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São Paulo
2008
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São Paulo
2008
iii
Folha de Aprovação
São Paulo
Aprovado em: 2/12/2008
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Margarida Maria Krohling Kunsch
ECA-USP
________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Nassar
ECA-USP
________________________________________________________
Prof.ª Suzel Figueiredo
Diretora do Instituto ABERJE de Pesquisa
iv
A Eliana Marques,
amada amiga, dedico
estas e outras linhas da vida.
v
Agradecimentos
Aos mestres desta Escola de Comunicações e Artes, com especial menção a Professora
Margarida Kunsch, pela grande contribuição ao saber que aprendo a admirar a cada dia.
Aos meus pais, Olinda e Luiz Carlos, agradeço com todo amor que possa haver neste
mundo.
Aos meus padrinhos, Maria e Ed, casal de muitas histórias e de tantos afetos, agradeço
da mesma forma.
Aos amigos, aos poetas e a todos aqueles sonhadores de um mundo melhor: muito
obrigado pela contribuição.
vi
Epígrafe
“De fato, vence na vida aquele que é o mais capaz de ouvir, ler, de falar e escrever, de
assimilar, de receber e transmitir conhecimentos, idéias e estímulos. Não existe uma área da
vida social, na qual a comunicação não tenha influência decisiva. É nesse cenário que
aparecem os homens de RR.PP., alimentando e estimulando o fluxo das comunicações, com a
responsabilidade imensa de mostrar a todos os seres humanos a paisagem, quase
imperceptível, desse intercâmbio de palavras e mensagens, de pensamentos e de opiniões. E a
responsabilidade torna-se maior ainda se lembrarmos que a manipulação desonesta dos meios
de comunicação pode colorir esse quadro, trazendo-o para a realidade, num aspecto falso e
perigoso”.
Resumo
Este trabalho de conclusão de curso visa propor uma perspectiva dos estudos de
Comunicação Organizacional baseada no conceito Sensemaking visto pela vertente de Karl
Weick. O estudo, realizado por meio de investigação bibliográfica, possibilitou encontrarmos
modelos teóricos que fundamentam a construção coletiva de sentidos como fator da
constituição da organização, levando-se em consideração a perspectiva sistêmica da
sociedade. A definição de processos cognitivos individuais, que estruturam significados
coletivos, corresponde a alguns preceitos de Comunicação Organizacional e, em função disso,
sugerimos uma agenda de pesquisa para investigação posterior que comprove a validade e a
pertinência do Sensemaking como referência teórica das Pesquisas aplicadas em Relações
Públicas.
Abstract
Key words: Sensemaking; Public Relations research; sense making; ambiguity; shared
structure; enactment.
ix
Sumário
Introdução ................................................................................................................. 1
Introdução
• A comunicação é condição para que haja interação entre as pessoas. Ela é uma
estrutura que une indivíduos e configura uma espécie de sustentação das relações
interpessoais.
As pessoas fazem sentido sobre aquilo que apreendem do ambiente e das relações que
estabelecem com outras pessoas e com as organizações. Weick (apud VARASCHIN, 1994, p.
72) afirma que “o ser humano cria o ambiente para o qual o sistema então se adapta. O ator
humano não reage ao ambiente, ele o faz”. Sendo assim, os ambientes organizacionais não
são realidades dadas, mas são estabelecidos por meio de um processo de criação de sentidos
elaborado pelos atores organizacionais que as compõem.
Sendo a construção coletiva de sentido uma regra sobre o pensamento das pessoas,
então, os públicos de uma organização atribuem-lhe múltiplos significados, além de a própria
organização ser um conjunto de elementos e processos formados por interações significativas
e ricas de significados potencialmente atribuíveis pelas pessoas que fazem parte dela. Diante
da perspectiva apresentada, surge o questionamento com relação aos relacionamentos que a
organização estabelece com seus públicos. Desta forma, a maneira como as organizações
investigam as demandas de seus públicos e procuram entendê-los, visando a melhoria dessas
interações, assume uma função estratégica. O papel das Relações Públicas enquanto função
organizacional mediadora, que visa à promoção de relacionamentos permanentes e positivos
com seus públicos, assume grande importância nesse cenário apontado.
desenvolvido no bojo da Psicologia Cognitiva, que é o Sensemaking. Para isso, optamos pela
metodologia da pesquisa exploratória, de procedimento bibliográfico, sobre conceitos de
Sensemaking e de pesquisa aplicada em Relações Públicas.
A premissa que orienta esta investigação científica é a de que o discurso teórico que
define o conceito Sensemaking pode compor o estudo de pesquisas aplicadas em Relações
Públicas e pode ser adotado como referência conceitual tanto no planejamento, quanto na
composição de ferramentas e métodos avaliativos de resultados dessas pesquisas.
Com base na revisão literária feita ao longo dos capítulos precedentes, seguiremos uma
seqüência lógica no Capítulo 3, que parte da compreensão do comportamento da organização
em pleno ambiente de relações carregadas de complexidade e ambigüidade, passando pelo
entendimento das percepções individuais como fatores determinantes das organizações; para,
finalmente, defendermos a função do Sensemaking como elementar para as Pesquisas em
Relações Públicas com vistas à excelência dos relacionamentos da organização com seus
públicos estratégicos.
5
1
Concordamos, aqui, com John Pavlik (1999, p. 165) a respeito de que a Teoria Geral dos Sistemas, tal como
comumente é denominada, trata-se mais de uma perspectiva, ou enfoque geral, do que uma teoria em si.
6
os sistemas seguem, fazendo com que um sistema seja composto por várias organizações
constituintes – aqui chamadas de subsistemas.
Unidade ou entidade social, na qual as pessoas interagem entre si para alcançar objetivos específicos.
Neste sentido, a palavra organização denota qualquer empreendimento humano moldado intencionalmente
para atingir determinados objetivos. As empresas constituem um exemplo de organização social.
“a comunicação é um processo social básico” e “não pode existir interação entre indivíduos,
ou entre grupos humanos, sem intercâmbio de informações entre seus elementos
constitutivos”. Antônio de Lisboa Mello e Freitas (apud KUNSCH, 2003, p. 109) corrobora
essa abordagem, afirmando que “seria impossível entender o funcionamento das organizações
sem levar em conta o papel da comunicação. Ela decore da própria dependência do homem
que, como animal gregário, necessita, permanentemente, comunicar-se com seus
semelhantes”.
Pois é justamente essa a tarefa que cabe às Relações Públicas, conforme veremos. Tendo
em conta o domínio da lógica sistêmica que condiciona o comportamento dos públicos da
organização, os colaboradores da empresa, os consumidores, os fornecedores, os acionistas, a
comunidade do entorno da instalação física da empresa, o governo; e toda sorte de públicos
com os quais determinada organização se relaciona constitui subsistemas sociais que
obedecem a regra das situações dinâmicas estabelecidas entre si e o meio externo. E tudo isso
ocorrendo, conforme citamos, por intermédio da comunicação.
As relações públicas cobrem o relacionamento de um homem, uma instituição ou idéia com seus públicos.
Qualquer tentativa eficiente para melhorar esse relacionamento depende de nossa compreensão das
9
A definição por Scott Cutlip e Allen Center (apud ANDRADE, 2001, p. 35) de Relações
Públicas segue essa abordagem sintetizada por Kunsch: “é a comunicação e a interpretação de
informações, idéias e opiniões do público para a instituição num esforço sincero para
estabelecer reciprocidade de interesses e assim proceder ao ajustamento harmonioso da
instituição na sua comunidade”. Teobaldo de Souza Andrade (2001, p. 36) registra outra
definição de Relações Públicas que corrobora esse sentido:
As Relações Públicas constituem uma atividade de direção. Elas observam e analisam a atitude do
público, ajustando a política ou o comportamento de uma pessoa ou organização de acordo com o
interesse geral. Elas aplicam um programa de ação a fim de obter a compreensão e a simpatia ativas do
público.
Os outros dois modelos que se seguem na ordem estabelecida por Grunig e Hunt têm um
conteúdo diferenciado por conta da consideração que se faz para com o público, pois se
espera, obedecendo a essas condutas, um feedback das informações disponibilizadas; e se faz
um trabalho de investigação junto aos públicos da organização.
Um deles, o modelo assimétrico de duas mãos (ou assimétrico bidirecional) inclui o uso
de pesquisa e feedback para desenvolver uma comunicação de conteúdo persuasivo. Emprega-
se “uns métodos comprovados das ciências sociais para incrementar a capacidade de
persuasão de seus esforços de comunicação” (PAVLIK, 1999, p. 168). Já o outro, o modelo
simétrico de duas mãos (ou simétrico bidirecional), é considerado “a visão mais moderna de
Relações Públicas, em que há uma busca de equilíbrio entre os interesses da organização e
dos públicos envolvidos” (KUNSCH, 1999, pp. 110-111). Valendo-se também de pesquisas,
esse modelo difere do modelo de conduta anterior quanto ao seu objetivo de estabelecer a
compreensão mútua em lugar da persuasão científica. “Nesse sentido, a organização e seus
públicos estão ao mesmo nível”, como afirma Pavlik (1999, p. 169). O modelo simétrico de
duas mãos é levado em grande consideração pelos profissionais e pela produção acadêmica
11
nos dias de hoje, embora ações e programas de comunicação possam ser eventualmente
caracterizados pelos outros modelos em razão de certas circunstâncias e intuitos.
Para entendermos o que é a filosofia de Relações Públicas excelentes2, por ora, basta
definir que são aquelas praticadas com o propósito de construir e manter bons
relacionamentos com os públicos estratégicos de uma organização por meio da administração
da comunicação (LOPES, 2005, p. 76). Às Relações Públicas excelentes cabe a administração
e a promoção dos relacionamentos que existem entre as duas instâncias elementares
consideradas pela área: a organização e seus públicos. Como seu objetivo último tem-se em
conta a facilitação dos processos interativos. Para tanto, as Relações Públicas excelentes
devem valer-se de estratégias definidas por um planejamento que leve em consideração a
complexidade do processo comunicativo e as circunstâncias variáveis do ambiente social.
2
O conceito de Relações Públicas excelentes surge a partir do projeto Excellence in Public Relations and
Communication Management (ou Projeto Excellence), um estudo coordenado pelo Phd James Grunig, da
Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, para a Fundação de Pesquisa do IABC (Institute of American
Business Communication). Ao longo de vários anos, os pesquisadores do projeto pretenderam analisar como a
atividade era conceituada, defendida, administrada e, principalmente valorada em instituições, universidades e
empresas norte-americanas, canadenses e inglesas. Grande parte dos resultados das pesquisas e das conclusões
alcançadas foi publicada por Grunig em três obras, hoje consideradas referências para o estudo das idéias deste
autor e do conceito de excelência. Para mais detalhes, Cf. nota de rodapé de LOPES, 2005, p. 50.
12
Públicas com a finalidade de realizar esses objetivos. Grunig (apud LOPES, 2005, p. 50), ao
explicar sobre o Projeto Excellence, afirma:
Pela ótica da excelência, a atividade de Relações Públicas é vista como uma área
fundamental da organização, pois sua função determina diretamente a constituição da
organização. A eficácia da organização depende do nível de reconhecimento que se confere às
questões eminentes de seus públicos estratégicos. Determinada pela filosofia da excelência,
cabe às Relações Públicas, portanto, fazer a leitura do ambiente externo no qual a organização
está situada, verificar os públicos que influem diretamente na organização e os que por ela são
influenciados, investigar as questões controversas que preocupam esses públicos e promover
programas de comunicação imbuídos da estratégia de promover relacionamentos positivos de
longa duração com os públicos.
Outros autores, em diversas obras que constituem o corpo doutrinal de nossa disciplina
acadêmica, atestam a importância da utilização de análises ambientais e dos públicos com os
quais a organização lida e, de certa forma, aproximam-se ao conceito de Relações Públicas
excelentes elaborado por James Grunig. Nessas abordagens teóricas as quais tivemos acesso,
13
A partir das definições apresentadas em seu livro, Teobaldo de Souza Andrade (2001, p.
89) elabora sua definição de processo de Relações Públicas, constituída por algumas fases
voltadas para a melhor efetividade do objetivo de Relações Públicas, que é o de “estabelecer e
manter uma compreensão mútua entre uma organização e todos os grupos aos quais está,
direta ou indiretamente, ligada”. Cada fase corresponde a uma função básica das Relações
Públicas. Seguida à primeira das fases no desenvolvimento do processo de Relações Públicas
– esta que consiste na determinação dos vários grupos com os quais a organização mantém
relação e a correspondente identificação como públicos – vem a fase da apreciação do
comportamento do público, na qual se procura conhecer as aspirações, atitudes e opiniões
desses grupos, para conhecer o que pensam da organização e quais seus comportamentos
diante das práticas organizacionais. Na fase da pesquisa deve-se fazer uso de sondagens e
pesquisas de atitude e de opinião pública, os quais, para Teobaldo de Souza Andrade (2001, p.
93), constituem em “instrumentos indispensáveis para fornecer fatos que possam permitir a
feitura de diagnósticos científicos da situação real e para descobrir os problemas que
necessitam ser solucionados, quaisquer se sejam as suas dimensões e complexidades”.
Broom e Dozier recomendam o que chamaram de gerenciamento científico de Relações Públicas. Assim
como a pesquisa na ciência é usada para desenvolver, testar e modificar teorias, a pesquisa científica em
Relações Públicas é usada para desenvolver, testar e modificar programas de comunicação. No
gerenciamento científico das Relações Públicas, a pesquisa também é parte do processo de comunicação.
15
Por fim, o posicionamento dos autores mencionados nos leva a concluir que a pesquisa é
uma etapa muito importante para as Relações Públicas em seu processo mais formal, tal como
a defendemos aqui. Sua função é fundamental para o entendimento dos públicos e das
controvérsias que surgem nele, constituindo-se em uma espécie de canal aberto ao público, ou
mesmo a oportunidade para que a organização ponha suas práticas em discussão, com vistas à
reflexão e à efetividade de seus programas de relacionamento com seus públicos estratégicos.
Conhecer a opinião dos públicos a respeito do seu comportamento corporativo e de suas
atitudes, bem como das práticas de sua comunicação, significa considerar a realidade desses
públicos e valorizar sua importância para a organização, considerando as determinações do
ambiente externo sobre o desempenho organizacional em pleno andamento dinâmico da
sociedade. Margarida Kunsch (2003, p. 281), ao citar Glen Broom e David Dozier sobre a
importância da pesquisa no planejamento, corrobora a relação entre pesquisa e a perspectiva
sistêmica:
Numa perspectiva sistêmica, ou seja, considerando-se as organizações como sistemas abertos que usam
inputs para se ajustar a seus ambientes em constante mudança, a pesquisa em Relações Públicas assegura
que informações sobre o ambiente cheguem de forma clara e contribuam para o processo de tomada de
decisões na organização.
16
Pela revisão feita até aqui, reunimos subsídios teóricos que referendam a necessidade do
trabalho contínuo de investigação para a criação e manutenção de relacionamentos excelentes
em longo prazo. Diante da importância das Relações Públicas como área estratégica
diretamente ligada à construção e manutenção de imagem e reputação corporativa perante
seus públicos estratégicos, e de sua potencialidade no sentido de agregar valores tangíveis à
corporação, entende-se que a conquista de relacionamentos de nível excelente depende
consideravelmente da leitura do ambiente e da demonstração de resultados que os agentes de
Relações Públicas se disponham a fazer.
Primeiramente, Pavlik (1999, p. 19) define pesquisa como sendo “a captação sistemática
de informação e sua interpretação”. O propósito de qualquer pesquisa, para o autor, é
aumentar a compreensão sobre qualquer fenômeno, inclusive fenômenos de natureza
comunicacional, sendo estes objeto de estudo pertinente às Relações Públicas. De acordo com
Pavlik, a pesquisa sobre Relações Públicas – tanto sobre seu processo, quanto sobre a
explicação da forma como funcionam e das estratégias usadas para influir a conduta e a
opinião pública – proporciona um vislumbre da própria sociedade, pois as Relações Públicas
são uma das principais indústrias de apoio dos meios de comunicação de massa, além de
intermediarem os vínculos existentes entre instituições e seus públicos. Diante dessas
17
afirmações, a principal motivação para o estudo das Relações Públicas por meio de pesquisas
é descrita por Pavlik (1999, p. 17):
Por causa deste papel importante, muitos eruditos sentem-se motivados a compreender a natureza exata, o
efeito e a função das Relações Públicas em nossa sociedade e no mundo. Também buscam compreender
os standards3 e a ética dos que praticam as Relações Públicas. Para muitos, o objetivo final é legitimar a
prática de Relações Públicas, convertendo-a em uma profissão de pleno direito, como a advocacia ou a
medicina.
3
Grifo nosso.
18
Está orientada às situações a aos problemas. Uma organização [a] utilizará com maior freqüência (...) no
processo de planejamento. (...). Também pode ser utilizada para identificar ou seguir em contato com
diversos públicos e para desenvolver uma estratégia de mensagem ou de meios.
Devem identificar os públicos estratégicos, estabelecer como a organização pode se comunicar melhor
para desenvolver relacionamentos de qualidade com esses públicos, para desenvolver estruturas
departamentais que facilitem a comunicação com os públicos estratégicos e para determinar como a
organização pode alinhar seu comportamento com as necessidades de seus públicos.
Enquanto que as pesquisas avaliativas são as que devem ser desenvolvidas tanto no pré-
teste quanto no pós-teste de programas de Relações Públicas. Muito embora este tipo de
pesquisa seja o mais realizado nos departamentos de Relações Públicas de várias
organizações, conforme constata Grunig, não permite uma visão estrutural da atividade, além
de poder ser considerado limitado em termos de resultados que traz ao planejamento
científico da comunicação organizacional.
Por fim, a pesquisa introspectiva constitui, para Pavlik, em uma forma de auto-exame da
profissão de Relações Públicas, pois estão focadas na própria função da atividade e na
formação do sistema educativo em nível superior.
Enquanto que, para John Pavlik, há quatro tipos básicos de utilização de pesquisa em
Relações Públicas no âmbito corporativo e nas organizações não-governamentais: processos
de monitoramento de ambiente criado, auditorias de Relações Públicas, auditorias de
comunicações e auditorias sociais.
A maioria das corporações reconhece que formam parte de um sistema social e que as mudanças no
entorno podem ter efeitos significativos em sua prosperidade. Assim, pois, há uma grande necessidade de
controlar e vigiar continuamente ‘as tendências da opinião pública e os acontecimentos do entorno
sociopolítico’.
Pavlik observa, baseado em seus estudos, que o método científico tende a ser
predominante entre as pesquisas em Relações Públicas. A observação sistemática de
situações, grupos de pessoas e indivíduos, por meio de métodos variados, permite ao
pesquisador relações-públicas estabelecer analogias comprováveis de causa e efeito e gerar
conhecimento científico válido. Para o autor, são três os métodos de investigação adotados
pelas Relações Públicas: a pesquisa avaliativa, as medidas discretas e os métodos de
observação.
Pavlik ainda descreve, ao longo de sua obra, algumas maneiras pelas quais é feita a
medição do objeto de estudo, as formas de pesquisa e suas várias possibilidades de
administrar, bem como a determinação de amostragem pelas quais os dados das pesquisas são
colhidos. Contudo, não nos é conveniente adentrar em tal nível de detalhamento porque nosso
trabalho não pretende verificar as prováveis determinações do conceito Sensemaking a essas
características do método investigativo.
22
2. O conceito Sensemaking
Levando-se em conta, ainda, as atribuições da realidade nos dias atuais – tais como a
disposição massiva de informações e as várias maneiras que pessoas e grupos se inter-
relacionam – apresentamos o questionamento que estrutura este nosso presente trabalho: de
que maneira indivíduos e organizações fazem sentido sobre o mundo em que estão e,
conseguintemente, adotam atitudes? Outros questionamentos afloram deste primeiro: de que
maneira as pessoas estruturam suas experiências? Essas experiências interferem em suas
decisões futuras? Mais ainda: como entender os públicos estratégicos de uma organização e
formular adequadamente os problemas de relacionamento visando à melhoria dos
relacionamentos?
O critério que nos permitiu aproximar os três autores foi, primeiramente, a constatação
da similaridade entre as obras de Weick e Manis, pois ambos os livros foram publicados à
mesma época (no ano de 1973) e seus autores são estudiosos da área da Psicologia, embora o
23
Karl Weick (1973), corroborando essa perspectiva, defende que as organizações são
formações de grupos de pessoas. A maneira como os grupos são formados é definida por ele
por meio da apropriação do conceito de estrutura coletiva desenvolvido por Allport. Dessa
forma, Weick postula que um grupo de pessoas é originado a partir do momento em que uma
6
díade abriga em sua formação uma terceira pessoa, constituindo uma tríade de pessoas, na
4
Fonte: portal institucional da Universidade de Michigan. Disponível em <http://www.lsa.umich.edu>. Acesso
em 5 Nov. 2008.
5
Fonte: portal institucional da Universidade de Toronto. Disponível em <http://www.ischool.utoronto.ca>.
Acesso em 5 Nov. 2008.
6
A díade é considerada por Weick como a unidade básica do comportamento social. Trata-se de um conjunto de
duas pessoas em que existe interdependência e uma série de comportamentos recíprocos. A transição de uma
díade para uma tríade provoca a instauração de outro padrão de relações, no qual se verificam fenômenos de
controle, cooperação ou competição, dependendo da confluência dos interesses de seus membros.
24
qual ocorre uma convergência preliminar de interesses, tal como é citado, em referência a
Allport (apud WEICK, 1973, p. 44).
Uma convergência preliminar de interesses ocorre porque cada uma delas prevê que a outra pode
beneficiá-la e cada uma delas tem uma noção semelhante quanto à maneira pela qual isso pode ser
realizado. Depois de inicialmente convergir em idéias comuns sobre a maneira de formação de uma
estrutura, as pessoas ativam um ciclo repetitivo de comportamentos interligados – isto é, formam uma
estrutura coletiva.
Ocorre que, em um grupo de pessoas, cada uma delas prevê que a outra pode beneficiá-
la de alguma forma, e passam a desenvolver uma noção semelhante quanto à forma pela qual
isso pode se estabelecer. Sendo assim, a formação dos grupos se dá após a convergência de
idéias sobre sua formação, ao contrário da noção compartilhada pelo senso comum, a qual
indica uma seqüência em que o grupo se formaria antes do estabelecimento da convergência
das regras para mantê-lo. Ao passo em que a convergência de regras e de atitudes consolida-
se entre os indivíduos do grupo, estabelece-se um ciclo contínuo de comportamentos
interligados que possibilita a aproximação entre as pessoas e a execução de comportamentos
que se interligam, desde que satisfeita a condição das vantagens mutuamente estabelecidas
entre os sujeitos.
Em sua teoria, não importa analisar o número de pessoas que compõe a organização, mas, sim, observar as várias
combinações de díades e tríades que se estabelecem no ambiente organizacional. O padrão das alianças das
díades (ou tríades) entre si configura a organização.
25
sugestão de que os participantes de grupos são mais persuadidos por apelos emocionais do
que intelectuais.
A atribuição de significado por parte das pessoas que fazem parte de grupos sociais
assume um aspecto especial para Karl Weick. Influenciado pelas idéias de Skinner, Allport e
Schutz, Weick desenvolve o conceito de decretação ambiental 7. Este conceito determina que
o ator organizacional não, meramente, reage ao ambiente em que está (a organização), mas
7
A versão original de Weick (1973), em inglês, registra o termo enactment, traduzido para a versão em
português como ambiente criado. No entanto, preferimos utilizar a expressão decretação do ambiente (ora
decretação ambiental) para nos referirmos a esse conceito por acreditar sermos mais fieis ao aspecto
especialmente determinador (e mesmo arbitrário) ao qual a palavra inglesa compreende.
27
cria o ambiente (WEICK, 1973, p. 64). É sobre esse ambiente criado, ou decretado, que os
processos da organização se realizam, conforme conferiremos em breve.
qual a atenção do “aqui, agora (determinado ponto no tempo)” se voltou. O que quer que
esteja sendo realizado determinará o sentido de tudo o que já aconteceu. Weick (1973, p. 67)
complementa: “os interesses presentes no ator determinam o sentido de suas experiências
vividas. (...) o aspecto fundamental é que o sentido é retrospectivo e determinado pelo modo
de atenção voltado para a experiência vivida”.
Por meio das etapas de criação, seleção e retenção, Weick designa o processo pelo qual
indivíduos desempenham um papel ativo na criação do ambiente em que vivem. Este processo
é o de decretação ambiental e nele podemos inferir que haja uma multiplicidade de sentidos
que podem ser atribuídos à informação em função das experiências passadas. Karl Weick,
nesse mesmo sentido, pressupõe a existência de ambigüidade das informações captadas pelo
processo de decretação ambiental. Conforme o autor observa, embora a fase de criação seja
uma maneira de afastar a ambigüidade, os interesses do momento presentes, em que as
informações de experiências passadas são evocadas, podem determinar a interpretação. Além
disso, nenhuma interpretação consegue dizer tudo sobre uma situação ou fato, pois, para
Schutz (apud WEICK, 1976, p. 69), “nenhuma experiência vivida pode ser esgotada por um
único esquema de interpretação”.
Quando uma pessoa desmente seu conteúdo guardado, o que faz é atribuir a esse conteúdo uma
quantidade de ambigüidade oposta à que tinha depois de passar pelos processos de organização. (...) De
outro lado, quando o ator decide agir ou fazer escolhas a partir de conteúdo conservado, e decide não o
desmentir em suas escolhas e atos futuros, atribui ao conteúdo conservado a mesma quantidade de
ambigüidade que tinha no processo de retenção.
Referências cognitivas
Conforme o pensamento desenvolvido por Karl Weick, em seu livro A Psicologia Social
da Organização, as organizações são consideradas agrupamentos de pessoas e se formam
graças ao estabelecimento de uma estrutura coletiva, ou seja, de uma convergência preliminar
de interesses dos sujeitos. Os processos inerentes à organização consistem em
comportamentos individuais estruturados, ou seja, interligados. Porém nem todo tipo de
8
Tradução da expressão decision making, um dos conceitos estudados por Karl Weick em seu conjunto de obras,
sobre a construção ou elaboração de decisões nas organizações.
30
comportamento é expresso pelo indivíduo no grupo do qual faz parte, cabendo a ele decidir
quais aspectos comportamentais empregar em sua relação enquanto ator organizacional.
Com base na obra de Melvin Manis, entendemos como cognição o ato de conhecer, o
que envolve algumas operações cognitivas como atenção, percepção, memória, raciocínio,
imaginação, pensamento e linguagem. Há diversas linhas teóricas dentro do campo das
Ciências Cognitivas, mas todas elas parecem convergir para o conceito de que a cognição
significa a aquisição de um certo conhecimento através da percepção, classificação,
reconhecimento e compreensão.
relações hostis. O terceiro efeito está ligado à relação de atitudes e o grau de envolvimento
com as organizações, sendo que as diferenças deste envolvimento geram impacto sobre a
interpretação de opinião dos indivíduos. O quarto efeito apontado por Manis é o da
perspectiva, o qual versa sobre a capacidade de um sujeito notar as diferenças das opiniões de
outros sujeitos. “As pessoas podem prontamente detectar as mínimas diferenças entre as
afirmações com as quais concordam Enquanto que mostram um julgamento empobrecido ao
relacionar as diferenças entre as afirmações com as quais não concorda” (MANIS, 1973, p.
62).
Podemos deduzir que o processo de decretação ambiental depende em grande parte das
operações de memória dos atores organizacionais. Mesmo as etapas seqüenciais de criação,
seleção e retenção de informações para a construção de sentidos passam, necessariamente,
pelos domínios mnemônicos, principalmente no que tange a atribuição de sentido
retrospectivo. Invariavelmente, no conceito de Weick, existe a ambigüidade na interpretação
de mensagens. Com relação à ambigüidade das informações, podemos designar um conceito
paralelo pressuposto por Manis: a teoria da dissonância cognitiva. De acordo com Manis
(1973, p. 68), “a presença simultânea de duas ou mais cognições ou idéias dissonantes
resultará num estado de impulso nocivo que as pessoas tentarão resolver”. A dissonância
cognitiva presume a geração de uma tensão no sujeito associada à ambigüidade. Esta tensão é
reduzida mediante a condição de o sujeito modificar suas opiniões sobre o tema ou assunto.
unanimidade no meio acadêmico. Como analisa David O´Connell (1998), Weick nos permite
adentrar na discussão de uma eclética série de perspectivas, oriundas de vários campos, tais
como psicologia social, psicologia cognitiva, estudos da comunicação, estudos de estratégia e
de decision making; que delineia a perspectiva Sensemaking na vida organizacional.
Conceitualização de Sensemaking
Meryl Louis (apud WEICK, 1995, pp. 4-5) exibe o conceito Sensemaking como um
processo mental que se vale de acontecimentos retrospectivos que explicam surpresas. Para
ela, “eventos discrepantes, ou surpresas, desencadeiam uma necessidade de explicação, ou
pós-dicção, e, correspondentemente, de um processo pelo qual as interpretações das
discrepâncias sejam desenvolvidas. A interpretação, ou o significado, são atribuídos às
surpresas”. A autora ainda postula que a atividade de dispor estímulos em frameworks é mais
perceptível quando as predições sobre determinado estímulo falham e, conseqüentemente,
expectativas que se fizeram em torno do prognóstico não são cumpridas em plena ruptura do
andamento de uma atividade rotineira. Sendo assim, o Sensemaking seria, também, o
“entendimento de como as pessoas dão conta dessas interrupções” (WEICK, 1995, p. 5).
Outros autores adotaram uma perspectiva que alia a dimensão da ação coletiva à
compreensão do fenômeno Sensemaking enquanto disposição de estímulos em frameworks
estabelecidos. Thomas, Clark e Gioia (WEICK, 1995, p. 5) descrevem o processo de
Sensemaking como “a interação recíproca da procura de informação, a atribuição de
significado e a ação”, contemplando a inclusão, ao processo, da varredura perceptual do
ambiente, da interpretação e das reações associadas ao estímulo. Sackman (apud WEICK,
1995, p.5) alia a essa perspectiva da ação humana a dimensão da organização, sendo o
Sensemaking o mecanismo de atribuição de significados aos eventos na organização. Feldman
(apud WEICK, 1995, p.5) segue esta linha de Sackman e determina que Sensemaking seja um
processo interpretativo necessário “aos membros de uma organização para entenderem e
compartilharem entendimentos sobre diversos aspectos da organização, tais como o que ela é,
o que faz eficiente ou deficientemente, com quais problemas defronta-se e como poderia
resolvê-los”.
Depois de citar algumas referências que dão conta da idéia Sensemaking, Weick toma a
resolução de distinguir a natureza própria do Sensemaking do processo humano de
interpretação, estabelecendo, então, a singularidade desse conceito. Embora Sensemaking e
interpretação sejam conceitos freqüentemente citados como sinônimos, Weick (1995, p. 7)
defende que o Sensemaking é mais o abrangente dentre eles, pois – usando a metáfora da
35
Valendo-se da explicação de Schön (apud WEICK, 1995, p. 9) de que, “no mundo real,
os problemas não são apresentados aos profissionais como dados”, Karl Weick defende que se
faz necessário às pessoas e aos profissionais de organizações estabelecer sentido sobre as
situações incertas que, inicialmente, parecem não ter sentido e que nos são oferecidas como
situações problemáticas. Esse sentido passa pela seleção de características da situação que se
está presenciando, pela seleção dos limites da situação para os quais damos atenção e pela
imposição de coerência que nos permite dizer em qual a direção a situação deve ser mudada.
De certa forma Shooter (apud WEICK, 1995, pp. 9-10) e Thayer (id., 1995, p. 10) corroboram
com essa passagem, porém o fazem transpondo essa rotina de estabelecimento de sentido para
as tarefas gerenciais (ao gerente cabe formular adequadamente a situação problema composta
por eventos desordenados e incoerentes) e dos líderes de equipe (os quais devem atribuir à
realidade um significado recriado de um mundo aparentemente caótico e incompreensível
junto aos seus seguidores), respectivamente.
Weick define Sensemaking como o processo relativo à maneira pela qual as pessoas
geram o conteúdo que interpretam, é dizer: Sensemaking é uma atividade criativa que
antecede a interpretação. Mesmo que a interpretação seja considerada como um processo
mental, tanto quanto o Sensemaking, a natureza dessas abstrações diferem, pois “o ato de
interpretação implica que alguma coisa está lá, como um texto a ser lido, esperando ser
descoberto ou estimado. Sensemaking, no entanto, está mais relacionado à invenção e menos
à descoberta” (WEICK, 1995, p.13). Dessa forma, o Sensemaking focaliza a invenção que
antecede a interpretação sobre fatos e situações, o que implica um maior nível de engajamento
do sujeito como ator social ou organizacional. Sensemaking é um conceito íntimo à atribuição
coletiva de sentido, o que, para Swann (apud WEICK, 1995, p. 14) significa que
“Sensemaking deve ser descrito como um esforço contínuo para a criação de um mundo no
qual a percepção objetiva, no lugar da percepção interpessoal, deve ser mais apropriada”.
36
Para complementar essa exposição, Weick aproxima seu conceito à sugestão de Frost e
Morgan (apud WEICK, 1995, p.14) sobre o fato de, ao tentar estabelecer sentido às coisas, as
pessoas “lêem nessas coisas o significado que desejam ver; elas revestem objetos,
pronunciamentos e ações de tal significado subjetivo que as auxilia a fazer seu mundo
inteligível a elas próprias”. Ou ainda, para Frost, Morgan e Pondy (apud WEICK, 1995, p. 14)
“as pessoas elaboram sua realidade com base na ‘leitura’ possibilitada por seus padrões de
situações que definem significados especiais”. Consequentemente, as pessoas fazem sentido
de sua realidade e das coisas que as cercam por meio da observação de um mundo ao qual já
atribuíram antecipadamente sentido, ou seja, um mundo o qual elas já determinaram em quê
acreditar.
Por conseguinte, Weick (1995, p. 15) suplementa sua definição de Sensemaking: “Falar
sobre Sensemaking é falar sobre a realidade como uma realização contínua moldada quando
as pessoas traçam um sentido retrospectivo sobre a situação em que se encontram elas e suas
criações”. Este conceito, mais finalizado, está relacionado ao questionamento da possibilidade
de a realidade ser apreendida credulamente pelos sujeitos sociais. Aqui Weick (op.cit., pp.14-
15) concede o que para ele é a diferença crucial entre o Sensemaking e a interpretação:
O que há de essencial nas abordagens vistas até aqui é que o Sensemaking constitui uma
abstração cuja natureza está diretamente associada à tentativa de tornar claras situações
cotidianas com as quais as pessoas se defrontam e que se apresentam de maneira obtusa e
fragmentada. Essa tentativa é, naturalmente, operada reversivamente, uma vez postulada a
Teoria da Dissonância Cognitiva. Esta teoria estabelece que “as pessoas definem
retrospectivamente as decisões que tomarão” (WEICK, 1995, p. 11) e que há um esforço pós-
decisional que revisa o significado da decisão que acaba de ser tomada, de tal sorte que as
pessoas fundamentam suas decisões construindo uma história plausível sobre elas. Uma forma
de sintetizar a idéia crucial da Dissonância Cognitiva se encontra na seguinte frase,
chancelada por Graham Wallas: “como posso saber o que penso até ver o que digo?” (Ibid., p.
12).
11
Grifo nosso.
37
A Teoria da Dissonância Cognitiva, bem como várias passagens revisadas nesta seção,
têm implicações diretas nas sete propriedades com as quais Weick circunscreve o conceito
Sensemaking. Tais propriedades, para Weick, distinguem este conceito de outros processos
como entendimento, interpretação e atribuição de significados. Descreveremos, sucintamente,
o raciocínio essencial de cada uma delas logo a seguir.
O panorama dos principais conceitos escolhidos por Weick como referências históricas
que contribuíram para o desenvolvimento do conceito Sensemaking contém muitas
referências que são coerentes quanto à definição da natureza das organizações como sistemas
abertos. Scott (apud WEICK, 1995, p. 70) define organizações como “coalizões de grupos
dinâmicos que desenvolvem objetivos por negociação; a estrutura da coalizão, suas atividades
e seus resultados são fortemente influenciados por fatores ambientais”. Esta e outras
definições sistêmicas dão subsídio a Karl Weick firmar o Sensemaking como atividade central
nas relações de inputs e outputs existentes entre a organização, outras organizações e o meio
ambiente em que está inserida, visto que há um montante crescente de informações a se lidar
em um ambiente corporativo de contínuas negociações, controles de processos de informação,
a necessidade de justificar e racionalizar as atitudes (WEICK, 1995, p. 69).
Seguindo essa argumentação, Weick determina que as organizações “são entidades que
se movimentam continuamente entre os níveis intersubjetivo e subjetivo genérico” (WEICK,
1995, p. 75), ou seja, que há uma intencionalidade para a transformação contínua da
41
da mesma forma como fazem as pessoas ao tentar estabelecer sentido. Organizar e elaborar
sentidos têm muito em comum” (WEICK, 1995, p. 82). Referindo-se a tudo o que foi dito em
seu capítulo, Weick delineia a moldura na qual o Sensemaking ocorre na esfera
organizacional, estabelecendo seis atributos do ato de organizar que correspondem ao
processo Sensemaking.
1. um foco básico de organizar está em torno da seguinte questão: como as ações se coordenam em um
mundo de múltiplas realidades?
2. uma resposta a esta questão repousa em uma forma social que gera um entendimento intersubjetivo
vivido, singular, o qual pode ser escolhido e acrescentado por pessoas que não participaram da
constituição original da organização.
4. administrar essa transição significa gerar certa tensão freqüente resultante quando as pessoas tentam
reconciliar a inovação inerente à intersubjetividade e o controle inerente à subjetividade genérica. As
formas organizacionais representam pontes operantes dessa reconciliação em pleno fluxo contínuo de
acontecimentos.
5. tal reconciliação é sucedida por questões como rotinas intercaladas e padrões de ação habituais, ambos
cuja origem está em interações díades.
Algumas sugestões de fatores do Sensemaking são reunidas por Weick em seu capítulo
destinado a análise das ocasiões deste processo. Entre elas, encontramos a percepção da
incerteza do ambiente (HUBER; DAFT apud WEICK, 1995, pp.86-88), constatação a qual
abrange as determinações ambientais em que as organizações e sujeitos estão presentes: a
quantidade de informações cotidianas (em que pesam, inclusive, a ambigüidade de seu
conteúdo variedade delas), a complexidade em que elas se dão, e a turbulência da maneira
como são oferecidas (em termos de consumo de tempo para o processamento da informação,
modelos heurísticos 12 e intuitivos e condições idiossincráticas).
12
Define-se procedimento heurístico como um método de aproximação das soluções dos problemas, que não
segue um percurso claro, mas que se baseia na intuição e nas circunstâncias a fim de gerar conhecimento novo. É
o oposto do procedimento algorítmico, aproximando-se, portanto, da arte de inventar, de fazer descobertas.
13
Tradução livre: interrupção, brecha, lacuna.
44
Já Karl Weick postura que, a partir da ruptura do fluxo contínuo, emergem duas
possibilidades de circunstâncias que ocasionam Sensemaking: a ambigüidade e a incerteza.
Dependendo da maneira como se dá a ruptura, comum de acontecer em organizações, uma
diferencia-se da outra. De acordo com o autor, “o choque ocasionado por certa inabilidade de
extrapolar uma ação corrente e predizer suas conseqüências produz uma situação de
Sensemaking” (p. 95). Estabelecer a diferença entre ambas é importante para Weick (1995, p.
99), pois “no caso da ambigüidade, as pessoas se engajam no processo Sensemaking porque
estão confusas em meio a muitas interpretações, enquanto que no caso da incerteza, elas o
fazem porque são alheias [ignorantes] de qualquer interpretação”.
Para Weick (1995, p. 106), o sentido é gerado pelas palavras. Combinadas, elas
significam algo tanto em relação ao self quanto à coletividade. Weick traz a argumentação de
que a sociedade precede a mente individual, e apropria-se da idéia Freese (apud WEICK,
1995, p. 107) para argumentar que as sentenças, definições, conceitos e interpretações são
imposições oriundas da observação, experiências, percepções e eventos fenomenológicos.
Com base nisso, Weick (1995, p. 108) sustenta que “o Sensemaking formata continuidades
em categorias discretas, observações em interpretações, experiência em eventos marcantes,
percepções em planos preexistentes e frameworks”.
14
Tradução livre: quadros, plataformas, estruturas.
46
Uma vez que a unidade de significação é formada pela combinação de sinais e frames
por meio de uma determinada relação, Weick estipula que essa relação toma forma de
operações ideológicas, quanto à forma de filtração da realidade por meio de crenças
compartilhadas; premissas decisionais em uma organização; paradigmas como sistemas de
operações padrão para determinado grupo de pessoas; teorias da ação, como estruturas
cognitivas próprias das organizações; tradição, como imagens e crenças do passado que são
transmitidas posteriormente; e narrativas, como histórias contadas gerativas de novas versões
sobre o fato ocorrido, e não como mera reprodução automática.
Figurativamente, todas essas formas constituem maneiras de colocar palavras (ou seja,
os sentidos) captadas, respectivamente, do vocabulário que é a sociedade, organização,
trabalho, resolução de problemas, simbolismos ou experiências; e estabelecer sentido usando
a gramática da ideologia, ideologia, premissas decisionais, paradigmas, teorias da ação,
47
tradição ou narrativas (WEICK, 1995, p. 112). Todas elas são maneiras de “facilitar
diagnósticos e reduzir a perturbação gerada quando os projetos são interrompidos” (WEICK,
1995, p. 120), tanto quanto o Sensemaking. Por fim, todas essas operações se convertem em
Sensemaking.
Devemos reforçar que nosso trabalho está centrado na análise das contribuições do
conceito Sensemaking pela abordagem de Karl Weick, autor que representa a abordagem das
teorias organizacionais e sobre o qual são feitas muitas referências. A abordagem das Ciências
da Informação, cuja principal representante é Brenda Dervin, merece especial atenção, mas
48
que não poderá ser dada neste nosso trabalho15. Adotamos neste trabalho, portanto, a vertente
do conceito Sensemaking defendida por Karl Weick.
15
A abordagem do Sensemaking para os teóricos de das Ciências da Informação contempla temas como
implantação de sistemas de buscas de informação com base nas referências cognitivos dos usuários – seja em
bibliotecas, seja em ambientes corporativos. Assuntos como design de ambientes de informação, sistemas de
mídias e pesquisas qualitativas de usuários de informação estão entre os mais recorrentes na literatura
correspondente. Recomendamos a leitura das publicações de Brenda Dervin.
16
Disponível em <http://www.parc.com>. Acesso em 10 de novembro de 2008.
49
Em todos os materiais aos quais tivemos acesso, havia referências aos trabalhos de Karl
Weick. Esse autor figura como o grande representante no referencial teórico das pesquisas de
Sensemaking aplicadas às organizações as quais pudemos ler. É-nos interessante observar
que, para as análises organizacionais, a transição do âmbito intersubjetivo para o subjetivo
genérico, tal como nos referimos anteriormente sobre a obra de Weick (1995), é uma
inferência conceitual de grande importância para entender como um processo tipicamente
cognitivo, como é o Sensemaking, pode ser investigado nas organizações como fator de
comportamento organizacional e elemento fundamental para o entendimento de resultados de
programas de desenvolvimento de pessoas, de formação de processos de tomada de decisões,
para análise ambiental em planos de negócios, processo colaborativo de criação de
conhecimento e entendimento compartilhado, e diversas aplicações as quais encontramos na
literatura revisada.
50
3. A correspondência entre
Sensemaking e Pesquisas em
Relações Públicas
A noção de comportamento é defendida neste trabalho por meio de uma linha teórica
que leva em total consideração as Ciências Cognitivas. Valemo-nos, portanto, de uma escola
de pensamento que está alicerçada sobre o questionamento das explicações racionais da ação
humana, as quais estabelecem como parâmetros a total subordinação do ser humano às
estruturas sociais e a conseqüente previsibilidade da ação das pessoas. Portanto, nosso
primeiro princípio é o de que as pessoas não estão à mercê do funcionamento das estruturas
sistêmicas, tampouco estão fadadas à reação automática a estímulos do ambiente e das inter-
relações das quais fazem parte. Embora, a priori, pareça contraditório estabelecer o
paralelismo entre a perspectiva sistêmica e a noção de um sujeito autônomo, compreendemos
o devir humano integrado à possibilidade de atuação individual parte condicionada pelo
social, mas parte determinada pelo seu pensamento.
51
A maneira como se constrói nosso saber sobre a realidade pode ser explicada pelo
conceito Sensemaking. Para desenvolver este entendimento, lançamos mão da vertente
estabelecida a partir dos preceitos de Karl Weick. Para Weick (1995), as pessoas fazem
sentido de sua realidade e das coisas que as cercam por meio da observação de um mundo ao
qual já atribuíram sentido em algum momento anterior. Como postula o autor (WEICK, 1973,
p. 64), todo conhecimento e todo sentido decorrem de reflexão, de um olhar para trás. Weick
(1995) estabelece a unidade de significação como a soma de um sinal, um frame e uma
relação que os integra.
A instância da mente humana é apresentada por Weick (1995) por meio do mecanismo
de framework, que constitui a base para a formação de interpretações subjetivas. Weick
(1995) defende o Sensemaking como o processo relativo à maneira pela qual as pessoas
geram o conteúdo que interpretam, logo, o Sensemaking antecede a interpretação sobre os
fatos da realidade. Há, portanto, uma estrutura cognitiva natural aos seres humanos que gera
interpretações. Como Frost, Morgan e Pondy (apud WEICK, 1995, p. 14) definem: “as
pessoas elaboram sua realidade com base na ‘leitura’ possibilitada por seus padrões de
situações que definem significados especiais”.
pode ser substituída pelo fenômeno da incerteza, é a ignição para o processo mental
Sensemaking. Uma vez que o mundo não se dá como pronto aos olhos do indivíduo (SCHON
apud WEICK, 1995, p. 9), a ambigüidade é uma constante no dia-a-dia das pessoas. Em
outras palavras, Weick postula que nossos conhecimentos adquiridos para a composição de
um sentido ora são incompletos ora parecem confusos. Somos, portanto, limitados com
relação à capacidade de apreender com exatidão a realidade.
Por fim, duas citações que podemos fazer de Karl Weick que compreendam a essência
do Sensemaking são estas:
1. “como posso saber o que penso até ver o que digo?” (WALLAS apud WEICK,
1995, p. 12), no que tange ao sentido retrospectivo que o Sensemaking elabora;
53
Na realidade, trata-se de algo que os pré-socráticos já sabiam, e que atualmente assume cada vez maior
importância: é o ponto de vista segundo o qual toda realidade é – no sentido mais direto – construída por
quem crê que a descobre e a investiga. Em outros termos, a realidade supostamente encontrada é uma
realidade inventada, e seu inventor não tem consciência de sua invenção, mas crê que tal realidade é algo
independente dele e que pode ser descoberta; portanto, a partir dessa invenção, percebe o mundo e nele
atua.
Uma vez que a organização se constrói pela cognição individual, comprovamos quão
limitada é a concepção objetiva a que se propõem muitas teorias organizacionais. Bastos
(apud HENRIQUE; HENRIQUE, 2008) define a tendência de analisar as organizações
enquanto fenômeno processual como um pensamento que “recusa-se a reificar a organização
e coloca as pessoas, os grupos, as redes sociais, as cognições gerenciais e os processos
decisórios como alicerces do fenômeno organizacional”. Essa abordagem vai de encontro à
orientação de Karl Weick sobre a organização enquanto construção social, ou seja, que um
conjunto de pessoas tem a potencialidade de construir conhecimento interativamente sobre os
fenômenos da realidade e sobre as organizações das quais participam.
Sendo assim, aproximamo-nos às idéias de Adriana Casali (2005) sobre a superação das
fronteiras paradigmáticas que separam a ação individual da estrutura social. Casali (2005)
propõe uma compreensão teórica da comunicação organizacional abrangente e
metaparadigmática e se baseia também nos preceitos de Karl Weick, principalmente no que
diz respeito à rejeição das diferenças entre micro e macro análises muito comuns em teorias
organizacionais e, conseqüentemente, em teorias de comunicação organizacional. Propomos,
55
em conjunto com esses pressupostos, uma rejeição à suposição de que existem esses dois
níveis antagônicos na constituição organizacional.
Acreditamos que a organização surge como “um único nível plano o qual é
invariavelmente situado, circunstancial e produzido localmente em períodos finitos de tempo
e espaço, envolvendo pessoas reais” (CASALI, 2005, p. 4). Isso significa que organização e
comunicação são equivalentes e, principalmente, a comunicação carrega em si a capacidade
“organizante” (loc. cit.).
Uma definição mais abrangente da comunicação organizacional deve considerar que assim como não
existem barreiras na relação organização-ambiente, não existem dois fenômenos distintos como
comunicação e organização, mas sim o fenômeno único da comunicação organizacional, sendo impossível
diferenciar componentes para identificar uma relação entre as partes.
17
A ontogenia (ou ontogênese) é uma área de estudo das Ciências Biológicas que descreve a origem e o
desenvolvimento de um organismo desde o ovo fertilizado até sua forma adulta. A aproximação deste conceito
para as organizações pode ser expressa como a análise da constituição e permanência da organização em seu
ambiente, considerando mecanismos de adaptação a mudanças e desenvolvimento de competências e
habilidades.
56
de uma maneira que seu sentido seja construído coletivamente. A manifestação das relações
que a organização estabelece se dá por meio de informações cujo sentido é, de várias
possíveis maneiras, atribuído pelos sujeitos organizacionais. Na medida em que as
organizações estão mais associadas ao seu ambiente, deverão saber lidar com um maior
suprimento e variedade de dados e informações oferecidas, as quais ocasionalmente podem
constituir interrupções no fluxo contínuo de acontecimentos. Como Karl Weick (apud
HENRIQUE; HENRIQUE, 2008) conclui: “à medida em que caminhamos daquilo que é
racional, via o que é natural em direção àquilo que é aberto, estamos nos movendo de
estruturas, processos e ambientes menos ambíguos para estruturas, processos e ambientes
mais ambíguos. E, com este movimento, maior a importância do Sensemaking”. Isso quer
dizer que, com um maior volume de informações, maior a chance de os sujeitos
organizacionais terem de lidar com descontinuidades que causam choque diante da
ambigüidade ou da incerteza entre situações. Daí, então, inicia-se o processo Sensemaking.
Uma tarefa crucial da administração é distinguir as mudanças mais significativas, interpretá-las e criar
respostas adequadas para elas. Para os membros de uma organização, o objetivo imediato de criar
58
significado é construir um consenso sobre o que é a organização e o que ela está fazendo; o objetivo de
longo prazo é garantir que a organização se adapte e continue prosperando num ambiente dinâmico.
Uma das formas mais promissoras de tratar o ambiente é através da utilização dos termos de informação.
Em vez de considerar o ambiente decisivo das organizações como formado de matérias primas, parece
possível conseguir uma interpretação mais completa da realidade se consideramos a informação e o
sentido como os bens decisivos com que as organizações operam, aos quais seus processos se dirigem, e
em função dos quais suas relações se estabelecem.
• como estes graus de previsibilidade têm influenciado suas escolhas no que se refere a
metodologias de strategy making ?
• que papel tem o processo de sensemaking da alta administração , em especial no que se refere ao
conhecimento da própria organização , no que se refere ao grau de participação e de mudança
permitido no esforço de concepção da estratégia ?
Na questão dos relacionamentos com públicos, a opinião pública pode ser considerada
como fonte de informação e, conseqüentemente, fornecedora de ambigüidades para a
organização. As organizações, pela definição exposta por Choo (2003), tentam harmonizar
suas estruturas e seus processos em relação ao ambiente percebido, com vistas à redução da
ambigüidade. Dito isto, a organização deve saber administrar o processamento de informação
estabelecido com seus públicos com o intuito de reduzir a ambigüidade das informações e
conseguir efetividade na compreensão das mensagens veiculadas.
Considerações finais
percepções, e demais assuntos que competem aos aspectos cognitivo e social da existência
humana.
Para tanto, é necessária uma capacitação adequada dos profissionais em nível acadêmico
com relação à dimensão cognitiva e comportamental, visando à elaboração de estratégias de
65
Referências bibliográficas
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GRUNIG, J. E. A situational theory of publics: conceptual history, recent challenges and new
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67
WEICK, K. E. A psicologia social das organizações. São Paulo: Editora Edgard Blucher,
1973.