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Mariana
2022
Gabriel Luis Pereira
Mariana
2022
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha mãe, Graça Pereira, mulher forte e corajosa que me
ensinou sobre o amor, a paciência e a honestidade através do exemplo. Agradeço também ao
meu pai, Mauro Bernardes, que não mede esforços para fazer o impossível acontecer. Este
diploma também é uma conquista de vocês.
Ao meu irmão, Luiz Felipe Pereira, por todas as noites em claro de conversas tão
sagazes, pelo pensamento subversivo e por me ensinar a compartilhar, te admiro e amo.
A minha noiva e melhor amiga, Talita Ferraz, que todo dia me inspira e me faz ser
melhor, obrigado pela convivência, por todo o carinho e empatia, você é incrível.
Ao meu sobrinho, Benício, que com tão pouca idade já me ensina tanto sobre a vida e
me inspira a lutar por um futuro mais justo.
Aos amigos e companheiros de Mariana e do mundo, em especial: Carmem
Guimarães, Bruno Andrade, Clube dos 5 (Carla Cruz, Xexéu, Lucas Miranda, Lívia e Júlia
Maia), Cintia Soares, Yago Pinheiro, David Slvestre, Júlia Souza, Mayron Brito, Mariana
Botão, Matheus Buranelli, Sandy Oliveira, Malu Silva e Igor Diniz, por terem me acolhido
tão bem e por terem tornado os anos da graduação tão divertidos.
Ao meu querido orientador, Evandro Medeiros, pela paciência, pelos ensinamentos
durante toda a graduação e por expandir as possibilidades de construção deste trabalho.
Aos professores da Universidade Federal de Ouro Preto: Lara Linhalis, Anderson
Medeiros, Adriano Medeiros, Michele Tavares, Carlos Jáuregui, Coração, Hila Rodrigues e
tantos outros. Obrigado pela generosidade, pelos ensinamentos e por fazerem tanto com tão
pouco em tempos de obscurantismo e ataques à educação, nós passaremos.
Às fontes entrevistadas para a realização do produto: Amanda Botelho, Leonardo
Attuch e Steve Seguin.
Muito obrigado!
2
RESUMO
Esta pesquisa surgiu da necessidade de se pensar novos paradigmas do jornalismo
audiovisual, que vêm sendo estabelecidos junto com a evolução da internet e das tecnologias
de produção ao vivo na última década, cuja forma, há pouco tempo, era financeiramente
excludente e exclusiva para grandes empresas e veículos de comunicação, mas que agora se
torna mais acessível por meio do live streaming. Ensaiamos algumas formas de vislumbrar o
uso desta ferramenta enquanto uma tecnologia-chave para a transformação desta ecologia das
redes e da televisão. Também mapeamos e identificamos as apropriações realizadas por
streamers, midiativistas e jornalistas independentes (estes últimos com uma atenção especial)
na experimentação destes novos formatos de transmissões ao vivo pela internet, as lives,
sobretudo neste recorte temporal de pandemia e comunicação remota causados pela
Covid-19.
ABSTRACT
This research arose from the need to think about the paradigms of audiovisual journalism,
being created along with the evolution of the new era of the internet and the latest live
production technologies in the decade, whose form, not long ago, was financially excluding
and exclusive to big companies and media outlets, but which is now more accessible through
live streaming. In the following pages, we will try some ways of envisioning the use of this
tool as a key technology for an ecological transformation of networks and television. Map
and identify how appropriations made by streamers, media activists, and independent
journalists (the latter with special attention in these cases) in the experimentation of these
new formats of live broadcasters, especially in this time frame of pandemic and remote
communication trained by Covid-19.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………. 4
2 AUDIOVISUALIDADES EMERGENTES ………………………………………………6
2.1 LIVE STREAMING, COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI? ……………………………8
2.2 LIVES NA PANDEMIA ……………………………………………………………..14
3 MAPA DO PRODUTO …………………………………………………………………...20
3.1 CONCEITO…………………………………………………………………………..20
3.2 DESCRIÇÃO DAS FONTES ………………………………………………………..20
3.3 REFERÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DO PRODUTO ………………………….22
3.4 PROPOSTA…………………………………………………………………………..24
3.5 TRATAMENTO ……………………………………………………………………...25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………….26
REFERÊNCIAS …………………………………………………………………………….27
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1 INTRODUÇÃO
Em seus primórdios, o vídeo tinha como suporte fundamental a sua gravação em
película, um método analógico de registrar imagens em um tipo de material plástico
fotossensível, composto geralmente por triacetato de celulose e sais de prata, o filme. Capaz
de gravar o negativo das imagens capturadas através de uma lente para posteriormente serem
reveladas, registrando um instante de uma determinada quantidade de matéria, em um
determinado recorte geográfico. Embora não haja um consenso, dizem que foi só com os
irmãos Lumière e o cinematógrafo, apresentado ao público em 1895, que pudemos perceber
pela primeira vez o movimento das imagens gravadas em película, através da exibição rápida
e em sequência dos fotogramas captados. Foram 32 anos de cinema “mudo” até que, em
1927, o áudio passasse a compor as obras cinematográficas, a cor viria logo depois, em 1932.
De lá pra cá, transformando junto com os hábitos de consumo, o vídeo já adotou
diversos suportes, desde a película de filme e o VHS como formatos analógicos, até os
formatos digitais para internet, passando pelo DVD e o BluRay, este último sem muita
penetração, justamente pela popularização da banda larga. Conforme a tecnologia avançava,
estes formatos digitais foram sendo otimizados a fim de obter a melhor nitidez e resolução
possível, ao passo que o tamanho total que os arquivos ocupavam de armazenamento ia sendo
diminuído, fenômeno conhecido como compressão. Somado ao aumento da largura de banda
das redes e com a chegada de tecnologias de conexão mais velozes, isto possibilitou que
pudéssemos realizar pela primeira vez a transferência de vídeos em tempo real pela internet,
não demorou muito para que fossem criados protocolos, para que isto fosse, de fato, possível.
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2 AUDIOVISUALIDADES EMERGENTES
Para trazer contextualização e interpretar os fenômenos destas novas tecnologias
próprias da internet, recorreremos aos estudos sobre a televisão, seus gêneros e formatos,
principalmente sobre os trabalhos de Machado (2000), que volta a atenção à qualidade do
conteúdo que é efetivamente produzido e transmitido nos produtos audiovisuais da televisão,
elencando suas características através de exemplos de produções televisivas brasileiras. E
Manuel Castells (2013), o qual investiga as ações de movimentos sociais na era das
sociedades em redes, com ênfase no fenômeno que batizou de “autocomunicação”.
No dia 18 de setembro de 1950, há 71 anos, a televisão fez a sua estreia no Brasil, em
uma transmissão ao vivo com uma câmera só, já que o segundo equipamento apresentou
defeito antes mesmo de entrar no ar. O sinal partia da TV Tupi, a quarta emissora de televisão
fundada no mundo, a primeira da América Latina, pertencente aos Diários Associados.
Conta-se que, para a estreia e para os primeiros dias de operação, Assis Chateaubriand, dono
do grupo, adquiriu cerca de 200 aparelhos televisores e deu de presente a pessoas influentes
do país naquela época, além de espalhar outra parte dos aparelhos por bares e restaurantes da
cidade de São Paulo, uma maneira de fazer a população acompanhar a programação e se
acostumar com a nova engenhoca. Foi então que às 17 horas e 30 minutos daquele dia, no
canal 3 de São Paulo, surge a imagem da atriz-mirim Sonia Maria Dorce, que na época tinha
apenas 6 anos e usava um cocar. Para aquela criança, não devia parecer grande coisa, mas foi
da boca dela que saiu a primeira frase transmitida na TV em terras brasileiras: “Boa noite.
Está no ar a televisão do Brasil”, seguida pela estreia do primeiro programa televisivo, a TV
na Taba, que contou com a participação de artistas consagrados do rádio, como Inezita
Barroso, Lolita Rodrigues, Airton Rodrigues e Lima Duarte.
O alto custo das televisões naquela época tornava financeiramente inacessível para a
maioria dos cidadãos. À medida que os aparelhos foram se tornando mais baratos, a TV se
popularizou de uma maneira estrondosa, sendo até mesmo encarada por magnatas da mídia e
pesquisadores da comunicação como um suporte de comunicação “de massa”, resultando em
uma certa dispersão da atenção sobre as suas experiências. (MACHADO, 2000).
A despeito de todos os discursos popularescos e mercadológicos que tentaram e
ainda tentam explicá-la, a televisão acumulou, nestes últimos cinqüenta anos de sua
história, um repertório de obras criativas muito maior do que normalmente se supõe,
um repertório suficientemente denso e amplo para que se possa incluí-la sem
esforço entre os fenômenos culturais mais importantes de nosso tempo.
(MACHADO, 2000, p. 16).
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Apesar da grande penetração deste meio entre quem assiste, nota-se que há tempos o
Brasil segue uma tendência de monopolização dos veículos de comunicação, sobretudo de
emissoras de TV e Rádio, acelerados pelos interesses dos grandes conglomerados de mídia
(CASTELLS, 2013). Isso é o que também aponta o Monitoramento da Propriedade da Mídia
(ou MOM, da sigla em inglês), realizado por uma parceria entre o Ministério de Cooperação
Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, o coletivo brasileiro de comunicação
Intervozes e os Repórteres Sem Fronteiras, baseados na França. Segundo esse estudo, apenas
5 famílias controlam 26 dos 50 maiores veículos de comunicação do Brasil. Tal relatório
também demonstra uma falta de capilaridade geográfica destes veículos, fazendo com que,
quando falamos sobre a televisão, grande parte da programação disponível para a população
ao longo do dia seja proveniente de uma das quatro maiores emissoras, de cobertura nacional
(MOM, 2017). Devido ao alto custo de operação e das dificuldades de se conseguir uma
concessão pública para a transmissão ao vivo do sinal de TV e Rádio no Brasil, a
comunicação popular estava sempre restrita a estas grandes empresas (e empresários) de
comunicação, que concentram poder.
Se antes era preciso possuir uma mídia física, como o VHS e o DVD, ou sintonizar na
programação da TV para consumir algum produto audiovisual, agora estes e outros conteúdos
estão disponíveis ao vivo e on demand para serem acessados através do streaming, sem a
necessidade de fazer download do material no armazenamento no dispositivo que reproduz.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD),
realizada pelo IBGE em 2019, o aparelho de televisão estava presente em 96,3% dos
domicílios brasileiros. Em toda a série histórica, esta foi somente a primeira vez em que
houve uma ligeira retração neste indicador, que reduziu 0,1% em comparação com o ano
anterior. Essa mesma pesquisa ainda aponta a presença do smartphone em 94% dos
domicílios, sendo este o principal dispositivo de acesso à internet, que por sua vez estava
disponível em oito a cada dez domicílios. Entre as atividades realizadas por usuários, “assistir
a vídeos, inclusive programas, séries e filmes” foi citada por 88,4% dos entrevistados (IBGE,
2019). Tais indicadores relacionados acima fornecem um panorama dos hábitos de consumo
de conteúdos audiovisuais dos brasileiros e aponta para uma transformação destes hábitos nos
últimos anos.
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2.1 LIVE STREAMING, COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
Com a invenção do smartphone e das redes sociais somados à evolução da banda
larga e das ferramentas de produção audiovisual, a criação de conteúdo para a internet passou
a estar acessível para uma fatia maior da população. Pela primeira vez, pequenos canais de
comunicação e veículos de imprensa independentes puderam colocar o seu trabalho a
disposição de qualquer um que estivesse conectado. A Mídia NINJA, por exemplo, passou a
ocupar o seu espaço nas redes sociais com a cobertura de manifestações urbanas, sobretudo
as de caráter político e cultural, mas foi mesmo durante os protestos de junho de 2013, que o
grupo ganhou projeção nacional. Na ocasião, o grupo usava smartphones e uma
estrutura-gambiarra, montada em um carrinho de supermercado, para conseguir realizar lives
diretamente da rua. Deu até no New York Times: “Um grupo, chamado N.I.N.J.A., [...] tem
circulado pelas ruas com smartphones, câmeras e um gerador em um carrinho de
supermercado – um estúdio de produção improvisado e itinerante”1 (ROMERO e
NEUMANN, 2013). O trabalho desta mídia livre durante os atos que se iniciaram pautados
pelo aumento das passagens de ônibus em 2013 marcaram o início de um novo modo de se
cobrir manifestações populares no Brasil, com o uso das tecnologias live streaming.
O trabalho do grupo funcionou como um tipo de vigilância, proteção para os
manifestantes, contra a violência policial. As transmissões são feitas, via de regra,
com o uso de um aparelho de telefone celular, com uma conta pós-paga, com acesso
à Internet, além das baterias extras e do equipamento de proteção do midiativista,
como o capacete. (LAIA, 2016, p. 21).
1
Texto original, em inglês: "One group, called N.I.N.J.A., [...] has been circulating through the streets with
smartphones, cameras and a generator held in a supermarket cart – a makeshift, roving production studio”.
8
sendo acusada até de manipular – para menos – o número de manifestantes, como
forma de minimizar a relevância das ações. (MAGALHÃES, 2018, p.200)
O sucesso das reivindicações desses movimentos devem ser analisados em cada caso
específico, entretanto o que é comum a todos eles é sua forte organização através das redes
sociais, já que estas são “espaços de autonomia, muito além do controle de governos e
empresas, que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de comunicação como
alicerces de seu poder” (CASTELLS, 2013). Em grande parte das manifestações, a repressão
policial e a cobertura controversa da mídia hegemônica também marcavam profundamente os
atos ao redor do mundo, enquanto isso, jornalistas independentes fotografavam, filmavam e
transmitiam tudo diretamente da rua. Esta foi a primeira vez que manifestantes estavam
respaldados com abundantes evidências dos abusos que aconteciam durante os protestos,
participando ativamente da disputa de narrativas pelo apoio da opinião pública.
Ninguém esperava. Num mundo turvado por aflição econômica, cinismo político,
vazio cultural e desesperança pessoal, aquilo apenas aconteceu. Subitamente,
ditaduras podiam ser derrubadas pelas mãos desarmadas do povo, mesmo que essas
mãos estivessem ensanguentadas pelo sacrifício dos que tombaram. (CASTELL
2013, p. 9)
9
Para descrever um pouco do trabalho de jornalistas e midiativistas como o do coletivo
Mídia Ninja durante as manifestações, recorreremos a um vídeo2, em formato de dossiê,
ainda hoje disponível no canal do grupo no YouTube. Situações como a que será narrada a
seguir é apenas um entre vários outros casos que evidenciam as potencialidades da
comunicação independente com o uso de ferramentas nativas das redes, o papel cidadão da
mídia independente em relatar fatos através de uma visão diferente daquela que ecoa entre os
veículos hegemônicos, subversiva, demonstra de maneira ainda mais nítida a necessidade de
sua existência em casos de truculência e violência do Estado.
No dia 22 de julho de 2013, Papa Francisco chegava no Rio de Janeiro para a Jornada
Mundial da Juventude, o primeiro evento internacional do seu pontificado, enquanto isso nos
arredores do Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro, um protesto
convocado por integrantes de partidos políticos, coletivos feministas e LGBTQIA+ acontecia
de maneira pacífica. Em determinado momento do ato, já em um cruzamento próximo ao
Palácio Guanabara, a polícia bloqueou a marcha dos manifestantes, que queimaram um
boneco de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro naquele momento. Tudo aconteceu
muito rápido, no front do protesto alguns manifestantes retiraram as grades de contenção que
obstruiam o caminho da manifestação, entre eles estava Bruno Telles, um estudante de 25
anos, que aparece à direita da Figura 1. Poucos segundos mais tarde, uma bola de faíscas
surge no canto superior direito da imagem (Figura 2) e explode aos pés da fileira de policiais
militares da tropa de choque. Era um coquetel molotov, que foi arremessado por alguém de
fora do quadro. No exato momento do impacto do artefato incendiário caseiro, uma bomba de
efeito moral também explode aos lado de Bruno Telles e outros manifestantes que estavam ao
redor, é possível visualizar a posição de Bruno poucos quadros antes das explosões, que
recuava, com as mãos vazias, à direita da Figura 3.
No mesmo vídeo, ainda é possível ver a prisão do estudante, perseguido até ser
imobilizado com o choque elétrico de um taser, um tipo de arma “menos letal”, terminologia
utilizada pelas forças de segurança. Até mesmo quando já estava no chão, rendido, Bruno foi
eletrocutado no peito por alguns segundos, chegando a ficar desacordado.
2
Vídeo disponível em: “Vandalismo de Estado - Policiais Infiltrados Começam Violência nos Protestos do Rio
#EagoraCabral?”
10
Figura 1: Posição de Bruno alguns segundos Figura 2: Momento em que o molotov é lan-
antes das explosões. çado. Bruno está logo atrás do poste à direita.
Figura 3: Momento das explosões do mo- Figura 4: Policiais infiltrados se identificam para os
lotov e da bomba de efeito moral. colegas fardados.
Bruno foi preso por (supostamente) portar artefatos explosivos em uma mochila e
arremessá-los contra a polícia, entretanto nas imagens fica claro que o estudante não portava
uma mochila e nem carregava nada em suas mãos, fortes evidências de uma prisão injusta.
Este vídeo ainda exibe um flagrante do momento em que um coquetel molotov é arremessado
por um homem de camiseta preta com estampa, características similares de um policial
infiltrado (P2) que se identifica para seus colegas de corporação e adentra as fileiras da
Polícia Militar momentos mais tarde, causando confusão até mesmo entre os fardados, que
abordaram o agente disfarçado e seu parceiro, repreendidos aos gritos de “é polícia!”,
estragando de vez o disfarce (Figura 4).
Devido à baixa resolução das imagens e a ausência de outras evidências que
comprovem a identidade do autor do coquetel, é impossível dizer se quem arremessou o
molotov e o policial infiltrado se tratem da mesma pessoa, mas como diz o lema do Meteoro
Brasil: “No Jornalismo não importa o que a gente acha, importa o que a gente sabe”, e o que
a gente sabe é que essas imagens registradas de maneira autônoma foram reunidas e tiveram
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forte repercussão pela internet, sendo exibidas até mesmo no Jornal Nacional, corroborando
para a desconstrução dos crimes imputados a Bruno Telles, que teve o seu caso arquivado
uma semana depois.
Ainda neste mesmo dia, dois integrantes da Mídia Ninja também foram detidos sob a
acusação de “incitação à violência”, Felipe Assis e Felipe Peçanha, o segundo conhecido
como "Carioca", abordado por outro P2 que se recusou a dar a sua identificação. No
momento da revista pessoal, Felipe ainda transmitia para os canais da Mídia Ninja e era
assistido por mais de 5 mil pessoas, que acompanhavam ao vivo a abordagem da PM, o que
parece ter intimidado um pouco os agentes de segurança. Quando estava prestes a ser
conduzido para a delegacia de polícia, antes de ser colocado na viatura, o streamer fez a
multidão de manifestantes saber que o seu smartphone estava ficando sem bateria e que
precisava de um outro, prontamente seu pedido foi atendido por um homem não identificado
que participava do ato. Os protestos, que até então estavam previstos para serem finalizados
às 21 horas, foram então estendidos aos gritos de “Libertem a Mídia Ninja!” até quase 23h,
em vigília próximo ao 9º DP, localizado no Catete, local para onde os detidos foram
conduzidos. Ao ser liberado, já pelas dez e meia da noite, Felipe Peçanha deu a seguinte
declaração em frente à delegacia: “Me impediram de fotografar, fazer vídeos e transmitir o
que acontecia. Isso é um exemplo claro da ditadura velada que enfrentamos no Rio”3.
Para tentar explicar um pouco sobre o trabalho dos streamers, nome dado àqueles que
estão por trás das lives, transmitindo com o uso de um único smartphone ou quem o faça em
colaboração com uma rede de vários atores como o caso da Mídia Ninja, precisamos
impreterivelmente discorrer sobre o funcionamento técnico de seu suporte fundamental, o
streaming. Um filme da Netflix ou um vídeo do YouTube ainda são armazenados em suportes
físicos, mas agora estão nos servidores destas plataformas, equipamentos desenvolvidos para
armazenar e transferir todos estes conteúdos até as telas do espectador, através da internet. No
caso do live streaming e sua particularidade em relação à operação ao vivo, este caminho
pode ser um pouco mais complexo, pois começa com a captura da imagem e som através de
câmeras e microfones, estas imagens são então codificados seguindo protocolos de
transmissão como o WebRTC ou o RTSP, sigla de Real Time Streaming Protocol
(SCHULZRINNE et al., 2016), que basicamente é uma instrução de como estes arquivos de
vídeo que estão sendo produzidos em tempo real devem ser codificados e transformados em
pacotes de dados pelo encoder, posteriormente estes pacotes são então enviados pela internet
3
FARINA, C. et al. Detenção de integrantes da ‘Mídia Ninja’ prolongou os protestos, Veja, 22 jul 2013.
Disponível em: “https://veja.abril.com.br/brasil/detencao-de-integrantes-da-midia-ninja-prolongou-os-protestos/
12
aos servidores da plataforma que hospeda as transmissões e só então segue para a as telas do
consumidor final. Todo este caminho entre a captação e a recepção das imagens é percorrido
em segundos, intervalo temporal que pode ser ignorado em termos práticos.
4
Texto original, em inglês: “RTSP is an application-layer protocol for the setup and control of the delivery of
data with real-time properties. RTSP provides an extensible framework to enable controlled, on-demand
delivery of real-time data, such as audio and video. Sources of data can include both live data feeds and stored
clips.”
13
seguida posteriormente pelas outras emissoras, algumas seguindo este mesmo modelo
baseado em aplicativos, enquanto outras transmitem diretamente para plataformas como o
YouTube e a Twitch.
14
(BURGESS, 2009, p. 9), se tornasse também a maior plataforma de conteúdos ao vivo da
internet.
15
rearranjaram a programação do fim de semana para dar espaço à cobertura do trágico
acontecimento. Até aí não há um problema na forma, mas veremos que há no conteúdo, a
saber.
Na sexta-feira, enquanto ainda chegavam as primeiras informações sobre o acidente, a
Globo News exibiu em um link ao vivo a retirada dos corpos das vítimas do avião, este fato
por si só já levanta toda a discussão acerca do que deve ou não ser exibido na televisão.
Enquanto os bombeiros retiravam a terceira vítima da aeronave em uma maca, a manta
aluminizada que cobria o corpo se levantou com o vento e partes da roupa xadrez que a
cantora usava puderam ser vistas diante das câmeras. A ação, que não foi proposital,
confirmou a morte de Marília, gerando assim uma controvérsia, visto que, em um primeiro
momento, a assessoria da cantora havia comunicado que ela estava no hospital e bem.
No dia seguinte, como era de se esperar, a maior parte da programação das emissoras
foi ocupada com conteúdos especiais relacionados com a carreira de Marília Mendonça, com
a grade sendo intercalada entre homenagens para a cantora e um link ao vivo diretamente do
velório dela e de seu tio, que foi aberto ao público. Já no enterro, solenidade que era
reservada aos familiares e amigos mais próximos, a Globo errou outra vez, transmitindo para
a TV aberta as imagens de um drone que sobrevoava o cemitério, mostrando o momento
íntimo de despedida da família.
Como se não bastasse, no dia seguinte, a programação seguiu ao vivo com Luciano
Huck, herdeiro das lacunas deixadas nas tardes dominicais pela demissão de Fausto Silva, o
Faustão. O apresentador, que estava acostumado com a comodidade da edição dos programas
gravados desde quando estava à frente do “Caldeirão do Huck”, teve que performar ao vivo
no “Domingão com Huck”, em um programa dedicado à memória de Marília Mendonça. Em
uma super síntese, o programa foi uma catástrofe. O apresentador comunicou informações
erradas sobre o acidente e a carreira da cantora, constrangeu os convidados pressionando para
que cantassem em um momento de profunda tristeza e ainda demonstrou falta de empatia ao
enfileirar palavras de cunho gordofóbico sobre Marília e sobre a dupla sertaneja Maiara e
Maraísa5; além de se colocar como assunto central ao mencionar, por ao menos três vezes,
um incidente que ocorreu com ele e a sua família em 2015, quando o avião em que estava
precisou fazer um pouso forçado em Mato Grosso do Sul, relativizando a morte da cantora.
Na televisão ao vivo, tudo aquilo que era considerado excesso para a produção
audiovisual anterior se converte em elemento formador, impregnando o produto
final das marcas da incompletude, da indomesticabilidade e, num certo sentido, da
5
Para não incorrer nos mesmos erros do apresentador, fizemos a escolha de não reproduzir neste
trabalho as palavras ditas por ele, que consideramos preconceituosas.
16
bruteza, que constituem algumas de suas características mais interessantes. Pode-se
dizer que, na transmissão direta de televisão, a tentativa se confunde com o
resultado, o ensaio com o produto final. (MACHADO, 2000, p. 131).
Em geral, os programas são pré-gravados não para possibilitar uma edição posterior
ou maior controle dos resultados, mas por comodidade técnica ou mesmo por razões
econômicas e institucionais. No entanto, mesmo esses programas pré-gravados são
produzidos e editados nas mesmas circunstâncias que os programas ao vivo
(portanto, em tempo presente), ou em condições muito próximas deles.
(MACHADO, 2020, p. 126).
17
tornou ainda mais dinâmica sob a demanda dos internautas, que passam horas por dia
conectados e consumindo novos conteúdos, até mesmo os assuntos e as notícias mais quentes
parecem ter se tornado mais perecíveis na lógica do ciberespaço.
18
De certa forma, o telespectador já está familiarizado com essa linguagem mais
caseira, que falha, que perde a conexão, que trava, mas que é legítima e traz um
efeito de sentido de verdadeiro. Ao assumir os possíveis ruídos durante uma
transmissão, tal como o uso de máscaras por parte da equipe de reportagem externa,
o canal cria um laço de cumplicidade com o destinatário/consumidor/telespectador,
que se sente representado. (ANDRADE, 2020, p. 10).
19
3 MAPA DO PRODUTO
Para a confecção do roteiro, debruçaremos sobre as etapas de organização da
produção e discurso do documentário de Puccini (2009), neste caso, por se tratar de um
produto baseado em entrevistas, o trabalho será organizado em formato de documentário
direto, com o roteiro em aberto, que se estende por toda a realização do filme e é, de fato,
decidido principalmente na mesa de corte.
3.1 CONCEITO
Os pontos de vista aqui apresentados englobam as experiências de iniciativas de
jornalismo diretamente envolvidas na produção de conteúdos em live streaming, buscando
compreender as apropriações de tecnologias de transmissão live streaming na produção de
notícias realizadas por estes veículos. Este trabalho não tem, de maneira alguma, o objetivo
de esgotar o tema ou mesmo lançar um olhar sobre a produção live streaming como um todo.
Contempla somente algumas perspectivas subjetivas, das fontes contactadas e de um
estudante de Comunicação, que observa este determinado número de experiências, dentro de
uma certa bolha virtual mediada pelos algoritmos, em um recorte temporal de pandemia e
comunicação remota.
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os 12 programas, entre estes outros estão: “Pauta Brasil”, “Léo ao quadrado”, “Brasil
popular”, “Globalistas”, “Estação Sabiá”, “Mais-esquerda”, “O mundo como ele é” e “Live
do Conde”; além de diversos outros conteúdos, como o Boletim 247, entrevistas com
personalidades políticas do campo progressista, pensadores, jornalistas e programas especiais
do grupo de juristas Prerrogativas. Logo no início da pandemia da Covid-19, todos
trabalhadores da TV passaram a trabalhar remotamente, acumulando também novas
responsabilidades, como o cuidado com o microfone, a webcam e a própria conexão com a
internet.
Foi por não enxergar as notícias da comunidade nas páginas dos jornalões da grande
mídia que o jovem Rene Silva, ainda com 11 anos, criou o Voz das Comunidades. Cria do
Morro do Adeus, uma das favelas pertencentes ao Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e
inspirado pelo jornal do Grêmio Estudantil da escola em que estudava, Rene enxergou uma
oportunidade de falar sobre os verdadeiros problemas sociais dos moradores e reivindicar
melhorias para a população do Complexo do Alemão. De lá pra cá, a equipe aumentou, Rene
se formou em Jornalismo, a ONG ganhou corpo e passou a realizar coberturas importantes,
ampliando sua cobertura para fora do Complexo do Alemão. Sempre apresentando a favela
como potência e não como um celeiro de problemas, sem deixar de pautar as verdadeiras
mazelas da comunidade. Ainda nos primeiros meses de pandemia, também apostaram no live
streaming de modelo remoto, cada um de sua própria casa, ao exemplo de “Covid-19 nas
favelas”, que trazia informações a respeito da pandemia, além de prestação de serviços, como
um tira-dúvidas sobre o Auxílio Emergencial com especialistas. Não se passou muito tempo
até que os programas “Bom dia VOZ” e “Estação VOZ” estreassem na programação, o
primeiro trazendo notícias do dia a dia das comunidades, enquanto o segundo, com uma
abordagem mais cultural, exaltava os talentos das favelas, ambos ainda de modo remoto. Em
um momento posterior, pouco depois da live de comemoração do aniversário de 15 anos do
Voz das Comunidades, o veículo passou a realizar coberturas in loco, diretamente da rua, com
destaque para os atos pela morte de Kathlen Romeu e seu bebê, assassinadas pela PM no
Complexo de Lins; as manifestações em frente à cidade da Polícia, contra a operação
ocorrida no Jacarezinho em maio de 2021, que deixou ao menos 29 mortos; e mais
recentemente a cobertura do Desfile das Escolas de Samba no carnaval de 2022, no mês de
abril. Quem conversa com a gente é Amanda Botelho, jornalista, social media e repórter do
Voz das Comunidades. Amanda é graduada em Jornalismo pela Unicarioca e atualmente
cursa pós-graduação em Mídias Sociais.
21
Para nos ajudar a compreender o funcionamento da tecnologia por trás do streaming,
conversamos com Steve Seguin, fundador e desenvolvedor do VDO.Ninja (antigo
OBS.Ninja), um serviço gratuito e open-source, isto é, de código aberto, que conecta fontes
de vídeo remotas de alta qualidade a estúdios de produções ao vivo ao redor do mundo em
ultra-baixa latência, com o uso da interface de programação de aplicação peer-to-peer
WebRTC, que permite aos navegadores executar aplicações de videochamada e
compartilhamento de imagem sem a necessidade do uso de um servidor para a operação, tudo
através do navegador. Devido a grande demanda por ferramentas de produção ao vivo durante
a pandemia da Covid-19, este serviço passou por diversas atualizações e otimizações de
forma bastante acelerada, se tornando uma ferramenta poderosa para fazer intervenções ao
vivo pela internet.
Sob a perspectiva de cada um deles, buscamos elencar características que tornam a
colaboração entre o jornalista, o hardware, o software e as redes de comunicação globais,
ferramentas tão especiais para a produção de conteúdos ao vivo.
Uma das principais motivações para a realização deste trabalho parte de um anseio
pessoal em utilizar o live streaming como ferramenta além do fazer jornalístico, enquanto
suporte para transmissão de toda a sorte de conteúdos, frutos da criação colaborativa
relacionados à educação, divulgação científica, manifestações artísticas, culturais e políticas.
Remetendo a experiências anteriores dentro e fora do ecossistema acadêmico, como o projeto
de extensão Show de Talentos6, que no início da pandemia da Covid–19 produziu eventos
culturais ao vivo no YouTube e Instagram, com apresentações de artistas da comunidade
ufopiana; o Observatório Jornalismo(s)7, que busca imaginar jornalismos (im)possíveis,
promovendo conversas “selvagens” sobre comunicação e o Núcleo de Transmissão
Audiovisual pela Internet8, o Nutrans, que desde agosto de 2020 oferece suporte na
transmissão dos eventos acadêmico-científicos da Universidade Federal de Ouro Preto. Todos
estes projetos tendo o live streaming como principal ferramenta de distribuição.
6
Canal do Show de Talentos
7
Canal do Observatório Jornalismo(s)
8
Canal do Nutrans
22
3.3 REFERÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DO PRODUTO
Tanto referente às escolhas de fotografia e tratamento das imagens de cobertura
quanto em relação à dinâmica narrativa dos fatos, as produções da Vice9 são uma referência
importante para a concepção deste trabalho. Nesta série de reportagens que trata sobre o
fracasso da política de guerra às drogas e o proibicionismo ao redor do mundo, o
apresentador introduz os fatos e os diálogos de uma maneira participativa (Figura 5), a partir
de sua própria visão de mundo e falas de outros atores sociais entrevistados. Inserções de
imagens, letterings e elementos de edição que contribuem para a coerência narrativa também
são utilizadas para completar a história.
A escolha pela televisão de tubo antiga enquanto dispositivo (Figura 6) serve como
moldura para a inserção das imagens de cobertura e tem a intenção de transportar os
espectadores para um passado até bastante recente, em que a única tela que estava presente
em nosso dia a dia era a tela da televisão; aventando a ideia de pós-televisão, neologismo
utilizado por realizadores como a Mídia Ninja e Leonardo Attuch, da TV 247, ou
hipertelevisão, termo um pouco mais abrangente e conceitualmente estruturado, apresentado
por Scolari (2014); Por este motivo, boa parte dos conteúdos também é apresentado no
aspecto de imagem próprio da era das TVs de tubo, ou seja, 4:3. À medida que as imagens
mais recentes vão sendo exibidas, há também uma sutil mudança neste aspecto, que passa a
adotar o formato 16:9, passando a ter como molduras os próprios dispositivos dos
espectadores.
Em se tratando de materiais de arquivo, este filme também adota indiretamente a
fotografia e os elementos visuais inseridos pelos próprios realizadores destas produções,
originais, como a identidade visual do canal, letterings, inserções sonoras, elementos de
edição e o próprio layout das câmeras dos participantes das lives, que muitas vezes se repete
devido ao uso de serviços bastante disseminados, como o Streamyard (Figura 8).
No que diz respeito ao encadeamento do enredo e a dinâmica narrativa proposta, que
alterna entre as falas dos atores sociais entrevistados, materiais de arquivo e intervenções
realizadas pelo apresentador na narrativa dos fatos (passagens); além das reportagens da Vice,
hoje percebo que o roteiro de apresentação também foi criado despropositadamente com a
inspiração em formatos de podcasts. Esta consideração só foi percebida ao longo do processo
de edição do material, e com certeza remete ao entusiasmo deste realizador com as produções
9
Revista e agência de notícias internacional que cobre temas que vão da arte independente e cultura pop até
notícias e investigações mais aprofundadas em crimes cibernéticos.
23
sonoras nestes últimos tempos. Com esta percepção, e se de alguma forma pudesse retornar a
fase de produção do roteiro, certamente teria feito algumas escolhas diferentes.
Figura 5: Plano com o apresentador Jamie Figura 6: Plano de uma televisão, utilizada
Clifton, em uma reportagem da Vice.10 para a inserção de imagens de cobertura.
/
3.4 PROPOSTA
Produto audiovisual documental de média-metragem baseado em entrevistas com
jornalistas, midiativistas e streamers, que busca compreender parte das transformações
provocadas pelo uso das tecnologias de live streaming nos processos de produção de notícias
sob a perspectiva de cada um deles, explorando as potencialidades dessa tecnologia e
buscando por aproximações e distanciamentos com processos comunicacionais anteriores.
Sobretudo dentro do recorte temporal da pandemia da Covid-19, lançando o olhar
principalmente sobre duas iniciativas de Jornalismo, a TV 247 e o jornal Voz das
Comunidades.
10
Vídeo disponível em: “Brazil’s Drug Wars Just Got Even Deadlier | The War on Drugs”
24
3.5 TRATAMENTO
Para compreender a emergência destes formatos, conversaremos com atores sociais
diretamente envolvidos com a transmissão ao vivo como práxis diária, e buscaremos entender
os fenômenos recentes dessa linguagem no ambiente das redes sob a perspectiva de cada um
deles. Procurando por características que se aproximam e se distanciam dos formatos
presentes nas transmissões de rádio e televisão (broadcast). E estas entrevistas se darão de
modo remoto através do serviço StreamYard, assumindo parte dos elementos de layout da
plataforma e adicionando outros posteriormente (transições em glitch, GCs, ruídos de
imagem, overlays, mockups, etc.), a entrevista com Steve deve ocorrer através do VDO.Ninja
com gravação simultânea através do Open Broadcast Software (OBS Studio). Existe a
previsão de gravação de apresentação em estúdio, para ancorar a narrativa principal do
produto.
Nas primeiras sequências, a entrevista com Steve tem o importante papel de nos
ajudar a compreender o funcionamento técnico do live streaming e o caminho que faz a
imagem percorrer das câmeras do streamer até as telas do espectador em uma transmissão ao
vivo, nesta primeira parte, somadas às imagens de arquivo que retomam, em uma
retrospectiva, momentos marcantes passados na TV até as mais recentes experiências em live
streaming ocorridas durante a pandemia da Covid-19, o que deve servir como o fio condutor
do roteiro. Em um segundo momento, o Jornalismo assume o protagonismo do tema através
das experiências de cobertura ao vivo na última década, partindo da cobertura das
manifestações iniciadas em junho de 2013 no Brasil. Leonardo Attuch e Amanda Botelho
devem estar mais presentes neste momento, relatando as experiências e os modos de
produção de cada um deles, antes e durante a pandemia da Covid-19. A terceira e última
sequência revela as expectativas de cada um sobre os impactos do uso destas tecnologias nas
coberturas ao vivo que virão e a configuração desta ecologia em um cenário pós-pandemia.
25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estas experiências que pudemos testemunhar durante o período de pandemia
revelaram novas maneiras, novos formatos e novos desafios para as produções em live
streaming. Se antes era preciso ir até os estúdios para participar da transmissão de algum
programa, hoje as fontes podem ser acessadas através de serviços de videoconferência.
Mesmo que não estejam em um mesmo espaço geográfico, realizadores, convidados e
audiência podem compartilhar o agora, ampliando as possibilidades de comunicação e
trazendo mais agilidade para as produções. Deste modo, paradoxalmente, a pandemia pode
ter possibilitado encontros que não poderiam ter acontecido de outras maneiras.
É bem verdade que o live streaming não é nenhuma novidade quando observamos sob
um ponto de vista histórico, principalmente quando esta dimensão temporal se dá na lógica
acelerada da internet. Antes de 2020, a tecnologia existia e poderia ser instrumentalizada na
produção jornalística ao vivo para a internet. Mas as emergências apresentadas logo no título
deste trabalho, de certa forma, só estão constituídas em virtude da crise sanitária causada pela
pandemia da Covid-19 e pelo modelo comunicacional de caráter remoto estabelecido em
consequência deste acontecimento; a própria dinâmica de produção deste trabalho também se
deu desta forma.
Passados mais de dois anos do início da confecção deste trabalho, a Covid-19 ainda é
considerada uma pandemia. Todavia, devido ao relativo controle sobre a contaminação da
doença consequente da vacinação, boa parte das atividades já retornaram ao modelo
presencial e muito do que testemunhamos no início do isolamento social já não é mais (d)o
mesmo. Como é natural em qualquer inovação, no início do isolamento as lives viraram febre
e chegaram bem perto da saturação, mas hoje podemos observar um certo assentamento e
consolidação de novos veículos que adotaram o live streaming enquanto linguagem, muitas
delas apostando em um formato híbrido de transmissão. Se as lives serão definitivamente
integradas à nossa vida cotidiana ainda não está muito claro, mas certamente as
potencialidades encontradas nesta tecnologia durante a pandemia abriram caminho para que
novos veículos de comunicação construam sua audiência. .
Os recentes avanços tecnológicos das redes móveis, como a chegada das redes 5G e o
Starlink, certamente possibilitarão que façamos ainda mais com estas tecnologias. Se
olharmos para este lado, podemos ter a oportunidade de vislumbrar um futuro bastante
promissor para o cenário do live streaming e as experiências de mídias móveis.
26
REFERÊNCIAS
GUIMARÃES, Lara L.; LAIA, Evandro M. “A Globo virou Mídia Ninja?”: de junho a junho,
os telejornalismos possíveis. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM
JORNALISMO, Anais do 18º SBPJor, 2020.
SCOLARI, Carlos Alberto. This is the end: as intermináveis discussões sobre o fim da
televisão. In: CARLÓN Mario; FECHINE, Yvana (org.). O fim da televisão. Tradução de
Diego Andres Salcedo. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2014, p. 34-53.
27
ANEXO 1 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS
Defina o que é Jornalismo e como esta atividade foi impactada pela produção de
narrativas autônomas em live streaming, fora das grandes redações
Quando a TV 247 começou a fazer lives? E o que a TV 247 tem feito agora?
O que vocês fazem agora que acredita ser diferente do que faziam antes?
Quais caraterísticas desses programas você acredita que se aproximam do que é feito
na televisão? Quais distanciam?
A TV aberta e o rádio vão desaparecer?
Quem é a audiência da TV 247? De que forma essa audiência interage?
Em uma conversa no Twitter Space há algum tempo perguntei pra você sobre a
concentração da audiência nas redes, que coloca os produtores sob os códigos de conduta das
big techs, a mediação dos algoritmos na distribuição de conteúdos… como você enxerga esse
cenário atualmente?
O que muda na ecologia midiática na era pós-pandemia com a expansão do uso do
streaming?
Quais são as coberturas que o Voz das Comunidades têm feito ao vivo?
Como se dá a decisão de cobrir alguma pauta neste formato? O que é pauta para ao
vivo?
Quais caraterísticas dessas lives você acredita que se aproximam do que é feito na
televisão? Quais distanciam?
Como você se prepara para participar de uma cobertura ao vivo?
Quais facilidades e quais dificuldades vocês enfrentam na execução desse formato?
Quem faz parte da audiência do Voz das Comunidades? Como essa audiência
interage?
Defina o que é jornalismo e como esta atividade foi impactada pela produção de
narrativas autônomas em live streaming, fora das grandes redações.
Em que momento a produção de vídeo como prova encontra-se com a produção
jornalística no Voz das Comunidades?
28
Quais são as expectativas do Voz em uma era pós-pandemia? Vocês devem continuar
realizando coberturas ao vivo? Por quê?
29
ANEXO 2 - ROTEIRO DE MONTAGEM
CPI DA COVID
FLÁVIO BRASIL
(3) Como na televisão
PODCASTS
30
(7) Netflix, Google Meet... ASSISTINDO ESSE VÍDEO NO YOUTUBE. //
(8) 4ª PAREDE | Zoom out pra
página do YouTube DIFERENTEMENTE DOS FORMATOS
31
CAPTAÇÃO DAS IMAGENS E A EXIBIÇÃO NA
1 - COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
TELA DO ESPECTADOR.
32
VÍDEO E ÁUDIO. / E AO CONTRÁRIO DE
TRANSMISSÃO”
33
TRÊS EMPRESAS GIGANTES / A IBM, / A
STREAMING.
34
FALAR DIRETAMENTE PARA A SUA
PERSPECTIVA DA COBERTURA DE
35
TRANSMITINDO TUDO SOB UMA PERSPECTIVA
REAL. PRESENCIALMENTE.
36
VOCÊ TINHA MUITAS PESSOAS EM UMA
MAIS.”
DIARIAMENTE NO YOUTUBE.
PRESENCIALMENTE…”
PROGRAMAS
PRESENCIAIS DA TV 247
“DEPOIS A GENTE PENSOU EM FAZER
37
MAIS COM FOCO NO FACEBOOK, MAS
ENTREVISTAS…”
JORNALÍSTICOS DE NOTICIÁRIO,
AO TELEJORNALISMO, O TELEJORNALISMO
38
VERTICAL PRO PÚBLICO, EU FALO VOCÊ
APARECER E TRANSFORMAR
39
“DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19,
EM UM PRIMEIRO MOMENTO, AS
CAMPANHAS COMO A
#FIQUEEMCASAECANTECOMIGO, UM
40
SIMULTANEAMENTE POR MAIS DE TRÊS
MILHÕES DE ESPECTADORES DA
ACONTECIAM PRESENCIALMENTE /
41
CHAMAR DE AGLOMERAÇÃO, PRECISARAM SE
ADEPTOS”
APESAR DE O TRABALHO DE
TRABALHADORES DE EMISSORAS DE
42
NOVAS RESPONSABILIDADES, COMO O
AS TECNOLOGIAS DE TRANSMISSÃO
VEÍCULOS JÁ EXPERIENCIADOS NA
43
ESPECIALISTAS SOBRE O AUXÍLIO
44
(Após inúmeras cobranças do
Voz das Comunidades a escadaria que
desabou no Alemão foi consertada)
JORNAL //
45
MORADOR QUE TALVEZ NÃO FOSSE
JORNALISMO.
46
“O QUE É POSSÍVEL AGORA COM O
[STEVE]
LIVE STREAMING É EM PARTE A
EQUIPAMENTO ESPECIAL DE
ISSO.”
47
MINHA CASA, MUITAS VEZES EU FAÇO AS
DO DEBATE…”
48
ENTÃO POR EXEMPLO ERA POSSÍVEL
FORÇA DE DEMOCRATIZAÇÃO DA
AO VIVO,
49
MAS ATÉ MESMO ISSO PASSOU A SER
ELEMENTOS EXTERNOS.
INFORMALIDADE NA COMUNICAÇÃO
50
NÉ? EU ACHO QUE É UM POUCO ISSO QUE
PASSA”
POUCO.”
51
PEQUENOS E GRANDES CANAIS AGORA
52
MENOS DETERMINANDO O QUE CADA
SUAS PREFERÊNCIAS.”
COBERTURAS?”
53
STREAMING NA VIDA REAL MAIS E MAIS, E
MÓVEIS.”
ANOS..
54