve tem o importante papel de nos
ajudar a compreender o funcionamento técnico do live streaming e o caminho que faz a
imagem percorrer das câmeras do streamer até as telas do espectador em uma transmissão ao
vivo, nesta primeira parte, somadas às imagens de arquivo que retomam, em uma
retrospectiva, momentos marcantes passados na TV até as mais recentes experiências em live
streaming ocorridas durante a pandemia da Covid-19, o que deve servir como o fio condutor
do roteiro. Em um segundo momento, o Jornalismo assume o protagonismo do tema através
das experiências de cobertura ao vivo na última década, partindo da cobertura das
manifestações iniciadas em junho de 2013 no Brasil. Leonardo Attuch e Amanda Botelho
devem estar mais presentes neste momento, relatando as experiências e os modos de
produção de cada um deles, antes e durante a pandemia da Covid-19. A terceira e última
sequência revela as expectativas de cada um sobre os impactos do uso destas tecnologias nas
coberturas ao vivo que virão e a configuração desta ecologia em um cenário pós-pandemia.

25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estas experiências que pudemos testemunhar durante o período de pandemia
revelaram novas maneiras, novos formatos e novos desafios para as produções em live
streaming. Se antes era preciso ir até os estúdios para participar da transmissão de algum
programa, hoje as fontes podem ser acessadas através de serviços de videoconferência.
Mesmo que não estejam em um mesmo espaço geográfico, realizadores, convidados e
audiência podem compartilhar o agora, ampliando as possibilidades de comunicação e
trazendo mais agilidade para as produções. Deste modo, paradoxalmente, a pandemia pode
ter possibilitado encontros que não poderiam ter acontecido de outras maneiras.
É bem verdade que o live streaming não é nenhuma novidade quando observamos sob
um ponto de vista histórico, principalmente quando esta dimensão temporal se dá na lógica
acelerada da internet. Antes de 2020, a tecnologia existia e poderia ser instrumentalizada na
produção jornalística ao vivo para a internet. Mas as emergências apresentadas logo no título
deste trabalho, de certa forma, só estão constituídas em virtude da crise sanitária causada pela
pandemia da Covid-19 e pelo modelo comunicacional de caráter remoto estabelecido em
consequência deste acontecimento; a própria dinâmica de produção deste trabalho também se
deu desta forma.
Passados mais de dois anos do início da confecção deste trabalho, a Covid-19 ainda é
considerada uma pandemia. Todavia, devido ao relativo controle sobre a contaminação da
doença consequente da vacinação, boa parte das atividades já retornaram ao modelo
presencial e muito do que testemunhamos no início do isolamento social já não é mais (d)o
mesmo. Como é natural em qualquer inovação, no início do isolamento as lives viraram febre
e chegaram bem perto da saturação, mas hoje podemos observar um certo assentamento e
consolidação de novos veículos que adotaram o live streaming enquanto linguagem, muitas
delas apostando em um formato híbrido de transmissão. Se as lives serão definitivamente
integradas à nossa vida cotidiana ainda não está muito claro, mas certamente as
potencialidades encontradas nesta tecnologia durante a pandemia abriram caminho para que
novos veículos de comunicação construam sua audiência. .
Os recentes avanços tecnológicos das redes móveis, como a chegada das redes 5G e o
Starlink, certamente possibilitarão que façamos ainda mais com estas tecnologias. Se
olharmos para este lado, podemos ter a oportunidade de vislumbrar um futuro bastante
promissor para o cenário do live streaming e as experiências de mídias móveis.

26
REFERÊNCIAS

ANDRADE, Ana Paula G. Telejornalismo na quarentena: a estreia da CNN Brasil na


pandemia de Covid-19. In: Anais do 18º SBPJor – Encontro Nacional de Pesquisadores em
Jornalismo – Novembro de 2020.

BRAIGHI, Antonio A. Midiativismo em análise: contribuições de uma pesquisa de


doutorado. Mídia e Cotidiano – Revista do Programa de Pós-graduação em Mídia e
Cotidiano da Universidade Federal Fluminense, v. 12, n. 1, 2018. Disponível em:
https://periodicos.uff.br/midiaecotidiano/article/view/9861/6991. Acesso em: 27 mar. 2021.

CASTELLS, Manuel. Rede de indignação e esperança: movimentos sociais na era da


internet. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 271 p.

EMERIM, Cárlida. Telejornalismo ou jornalismo para telas: a proposta de um campo de


estudos. In: Estudos em Jornalismo e Mídia, 14, Florianópolis, Santa Catarina, 2017, p.
113-126.

FURTADO, Jorge. Ilha das Flores (1989). Disponível em: <https://vimeo.com/238439307>.


Acesso em: 4 abr. 2021.

GUIMARÃES, Lara L.; LAIA, Evandro M. “A Globo virou Mídia Ninja?”: de junho a junho,
os telejornalismos possíveis. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM
JORNALISMO, Anais do 18º SBPJor, 2020.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios Contínua, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, 2021.
Disponível em: liv101794_informativo.pdf (ibge.gov.br). Acesso em: 07 nov. 2021.

LAIA, Evandro M. O jornalismo em equívoco: sobre o telefone celular e a invenção


diferenciante. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de
Pós-Graduação em Comunicação, Rio de Janeiro, 2016.

MAGALHÃES, Marina. Net-Ativismo: protestos e subversões nas redes sociais digitais. 1ª


ed. Lisboa: ICNOVA – Instituto de Comunicação da Nova Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas/Universidade NOVA de Lisboa, 2018.

SCHULZRINNE, H et al. Real-Time Streaming Protocol Version 2.0, Internet Engineering


Task Force (IETF), Request for Comments (RFC) 7826, 2016. Disponível em:
http://www.ietf.org/rfc/rfc7826.txt. Acesso em: 12 Dez. 2021.

SCOLARI, Carlos Alberto. This is the end: as intermináveis discussões sobre o fim da
televisão. In: CARLÓN Mario; FECHINE, Yvana (org.). O fim da televisão. Tradução de
Diego Andres Salcedo. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2014, p. 34-53.

27
ANEXO 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS

PERGUNTAS REALIZADAS AO LEONARDO ATTUCH

Defina o que é Jornalismo e como esta atividade foi impactada pela produção de
narrativas autônomas em live streaming, fora das grandes redações
Quando a TV 247 começou a fazer lives? E o que a TV 247 tem feito agora?
O que vocês fazem agora que acredita ser diferente do que faziam antes?
Quais caraterísticas desses programas você acredita que se aproximam do que é feito
na televisão? Quais distanciam?
A TV aberta e o rádio vão desaparecer?
Quem é a audiência da TV 247? De que forma essa audiência interage?
Em uma conversa no Twitter Space há algum tempo perguntei pra você sobre a
concentração da audiência nas redes, que coloca os produtores sob os códigos de conduta das
big techs, a mediação dos algoritmos na distribuição de conteúdos… como você enxerga esse
cenário atualmente?
O que muda na ecologia midiática na era pós-pandemia com a expansão do uso do
streaming?

PERGUNTAS DIRECIONADAS A AMANDA BOTELHO

Quais são as coberturas que o Voz das Comunidades têm feito ao vivo?
Como se dá a decisão de cobrir alguma pauta neste formato? O que é pauta para ao
vivo?
Quais caraterísticas dessas lives você acredita que se aproximam do que é feito na
televisão? Quais distanciam?
Como você se prepara para participar de uma cobertura ao vivo?
Quais facilidades e quais dificuldades vocês enfrentam na execução desse formato?
Quem faz parte da audiência do Voz das Comunidades? Como essa audiência
interage?
Defina o que é jornalismo e como esta atividade foi impactada pela produção de
narrativas autônomas em live streaming, fora das grandes redações.
Em que momento a produção de vídeo como prova encontra-se com a produção
jornalística no Voz das Comunidades?

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Quais são as expectativas do Voz em uma era pós-pandemia? Vocês devem continuar
realizando coberturas ao vivo? Por quê?

PERGUNTAS REALIZADAS AO STEVE SEGUIN

Em termos gerais, como VDO.Ninja funciona?


Quais equipamentos é preciso para se fazer uma live?
Pode, por favor, explicar o caminho do sinal entre a captura de imagem da câmera do
realizador de uma live e a exibição na tela dos espectadores?
O que é Peer-to-peer? O que é WebRTC?
Na sua opinião, o que é possível agora com essas tecnologias de live streaming que
não era possível antes?
Comparando com anos anteriores, o que você pensa sobre a velocidade de
desenvolvimento dessas tecnologias live streaming devido ao aumento da demanda por estes
serviços durante a pandemia da Covid-19?
Como você tem priorizado as demandas por novas funcionalidades / correção de bugs
enquanto está desenvolvendo o VDO.Ninja?
Como você define o live streaming? Na sua visão, como isso tem impactado a
produção jornalística?

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ANEXO 2 - ROTEIRO DE MONTAGEM

Imagens de cobertura, Letterings, LOCUÇÃO


recursos técnicos, etc.:

(1) Transmissão que ainda


vai cair do céu pra abrir esse filme

CPI DA COVID

(2) AO VIVO NA DJ SUAT


INTERNET
#FIQUEEMCASAECANTECOMIGO

LIVES DO CASIMIRO MIGUEL

FLÁVIO BRASIL
(3) Como na televisão
PODCASTS

STREAMERS DE JOGOS ONLINE

(4) Links, satélites e afins


CERTAMENTE VOCÊ JÁ DEVE TER

OUVIDO FALAR SOBRE O STREAMING, AFINAL

(5) Pessoas fazendo lives com DE CONTAS, ELE ESTÁ PRESENTE EM


celulares e equipamentos pequenos
DIVERSOS MOMENTOS DO NOSSO DIA, / SEJA

QUANDO ESTAMOS MARATONANDO UMA

(6) Pessoas assistindo lives SÉRIE NA NETFLIX, / FAZENDO UMA REUNIÃO

DE TRABALHO PELO GOOGLE MEET / E ATÉ

MESMO AGORA, ENQUANTO VOCÊ ESTÁ AQUI

30
(7) Netflix, Google Meet... ASSISTINDO ESSE VÍDEO NO YOUTUBE. //
(8) 4ª PAREDE | Zoom out pra
página do YouTube DIFERENTEMENTE DOS FORMATOS

ANTERIORES, COMO O VHS E O DVD, PARA

ASSISTIR ALGUM CONTEÚDO POR

STREAMING, NÃO É MAIS PRECISO TER EM

MÃOS A MÍDIA FÍSICA, NEM MESMO É

NECESSÁRIO BAIXAR QUALQUER ARQUIVO

NO ARMAZENAMENTO DO DISPOSITIVO, NADA

DISSO. // BASTA QUE APERTEMOS O PLAY,

PARA QUE O VÍDEO COMECE A SER

TRANSMITIDO DOS SERVIDORES DA

PLATAFORMA DE STREAMING ATÉ A NOSSA

TELA. À PARTIR DAÍ, SE TUDO CORRER BEM, O

FLUXO DE VÍDEO SÓ É INTERROMPIDO SE O

[Plano médio do apresentador em FILME ACABAR, VOCÊ APERTAR O PAUSE OU A


estúdio, ainda com a TV em cena,
complementando visualmente o INTERNET CAIR. ESSA MODALIDADE FICOU
texto que segue] [PLANO 1]
CONHECIDA COMO STREAMING ON DEMAND,

OU SEJA, O CONTEÚDO ESTÁ ARMAZENADO

EM ALGUM SERVIDOR DE UMA PLATAFORMA

DE STREAMING, E VOCÊ PODE ASSISTIR

QUANDO QUISER. QUE É DIFERENTE DO LIVE

STREAMING, CUJA OPERAÇÃO SE DÁ AO VIVO,

COM POUCO RECUO TEMPORAL ENTRE A

31
CAPTAÇÃO DAS IMAGENS E A EXIBIÇÃO NA
1 - COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
TELA DO ESPECTADOR.

[STEVE] “PARA MIM LIVE STREAMING É UM


GC.: STEVE SEGUIN | Fundador e
desenvolvedor do VDO.Ninja CONCEITO BASTANTE AMPLO. LIVE

STREAMING PODE SER UM ATRASO DE /

ALGUNS MINUTOS EM UM FLUXO DE VÍDEO

OU ÁUDIO. / OU MESMO PESSOAS / COMO EU

E VOCÊ SENDO CAPAZES DE / FAZER

CONVERSAS AO VIVO / CONSIDERANDO QUE

COM ALGO COMO VDO.NINJA, A LATÊNCIA É

MENOS DE UM SEGUNDO, GERALMENTE /

MEIO SEGUNDO OU MENOS”

ESSE AÍ É O STEVE, ELE É RESPONSÁVEL

PELA CRIAÇÃO DO VDO.NINJA, OU VÍDEO

NINJA. / UM SERVIÇO OPEN-SOURCE DE

TRANSMISSÃO DE VÍDEO QUE USA CÓDIGOS

ABERTOS DE PROGRAMAÇÃO PARA CONECTAR

CÂMERAS DE TODO O MUNDO A ESTÚDIOS DE

PRODUÇÃO AO VIVO NA INTERNET. TUDO

ATRAVÉS DO NAVEGADOR E LIVRE PARA

QUEM QUISER USAR. //

“VDO.NINJA FUNCIONA / USANDO UMA


[STEVE]
TECNOLOGIA CHAMADA WEBRTC / É USADO

PRINCIPALMENTE PARA TRANSMISSÃO DE

32
VÍDEO E ÁUDIO. / E AO CONTRÁRIO DE

MUITOS SERVIÇOS DE VÍDEO POR AÍ, COMO

ZOOM / O VDO.NINJA SE CONCENTRA EM

SER SEM SERVIDOR. / ENTÃO USA

CONEXÕES PEER-TO-PEER, EM VEZ DE

PASSAR POR UM SERVIDOR CENTRAL / PARA

TRANSMISSÃO”

PARA QUE FERRAMENTAS COMO O VDO

NINJA ESTEJAM AO NOSSO ALCANCE // FOI

PRECISO MUITO DESENVOLVIMENTO

TECNOLÓGICO,. PARA SE TER UMA IDEIA. BEM

ANTES DO STREAMING TER O SIGNIFICADO

QUE TEM HOJE / AINDA EM NOVENTA E SEIS /

GILBERTO GIL LANÇOU PELA PRIMEIRA VEZ

UMA MÚSICA BRASILEIRA EM UMA

TRANSMISSÃO AO VIVO PELA INTERNET.

“Criar meu web site / Fazer minha homepage /


[SOBE SOM]
“PELA INTERNET’ - GILBERTO Com quantos gigabytes / Se faz uma jangada e um
GIL
barco que veleje…”
(9) Cenas da transmissão de Gil

A PRIMEIRA LIVE DE GIL SÓ FOI

POSSÍVEL GRAÇAS A UMA PARCERIA COM

33
TRÊS EMPRESAS GIGANTES / A IBM, / A

EMBRATEL / E O JORNAL O GLOBO. / QUE

OFERECERAM TODO O SUPORTE

TECNOLÓGICO NECESSÁRIO PARA QUE FOSSE

POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DAQUELA

[Plano em close no rosto do TRANSMISSÃO. //


apresentador] [PLANO 2]
DEPOIS DAQUELA PRIMEIRA

EXPERIÊNCIA EM SOLO NACIONAL / AINDA

DEMOROU MUITO ATÉ QUE TECNOLOGIAS

SEMELHANTES ESTIVESSEM DISPONÍVEIS

PARA QUEM QUISESSE TRANSMITIR / O QUE

FOI ACONTECER QUASE QUINZE ANOS MAIS


MORPH CUT
TARDE // FOI SÓ COM A COMBINAÇÃO DE
ROLO DE FILME > VHS > DVD >
PEN DRIVE > CARTÃO SD FORMATOS DE VÍDEOS CADA VEZ MAIS
PUFF!
COMPACTOS, / O AUMENTO DA VELOCIDADE

DA BANDA LARGA E UMA BOA PITADA DE

GAMBIARRA, QUE PUDEMOS ACOMPANHAR

AS PRIMEIRAS COBERTURAS AO VIVO EM LIVE

STREAMING.

[STEVE] “A NOÇÃO É QUE EU TENHO UM

COMPUTADOR NA INTERNET, VOCÊ TEM UM

COMPUTADOR. NÓS DOIS EXISTIMOS COM

NOSSA PRÓPRIA CONEXÃO, ENDEREÇOS IP,

NOSSA PRÓPRIA LOCALIZAÇÃO, E EU POSSO

34
FALAR DIRETAMENTE PARA A SUA

LOCALIZAÇÃO PASSANDO PELA INTERNET”

AQUI NO BRASIL, O PIONEIRISMO FICOU

POR CONTA DO FORA DO EIXO, UMA REDE

COLABORATIVA DE COLETIVOS CULTURAIS

DESCENTRALIZADOS, QUE SE ORGANIZARAM

E ENCONTRARAM NAS TRANSMISSÕES AO

VIVO A CHAVE PARA POTENCIALIZAR O

ALCANCE DE SUAS INTERVENÇÕES

DAQUELE GRUPO SAIRIA O EMBRIÃO DA

MÍDIA NINJA, ACRÔNIMO DE NARRATIVAS

INDEPENDENTES JORNALISMO E AÇÃO // UMA

INICIATIVA DE COMUNICAÇÃO EM REDE

POLITICAMENTE ENGAJADA, QUE MUDOU A

PERSPECTIVA DA COBERTURA DE

MANIFESTAÇÕES DE RUA / POIS

DIFERENTEMENTE DOS GRANDES VEÍCULOS

DA MÍDIA HEGEMÔNICA / QUE SE RECUSAVAM

A COBRIR PROTESTOS / OU O FAZIAM COM UM

CERTO DISTANCIAMENTO DOS

MANIFESTANTES, // OS NINJAS ESTAVAM NO

FRONT, PARTICIPANDO DAQUELE PROCESSO

MISTURADOS EM MEIO À MULTIDÃO,

35
TRANSMITINDO TUDO SOB UMA PERSPECTIVA

COMPLETAMENTE SINGULAR, O QUE SERVIU

COMO UMA ESPÉCIE DE VIGILÂNCIA EM

TEMPO REAL CONTRA OS ABUSOS COMETIDOS

PELAS FORÇAS POLICIAIS //


Trecho de lives ninjas

PASSADO UM POUCO O CALOR DA

NOVIDADE, ESSE LANCE DE LIVE STREAMING

DEU UMA ESFRIADA. APESAR DA CHEGADA

DE SMARTPHONES MAIS POTENTES E DE

DIVERSAS PLATAFORMAS IMPLEMENTAREM

RECURSOS DE TRANSMISSÃO AO VIVO EM

SEUS APLICATIVOS, AINDA ERAM POUCAS AS

INICIATIVAS QUE APOSTAVAM NO LIVE

STREAMING ENQUANTO LINGUAGEM, SENDO

A MAIOR PARTE DELAS RELACIONADAS AO

CENÁRIO DE JOGOS ONLINE; ALÉM DISSO, A

MAIOR PARTE DA AUDIÊNCIA ESTAVA NO

MUNDO LÁ FORA EXPERENCIANDO A VIDA

REAL. PRESENCIALMENTE.

“ALGUNS ANOS ATRÁS AS REDES


[STEVE]
MÓVEIS NÃO TINHAM NECESSARIAMENTE A

LARGURA DE BANDA PARA TRANSMITIR

VÍDEOS EM BOA QUALIDADE. QUANDO

36
VOCÊ TINHA MUITAS PESSOAS EM UMA

ÁREA, A INTERNET NORMALMENTE

DESPENCAVA, MAS AGORA TEMOS MUITA

LARGURA DE BANDA PARA FAZER MUITO

MAIS.”

FOI ESTA MESMA PERCEPÇÃO QUE

LEVOU A EQUIPE DO BRASIL 247 E O

JORNALISTA LEONARDO ATTUCH A INICIAREM

UM GRANDE PROJETO, A PÓS-TV 247 COMO

COSTUMAM CHAMAR // UM CANAL DE

JORNALISMO NATIVO DAS REDES QUE

TRANSMITE SUA PROGRAMAÇÃO

DIARIAMENTE NO YOUTUBE.

[LEONARDO ATTUCH] “O CANAL DO YOUTUBE JÁ EXISTIA,


GC.: LEONARDO ATTUCH |
Jornalista e Diretor-responsável da TV MAS ELE SE TORNOU DE FATO UMA AÇÃO
247
PERMANENTE NOSSA EM 2017, NÓS

COMEÇAMOS A FAZER ENTREVISTAS PRO

FACEBOOK, A GENTE MANTINHA UMA

REDAÇÃO E UM ESTÚDIO, QUASE TODOS OS

PROGRAMAS ERAM FEITOS

PRESENCIALMENTE…”

PROGRAMAS
PRESENCIAIS DA TV 247
“DEPOIS A GENTE PENSOU EM FAZER

ALGO ALÉM DAS ENTREVISTAS, AÍ NÃO

37
MAIS COM FOCO NO FACEBOOK, MAS

SOBRETUDO NO YOUTUBE. E A GENTE

COMEÇOU ENTÃO A SE DEDICAR A FAZER

CADA VEZ MAIS PROGRAMAS. BOA NOITE

247, BOM DIA 247, GIRO DAS 11,

ENTREVISTAS…”

COM UMA LINHA EDITORIAL

ABERTAMENTE ALINHADA AO CAMPO

PROGRESSISTA / À ESQUERDA DO ESPECTRO

POLÍTICO / E APOSTANDO EM FORMATOS

JORNALÍSTICOS DE NOTICIÁRIO,

ENTREVISTAS, DEBATES, ANÁLISES POLÍTICAS

E OUTROS PROGRAMAS ESPECIAIS PARA

COMPOR SUA GRADE DE PROGRAMAÇÃO. A

TV 247 ENXERGOU NAS LIVES A

POSSIBILIDADE DE ESTAR EM UMA

PROXIMIDADE MAIOR DE SUA AUDIÊNCIA

[LEONARDO ATTUCH] “NO MUNDO DAS LIVES A GENTE TÁ

AQUI TODOS OS DIAS, SE EXPONDO,

DIALOGANDO COM AS PESSOAS E ISSO TEM

UMA DIFERENÇA ESSENCIAL EM RELAÇÃO

AO TELEJORNALISMO, O TELEJORNALISMO

TEM UMA POSTURA QUE QUEM TÁ DO LADO

DE CÁ EMITE MENSAGENS DE MANEIRA

38
VERTICAL PRO PÚBLICO, EU FALO VOCÊ

ESCUTA. NAS LIVES É UM DIÁLOGO, NÉ?”

“E TEM SIDO MUITO IMPACTANTE


[STEVE]
PARA OS JORNALISTAS, PERMITE QUE AS

PESSOAS ESTEJAM JUNTAS EM QUALQUER

LUGAR QUE ESTEJAM. E COMPARTILHEM

PENSAMENTOS E IDEIAS EM UMA

CONVERSA QUE O MUNDO PODE OUVIR ”

EMBORA ALGUMAS INICIATIVAS, À

EXEMPLO DA TV 247, TENHAM FEITO

LEITURAS SEMELHANTES À RESPEITO DESTES

FORMATOS, ATÉ O FINAL DE DOIS MIL E

DEZENOVE NÃO HOUVE GRANDES

MOVIMENTOS NA CENA DO LIVE STREAMING.

ATÉ QUE UM CERTO CORONAVÍRUS RESOLVEU

APARECER E TRANSFORMAR

COMPLETAMENTE ESTE CENÁRIO, EM UM

CONTEXTO QUE PARA CONTER O AVANÇO DA

DOENÇA O CONTATO COM OUTRAS PESSOAS

ERA EVITADO, AS LIVES GANHARAM FORÇA E

SE MOSTRARAM UM CAMINHO POSSÍVEL PARA

MANTERMOS ALGUM NÍVEL DE CONTATO

SOCIAL EM MEIO AO CAOS;

39
“DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19,

VIMOS UM AUMENTO DE NOVAS EMPRESAS

DE TRANSMISSÃO AO VIVO E BASTANTE

INVESTIMENTO NO CENÁRIO DO LIVE

STREAMING. EMPRESAS COMO ZOOM NÃO

ERAM CONHECIDAS ANTES E DE REPENTE

SE TORNARAM NOMES FAMILIARES. NÓS

VIMOS CRIANÇAS QUE JÁ NÃO IAM À

ESCOLA TENDO AULAS VIA SOFTWARE DE

TRANSMISSÃO AO VIVO. TRABALHAR

ONLINE TAMBÉM É UMA GRANDE

MUDANÇA, NINGUÉM QUER VOLTAR PARA O

ESCRITÓRIO. ENTÃO ESTAMOS VENDO

MUITAS TRANSMISSÕES AO VIVO

ENTRANDO NO AMBIENTE DE TRABALHO.”

EM UM PRIMEIRO MOMENTO, AS

APRESENTAÇÕES MUSICAIS SE DESTACARAM.

/ LEVANDO PÚBLICOS IMENSOS PARA A

FRENTE DAS TELAS, / EMBALADOS COM

CAMPANHAS COMO A

#FIQUEEMCASAECANTECOMIGO, UM

EXEMPLO DESTE MOVIMENTO É O DA

CANTORA MARÍLIA MENDONÇA, QUE EM

ABRIL DE 2020 FOI ASSISTIDA

40
SIMULTANEAMENTE POR MAIS DE TRÊS

MILHÕES DE ESPECTADORES DA

TRECHO #LIVELOCAL MARÍLIA “#LIVELOCALMARÍLIAMENDONÇA”. POR MAIS


MENDONÇA
DE TRÊS HORAS, A RAINHA DA SOFRÊNCIA

CANTOU DIRETAMENTE DA SALA DE ESTAR DE

SUA CASA, UM FORMATO MAIS ÍNTIMO

ADOTADO POR DIVERSOS ARTISTAS NAQUELE

MOMENTO, CONQUISTANDO O PRIMEIRO

LUGAR NO RANKING DO YOUTUBE DE MAIOR

PÚBLICO EM LIVE MUSICAL DAQUELE ANO.

EM NOVEMBRO DE 2021, APÓS O ACIDENTE

AÉREO QUE RESULTOU NA MORTE DA

CANTORA, A ÍNTEGRA DA LIVE FOI RETIRADA

DE SEU CANAL, MAS OS REGISTROS DAQUELE

DIA CERTAMENTE PERMANECEM MARCADOS

NA MEMÓRIA DE MILHÕES DE FÃS //

NÃO DEMOROU MUITO ATÉ QUE O FORMATO

DAS LIVES FOSSE ADOTADO POR TODA A

VARIEDADE DE WEBINÁRIOS, FESTIVAIS

CULTURAIS, OFICINAS, PODCASTS, AULAS E

INCONTÁVEIS OUTRAS ATIVIDADES QUE

ACONTECIAM PRESENCIALMENTE /

CAUSANDO O QUE CONVENCIONAMOS

41
CHAMAR DE AGLOMERAÇÃO, PRECISARAM SE

ADAPTAR A ESTA NOVA REALIDADE

COMUNICACIONAL MEDIADA POR TELAS //

“O LIVE STREAMING DEPOIS DA


[STEVE]
COVID FEZ COM QUE CADA INDIVÍDUO

PROCURASSE TER UMA WEBCAM, TER UMA

BOA CONEXÃO, BUSCASSE O BÁSICO DA

TRANSMISSÃO AO VIVO. PORQUE ANTES DA

COVID MUITAS PESSOAS NÃO TINHAM UMA

WEBCAM OU NÃO SABIAM COMO

TRANSMITIR AO VIVO, E O COVID FORÇOU

PRATICAMENTE TODOS A SE TORNAREM

ADEPTOS”

APESAR DE O TRABALHO DE

REPORTAGEM TER SIDO CONSIDERADO UM

SERVIÇO ESSENCIAL DURANTE A CRISE

SANITÁRIA, BOA PARTE DOS VEÍCULOS DE

IMPRENSA PRUDENTEMENTE MANDARAM

SEUS TRABALHADORES AO HOME OFFICE. //

NESTA NOVA CONFIGURAÇÃO, ATÉ MESMO

TRABALHADORES DE EMISSORAS DE

TELEVISÃO, ACOSTUMADOS À ‘COMODIDADE’

DOS ESTÚDIOS PRECISARAM SE ADAPTAR AO

MODELO REMOTO. ACUMULANDO TAMBÉM

42
NOVAS RESPONSABILIDADES, COMO O

CUIDADO COM O PRÓPRIO ÁUDIO, A WEBCAM

E A CONEXÃO COM A INTERNET. //

“FOI NO DIA 18 DE MARÇO, NO DIA 19


[LEONARDO ATTUCH]
DE MARÇO A GENTE DECIDIU QUE TODO

MUNDO IA TRABALHAR REMOTAMENTE, E

CURIOSAMENTE ISSO ACONTECEU QUANDO

AS TECNOLOGIAS DE TRANSMISSÃO

REMOTA JÁ ESTAVAM MADURAS, NÉ? ENTÃO

VOCÊ JÁ TINHA O GOOGLE HANGOUTS, O

STREMYARD TAVA CHEGANDO, VOCÊ TINHA

O ZOOM, ENTÃO ERA POSSÍVEL FAZER

TRANSMISSÕES NESSAS PLATAFORMAS.”

NESTA NOVA CONFIGURAÇÃO,

VEÍCULOS JÁ EXPERIENCIADOS NA

PRODUÇÃO DE NOTÍCIAS PARA A INTERNET

TAMBÉM DECIDIRAM INVESTIR NO FORMATO

DAS LIVES // COMO É O CASO DO JORNAL VOZ

DAS COMUNIDADES // DURANTE AS

PRIMEIRAS SEMANAS DA PANDEMIA DA

COVID-19, O JORNAL COMUNITÁRIO PASSOU A

REALIZAR LIVES DE FORMA REMOTA. // QUE

COMBINAVAM FORMATOS DE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS COMO UM TIRA-DÚVIDAS COM

43
ESPECIALISTAS SOBRE O AUXÍLIO

EMERGENCIAL E NOTICIÁRIOS DIÁRIOS

VOLTADOS À MORADORES DE COMUNIDADES

DO RIO DE JANEIRO. // EM UM SEGUNDO

MOMENTO, QUANDO PASSOU A SER UM

POUCO MAIS SEGURO ESTAR NAS RUAS, O VOZ

PASSOU A REALIZAR COBERTURAS AO VIVO IN

LOCO // QUEM CONVERSA COMIGO É A

JORNALISTA AMANDA BOTELHO, REPÓRTER

DO VOZ DAS COMUNIDADES //

“AS COBERTURAS QUE O VOZ TEM


[AMANDA BOTELHO]
GC.: Amanda Botelho | Repórter do REALIZADO AO VIVO É DE TUDO QUE
Voz das Comunidades
ACONTECE ALI NO MOMENTO, ENTÃO PRA

GENTE NÃO PERDER AQUILO ALI QUE TÁ

ACONTECENDO, OU NÃO DEMORAR COM

AQUELA NOTÍCIA, OU ALGO QUE A GENTE

PRECISA TER UMA CERTA URGÊNCIA PRA

PASSAR PROS MORADORES A GENTE ENTRA

AO VIVO PRA QUE AQUILO SEJA PASSADO

IMEDIATAMENTE ALI NA HORA , ÀS VEZES

PROBLEMAS SOCIAIS PRA GENTE TRAZER

UM POUCO MAIS DE AGILIDADE NA

RESOLUÇÃO NÉ, DE UMA DENÚNCIA…


Trecho de live do Voz das
Comunidades com a Amanda

44
(Após inúmeras cobranças do
Voz das Comunidades a escadaria que
desabou no Alemão foi consertada)

[AMANDA BOTELHO] “NORMALMENTE, QUANDO UM

BUEIRO ESTÁ TRANSBORDANDO NA ZONA

SUL, VAI TER UM JORNALISTA LÁ DA

GRANDE MÍDIA PARA FAZER AQUELA

COBERTURA PARA COBRAR. E AQUILO VAI

ESTAR JÁ RESOLVIDO NO FINAL DO DIA,

MAS E DENTRO DA FAVELA?”

O PAPEL SOCIAL DE RELATAR FATOS

ATRAVÉS DE UMA VISÃO DIFERENTE

DAQUELA QUE ECOA ENTRE OS VEÍCULOS

HEGEMÔNICOS, DEMONSTRA DE MANEIRA

AINDA MAIS NÍTIDA A NECESSIDADE DA

EXISTÊNCIA DE VEÍCULOS COMO O VOZ DAS

COMUNIDADES EM CASOS DE VIOLÊNCIA DO

ESTADO. LAMENTAVELMENTE, AS OPERAÇÕES

POLICIAIS QUE FREQUENTEMENTE ACABAM

NA MORTE DE PESSOAS INOCENTES AINDA É

PAUTA RECORRENTE NO DIA-A-DIA DO

JORNAL //

“QUANDO A GENTE ESTÁ ALI DENTRO


AMANDA BOTELHO]
PRESENCIANDO UM CASO, QUE TALVEZ

SENDO DENUNCIADO SÓ PELA FALA DE UM

45
MORADOR QUE TALVEZ NÃO FOSSE

OUVIDO, OU POR NÓS MESMOS, QUANDO A

GENTE TEM UM VÍDEO, UMA PROVA, QUEM

VAI DIZER QUE NÃO ACONTECEU? ENTÃO

ASSIM, A GENTE APROVEITA ESSE MEIO QUE

A GENTE TEM DE GRAVAR UM VÍDEO, DE

ESTAR NESSE TERRITÓRIO, E FAZER

JORNALISMO.

Trecho live “AO VIVO:


Manifestação no Jacarezinho após
morador baleado”

[AMANDA BOTELHO] “A GENTE ESTÁ AQUI PARA DAR VOZ A

ESSAS PESSOAS QUE POR MUITO TEMPO

NÃO TIVERAM A OPORTUNIDADE DE ESTAR

NUMA TELEVISÃO, DE SER OUVIDO OU DE

TER UMA RESPOSTA. E A GENTE TÁ AQUI

PRA SER ESSA PONTE. E PARA ALÉM DE

MOSTRAR OS PROBLEMAS, AS VIOLÊNCIAS.

A GENTE TAMBÉM ESTÁ AQUI PARA

MOSTRAR AS POTÊNCIAS, OS ARTISTAS DAS

FAVELAS, OS EMPREENDEDORES, PARA

ALÉM DO QUE A GRANDE MÍDIA FAZ COM A

FAVELA, QUE É SÓ MOSTRAR A VIOLÊNCIA,

Trecho live carnaval 2022 - AS OPERAÇÕES, OS PROBLEMAS. A GENTE


Voz das Comunidades
TAMBÉM TRAZ UM OUTRO LADO”
FADE OUT

46
“O QUE É POSSÍVEL AGORA COM O
[STEVE]
LIVE STREAMING É EM PARTE A

DEMOCRATIZAÇÃO TRAZIDA POR ESSAS

TECNOLOGIAS / HÁ ALGUNS ANOS VOCÊ

PRECISAVA DE UM CAMINHÃO SATÉLITE,

CÂMERA ESPECIAL. PRECISAVA DE UM

EQUIPAMENTO ESPECIAL DE

TRANSCODIFICAÇÃO, PARA PODER / FAZER

UMA TRANSMISSÃO AO VIVO DE UM LOCAL.

HOJE, QUALQUER UM TEM UM TELEFONE, /

PRATICAMENTE TODOS OS DISPOSITIVOS

TÊM UM NAVEGADOR. / E ASSIM É POSSÍVEL

TRANSMITIR AO VIVO / VÍDEO EM BAIXA

LATÊNCIA DE PRATICAMENTE QUALQUER

DISPOSITIVO / PARA QUALQUER OUTRO

LUGAR NA INTERNET E NÃO É PRECISO

PAGAR CUSTOS ABSURDOS PARA FAZER

ISSO.”

“FOI ESSA PERCEPÇÃO DE QUE HÁ UM


[LEONARDO ATTUCH]
ESPAÇO PRA SUBSTITUIR A TELEVISÃO

TRADICIONAL, EVIDENTEMENTE COM

MUITO MENOS RECURSOS, EU TÔ AQUI POR

EXEMPLO EM UMA SALA PEQUENA, NA

47
MINHA CASA, MUITAS VEZES EU FAÇO AS

TRANSMISSÕES DAQUI DA MINHA CASA, ÀS

VEZES EU FAÇO DO ESTÚDIO. MAS ISSO NÃO

FAZ GRANDE DIFERENÇA PORQUE AS

PESSOAS ESTÃO FOCADAS MUITO MAIS NO

QUE VOCÊ ESTÁ TRANSMITINDO DO QUE

NOS EFEITOS ESPECIAIS AO REDOR E NOS

CONVIDADOS, NA QUALIDADE DO DIÁLOGO,

DO DEBATE…”

[STEVE] “AQUI NO CANADÁ HOUVE

PROTESTOS EM OTTAWA E AS PESSOAS

ESTAVAM NA RUA COM ‘GOPROS’ OU

CELULARES, TRANSMITINDO PARA SEUS

PRÓPRIOS CANAIS NO YOUTUBE. E

JORNALISTAS PODIAM RETRANSMITIR

ESSES FEEDS REMOTAMENTE. ENTÃO SEM

PRECISAR ESTAR NO PAÍS, ELES PODEM

COMENTAR E RETRANSMITIR ESSES FEEDS

DE MÍDIA BRUTOS QUE ESTÃO SENDO

ENVIADOS DAQUELA LOCALIZAÇÃO”

“A MUDANÇA TECNOLÓGICA ELA


[LEONARDO ATTUCH]
ACELEROU MUITO A DEMOCRATIZAÇÃO,

BARATEOU OS CUSTOS DE PRODUÇÃO,

48
ENTÃO POR EXEMPLO ERA POSSÍVEL

ENTREVISTAR QUALQUER PESSOA, DE

QUALQUER LUGAR DO MUNDO, MUITO

SIMPLESMENTE SÓ ENVIANDO UM LINK

PARA QUE A PESSOA ACESSE. ISSO É UMA

FORÇA DE DEMOCRATIZAÇÃO DA

COMUNICAÇÃO, QUE AS PESSOAS AINDA

NÃO TÊM A DIMENSÃO. EU VEJO MUITA

GENTE HOJE SE TORNANDO COMUNICADOR,

SE TORNANDO COMUNICADORA A PARTIR

DE SUA CAPACIDADE DE COMUNICAR E

ACESSANDO FONTES QUE NÃO ACESSARIAM

DE OUTRAS MANEIRAS, NÉ?”

TODA TRANSMISSÃO AO VIVO SEMPRE

TRAZ TAMBÉM UM CERTO GRAU DE

SUSPENSE, JÁ QUE AS COISAS PODEM NÃO

SAIR COMO O ESPERADO E NÃO EXISTE

FORMAS DE REMOVER UM TRECHO QUE JÁ FOI

AO AR SEM QUE O REMENDO APAREÇA. POR

ISSO AS FALHAS TÉCNICAS, OS ERROS E AS

GAFES SEMPRE SE DERAM COMO UMA

FATALIDADE EM QUALQUER TRANSMISSÃO

AO VIVO,

49
MAS ATÉ MESMO ISSO PASSOU A SER

ASSIMILADO DE UMA MANEIRA MAIS

ORGÂNICA PELO PÚBLICO. QUE AGORA JÁ


LIVES QUE DERAM ERRADO ESTÁ MAIS ACOSTUMADO COM ESTA NOVA

LINGUAGEM QUE TRAVA, QUE FICA SEM

ÁUDIO E QUE SOFRE COM A AÇÃO DE OUTROS

ELEMENTOS EXTERNOS.

[LEONARDO ATTUCH] “SEM QUERER COLOCAR NENHUM

TIPO DE SUPERIORIDADE, TEM UMA CERTA

INFORMALIDADE NA COMUNICAÇÃO

TAMBÉM, A INFORMALIDADE EU ACHO QUE

É UM ASPECTO CENTRAL. COMO SE FOSSE

QUASE UMA RODA DE CONVERSA, UM

BATE-PAPO, COMO SE VOCÊ TIVESSE

CONVERSANDO COM A PESSOA EM UMA

MESA DE BUTECO, NA MESA DE BAR OU NA

SALA DA PESSOA, TROCANDO IDEIA… VOCÊ

PODE RIR, VOCÊ PODE ERRAR, VOCÊ PODE

FAZER UMA PIADA. ENFIM, É UM POUCO

ISSO. ÀS VEZES VOCÊ BRIGA AO VIVO E

DEPOIS TUDO BEM. AS PESSOAS SENTEM:

‘PÔ, ESSE CARA TÁ SENDO VERDADEIRO AÍ,

50
NÉ? EU ACHO QUE É UM POUCO ISSO QUE

PASSA”

“O AO VIVO É MUITO PRÁTICO


[AMANDA BOTELHO]
PORQUE A GENTE DEU START, GRAVOU,

COMEÇOU, PASSOU A INFORMAÇÃO, TÁ

PRONTO… É AQUELA VERDADE ALI, É

COMO TÁ DAQUELA FORMA. O QUE A

PESSOA TÁ FALANDO ALI É DO JEITO QUE

VAI. ENTÃO ASSIM, O AO VIVO TEM LÁ AS

SUAS VANTAGENS PRINCIPALMENTE

QUANDO A GENTE TRAZ ESSAS QUESTÕES

DE DENÚNCIA OU QUER MOSTRAR UM

EVENTO ALI MOMENTÂNEO, TRAZER EM

PRIMEIRA MÃO PRO MORADOR.”

[LEONARDO ATTUCH] “VOCÊ PARA PRA PENSAR, VOCÊ

ENTRA NO CANAL NO YOUTUBE, A

QUANTIDADE DE OFERTA DE CONTEÚDO

QUE TEM ALI QUANDO EU FALO QUE EU

NÃO ASSISTO TELEVISÃO ABERTA HÁ MAIS

DE CINCO ANOS, É A MAIS PURA VERDADE..

EU DIRIA QUE PRATICAMENTE NÃO EXISTE

MAIS TELEVISÃO POR ASSINATURA, MUITO

POUCO.”

51
PEQUENOS E GRANDES CANAIS AGORA

TRANSMITEM PARA AS MESMAS

PLATAFORMAS E DISPUTAM A ATENÇÃO DE

UM MESMO PÚBLICO, O INTERNAUTA, QUE

CRIA A SUA PRÓPRIA PROGRAMAÇÃO

NÃO-LINEAR E EM MÚLTIPLAS TELAS. COM

MILHÕES DE CONTEÚDOS DISPONÍVEIS ON

DEMAND OU EM LIVE STREAMING.


[STEVE]
“AGORA QUE ESTAMOS NA ERA

PÓS-COVID, COMO O LIVE STREAMING VAI

EVOLUIR NÃO ESTÁ 100% CLARO PARA MIM.

HOUVE UM GRANDE AUMENTO NO

INVESTIMENTO EM TRANSMISSÃO AO VIVO,

MAS TAMBÉM ESTAMOS VENDO MUITOS

CONSTRIÇÃO E CONTRAÇÃO NESSE ESPAÇO.

OS USUÁRIOS ESTÃO VOLTANDO AO MUNDO

3 - E DAQUI PRA FRENTE? REAL, DIGAMOS. MAS O IMPACTO QUE

PERMANECEU AINDA MUDA O MUNDO. A

INDÚSTRIA ESTÁ DIFERENTE.”

“ENTÃO EU ACHO QUE ASSIM, A


[LEONARDO ATTUCH]
GENTE TÁ INDO PRA UM MUNDO DE UMA

HIPER FRAGMENTAÇÃO. COM MÚLTIPLOS

CANAIS, MILHARES, DEZENAS DE MILHARES

DE CANAIS E OS ALGORITMOS ALI MAIS OU

52
MENOS DETERMINANDO O QUE CADA

PESSOA VAI CONSUMIR DE ACORDO COM AS

SUAS PREFERÊNCIAS.”

[AMANDA BOTELHO] “VEÍCULOS COMO O NOSSO, COMO

VOZ DAS COMUNIDADES, ELE TEM UM

PAPEL MUITO IMPORTANTE E BEM

DIRECIONADO, DIFERENTE DA GRANDE

MÍDIA, DA TELEVISÃO, A GENTE ESTÁ

DENTRO DA FAVELA, NÉ? O QUE

NORMALMENTE ELES NÃO FAZEM. SE

ACONTECE ALGUMA COISA, ELES

APARECEM ALI DA ENTRADA, NÉ? E A

GENTE VAI COM TUDO. A GENTE ENTRA, A

GENTE MOSTRA. E A GENTE TÁ SEMPRE

TENTANDO TRAZER NOVAS TECNOLOGIAS

PRA EXERCER BEM ESSA FUNÇÃO. A GENTE

ATUA EM TERRITÓRIOS QUE ÀS VEZES NÃO

TEM ÁREA, E MELHORAR A NOSSA

TECNOLOGIA É FUNDAMENTAL PARA QUE A

GENTE CONSIGA ESTAR FAZENDO ESTAS

COBERTURAS?”

“COISAS COMO TECNOLOGIA 5G,


[STEVE]
NOVAS TECNOLOGIAS DE HARDWARE, NOVA

INTERNET QUE PODEM IMPACTAR O

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STREAMING NA VIDA REAL MAIS E MAIS, E

ISSO VAI PERMITIR MUITAS EXPERIÊNCIAS

DE LIVE STREAMING PARA DISPOSITIVOS

MÓVEIS.”

HÁ QUEM DIGA QUE AS TRANSMISSÕES

AO VIVO SÃO O QUE TEMOS DE MAIS

PRÓXIMO DO TELETRANSPORTE, JÁ QUE ELAS

QUEBRAM AS BARREIRAS GEOGRÁFICAS DA

COMUNICAÇÃO E FAZ COM QUE PESSOAS EM

DIFERENTES LOCALIZAÇÕES POSSAM

COMPARTILHAR JUNTAS O MESMO MOMENTO.

SE OLHARMOS NESSA DIREÇÃO, E COM BASE

NO QUE PUDEMOS EXPERIENCIAR DURANTE

TODO O PERÍODO DE PANDEMIA, TEMOS A

OPORTUNIDADE DE VISLUMBRAR UM FUTURO

PROMISSOR NAS EXPERIÊNCIAS DE

PRODUÇÃO LIVE STREAMING NOS PRÓXIMOS

ANOS..

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