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Maceió
2014
RENATA LOURIANE MOREIRA DA SILVA MENEZES
Maceió
2014
FOLHA DE APROVAÇÃO
A era dos likes: uma análise sobre a fotografia pessoal em tempos de Facebook./ Monografia
de graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade
Federal de Alagoas, na forma normalizada e de uso obrigatório.
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Banca Examinadora:
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À minha família, meu porto seguro de sempre, em especial às minhas mães e ao meu
pai, que nunca economizaram esforços para me fazerem feliz e verem meus sonhos
realizados;
Ao meu companheiro, Bernardo, pela atenção de todas as horas, pela dedicação e pelo
amor a mim devotados;
Aos amigos da escola, que o tempo não afastou - Thaíssa, Mari e Fábio - pelo
companheirismo, pela irmandade e pelo carinho de sempre;
Aos amigos distantes, mas não menos importantes ou presentes - Carlos, Diego e Fred
-, pelo apoio indispensável, pelas discussões frutíferas e pela paciência que tiveram durante o
desespero para desenvolvimento desta monografia;
Aos bons amigos que a UFAL me deu – Anderson, Aninha, Caio, Marcela, Mary,
Mylla, Nati e Pedrito -, por trazerem mais leveza aos quatro anos da graduação.
Sou curtido, logo, existo
RESUMO
Por que publicar fotos pessoais em redes sociais? Essa pergunta foi o ponto de partida
para esta pesquisa, que tem como principal objetivo, em linhas gerais, compreender o
processo de virtualização dos tradicionais álbuns de família. Para chegar a esse resultado,
observamos outros fenômenos, como as mudanças que ocorreram nas relações interpessoais
ao longo do tempo, o modo como as tecnologias interferem no cotidiano do sujeito
contemporâneo e o lugar da imagem na sociedade. Como base teórica, estão incluídos
pesquisadores que se ocuparam desses temas e de temas periféricos, com destaque para
Riesman, Goffman e McLuhan, principais alicerces desta pesquisa. Além da busca por
bibliografia, esta monografia também conta com os resultados de um questionário online,
respondido por 65 internautas, realizado para auxiliar na coleta e análise de dados, qualitativa
e quantitativamente.
Why publish personal pictures in social networks? That question was the starting point
for this work, which aims to, in broad guidelines, comprehend the virtualization process of the
traditional family photo albums. In order to achieve this, other phenomena - such as the
changes in interpersonal relations through time or the technological interference in
contemporary man’s quotidian and society’s relationship with images - have been observed.
Theoretical references include researchers such as Riesman, Goffman and McLuhan, whose
works deal with themes relevant to the present analysis. Besides bibliographical analysis, this
monograph also discusses the results of an online questionnaire answered by 65 subjects,
which has been conducted with the objective of helping in data collection and analysis,
quantitative and qualitatively.
1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................11
2. ANALÓGICO X DIGITAL .........................................................................................13
2.1 A fotografia analógica ......................................................................................13
2.2 A fotografia digital ..........................................................................................14
2.3 Cibercultura ......................................................................................................16
3. A TRANSFORMAÇÃO DOS HÁBITOS ...................................................................18
3.1 A exposição/atuação do “eu” na rede social ...................................................20
3.2 O vazamento de fotografias pessoais .............................................................22
4. NOVOS HÁBITOS PEDEM NOVAS TECNOLOGIAS............................................25
4.1 O “selfie” como agente de mudanças..............................................................25
4.2 A aura da fotografia analógica ........................................................................27
5. RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS...................................................................29
6. A ERA DOS LIKES – CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................. 33
7. BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................34
8. ANEXOS......................................................................................................................36
LISTA DE TABELAS
Tabela 05 – Com que frequência você faz upload de imagens em redes sociais?
1 - INTRODUÇÃO
O foco desta pesquisa está nas redes sociais Facebook e Instagram, que foram
escolhidas devido à relevância na atualidade, já que ambas servem como vitrines para as
fotografias de seus usuários. Além disso, essas redes se tornam importantes porque permitem
a interação direta entre seus participantes, o que leva à reconfiguração das relações
interpessoais e dá novas perspectivas de produção e consumo à fotografia.
12
Ao expor sua vida pessoal em uma rede social, entendemos que o sujeito busca seus
“quinze minutos de fama”, que devem ser corroborados pelos seus amigos a partir das
ferramentas disponíveis (curtir e comentar). Por essa lógica, quanto mais “curtidas” e
comentários positivos, maior foi o êxito do indivíduo com aquela postagem. Essa série de
fenômenos descritos dá origem ao que aqui chamaremos de Era dos Likes.
Dito isso, partimos de determinados princípios para guiar os estudos. Com base em
Goffman (2002), tomamos as redes de relacionamento virtuais como espaços de atuação, ou
seja, essas redes são palco para seus atores (usuários), que precisam do feedback do público
para saber se seu comportamento está sendo aprovado ou não. Nesse contexto, entramos nos
estudos de Riesman (1995), que fala no surgimento de sujeitos alterdirigidos, que atuam no
espaço público em busca de serem vistos, e do behaviorismo, que aplicamos para analisar as
curtidas enquanto agentes reforçadores do comportamento na rede social.
2 – ANALÓGICO X DIGITAL
O costume se tornou uma tradição e não eram raros os momentos de reunião em torno
daquelas recordações. Muito além de simples papéis impressos, as fotografias eram
carregadas de afetividade, como se fossem dotadas do poder de devolver, em partes, as
1
Phos (“Luz”, do grego) + Graphos (“Escrita”, do grego)
14
sensações daquele instante. De acordo com Roland Barthes: “[na fotografia], o corpo amado é
imortalizado pela mediação de um metal precioso, a prata (monumento e luxo); ao que
acrescentaríamos a idéia de que esse metal, como todos os metais da alquimia, está vivo”
(BARTHES, 1984, p. 121). Sobre isso, o crítico de cinema André Bazin escreveu, em seu
ensaio “Ontologia da Imagem Fotográfica”:
A originalidade da fotografia em relação à pintura reside, pois, na sua
objetividade essencial. [...] Pela primeira vez, entre o objetivo inicial e
sua representação nada se interpõe, a não ser outro objeto. Pela
primeira vez, uma imagem do mundo exterior se forma
automaticamente, sem a intervenção criadora do homem. (BAZIN,
2014, p. 31)
Já no paradigma pós-fotográfico:
Além disso, com a união à internet, surge a possibilidade de dispor as imagens na rede
social e, com ela, a cultura da instantaneidade. Essas características e o aumento da
capacidade de armazenamento de imagens são as mais importantes para esta pesquisa, devido
aos impactos causados nas relações sociais.
Mas antes de falar sobre esses impactos, é importante visitar a obra de Marshall
McLuhan2, em que ele discute sobre as consequências de uma nova tecnologia sobre a
sociedade. No livro “Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem”, ele diz que:
Logo, vê-se que o conteúdo da fotografia digital inclui a antiga fotografia impressa,
assim como o conteúdo da fotografia impressa eram os retratos pintados à mão. Mas o
processo de digitalização vai além da transposição do conteúdo do analógico para o digital,
passando ainda pela convergência entre imagens e linguagem binária, o que é uma marca
registrada da Cibercultura, tema do próximo tópico.
2.3 –Cibercultura
Esta monografia não existiria se não fosse a cibercultura, um processo que teve início
nos anos 50, com o nascimento da informática e se consolidou nos anos 90, com a
popularização da internet.
Para explicar esse processo e como ele se relaciona com os temas em questão neste
trabalho, basearemo-nos no livro “Cibercultura – Tecnologia e Vida Social na Cultura
Contemporânea”, de André Lemos (2002), no qual o autor se debruça sobre o fenômeno para
compreender suas implicações nas relações interpessoais, a partir de um apanhado histórico
sobre a técnica.
Segundo o escritor, a cibercultura é uma “nova relação entre a técnica e a vida social”
(LEMOS, 2002, p. 15), que resulta da união da cultura contemporânea com as tecnologias
digitais. Trocando em miúdos, a cibercultura representa uma profunda mudança na relação
que o indivíduo e a sociedade têm com as tecnologias, sendo o produto da fusão entre a pós-
modernidade e o mundo digital.
representavam um ensaio para a comunicação ubíqua. Especificamente sobre as NTC que nos
interessam, ele diz que “surgem a partir de 1975, com a fusão das telecomunicações
analógicas com a informática, possibilitando a veiculação, sob um mesmo suporte – o
computador – de diversas formatações de mensagens” (LEMOS, 2002, p. 68).
A fotografia não poderia sair ilesa desse processo, bem como as tradições que a
cercam. Assim como outras mídias, ela sofreu um processo de virtualização, que a leva dos
tradicionais suportes físicos (negativo, álbum, papel) para os digitais (pastas de computador,
arquivos .jpg, e álbuns virtuais).
Essa transição do analógico para o virtual/digital começou no início dos anos 2000 e
se consolidou rapidamente. Em menos de uma década, vemos a fotografia analógica deixar de
ser objeto cotidiano e virar antiguidade, item de colecionador, assim como o predomínio da
imagem digital no cotidiano dos indivíduos.
Como já foi dito no tópico anterior, entre a fotografia analógica e a digital, não há
mudanças no conteúdo, já que ocorre apenas uma mudança de escala. Sendo assim, quais as
consequências sociais da digitalização da fotografia? Trataremos deste assunto no próximo
capítulo.
3
O termo “mass media”foi cunhado nos anos 50 para se referir aos meios de comunicação como o rádio, a
televisão e a mídia impressa, que atingiam um público massivo e que pretendia ser o mais abrangente possível,
buscando um denominador comum em termos ideológicos em suas mensagens transmitidas.
18
Sobre o álbum físico tradicional, podemos afirmar que ele acompanhava uma
configuração familiar que tinha o lar como refúgio sagrado do indivíduo e na qual o espaço
público ainda representava uma ameaça à conduta, possibilitando o processo de sacralização
do álbum de família.
4
David Riesman classifica a família em três estágios, a partir do modo como essa instituição interfere na
constituição da personalidade dos indivíduos: a primeira seria a família medieval, de direção traditiva, na qual os
sujeitos aprendem como devem se comportar a partir da observação dos pais; na família moderna, classificada
como introspectiva, os pais orientam seus filhos sobre qual caminho devem seguir; por fim, a família
contemporânea seria alterdirigida, ou seja, aquela na qual as crianças dependem de referenciais externos para
aprender os comportamentos adequados, já que a família sozinha não é capaz de suprir essa demanda.
19
papel dos pais diminui de importância quando comparado com o mesmo papel entre os
introdirigidos” (RIESMAN, 1971, p.119).
Assim, os pais começaram a delegar parte de suas antigas
funções às escolas e aos outros grupos de influência das
crianças, “mas mesmo essas autoridades se expressam
vagamente”. Por isso, outros agentes são solicitados a ajudar os
pais “voltam-se também para os meios de comunicação de
massa” e ainda, “voltam-se, com efeito, para as próprias
crianças”. (RIESMAN, apud DIOGO, 2010, p.130)
Para compreender essa necessidade, de ser visto e julgado pelo outro, relacionaremos
as ideias Riesman às de Erving Goffman (2002), publicadas no livro “A representação do eu
na vida cotidiana”. No prefácio da obra, ele próprio explica que se trata de um trabalho feito
para compreender como funciona a vida em sociedade a partir de uma perspectiva teatral.
Sendo assim, segundo a teoria do autor:
O que os autores têm em comum? O mundo ainda estava inebriado com a televisão e
sequer cogitava a invenção de outro meio de comunicação revolucionário, como uma rede
mundial de computadores, quando ambos publicaram as obras aqui citadas. Mesmo assim,
com todos os avanços e mudanças que ocorreram nos quadros sociais, políticos e econômicos
ao longo das décadas, os dois apontavam para fenômenos que se confirmam e se tornam cada
vez mais atuais, como veremos ao longo desta monografia.
20
Figura 1: Tirinha do cartunista André Dahmer, em crítica à superexposição das redes sociais
Para coletar dados para desenvolvimento desta pesquisa, foi realizado um questionário
dividido em perguntas de múltipla escolha e discursiva, nas quais os entrevistados deveriam
responder sobre seus hábitos enquanto produtores e consumidores de imagens nas redes
sociais. Em uma das entrevistas, a jovem X5, de 21 anos, usuária tanto do Facebook quanto do
Instagram, comentou que já pediu a amigos para curtirem suas fotos e que frequentemente
seleciona o público que pode acessar cada um de seus conteúdos no Facebook. Sendo assim,
se ela quer compartilhar um clipe do YouTube e sabe que a música pode não ser agradável a
Y, por exemplo, bloqueia a atualização para ele/ela, no intuito de manter as aparências.
Para compor a encenação, a jovem se pauta no que é aceito ou não pelos grupos que
faz parte e esconde os comportamentos que não seriam aceitos, seja bloqueando a
visualização para determinados contatos ou evitando compartilhar certos conteúdos.
5
Identidade não revelada a pedido da entrevistada.
21
crianças de oito anos alegam falta de interesse por programas de televisão que são dirigidos às
de cinco ou seis anos, mas às vezes, furtivamente, assistem a eles” (GOFFMAN, 2002, p. 46).
No caso das redes sociais que interessam a este trabalho (Facebook e Instagram), esse
feedbackdo público é dado por meio de curtidas ou comentários (que podem ser positivos ou
negativos), que servem como reforço para incentivar ou repudiar o comportamento.
Essa opinião de que o botão “curtir” serve como um elogio é reforçada até mesmo
pelo próprio criador dele, Bret Taylor, ex-diretor de tecnologia do Facebook. Em entrevista
6
Todas as respostas coletadas estão disponíveis no anexo desta monografia.
22
para o Techradar7, ele explica que o botão é uma forma de expressar simpatia ao conteúdo
publicado e que não há um botão negativo (“dislike”), porque ele poderia trazer uma
negatividade indesejada para o Facebook.
O caso mais famoso do Brasil, responsável por chamar a atenção para esse tipo de
prática, foi o da atriz Carolina Dieckmann, que teve suas fotos roubadas por hackers e sofreu
extorsão para não tê-las divulgadas. Por não ceder à pressão dos ladrões, suas imagens íntimas
“vazaram” na rede em maio de 2012, gerando grande repercussão na mídia nacional. Com a
denúncia feita pela atriz, os responsáveis pelo vazamento foram localizados e punidos, mas
por furto de imagem, já que não havia uma lei prevista para estes casos.
7
Entrevista disponível em <http://www.techradar.com/news/internet/creator-of-the-facebook-like-explains-why-
you-ll-never-get-a-dislike-button-1269788>. Acesso no dia 22 de outubro de 2014.
8
http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/09/valor-do-facebook-chega-ultrapassa-os-us-200-bilhoes.html
(acesso em 20 de novembro de 2014)
9
http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/02/lei-carolina-dieckmann-sobre-crimes-na-internet-
entra-em-vigor.htm (acesso em 02 de novembro de 2014)
23
imagens íntimas da atriz: uma simples pesquisa com as palavras “Carolina Dieckmann nua”
nos leva a aproximadamente 83.100 resultados10 que incluem entre eles sites que permanecem
com as fotos no ar impunemente, como pode ser visto na imagem abaixo.
Com isso, identificamos uma propriedade do formato digital que pode ser ao mesmo
tempo “mocinha” ou “vilã”: a facilidade de gerar cópias a partir de publicações na internet e a
dificuldade para acabar com elas.
Enquanto para muitos essa é uma possibilidade de manter suas imagens vivas, em
circulação e resistentes às ações do tempo – algo que era difícil com o formato analógico, já
que havia apenas uma matriz física, o negativo –, para outros pode ser um pesadelo, já que é
quase impossível coibir a repercussão das cópias em meio à rede mundial de computadores.
10
Pesquisa realizada no dia 02 de novembro de 2014
24
11
<http://blog.oxforddictionaries.com/2013/11/word-of-the-year-2013-winner/> Acesso em 04 de novembro de
2014.
26
Tanto na descrição quanto nos posts do grupo, percebe-se uma hostilidade em relação
às câmeras ou a quaisquer tecnologias digitais para produção de imagens, o que pode ser
comprovado com a seguinte postagem:
12
Descrição do “Grupo Queimando Filme” no Facebook. Acesso em 08 de agosto de 2014.
13
Postagem do dia 06 de agosto de 2014. Acesso em 08 de agosto de 2014.
28
Essa “aura” citada seria aquela descrita por Walter Benjamin, em “A Obra de Arte na
Era da Reprodutibilidade Técnica”, baseada na unicidade do objeto artístico e que seria
“destruída” a partir da possibilidade de reproduzir e ampliar o acesso ao seu consumo.
Ainda assim, percebe-se que mesmo em um grupo voltado para uma tecnologia
analógica, é feito o uso de sistemas digitais para compartilhar (reproduzir) suas fotografias.
De maneira geral, os integrantes do grupo relatam que após a revelação dos negativos, eles
são submetidas a um scanner, com o objetivo de guardá-las em meio digital. Após isso, elas
frequentemente são expostas na rede, com o intuito de receber feedback de outros membros
do grupo, com impressões pessoais sobre as imagens.
Vê-se, então, que não interessa a estes fotógrafos a aura tal como proposta por
Benjamin, que lhes daria o direito da contemplação solitária, mas sim a possibilidade de fazer
parte de um ambiente exclusivo, dedicado apenas aos saudosos analógicos, e que permite
interagir com um público pronto para dar sua opinião, geralmente a partir de curtidas e
comentários elogiosos.
29
5 - RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO
Para conclusão desta pesquisa, foi aplicado um questionário online durante o primeiro
semestre de 2014, respondido por 65 usuários de redes sociais.O objetivo do questionário era
observar empiricamente o comportamento dos entrevistados enquanto produtores e
consumidores de imagens na internet. Todas as respostas se encontram em anexo ao final
desta monografia. Os resultados obtidos foram os seguintes:
15 – 20 anos 18%
21 – 25 anos 59%
26 – 30 anos 9%
31 – 40 anos 9%
+40 5%
Dado importante para a análise do público majoritário que consume e produz imagens
nas redes sociais: vê-se que a faixa etária que representa maior expressividade nesse quesito
está entre 21 - 25 anos, que corresponde a mais da metade dos usuários que participaram da
pesquisa. Da mesma forma, o público com 40 anos ou mais representa minoria entre os
entrevistados.
Analisando esses dados, percebemos que a faixa etária mais expressiva em termos de uso
das tecnologias digitais é composta justamente por sujeitos que cresceram na época de
transição entre o analógico e o digital.
Não 1%
O uso tanto de celulares quanto de câmeras digitais para produzir fotografias é outro dado
relevante para esta pesquisa. De acordo com os resultados, 79% dos internautas usam os dois
30
dispositivos regularmente, contra 20% que usam somente um ou outro dos dois equipamentos
e apenas 1% que não produzem fotografias digitais com nenhum equipamento.
Esses resultados acima mostrados demonstram o predomínio da cultura digital, que ainda
pode ser observado na tabela seguinte:
Nesse quesito, 70% dos entrevistados citaram o computador ou outros meios digitais,
como HD externo, smartphones e a “nuvem” como principal meio de conservação das fotos.
É importante ressaltar que, mesmo assim, muitos deles falam sobre o desejo de ter essas
imagens impressas e alegam não fazê-lo por “comodismo”. Os outros 30% responderam que
ainda se dão ao trabalho de montar álbuns físicos periodicamente, mas, em sua maioria,
apenas para os momentos mais especiais. As fotografias “cotidianas” (banais) ficam
armazenadas no computador, como pode ser visto no seguinte depoimento:
Tabela 5 - Com que frequência você faz upload de imagens em redes sociais?
Diariamente 9%
Raramente 47%
Observa-se que 53% dos entrevistados publicam imagens pelo menos duas ou três vezes
por semana, contra 47% que dizem publicar raramente, o que indica uma tendência da maioria
do público à exposição nas redes sociais. Apesar disso, percebe-se que a proporção entre
aqueles que mostram e aqueles que não o fazem é de quase meio a meio, o que indica que há,
ainda, uma alta proporção de resistência, provavelmente devido ao medo das consequências
da exposição nas redes.
Na questão discursiva sobre a importância de compartilhar imagens nas redes sociais,
67% das pessoas concordam que mostrar aos outros é o principal propósito, inclusive com o
uso de verbos como “partilhar”, “mostrar”, “exibir”, como é o caso do seguinte depoimento:
14
Depoimento anônimo, coletado em questionário sobre consumo e produção de imagens.
15
Depoimento anônimo, coletado em questionário sobre consumo e produção de imagens
32
Dos outros 33%, apenas quatro pessoas dizem não compartilhar imagens pessoais nas
redes, para não ficarem expostas, e as outras comentam que não sabem qual a importância,
mas que o fazem por “modismo” ou pressão social.
Sobre quem são os principais contatos nas redes sociais, na tabela abaixo vemos que a
maioria aponta os amigos como principal público, enquanto apenas 29% indicam a família,
reforçando o pensamento de David Riesman sobre o esvaziamento do papel familiar na
construção da identidade dos sujeitos.
Amigos 61%
Familiares 29%
Desconhecidos 8%
Outros 2%
Por fim, relacionamos as duas redes sociais que nos interessam com a questão “No
caso de utilizar Facebook e Instagram, você compartilha as imagens do Instagram no
Facebook?”. Os resultados foram:
Tabela 7 - No caso de utilizar Facebook e Instagram, você compartilha as imagens do Instagram no Facebook?
Com essas porcentagens, vemos que há uma filtragem de conteúdo entre as redes sociais,
já que apenas 27% dos entrevistados dizem compartilhar todas as imagens em ambas as redes,
mas o restante se divide entre “às vezes” ou “nunca”. Essa filtragem nos faz retornar mais
uma vez às teorias de Erving Goffman, no sentido de que os usuários das redes selecionam o
que deve ser visto ou não pelos contatos de cada uma das redes sociais.
33
A partir da análise dos dados obtidos com o questionário e das discussões apresentadas
nesta monografia, tomamos a liberdade de batizar o momento em que vivemos como “era dos
likes”. Nesta nova época, os sujeitos se inserem na mídia como produtores, consumidores e
juízes do comportamento alheio, que proferem suas sentenças a partir de um simples
mecanismo, denominado como “like” ou “curtida”, que age como um condicionamento
operante (SKINNER, 1974), deixando claro se aquela atitude é aprovada pelo grupo ou não.
Essa necessidade de aprovação já havia sido prevista pelos autores que serviram como
norte para esta pesquisa, David Riesman e Erving Goffman, muitas décadas antes de haver a
internet ou meios de comunicação digitais. Enquanto Riesman nos disse que já não cabe
apenas à família trabalhar na construção das personalidades das crianças, já que outras
variáveis externas interferem em sua educação (escola, mídia, artistas e outras), Goffman
deixou claro em seus escritos que o indivíduo em sociedade age como um ator em um palco,
que espera os aplausos ou as vaias da plateia para validar a sua atuação.
BIBLIOGRAFIA
BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Lima, Luiz
Costa. (org.). Teoria da Cultura de Massa. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1982. p. 207 a 240.
BUCCI, Eugênio. Meu pai, meus irmãos e o tempo. In: 8 X fotografia: ensaios. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008. p. 69-88.
LANDINI, Tatiana Savoia ; PASSIANI, Enio . Jogos habituais: sobre a noção de habitus em
Pierre Bourdieu e Nobert Elias. In: X Simpósio Internacional Processo Civilizador, 2007,
Campinas, SP. Anais do X Simpósio Internacional Processo Civilizador, 2007.
SIBILIA, Paula. Show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2008.
SILVA, Rosane. Uma percepção do olhar: os três paradigmas da imagem à luz da semiótica
peirceana. Revista Comunicação & Educação, ano 8, núm 3, setembro – dezembro, pp. 19 –
27, 2008.
ANEXOS
No computador.
Não faz volume, não corro o risco de enjoar da foto e fazendo backup o risco de
perder a foto por causas naturais, ou não, diminui drasticamente.
Monto no computador e guardo algumas em porta retrato
Guardo no computador por questão de desorganização e protelamento. No fim das
contas, sempre planejo revelar fotos que gosto mas há anos não faço isso.
A maior parte fica no computador, porque é mais prático e barato. E com as câmeras
digitais, as fotos passaram a ser tiradas sem tanta obrigação de ficarem bonitas. Uma
foto de família é tirada duas, três, quatro vezes, ou quantas forem necessárias para que
ninguém saia de olho fechado ou bocejando. Antigamente era uma só, porque o filme
e a revelação tinham um valor considerável. Hoje em dia dá para armazenar todas as
versões das fotos e selecionar algumas para revelar e colocar em álbuns ou porta-
retratos. Ainda conservo essa vontade de tornar a foto algo material.
As duas coisas. Gosto do álbum físico.
Guardo no computador, mas estou organizando as fotos para poder revelar as que mais
significam para mim.
Sim. Ter recordações.
Atualmente, tenho guardado as minhas no computador mesmo, pois elas são tiradas
quase que diariamente pelo celular. E mesmo com as fotos tiradas em câmera digital,
eu acho mais prático guardá-las no computador. Mas penso em revelar algumas,
também, só não sei quando.
Guardo no computador, pois tem maior durabilidade e menor custo.
Computador. Pois tenho preguiça ou nao lembro de revelar.
Depende. Guardo em meu computador fotos de trabalho, eventos, etc. E, geralmente,
revelo fotos quando quero presentear alguém. Mas, é bem mais comum eu salvar tudo
no computador.
Gosto de montar álbuns físicos, porque considero melhor para ver e compartilhar
momentos que foram ou são tão memoráveis. É muito diferente a sensação de poder
tocar a foto, passar as páginas... completamente diferente do processo de ligar o PC,
acessar determinada pasta e simplesmente ir passando as fotografias numa tela!
"Geralmente guardo no computador ou gravo num DVD, pela comodidade.
A última vez que revelei fotos foi para dar um presente (um álbum).
Sim, tenho um álbum físico pois é mais confiável que o digital.
43
Tenho alguns álbuns físicos, mas já faz algum tempo que não monto algum. Guardo as
fotografias em um computador, colocando as mais importantes no Dropbox e/ou
Flickr. Também gravo DVDs com cópias de segurança. Ultimamente, tenho sentido a
necessidade de fazer uma seleção e revelar algumas fotos que considero importantes e
cheias de memórias afetivas que significam bastante. Não consigo confiar plenamente
na existência de um arquivo digital, mesmo contendo várias cópias (também digitais):
ainda acredito muito na materialidade como forma de preservação - e também como
lembrança. A minha impressão ainda é que folhear um álbum físicos ou abrir uma
caixa cheia de fotos reveladas ainda é mais significante do que vê-las ocasionalmente
num computador.
Não. Porque nunca saí bem em foto, aí nunca gostei de guarda-las.
Guardo em meu computador, pois acabo esquecendo de revelar.
Não tenho mais revelado fotos com tanta frequencia, porém, sempre guardo em albuns
as reveladas.Tenho mantido mais fotos no computador, pela comodidade mesmo.
Em um computador. Pq é muito mais prático.
Computador. Comodidade.
Na verdade os dois. Eu costumo arquivar as "imagens gerais" em pastas em meu
computador e revelar algumas destas imagens (aquelas que eu considero mais
relevantes), para abastecer meus murais de foto. Se pudesse revelaria mais.
guardo em computador e só revelo aquelas que serão usadas em algum porta-retrato,
pela facilidade de armazenamento e baixo custo
Guardo no computador e no hd externo, e com algumas eu faço álbuns no facebook,
com a intenção de, um dia, selecionar as melhores e fazer álbuns físicos, como
também outros produtos físicos para presentear.
Guardo em computador. Tenho até vontade de revelar as mais importantes de cada
evento, mas esqueço e surgem mais eventos e vou deixando pra lá.
Guardo a maioria das fotos em computador, mas por descuido já perdi muitas delas.
Revelo pouquíssimas fotos para colocar num mural que tenho no quarto. Só sinto falta
das impressas quando vejo os álbuns antigos.
No computador, mais especificamente na nuvem, por ser mais prático e onipresente.
No computador, nas nuvens. Duram mais.
Geralmente apenas guardo as fotos no computador. Só monto um álbum se quero fazer
algo especial para alguém.
44
Para compartilhar uma parte da minha vida com pessoas que eu gostaria de ter
conhecido antes e para registrar os momentos qoe vivo agora com as pessoas quite
compõem meu presente.
Porque gosto de mostrar os bons momentos com as pessoas que gosto ou mostrar
paisagens, coisas que achei legais. Acho que de certa forma representa se as pessoas te
acham legal, interessante. Mas não é essencial ou necessário pra mim, às vezes passo
semanas sem compartilhar nada e não sinto falta. Não é algo que é importante, mas
que é divertido.
Não compartilho fotos pessoais.
Interação; socialização e curtição. As vezes um pouco da vaidade. Mas pondero
bastante qualquer foto que posto.
Para mostrar as belezas que vi ou contar experiências pelas quais passei.
Para dividir momentos como viagens, passeios, restaurantes... Mas não tem um porquê
definido, a pergunta me faz pensar se na verdade a intenção geral é aparecer...
Passatempo.
É um costume atual.
Não compartilho muito, só em certas ocasiões especiais.
Não costumo compartilhar fotos nas redes sociais, acho narcisismo demais.
nao compartilho fotos pessoais,mas as vezes me marcam nas fotos e com isso as fotos
ficam publicas na minha rede tb.
Para partilhar com amigos os momentos importantes
Pra ver a recepção do povo, os comentários, as curtidas.
É uma maneira de entretenimento, incentiva tirar fotos, quando você sabe que outras
pessoas vão olhar!
Para registrar as memórias e espalhar notícias para familiares e amigos de forma
rápida.
Exposição, a construção de um discurso e de uma metanarrativa imagética sobre o
autor, assim o incluindo em determinados grupos ou não. Trabalho, divulgação.
Para que vejam o meu dia a dia e assim possa me aproximar das outras pessoas,
fazendo cumprir assim o papel das redes sociais.
Porque tenho nas minhas redes sociais pessoas importantes com as quais gosto de
dividir momentos especiais, mesmo que virtualmente.
Por que gosto
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obter feedback sobre sua própria imagem ou qualquer outra coisa; gerar interação com
pessoas que não é possível encontrar agora, etc.
Pra mostrar pro mundo que eu me divirto, tenho amigos que saem pra zoara, ou que
eu sou bonita.
Para se divertir.
Apesar de ter desconhecidos, é uma forma de compartilhar emoções, momentos com
os amigos e família.
Pq é uma prática que já se tornou comum no cotidiano de milhões de pessoas no
mundo. As pessoas querem cada vez mais mostrar para as outras o que elas estão
fazendo, como estão onde estão, quais as paisagens fazem parte do dia a dia, os
costumes, manias, etc.
Todo mundo sente a necessidade de expor o que sente, essa é uma maneira de expor
sentimentos, sensações, reivindicações.
Gosto muito de fotografia e nesse processo, mostrá-las é importante. Quando as
pessoas curtem, significa que gostam do meu job. Quanto aos autoretratos, acho que
fortalece o ego (risos)
porque é uma forma de apresentar minha rotina ás pessoas e guardar momentos
pessoais que possa, ser lembrados através da consulta rapida ás redes.
Para manter proximidade e para dar notícias de como estou e o que estou fazendo por
meio de imagens. Mas não costumo compartilhar muitas fotos minha, como selfie,
mas fotos que eu tiro.
Pra compartilhar os bons momentos com quem gostamos. Mesmo que outros
seguidores tenham acesso e nem sejam amigos.
Boa pergunta. Eu honestamente não sei responder, mas parece que existe uma relação
com a aceitação esperada pelas pessoas que verão as fotografias, quanto mais likes,
mais feliz eu fico.
Para os amigos verem.
Para compartilhar momentos marcantes.
Dado imediatismo em nossa sociedade, sentimos a necessidade de compartilhar
informações o mais rápido possível, inclusive o que fazemos, quando fazemos, e com
quem. Fotos expressam e suprem esta necessidade.
Realmente não gosto, faço mais por pressão social.
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"Hoje em dia tem se tornado uma coisa bem comercial o curtir. Porém, a gente gosta
de ter uma foto com um número bom de curtidas. Gostamos de receber os comentários
também."
A quantidade de "curtir" e comentários recebidos num post, pode significar se as
ideias expostas ou fotos mostradas estão agradando aos amigos e seguidores.
Método para avaliar "audiência", e ou relevância do conteúdo. Modo para avaliar se
algo foi bem recebido.
Ambas são ferramentas de interação, mesmo que artificiais.
apesar de achar que a ferramenta curtir, caso nao existisse, não faria muita diferença
em nossas vidas, creio que ela vem em complemento ao ato de comentar, fazendo com
que as pessoas concordem com o conteudo de outras pessoas sem precisar gerar uma
discussão direta, como ocorre com a ferramenta de comentar
São a essência do facebook.
"Curtir" equivale a uma pesquisa quantitativa; já "Comentar" a uma qualitativa
Vitais. É como se eu pudesse me expressar e qualificar o que as pessoas colocam no
meu feed.
Mostrar que gostou da publicação e fazer comentários sobre a mesma.
"Curtir -> uma espécie de aprovação, ou de que concorda, acha engraçado, alegra-se
com a postagens. Comentar ->pra escrever quando é importante."
Principalmente a interatividade dois outros indivíduos em suas produções, a qualquer
momento.
Acho que é um indicador curioso para saber se as fotos geraram interesse de seus
amigos.
Aparentemente inofensivas, com o intuito de demonstrar concordância, mas também
constitui uma forma de satisfazer as necessidades pessoais: vive-se em prol de se
obter a concordância, em ser aceito, não importando se foi uma realidade inventada
para tal.
Saber alguém se interessou pelo atmosfera da foto compartilhada, ou se identificou
com ela de alguma maneira. Quando algo está na minha timeline e eu não me
interesso, simplesmente sigo adiante. A ferramenta curtir me dá a possibilidade de
demonstrar e receber demonstrações de que há um interesse a respeito da imagem
postada. O comentar geralmente é a manifestação do motivo de interesse.
Nenhuma.
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