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HUMANIDADES
BACHARELADO EM JORNALISMO
Salvador
2021
1
VITOR RIBEIRO STARLING
Salvador
2021
2
Este trabalho de revisão bibliográfica é dedicado a toda comunidade discente e
docente que deseja conhecer mais sobre o tema proposto em uma vasta gama de citações
e ensinamentos de autores consagrados e intelectuais que traçam características e
conceitos referentes ao espaço digital contemporâneo e interatividades a ele pertencentes
que tornam as práticas políticas mais inclusivas e a sociedade mais democrática. O
trabalho é desenvolvido visando uma linguagem didática para que a pessoa leiga também
consiga entender caso tenha interesse em adquirir o conhecimento.
Dedicatória
3
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por prover vida e saúde para mim e
para todos que amo e foram importantes na trajetória de produção deste trabalho. À minha
família – meu pai, minha irmã e minha mãe – que sempre me deram apoio e amparo tanto
moral como financeiro para eu poder chegar a esta etapa de conclusão do curso de
bacharelado em jornalismo. A todos professores que foram essenciais para meu
aprimoramento como estudante e como ser humano. À minha orientadora Larissa Neves
que sempre esteve presente quando precisei esclarecer dúvidas sobre o conteúdo e
estrutura do trabalho. Enfim, a todos que fizeram parte da minha vida, em mais esta fase
de formação. Minha eterna gratidão.
4
“Faze-me justiça, ó Deus, e pleiteia minha causa contra uma nação ímpia; livra-
me do homem fraudulento e iníquo.”
(Salmos 43:1)
Epígrafe
5
RESUMO
6
ABSTRACT
This academic work intends to discuss digital journalism and how interactions
present in this cyberspace can make society more democratic - it has a vast theoretical
repertoire that supports the subject and mentions notable examples of cyberdemocracy
and cyberactivism; mentions, among others, the surveillance function of journalism and
brings the reader the legal support that aims to preserve some rights such as access to
information, without forgetting the issue of accessibility to tools such as ICTs
(Information and Communication Technology) that promote the Internet access.
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Publicação presente na página inicial do site Digg (porque possui um bom
feedback atribuído pelos internautas) que diz respeito aos três filmes favoritos de Tom
Hanks...............................................................................................................................28
Figura 2. Cidadãos empunhando placas em manifestação da Primavera Árabe.............38
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................11
3 CIBERESPAÇO E CIBERCULTURA................................................................23
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................47
7 REFERÊNCIAS.........................................................................................................49
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1 INTRODUÇÃO
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versões virtuais vão brotando na mesma medida em que o receptor se coloca em posição
de co-autor. Isto só é possível devido à estrutura de caráter hiper, não-sequencial,
multidimensional que dá suporte às infinitas opções de um leitor imersivo”
(SANTAELLA, 2000, p. 8).
No segundo capítulo deste trabalho será tratado a função de vigilância do
jornalismo, um olhar conceitual de democracia, as definições de termos e conceitos pelo
autor alemão Jurgen Habermas, incluindo no debate a questão da esfera pública. Será
abordado também, por meio de citação, alguns direitos previstos na constituição federal
abarcando como um deles, o direito à informação.
Em seguida, no terceiro capítulo será tratado a definição de Ciberespaço, os
estudos apresentados por Mcluhan em suas pesquisas no campo da comunicação
contemporânea, o que é interatividade no contexto do jornalismo digital, a fase da Web
2.0 e todas as suas principais características, entre elas a formação da cibercultura, e as
possibilidades de transmídias, um comparativo entre redes sociais e mídias sociais além
de abordar exemplos presentes em redes sociais como Twitter e Instagram.
Trata-se, no capítulo seguinte, do significado de cada conceito, seus principais
autores e a contextualização histórica, como também exemplos de países que já vivem
realidade da Ciberdemocracia, detectando características exclusivas que só essa traria à
democracia, por exemplo: é mais do que apenas o voto eletrônico, é uma Àgora
inesgotável, com a existência de multidões inteligentes, a liberação do polo emissor com
potencialmente o mesmo direto à fala, ampliando o espaço público de debate. Neste
capítulo ainda serão discutidas as principais diferenças entre os conceitos de jornalismo
online e jornalismo digital.
No último capítulo em que trataremos das potencialidades e entraves entre o
jornalismo digital e a ciberdemocracia ,serão abordados temas ligados ao jornalismo
coletivo, jornalismo comunitário, e finalmente ao jornalismo independente que ganham
mais espaço na era da tecnologia digital em que vivemos. Não esquecendo, é claro de
reconhecer as pressões internas e constrangimentos vistos na Teoria Administrativa do
Jornalismo ligados aos modus operandi do jornalismo exercido em sua fase mais
tradicional.
13
2 JORNALISMO E SUAS ESPECIFICIDADES
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espaço virtual para livre expressão da opinião do cidadão que preza e luta pelos seus
direitos.
O meio digital tem-se mostrado como um canal muito propício a investigação por
parte de jornalistas, abarcando não somente dados sobre o governo, mas também
informações sobre a sociedade civil.
O objetivo do protagonista (o jornalista) nesta nova missão é trazer às claras
informações e dados e fazer com que se torne universalmente acessível através de
notícias, reportagens ou qualquer outro tipo de narrativa. A internet inova com a vantagem
de trazer esses dados de diferentes formas, dentre elas pode-se destacar o uso de recursos
gráficos e interativos de modo a tornar mais satisfatória a leitura do internauta.
Ao adentrar sobre o tema de dados, pode-se inferir que são uma fonte de informação
mais eficiente e sólida que as pessoas, mesmo levando em consideração os métodos como
a consulta de três ou mais pessoas sobre determinado assunto. Isso se justifica diante da
impossibilidade de distorção das estatísticas, já os diálogos pessoais podem conter
interesse subjacente, de toda natureza, não se resumindo apenas à política.
Uns dos exemplos de sites mais relevantes sobre o assunto é o jornal digital Nexo
que transforma informações complexas em matérias mais didáticas através do uso de
criações visuais. Para além da fronteira do Brasil, o site estadunidense The Pudding ganha
destaque também quando se trata de trazer dados aliados a recursos gráficos, gerando uma
leitura mais atraente.
Dessa forma, a internet e as redes sociais são vistas como ferramentas para o
exercício da liberdade e cidadania a favor da democracia.
15
suas teorias a assimilação do jornalismo ao interesse público, à ética, ao dizer verdadeiro
e à democracia. O jornalismo e cidadania são conceitos interligados historicamente
(MELO, 2012). Da mesma forma “o jornalista não pode esquecer seu papel e sua
importância, peças fundamentais em termos de construção da cidadania, uma vez que é
responsável pela transmissão de informações e a ideia de cidadania está subordinada à
informação. (LOPES; PROENÇA, 2003, p. 133).
16
2.2 DEMOCRACIA E HABERMAS: ESFERA PÚBLICA
17
Ao visualizarmos o tempo a partir do desenvolvimento dos instrumentos digitais,
cada vez mais se observa o fácil acesso do poder do cidadão de se comunicar, uma vez
que, claro, desconsiderados as desigualdades sociais, de nível de escolaridade e acesso a
essas tecnologias. O espaço da internet é um novo lugar para se pôr em prática a cidadania
comunicacional, promovida pela interatividade, intertexto e pela comunicação universal.
“É uma possibilidade sem igual para o exercício da liberdade de comunicação, cerceada
apenas pelo impedimento do acesso às infraestruturas necessárias e a educação para o uso
das novas tecnologias.” (PERUZZO, 2004, p.68)
Ricardo Coutinho, governador da Paraíba, discursou em seu momento de posse
sobre a relevância do sítio Gov.Pb em 1º de janeiro de 2011: “Assumo, mas ao meu lado,
byte a byte estarão plugados aos integrantes da nova ordem tecnológica, ajudando a criar
e espalhar (...) a democracia digital e suas redes sociais de compartilhamento”. Pode-se
interpretar a partir de sua fala que o espaço digital proporciona benefícios que devem ser
“... disseminadas para o aperfeiçoamento e crescimento da sociedade real”.
Os estudos sociais apontam que novas relações configuradas por redes sociais
modificam necessariamente as articulações antigas e propõem novas características na
ação política de representantes e representados. O que se busca atingir é que a interação
de pessoas e setores se estabeleça sob víeis de novos significados democráticos.
Deste modo, ao levar ao cidadão comum a possibilidade de livre expressão e
pluralidades de ideias, as redes sociais se caracterizam também, com potencial, como um
relevante canal para a livre articulação da cidadania dentro do que se estabelece como
Estado democrático.
Como afirmam os consagrados autores:
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que por sua vez tem relação com uma “voz” ou “força” da sociedade civil quando esta
tem capacidade de pressionar o Estado a tomar determinadas decisões. Esse conceito,
remete ao pensamento de Habermas (1996), que define a esfera pública da seguinte
maneira: “uma espécie de “camada” intermediária entre o sistema político (Estado) e a
sociedade que seria a rede de comunicação e informação e de pontos de vista”. Desta
maneira, para o referido autor toda ação política era também comunicacional e o conceito
de esfera pública se concentra em dizer que seria o lugar onde pessoas exprimem suas
ideologias e se organizam para tentar pressionar o governo a tomar determinada medidas.
Inicialmente o termo foi cunhado para se referir a espaços físicos no século XVIII. No
entanto o termo foi revisto pelo próprio autor com a chegada das redes sociais e ganhou
uma nova dimensão.
A internet é uma elaboração contemporânea de Esfera Pública, conceito entendido
como espaço de debate de temas políticos que fomentam a democracia entre os cidadãos.
Esta nova tecnologia da comunicação é um espaço privilegiado para estes debates que
possuem relevância social e surge com enorme potencial de interação entre pessoas que
pensam de maneiras diferentes sobre assuntos de interesse público.
Ela se aproxima do que se chama de “modelo habermasiano” de Esfera Pública,
onde existem vários grupos de discussões contendo em cada qual linhas editoriais
diferentes. Apesar de conter, a partir do momento que qualquer pessoa pode publicar
quaisquer conteúdos, informações pouco críveis, é exatamente nela que acontece reuniões
que estabelecem conversas de cunho socioculturais, política e econômica e
consequentemente a construção do conhecimento a nível intelectual.
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2.3 CONSTITUIÇÃO FEDERAL: DIREITO À INFORMAÇÃO
Sob o ponto de vista jurídico, existe diversos textos legais que amparam a
possibilidade de os cidadãos participarem de todo esse processo inclusivo e democrático
de diálogos e consequentemente pressionar, como dito anteriormente, o Estado para
refletir sobre dar legitimidade a tais ideias. Traremos inicialmente texto da Declaração
Universal dos Direitos do Homem:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional;
Importante ressaltar que se, em caso de litígio sobre a legitimidade do que se pretende
comunicar, o que está sendo informado possui realmente relevância social, o texto
jornalístico publicado se reveste do direito à informação, que se sobrepõe ao direito a vida
privada e a intimidade de pessoas que possam vir a serem mencionadas na matéria.
É reconhecido que o direito à informação é algo relativamente muito praticado no
ciberespaço, contudo é necessário a sua regulamentação, principalmente em face de fazer
20
referências a aspectos que sejam existências aos cidadãos. Muitas vezes, todavia, a
publicação de informações diversas na rede ultrapassa as fronteiras dos países o que acaba
se tornando um desafio para a intervenção estatal. (GONÇALVES, 2003, p. 7)
1
Matéria sobre dados de usuários do facebook que foram expostos:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2019-04/milhoes-de-dados-de-usuarios-do-
facebook-sao-expostos-na-internet
21
De tempos em tempos, a doutrina civilista, através das jornadas de direito civil,
mobilizada pelo centro de estudos judiciários da justiça federal, entende que, logo pela
primeira jornada, ocorrida no ano de 2002, foi determinado o enunciado nº 139, que diz
o seguinte: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não
especificamente previstas na lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito do seu
titular, contrariando a boa-fé objetiva e aos bons costumes”.
Conclui-se que são necessários o consentimento e autorização para que
informação sobre titular do direito de personalidade seja repassada para os meios de
comunicação em massa, no entanto existem hipóteses em que a cessão da informação é
imprescindível, ao considerar o interesse público presente na mesma. Neste caso,
podemos dizer que a esfera civil de privacidade sofre uma limitação para que seja possível
tornar-se público um certo e relevante saber.
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3 CIBERESPAÇO E CIBERCULTURA
23
Também pode-se dizer que essa fase de criação foi fruto de pesquisas americanas
durante a guerra fria. No ano de 1957, em uma resposta americana ao lançamento de um
satélite russo, surgiu o Darpa (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa, na
sigla em inglês).
Quatro anos depois, surgiria a vontade de criar uma rede de computadores. Até
então, as trocas de informações eram mediadas unicamente via telefone. A Arpanet surgiu
com a intenção de criar um terminal só que pudesse se comunicar através da rede a
qualquer outro terminal que o usuário quisesse obter conexão. A internet veio depois
quando foi inventado o Internet Protocol por Vint Cerf e por Robert Kahn em 73.
Os militares, na época, se valeram dos engenhos de estudantes e professores para
criar a sua própria rede, a MILNET.
A partir de então, seguiu-se diversas mudanças na internet.
WWW significa, em português, rede de alcance mundial. É também um sistema
de hipermídia (descrição sobre este sistema no parágrafo seguinte) que tem o poder de
conectar todas as pessoas em seus diferentes lares e consequentemente, transmitir
informação para qualquer lugar do globo.
O modo como funciona a world wide web é o seguinte: os documentos e arquivos
podem estar em diversos formatos como figuras, sons, hipertextos, em forma de vídeo,
por tal operacionalização ela é considerada um sistema hipermídia. À medida que as
tecnologias vão evoluindo, mais estruturas e dados vão surgindo para compor a expansão
da world wide web.
As raízes da Web datam da década de 80, quando o pesquisador Tim Berners-Lee
construiu, na Suíça, o ENQUIRE, sistema responsável por reconhecer e armazenar
informações. Havia nele um banco de dados com diversos hiperlinks que associavam o
contido entre si. Um exemplo próximo do que era que poderíamos fazer referência é o
site Wikipédia.
Já a World Wide Web, também conhecida como www ou simplesmente Web, é a
teia global. Ou seja, o que permite o usuário usufruir do conteúdo que circula através da
internet. A parte vivenciada da experiência tecnológica. É quando o usuário navega pela
internet através de hiperlinks e consome conteúdo produzido por outros internautas.
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que os usuários trocassem informações de natureza diversa, como mensagens e relatórios,
à época majoritariamente através de e-mails. Já a World Wide Web é um sistema
comercial em que arquivos e dados podem ser publicados e acessados pela população
(uma grande massa de usuários) através de um navegador (web browser) como os atuais
Internet Explorer e Google Chrome. Os dois termos, ao longo dos anos, foram se tornando
sinônimos, mas não são.
Assim, ao analisar cada caso constata-se o seguinte, além do já supra citado:
Internet é a grande rede que conecta todos os computadores ao redor do globo. Ela é
estrutura responsável por transferir diariamente milhões de terabytes de dados entre todos
os dispositivos que podem estar interconectados como tablets e smartphones.
Os primeiros projetos da internet são oriundos dos Estados Unidos e Reino Unido
e datam da década de 60, como já mencionado. Um deles era a ARPANET, que foi
considerado o primórdio do que hoje viria a ser considerado Internet.
Outras redes semelhantes a ela são a LAN (rede local) e a intranet (redes internas
de empresas e organizações).
Desde então, a web se desenvolveu significativamente e pode-se notar, por
exemplo, um considerável aumento da interação entre usuários e páginas. A denominada
Web 2.0 foi quando, a partir dos anos 2000, o conteúdo da web passou a ser produzido e
compartilhado em redes sociais, blogs, fotologs e vlogs. É um termo utilizado para indicar
a segunda geração da World Wide Web, momento em que existem trocas de informações
mais intensas e participação de usuários em sites e no mundo virtual. O que permeia o
significado do conceito é que o mundo online se torne um local de acesso mais dinâmico
e que os próprios internautas se tornem produtores de conteúdo.
Atualmente, o nível de desenvolvimento da web encontra-se no Web 3.0 ou Web
semântica, que consiste em uma fase em que os sites de busca estão em constantes
aprimoramentos ao mesmo tempo em que o conteúdo da Web tem se tornado mais e mais
personalizado.
Para concluirmos este subcapítulo traremos uma breve reflexão sobre o que
Mcluhan nos proporcionou com sua ideia de aldeia global. Concordamos com as ideias
do autor, sobre tecnologias serem extensão do corpo humano, somos parcialmente
favoráveis pois algumas tecnologias de fato podem fazer parte do corpo humano,
principalmente na área da medicina ao proporcionar ao homem um quadro de saúde
melhorado ou na área da investigação, apurando alguns sentidos. Na área da comunicação
podemos citar exemplos de relógios high tech, que são objetos acoplados ao nosso corpo
25
e além de possuir sua principal função de nos guiar através do tempo, também contém
dispositivo para as pessoas conversarem como se fosse em um aparelho smartphone, é o
caso por exemplo do “Apple watch” que está presente em nosso cotidiano e é bastante
acessível a pessoas de alta renda. Porém o que se observa atualmente é um grande avanço
da IA (Inteligência artificial) e da engenharia que estuda os processos de controle e
automação. O que orienta a pesquisa para o setor de produção de verdadeiras máquinas
robôs, que funcionam de maneira autônoma ao serem acionados.
A seguir apresentamos uma linha do tempo que esquematiza todo o processo de
desenvolvimento da Internet e da Web citado neste subcapítulo:
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3.2 DEFINIÇÃO DOS TERMOS
O termo ciberespaço foi cunhado primeiramente em uma obra datada de 1984 pelo
norte americano William Gibson na obra Neuromancer. O tradutor da obra Alex Antunes
dá o seguinte significado ao termo no prefácio (2003):
27
Um exemplo concreto é o site da Wikipedia, onde seu conteúdo e informações
trazidas são publicadas e organizadas pelos próprios internautas que acessam o site.
O termo web 2.0 apareceu pela primeira vez em obra do escritor Tim O’Reilly
lançada em 2003. Para ele, a característica principal desse momento de desenvolvimento
da World Wide Web é o desfrute da inteligência coletiva.
No que diz respeito ao jornalismo, nesta época, os internautas, antes considerados
meros leitores, agora passam a atuar de forma muito mais ativa na produção de conteúdo
de cunho jornalístico que circula na internet. A esta prática atribui-se o nome de
jornalismo participativo ou jornalismo cidadão.
Outras tendências presentes na web são portais denominados como agregadores
de notícias. Um exemplo dessas é o site Digg, o qual permite aos usuários publicarem
artigos que são recolhidos em outros sítios. Tais produções textuais recebem votos dos
próprios leitores, tornando-os destaque na home page. Deste modo, esse sistema funciona
como uma forma para os internautas saberem quais tópicos estão recebendo mais acessos
e consequentemente sendo mais interessantes para o público em geral.
Figura 1 – Publicação presente na página inicial do site Digg (porque possui um bom feedback atribuído
pelos internautas) que diz respeito aos três filmes favoritos de Tom Hanks.
Fonte: Digg – O que a internet está falando neste exato momento. (www.digg.com)
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É nesse contexto que surgem as redes sociais e mídias sociais. São termos antigos
que precedem a existência da própria internet. No entanto, com o surgimento das
plataformas digitais que permitiram maior interação entre usuários, estes termos passaram
a se adaptar ao ambiente online.
É atribuído o nome de rede social a qualquer grupo de pessoas que possuem
conexão entre si com a intenção de compartilhar informações, por exemplo, por via de e-
mails. No ciberespaço, isso não é tão diferente. Já, redes sociais digitais são um local onde
pessoas comunicam ideias entre si oriundas de interesses em comum.
Mídias sociais, por sua vez, se refere a um canal descentralizado e veículo de
informações. É onde os usuários compartilham conteúdos entre si. O termo foi cunhado
na década de 90 quando mídias tradicionais começaram a perder mercado para as digitais.
O objetivo da mídia social é, de forma clara, a produção, divulgação e compartilhamento
da informação. Existe interatividade entre os públicos, porém neste ponto elas não ficam
em um plano de destaque.
Em ambos os ambientes existe o que se chama de interatividade. Segundo
Hermano Cintra (2003), ela é entendida como processo em que os agentes criam um
discurso e podem escolher as condições nas quais este discurso será transmitido. O autor
diz ainda que a interatividade é um “jogo” que condiciona o sentido e significado da
mensagem.
Interessante notar sobre o ciberespaço é que uma de suas características comporta
à ubiquidade da capacidade de interações diretas entre os dois polos (ativos) do canal de
comunicação. Considerando mesmo a alternativa em que não exista, em primeiro plano,
o diálogo, esta forma de comunicação se apresenta através do feedback possibilitada pelo
produtor de conteúdo digital que se perfaz, por exemplo, por meio da disponibilização do
e-mail dele para que se estabeleça contato.
“Essa liberdade de criar as rotas de navegação na internet, decidindo o que ler
primeiro, vem modificando a cognição dos indivíduos, conforme Mcluhan afirmava que
o meio não é um mero receptáculo passivo, logo percebemos que as características e
potencialidades do suporte comunicacional – neste caso específico - da internet,
modificam o comportamento dos indivíduos. A respeito dessa observação, Lucia
Santaella (2004) nos indica alguns hábitos de apreensão de informação que são
modificados pela presença das novas mídias, entre elas as computadorizadas.
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Dessa ideia, surge conceitos de perfis cognitivos de leitores segundo Lucia
Santaella. O primeiro, importante de ser destacado neste momento é o imersivo, que
segundo a autora, é “aquele que brotou nos novos espaços das redes de informação e
comunicação.” E mais:
Por fim, não menos importante, a autora define o que seria o leitor ubíquo, pois a
enorme popularização das redes sociais não seria possível sem equipamentos móveis que
trazem acesso a elas a qualquer tempo e lugar. É neste tempo e espaço que surge o leitor
ubíquo. O dicionário Dicio define o termo “ubíquo” da seguinte maneira: “Que é
onipresente; que pode ser encontrado em todos os lugares; que está em toda e qualquer
parte”. Este leitor, traz com ele um perfil cognitivo novo que nasce da junção entre o
leitor imersivo e o leitor movente. Sendo esse último leitor é aquele que surge a partir da
revolução industrial e instaurações dos grandes centros urbanos: o homem em meio às
aglomerações, do mundo borbulhante, fluído onde linguagens e sinais se misturam para
compor regiões metropolitanas; é o leitor que vive intensamente o momento em que o
jornal estava em seu auge, e o momento que surge a cinematografia como opção para
retratar realidades ou ficções.
Cabe ressaltar que atualmente, a velocidade que as coisas acontecem é muito
superior ao que se vivia a algumas décadas atrás. Como a instantaneidade da própria
notícia. Com isso, o leitor perde a oportunidade, por exemplo, de ter aquele tempo após
a refeição da manhã, de ler o seu jornal impresso. A introdução de tecnologias, como os
smartphones e internet 5G, permitiram o acesso remoto a portais de notícias, ou a e-mails
que possuem serviços de recebimento de informativos contendo um resumo das notícias
diárias, tudo isso enquanto se está a caminho do trabalho, por exemplo. Estas ocorrências
são similitudes interessantíssimas e muito positivas no que se refere a adaptações aos
novos tempos e que são retratadas através do conceito de leitor ubíquo introduzido por
Lucia Santaella.
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3.3 CRÍTICAS À UTOPIA DO CIBERESPAÇO
2
Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/desinformar%20_943304.html
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O termo originalmente surgiu e se popularizou através do uso em seus discursos
do então presidente estadunidense Donald Trump. O que se sabe é que no ano de eleição
de 2016, houve uma disseminação massiva no país norte americano de Fake News que
favoreceram a eleição desse presidente. Logo, um dos inúmeros intentos desse tipo de
notícia é alavancar votos através da prática de Fake News, ou seja, atos de má-fé para
eleição de políticos.
No entanto não se restringe a esse tema (eleições), abarcando também a área da
saúde, do direito, do meio ambiente, do turismo, do governo, dentre muitos outros setores
possíveis de serem atingidos por este mal.
Outro tema que diz respeito à utopia dos ciberespaços é são os potenciais efeitos
danosos ligados ao uso de algoritmos de inteligência artificial que são desenvolvidos com
intuito de automatizar processos de seleção de conteúdos que podem convergir com os
interesses de um usuário. Pois ao armazenarem padrões de comportamento humano
podem dar brecha para o reforço de comportamentos ilegais ou antiéticos, como a
reprodução de discursos e práticas que derivam em racismo, homofobia ou misoginia,
reforçando a discriminação e intolerância de vários modos.
“É certo que é praticamente impossível eliminar 100% os traços de preconceito
ou vício, porque os algoritmos e análises são desenvolvidos e alimentados por serem
humanos” diz o professor pesquisador da Unicamp Leonardo Tomazeli. “Por conta disso,
algumas vezes introduzem um viés benigno à análise, outras, um viés negativo, daí a
necessidade de um acompanhamento constante.”
No ano de 2018, a 5in5 – que é uma lista que apontam tecnologias que podem
interferir no fluxo da vida das pessoas nos próximos anos – elaboradas pelos laboratórios
da IBM Research já apresentava sinais de que era preciso uma intervenção ética em
máquinas que desenvolvem inteligência artificial. “Em cinco anos, o número de sistemas
e algoritmos de IA tendenciosos aumentará; mas é preciso lidar com eles em
conformidade, com novas soluções para controlar o viés e defender o sistema” – aponta
o estudo. Como o mercado cresce de forma muito acelerada, isso se torna um fator que
demandará maior atenção nos próximos anos.
Esta é uma situação que está em crescimento significativo no Brasil e apesar de
se atentar para tal fato, não existe legislação específica que trata sobre o tema no país.
Como também não há em nenhum lugar do mundo. Ainda não se averiguou se em uma
decisão tomada a partir de um algoritmo tendencioso, quem deve ser penalizado: o
32
desenvolvedor da inteligência artificial ou a população que alimentou o banco de dados,
ou então ambos.
E, o último tópico a ser abordado neste subcapítulo é em relação ao acesso da
população a internet e às TICs em países periféricos ou em desenvolvimento. A América
do Norte e Europa, segundo IWS3 (Internet World Stats) apresentam os maiores
percentuais de pessoas que possuem acesso a esse aparato. Porém na América Latina em
geral estão índices bem menores de acesso à internet, especialmente nos países Brasil e
México respectivamente.
Com o surgimento da pandemia do COVID-19, a discussão acerca do acesso à
internet aumentou de dimensão, uma vez que os alunos precisariam dela para ter acesso
remoto à educação. Por conta da carência dos equipamentos necessários, principalmente
no norte e nordeste do Brasil, segundo NIC.br, muitas críticas vieram à tona nos assuntos
que tangenciam o abandono da educação, as dificuldades logísticas para a realização da
prova do ENEM4 em virtude do isolamento social, etc.
Um dos principais assuntos tratados por este trabalho acadêmico, a
ciberdemocracia, só pode ser verificada a partir do acesso da internet pelas pessoas,
independentemente da classe social que pertencer, e abarcar maior quantidade de
cidadãos na política mediante o uso de TICs (tecnologias da informação e comunicação).
De acordo com Lopes e Freire (2012) o impedimento à obtenção de informações atrapalha
o pleno exercício dos direitos pelo cidadão. Por isso, dizem os nomeados autores, precisa
ser assegurado aos brasileiros o uso das tecnologias da comunicação para se ter acesso à
informação democrática de modo instantâneo que atualmente só há, como produto, no
ciberespaço.
3
www.internetworldstats.com/stats.htm
4
ENEM é um sistema de avaliação implantado pelo MEC para avaliar estudantes do ensino médio e serve
como nota para classificar tais participantes para vagas de universidades públicas e particulares
33
4. JORNALISMO DIGITAL E CIBERDEMOCRACIA
34
A estrutura técnica da rede telemática apresenta-se em um estágio mais avançado
assim também os microcomputadores, o que dá margem a um compartilhamento de
informações áudio visuais mais rápido.
É aqui que surge inicialmente a ideia de interatividade cunhada por Bardoel e Deuze
(2000). O leitor passa a ser um polo ativo na produção de matérias jornalísticas. As formas
eram das mais variadas, desde troca de e-mails até fóruns de discussões e chats com
jornalistas.
Outra característica marcante desta época é a customização do conteúdo ou
personalização que é quando o usuário pode definir seus interesses e o produto jornalístico
será entregue de acordo com esses. Um exemplo de site que utilizava esse implemento
era o CNN, sítio onde era possível estabelecer uma seleção de temas e na próxima vez
que o site era acessado, a exposição noticiosa já era produzida de acordo com estes
assuntos escolhidos.
Hipertextualidade também surge nesses anos e associa textos presentes na internet
através de links. A multimidialidade, por sua vez, trata da convergência das formas de
expressão do jornalismo (texto, imagem e som) para narrar a notícia.
Finalmente chegamos a última característica da geração que é a pura e simples
memória – é mais fácil se ter acesso a narrativas produzidas anteriormente do que em
qualquer outro meio de comunicação.
Na quarta geração, Shwingel (2005) diz que o jornalismo online utiliza tecnologia de
banco de dados e sistemas automatizados para etapas de apuração, edição e veiculação do
conteúdo informativo.
As bases de dados (BDs) estruturam a atividade jornalística em suas mais diversas
fases de produção e distribuição gerando narrativas dinâmicas demarcando um modelo
próprio, o JDBD, ou seja, paradigma do jornalismo digital em base de dados. Ela funciona
de acordo com a lógica de produção multiplataforma; opera as saídas e entradas de
informações e conhecimentos nas redações; a produção de conteúdo torna-se mais ágil;
possibilita o uso de smartphones e tablets para aferir as notícias;
Técnicas instrumentais também acompanham esta fase do jornalismo digital, como
a RAC (Reportagem assistida por computador) em que as redações fazem pesquisas na
internet, em planilhas de cálculo e banco de dados. As pesquisas podem ser estatísticas,
como também qualitativas, situações em que se pode aplicar o método Delfos. Tal método
consiste na consulta a especialistas numerosas vezes, até se obter uma matéria consistente
e as divergências que sobrarem terão que estar bem fundamentadas.
35
A quinta e última fase é a do jornalismo digital. É a que Barbosa (2003) diz que
vivemos atualmente. Tempo em que são utilizadas em larga escala as redes sociais para
a produção de notícias online na medida em que os consumidores de notícia fazem uso
crescente de smartphones e tablets.
Esta fase é marcada pela própria medialidade, a horizontalidade como ponto para o
movimento nas entradas e saídas de notícias entre os diferentes meios de se fazer
jornalismo, a integração de procedimentos e conteúdo em um continuum dinâmico de
multimídia (vídeo, áudio, animação).
Como citado anteriormente existe um novo modo de utilização desse consumo de
notícias a partir de mídias móveis, aquelas que podem ser deslocadas e acompanham o
internauta aonde quer que ele vá, são exemplos clássicos e produzidos em larga escala os
smartphones e tablets. A notícia circula muito rápido e através de variados meios, como
é o caso das redes sociais e o internauta pode estar conectado a essa dimensão a todo
momento.
As redes sociais são usadas amplamente para qualquer tipo de finalidade, porém a
mais comum é o compartilhamento. Seja de fotos e imagens (instagram), de pensamentos
e mensagens (twitter), entres outros. É de se destacar neste ponto a relevante preocupação
com a produção de falsas narrativas, termo também designado como fake news, que tem-
se produzido em larga escala, verdadeiras indústrias que tentam enganar o leitor com os
mais diferentes propósitos, sendo um deles vinculado a política, ou seja, manipular o
usuário com falsas alegações para obtenção de votos para determinados candidatos, não
contribuindo para um processo democrático consciente.
Retomando a discussão das características da quinta fase, é possível mencionar o
aparecimento de apps (produtos aplicativos) que podem ser jornalísticos, advindos, por
sua vez, dessas mídias móveis. Sendo mais inovadores aqueles denominados autóctones,
em outras palavras, “aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e
tratamento diferenciado” (Barbosa, Firmino da Silva, Nogueira, 2012).
Suzana Barbosa ainda defende, posteriormente a esta quinta fase, em seus grupos de
estudos de doutorado na FACOM (Faculdade de comunicação da universidade federal da
Bahia) o desaparecimento dessa nomenclatura que designa o jornalismo como digital, ou
seja, o termo que o classifica. Este tipo de comunicação moderna passaria a ser
identificado apenas por “jornalismo” devido à grande difusão e utilização desse meio
como promotor da informação.
36
4.2 CIBERDEMOCRACIA E CIBERATIVISMO
37
Finalmente a terceira classificação segundo Vegh de ação/reação também é
conhecida como ativismo hacker, abarca atos de naturezas diversas inclusive não
tolerados pela ética e pela lei, como invasão e congestionamento de sites, crimes
cibernéticos e até ciberterrorismo5.
Como exemplo desse ativismo online podemos citar o primeiro denominado herói
do ativismo na rede, o sub-comandante Marcos que movimentou o primeiro manifesto
mundial Zapatista6 no México em 1994 através da internet para conseguir apoio à causa
popular. Houve uso de argumentos locais, assim como os defendidos de modo não
territorializado para causar um forte impacto ao movimento que foi o primeiro então
considerado eletrônico e global.
Outro exemplo que é referência mundial da utilização da rede para promover o
acesso dos cidadãos aos direitos mais fundamentais foi o que se denominou de Primavera
Árabe7. A luta era para derrubar os governos autoritários, como pôde ser observado, a
internet foi cortada e limitada nas regiões onde a manifestação eclodiu, pois, a classe
política dominante dos países aí localizados temia que a causa se espalhasse.
Fonte: https://internacional.estadao.com.br/blogs/olhar-sobre-o-mundo/um-ano-de-primavera-arabe/
5
Uma gama bem diversificada de autores, a partir dos anos 2000, se referem ao termo ciberterrorismo
como atos de violência que resultem em danos ou ameaças a pessoas ou coisas com intenção de obter
ganhos ideológicos ou políticos
6
Para saber mais sobre o movimento zapatista, cf. http://archive.oah.org/special-
issues/mexico/zapmanifest.html
7
Para mais informações sobre o que foi a primavera árabe, cf https://www.politize.com.br/primavera-
arabe/
38
Atualmente também se tem exemplos de Organizações não governamentais
(ONGs) que lutam por diversas causas de modo a se manifestar no ambiente online. A
Human Right Watch por exemplo, atua em diversos países através de formulação de cartas
a autoridades locais, produção de relatórios que servem de embasamento para decisões
políticas, etc, para combater o abuso aos direitos humanos como o da livre expressão8.
Um movimento digital nomeado de Sleeping Giants9 também atua na internet e
através de redes sociais denunciando Fake News (discursos falsos) que algumas empresas
financiam e às vezes acabam por não perceber, além de agir também no combate à
intolerância e o discurso de ódio divulgado na web. Para pôr em prática a solução à tal
denúncias, eles contam com mecanismos que chamem a atenção de autoridades e marcas,
neste segundo caso, desmonetizando sites e canais potencialmente perigosos para a
democracia.
Outra ONG que é mundialmente conhecida e atua no combate a abusos ambientais
é a GreenPeace. Também atua na produção de petições online, endereçamento de cartas
a autoridades locais e possibilita espaço para a discussão ou conscientização pública
acerca de determinado tema. É bastante conhecida no Brasil e tem contestado por
exemplo o desmatamento de ocorrência bastante recente na Amazônia10.
Outro caso icônico que ficou evidenciado no Brasil foi a tão comentada
Manifestação de junho de 2013, também conhecida como Manifestação do Passe Livre.
Ela teve origem na reivindicação de barateamento da passagem no transporte público,
mas logo tomou proporções maiores se difundindo para o país inteiro e passou a ter um
caráter multifacetado no que se refere às reivindicações, incluindo na pauta a exigência
do fim da corrupção, o investimento em segurança e educação, saúde pública, etc. A
internet foi uma das ferramentas mais utilizadas tanto para formular as exigências como
para agendar dia, horário e local onde aconteceria a manifestação.
Nos movimentos mapeados pela internet, “Não há líderes, mas a constituição de
multidões “inteligentes” (que usam as novas tecnologias) para fazer circular informações
e ideias, como em uma ampla conversação”, assinala Lemos (2012). Ainda de acordo
com o pesquisador, novos participantes aparecem e se juntam a causa, movimentando
ideias, informações, sentimentos diversos, reivindicações em protestos, etc, que muitas
8
Exemplo de caso de defesa da liberdade de expressão da ONG human right watch no Brasil, cf
https://www.youtube.com/watch?v=ayYzran1JDs&t=7s
9
Site do movimento: https://sleepinggiantsbrasil.com/
10
Para saber mais sobre este projeto, cf https://www.greenpeace.org/brasil/participe/vamos-zerar-o-
desmatamento-no-brasil/
39
vezes viraliza na internet e se utilizam das redes sociais como Instagram, Twitter e
Facebook. Desta forma, origina-se uma “circulação descentralizada” (LEMOS, 2012).
Outro aspecto digno de se tomar nota é a mudança que o termo “liderança” assumiu. Não
se trata mais de um partido político ou um líder carismático, agora o líder se encontra na
multidão ou “coletivos inteligentes que se articulam, sem centro, em prol de uma causa”
(LEMOS, 2012).
Uma consequência não favorável da possível globalização dos movimentos pela
democracia e pelos direitos é que os ciberativistas dos mais diferentes movimentos e
cantos do mundo, por uma questão de cultura, terão crenças e valores completamente
diferentes, no entanto, defenderão a mesma causa no ciberespaço. Constituindo, dessa
forma, o que Jorge Machado (2007) coloca como a “identidade difusa dos sujeitos
sociais” inseridos nesta seara da internet. Logo, acredita-se que seja mais difícil tocar em
questões identitárias nessas mobilizações, segundo o autor.
Então, podemos dizer que o ciberespaço funciona de maneira sistemática, no qual
o fazer jornalístico opera de modo a utilizar o conceito de interlocução. Desta maneira,
os procedimentos de comunicação no ciberespaço estão em paulatina evolução através de
fluxos e etapas de natureza não linear. Isso permite dizer que a função do jornalista
enquanto um gatekeeper11 é minimizada, dando cabimento a uma prática, a “cartografia
da informação” que faz referência a empenho jornalístico em redes comunicativas inter-
relacionais (BRAZ e PENIDO, 2007, p.11).
11
Gatekeeping é uma teoria que retrata como as notícias são selecionadas ou filtradas com base em critérios
subjetivos do jornalista que ocupa a função de editor. O nome faz referência a esse “gatekeeper”, ou seja,
“guardião do portão” que seria o agente responsável por este processo.
40
5. POTENCIALIDADES E LIMITES ENTRE JORNALISMO DIGITAL E
CIBERDEMOCRACIA
12
Método de utilização da internet que se caracteriza por transmissão de conteúdo sem a necessidade de o
usuário armazenar os dados em seu próprio computador.
13
Formato de jornalismo que traz a apuração bem detalhada em que são usados recursos tais como
interações, áudios, vídeos, infográficos, gráficos e imagens.
41
freada diante do ritmo da instantaneidade. Porém nesse novo contexto há, também, a
emergência das imagens, dos áudios e das narrativas transmídias (Jenkins, 2009)
O jornalismo comunitário, por sua vez, é aquele que é preparado e publicado para
atender os interesses de certa comunidade, é através dele que a comunidade ganha uma
identidade seja ela individual ou coletiva. Também pode ser meio representativo de uma
cultura através do provimento da inclusão de um sujeito a uma dada comunidade. Para
que exista uma sociedade é preciso atender à alguns requisitos básicos, são eles:
42
bairro periférico que não se sente representado pelas mídias tradicionais ou cidadãos que
não tem o usufruto de políticas públicas e decidem criar conteúdo (páginas) na internet
com intuito de serem representados de maneira peculiar e autêntica dentro da sociedade
que estão inseridos. O cidadão pode juntamente com líderes comunitários e associações
intervir em conteúdo de natureza seja cultural, política etc. expondo suas ideias e opiniões
com maior liberdade. Ou seja, a tecnologia contribui com o escopo de tornar possível uma
maior participação e identificação do sujeito com o próprio meio social a que pertence.
O jornalismo independente é outra forma de potencialidade oferecida pelo
jornalismo digital. Entende-se este termo de forma a ser “uma atividade exercida por
profissionais” e “que ocorre no contexto de uma subcultura própria” (LIMA, 2009). Desta
forma, distingue-se do jornalismo tradicional por não se submeter ao que se convencionou
chamar de padrão mercadológico e tampouco representar uma linha editorial específica
ou ter viés político.
Reis (2017, p. 194) cita a definição de Venício Lima para quem o jornalismo
independente “é definido, em geral, por ser um jornalismo realizado sem vinculação
econômica ou editorial a grandes grupos empresariais, na perspectiva de contraposição à
mídia convencional”. Em outras palavras, pela definição do mesmo autor, é “livre de
qualquer sujeição, autônomo’” (LIMA, 2009).
Independência esta que se mantém em relação às práticas editoriais que, de certa
forma, sempre acabam mitigando o jornalismo em seu princípio da responsabilidade
social e pela seleção das notícias pautadas no interesse da população.
No meio digital também existe muitos casos dessa experiência de jornalismo
independente, exemplo disso foi também a já citada cobertura das manifestações de junho
de 2013 no Brasil por sites não pertencentes à veículos da mídia tradicional como Mídia
NINJA. Esta fonte se valeu de conteúdos publicados em rede social para cobrir o evento
além de promover a mobilização de rua pelo país inteiro.
43
5.2 LIMITES OFERTADOS PELO JORNALISMO DIGITAL
44
invés de arrecadar fundos a partir de anunciantes publicitários. Tal método se chama
paywall, tem origem em jornais estadunidenses e do Reino Unido, essa modalidade de
cobrança permite que o internauta leia certa quantidade de páginas do jornal de modo
gratuito diariamente, porém a partir de determinado número de matérias, começa a ser
cobrado determinado valor pelo serviço de informação.
Contudo, essa prática vem gerando insatisfação perante grande parte dos usuários,
pois não se tinha o hábito de pagar por esta forma de atividade no virtual. As redes sociais
borbulharam de críticas quando tal iniciativa foi adotada o jornal Folha de São Paulo. A
seguir é apresentado alguns dos comentários que sobreveio a tal mudança:
Sou leitor desse jornal há muito tempo, primeiro como impresso e atualmente
virtual, o leio todos os dias, e se o faço, é porque mesmo sendo carioca, o
considero o melhor do Brasil. Respeito o direito de acionistas e diretores
tomarem decisões, mas acho que quem tem 19 milhões de visitantes diários,
com 242 milhões de páginas, deveria imaginar o prazer dos anunciantes ao
verem a redução de exposição de seus produtos (FERNANDES, 2012).
O gênio que inventou isso ainda não percebeu que os jornais estão mortos?
Estamos na era da informação, informação em todo lugar e de fácil acesso,
cobrar por isso? É simplesmente ridículo. Jornais impressos deveriam ser
distribuídos de graça e se sustentarem através de anúncios pagos. Ridículo!
Adeus Folha, olá Estadão! (LEITE, 2012).
Para se entender de maneira mais didática este fenômeno da internet, pode-se dizer
que ele é a forma que se traduz em uma receita mais vantajosa ao veículo que o adota. É
visto como uma solução para a situação decadente que os jornais impressos,
principalmente nos Estados Unidos, em termos de vendas, estão enfrentando. Isso se dá
devido à queda do mercado de anunciantes nos jornais impressos do país.
O primeiro jornal a adotar esse modelo de cobrança foi o The Wall Street Journal no
ano de 1997, foi considerado um grande sucesso, pois angariou aproximadamente
duzentos mil assinantes em quase um ano. Tal atividade, como esperado, apesar de
polêmica, aumentou significativamente a receita do site, a partir de então o público do
jornal só cresceu alcançando mais de 1 milhão de pessoas em 2007 e 15 milhões de
internautas no início de 2008.
Seguindo a linha histórica, em 2010 o The Times adotou o mesmo modelo, foi uma
decisão que provocou muitas controvérsias levando alguns analistas a dizer que invés do
usuário pagar pelo serviço, eles iam buscar informações em outras fontes confiáveis. Em
números, o jornal conseguiu a assinatura de 120 mil internautas naquele ano, uma
quantidade considerada moderada, contudo, houve uma perda mais significante de
45
frequentadores no mesmo período, cerca de quatro milhões, assim o novo sistema adotado
não foi considerado um grande sucesso.
Ainda nos EUA, houve casos em que o paywall não foi bem implantado e precisou
ser removido para não causar a falência do meio digital do veículo, foi o exemplo da
revista The Atlantic Monthly, que em uma decisão da direção do meio de publicação, foi
determinado que apenas quem assinava a revista impressa poderia ler o conteúdo presente
no site. A comunidade de leitores não reagiu bem a esta medida e este sistema de custeio
foi removido.
Há ainda uma classificação para este modelo de pagamento, o paywall: o rígido e
o poroso. No primeiro caso, o rígido, passa a ser exigido do leitor uma assinatura para
que se possa desfrutar de qualquer serviço ofertado pelo veículo no meio virtual. Já no
segundo caso, o poroso, existe um conteúdo premium que só pode ser acessado por quem
paga pelo serviço, porém há também outro tipo de publicações que os usuários podem
acessar sem ter que pagar. É um estilo mais “flexível” deste modelo de pagamento, o
paywall.
Ao fazer um mapeamento estratégico de qual modelos de web jornais iriam
prosperar com este novo negócio do paywall, o autor Andrew Miller descreve a análise
da seguinte forma:
46
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
47
seguido, para tanto ainda resta amadurecer tal prática no cotidiano da população das mais
diferentes classes, etnias, origens etc.
O Brasil é um país em desenvolvimento econômico e como consequência disso
ainda tem muita desigualdade social, tal adversidade interfere no acesso dos cidadãos aos
bens necessários (TICs) para poder se conectar à internet e ao que existe de mais atual a
fim de exercer sua cidadania. Já existem tantas dificuldades no país que a posição que
defendemos, diante desse cenário, é que o método paywall deve existir, sim, em virtude
da necessidade do veículo digital garantir sua viabilidade econômica, porém, funcionando
de modo a restringir o acesso apenas a conteúdos que fossem premium, (como por
exemplo ter comentários respondidos, na seção de notícias que o usuário acessar, através
de feedback de especialista) ou seja, o usuário poderia ter um plus na qualidade de
informação caso assinasse, porém essa continuaria acessível mesmo a quem não pudesse
pagar. De volta a acessibilidade às tecnologias de comunicação, é inconcebível pensar
que ela seja inalcançável pela população mais carente economicamente, principalmente,
em época de pandemia, pois é prioridade o acesso à educação e cidadania. O cidadão
precisa se educar para, dentre muitas outras finalidades, não cair nas armadilhas das Fake
News, assim como as empresas precisam se empenharem para fornecer informações
verídicas e gratuitas. Uma vez que a internet é vasta e de amplo acesso a todos, não é de
se esperar que todos ajam de boa-fé. Mormente nesta época referenciada de pandemia, o
medo e a incerteza levaram cidadãos a se informar em veículos jornalísticos que possuem
credibilidade. Os dados quantitativos adquiridos, principalmente no ápice deste momento,
quando as taxas de infecções eram maiores, levaram as pessoas a reduzirem a circulação
por espaços públicos e consequentemente isso diminuiu as taxas de contaminação do
vírus por onde incidiu na coletividade.
Para o desfecho deste trabalho acadêmico (últimas palavras) reconhecemos os
entraves e limitações quais o jornalismo digital enfrenta, entre eles as coerções oriundas
da linha editorial, os problemas de acesso à informação através do uso irrestrito do
paywall por portais jornalísticos, porém mesmo cientes de tais fragilidades, não podemos
deixar de atentar para a vasta gama de possibilidades que só jornalismo digital
proporciona, compreendendo entre elas novas formas de exercer a atividade jornalística
(inclusive de modo independente) possibilitando a existência de múltiplas fontes de
informação para além das mídias tradicionais, destacamos também o surgimento de
novos formatos, a exemplo de longforms e narrativas transmídia, além da notória
reconfiguração nos moldes das práticas políticas dos cidadãos.
48
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