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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO BIÉ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS
_________________________________________________________________
CURSO DE ENGENHARIA INFORMÁTICA “PÓS-LABORAL”
4º ANO

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E O DIREITO NO CONTEXTO NACIONAL E


INTERNACIONAL

AUTORES:

 Ayrton Chimo
 António Sabino
 Daniel Cachama
 Paulino Luanda

O docente: Eurico José


Edição: maio/2022
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO BIÉ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS
_________________________________________________________________
CURSO DE ENGENHARIA INFORMÁTICA “PÓS-LABORAL”
4º ANO

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E O DIREITO NO CONTEXTO NACIONAL E


INTERNACIONAL

AUTORES:

 Ayrton Chimo
 António Sabino
 Daniel Cachama
 Paulino Luanda

O docente: Eurico José


Edição: maio/2022
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho aos nossos familiares e amigos que sempre nos
incentivaram neste longo processo.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Deus todo poderoso pela saúde e coragem, porque sem estes
elementos não se teria alcançado tal objectivo.
Resumo

É muito comum ouvirmos este termo "Sociedade da Informação", este termo muito
importante foi cunhado na década de 90 pelo sociólogo espanhol Manuel Castells,
ele defende que por meio da tecnologia nós quebramos dois grandes paradigmas
que são: Tempo e Espaço. Hoje nós produzimos, relacionamos, consumimos em
espaços diferentes, em tempos diferentes. Quer com isto dizer que hoje para
produzir, no dia-dia, comprar, até mesmo na construção de sua identidade, são
baseados na tecnologia e na informação. Hoje a informação é um objecto de valia
no mercado. informação é produção, é bem de consumo e está inserido em várias
áreas das nossas vidas. Este trabalho levou-nos a reflexão em torno da questão
da Sociedade da Informação, analisando as possibilidades e desafios que hoje
encontramos em meio ao processo de inclusão digital e as suas consequências na
sociedade bem como os seus elementos legais.

Palavras-chave: Informação, Sociedade, Tecnologia.


Abstract

It is very common to hear this term "Information Society", this very important term
was coined in the 90's by the Spanish sociologist Manuel Castells, he defends that
through technology we break two great paradigms which are: Time and Space.
Today we produce, we relate, we consume in different spaces, at different times.
This means that today to produce, in everyday life, to buy, even in the construction
of their identity, they are based on technology and information. Today information is
an object of value in the market. Information is production, it is a consumer good
and it is inserted in several areas of our lives. This work led us to reflect on the issue
of the Information Society, analyzing the possibilities and challenges that we find
today in the midst of the digital inclusion process and its consequences in society
as well as its legal elements.

Keywords: Information, Society, Technology.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRA - Constituição da República de Angola.


UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura.

TICs - Tecnologias da informação e comunicação.


ICTS - Consultores Internacionais em Segurança Direcionada
Índice
Problema científico .......................................................................................................1
Objectivo geral ..............................................................................................................1
Objectivos específicos .................................................................................................1
Tarefas específicas ......................................................................................................1
Introdução .....................................................................................................................2
I. SOCIEDADE, INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO .............................................3
1. Generalidades........................................................................................................3
2. A sociedade e as tecnologias de informação e comunicação ............................3
2.1. As tecnologias de informação e o ensino .......................................................4
2.2. As tecnologias de informação e comunicação e o intercâmbio cultural.........5
2.3. As tecnologias de informação e comunicação e a democracia ......................5
3. As tecnologias de informação como factor de promoção de um novo estilo de
vida ................................................................................................................................6
II. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ..7
Direito No Contexto Nacional ...................................................................................8
Crimes Informáticos no Novo Código Penal Angolano ..........................................9
Acesso Ilegítimo a Sistema de Informação Art. 438º .......................................... 10
Crime de Dano em Dados Informáticos Art. 440º ................................................ 10
Crime de Burla Informática Art. 443º .................................................................... 11
Direito no Contexto Internacional. ......................................................................... 12
Conclusão .................................................................................................................. 13
Bibliografia ................................................................................................................. 14
Problema científico

 Quais as vantagens e desvantagens das tecnologias de informação para


actual sociedade da informação?

Objectivo geral

 Ilustrar o problema do Direito à informação à luz das tecnologias de


informação e comunicação.

Objectivos específicos

 Caracterizar o estado actual da sociedade da informação à luz das


tecnologias de informação e comunicação.
 Estabelecer a relação existente entre o desenvolvimento das tecnologias da
informação e o direito à informação como direito fundamental.
 Apresentar os problemas decorrentes das tecnologias da informação e
comunicação para a actual sociedade da informação.

Tarefas específicas

 Caracterização do estado actual da sociedade da informação à luz das


tecnologias de informação e comunicação.
 Estabelecimento da relação existente entre o desenvolvimento das
tecnologias da informação e o direito à informação como direito fundamental.
 Apresentação dos problemas decorrentes das tecnologias da informação e
comunicação para a actual sociedade da informação.

Nível de conhecimento

1
Introdução

O período de transição do século XX ao XXI foi marcado por um indiscutível


avanço nas formas de comunicação e informação, fenómeno cuja autoria se deve
atribuir decisivamente ao surgimento da internet que tornou o mundo no que se
costuma chamar de “aldeia global”. São inegáveis as vantagens apresentadas
pelas actuais ferramentas de informação e comunicação em domínios como os do
ensino, intercâmbio cultural e até para um efectivo exercício de direitos civis e
políticos.

Salvaguardadas, todavia, estas vantagens, cresce cada vez mais a


consciência acerca do problema associado ao uso desregrado de tais ferramentas.
É evidente que a multiplicidade de problemas que um tema como este abarca não
poderão ser contemplados satisfatoriamente num trabalho como este, cuja utilidade
científica se esgota na simples exposição sumária das vantagens e desvantagens
decorrentes do uso de tais meios. Ademais, importa ter presente que o carácter
multifacetado com que se apresenta o tema em análise, na medida em que
pressupõe uma abordagem interdisciplinar, desaconselha um tratamento exaustivo
que teria como principal inconveniente o ter que pronunciarmo-nos sobre questões
que em muito escapam do nosso âmbito científico.

2
I. SOCIEDADE, INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
1. Generalidades

O presente tópico pretende trazer à colação a relação existente entre a


sociedade, a informação e a comunicação. Mais do que se falar de elementos
distintos, a perspectiva de que se parte na presente abordagem toma estes
elementos como integrantes da mesma realidade, de cujo casamento mais ou
menos harmónico resulta o que se costuma a designar por sociedade da
informação, querendo com isso caracterizar a actual sociedade fortemente
marcada pela massificação dos meios de informação e comunicação, permitindo
que a informação circule “à velocidade da luz”. Colocado nestes termos o problema,
o foco passa a consistir na análise relativa ao inter-relacionamento existente entre
a sociedade e o maior ou menor domínio, por parte desta, da informação, como
instrumento que impacta positiva ou negativamente na qualidade da vida em
sociedade.

2. A sociedade e as tecnologias de informação e comunicação

Fruto do surgimento da internet, tem-se assistido a uma constante evolução


no que respeita aos processos de informação e comunicação, uma informação hoje
cada vez mais caracterizada por circular a uma velocidade supersónica, encurtando
distâncias, eliminado barreiras culturais e, em suma, promovendo novos estilos de
vida. Esta circunstância foi mesmo reconhecida pelo trabalho das Nações Unidas
na Declaração de Princípios da Primeira Cúpula da Sociedade da Informação,
realizada em Genebra em 2003, nos seguintes termos:

As Tecnologias de informação e comunicação (TICs) apresentam imenso


impacto em praticamente todas as áreas de nossas vidas. O rápido
progresso dessas tecnologias abre completamente novas oportunidades
para que níveis mais elevados de desenvolvimento sejam atingidos. Pela
primeira vez na História, a capacidade dessas tecnologias, para reduzir
muitos obstáculos tradicionais, especialmente aqueles de tempo e
distância, tornou possível empregar-lhes potencial para o benefício de
milhões de pessoas, em todos os cantos do mundo. (Parágrafo 8º da
Declaração de Princípios “Construção da Sociedade da Informação: um
desafio global para o novo milênio”, Genebra, 12 de dezembro de 2003).

3
Permitindo uma maior divulgação da informação, as TICs trouxeram
inegáveis benefícios em domínios como os do ensino, na medida em que viabilizam
uma mais fácil circulação da produção científica e tecnológica, concretizando um
padrão de ensino universal, relativamente igual para todos; no domínio cultural, na
medida em que tais ferramentas têm promovido um maior intercâmbio cultural entre
povos com valores civilizacionais distintos, e que para o bem e para o mal nos
permitem hoje falar de uma verdadeira “cultura global”; a nível do exercício dos
direitos civis e políticos é hoje inegável a grande vantagem que têm as tecnologias
de informação e comunicação para o exercício de direitos fundamentais ligados,
sobretudo, à liberdade de expressão e ao direito e à informação; não menos
importante há de ser o grande impacto que têm tido tais ferramentas para o
desenvolvimento do espírito da solidariedade internacional.

2.1. As tecnologias de informação e o ensino

Durante muito tempo um dos pontos em que particularmente se tem notado


o problema das desigualdades económicas, quer entre Estados, quer entre
indivíduos no seio de uma sociedade, prende-se com o elevado desnível no que
respeita a qualidade de ensino, existindo grupos que mercê do seu poderio
económico e financeiro dispõem de fácil acesso aos recursos humanos e materiais
que garantem um ensino de excelência, havendo, em sentido inverso, grupos que,
desprovidos de meios financeiros, acabam não tendo acesso a aos serviços de
ensino, ou tendo acesso a tais serviços em condições de precariedade. Este factor
contribui para o desenvolvimento de assimetrias entre os Estados e entre regiões
diferentes num mesmo Estado.

O desenvolvimento das TICs, na medida em que torna cada vez mais fácil a
produção e divulgação da informação, permite hoje um fácil acesso a um ensino de
qualidade, de acordo com padrões universais, às camadas desfavorecidas. É de
citar, a título exemplificativo, o fenómeno dos livros em formato digital cujo o acesso
fica, na maior parte dos casos à distância de um clique. Se assentarmos no
entendimento segundo o qual o combate às desigualdades sociais passa pela
promoção de um igual acesso ao ensino de qualidade, consequente há de ser a
conclusão segundo a qual um igual acesso ao ensino de qualidade há de passar
prioritariamente pela massificação das TICs. Tal como afirmam Lastres e Albagli

4
(1999, p.13), “hoje, as TICs estão desempenhando um papel muito importante no
processo de globalização através da transferência de informação e conhecimento
de uma maneira […] mais fácil e barata”, na mesma senda, se posiciona Moraes
(2013, p. 10) “O poder, hoje, é associado à informação”.

2.2. As tecnologias de informação e comunicação e o intercâmbio


cultural

Tendo transformado o mundo numa aldeia global, as tecnologias de


informação e comunicação têm contribuído para o desenvolvimento de uma cultura
global, caracterizada para o desenvolvimento e partilha de valores entre povos
durante muito tempo defensores de valores civilizacionais diferentes, um factor que
de positivo apresenta o facto de contribuir para a eliminação de barreiras culturais
que estiveram na base de problemas como os da xenofobia, o nacionalismo
exacerbado, a supremacia racial etc., na mesma senda Moraes (2013, p. 12)
escreve que:

A comunicação simbólica entre os indivíduos e o relacionamento deles


com a natureza formam no tempo (história) e no espaço (territórios
específicos) culturas e identidades culturais. A tecnologia hoje
desempenha um papel de interação entre identidades biológicas e
culturais dos indivíduos em seus ambientes naturais e sociais. Esta
interação, um processo social, é estruturada historicamente. As
tecnologias acabam por influir na formação da personalidade dos
indivíduos e integram, simbolicamente, uma busca da satisfação de
necessidades e desejos humanos. O uso integrado das TICs vem
transformando a organização da vida das pessoas.

2.3. As tecnologias de informação e comunicação e a democracia

Nas democracias, em que tradicionalmente a soberania é atribuída ao povo,


a possibilidade de os governados exigirem dos governantes a satisfação dos seus
interesses passa pela criação de mecanismos que obriguem estes (governantes) a
ouvir aqueles (governados). Será, certamente, esta uma das razões que eleva a
liberdade de expressão e informação a categoria de direito fundamental, do qual
resulta como concretização específica a liberdade de imprensa. Deste modo,
dispõe o artigo 40.º da Constituição da República de Angola, doravante CRA que
“todos têm o direito de exprimir, divulgar e compartilhar livremente os seus

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pensamentos, as suas ideias, pela palavra, imagem ou qualquer outro meio, bem
como o direito e a liberdade de informar de se informar e de ser informado, sem
impedimentos nem discriminações”, o surgimento das TICs tem potenciado a
materialização desta garantia, na medida em que o seu adequado uso permite aos
particulares se constituírem em grupos de pressão, capazes por isso mesmo de
comunicar as suas preocupações, superando-se deste modo as consequências do
monopólio dos órgão de informação por parte do poder político.

As tecnologias de informação jogam um papel importante neste sentido, na


medida em que permitem, de um lado, aos particulares divulgar as suas
preocupações concretizando-se assim o direito de informar e, de outro lado,
permitem aos particulares o acesso imediato a factos do seu interesse sem que o
conhecimento efectivo de tais factos seja submetido a mediação de órgãos por
vezes defensores de específicos interesses políticos.

3. As tecnologias de informação como factor de promoção de um novo


estilo de vida

Os factores acima apontados nos levam a inequívoca conclusão de que as


TICs são hoje a principal causadora das transformações no estilo de vida social
que hoje, um pouco em todo lugar, assistimos. Hoje, as TICs encurtaram distâncias,
favoreceram o intercâmbio cultural, reduziram as desigualdades tecnológicas e
científicas, promoveram a concretização de direitos civis e políticos, em suma, o
mundo nos tempos actuais é completamente diferente de há cinquenta anos e, na
verdade, o mundo evolui hoje em fracção de apenas uma década e até em fracção
de um ano, não sendo um exagero falar-se que as TICs reformularam o calendário
e a forma como se encara a própria periodização. Com efeito, fala-se também hoje
da era do Facebook, da era da Youtube, da era do WhatsApp, do tic toc, tudo num
período de 20 anos.

Todavia, esta constante e supersónica transformação no estilo de vida social


é muita das vezes acompanhadas de um conjunto de problemas, aos quais os
seres humanos não conseguiram ainda encontrar respostas efectivas. Na verdade,
tais problemas são tão multifacetados que se colocam e se analisam sob diversas
perspectivas despertando o interesse de diversos ramos do saber. Os problemas,

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com efeito, vão do fórum psíquico, antropológico, sociológico até ao fórum
económico.

Assim, por exemplo, a nível psicológico e sociológico é hoje de se considerar


os problemas que resultam do uso desregrado das redes sociais, sobretudo, a nível
comportamental. Na verdade, o uso excessivo de tais ferramentas conduziu
particularmente para a camada adolescente ao crescimento do sedentarismo e a
um excessivo processo de “virtualização das relações sociais”. A estes factores se
ligam, hoje, problemas tais como os da obesidade entre adolescentes, da timidez
e da falta de autoestima.

O comodismo propiciado pelas TICs, por outro lado, tem se revelado


inadequado a implementação de um ambiente propício ao ensino e aprendizagem.
Hoje, com efeito, é comum se verificar estudantes usando o telefone em plena sala
de aulas.

De outra perspectiva, propiciando o intercâmbio cultural e com ele a


implantação de uma cultura global, as redes sociais, tendo em conta o elevado
desnível cultural que se verifica entre os povos, são hoje factor do problema da
alienação cultural do qual são vítimas países do terceiro mundo como o nosso.
Segundo a UNESCO (1996, p.12), “os indivíduos temem que, com o uso das TICs,
haja a perda de elementos essenciais de uma cultura tais como, a língua, o folclore,
a história oral e a tradição, entre outras”.

II. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E OS DIREITOS


FUNDAMENTAIS

Os problemas levantados no subcapítulo anterior têm levado a que a nível


jurídico os Estados suscitem o problema sobre como fazer face a esta
multiplicidade de problemas que hoje colocam as TICs. Na verdade, há neste
campo todo um conjunto de bens jurídicos que carecem de tutela jurídico-legal.

Desde já, sentem os Estados a necessidade de individualmente ou de forma


concertada desenvolverem mecanismos com vista a influir na actuação das
empresas de produção tecnológica que, mercê do seu poderio financeiro e
industrial e motivados apenas pelo lucro, orientam a sua actividade de produção e

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prestação de serviços numa linha que privilegia uma cada vez maior obtenção de
lucros, tornando-se indiferentes às consequências nefastas que os seus produtos
causam aos respectivos usuários, e escapando de qualquer responsabilização civil
e criminal devido a sua posição de domínio. Será esta uma das razões que terá
inspirado o trabalho das nações unidas de que resultou a Declaração de Princípios
da Primeira Cúpula da Sociedade da Informação, realizada em Genebra em 2003,
de que já acima fizemos referência.

A necessidade de tutela tem como fundamentos a salvaguarda da intimidade


da vida privada, a protecção dos direitos de personalidade e os direitos do
consumidor. Por exemplo, não poderá do uso destas ferramentais resultar a
violação da privacidade de terceiros, nisso dispondo o n. 1 do art. 32.º da CRA que
“a todos são reconhecidos os direitos […] ao bom nome e reputação, à imagem, à
palavra e à reserva de intimidade da vida privada e familiar”.

É também para fazer face a esta realidade que entre nós o Código Penal de
2020 no seu Livro II, Título VIII consagra a categoria dos crimes informáticos (arts.
437.º à 444.º).

Direito No Contexto Nacional

As tecnologias da informação e comunicação podem ser utilizadas enquanto


instrumentos (muitas vezes mais eficazes quer nos danos causados quer no
encobrimento da identidade dos seus autores) para a prática de crimes usuais da
realidade corpórea e cujo tipo legal está previsto sem considerar a utilização dos
meios tecnológicos como um elemento integrador do crime.

Tomemos por exemplo, a generalidade dos crimes contra a honra (injúrias


ou difamação) que podem muito bem ser praticados pela inclusão dessas
expressões ou acusações em páginas em linha, redes sociais, blogs ou difundindo-
as por correio electrónico. Neste caso, a única interferência que o uso de meio
tecnológico tem sobre o tipo legal será o meio utilizado para divulgação da
expressão injuriosa ou difamatória, e o facto de tal meio de comunicação poder
causar mais ou menos “danos” no bem jurídico ofendido.

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Outro caso, será o facto de as tecnologias da informação e comunicação
poderem ser utilizadas para cópia ilegal de obras protegidas por direitos de autor,
face a facilidade com que se reproduzem ficheiros áudio, vídeo, imagem, etc., em
ambiente digital. Mais uma vez, o tipo legal permanece inalterado face à realidade
corpórea ou incorpórea da cópia ilegal realizada.

Nestes casos, a informática não surge como elemento tipificador (ou sequer
necessário) do crime, apenas como um instrumento utilizado para a sua prática, se
bem que em determinados casos seja um instrumento potenciador da sua prática
e/ou agravante dos danos deles decorrentes. Isto na medida em que a utilização
dos meios associados ás tecnologias da informação e comunicação podem
aumentar exponencialmente os danos decorrentes da lesão pela sua maior difusão
através da internet (essencialmente nos crimes contra honra).

Embora admitimos que, como fenómeno social, a chamada “criminalidade


informática” abarque esta realidade, na perspectiva substantiva estes crimes não
têm merecido uma revisão face as novas formas digitais de os praticar. No entanto,
nalguns casos o legislador sentiu a necessidade de criar novos tipos legais
direccionados à sociedade de informação que vêm penalizar directamente actos
que potenciam a violação dos mesmos bens protegidos. Por outro lado, já na
perspectiva da obtenção da prova da 7/23 prática destes crimes, se tem pensado
em novos dispositivos processuais capazes de uma mais eficaz recolha e
conservação da prova digital.

Crimes Informáticos no Novo Código Penal Angolano

Mais de 40 anos passados sobre a data da Independência, os bens jurídicos


tutelados pelo Código de 1886 não coincidem integralmente, como se calcula, com
os interesses que a comunidade de cidadãos angolanos deseja ver hoje
penalmente protegidos.

O Código Penal de um país há-de, por força, reflectir os valores


fundamentais da sociedade que o vai aplicar. Já nada justifica que Angola continue
a definir e a tutelar valores fundamentais que prescindam à afirmação e ao
progresso da sociedade angolana e ao livre desenvolvimento da personalidade do
homem angolano, utilizando um instrumento legal completamente desajustado do
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ponto de vista da política e ciência moderna do direito penal. Em muitos aspectos,
sobretudo no que se refere à sua parte especial, podemos, sem receio, considerar
como arcaico, complexo, insuficiente e sem adequada correspondência com os
valores de uma sociedade moderna e os interesses fundamentais do Estado
angolano.

Com efeito, após longos anos dedicados à reforma penal em Angola, só em 2019
foi aprovado pelo parlamento angolano e em Novembro de 2020 publicado no diário
da República, um verdadeiro Código Penal angolano.

Acesso Ilegítimo a Sistema de Informação Art. 438º

O acesso ilegitimo é o primeiro crime previsto no título VIII do futuro Código


penal angolano. Neste tipo de crime, pune-se o mero acto de aceder, mesmo que
não haja danos concretos, concretizando assim um crime de perigo abstracto,
visando a protecçãoantecipada e indirecta contra riscos de danos e de espionagem,
criando obstáculo a danos que poderiam ocorrer se houvesse o acesso.

No entanto, apesar dessa protecção antecipada, também neste crime tem


de se verificar o elemento subjectivo, a intenção de obter vantagem ilegítima para
si ou para outrem. Só é punido o acesso a sistema alheio se for feito com essa
intenção.

Este crime como, o próximo, têm a sua base na “ilegitimidade” do acesso ou


intercepção) constante da epígrafe de ambos e que se consubstanciam na falta de
autorização. O acto em si materialmente não é ilícito, só o é na medida em que não
haja uma autorização.

O tipo prevê uma agravação no caso de o acesso ser conseguido através de


violação de regras de segurança, e se através desse acesso, o agente tomar
conhecimento de segredo ou dados confidenciais, ou se a vantagem obtida for de
valor consideravelmente elevado.

Crime de Dano em Dados Informáticos Art. 440º

O crime de dano informático é um tipo que até agora a ordem jurídica


angolana desconhece. Mas os “bens” corporizados em suportes informáticos são

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igualmente coisas que, como todas as outras, merecem e exigem, hoje em dia,
tutela penal.

Este crime é de execução não vinculada, pois visa um resultado sem um


processo causal tipificado, o que significa que estes conceitos devem ser
preenchidos e cada caso, à semelhança do dano “clássico”.

O legislador consagrou uma cláusula geral, pois é punido o agente que


danificar os dados ou, por qualquer outra forma lhes afectar a capacidade de uso.
É necessário ter atenção a esta norma pois parece-nos que tem de se exigir que a
afectação da capacidade de uso seja relevante, e já não uma qualquer interferência
por mínima que seja.

Em sentido prático inclui-se neste crime as condutas de espalhar “vírus”24,


“Defacing25”, ou as chamadas “bombas lógicas26”, quando por trás destes
comportamentos esteja o intuito de causar prejuízo ou ter algum ganho.

Assim, este crime tem outras particularidades em relação ao crime de dano


previsto no Código penal vigente, desde logo porque exige um elemento subjectivo
típico, a intenção de causar prejuízo a outrem ou de obter um benefício ilegítimo
para si ou para terceiros. Configura assim, ao que nos parece, um crime de
resultado cortado, na medida em que esse resultado não é parte integrante do tipo,
apenas motivação do agente.

Na sua formulação teve-se em consideração, a Convenção Sobre o Ciber


crime subscrita pelos Estados-Membros do Conselho da Europa (e não só) o
Código Penal alemão e a lei da criminalidade informática portuguesa.

Crime de Burla Informática Art. 443º

À primeira vista percebe-se que este tipo de crime pouco tem a ver com a
“burla clássica” na medida em que não há aqui aquele elemento característicos de
introduzir outra pessoa em erro, fazendo que essa pessoa, por esse motivo,
pratique determinados actos que a prejudiquem. Na verdade, a burla exige uma
“muito particular forma de comportamento” que se traduz num meio enganoso seja

11
a causa efectiva do erro em que se encontrava a vítima, exigindo-se o chamado
duplo nexo de imputação objectiva.

Na burla informática não existe essa exigência de um meio ardiloso, nem tão
pouco é uma exigência do tipo que a vítima tenha uma parte activa no processo de
execução do crime. Exige-se apenas a intenção de causar um prejuízo patrimonial,
e para esse efeito utilizando um meio informático, ou mais precisamente,
interferindo num meio de tratamento de dados.

A incriminação da burla informática tem como escopo sobretudo proteger a


fiabilidade das transferências electrónicas de fundos, especialmente o abuso dos
levantamentos nas máquinas automáticas. A jurisprudência tende a considerar
neste tipo de crimes os casos de aproveitamento de cartões de crédito alheios.

Direito no Contexto Internacional.

Enquanto disciplina, o Direito Internacional, talvez muito mais do que ocorreu em


outras áreas do Direito, e mesmo da perspectiva dos respectivos sistemas
domésticos dos Estados, veio gradativamente enfatizando uma categoria especial
de sujeitos referenciais no problema teórico aqui proposto e nos contextos de
regulação normativa: o usuário da internet. Ele nasce como uma categoria
específica a partir das experiências e dinâmicas das relações sociais que a
realidade do Direito busca capturar no espaço virtual. Da internet aos netbooks,
smartphones e tablets, as tecnologias de comunicação e informação (ICTs)
transformaram a comunidade internacional, fortalecendo os governos,
organizações internacionais, empresas, sociedade civil e, sobretudo, indivíduos na
qualidade de cidadãos, criadores, comunicadores e consumidores.

Uma verdadeira coalizão de interessados no fenômeno da internet se


consolida no plano internacional e nos vários Estados, bastando, para tanto, uma
observação atenciosa à multiplicação de instituições dedicadas à proteção e tutela
dos interesses dos indivíduos nas redes digitais (organizações não governamentais
e associações).

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Conclusão
Nos últimos 5 anos, produziu-se mais informação do que os últimos 5 mil anos da
história da humanidade. Actualmente a informação faz parte da nossa rotina, da
nossa vida.
Com base nisto, é importante também dizer que apesar de vivermos na era da
informação, é necessário que no processo de aquisição destes, possamos analisar
o nível de confiança, ou seja, os resultados destas pesquisas devem ser
censurados de modos a ter garantia do que realmente se está a consumir. Por outro
lado, é necessário que ao informar, se tenha em conta questões legais, sendo que,
se deve informar com verdade, cumprindo assim com o dever que é prover um bem
fundamental que é o direito a informação.

13
Bibliografia
Angola, A. d. (2010). Constituição de Angola. Luanda.

Moraes, A. F. (2013). As tecnologias de Informação e Comunicação. As tecnologias de Informação


e Comunicação e o Processo de Globalização, p. 12.

ONU. (2003). Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. Genebra.

14

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