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da imagem pessoal e a sua mediatização
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Tese de Doutoramento
Doutoramento em Ciências da Comunicação
Especialidade em Sociologia da Comunicação e dos Média
janeiro de 2023
DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS
Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras
e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos
conexos.
Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.
Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não
previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da
Universidade do Minho.
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Licença concedida aos utilizadores deste trabalho
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Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
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Agradecimentos
Ao meu orientador científico, Professor Doutor Moisés de Lemos Martins, por ter aceitado orientar
este trabalho, por ser fonte de inspiração académica, pelo acompanhamento, orientação e
palavras de encorajamento ao longo de todo o processo, sem o seu apoio esta investigação não
teria sido concluída.
Aos meus entrevistados, em particular à Joana Vasconcelos e ao Paulo Furtado, pela sua
disponibilidade, pela sua colaboração e pela informação que partilharam, sem a qual este trabalho
ficaria incompleto.
À minha amiga Lurdes Macedo, por me ter incentivado a realizar o doutoramento e por me ter
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acompanhado nesta longa caminhada, sem o seu apoio e sem a sua disponibilidade para trocar
impressões sobre o modo como o trabalho que realizei ia sendo conduzido, esta investigação não
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passaria de um sonho.
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Aos meus amigos Ricardo Bessa Moreira e Nuno Bessa Moreira, por me acompanharem nesta
tarefa através da leitura crítica dos textos, sem a sua ajuda este trabalho não seria o mesmo.
Aos meus pais e ao Rui, pela força constante e pela paciência infinita, sobretudo nos momentos
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em que tive de superar adversidades, sem o seu amor e apoio não teria sido possível concretizar
este trabalho.
Ao meu filho, André, por me dar a motivação necessária para seguir em frente, e chegar ao fim
desta longa caminhada.
À Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), por todo o apoio concedido, sem a bolsa de
investigação este sonho não se tornaria realidade.
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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo
que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação
de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.
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RESUMO
Do “eu privado” ao “eu público”: a construção da imagem pessoal e a sua
mediatização
No contexto de uma sociedade marcada pela centralidade dos média e pelo culto da imagem e da
persona, a presente investigação procura compreender o fenómeno de transfiguração do ‘eu
privado’ num ‘eu público’ de grande visibilidade mediática, isto é, perceber como um indivíduo se
torna figura pública através dos média, numa cultura marcada por imperativos de visibilidade.
O trabalho está organizado em duas grandes partes. Na primeira parte apresenta-se uma revisão
da literatura mais incisiva nos domínios da sociologia da comunicação e dos média, de modo a
detalhar o sentido dos termos ‘figuras públicas’, ‘imagem’, ‘média’ e ‘visibilidade’. Enquanto a
segunda parte é dedicada a uma pesquisa de campo que visa conhecer, analisar e comparar
trajetórias de construção e mediatização da imagem de duas figuras públicas portuguesas à luz
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do quadro teórico pré-estabelecido, resultando num estudo comparativo de casos.
A metodologia utilizada na investigação empírica é de natureza qualitativa e baseia-se na análise
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de entrevistas às figuras públicas estudadas, bem como na análise documental. Alguns
procedimentos de natureza quantitativa são utilizados como complemento, nomeadamente a
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análise de frequência. Por sua vez, a triangulação de dados, metodológica e teórica é utilizada para
garantir a validade, fiabilidade e transferibilidade do estudo.
De entre as principais conclusões, a investigação mostra que existem bastantes pontos comuns
nos casos estudados, os quais parecem formar um conjunto de boas práticas na construção e
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public figures, in the light of the pre-established theoretical framework, resulting in the presentation of a
comparative case study.
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The methodology used in the empirical investigation is qualitative. It is based on the analysis of the
interviews conducted with the public figures studied and on documentary analysis. Some quantitative
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procedures have been used as a complement to the study of the phenomenon, namely frequency analysis.
In turn, methodological, theoretical and data triangulation have been used to ensure the study's validity,
reliability, and transferability.
Among the main conclusions, the investigation shows numerous common points between the two public
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figures studied, which seemed to form a set of good practices in the construction and mediatisation of
the personal image in the contemporary public space. In short, both public figures achieved national and
international public visibility; the public images of the artists were constructed based on their
professional/public life, instead of their personal/private life, and using marketing and communication
strategies carried out by public relations and specialised professionals. Therefore, the images of the artists,
either fabricated or real, are disseminated in media managed by public figures and their agents, as well
as in mass media.
In short, this investigation seeks to provide a multidimensional view of the construction and mediatisation
of the image of public figures in the contemporary media sphere, based on the case studies, which can
be replicated, without exhausting the topic and paving the way for future investigations.
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1.5 Nota conclusiva ........................................................................................................ 57
Capítulo 2. O Poder da Imagem Pessoal na Cultura Ocidental ............................................. 60
2.1 Nota introdutória ...................................................................................................... 60
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2.2 A cultura visual e o culto da imagem pessoal ............................................................ 61
2.3 O fascínio pela autoimagem e as condutas narcisistas .............................................. 69
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4.6 Nota conclusiva ...................................................................................................... 211
Capítulo 5. Estudo Comparativo de Casos ......................................................................... 214
5.1 Nota introdutória .................................................................................................... 214
5.2 Caso: Joana Vasconcelos – De Lisboa para o Mundo .............................................. 215
5.3 Caso: Paulo Furtado – De Coimbra para o Mundo .................................................. 258
5.4 Análise Comparativa dos Casos .............................................................................. 295
5.5 Nota conclusiva ...................................................................................................... 309
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 312
Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 318
ANEXOS ............................................................................................................................... 358
Anexo 1 – Tiragens e Circulação da APCT, por áreas (2012-2013) ........................................ 359
Anexo 2 – Capas das revistas selecionadas, por áreas (amostra) ........................................... 366
Anexo 3 – Ranking dos Sites de Redes Sociais, Alexa Internet ............................................... 379
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Anexo 4 – Recortes de páginas das Redes Sociais, por segmento e figura pública (amostra) .. 380
APÊNDICES .......................................................................................................................... 387
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Apêndice 1 – Análise das Publicações 2012-2013: Tabelas de Frequência ............................ 388
Apêndice 2 – Guião da Entrevista.......................................................................................... 398
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ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1 – PIRÂMIDE DE ALCANCE DE VISIBILIDADE (REIN ET AL., 1997: 94)....................................33
FIGURA 3 – PADRÃO STANDARD DO CICLO DE VIDA DA VISIBILIDADE (REIN ET AL., 1997: 303) .........34
FIGURA 4 – OUTROS PADRÕES DE CICLO DE VIDA DE FIGURAS PÚBLICAS (REIN ET AL., 1997: 305) .35
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FIGURA 12 – COM A MÃE E A FILHA, ALICE ...................................................................................... 233
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ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1 – INDICADORES DE CIRCULAÇÃO DO SEGMENTO ‘CULTURA E ESPETÁCULO’ ................. 185
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TABELA 11 – RANKING DO SEGMENTO ‘ECONOMIA’ ........................................................................ 194
ÍNDICE DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – VASCONCELOS: DISTRIBUIÇÃO DAS PEÇAS JORNALÍSTICAS ENTRE 2001 E 2017 ...... 245
GRÁFICO 2 – VASCONCELOS: DISTRIBUIÇÃO DOS POSTS AO LONGO DE 2015 E 2020 .................... 248
GRÁFICO 3 – FURTADO: DISTRIBUIÇÃO DAS PEÇAS JORNALÍSTICAS ENTRE 2008 E 2021 ............... 283
GRÁFICO 4 – FURTADO: DISTRIBUIÇÃO DOS POSTS AO LONGO DE 2015 E 2020 ............................ 287
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INTRODUÇÃO
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CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
A presente investigação pretende compreender o fenómeno de transfiguração do ‘eu privado’ num
‘eu público’ na esfera mediática contemporânea. Por outras palavras, este trabalho visa observar
como um indivíduo se torna figura pública através dos média, partindo de uma análise exploratória
da construção da persona pública, no seio de uma cultura marcada por imperativos de visibilidade.
O interesse por esta temática decorre, por um lado, da crescente importância da imagem pessoal
no sistema social das sociedades contemporâneas (em particular, no Ocidente) e, por outro lado,
de experiências profissionais de mais de dez anos no campo, como consultora, formadora, docente
e blogger.
A crescente importância da imagem pessoal no mundo atual parece ter resultado do deslocamento
da palavra para a imagem na civilização ocidental, desde meados do século XIX, motivado pelo
aparecimento da fotografia, do cinema e da televisão e, mais recentemente, das redes cibernéticas
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e ambientes virtuais; até então, a palavra constituía o “grande mito da civilização ocidental”, quer
de tradição greco-latina, quer de tradição judaico-cristã, como referido por Moisés de Lemos
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Martins (2011c).
A verdade é que as imagens estão tão presentes no nosso quotidiano que tudo leva a crer que esta
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se informado sobre o mundo através das imagens veiculadas pelos média – em particular a
imprensa e a televisão, quer em formato tradicional quer digital – os quais acabam por determinar
o que ver e, por exclusão de partes, o que não ver.
Assim como os média decidem que imagens nos mostram da realidade, também decidem quem
nos dão a ver nessas imagens. São os média, enquanto espaço público central da
contemporaneidade, que dão visibilidade a um conjunto de indivíduos, tornando-os figuras públicas
conhecidas e reconhecidas de inúmeros públicos.
Algumas dessas figuras públicas são ‘construídas’ pelos próprios média, numa lógica de mercado,
outras são promovidas nos média por se distinguirem pelo seu desempenho em atividades de
grande visibilidade mediática, tais como, a política, a economia, o desporto, a moda, a música,
entre outras.
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Por seu turno, alguns indivíduos tornam-se figuras públicas por via de um processo de ‘auto
fabricação’, pelo facto de utilizarem eficazmente os média (sobretudo, meios digitais como
websites, blogues e redes sociais) como plataforma de ‘autopromoção’.
Quer isto dizer que, com o advento dos meios de comunicação tradicionais e digitais, a imagem
pessoal de certos indivíduos passou a ser, paulatinamente, reproduzida e difundida em larga escala
e, mais ainda, de forma democratizada.
Recorde-se que, antes de aparecer a fotografia, apenas alguns indivíduos gozavam desse privilégio.
Noutros tempos, só imperadores, reis e outras figuras públicas poderosas viam a sua imagem
pessoal representada em esculturas, retratos pintados, moedas e outros suportes. Hoje em dia,
qualquer indivíduo com acesso à Internet e a um telemóvel com câmara fotográfica e de vídeo
pode, potencialmente, ver a sua imagem, estática ou em movimento, difundida à escala mundial
num curto período de tempo. É o caso de vídeos produzidos e publicados por cidadãos anónimos
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que mostram momentos hilariantes protagonizados por bebés, crianças, adultos e até animais de
estimação, tornados virais no mundo online, com milhões de visualizações. As câmaras e os ecrãs
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do mundo contemporâneo colocaram, assim, o indivíduo na mira do olhar público.
A par dos avanços tecnológicos e do aparecimento dos média, outros fatores parecem ter
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contribuído para a visibilidade pública do “eu” e o interesse pelas questões da imagem pessoal.
De entre eles, destaca-se o rápido crescimento da população mundial nas últimas décadas, bem
como o advento e desenvolvimento de indústrias que operam na área da imagem pessoal no
contexto da cultura de massas, da ‘sociedade do espetáculo’ (Debord, 1967) e da explosão de
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É precisamente neste ponto que entram as indústrias empenhadas em construir, manter e/ou
melhorar a imagem pessoal dos indivíduos, que vão desde as agências de Relações Públicas e
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Comunicação, até aos profissionais especializados em estética (cirurgiões plásticos, estilistas,
cabeleireiros, entre outros). Isto para não falar da indústria de bens de grande consumo com seus
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produtos e discursos comunicacionais que prometem “boa forma”, “beleza”, entre outras coisas.
Conscientes da importância de gerir com rigor a sua imagem pessoal, inúmeras figuras públicas
do panorama nacional e internacional recorrem aos serviços profissionais de assessores de
comunicação e imagem. A título de exemplo, veja-se todo o trabalho de bastidores em volta dos
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políticos nas campanhas eleitorais. Desde o vestuário dos candidatos às fotografias publicadas no
mural do Facebook, nada é deixado ao acaso.
Por seu turno, a minha experiência profissional no campo da imagem pessoal também é reveladora
do crescente interesse pela temática, quer por parte de organizações, quer por parte de indivíduos.
Nos últimos dez anos, levei a cabo iniciativas relacionadas com o tema que alcançaram milhares
de pessoas, entre as quais palestras, formações, ações de consultoria, artigos e até concursos.
De entre essas iniciativas, destaco o Master.Spitch, um evento de recrutamento e marketing
pessoal promovido pela Cidade das Profissões (centro de informação e aconselhamento cujo
objetivo é a promoção do empreendedorismo e da empregabilidade), que permite aos seus
candidatos apresentar o seu objetivo profissional a uma plateia de empresas e potenciais
investidores em 90 segundos, tendo levado ao palco do Teatro Rivoli no Porto centenas de
participantes, entre a primeira edição, realizada em 2012, e a oitava edição, organizada em 2019.
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Por sua vez, o blogue VIPP - Valorização da Imagem Pessoal e Profissional, da minha autoria,
alojado no site do jornal Expresso entre janeiro de 2010 e abril de 2014, viu alguns dos seus artigos
atingirem cerca de dez mil visualizações. O livro que publiquei em 2013 com o título “Qual é a sua
melhor versão? Guia prático para a realização pessoal e profissional” (Santiago, 2013d), no qual
se pode encontrar dicas para “construir e projetar uma boa imagem pessoal e profissional”,
também despertou interesse entre os leitores, levando à publicação da segunda edição no ano
seguinte. E, se a esta realidade forem somadas outras contribuições, dadas por especialistas em
imagem pessoal, um pouco por tudo o mundo, percebe-se a dimensão do fenómeno.
A observação empírica destas práticas sociais parece ser suficientemente reveladora do interesse
que os indivíduos e as organizações têm pela questão da imagem pessoal e, simultaneamente,
pela possibilidade de a tornar visível aos olhos dos outros através dos mais variados meios, sendo
esse interesse particularmente mais acentuado no caso de pessoas que fazem parte do domínio
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público, as chamadas figuras públicas.
Compreende-se, por isso, que este fenómeno, com grande expressão na atualidade, tenha
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despertado a atenção da comunidade científica nos últimos tempos. Portanto, a questão da
transfiguração de um “eu privado” num “eu público”, que se propõe investigar nesta tese, não é
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da história da humanidade.
De entre os estudos disponíveis sobre a construção da imagem dessas figuras notáveis, da Idade
Antiga (cerca de 4000 a.C. até 476 d.C.) à Idade Moderna (de 1453 até 1789), destaca-se, a título
de exemplo, a obra “Imagem e poder: considerações sobre a representação de Octávio Augusto”,
escrita pelo académico brasileiro Paulo Martins (2011) no âmbito do seu doutoramento em Letras
Clássicas pela Universidade de São Paulo (Brasil), que reflete um estudo de imagens visuais e
literárias em torno de um projeto de poder empreendido pelo fundador do Império Romano e seu
primeiro imperador, entre 27 a.C. e 14 d.C.; a obra “A imagem de Jesus ao longo dos séculos”,
do investigador norte-americano da história do cristianismo, na Universidade de Yale, Jaroslav
Pelikan (1985), que apresenta a forma como cada época interpretou e elaborou a imagem de
Jesus, do século I ao século XX; e, ainda, o livro “A fabricação do rei. A construção da imagem
pública de Luís XIV”, da autoria do professor e historiador britânico Peter Burke (1992), na qual se
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explica o funcionamento da máquina de propaganda do Rei e se discute o uso dos média no século
XVII, dos canais de comunicação (orais, visuais e escritos) e os seus códigos (literário e artístico),
assim como a reação de uma audiência que foi alvo de todas essas mensagens. No plano da
investigação nacional, encontram-se outros trabalhos, como por exemplo, “A construção da
imagem pública do rei e da família real em tempo de luto (1649-1709), uma dissertação de
mestrado em História Moderna, apresentada por Euclides Griné (1997) na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, que visa reconstruir o processo de fabrico de imagens dos Braganças,
mostrar a projeção dessas imagens em diversos meios de informação, persuasão e propaganda
e, até mesmo, refletir sobre as questões da receção da imagem.
Por sua vez, a construção e mediatização da imagem de figuras públicas do mundo
contemporâneo também tem despertado a atenção da comunidade científica, dando lugar ao
desenvolvimento de estudos em áreas tão distintas como política, moda, televisão e música.
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No caso da política, certas pesquisas académicas têm centrado a sua atenção na construção da
imagem e na cobertura mediática de determinados líderes políticos, em contextos e momentos
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específicos, nomeadamente em tempo de campanha eleitoral. Exemplos disso são as dissertações
de mestrado “Estratégias de argumentação e construção da imagem pessoal no debate político
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a forma como foram retratados na imprensa e como a sua imagem se associou a determinados
eventos culturais e históricos. No caso da cantora Madonna, dois trabalhos merecem aqui ser
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destacados. Em primeiro lugar, o caso “Madonna, fashion and image”, no qual o professor de
filosofia Douglas Kellner (1995) analisa a imagem construída da cantora em diferentes momentos
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da sua trajetória pública, por meio de letras de música, videoclips e entrevistas, reconstituindo o
trabalho produzido por uma grande equipa de marketing e mostrando a influencia do ícone da
música pop na moda e identidade do mundo contemporâneo. Em segundo lugar, a obra
“MultiMadonna: o papel da imagem contraditória na construção de um fenómeno da indústria
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cultural”, da autoria de Bruno Fernandes (2010), que resultou de uma dissertação de Mestrado
em Ciências da Comunicação, apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na
Universidade Nova de Lisboa, e que mostra as imagens diversas e divergentes construídas em
cada fase da carreira da estrela pop, no contexto de uma cultura fortemente marcada pelo
audiovisual e pelo star-system.
Todos estes trabalhos são reveladores do interesse do mundo académico pelas questões da
construção e mediatização da imagem pessoal de figuras públicas, pelo menos nas últimas quatro
décadas. Todavia, esses estudos parecem não ser ainda suficientes para darem conta do
fenómeno que se pretende analisar em toda a sua amplitude. A propósito, Turner (2010) notou um
aumento das pesquisas sobre figuras públicas, mas admitiu que não há grande profundidade ou
variedade.
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Portanto, a academia necessita de novas pesquisas, que envolvam outras figuras públicas de
relevo, contemporâneas ou de outrora, que contribuam para um conhecimento científico mais
amplo do fenómeno da fabricação de um ‘eu público’ através dos média. Além disso, são
necessários mais estudos centrados em figuras públicas portuguesas e desenvolvidos por
investigadores nacionais. A escassez de trabalhos sobre o assunto em Portugal representa, por
isso, uma oportunidade para a produção científica na área, daí se propor a presente investigação.
Nesse contexto surgiu a proposta de investigação: “Do ‘eu privado’ ao ‘eu público’: a construção
da imagem pessoal e a sua mediatização”, que pretende reunir pistas para responder à pergunta:
“Como é que um indivíduo se torna figura pública através dos média?”; primeiramente, a partir da
construção de um quadro teórico sobre o fenómeno em estudo e, seguidamente, através da
realização de dois estudos de caso coletivo e da sua análise comparativa.
No que se refere ao quadro teórico, esta investigação procurou enquadrar de forma sistematizada
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a figura pública na esfera mediática contemporânea, com o intuito de delimitar o objeto de estudo,
bem como discutir aspetos da construção e mediatização da imagem pessoal na
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contemporaneidade, com o propósito de identificar elementos para estudo.
Dado que a qualidade da fundamentação teórica depende muito da seleção das leituras, a presente
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investigação contemplou obras de referência que visaram “fazer o ponto de situação acerca dos
conhecimentos que interessam para a pergunta de partida” (Quivy & Campenhoudt, 1998: 52).
Para tanto, foram consideradas obras clássicas bem como documentos produzidos mais
recentemente, garantindo-se assim a atualidade e pertinência da informação produzida. Assim
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sendo, o corpus teórico deste estudo foi construído a partir de livros, artigos científicos, dicionários,
teses, artigos de imprensa, relatórios de estudos, websites e outros documentos, tanto de origem
nacional como internacional.
No âmbito da investigação empírica, a elaboração do estudo de caso comparativo pareceu a
estratégia de pesquisa mais adequada, na medida em que se pretendeu, em primeiro lugar,
examinar um fenómeno contemporâneo; em segundo lugar, conhecer em profundidade “como”
um indivíduo se torna figura pública através dos média; e, em terceiro lugar, estudar um conjunto
de pessoas, designadamente figuras públicas portuguesas.
Assim sendo, ao procurar analisar a forma como se processa a transfiguração de um ‘eu privado’
(indivíduo comum) num ‘eu público’ na esfera mediática contemporânea (figura pública), esta
investigação visou, por um lado, reconstruir a trajetória mediática das figuras públicas em estudo,
desde a sua aparição pública até ao tempo presente, a partir da apresentação de uma sucessão
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linear de acontecimentos relevantes (perspetiva diacrónica) e, por outro lado, analisar a forma
como esses indivíduos são referenciados nos média tradicionais e digitais, tendo por base o recorte
de acontecimentos relevantes (perspetiva sincrónica).
Com o propósito de tornar a pesquisa mais robusta, a recolha de dados foi efetuada a partir de
fontes distintas, concretamente entrevistas às figuras públicas em estudo e/ou seus assessores
de comunicação/imagem; documentação escrita acerca das figuras públicas alvo de estudo, tais
como biografias, monografias, peças jornalísticas e outros documentos; e, ainda, sites, blogues e
redes sociais das figuras públicas em causa. A análise dos dados teve um forte cunho descritivo,
interpretativo e comparativo. Neste caso optou-se por utilizar a técnica de análise de conteúdo,
pelo facto de os dados serem predominantemente verbais (orais e escritos). Pontualmente, utilizou-
se a técnica de análise de frequência a fim de se concretizar a triangulação de dados e a
triangulação metodológica.
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Neste ponto de partida, assumem-se como principais limitações da investigação, a circunscrição
do objeto de estudo a uma elite, nem sempre disponível para participar em trabalhos desta
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natureza; a análise de uma seleção de recortes da sua trajetória pública, deixando de fora outros
acontecimentos; bem como o foco na imagem projetada e não na imagem recebida pelos públicos,
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público dos média na contemporaneidade. A segunda secção inicia-se com uma reflexão ‘sobre o
visível e o invisível’ na esfera mediática contemporânea, para em seguida caracterizar a visibilidade
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pública e sistematizar as oportunidades e ameaças da visibilidade mediática. Enquanto a terceira
secção procura definir o termo ‘figura pública contemporânea’, encontrar uma tipologia de figura
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pública e, ainda, refletir sobre a nomenclatura utilizada para representar a figura pública nos
média.
O segundo capítulo, formado por três secções, constitui uma reflexão sobre o poder da imagem
pessoal na cultura Ocidental, com o intuito de encontrar elementos relacionados com o processo
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O quinto capítulo está dividido em três secções e apresenta o estudo comparativo de casos. Assim,
na primeira e na segunda secções apresentam-se os casos Joana Vasconcelos (artista plástica) e
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Paulo Furtado (músico), respetivamente. Cada caso contempla, em primeiro lugar, uma breve
biografia da figura pública, na qual se procede à caracterização pessoal e profissional da mesma
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e última secção deste capítulo faz-se uma análise comparativa dos casos com o intuito de
evidenciar os pontos divergentes e convergentes encontrados nos processos de construção e
mediatização da imagem das duas figuras públicas em estudo.
Nas considerações finais articulam-se os resultados da investigação empírica com o
enquadramento teórico, tecem-se algumas considerações sobre a validade e fiabilidade dos
resultados, apontam-se as limitações e insuficiências da pesquisa realizada, destaca-se o
contributo da investigação na área científica em que a mesma se insere, faz-se referência à
aplicação prática dos resultados obtidos e apresentam-se pistas para investigações futuras.
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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
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CAPÍTULO 1. A TRANSFIGURAÇÃO DO ‘EU PRIVADO’ NUM ‘EU PÚBLICO’
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políticos como Mikhail Gorbachev ou Mao Tsé-tung, reis e rainhas como Guilherme I e Isabel I,
músicos como Bach e Beethoven, entre outros.
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Na contemporaneidade, a figura pública ganhou novos contornos, motivada pelo desenvolvimento
das indústrias culturais e dos média. Os média, em particular, têm tido um papel crucial na
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exposição dessas pessoas no espaço público, desde o nível local até ao internacional. Deste modo,
a esfera mediática contemporânea está povoada de figuras públicas: políticos, desportistas, atores,
modelos, músicos, artistas, apresentadores de televisão, concorrentes de reality-shows, membros
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da realeza, entre outras. Umas atraem mais a atenção dos média do que outras, mas todas elas
ganham acesso aos média pelo facto de cumprirem o requisito de ‘interesse público’. Por essa
razão, todos os dias, meios de comunicação social de todo o mundo fazem circular um número
incalculável de notícias acerca dessas pessoas conhecidas do grande público.
É precisamente neste contexto que esta investigação de insere. Portanto, neste capítulo procura-
se compreender o processo de transfiguração do ‘eu privado’ num ‘eu público’ a partir de uma
reflexão, em primeiro lugar, sobre os conceitos de ‘espaço público’ e ‘espaço privado’, pois é entre
esses dois espaços que o fenómeno de desenvolve; em segundo lugar, sobre o conceito de
‘visibilidade’ pública e mediática, dado que uma pessoa só se torna figura pública se for vista,
notada e conhecida por muitas pessoas; e, por fim, sobre o conceito multifacetado de ‘figura
pública’, a fim de se conhecer o objeto de estudo da presente pesquisa.
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1.2 O público, o privado e a esfera dos média
Na Antiguidade Clássica (aproximadamente do século VIII a.C. ao século V d.C.), a comunicação
entre Estado e cidadãos processava-se através de contactos interpessoais na ágora grega ou nas
câmaras do senado romanas, dando-se assim origem ao princípio de opinião pública e de
comunicação política (Ferin, 2002: 112). Por meio da conversação entre cidadãos, as coisas
verbalizavam-se, configuravam-se, tornavam-se visíveis a todos e, nessa disputa, os melhores
alcançavam a ‘imortalidade da fama’ (Habermas, 1984 [1962]: 16). A esfera pública era assim
um espaço de reconhecimento público, onde a representatividade pública estava ligada a atributos
da pessoa – como a insígnia (emblemas, armas), o hábito (vestimenta, penteado), o gesto
(saudação, comportamentos) e a retórica (forma de falar, estilo do discurso) – e era dependente
da circunvizinhança em que a mesma se manifestava (Habermas, 1984 [1962]: 20-23).
Na democracia grega, a esfera pública correspondia à esfera do que é comum (koinon) aos
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cidadãos, enquanto a esfera privada correspondia ao que é próprio do cidadão (idion), da família
e da casa (oikos). Desse modo, o privado era do domínio da necessidade, isto é, um espaço
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reservado à satisfação de necessidades biológicas como alimentação, abrigo e reprodução e a ele
pertenciam os escravos, as mulheres e as crianças, os quais eram dominados pelo chefe da casa,
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que assegurava a satisfação das suas necessidades; enquanto o público era do domínio da
liberdade, desapegado das necessidades biológicas (Arendt, 1958; J. R. Carvalheiro, Prior, &
Morais, 2015; Habermas, 1984; A. Rodrigues, 1985).
Nessa altura, a esfera pública apresentava um estatuto superior ao da esfera privada e para
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pertencer à esfera pública e fazer parte dos poucos que eram livres e iguais na polis 1 da Grécia
Antiga, o cidadão tinha de saber usar a palavra e fazer valer os seus feitos. Na realidade, o bios
politikos tinha de se manifestar através da notoriedade (aristotein) dos pares (omoioi) no espaço
da ágora, na palavra (lexis) e na ação (praxis) da guerra (polemos) e da luta (agonia) (Rodrigues,
1985: 2).
Na sociedade dos romanos, a relação entre Estado e cidadãos processava-se de maneira diferente,
dado que existia uma dominação do poder imperial sobre os cidadãos do Império Romano. No
entanto, a distinção entre público e privado era evidente, na medida em que o direito romano
consagrara a oposição entre o dominium ou o imperium do publicus, constituído pelo res extra
commercium, formado por estradas, praças e rios, que garantia livre acesso do povo ao espaço
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O termo polis designava a cidade grega da Antiguidade clássica.
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