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Niterói
Rio de Janeiro
2009
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CONVÊNIO
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO DE ARTE E
COMUNICAÇÃO SOCIAL
INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
AGRADECIMENTOS
Confirmei que um trabalho acadêmico pode ser feito de diversas formas. Com ritmo mais
intenso, ou mais espaçadamente. Uma pesquisa mais abrangente, ou mais focada. Que traga
indicadores novos, ou que reforce alguns antigos. Existem muitas possibilidades. Só não é
possível fazê-lo só. Em primeiro lugar pela fundamental presença de minha orientadora Liz-
Rejane, que tem uma maneira única e cuidadosa de plantar, ceder e podar. E assim
construímos este trabalho, traçando metas alcançáveis, dando asas à criação e lapidando o
indesejado.
Em segundo lugar pelos demais tipos e condições de ajuda que invariavelmente recebemos
durante os longos meses de concentração. Em uma aula ouvi certo professor dizer que o
pesquisador deve-se apaixonar pelo seu objeto de pesquisa. Nós, alunos rimos e achamos
aquilo engraçado. Provavelmente não nos encaixávamos no estereótipo do pesquisador que
abre mão do mundo e passa a respirar um só problema. E não é preciso. Como tudo na vida,
nossa pesquisa flui melhor quando estamos em paz. Comecei a perceber os frutos brotarem ao
superar todos os obstáculos que impediam que desenvolvesse o tema com liberdade. E me
apaixonei. Por isso agradeço a todos os professores e colegas de turma do PPGCI pelas ricas
experiências. Agradeço à professora Nélida Gonzalez de Gómez pela iniciação ao pensamento
complexo que ela provocou. Sua capacidade de abstração é algo excepcionalmente inspirador.
Agradeço à professora Sarita Albagli que me ajudou a dar melhor direção neste trabalho,
avaliando-o por ocasião da Qualificação e recomendando leituras que se encaixavam
perfeitamente nos pontos mais fracos percebidos naquele momento. É grande também minha
gratidão à professora Ana Mallin que participou e ajudou igualmente na Qualificação e em
outros importantes momentos em minha vida. Já disse a ela e reforço que a tenho como minha
guru.
Agradeço aos amigos que participaram do início de tudo e entenderam minha ausência no
período das aulas. Rita Roque pelo jeito provocativo e ao mesmo tempo carinhoso de lidar
comigo. André Rocha pelo companheirismo em ouvir. Tatiana Cascardo pelo apoio e
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simplicidade. Vagner Pontes pelo incentivo e por acreditar. Fábio Costa por ler sempre com a
máxima atenção o que escrevo. E ao amigo Fabiano Caruso por realizar comigo tantos
debates sobre as mídias sociais e seus campos de aplicação e limitações. E pelas inúmeras
indicações de leitura que me enviou durante todo o período do trabalho.
Agradeço ao Paulo Roberto Braga e Mello, meu chefe no Inmetro, pela oportunidade e boas
conversas sobre política e democracia. E pelo imediato apoio que recebi ao apresentar o tema
proposto neste trabalho. Sem sua força esta pesquisa não seria possível.
Obrigado meu pai, Sergio, pelo desenvolvimento dos primeiros indícios de consciência sócio-
política que brotaram em mim e pelos constantes debates. Letícia, minha irmã pelos debates
sobre tecnologia, redes sociais e interfaces. E minha irmã Flavia pela companhia nas
fundamentais manhãs de praia em que levei meu material de estudo.
Agradeço à minha namorada, Clara, por me acompanhar com imenso companheirismo nesta
construção. Por me aturar nos momentos mais difíceis que misturam estudo e trabalho, pelas
crises de existência e autoconfiança, e pelas horas cedidas para minha concentração nesta
caixinha chamada computador.
E por fim, e ainda mais importante, agradeço à minha mãe, Regina. Por todas as razões óbvias
da natureza, mas, em especial, pelo apoio, ou melhor, pelo direcionamento ao pensamento
acadêmico e científico o qual tanto valoriza. Obrigado por me incentivar, discutir, conversar,
chamar a atenção, cobrar, e principalmente, por me guiar até aqui.
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RESUMO
ABSTRACT
Collaborative web has caused several changes in the production mode and social
organization. The Internet takes over as an interconnected public sphere, where information
consumers and producers auto-organize themselves, exchanging roles and acting collectively
in the development of knowledge assets. In this process, the collaborative web is defining and
controlling their own rules and values for specific environments. Social media helps to
intensify the relationship among individuals, and also to synthesize knowledge production and
dissemination. In this context, governments are challenged to modernize their structure,
promoting accountability and citizen focused management. This work presents a critical
analysis of this scenario, pointing out the perspectives, possibilities and bottlenecks to the
government initiatives in the area.
LISTA DE FIGURAS
Figura 63. Portal da Transparência: Distribuição do Programa Bolsa Família ...................... 233
Figura 64. Portal da Transparência: Beneficiário do Programa Bolsa Família ...................... 234
Figura 65. Portal da Transparência: Gastos diretos por órgão executor................................. 234
Figura 66. Portal da Transparência: Orçamento destinado à UFF ......................................... 235
Figura 67. Portal da Transparência: Diárias pagas ................................................................. 236
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SUMÁRIO
Por sua vez, os governos têm sido desafiados a promover mudanças em seus
modelos de governança, passando a adotar abordagens cada vez mais centradas nos cidadãos,
isto é, promovendo a transparência pública e incentivando a participação social como forma
de fortalecer a democracia. Diversos países buscam incorporar em seus processos políticos,
iniciativas que estimulam o surgimento de comunidades virtuais1 e presenciais de cidadãos,
além de forte interação com organizações privadas e terceiro setor, com o objetivo de agregar
competências, consolidar a participação dos cidadãos, e estimular a inovação nos setores
público e privado.
1
O termo comunidade virtual foi cunhado por Howard Rheingold (1993) em seu livro The Community Virtual.
Refere-se ao surgimento de comunidades focadas em trocas de informação baseadas em interações no ciberespaço, ou um
espaço comunicativo.
13
conectadas. Como conseqüência, a web passa a ser vivida, observada, analisada, modificada,
construída e reformulada por um número cada vez maior de indivíduos com seus diferentes
valores, gostos, vontades, saberes e atitudes. Este aumento de volume e intensidade de
participação e colaboração na rede é o que tem sido chamado de web 2.0, ou web social,
sendo que neste trabalho optou-se pela segunda alternativa. É no comportamento social
baseado em informação e no uso das mídias sociais emergentes embutidas no cenário político
que está baseado este trabalho.
2
Blogs e wikis são duas, entre outras ferramentas de colaboração online, que representam bem a capacidade
colaborativa da web atual.
14
3
O movimento do software livre é uma das redes descentralizadas mais consolidadas agindo em prol da
universalização do acesso e produção de sistemas informatizados. Iniciativas, como o sistema operacional Linux
(http://www.linux.org), mobilizam centenas de milhares de pessoas a desenvolver e melhorar um produto livre.
O governo brasileiro mantém um progama de software livre com o objetivo de incentivar a troca de experiências
entre órgãos e tornar o desenvolvimento de soluções livre de interesses privados, além de otimizar os
investimentos em tecnologia da informação no setor público (http://www.softwarelivre.gov.br.).
4
Open Access representa um movimento a favor do acesso livre à informação e cultura. No Brasil, o
Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia age como um grande incentivador (http://www.ibict.br).
5
A indústria da música e do entreterimento vem sofrendo grandes transformações quanto às suas
formas de obtenção de lucro, em parte devido à facilidade de troca de arquivos digitais na Internet. Por outro
lado, as produções independentes tornam-se cada vez mais viáveis, o que leva ao aumento considerável de oferta
de novas produções, além de criatividade e inovação neste segmento.
6 Este trabalho tem como um dos objetivos, apresentar e analisar diversas iniciativas de ambientes
colaborativos online com foco na interação entre governo e cidadãos.
15
fatores vão ao encontro da necessidade de aproximação entre cidadão e governo, pela via da
incorporação de práticas colaborativas e estímulo à participação social.
A primeira parte aborda a relação cada vez mais explícita do Governo e sociedade
com os fenômenos da informação, e a Internet como ambiente onde se consolida esta relação.
7
Open Government tem na literatura um significado próximo a government 2.0, ou e-gov 2.0.
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1.1 Objetivos
1.2 Metodologia
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ONU - Organização das Nações Unidas.
9
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
21
governo e cidadão.
10
Relatório disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/un/unpan028607.pdf>
22
Nas últimas décadas, diversos avanços na área de governança do Estado têm sido
realizados. A gestão da informação reafirma uma posição extremamente importante nas
atividades governamentais, e recebe, em muitos casos, políticas próprias que orientam a forma
como é produzida, selecionada, organizada, distribuída e utilizada. A importância da
informação pode ser vista tanto na prestação de serviços, contemplando o jogo democrático
no debate com a sociedade, como no desenvolvimento científico e tecnológico, e até mesmo
na melhoria dos processos governamentais internos.
Dado que em diversos momentos deste trabalho serão feitas referências aos
termos Estado e governo, e que são muitas as possibilidades de definição destes conceitos,
faz-se necessário diferenciar e dar um contexto a essas duas expressões.
Pode-se ainda utilizar a noção de Estado como a res publica, a coisa pública.
Bresser-Pereira acrescenta uma noção do público e do privado a partir da evolução da
democracia, e defende que
(a) um governo formado por membros da elite política, que tendem a ser recrutados
junto à classe dominante; (b) uma burocracia ou tecnoburocracia pública, ou seja,
um corpo de funcionários hierarquicamente organizados, que se ocupa da
administração; e (c) uma força policial e militar, que se destina não apenas a
defender o país contra o inimigo externo, mas também a assegurar a obediência das
leis e assim manter a ordem interna. Por outro lado, como propõe Weber, essa
organização política detém o monopólio da violência institucionalizada, ou seja,
tem o poder de estabelecer um sistema legal e tributário, e de instituir uma moeda
nacional. Dessa forma, além do governo, da burocracia e da força pública, que
constituem o aparelho do Estado, o Estado é adicionalmente constituído (d) por um
ordenamento jurídico impositivo, que extravasa o aparelho do Estado e se exerce
sobre toda a sociedade. (BRESSER-PEREIRA, 1995, p.89)
A idéia aqui é representar as duas partes nas arenas de reivindicação dos direitos e
interesses privados, sendo estas o Estado e a sociedade.
11
Accountability é um termo sem tradução que pode ser interpretado como a vocação do governo à
prestação de contas junto à sociedade.
26
12
O termo feedback é utilizado aqui para representar opinião e retorno.
28
Ainda é necessário atentar para o fato de que, para ser efetivamente influente na
participação da administração pública, o cidadão precisaria alcançar a condição de produtor
de informação e conhecimento, podendo assumir uma postura mais ativa e tendo melhores
condições de argumentação pela via da racionalidade, além de ter garantidos seus direitos nas
atividades políticas. Tal condição será explorada ao compreendermos como as mudanças
estruturais e comportamentais no novo espaço público virtual possibilitam que indivíduos
engajados aumentem sua noção de pertencimento de classe e tornem-se agentes produtores, ao
invés de assumirem a postura de observadores passivos.
como sendo aquela referente ao Estado, onde reside o poder público que opera sob voz de
comando, força e ordem, e a propriedade pública, que impede a apropriação do que é
considerado um bem público; da esfera da opinião pública onde são travados os embates
políticos e onde se propaga a voz a favor dos interesses privados.
A primeira noção para a construção conceitual do que vem a ser espaço público é
a de “público” propriamente dita, que está ligada à noção de visibilidade e de acessibilidade,
em contraposição ao que é privado e, portanto, restrito quanto ao acesso.
O termo “público” ainda pode designar locais que abrigam instituições públicas, e
o próprio Estado. Mas é com a noção do que é visível a todos que se pode acompanhar a
construção do termo “esfera pública”, que se desenvolve juntamente com o advento da
sociedade burguesa, apesar das referências às sociedades gregas e romanas em tempos
anteriores.
Pode-se dizer que os encontros nos eventos musicais, salões e cafés, foram os
espaços onde a burguesia se reunia para o debate político e para o desenvolvimento do capital
cultural que diferenciavam as diversas classes sociais, através da música, arte e literatura.
Habermas (2003) ainda divide a esfera pública em: esfera do poder público, que é
o legítimo detentor da propriedade pública, que se expressa pelo monopólio do uso da força, e
que é o responsável pela administração da sociedade; e esfera da opinião pública, constituída
pelos interesses privados, onde reside a sociedade que se contrapõe ao poder público.
[...] esfera de pessoas privadas reunidas num público; reivindicam esta esfera
pública regulamentada pela autoridade, mas diretamente contra a própria autoridade,
a fim de discutir com ela as leis gerais do intercâmbio de mercadorias e do trabalho
social (HABERMAS, 1997 apud ARAGÃO, 2002).
Para Habermas, 'discurso' significa uma interação comunicativa que não se propõe
a trocar informações sobre algo, mas a fundamentar as pretensões de validade levantadas na
ação comunicacional. A linguagem é compreendida como ação, estratégica (intencional) e
racionalizada (pela via da argumentação).
[...] esfera pública episódica (bares, cafés, encontros na rua); esfera pública de
presença organizada (encontro de pais, público que freqüenta o teatro, concertos de
Rock, reuniões de partido ou congressos de igrejas) e esfera pública abstrata,
produzida pela mídia (leitores, ouvintes e espectadores singulares e espalhados
globalmente) (HABERMAS, 1997, p.107 apud MAIA, 2000, p.5).
A cultura produzida para as massas provoca o nivelamento por baixo, o que traz
como benefício a democratização do acesso aos bens culturais, porém ao preço da diversidade
e liberdade de escolha de cada indivíduo. A cultura de massas ainda coloca o público em uma
postura passiva, por impossibilitar o diálogo. No rádio, televisão e cinema, o público é mero
espectador, e não tem a oportunidade de dialogar com os editores, ou com seus pares, o que
provoca a “perda do uso público da razão, da capacidade crítica, do poder de contrapor, de
contradizer, de assumir uma distância em relação aos fatos oferecidos para consumo”
(ARAGÃO, 2002, p. 185).
processos públicos de comunicação sofrem menos distorção, quanto mais estiverem próximos
à sociedade civil oriunda do mundo da vida, segundo Habermas, os pilares dos interesses
privados autênticos. Com este objetivo, é preciso garantir que os atores da sociedade civil
possam assumir um papel ativo e “pleno de conseqüências”, que torne possível "inverter a
direção do fluxo convencional da comunicação na esfera pública e no sistema político"
(HABERMAS, 2003, p.115).
lineares, multilaterais. Castells (1999) descreve um novo tipo de sociedade emergente a partir
da década de 80, como resultado da evolução das tecnologias de informação e comunicação, a
sociedade em rede. A Internet é a base instrumental desta nova sociedade que permanece
interconectada em muitas de suas funções, em todos os momentos. Com a Internet, os antes
passivos cidadãos da esfera pública agora aumentam suas possibilidades de diálogo e
participação nos discursos constituintes da opinião pública.
Não se pretende aqui, fazer uma vasta revisão do conceito de sociedade em rede,
apenas uma breve conexão entre sua constatação, segundo o sociólogo Manuel Castells e o
surgimento de um espaço público autêntico, como descreve Habermas. Castells atribui ao
desenvolvimento tecnológico e às mudanças estruturais no capitalismo o surgimento de uma
nova organização da sociedade, ou, em suas palavras:
Assim, o autor deixa claro o vínculo entre o surgimento de uma nova sociedade
interconectada, e o surgimento de novas mídias. O que diferencia estes novos meios de
comunicação é a capacidade de interligar os participantes desta nova sociedade, fazendo com
que sejam também produtores em um processo mútuo de comunicação ativa e passiva.
Pode-se afirmar que um dos fortes componentes deste movimento emergente, que
leva as questões sociais da "periferia ao centro", foi a evolução dos meios de comunicação e
seu potencial de interconectar a sociedade civil. Mais precisamente, foi o amadurecimento da
Internet como meio de comunicação, que reverteu a lógica um-para-muitos das tradicionais
mídias de comunicação de massa.
Esta dissertação trabalha com a premissa de que a Internet, e o potencial das novas
mídias interativas e de comunicação multilateral, representam uma possibilidade para o
ressurgimento da originalidade do espaço público como espaço do debate e da argumentação.
É neste ponto que o advento das tecnologias de comunicação e informação ganha
importância. Em especial a Internet - por ser caracterizada como a rede das redes - que abriga
os diversos coletivos sociais agrupados por interesses comuns, e lhes concede a prática da
expressão de suas idéias e de suas vontades, e ainda, devido a sua topologia altamente
descentralizada, recebe menores níveis de influência do sistema político e econômico que
formam as hierarquias de poder. A Internet é um possível espaço social de formação da
opinião pública e da problematização das questões do mundo da vida, com visibilidade e
alcance suficiente para endereçar tais questões ao sistema político, e facilitar a elaboração das
soluções de maneira coletiva e participativa.
41
Tecnologias - são sociais na sua produção e no seu uso, isto é, requerem um dado
número de pessoas trabalhando em conjunto. A tecnologia torna possível o processo de
transformação e industrialização, através do processamento de determinados tipos de
materiais. No campo da comunicação podem ser citados como exemplos tecnologias como a
imprensa ou o rádio, que foram produzidos socialmente em um processo seqüencial de
transformação de bens e materiais.
natureza, sociedade e tecnologia. Seu foco é tentar compreender tais relações e seu vínculo
com a produção de conhecimento nos tempos atuais. Para o sociólogo, a dificuldade de
entendimento do desenvolvimento técnico e científico na atualidade está relacionada ao
emprego equivocado de categorias limitadas para a compreensão de elementos fortemente
entrelaçados. O autor chama por purificação o processo de distinguir as margens ontológicas
de humanos e não-humanos. E por tradução o movimento contrário, de mistura entre gêneros
de natureza distintas, que ocorre no surgimento de elementos híbridos.
Sua crítica está no fato de que ao longo do tempo adotamos a postura de purificar
os elementos, buscando dar visibilidade a sua natureza original, quando no entanto, este
processo tornaria ainda mais complexa a relação entre humanos e não-humanos. Por sua vez,
o autor sugere a compreensão dos híbridos a partir de uma nova categoria, que não permite
dissociar as duas zonas de natureza e sociedade.
A perspectiva traçada por Latour recai sobre o conceito de redes, uma vez que
concebe um híbrido como um agenciamento de sociedade, técnica e natureza. Pedro (2003)
sugere que iremos perceber a amplitude das ligações entre os gêneros, na medida em que
tentarmos estabelecer fronteiras entre os mesmos.
Cada vez que um elemento trafega na rede, ele carrega consigo toda a sua história,
transportando-a para outros locais que não o seu de origem e estendendo seu alcance
- transformando, assim, toda a rede. Neste movimento, humanos e não-humanos são
igualmente mobilizados. (PEDRO , 2003, p. 29)
Embora a noção de rede seja um dos alicerces teóricos e práticos do que está
sendo proposto neste trabalho, este percurso será tratado em outro momento. A menção às
redes aqui se refere ao paralelo possível entre o conceito de meta-tecnologia, trazido por
Braman, com a compreensão sócio-técnica da tecnologia apresentada por Latour. Em ambas
as análises, há um grau elevado de entrelaçamento entre sociedade e tecnologia, que dá
origem a uma noção maior, sistêmica e abstrata. Tal noção possivelmente nos impediria de
tentar a distinção dos papéis de cada gênero em um contexto social mediado pela técnica.
atenção para o fato de que nem sempre ela torna as coisas mais fáceis, mais eficientes, mais
eficazes em termos de custos, mais agradáveis, mais estéticas, mais sadias, ou mesmo faz o
que se destina a fazer. A tecnologia pode até mesmo ser regressiva em alguns aspectos.
"Crianças que assistem muita televisão podem deixar de desenvolver importantes capacidades
motoras". Ou mesmo destruidora, como no caso do armamento bélico, fonte, aliás, de
importantes evoluções tecnológicas na história da humanidade, incluindo a computação.
Fazer com que novas tecnologias deslanchem por vezes se transforma numa tarefa
ainda mais difícil do que o próprio processo de criação que gerou seu desenvolvimento.
Inúmeras barreiras podem surgir ao longo do processo de adoção de uma tecnologia, muitas
dificilmente poderiam ser previstas. Para obter sucesso, uma nova tecnologia precisa
satisfazer diversas condições de custo, localidade, clima, cultura, legado tecnológico, para
citar algumas. Inúmeras tecnologias surgem a todo o momento, mas sua aplicação real a um
número significativo de pessoas, não é trivial. Para exemplificar, a telefonia convencional
vem sendo ameaçada por serviços de VOIP13 que prometem substituir os serviços de
telecomunicação via voz pagos, por serviços gratuitos viabilizados por conexões na Internet.
Entretanto a disseminação massificada desta tecnologia depende de diversos aspectos, como a
própria expansão da Internet, aspectos culturais e interesses privados que unem forças
contrárias às novas tecnologias. Embora autores como Don Tapscott (2006) e Cris Anderson
(2008) afirmem que o futuro das telecomunicações é ser gratuita, há, no mínimo, um longo
caminho até lá. Neste meio tempo, outros fatores podem modificar aquilo que parece ser o
rumo natural das evoluções tecnológicas e fazer surgir novas tendências e possibilidades.
13
Voz sobre IP (Internet Protocol): Refere-se a uma tecnologia capaz de transmitir voz humana em
tempo real pelas redes de computadores tal como a Internet.
45
14
Organização das Nações Unidas (ONU)
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por parte das autoridades públicas, para: a) prestar mais e melhores serviços aos
cidadãos, b) fornecer pontos de acesso unificados e flexíveis para satisfazer
múltiplas necessidades de informação e serviços, c) aumentar a produtividade,
qualidade e valor dos seus serviços, d) estar atento "à medida" das necessidades de
cada usuário, e) resolver trâmites, consultas, reclamações e sugestões online, f)
aumentar a participação social, g) melhorar a qualidade e reduzir os custos das
transações no interior do Estado, h) reduzir o custo (em dinheiro, tempo e
transtornos) dos procedimentos do público, i) aumentar a transparência da gestão
pública. (TESORO, 2004, p.2)
Outros autores consideram que o termo governo eletrônico ocupa uma posição
passageira, ou ao menos conceitualmente limitada, sendo na verdade um esforço para que seja
alcançada a governança eletrônica, que pode ser definida como
Como destaca Zugman (2005, p. 48) em 2 de abril de 2000, foi criado, mediante
decreto presidencial, o Grupo de Trabalho em Tecnologia da Informação (GTTI) com o
objetivo de analisar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas com as novas formas
de comunicação eletrônica. O grupo tinha por objetivo lançar as bases para a sociedade digital
e seus esforços concentraram-se em três linhas de ação: universalização dos serviços, refere-
se ao acesso à Internet; o governo ao alcance de todos promove a informatização dos
processos da administração pública; enquanto a infraestrutura avançada mantém o foco no
estabelecimento de uma rede entre governo, setor privado e P&D (pesquisa e
desenvolvimento).
15
Disponível em: <http://www.redegoverno.gov.br>
51
16
Conforme destacado no Balanço Preliminar de dois anos de Governo Eletrônico. Disponível em:
<http://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_198Balanco_preliminar_2_Anos.pdf>
52
Governo Eletrônico (CEGE), que desde 2003 passou a ser formada pelos seguintes comitês
técnicos:
• Governança Eletrônica
à garantia da privacidade e segurança da informação, para que os direitos civis não sejam
violados.
Embora esta seja uma questão de alto teor técnico, os fatores culturais são ainda
mais fortes nas iniciativas que buscam gerar resultados rápidos. Serna (2004) destaca que as
mudanças organizacionais não estão restritas aos elementos técnicos (tecnologia, estrutura,
processos, etc.), porém, ainda mais importante, envolve também a troca de valores e
comportamentos que configuram a cultura organizacional existente.
Teórica - onde são revistas todas as teorias que orientam as decisões, políticas e
ações administrativas dos governantes e servidores do aparelho estatal. Toda organização
desenvolve uma maneira própria de enfrentar mudanças, alimentando suas crenças e
60
Estes modelos têm recebido o nome de open government ou governo 2.0, baseado
na abertura, transparência e, principalmente, na constante interação com a sociedade em busca
de um aumento na participação do cidadão no desenvolvimento de políticas públicas e
melhoria dos serviços. Sob uma ótica tecnocrata, podemos entender o open government como
a incorporação das novas tecnologias de comunicação, informação e colaboração, nos
processos governamentais. Já sob uma ótica política podemos entender o open government
61
como uma mudança de atitude de governo com relação ao cidadão, colocando este último no
centro dos processos políticos e estimulando ao máximo seu espírito cívico e participativo. A
intensidade nas relações entre os sujeitos sociais e os representantes do Estado promove a
possibilidade de amadurecimento das dinâmicas democráticas sem, no entanto, limitar-se a
compreensão destas mudanças a uma noção meramente técnica.
Gregório (2008), que intitula tal processo de mudança como governo 2.0, afirma
que este toma por base a incorporação de novas tecnologias como soluções da prática
institucional pública, capaz de acompanhar o processo de mudança de uma sociedade aberta e
atual. Estas mudanças estão associadas à gestão centrada no cidadão, à compreensão do
governo integrado e organizado em rede, a co-produção de serviços e políticas públicas.
Não contemplará o escopo deste trabalho, buscar uma definição brasileira para o
conceito apresentado, e pela ausência de uma investigação mais profunda do termo adequado
para representar este status de governo, será utilizado o termo open government nas
referências futuras.
Existem inúmeras maneiras para explicar o que alguns autores chamam de web
2.0, ou ,como adotado neste trabalho, web social. Boa parte das definições diz respeito a um
aspecto muito mais tecnológico do que social, uma vez que os códigos e ferramentas nos
quais as informações são formatadas e processadas estão permitindo uma comunicação cada
vez mais interativa. As interfaces dos sítios web estão mais dinâmicas e as experiências de
navegação exploram um comportamento ágil e baseado em multimídia, com muitos recursos
de som, filme e animação, não tão presentes no que seria a primeira fase da web. Estes novos
63
modelos de interação são fundamentais para prover melhores experiências na produção e uso
da informação no meio digital, e também para a interação entre diversos usuários em um
mesmo ambiente, o que é imprescindível em espaços colaborativos.
Para Tim O'Reily, que criou o termo web 2.0 em uma conferência em 200417, a
nova fase da web começou a ser liderada pelas iniciativas que sobreviveram a bolha da
Internet em 200118. Ele e sua equipe tentavam entender o que diferenciava as principais
empresas e serviços presentes na web no período pré e pós bolha. Em 2005 ele chegou a
conclusão de que era a "inteligência coletiva", cujo significado o autor não chegou a explorar,
mas a partir do seus exemplos pode-se constatar que se tratava das maneiras de agregar valor
aos serviços disponíveis na web, por meio do consistente relacionamento entre pessoas e
conteúdos. Nas suas palavras: "A lição: Efeitos na rede resultantes das contribuições dos
usuários são a chave para a supremacia de mercado na era web 2.0" (O'Realy, 2005). Ou seja,
O'Realy concluiu que os usuários da rede estavam privilegiando os serviços que exploravam a
sua capacidade de participar e contribuir para a melhoria do serviço e desenvolvimento da
web.
17
O evento atualmente é conhecido por Web2.0 Summit. Disponível em:
<http://conferences.oreillynet.com/pub/w/62/about.html>
18
A bolha da Internet foi um fenômeno de quebra em cascata de diversas bolsas de investimento no
final dos anos 90.
64
[...] Usuários adicionam valor. Mas apenas uma pequena percentagem de usuários se
darão ao trabalho de adicionar valor ao seu aplicativo através de meios explícitos.
Portanto, as companhias web 2.0 programam padrões para agregar dados do usuário
e gerar valor como um efeito paralelo ao uso comum do aplicativo. Como assinalado
acima, elas constroem sistemas que ficam melhores quanto mais as pessoas os
utilizam. (O'Realy, 2005)
O'Realy elencou o que seriam os temas-chave da web 2.019, entretanto, sua visão
tecnocrata dispensa aspectos importantes no contexto da participação pública e da
democracia. Para atender a esta necessidade, Chadwik (2008, p.11-16) reconstruiu o modelo
inicial de O'Realy de forma a conceder um aspecto político democrático à web 2.0, ou web
social. Os temas propostos por Chadwik serviram como inspiração para a seleção dos fatores-
chave abaixo:
19
Os temas-chave elencados por O’Realy podem ser lidos no artigo original disponível em <
http://oreilly.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html>
65
• A importância do conteúdo
simples de utilizar. Para atender a este fim, novas tecnologias e ferramentas de comunicação
são desenvolvidas e aprimoradas a todo o momento, com o objetivo único de promover maior
poder interativo e uma experiência mais rica do usuário quanto ao uso das interfaces de
software e hardware.
O princípio da web social está no fato de que ela está sendo construída de maneira
colaborativa. Grande parte dos indivíduos usuários da Internet participam da construção deste
ambiente digital interconectado de forma ativa. O que significa que a Internet não é apenas
um lugar para navegar, recuperar informações e consumi-las. Trata-se de um espaço virtual
por onde os sujeitos são motivados a compartilhar, socializar, colaborar, e, principalmente,
criar livremente através de comunidades interconectadas. A cultura da colaboração tem forte
impacto nas estruturas de governança e de comando, uma vez que as regras de
comportamento não apenas são alteradas para uma dinâmica mais livre, mas são ditadas pela
própria comunidade. Como conseqüência, surge uma série de mudanças nos sistemas
produtivos, na ordem política e no próprio sentido de cidadania.
álcool, do contrário sua expectativa de vida estaria em torno de seis meses. Bill já havia
tentado parar de diversas maneiras, até que percebeu que sozinho não seria possível vencer o
vício. Foi então que teve a idéia de formar um grupo de pessoas que passavam pelo mesmo
problema. Desta forma era mais fácil formar vínculos de confiança, afinal todos ali entendiam
o que os outros membros estavam passando. Desta forma surgiram os Alcoólicos Anônimos
(AA). Com o sucesso novos grupos se formaram e Bill, percebendo as características
imprescindíveis para que a idéia funcione, abriu mão do controle. Em qualquer lugar do
mundo é possível criar novos grupos. Não há uma unidade central e nem comando. Não há
fichas de inscrição, e ninguém controla a forma como cada grupo se organiza os como os
participantes procedem. Ao invés disto, o AA divulga suas práticas em uma cartilha que pode
ser seguida, ou alterada por qualquer indivíduo ou grupo. A fórmula idealizada por Bill foi
copiada por outros grupos de apoio, tomando proveito da descentralização para viabilizar
organizações que explorassem a colaboração entre os participantes da maneira mais autêntica
possível, baseando-se na confiança e liberdade. (BRAFMAN; BECKSTROM, 2007, p. 29)
ponto, ou peer-to-peer (P2P). Em fevereiro de 2000 os tribunais deram o ganho da causa para
as gravadoras, entendendo que o Napster facilitava a pirataria, seus proprietários foram
processados e impedidos de desenvolver novos programas. Mas o processo não surtiu o efeito
esperado, as redes P2P são descentralizadas e logo apareceram diversos outros programas de
compartilhamento de arquivos ainda mais descentralizados e dificilmente rastreados.
Enquanto o Napster tinha um autor conhecido, Shawn Fannig, os programas similares que
surgiram depois, como o Emule, são anônimos. Não se sabe quem os desenvolveu e, ao
contrário de seu predecessor, ele não mantém uma lista de arquivos em servidores centrais,
mas são totalmente distribuídos. Sem entrar no mérito da legalidade destas redes, seu
desenvolvimento, estrutura e motivação são fatos importantes de serem analisados do ponto
de vista da troca e compartilhamento de conhecimento. Estas novas práticas estão
transformando antigos valores de propriedade intelectual de maneira a impactar todo um
segmento a estabelecer novos modelos de negócio.
20
Wikipédia é uma enciclopédia livre que conta com a colaboração de milhares de usuários na Internet.
Disponível em <http://www.wikipedia.org>.
21 Esta estatística é atualizada diariamente na página inicial da Wikipédia. Disponível em
71
maior do que a tradicional Britannica22. A precisão das informações é um dos assuntos mais
questionados da enciclopédia livre. No entanto, esta mantém um artigo exclusivamente para
correção de erros da Britannica, numa espécie de demonstração de força23. O modelo
colaborativo e dinâmico da Wikipédia é um fenômeno da nova abordagem aberta e conectada
da sociedade atual. Os impactos das mudanças são tão grandes que a própria Brittanica
recentemente passou a adotar o modelo colaborativo24. Agora estudantes, professores e
pesquisadores podem submeter revisões nos artigos da tradicional enciclopédia, que até pouco
tempo se destacava como um modelo de produção centralizado.
<http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page>.
22 Informações obtidas na versão eletrônica vendida em DVD. Disponível em:
<http://britannicashop.britannica.co.uk/epages/Store.sf/?ObjectPath=/Shops/BritannicaShop/Products/ENCL_A
DLT_081>.
23 A lista de erros da Britannica é atualizada freqüentemente na Wikipédia. Disponível em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Errors_in_the_Encyclop%C3%A6dia_Britannica_that_have_been_corr
ected_in_Wikipedia>.
24 O novo modelo foi anunciado em junho de 2008 no próprio blog da enciclopédia Brittanica. Embora
tenha adotado o modelo participativo, a Brittanica continua sendo um produto comercial, somente assinantes
podem acessar artigos e submeter revisões. Disponível em: <http://britannicanet.com/?p=86>.
25 A plataforma 2collab é uma iniciativa do grupo Elsevier destinada à criação de comunidades online de autores e
pesquisadores, como forma de incentivar a inovação baseada no princípio de pesquisa aberta. Disponível em:
<http://www.2collab.com>.
72
programador Linus Torvalds. Ao criar um sistema operacional chamado Linux, teve a idéia de
abrir e compartilhar o código com outros programadores com o objetivo de aprimorar a base
inicial. Logo de início ocorreram mudanças significativas pela, ainda pequena, comunidade de
programadores, quando Linus resolveu disponibilizar o sistema operacional sob uma licença
pública dando margem para que qualquer pessoa pudesse utilizar ou modificar o sistema,
contanto que disponibilizasse as mudanças realizadas. Hoje o sistema operacional Linux é
utilizado por milhões de usuários, disputa mercado com grandes fornecedores de software, e é
amplamente utilizado em universidades, governos e na iniciativa privada. O software é
embutido em inúmeros equipamentos de marcas como IBM, Motorola, Philips, Sony, entre
outras (TAPSCOTT, 2007, p.37). Muitos outros casos de desenvolvimento de software de
código aberto se seguiram, e hoje representam uma tendência no segmento de tecnologia.
Nestes mercados a economia vem sendo movimentada pela prestação de serviços como
customização e capacitação ao invés da venda direta de produtos e licenciamento de software.
Tais iniciativas de software de código aberto demonstram que a colaboração e a participação
de milhares de indivíduos em um mesmo produto pode ser muito rica, e que o resultado final
é algo público que pode ser utilizado de forma livre.
32
Disponível em: <http://www.wikicrimes.org>.
75
• Círculos
Círculos em redes descentralizadas não têm regras a serem impostas, uma vez
que, por não possuir hierarquia, não seria possível impô-las. Em contrapartida existem as
normas que podem ou não serem seguidas. Tal autonomia é parte da motivação que convoca
de forma recorrente novos membros para a organização.
• Catalisador
• Ideologia
Construir uma rede a partir de outra pode ser mais fácil do que iniciar uma nova.
Os esforços para encontrar novos membros podem ser minimizados se for possível alinhar os
objetivos de uma nova organização às necessidades de membros de uma organização
preexistente. Por exemplo, promover um dicionário wiki (colaborativo) a partir dos usuários
da Wikipédia.
• Ativismo
33
Nos estudos citados os espanhóis perderam as batalhas contra os Apache que apresentavam uma topologia
altamente descentralizada, e viviam como nômades, mudando de lugar a cada perseguição. Quando um grupo era atacado
outro poderia se formar, e não havia um grande líder a ser caçado. Os espanhóis não tiveram a mesma dificuldade ao derrotar
os Astecas, que após terem seus líderes atacados, ficaram completamente enfraquecidos. Já o movimento abolicionista inglês
contou com diversos ativistas importantes como Thomas Clarkson e Willian Wilberforce.
77
Uma pesquisa de destaque foi conduzida pela física e bióloga Evelyn Fox Keller,
que fez seu doutorado em tema relacionado à teoria da complexidade. Suas pesquisas iniciais
eram relacionadas ao campo da matemática, mas em 1968 iniciou uma pesquisa para entender
o até então estranho comportamento do organismo Dictyostelium discoideum, que é
semelhante a uma ameba. O pequeno organismo, habitante de bosques, é normalmente
reconhecido como uma massa alaranjada cobrindo alguns centímetros de madeira apodrecida.
Ao observar o fungo por algum período de tempo será possível perceber que ele se
movimenta, porém sob certas condições climáticas ele terá simplesmente desaparecido. O
comportamento deste organismo era um mistério até a realização da pesquisa da Doutora
Keller, que apresentou um resultado bastante curioso.
O discoideum passa grande parte da sua vida como milhares de outras criaturas
unicelulares, cada uma delas movendo-se separadamente das companheiras. Sob
condições adequadas, essas miríades de células aglomeram-se novamente em um
único organismo maior [...]. O discoideum oscila entre ser uma criatura única e uma
multidão. (JOHNSON, 2001, p.10)
O desafio imposto pela descoberta – que atraiu uma série de disciplinas como
embriologia, matemática, informática e sociologia – era entender de fato como se dá o
comportamento de grupo coordenado. As primeiras teorias para explicar o fenômeno
buscavam pela presença de células líderes que comandariam toda a tropa com mensagens de
78
mais jovens, e embora uma formiga sobreviva apenas 12 meses, o coletivo desenvolve um
aprendizado superior.
Johnson não busca fazer nenhuma analogia direta entre formigas e seres humanos,
mas interpreta: se seres tão primitivos podem desenvolver tal inteligência coletiva,
possivelmente seres humanos também. E realizou estudos semelhantes a partir do
desenvolvimento das cidades. Concluiu que de fato as cidades aprendem, criam hábitos e
comportamento na medida em que se passam os anos, muito embora seus cidadãos não
sobrevivam por toda sua existência, como no caso de algumas cidades européias que
ultrapassam mil anos.
Este mesmo exemplo pode ser ampliado para diversos outros contextos, e mostra
de fato o equilíbrio entre forças que representam os interesses privados de cada indivíduo em
uma comunidade.
a uma estrutura complexa, de múltiplos atores, portanto a estratégia mais utilizada tem sido
fortalecer as interações entre estes atores, quais sejam comunidade científica e acadêmica,
setor privado, setor público, entre outros. A governança estabelece parâmetros básicos como
incentivos e estrutura para interação e atribuições gerais dos atores envolvidos, a partir deste
ponto a complexidade em um sistema de inovação passa a se auto-gerir. Este modelo
funcional se aplica a muitas outras áreas, onde incentivos dão a partida em sistemas
complexos com a finalidade de buscar um equilíbrio entre a auto-organização e a ordem.
Então Johnson (2003) mostra que a inteligência em uma ordem superior se forma
a partir da reunião de fatores simples como a informação local. Cada indivíduo em uma
cidade visualiza e se preocupa com os problemas que estão na sua fronteira, como retirar o
lixo, aumentar a segurança da sua rua, melhorar a educação da escola do seu filho. No
entanto, somadas todas as interações, e principalmente, passado tempo suficiente para
provocar mudanças, esta informação local, forma uma espécie de consciente coletivo. Isto
acontece mesmo em sistemas primitivos como em formigueiros ou colônias de bactérias. Ou
seja, indivíduos em uma comunidade não precisam necessariamente de uma macrovisão,
bastando estarem preocupados e engajados com suas próprias questões para participarem de
um movimento maior, que buscar responder aos problemas próprios da comunidade. Johnson
esclarece:
dando suma importância às calçadas como o meio pelo qual ocorrem as interações entre os
moradores. Sem as calçadas não haveria interações, e problemas comuns não poderiam ser
compartilhados e discutidos. As calçadas são os meios pelos quais os fluxos de informação
especializada passam gerando um legado não especializado de informação. As autovias e
viadutos não cumprem o mesmo papel, pois a distância e a alta velocidade dos carros
impedem a livre comunicação, e não havendo troca de informação, não há experiência
acumulada e, portanto, não há aprendizado consistente, tampouco consciente coletivo.
Construir boas calçadas em cidades significa dar aos cidadãos a oportunidade de interagirem,
problematizarem e elevar o nível de consciência da comunidade.
Esta noção é também muito clara em ambientes online. Diversos sítios da web,
incluindo os governamentais, são desenvolvidos sem "calçadas", isto é, sem espaços de
82
imposta pelos sistemas fechados e até mesmo pelos direitos autorais quanto às dinâmicas de
inovação e acesso à cultura. Lawrence Lessig (2004, p.29) chama atenção para a
democratização das máquinas fotográficas, liderada pela inovação da Kodak em 1988, quando
George Eastman desenvolveu o filme flexível possibilitando criar máquinas que podiam ser
utilizadas por amadores, conforme o próprio manual de instruções da máquina:
Vale lembrar que até então a fotografia era uma prática extremamente profissional
somente exercida por pessoas capacitadas. A Kodak criou um mecanismo que permitiu que
qualquer cidadão passasse a se expressar, sem a presença de intermediários. "Ferramentas
democráticas dão à pessoa comum um meio de se expressarem de maneira mais simples do
que com as ferramentas que existiam antes." (LESSIG, 2004, p.31)
E a resposta das cortes foi que a fotografia era livre para ser experimentada por
qualquer pessoa sem que esta precise pedir permissão, com poucas exceções. O que permitiu
um avanço democrático e criativo na fotografia global. Hoje estes mesmos argumentos são
84
muito familiares em outros cenários de luta contra a economia livre e aberta como na música,
filmes, livros etc. As resistências às evoluções tecnológicas são naturais, quando os sistemas
econômicos são abalados por novas práticas sociais. Entretanto decisões como a da
propriedade do objeto fotografado, no final do século XIX são tão importantes para o
desenvolvimento da cultura que não podem passar despercebidas.
Lessig chama atenção para o fato de que atualmente vivemos uma era digital, em
que a alfabetização digital, ou seja, o domínio sobre as mídias digitais é tão importante quanto
a alfabetização tradicional. Aprender a raciocinar nesta nova ordem é fundamental ao
desenvolvimento cognitivo de qualquer criança ou adulto. Lessig entende que as limitações
legais quanto ao compartilhamento e uso de conteúdo digital criam uma barreira semelhante a
que impediria a evolução e popularização da fotografia caso a resposta das cortes do século
XIX fossem favoráveis à proibição das fotografias sem permissão. Isto implica em um uso
retraído da capacidade criativa dos indivíduos que manipulam conteúdo e tecnologias. As
restrições legais aprisionam a criatividade humana, em favor do lucro sobre a proteção restrita
a pequenos grupos. Para Lessig a forma como as crianças são educadas e o sistema legal que
sustentamos são um terreno fértil para a formação de "foras-da-lei", ou da capacidade de
suprimir o potencial criativo dos jovens. Nós devemos
entender como as crianças que crescem no ambiente digital pensam e o que elas
querem aprender. [...] Estamos criando um sistema legal que suprime
completamente a tendência natural das crianças digitais de hoje em dia. [...] Nós
construímos uma arquitetura que libera 60% do nosso cérebro [e] um sistema legal
que fecha exatamente essa parte do cérebro. (LESSIG, 2004, p.42)
Com efeito, estamos educando os jovens para viver em uma sociedade digital com
valores do mundo físico. Mesmo que não tentemos responder, de fato, a polêmica pergunta se
a propriedade intelectual é mesmo equivalente a outros tipos de propriedade, não é possível
deixar de notar que o compartilhamento de uma idéia ou de um arquivo digital é diferente do
empréstimo ou roubo de um livro ou um automóvel. Ao ceder um livro impresso, ficamos
sem a posse deste, ao compartilharmos uma idéia ou permitirmos a cópia de um arquivo,
nossa propriedade continua em nosso domínio, assim como uma idéia. Isto já seria motivo
suficiente para que haja reflexão sobre os rumos da economia digital e da informação.
85
34 Disponível em http://sourceforge.net
86
participativa.
A produção neste cenário tem um forte apelo voluntário, mas não necessariamente
altruísta, pois é movida pelo interesse de cada indivíduo no desenvolvimento de algo novo. As
leis da economia tendem a apontar demanda por uma produção cada vez mais focada no
indivíduo, seus valores, personalidade e gosto. A produção de bens e serviços em massa perde
há algum tempo espaço para ofertas personalizadas e adequadas à necessidade de cada
consumidor. Portanto, faz algum sentido que redes auto-organizadas de produtores de
conhecimento poderão contribuir no processo produtivo, pois têm melhores condições de
especializar sua produção para atender novas demandas.
Uma das teorias mais adequadas para este contexto, a Lei de Coase, data de 1937
e foi elaborada pelo socialista inglês Ronald H. Coase. O pesquisador procurava entender o
sucesso do modelo fordista, que contrariava as leis de oferta e demanda, segundo seu
entendimento, já que tais leis apontariam para o surgimento de compradores e vendedores
individuais, ao invés de se reunirem em grandes empresas que padronizam oferta (COASE,
1937, p.1). Uma das principais razões para este comportamento apontadas pelo autor estava
no custo de produção. Naquela época os custos de fragmentação da produção ainda eram
muito altos, os efeitos da globalização ainda não podiam ser percebidos. Como conseqüência,
era muito mais barato produzir internamente um bem como um veículo, em toda a sua cadeia
de produção. Em resumo, a Lei de Coase afirma que enquanto o custo para produzir um bem
internamente for menor que fragmentar esta mesma produção com terceiros, faça-o
internamente. Esta lei é importante, pois se manteve intacta até os dias de hoje, uma vez que
as mudanças ocorreram justamente nos custos de produção colaborativa. Os custos da
economia de bens imateriais, baseada em informação, aliados aos avanços da globalização e
ao surgimento da rede mundial de comunicação, permitiram que os consumidores, antes
agentes passivos no processo produtivo, passassem a acumular a função de produtores. Surge
então uma grande cadeia de produtores e consumidores individuais, tal como previsto pelas
leis de oferta e demanda.
35
Prosumer é uma expressão para representar a função de produtor e consumidor em um mesmo
agente.
36
Disponível em: <http://www.camiseterias.com.br>
37
Disponível em: <http://www.freebeer.org>
89
Ao tratar dos estudos sobre as próximas gerações de jovens, vale notar que a
maior parte das pesquisas existentes são realizadas em países desenvolvidos, onde diversos
obstáculos de inclusão social e digital estão mais bem equacionados, se comparados a países
em desenvolvimento como o Brasil. As políticas de educação também são tipicamente mais
desenvolvidas o que é determinante para o resultado final. O objetivo da análise destes
estudos está na compreensão do potencial que as novas gerações têm em absorver as
mudanças de uma sociedade que se organiza em redes, desenvolve criticidade e quebra
diversas regras dos modelos tradicionais. Não é objetivo do presente trabalho, afirmar
tendências, tampouco assegurar tais perspectivas como único caminho para o
desenvolvimento da sociedade para os próximos anos, mas sim compreender e poder justificar
uma oportunidade viável de transformação social pela via da informação e da capacidade de
agregar valor democrático em um mundo conectado.
Uma pesquisa de grande destaque deu o nome de Geração Net a este novo grupo
de jovens conectados. Tapscott (2006, p.64) ressalta que "o modus operandi da Geração Net é
a formação de redes": Orkut, MySpace, Facebook, Youtube, Flickr, etc., são só alguns
exemplos de comunidades online quase totalmente gerenciadas por grupos de jovens que
passam boa parte do seu tempo explorando conexões com seus pares, e tentando tirar o maior
benefício disto possível. As redes sociais concentram o maior volume de tráfego de
informações existente na Internet atualmente, e a tendência é que esta concentração se torne
ainda maior. Seja pelo fortalecimento das comunidades existentes, seja pelo aparecimento de
novas comunidades.
O mesmo autor realizou uma pesquisa para caracterizar estes jovens em 1997, em
seu livro A Economia Digital. Tal pesquisa foi atualizada em 2006, enquanto escrevia seu
novo livro Wikinomics. A geração estudada é nascida nos Estados Unidos, entre 1977 e 1996,
crescida em meio à explosão dos computadores pessoais e da própria Internet. "É a primeira
geração a crescer na era digital, e isso a torna uma força para a colaboração. Esses jovens
91
De fato, os integrantes da Geração Net estão não apenas criando novas formas de
arte, mas ajudando a engendrar uma nova abertura criativa e filosófica. A capacidade de
reprocessar a mídia, fragmentar produtos, ou de alguma forma, alterar a cultura do consumo é
um direito inato, e eles não deixarão que antiquadas leis sobre propriedade intelectual os
atrapalhem. (TAPSCOTT, 2007, p. 69)
38
Unidade mínima de processamento em um computador ou máquina digital.
92
• Conectividade: Passam boa parte do seu tempo interagindo com outros indivíduos na
realização de atividades entretenimento, aprendizado, produção e demais tipos de
relações sociais.
• Otimistas: Eles têm uma visão otimista sobre a maior parte das questões e procuram levar
tudo de forma produtiva e responsável, porém com descontração. Sua expectativa com
relação aos locais de trabalho é que estes apresentem desafios, que possam ser
solucionados de forma colaborativa e criativa, e que sejam financeiramente
compensadores.
Preocupada com as mudanças provocadas pela chegada dos jovens criados junto a
novos valores tecnológicos e de redes na sociedade, a Escola de Direito de Harvard
juntamente com outras universidades e institutos de pesquisa, mantém um estudo denominado
Digital Natives39 junto a pais, professores e pesquisadores especialmente para melhor
compreender as características dos jovens atuais, habituados à tecnologia e à informação
desde que nasceram, e que irão compor a sociedade futura.
• Introdução à vida digital – o que é um nativo digital? Qual o impacto estrutural que sua
geração provoca nos campos jurídico, social, educacional? O método de pesquisa
investiga a vida de jovens que utilizam a tecnologia de forma intensiva e busca problemas
e possíveis soluções para este fato.
39
Disponível em: <http://www.digitalnative.org>
94
• Pirataria digital – os nativos digitais cresceram com valores próprios com relação à
autoria e propriedade. A posse indevida e a distribuição de produtos de base intelectual
como músicas, filmes e livros, não são vistas como irregularidades, mas sim como direito
autêntico dos cidadãos. Isto implica na negação da propriedade intelectual e na
necessidade de revisão das formas de penalidade, ou das formas de comercialização
destes produtos.
• Qualidade da informação digital – a leitura típica dos nativos digitais se dá por fontes
de informação online. Existe uma precaução com a qualidade da informação digital, pelo
fato de que qualquer um, em tese, possa ser um editor de um site. Porém, a própria
dinâmica de influência e colaboração classificam as fontes de informação quanto à sua
relevância em determinado campo. A criação, disseminação e acesso a informação digital
de qualidade é fundamental para a sociedade da informação, bem como o aprendizado
individual sobre como recuperar fontes confiáveis de informação.
A web social trata como já foi visto fundamentalmente de uma mudança nas
relações entre produtores e consumidores de conteúdo, e na incorporação do aumento da
capacidade produtiva dos usuários de informação nos fluxos comunicacionais. Entretanto, o
desenvolvimento de uma série de ferramentas colaborativas é o componente técnico que torna
possível uma interação mais equilibrada e homogênea entre quem produz e quem consome
informação, tornando difícil a simples distinção destes dois grupos de agentes.
De uma forma geral, pode-se afirmar que as tecnologias sociais são a base
ferramental da esfera pública interconectada, tomando por base os espaços de discussão
presentes na teoria de Habermas, onde defende a função democrática das praças públicas nos
primórdios das sociedades burguesas. As ferramentas de comunicação de massa passam a
conviver com aquelas que permitem interatividade entre um número maior de pessoas. A
esfera pública interconectada opõe a natureza passiva dos leitores e usuários de informação,
ao invés disto, convoca todos os indivíduos conectados a participar do processo produtivo.
2.2.3.1 Blogs
40
Disponível em: <http://blogdokura.blogspot.com>.
41
Disponível em: <http://bsf.org.br>.
42
Disponível em: <http://technorati.com>.
98
43
Estatísticas colhidas no próprio portal Technorati pelo endereço <http://technorati.com/about>.
44
Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/blogs-do-minc>.
99
São assinados. Pode haver conteúdo anônimo, mas não é tão interessante, pois o
foco está justamente na opinião. Isto não significa que as identidades reais tenham que ser
reveladas, mas associar o conteúdo, seja um tópico ou um comentário, a um autor é uma boa
prática e torna a conversa mais aberta e sincera.
45
Linkback é um recurso que possibilita mapear a origem de um link tornando possível realizar o
caminho de volta. Pode ser comparado aos vínculos de mão-dupla previstos por Ted Nelson no projeto Xanadu,
que alguns críticos acusam que o criador da web, Tim Berners-Lee, teria deixado de fora.
46
Idéias, provocações.
100
Blogs têm sido utilizados por indivíduos pelo simples desejo de se manifestar, por
empresas que passam a adotar estratégias de marketing em comunidades, em ambientes
corporativos como ferramenta de registro e troca de conhecimento, por governos que desejam
diminuir a impessoalidade e a distância no relacionamento com os cidadãos.
2.2.3.2 Wikis
Woods (2007, p.10), autorizado por Ward Cunningham que inventou o conceito
em 199547, define wiki como sendo "uma coleção de páginas web que qualquer um pode
editar". Ainda assim, diferente do que se imagina, os ambientes wiki não são desprovidos de
47
O primeiro wiki, com o nome de WikiWikiWeb, foi desenvolvido em 1995 por Ward Cunningham.
101
regras e de governança. Cada comunidade tem suas regras para publicar e modificar
conteúdos, e as ferramentas gerenciam tais níveis de permissão.
A plataforma wiki tem como objetivo a busca contínua pela neutralidade, por meio
da conversação aberta. Há a premissa de que o debate entre muitos colaboradores com idéias
diferentes sobre o mesmo assunto pode gerar como resultado o consenso. Tipicamente as
discussões iniciam mais calorosas e participativas até se estabilizarem. Quando atingem o
estágio menos dinâmico, o conteúdo é considerado como válido pela maioria do grupo, o que
pode ser interpretado como consenso.
102
A figura 8 procura mostrar uma simples equação: assuntos debatidos com maior
intensidade em uma discussão tendem a neutralidade, ou seja, o consenso os debatedores. Na
Wikpedia, por exemplo, os debates normalmente iniciam com um alto índice de participação
até que se consolidam as definições dos termos. Como não existe autoridade, a discussão só
pára quando as argumentações de uns se sobressaem à de outros, o que representa algo bem
próximo do consenso.
proprietário pode visualizar os links salvos por ele naquele mesmo computador, os links
passam a ser salvos em um portal na web, em uma página associada ao usuário. Tanto o
proprietário da página quanto qualquer outro indivíduo pode acessar as páginas indicadas
como favoritas. Este tipo de serviço traz muita agilidade aos processos de troca de referências,
além de estimularem o compartilhamento do conhecimento.
Com isto, um usuário que aprecia determinado autor, pode não apenas ler o
material produzido por este autor, mas também acompanhar o que esta pessoa julga relevante.
Este exemplo pode ser ampliado para professores e alunos, bibliotecas e usuários, e muitos
outros cenários onde o conhecimento é a base da relação.
Os links ainda podem ser associados a etiquetas (termos escolhidos pelo próprio
usuário que funcionam como marcadores), o que facilita muito a recuperação posterior de
qualquer conteúdo salvo. O serviço de etiquetas, também conhecido como tagging, ou
“folksonomia”, é um tipo de classificação bastante utilizado na web social. Parte do princípio
de que a melhor maneira de classificar um conteúdo destinado a determinado público, é deixar
esta tarefa por conta dos próprios usuários. Desta maneira a organização do conteúdo estará
sempre associada ao perfil da comunidade, o que evita distúrbios de linguagem ou
imposições. Autores como Weinberg (2007) afirmam que quem detém poder sobre a forma de
organização do conhecimento sobre determinada comunidade, detêm poder sobre esta
comunidade. Para resolver este tipo de problema o autor sugere que recursos que atribuem a
tarefa de organização do conhecimento à própria comunidade sejam mais bem explorados.
Alguns estudos indicam que os ambientes ideais são aqueles que conseguem mixar
as formas tradicionais de classificação, realizadas por especialistas e técnicas específicas, com
as emergentes, elaboradas pela comunidade de usuários.
48
Disponível em: <http://delicious.com>.
104
Este serviço permite salvar e compartilhar links favoritos entre redes de contato, além de
monitorar temas que são salvos pelos diversos usuários da comunidade. Representa um dos
mais eficientes mecanismos de filtragem, pois ao invés do usuário recorrer a um serviço de
busca genérico, pesquisa sobre conteúdos apontados como relevantes pela comunidade em
geral, ou mesmo por aqueles indivíduos que este usuário considere como referência no tema
em que pesquisa.
2.2.3.4 Mashups
49
O termo interoperabilidade dis respeito à capacidade de comunicação entre sistemas computcionais.
105
Para citar outro exemplo, o Yahoo Pipes51 combina uma série de fontes de
informação como sites, blogs, bases de dados online e permite que o usuário faça a
combinação desejada com os diversos conteúdos, promova filtros, manipule os conteúdos
com ferramentas de tradução e dezenas de outras possibilidades. Como resultado o serviço
gera uma lista das informações que passaram por todo o fluxo de filtragem e tratamento de
informação configurada pelo usuário.
50
Google Maps é um serviço de mapas online. Disponível em: <http://maps.google.com>.
51
Disponível em: < http://pipes.yahoo.com>.
52
O serviço Flight Wait está disponível em: <http://www.flightwait.com>.
53
Disponível em: <http://www.faa.gov>.
54
Disponívem em: <http://www.programmableweb.com>.
55
Disponívem em: <http://www.appsfordemocracy.org>.
106
não precisam mais acessar dezenas ou centenas de sítios web para manterem-se atualizados,
pois passam a reunir todo o conteúdo de interesse, atualizado automaticamente, em um único
local.
De certo modo, o padrão RSS, pode ser comparado aos tradicionais Serviços de
Disseminação da Informação (SDI), e modificou a forma como a web pode ser lida, dando
agilidade e conforto os usuários de informação que desejam manter-se atualizados.
2.2.3.6 Podcasting
56
Disponível em: <http://reader.google.com>.
57
Disponível em: <http://www.bloglines.com> e <http://www.feedreader.com>.
58
Disponível em: <http://www.microsoft.com/brasil/windows/products/winfamily/ie/default.mspx> e
<http://br.mozdev.org>.
59
O termo é creditado ao jornal britânico The Guardian, que apresentou uma matéria sobre a revolução do áudio na web.
Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalmedia>.
107
gravar mensagens em áudio e disponibilizar em fontes de conteúdo, que podem ser assinadas
por inúmeros usuários utilizando aplicativos e dispositivos de áudio.
60
Disponível em: <http://www.gengibre.com.br>
61
Disponível em: <http:www.podcast.com>.
108
Open Government é também conhecido como governo 2.0 por alguns autores, que
traduziram o termo government 2.0. Diz respeito ao impacto da série de mudanças
provocadas, sobretudo, pela nova fase da web - abordada nos tópicos anteriores - nas
estruturas tradicionais de governo de países democráticos. O modus operandi da sociedade
conectada vem sofrendo modificações, entre outros aspectos, pela absorção e
desenvolvimento das tecnologias e comportamentos emergentes da web social.
Engajamento dos cidadãos: Os cidadãos passam a analisar e fazer mais por eles
próprios, pois têm a oportunidade de participar de maneira individual ou coletiva como co-
produtores das políticas públicas.
Estes, entre outros aspectos, fazem parte das bases do conceito e ambiente de
aplicação do open government. Um dos principais pontos desta abordagem está no
envolvimento do cidadão nas questões públicas de seu interesse. Ou melhor, está na
publicização dos interesses privados, a partir do engajamento dos cidadãos nas ações de
governo.
De uma forma geral, o Governo Eletrônico continua sendo o pano de fundo desta
discussão, uma vez que estejam sendo considerados os aspectos tecnológicos que deverão
influenciar governo e sociedade nos próximos anos. As políticas atuais de Governo Eletrônico
já representam uma nova forma de governança que possibilitam maior agilidade,
transparência, mobilidade e presença do governo junto ao cidadão e empresas. A diferença
está na aplicação dos recursos colaborativos da web social, que além do acesso eletrônico às
informações e serviços do governo, garantem ao cidadão a possibilidade de consultar, opinar,
deliberar e construir ações conjuntas sobre diversos temas, sobretudo aqueles de seu interesse.
62
Disponível em: <http://www.patientopinion.org.uk>.
111
63
Disponível em: <http://petitions.pm.gov.uk>.
64
Disponível em: <http://wiki.policeact.govt.nz>.
65
O serviço de consultas publicas da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do
Planejamento está disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/consulta-publica>.
112
São estas características que fazem da Internet o novo espaço público, que
atualmente reúne novas esperanças para a democracia e para efetividade dos governos.
66
Disponível em: <http://www.theyworkforyou.com>.
67
Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br>.
113
Foi dada ênfase, sobretudo, aos ambientes que utilizam as mídias sociais como
plataformas de interação, o que inclui as ferramentas descritas no capítulo “4.2.6 Plataforma
para colaboração: as mídias sociais” deste trabalho. Contudo, a própria definição do que
constitui as mídias sociais não é muito precisa. Também não há exatidão sobre o que difere
uma tecnologia colaborativa como sendo uma mídia social e as tecnologias colaborativas que
não se configuram desta maneira. Tudo indica que as mídias sociais foram classificadas desta
maneira por pertencerem a um conjunto mais recente de ferramentas que estimularam a
participação em massa, não restringindo o acesso a um número limitado de pessoas. Por esta
dificuldade conceitual, a preocupação maior esteve em identificar ambientes que provocassem
o diálogo entre os cidadãos, e destes com os representantes de esferas governamentais e isto
incluiu ferramentas que não são descritas na literatura como sendo parte das mídias sociais, e
por isto também não foram descritas neste trabalho, como por exemplo os fóruns de discussão
e as salas de bate-papo, que aparecem em alguns casos analisados.
• Grupo 1: Dez iniciativas que estimulam a participação social gerenciadas por governos
estrangeiros.
114
Todos estes países ocupam boas posições no relatório das políticas de governo
eletrônico elaborado pela ONU em 2008 – UN E-Government Survey 2008: From E-
Government to Connected Government - que contemplava os critérios para seleção de casos a
serem analisados.
3.346 comentários
Sustainability Nova Zelândia Discutir boas práticas de sustentabilidade Desde dezembro de 70 tópicos
ambiental em conjunto com a sociedade 2007 200 comentários
Future Melbourne Austrália Elaborar a visão estratégica da cidade de De maio a junho de 30.000 visitas
Melbourne no horizonte 2010-2020 junto com os 2008 6.500 cidadãos
cidadãos 200 contribuições
Australian Youth Austrália Engajar os jovens nos assuntos que irão Desde março de 2008 113 idéias
Forum influenciar seu futuro 400 votos
Serviços de Organizações Não-Governamentais
Patient Opinion Reino Unido Avaliar os hospitais do sistema nacional de saúde Desde 2006 10.000 opiniões
Fix My Street Reino Unido Evidenciar e discutir problemas locais Desde 2008 800 relatos por
semana
800 soluções por mês
28.000 registros
They Work For You Reino Unido Evidenciar as atividades dos membros do Desde 2006 2.000.000 acessos em
parlamento 2007
My Bike Line Global Denunciar violações nas ciclovias de diversas Desde agosto de 2006 6.000 denúncias
cidades 1.700 cidadãos
117
Public Markup Estados Unidos Estimular a participação social na consulta Desde 2008 6 atos legais
pública das legislações discutidos
1.000 comentários
Serviços do Governo Brasileiro
Legislação Inmetro Brasil Disseminar a legislação técnica sobre metrologia Desde março de 2008 Não disponível
e qualidade
Consulta Pública do Brasil Aumentar a transparência e a participação na Desde 2004 20 regulamentos
Governo Eletrônico consulta pública da regulamentação do Governo discutidos
Eletrônico 800 comentários
Blogs do Ministério da Brasil Discutir com a sociedade temas da pauta da Desde 2003 Não disponível
Cultura cultura no Brasil
Transparência no Portal Brasil Estimular a transparência e a participação social Desde 2005 49 bate-papos
da Câmara dos no legislativo 10 fóruns de
Deputados discussão
1 blog
Portal da Transparência Brasil Prover transparência na aplicação dos recursos do Desde de novembro Não disponível
do Governo Federal Governo Federal de 2004
118
Serviço
Peer2Patent
URL
http://www.peertopatent.org
País
Estados Unidos
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
As comunidades são formadas por qualquer usuário que tenha interesse em colaborar
com informações nas discussões durante o processo de exame de patentes.
119
Objetivos
68
Disponível em: <http://dotank.nyls.edu/communitypatent/P2Panniversaryreport.pdf>
120
Ferramentas e recursos
• Sistema de comentários
• RSS
Período de atividade
Intensidade de uso
Descrição
Comentários
As principais dificuldades eram como resolver estes problemas sem encarecer ainda
mais os custos do processo? O que seria inevitável caso fosse necessário ampliar a
equipe de analistas, investir em formação contínua e estabelecer convênios com a
comunidade científica. A solução foi propor um modelo aberto de examinação dos
processos de patentes, desta forma brotam benefícios para diversas partes:
• muitas das questões mais complexas acabam sendo respondidas nos comentários
e discussão, antes mesmo da análise substancial do examinador;
Características identificadas:
Tagging: A classificação das discussões é realizada pela própria comunidade, o que lhes
garante autonomia e um domínio próprio de conhecimento.
Capacitação: existem diversos tutoriais online (vídeo, áudio, texto) que explicam como
participar efetivamente.
Benefícios
• Melhorar a qualidade dos registros, uma vez que sejam analisados por um
volume maior de especialistas nas áreas específicas, e não apenas por técnicos
burocratas.
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
Change.gov
URL
http://www.change.gov
País
Estados Unidos
Entidade gestora
Público-alvo
Cidadãos norte-americanos
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
125
• Blog
• Fórum de discussão
• Sistema de comentários
• Sistema de votação
Período de atividade
Intensidade de uso
Nos aproximadamente 3 meses em que o sítio ficou disponível ocorreu uma intensa
participação nos diversos serviços oferecidos, para destacar:
Join the discussion: Fórum livre de discussão sobre diversos temas apresentados sobre
forma de questão.
A última pergunta apresentada foi: “Quais causas sociais e serviços fazem a diferença
em sua comunidade?”. Para esta única questão ocorreram mais de 4.000 comentários.
Descrição
O sítio é organizado em várias seções que apresentam a fase de transição, entre outras,
a equipe de governo, a agenda sobre os diversos temas como educação, economia,
segurança, saúde, trabalho.
126
Outra seção é destinada a participação social com serviços como fórum de discussão,
submissão de idéias e propostas, cartas recebidas de grupos e movimentos sociais
durante a campanha e uma área de perguntas e respostas.
O sítio ficou disponível logo após a divulgação da vitória de Barak Obama e foi
desativado em 20 de janeiro de 2009, dia da posso do presidente eleito.
Comentários
Nesta seção as questões são levantadas pela equipe de governo e discutidas pelos
cidadãos. Pôde-se notar um acompanhamento preciso da equipe, ao retirar dúvidas e
responder a críticas de forma transparente. Algumas questões tiveram mais de 4.000
participações dos cidadãos.
Este espaço permite que os cidadãos tenham acesso aos documentos e relatórios
enviados por diversos grupos de interesses ou de movimentos sociais. Os textos
encaminhados para o novo governo são disponibilizados para a discussão por onde
passam pelo crivo social, que determina suas posições e a relevância do assunto sob
suas perspectivas.
Espaço para responder as dúvidas, críticas e sugestões para o novo governo de forma
aberta e transparente.
O portal Change.gov apresenta fortes traços de democracia, em primeiro lugar por ser
um espaço de transição entre partidos opostos num mesmo governo. O fato de ser um
serviço oficial mostra o convício democrático entre governo em exercício e governo
eleito, apresentando a transição como um processo natural da democracia.
Benefícios
Riscos
• Baixa participação
Serviço
Evolution of Security
URL
http://www.tsa.gov/blog
País
Estados Unidos
Entidade gestora
Público-alvo
Cidadãos norte-americanos
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Blog
• Sistema de comentários
Período de atividade
Intensidade de uso
130
• Em 11 meses:
Descrição
Os artigos são escritos apresentando novas idéias, que são imediatamente discutidas
com os cidadãos.
Comentários
O blog possui política clara de participação e sofre moderação, para que abusos sejam
evitados. Além disso os administradores recomendam o anonimato para que os
participantes não se coloquem em situação de risco e possam contribuir de forma mais
aberta. A identidade dos participantes de comunidades online é necessária em muitos
contextos para aumentar a confiança, mas como este caso envolve riscos à vida dos
membros, torna-se uma exceção. O anonimato pode ser fundamental para a riqueza de
detalhes e sinceridade nas opiniões e informações compartilhadas em grupo.
Benefícios
Riscos
• Baixa participação
Serviço
E-petitions
URL
http://petitions.number10.gov.uk
País
Reino Unido
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
Período de atividade
Intensidade de uso
134
Descrição
O serviço foi criado com o objetivo de oferecer novos canais para que os cidadãos do
Reino Unido pudessem encaminhar petições. Antes os meios mais comuns eram o
correio tradicional e a entrega pessoal do edifício do gabinete do Primeiro Ministro.
Comentários
O serviço e-Petitions foi criado para solucionar um problema real vivido tanto pelos
cidadãos do Reino Unido, quanto do governo do Reino Unido, que utilizavam um meio
limitado de tratar questões coletivas, tal como as petições.
Antes do serviço online, as petições deveriam ser criadas pelos cidadãos, que ainda
deveriam reunir um número significativo de assinaturas antes de submetê-lo ao
gabinete do Primeiro Ministro. Com isso, ocorriam inúmeros casos de petições
redundantes, e cidadãos que reivindicavam a mesma causa não tinham visibilidade um
do outro. Além disso não havia transparência no processo de análise e avaliação das
petições, o diálogo era dificultado pela falta de canais de comunicação.
Após o lançamento do serviço usuários que enviam petições sobre o mesmo tema são
orientados a se reunirem. Tipicamente o governo dá prioridade às petições mais
antigas, e as demais semelhantes são rejeitadas.
135
Existe uma política bastante transparente quanto ao julgamento das petições com
critérios sobre falsidade, relevância, duplicidade entre muitos outros casos.
Benefícios
Riscos
• Baixa participação
• Gerenciar a duplicidade
69
Disponível em: < http://mysociety.org >
70
Código-fonte disponível em: < https://secure.mysociety.org/cvstrac/dir?d=mysociety/pet>
136
Serviço
URL
http://www.showusabetterway.co.uk/call/ideas/index.html
País
Reino Unido
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Sistema de comentários.
Período de atividade
Intensidade de uso
Descrição
O governo produz massas de informação sobre diversas áreas como saúde, educação e
criminalidade. Partindo deste cenário existem inúmeras bases de dados públicas que
estão sendo liberadas para uso com aplicações combinadas, dando a possibilidade de
surgir novos serviços com a ajuda da sociedade.
Para estimular a participação social na busca por idéias da utilização destes dados
públicos o governo, em parceria com o sítio Power of Information Taskforce, criou um
concurso para reunir um conjunto de idéias relevantes que possam compor sua agenda
de desenvolvimento. Diversas iniciativas projetadas por entidades privadas e não-
governamentais deram inspiração ao governo, que pretender estimular a criatividade e
inovação e melhorar a oferta de serviços de informação.
Comentários
Figura 13. Show Us a Better Way: Quais dados públicos estão disponíveis?
• Lista de escolas
• Gastos públicos
O concurso está dividido em três serviços. Os cidadãos podem submeter uma nova
idéia, e também analisar e discutir as idéias submetidas por outros usuários.
As idéias submetidas estiveram abertas para avaliação por outros usuários. Ao final
foram escolhidas 14 idéias que serão estudadas e implementadas em parcerias entre o
governo e empresas.
A iniciativa é uma referência para outros concursos e bancos de idéias semelhantes, que
parte do princípio que de grandes idéias podem surgir da sociedade, se os fatores ideais
são satisfeitos, como abertura e transparência. Além disso, o conjunto de idéias reunidas
oferece um potencial criativo para que governos e voluntários de outros países também
possam usufruir.
Benefícios
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
URL
http://www.policeact.govt.nz
País
Nova Zelândia
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
Wiki
Período de atividade
Intensidade de uso
Não disponível.
143
Descrição
O projeto teve como objetivo principal rever a legislação da polícia da Nova Zelândia,
que datava de 1958. Naquela época a estrutura do governo era completamente diferente,
bem como os desafios, técnicas e ferramentas disponíveis. A intenção desta revisão é
desenvolver uma nova polícia.
A participação social no projeto foi dividida em três fases: na primeira fase foram
disponibilizados uma série de documentos com as questões básicas que seriam
discutidas, o que gerou um documento único e consolidado após as discussões e
respostas encaminhadas pela sociedade. Este documento foi encaminhado ao
Parlamento, que gerou uma versão preliminar para ser novamente discutida, desta vez
utilizando a plataforma wiki como ferramenta. Nesta fase também foi promovida um
concurso entre colégios e universidades com o objetivo de aproximar os jovens desta
questão e da consciência política de uma maneira geral. A terceira etapa é a
disponibilização do projeto de lei resultante deste processo participativo.
Comentários
A plataforma wiki permite que determinada idéia seja discutida em comunidade até que
se chegue a uma versão final. Todo o histórico de discussões fica mantido, o que facilita
o nivelamento entre usuários mais novos e mais antigos, e garante maior legitimidade
ao texto final, uma vez que tenha sido debatido de forma transparente e coletiva.
144
Um dos maiores benefícios da plataforma wiki foi poder contar com a participação de
especialistas espalhados pelo mundo, de forma colaborativa. É uma nova fronteira para
a democracia e uma nova forma de participação social.
Benefícios
• Evitar resistência à nova legislação devido a legitimidade coletiva com que foi
elaborada.
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
Safe As
URL
http://www.safeas.govt.nz
País
Nova Zelândia
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Fórum de discussão
• Sistema de comentários
Período de atividade
2006 e 2007
Intensidade de uso
147
• 625 Tópicos
• 3346 comentários
Descrição
O programa idealizado pelo National Road Safety Committee (NRSC) prevê diversas
etapas até a elaboração da política nacional de transporte em 2010. Inicialmente foram
realizados 15 workshops presenciais em todo o país com o objetivo de lançar questões e
engajar cidadãos e alguns segmentos importantes para a revisão da política de
transportes. Em seguida foi disponibilizado um fórum, livre à qualquer usuário da web,
com o objetivo de reunir informações e opiniões sobre aspectos importantes como
segurança e meio ambiente relacionado aos transportes. O fórum serviu como
ferramenta de apoio a elaboração da estratégia, fornecendo insumos para a discussão,
estimulando a troca de experiências e opiniões, e reunindo cidadãos e especialistas a
cerca dos problemas no transporte nacional.
Comentários
O fórum foi organizado em duas grandes categorias: temas e cidades onde foram
realizados os workshops.
148
A participação social neste programa foi estimulada pela via indireta, ou seja, os
cidadãos tiveram acesso aos documentos base da política de transporte, e podiam
contribuir com suas opiniões e informações. Por outro lado os usuários não podiam
editar diretamente o texto do documento final, pois esta seria uma atribuição do comitê
responsável.
Ambientes como este, são boas plataformas para agregar informações e opiniões a cerca
de um tema não propriamente fechado. As discussões têm tipicamente um horizonte,
mas não se resumem a pergunta inicial, deixando a conversa tomar a forma da
comunidade.
Benefícios
149
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
Sustainability
URL
http://www.sustainability.govt.nz
País
Nova Zelândia
Entidade gestora
Cidadãos neozelandeses
Abrangência
Fórum de discussão.
Período de atividade
• 70 tópicos.
• 200 comentários aproximadamente.
Descrição
A crescente preocupação dos governos com a questão da sustentabilidade, fez com que
o Governo da Nova Zelândia, mais precisamente por seu Ministério para o Meio
Ambiente, levasse adiante a iniciativa de criar um serviço de informações voltado aos
cidadãos. O portal Sustainability oferece uma série de informações sobre reciclagem,
151
Comentários
O portal é dedicado aos cidadãos que desejam obter informações sobre sustentabilidade
e, principalmente, para aqueles que desejam mudar suas práticas cotidianas a fim de
conseguir levar uma vida mais consciente e saudável, para si, sua família e sua
comunidade.
152
Entre os serviços está uma seção de notícias, que destacam outras ações de governo
como disponibilização de cartilhas e novos portais para o meio ambiente.
O diálogo permite que os usuários defendam e critiquem as experiências e dicas uns dos
outros. Como exemplo, o caso de um cidadão que sugeriu que o óleo velho utilizado em
máquinas, fosse reaproveitado como lubrificante para ferramentas de jardinagem, que
tendem a oxidar por conta da areia e umidade. Entretanto, outro usuário lembrou que
óleo utilizado em máquinas pode ser ácido, ou conter outros metais e venenos que
podem prejudicar a saúde, a terra ou a água dos jardins. Como sugestão ele indicou
refinarias que reciclam óleo com maior segurança.
Essa troca de conhecimento é a razão pela qual governos têm investido em ambientes
colaborativos. A conversação é capaz de gerar inovação e melhorar o cotidiano dos
cidadãos a partir de práticas simples, antes mitificadas ou desconhecidas.
155
Benefícios
Riscos
• Baixa participação
Serviço
Future Melbourne
URL
http://www.futuremelbourne.com.au/wiki/view/FMPlan
País
Austrália
Entidade gestora
Governo da Austrália
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
Wiki
Período de atividade
Intensidade de uso
• 30.000 visitas
157
• 6.500 pessoas
• 200 contribuições
Descrição
Estes valores são traduzidos em seis metas definidas por categorias, quais sejam:
• Pessoas
• Criatividade
• Prosperidade
• Conhecimento
• Ecologia
• Conectividade
A governança do projeto é exercida pelo governo australiano com apoio dos governos
locais, empresas e universidades. Além da participação social, que é o principal agente
de condução do projeto.
Comentários
O projeto Future Melbourne foi planejado com uma visão bastante distinta entre
consulta pública e participação social. Um dos estudos estruturais recebeu o título
“From consultation to participation”, no qual os idealizadores explicam a diferença
entre ser consultado e efetivamente implementar um plano de forma colaborativa.
Neste mesmo documento são apontadas as razões pela escolha da plataforma wiki,
sendo que a colaboração e edição de textos por um número significativo de pessoas foi
destacado como o principal referencial.
encontrem o consenso.
Entre os recursos está o histórico de revisões, nativo de qualquer plataforma wiki, como
aponta o exemplo abaixo:
Todo o projeto foi divido em visões pelas categorias, das metas (pessoas, criatividade,
prosperidade, conhecimento, ecologia, conectividade), sendo que em cada visão existem
subtemas específicos que foram discutidos, como por exemplo a qualidade dos locais
públicos, ou a disponibilidade de conteúdo e serviços online. Para cada subtema foi
elaborado um quadro com metas, indicadores e resultados esperados.
160
Os cidadãos tiveram a oportunidade de opinar sobre cada ponto, tendo não apenas uma
visão crítica pontual, mas sim uma visão estratégica, podendo fornecer suas idéias de
como atingir resultados melhores.
Este tipo de iniciativa tira o cidadão da postura passiva de agente de consumo dos
serviços públicos para o conceito mais amplo do termo cidadania, onde cada indivíduo
faz parte das diversas funções existentes em uma comunidade, inclusive as políticas e
estratégicas.
Benefícios
• Dar evidência aos reais problemas da cidade, e deixar que a própria população
161
• Conduzir o cidadão para uma visão estratégica sobre os problemas que afetam
seu cotidiano.
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
URL
http://www.youth.gov.au/ayf
País
Austrália
Entidade gestora
Ministério da Juventude
Público-alvo
Abrangência
Políticas públicas de longo prazo que poderão impactar na vida dos jovens no futuro.
Objetivos
Estimular o engajamento dos mais jovens nas questões políticas que irão influenciar no
seu futuro.
Ferramentas e recursos
• Fórum de discussão.
163
• Sistema de votação.
Período de atividade
Intensidade de uso
No momento desta análise haviam 3 tópicos abertos que reuniam 9 idéias sugeridas
pelos jovens participantes e 53 votos sobre estas idéias.
Descrição
O ambiente foi idealizado e promovido pela Ministra da Juventude, que defende a idéia
de que com o passar do tempo as gerações mudam a forma como interpretam e se
relacionam com as questões políticas.
As questões que hoje estão na pauta dos mais jovens envolvem problemas críticos como
o álcool, droga, e a mudança climática. São temas que irão impactar na vida dos jovens
a médio prazo, e por isso estes devem também estar no centro das discussões.
Além disso, os mais jovens têm familiaridade com as novas mídias que potencializam a
interação entre grupos e a conversação. Este ambiente deve ser aproveitado para
incentivar também a consciência política dos jovens.
Comentários
Entre os serviços disponíveis estão uma seção de notícias e o fórum. Os jovens usuários
podem submeter uma idéia ligada ao tema principal, como “Imagem do Corpo”. As
idéias passam por uma moderação, e quando aprovadas ficam abertas à votação até o
encerramento daquele fórum, com duração entre 60 e 90 dias.
Os próximos temas a serem discutidos em fórum também podem ser sugeridos pelos
usuários, assim como a indicação do fórum para amigos por email.
Até o momento desta análise já haviam sido concluídos dois fóruns sobre os temas
“Intimidade” e “Imagem do Corpo”. Estavam abertos os fóruns para debater os temas
“Contribuição para nossa Democracia”, “Direitos Humanos” e “Violência e
166
Segurança”.
Junto aos temas são disponibilizados documentos para dar o tom e provocar a conversa
entre os jovens.
O projeto conta ainda com um comitê composto por 11 jovens, e organizado a cada 2
anos, responsável pela pauta de discussões, análise das idéias, sugestões e representação
extra-oficial do serviço.
167
O fórum está baseado em um mecanismo de feedback que permita que ações e idéias
circulem a partir de iniciativas do Ministério da Juventude, mas que as discussões
possam realimentar o processo. O fórum está baseado em um grau de autonomia, a
partir da criação do comitê que se relaciona com outras entidades representantes dos
jovens para estabelecer planos e idéias que encorajem os jovens nos debates políticos.
Benefícios
• Aumentar a consciência política sobre as questões que afetarão cada vez mais os
168
Riscos
Serviço
Patient Opinion
URL
http://www.patientopinion.org.uk
País
Reino Unido
Entidade gestora
Entidade não-governamental.
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Outro objetivo é provocar mudanças na qualidade dos serviços do NHS por meio da
transparência, do diálogo e da reivindicação popular.
Ferramentas e recursos
171
Sistema de comentários.
Sistema de votação dos serviços do NHS utilizados, desde atendimento nos hospitais até
competência médica.
Período de atividade
Início em 2006.
Intensidade de uso
Descrição
Comentários
• Um paciente
• Um usuário de serviço
• Um atendente
• Um parente
• Um amigo
• Outros
• Reclamação
• Avaliação
• Acontecimento
• Sugestão
• Agradecimento
• Dica
Nesta tela é possível ver mais informações sobre o hospital, ler comentários de outros
pacientes ou a resposta do hospital, quando houver.
O serviço Patient Opinion ainda permite que os pacientes dêem nota aos serviços do
hospital, o que possibilita uma classificação. Os serviços sob votação são:
• Padrão de enfermagem
• Limpeza
• Estacionamento
• Pontualidade do serviço
Esta pontuação permite que usuários façam pesquisa por hospitais por região, na qual o
resultado da busca é apresentado como um quadro comparativo entre as pontuações
recebidas por cada hospital. Desta forma o paciente pode optar qual hospital deseja ser
atendido, com base na sua avaliação coletiva feita por outros usuários.
Embora os gestores do serviço defendam que o fato de não estar diretamente vinculado
a nenhum órgão do governo lhes garante maior neutralidade – o que é possível -,
governos podem promover espaços como estes a fim de incentivarem a participação
social em seus processos, apresentando transparência e abertura ao diálogo.
Benefícios
Riscos
• Pouca participação.
Serviço
Fix My Street
URL
http://fixmystreet.com
País
Reino Unido
Entidade gestora
Ministério da Justiça
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Blog
• RSS
Período de atividade
Intensidade de uso
Descrição
Pelo portal é possível enviar relatos, pesquisar relatos próximos a qualquer endereço
indicado, receber alertas sobre relatos nos locais de interesse, cobrar ações corretivas
das autoridades, e discutir problemas junto à comunidade.
O portal foi desenvolvido pela organização não governamental mySociety, que foi
criada com o objetivo de implementar soluções baseadas em open government,
envolvendo atitude amplamente democrática e tecnologia, sustentada a partir de
trabalho voluntário e doações.
Comentários
O portal foi criado com objetivos simples como dar evidência aos problemas da
comunidade de forma a que as autoridades sejam cobradas. Um segundo objetivo é dar
voz coletiva e instrumentos para que a sociedade atue de forma mais presente junto a
seus representantes, exercendo pressão nos pontos que considera decididamente
relevantes e evitando distorções entre suas vontades e as ações de política local. Em
alguns casos a própria comunidade pode dar solução a problemas como paredes
pichadas.
180
O cidadão pode assinar a fonte RSS do local e passar a receber todos os relatos
cadastrados daquele período em diante, de forma que possa se manter atualizado sobre
os problemas na sua região, e com isso possa intervir junto a outros moradores e o
governo local.
182
Para reportar um problema basta fornecer referências sobre o local e apontar com
precisão no mapa. A partir daí é preciso informar a categoria do problema, o assunto e
uma descrição. É possível enviar fotos como evidência. O nome e email são solicitados,
mas é possível torná-los ocultos a outros usuários na visualização do relato.
• Veículos abandonados;
• Paradas de ônibus
• Estacionamento
• Pichações
• Calçadas
183
• Parques e paisagens
• Buracos
• Banheiros públicos
• Lixo
• Árvores
• Outros
Benefícios
Riscos
• Pouca participação
Serviço
My Bike Line
URL
http://www.mybikelane.com
País
Global
Entidade gestora
Pessoa física.
Público-alvo
Ciclistas.
Abrangência
O serviço contempla diversas cidades espalhadas pelo mundo com ciclovias pelas ruas.
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Blog
• Fórum de discussão
Período de atividade
Intensidade de uso
186
• 6.000 denúncias
• 1.700 membros
Descrição
O serviço foi idealizado e criado por uma única pessoa, que percebeu que poderia
resolver um problema que afetava sua rotina caso se unisse a demais ciclistas. Greg,
como o autor se intitula sem dar maiores detalhes, criou o serviço e passou a registrar as
violações causadas por motoristas nas vias reservadas aos ciclistas, com fotografia e
placa do veículo.
Comentários
Os carros estacionados sobre as ciclovias causam transtornos aos ciclistas que ficam
impossibilitados de seguir a via destinada ao seu passeio, de forma a garantir a sua
segurança e a de pedestres.
O portal permite que qualquer cidadão registre e divulgue as violações cometidas por
motoristas estacionados irregularmente sobre ciclovia.
187
As denúncias são disponibilizadas com fotos, que devem ser nítidas o suficiente para
que seja possível identificar a placa.
Benefícios
• Reunir uma comunidade de interesse comum e torná-la mais forte para lutar por
seus direitos.
• Provocar a consciência dos motoristas, uma vez que estejam sobre novas formas
de vigilância.
Riscos
190
• Baixa participação.
Serviço
Public Markup
URL
http://www.publicmarkup.org
País
Estados Unidos
Entidade gestora
Entidade não-governamental
Público-alvo
Cidadãos norte-americanos.
Abrangência
Legislação norte-americana.
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Blog
• Sistema de comentários
Período de atividade
Início em 2008.
Intensidade de uso
192
Descrição
O serviço foi criado para estimular a participação social na legislação elaborada pelo
congresso antes de se tornar oficial. Para isto usa de mecanismos de colaboração em
massa existentes na web, como a plataforma blog.
O portal foi idealizado e desenvolvido pela Sunlight Fundation, uma organização sem
fins lucrativos voltada ao uso da Internet e da tecnologia para fazer a informação sobre
o congresso e o governo federal norte-americano tornar-se mais acessível aos cidadãos.
E com isso estimular a consciência política e a participação social.
Comentários
Todos os atos estavam fechados para comentários e já haviam sido encaminhados pela
Sunlight Fundation às autoridades competentes.
Para facilitar a discussão, os atos legais são divididos em capítulos e seções, de forma
que cada grupo de comentários seja vinculado ao trecho de texto correspondente. Os
participantes tanto podem registrar comentários sobre um capítulo ou seção, quanto
comentários gerais sobre todo o conteúdo da legislação em questão.
195
Os comentários aparecem agrupados abaixo de cada capítulo ou seção, tal como ocorre
na estrutura de um blog.
Benefícios
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
URL
http://www.theyworkforyou.com
País
Reino Unido
Entidade gestora
Entidade não-governamental.
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Mashup
• Sistema de comentários
• RSS
Período de atividade
Início em 2006.
198
Intensidade de uso
Descrição
O portal They Work For You fornece aos cidadãos um grande conjunto de informações
sobre os políticos do Reino Unido, entre as quais:
Comentários
A página de entrada apresenta um resumo das conversas nos debates e uma ferramenta
de busca por políticos ou regiões a partir de códigos postais. Com isso, são apresentados
os políticos que atuam naquela região, juntamente a seus perfis com diversos tipos de
atuação política e estatísticas.
200
71
O serviço Write To Them é outra iniciativa do grupo mySociety. Disponível em: <
http://www.writetothem.com>
201
Os debates são restritos aos representantes, não podendo os cidadãos emitirem sua
opinião a respeito de cada tema. Esta plataforma possibilita aos cidadãos tomarem
posições quanto às questões que os envolvem, e aos políticos tomar ciência das opiniões
da comunidade que representam.
Benefícios
202
Riscos
Serviço
Legislação Inmetro
URL
http://www.inmetro.gov.br/legislacao
País
Brasil
Entidade gestora
Público-alvo
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• RSS
Período de atividade
Nota: Já havia base de consulta desde 1998, mas o serviço RSS só foi implementado em
2008.
205
Intensidade de uso
Não disponível.
Descrição
Dentre outras funções, o Inmetro atua como órgão regulamentador nas áreas de
metrologia e avaliação da conformidade. Uma das maiores dificuldades sempre esteve
na disseminação das informações produzidas pelo órgão para a sociedade, de maneira
que cidadãos e empresas possam participar do processo regulamentário, além de tomar
ciência das mudanças e novas regulamentações.
O canal RSS surgiu como uma boa opção, uma vez que dá ao usuário o controle sobre
os filtros que deseja ter, e dissemina a informação de forma não abusiva como ocorre no
email, por exemplo. As ferramentas de filtro e organização de fontes de RSS permitem
que o usuário customize a maneira como quer receber e organizar a informação técnica
do Inmetro. Além de permitir que novos serviços de informação sejam produzidos e
combinados em mashups.
Comentários
O Inmetro possui nove bases de dados de legislação com acesso ao público externo, e o
sítio possui cerca de 2 milhões de acesso ao mês, sendo que boa parte dos acessos são
destinados às bases de legislação.
Encontrar uma legislação atualizada, ou consulta pública pode ser um trabalho difícil
pois os usuários têm que manter um controle próprio sobre o que já foram informados, e
ao realizar novas consultas por data ou assunto, efetuarem os filtros e análises para
descobrir se existem novos registros.
206
A disseminação da informação via RSS não apenas evita que o usuário tenha que
manter um controle sobre novas legislações e atualizações na base, como atualiza
automaticamente a fonte RSS que os usuários assinantes possuem. Desta maneira toda
vez que houver atualização nos registros, as fontes de informação são atualizadas e o
usuário é informado.
Benefícios
• Dar autonomia ao usuário para que crie seus próprios filtros e organize as
informações como pretender.
Riscos
Serviço
URL
http://www.governoeletronico.gov.br/consulta-publica
País
Brasil
Entidade gestora
Ministério do Planejamento
Público-alvo
Cidadãos brasileiros.
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Sistema de comentários
Período de atividade
Início em 2004.
Intensidade de uso
Descrição
Comentários
A figura 45 mostra links para os detalhes, onde é possível ler a íntegra do texto
disponíveis nos formatos PDF e ZIP (formato de arquivo compactado), que são os
documentos de referência para o debate. Também neste local são apresentadas as seções
do documento e links para “contribuir” e “ver contribuições” realizadas em cada seção.
As contribuições aparecem agrupadas por usuário e data. Para visualizar é preciso clicar
no link “ver contribuições e comentários”.
211
Benefícios
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
URL
http://www.cultura.gov.br/site/blogs-do-minc
País
Brasil
Entidade gestora
Ministério da Cultura
Público-alvo
Cidadãos brasileiros
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Blog
• Sistema de comentários
Período de atividade
Intensidade de uso
Descrição
Como política de participação social e inserção da sociedade nos debates dos temas
relacionados à cultura, o órgão adotou o uso da plataforma blog. O objetivo é gerar
ambientes de conversação sobre temas na pauta do Ministério da Cultura, e com isso
envolver os cidadãos nas questões que envolvem os planos, políticas e ações de cunho
cultural.
Diversidade Cultural
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/diversidade_cultural/
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/igf/
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/rede_olhar_brasil/
Mercosul Cultural
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/mercosul/
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/direito_autoral/
Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/proext_cultura/
Endereço: http://blogs.cultura.gov.br/blogdarouanet/
215
Comentários
Os blogs do Ministério da Cultura vêm sendo explorados para cumprir e apoiar muitas
iniciativas importantes como alterações na legislação, definição da pauta de eventos,
divulgação cultural, entre outras. Abaixo serão apresentados alguns destes casos.
No blog sobre Direito Autoral são discutidas as novas tendências globais voltadas ao
compartilhamento de conteúdo e os impactos na produção de cultura e na legislação que
estas tendências vêm provocando. São apresentadas e discutidas as alternativas
possíveis tanto por iniciativa da equipe do Ministério, quanto dos leitores e participantes
do blog. Esta participação é interpretada pelo órgão como uma abertura criativa para as
mudanças constantes.
Outros temas são discutidos na plataforma de blogs criada pelo Ministério da Cultura.
Junto ao lançamento em 2007, iniciou-se uma campanha a favor dos blogs no governo e
a equipe responsável pelo projeto, vem desde então atuando em apoio a equipes de
outros órgãos de governo que tenham interesse em explorar as mídias sociais.
Benefícios
Riscos
Serviço
URL
http://www2.camara.gov.br/transparencia
País
Brasil
Entidade gestora
Público-alvo
Cidadãos brasileiros.
Abrangência
Objetivos
Ferramentas e recursos
• Bate-papo
• Fórum de discussão
• Blog
Período de atividade
surgiram em 2008.
Intensidade de uso
• 10 Fóruns abertos
50 comentários aproximadamente
Descrição
Pelo portal é possível acompanhar o perfil que qualquer deputado, suas presenças e
faltas nas sessões, suas votações em plenário, as proposições de sua autoria e relatadas,
participação em comissões, discursos e biografia.
Além disso, é possível ter acesso a informações sobre licitações, contratos, cargos
especiais e ocupações como gabinete, assessoria, relatórios de viagens em missão
oficial, orçamento e gastos em verbas indenizatórias.
Comentários
A relação de contratos vigentes em nome da Câmara dos Deputados pode ser consultada
por qualquer cidadão, como mostra as figuras 52 e 53.
Por fim, pode-se analisar que o portal da Câmara dos Deputados possui muitas formas
pelas quais os cidadãos possam manter-se informados e participar das questões que
impactam sua vida. Por reunir um conjunto muito grande de serviços num mesmo
ambiente pode ser difícil para o usuário comum localizar os canais de participação, ou
encontrar as informações que procura. Esta divulgação pode ser melhor explorada pelos
gestores do portal, por outros órgãos de governo ou mesmo por entidades não-
governamentais que incentivem a transparência pública e a participação social nas ações
227
de governo.
Benefícios
• Dar vozes aos cidadãos quanto aos temas em processo legislativo, ou em ênfase
pela mídia tradicional.
Riscos
• Baixa participação.
Serviço
URL
http://www.transparencia.gov.br
País
Brasil
Entidade gestora
Controladoria-Geral da União
Presidência da República
Público-alvo
Cidadãos brasileiros.
Abrangência
Orçamento da União.
Objetivos
Ferramentas e recursos
229
Sistema de consulta
Período de atividade
Intensidade de uso
Não disponível.
Descrição
É um canal pelo qual o cidadão pode acompanhar a execução financeira dos programas
de governo, em âmbito federal. Estão disponíveis informações sobre os recursos
públicos federais transferidos pelo Governo Federal a estados, municípios e Distrito
Federal – para a realização descentralizada das ações do governo – e diretamente ao
cidadão, bem como dados sobre os gastos realizados pelo próprio Governo Federal em
compras ou contratação de obras e serviços, por exemplo.
Ao acessar informações como essas, o cidadão fica sabendo como o dinheiro público
está sendo utilizado e passa a ser um fiscal da correta aplicação do mesmo. O cidadão
pode acompanhar, sobretudo, de que forma os recursos públicos estão sendo usados no
município onde mora, ampliando as condições de controle desse dinheiro, que, por sua
vez, é gerado pelo pagamento de impostos.
Comentários
Estas consultas permitem que o cidadão conheça a quantia do orçamento anual recebida
232
O portal ainda permite que os cidadãos tenham acesso às informações sobre diárias
pagas aos servidores públicos e contratados que receberam diárias por deslocamento no
exercício de suas funções, como mostra a figura 41.
Benefícios
Riscos
• O portal não permite interação, portanto não oferece riscos quanto à participação
social.
238
72
Disponível em: <http://www.whitehouse.gov>
239
Pôde-se notar que algumas iniciativas estão voltadas para a transparência pública,
mas deixam de estimular a participação social, não oferecendo canais de colaboração aberta.
É o caso do Inmetro que oferece um serviço de disseminação seletiva da regulamentação
técnica que emite, mas não dispõe de ambientes onde a regulamentação sob consulta pública
possa ser discutida de forma aberta pela sociedade. O Portal da Transparência se mostrou uma
fonte muito rica em informações sobre os gastos públicos, porém também deixa de oferecer
canais participativos. O tema aparece rotulado como “Controle Social” onde são indicados os
conselhos municipais e órgãos de fiscalização que podem ser procurados para dúvidas e
participação no orçamento. No entanto, não há formas de discutir ou questionar o
direcionamento dos gastos através do portal, o que certamente limita a atuação dos cidadãos.
De modo geral iniciativas que estimulem participação aberta e autêntica ainda são
raras no governo brasileiro, e isto pode ter como razão diversos motivos, desde a mentalidade
do gestor público brasileiro, o amadurecimento das tecnologias utilizadas nestes ambientes, o
baixo número de cidadãos com acesso à Internet, entre outros. De fato esta pesquisa permite
observar um cenário em evolução, e dá tanto ao gestor público quando aos cidadãos um
conjunto de experiências em andamento pelo mundo. Já é possível criar iniciativas que,
combinadas com as condições ideais de colaboração e abertura, podem gerar um volume
significativo de participação.
243
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria da esfera pública pôde ser usada para representar o retorno de uma
condição de diálogo mais homogênea entre os agentes comunicadores, o que foi tratado na
relação produtor-consumidor, cada vez mais igualada devido à intensidade de participação no
processo produtivo de uma maneira geral. Ao mesmo tempo, fica claro que a esfera pública
está agora calçada por um novo ferramental, que traz consigo questões técnicas, mas
principalmente, implica na geração de novos valores que em muitos casos entram em conflito
244
Outra linha de estudos que carece de pesquisas é a análise das novas mídias
quanto ao fluxo de informação que estas estimulam. Áreas como a sociologia e a antropologia
têm apresentado bons estudos quanto à formação das redes sociais, porém, a Ciência da
Informação pode contribuir ao dar ênfase nos fluxos informacionais consolidados nestas redes
a partir das interações e das estruturas de comunicação estimuladas por cada plataforma
tecnológica.
245
O Governo do Reino Unido se destaca pela compreensão de que não precisa fazer
tudo sozinho. Os dados públicos são disponibilizados com o intuito de estimular grupos de
cidadãos e organizações não-governamentais a criarem serviços participativos que promovam
o engajamento da sociedade nas questões políticas. Estimulou até mesmo concursos de idéias
de serviços que possam ser implementados pelo governo ou por terceiros, como o caso da
iniciativa Show Us a Better Way, analisada neste trabalho, e que reuniu mais de 100 idéias
para novos serviços colaborativos para o governo. Esta estratégia pode gerar um número
significativo de ambientes de participação já passaram pelo crivo social, e representam algo
de útil no entendimento de parte dos cidadãos. A inteligência nesta iniciativa está em perceber
que os governos podem contar com a própria sociedade para ter idéias de como implementar
os serviços que aproximem governo e cidadãos.
O Governo dos Estados Unidos promete entrar num novo rumo de participação
246
social. A campanha eleitoral do Presidente Barak Obama ficou famosa pela forma como a
Internet foi explorada. A equipe de campanha foi pioneira ao explorar diversos ambientes de
redes sociais, criar inúmeros canais de participação, gerenciar de maneira autêntica todo o
feedback recebido do público e estimular a conversação e o engajamento político. A
campanha presidencial de Barak Obama soube ocupar os espaços públicos virtuais e provocar
a discussão nestes locais. Criou ambientes próprios, mas também usou as redes pré-existentes,
um dos princípios dos sistemas emergentes, que também significa “ir onde as pessoas estão”.
O governo de Obama após a posse em 20 de janeiro de 2009, dá indícios de que irá continuar
sua política participativa, pois manteve seu perfil criado em diversas redes sociais e transferiu
as ferramentas participativos do portal Change.gov para o WhiteHouse.gov. Em um país onde
o voto não é obrigatório ações como estas podem ajudar no aumento da consciência política
dos cidadãos.
O Brasil por outro lado ainda está muito atrasado no processo eletrônico de
patentes, nem mesmo é possível solicitar ou acompanhar o registro pelo portal do INPI –
Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Pode-se supor que estamos muito distantes de
um processo aberto e colaborativo, no entanto não é uma alternativa a ser ignorada como
mostra o exemplo norte-americano.
diversas organizações que legislam mantêm canais para receber opiniões do público.
Entretanto, a Internet não tem sido explorada para criar ambientes colaborativos. São muito
raros os casos de organizações que permitem discussões abertas e participativas sobre os atos
legais em consulta pública, como faz o Governo Eletrônico. E mesmo neste caso os
comentários ficam distantes entre si e o sistema de colaboração é rígido demais fazendo com
que os cidadãos opinem apenas sobre o texto em discussão, não podendo opinar sobre os
comentários de outros cidadãos, o que de fato geraria uma conversação e um debate aberto.
Um outro ponto crítico está na linguagem utilizada pelo governo brasileiro que, ao
invés de se aproximar da sociedade simplificando seus processos e adequando sua linguagem,
busca doutrinar os cidadãos em sua fala burocrática. O portal da Câmara dos Deputados, por
exemplo, mantém um canal aberto aos cidadãos para que estes encaminhem propostas de lei.
O problema começa quando o cidadão deve estudar qual modelo de sugestão ele tem em
mente, pois existem mais de dez formulários para os casos de resolução, lei ordinária, lei
complementar, decreto legislativo, entre muitos outros. É como se o cidadão precisasse de
bons conhecimentos de direito para emitir sua opinião. Além disso, os formulários devem ser
salvos no computador do cidadão, que deve ter licença do software editor de texto Microsoft
Word, uma vez que o formato dos documentos seja a extensão .DOC, da qual a empresa
Microsoft é proprietária. Após isto será necessário enviar o documento à Comissão
Legislativa Participativa por correio (Caixa Postal), disquete ou CD, email ou fax. Por sua vez
o Primeiro Ministro Britânico foi bem mais objetivo em sua iniciativa E-petition ao criar um
formulário eletrônico por meio do qual as petições podem ser encaminhadas sem necessidade
de conhecimento sobre os trâmites e linguagens técnicas e burocratas do sistema legislativo.
As petições ainda ficam acessíveis a qualquer usuário com acesso à Internet, e os cidadãos do
Reino Unido podem votar nas petições que consideram mais relevantes. A equipe do governo
analisa os textos, agrega petições quando se repetem ou tratam do mesmo assunto, julgam
indevidas e explica os motivos, apostando na visibilidade como ferramenta democrática.
serviços abertos de avaliação, passam a lidar com seus problemas expostos a toda a sociedade,
com a voz dos próprios cidadãos. Não é preciso que canais de televisão ou jornais atuem
como intermediários para fazer chegar a informação aos interessados e a própria sociedade, os
cidadãos comuns podem fazê-lo. E, principalmente, o fazem de modo colaborativo, trocam
experiências e reforçam críticas. A crítica de um único cidadão a um serviço é diferente de
centenas ou milhares de críticas ao mesmo serviço. Este tipo de iniciativa parte do simples
princípio de que os cidadãos sabem onde estão os problemas e são capazes de apontá-los com
precisão. E que a colaboração é uma poderosa arma para reforçar suas reivindicações.
O estudo possibilitou tecer diversas considerações que podem ser vistas como
recomendações para os gestores públicos, pesquisadores e cidadãos interessados:
• Fazer melhor o uso das plataformas das redes sociais existentes, como Youtube,
Flickr, Facebook, MySpace, entre muitas outras, para divulgar os serviços
governamentais. Em muitos casos, como no Portal da Câmara dos Deputados, o canal
de participação está aberto, mas o cidadão não consegue chegar até ele. O governo
deveria ir onde o cidadão está. As redes sociais foram muito bem exploradas em casos
como o das eleições norte-americanas em 2008. Este exemplo pode se repetir para
249
fazer chegar a agenda política no terreno dos cidadãos. O instituto Ibope mostrou que
ações online podem ter um impacto 500 vezes maior fazendo uso de redes sociais
existentes do que criando novas nos sites da própria organização73.
• Foi percebido que o governo ainda insiste em utilizar uma linguagem técnica muito
utilizada nos trâmites burocráticos de sua estrutura interna, que em nada se assemelha
com a realidade prática dos cidadãos. Os órgãos de governo devem se esforçar para
simplificar sua linguagem e seus processos ao invés de buscar doutrinar os cidadãos
em utilizar sua linguagem técnica, o que parece ser uma realidade brasileira.
73
Disponível em: < http://is.gd/iqeY> ou < http://www.ibope.com.br>.
250
gasto? Quais deputados mais faltam às seções plenárias? São consultas importantes
que não estão disponíveis.
• Para dar conta de todas estas demandas o governo deve buscar a colaboração da
própria sociedade, disponibilizando os dados públicos em formato bruto para que
possam ser reutilizados em mashups desenvolvidos por grupos de cidadãos e
organizações não-governamentais.
• As consultas públicas são mecanismos fáceis de serem explorados via blogs e wikis,
órgãos legislativos deveriam olhar mais atentamente para esta possibilidade.
• A tecnologia da informação não é tão cara, como provam alguns casos analisados
neste trabalho, que foram desenvolvidos por uma única pessoa, com uma boa idéia,
vontade de executá-la e um bom aproveitamento das plataformas de código livre e
padrões abertos.
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