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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE JORNALISMO

JOSIELE DA SILVA

A FOTOGRAFIA NA ERA DA VOLATIZAÇÃO DIGITAL:


UM ESTUDO SOBRE USO E IMPERMANÊNCIA

Porto Alegre
2018
2

JOSIELE DA SILVA

A FOTOGRAFIA NA ERA DA VOLATIZAÇÃO DIGITAL:


UM ESTUDO SOBRE USO E IMPERMANÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Jornalismo pela Escola de
Comunicação, Artes e Design - Famecos da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.

Orientador: Prof. Me. Elson Sempé Pedroso

Porto Alegre
2018
3

JOSIELE DA SILVA

A FOTOGRAFIA NA ERA DA VOLATIZAÇÃO DIGITAL:


UM ESTUDO SOBRE USO E IMPERMANÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Jornalismo pela Escola de
Comunicação, Artes e Design - Famecos da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.

Aprovado em: ____ de__________________ de________.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________
Prof. Me. Elson Sempé Pedroso – PUCRS

______________________________________________
Profa. Ma. Flavia Campos de Quadros – PUCRS

______________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Campos Pellanda - PUCRS

Porto Alegre
2018
4

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Neli e Valdir, pelo apoio e amor incondicional desde que vim a este
mundo. Vocês são o meu alicerce e minha inspiração.
A Josimar, meu irmão, por todas as lembranças bonitas que temos da nossa infância.
A Lukas Simões Pires, por ter me ajudado a segurar a barra e me impedido de surtar
todas as vezes que achei que não seria capaz.
A Felipe Dalla Valle, pela ideia do assunto tratado nesta monografia e apoio durante
todo o processo de elaboração deste trabalho.
Às minhas queridas amigas e colegas, Diandra Almeida e Flávia Simões, por terem
sido, muitas vezes, minha motivação para seguir nesse curso louco que é o jornalismo.
Eu com certeza não teria sanidade mental suficiente pra seguir estes longos 4 anos e
meio sem a presença de vocês.
Ao Max e à Jheny, por me aturarem e me ajudarem nessa pequena empreitada,
corrigir essa monografia não teria me tirado tantos sorrisos se eu tivesse pedido ajuda
para qualquer outra pessoa que não vocês.
A Elson Sempé Pedroso, meu orientador, por ter embarcado junto comigo nessa ideia
e ter sido, além de orientador, um ombro amigo.
A todas as pessoas que eu amo. Esse trabalho tem um pouquinho de cada um de
vocês e muito de mim. Obrigada por entenderem minha ausência nos últimos meses.
5

“Fotografar é colocar na
mesma linha de mira, a
cabeça, o olho e o coração”

Henri Cartier-Bresson
6

RESUMO

Desde o seu surgimento, a fotografia atribuiu para si questões relacionadas à


preservação da memória. Com a popularização dos smartphones e o uso diário da
Internet, as pessoas passaram a ter fotografia disponível 24h. Essa produção e
propagação fotográfica acontece de maneira cada vez mais massiva. Este cenário
possibilitou à fotografia protagonismo dentro da Internet, onde surgiram inúmeras
plataformas voltadas exclusivamente para o campo fotográfico. A presente monografia
analisa o uso que o fotojornalismo tem feito dos aplicativos Snapchat e Instagram
Stories, conhecidas redes sociais onde a principal característica é a impermanência
das imagens veiculadas na plataforma. Esse estudo buscou compreender como esses
aplicativos afetam a fotografia e dão novos sentidos ao fazer fotográfico,
principalmente nas questões relacionadas à memória e preservação fotográfica.

Palavras-chave: Fotografia. Snapchat. Instagram. Stories. Instagram Stories.


Fotojornalismo. Jornalismo. Convergência. Imagem. Impermanência. Efêmero.
7

ABSTRACT

Since its inception, the photography assigned to itself issues about preservation of the
memory. With the popularization of smartphones, along with the daily use of the
Internet, people have now access to photography all the time. This photographic
production and dissemination happens each day more massively. This scenario made
possible to photography a protagonism inside the Internet, where emerged countless
platforms exclusively created to the photographic field. This monography analyzes
what photojournalism has made from applications Snapchat and Instagram Stories,
known social networks which the main feature is the permanence of the images
published in the platform. This study looked for a comprehension about how these
applications affect photography and give new meanings to the photography making,
especially on issues related to memory and photographic preservation.

Palavras-chave: Photography. Snapchat. Instagram. Stories. Instagram Stories.


Photojournalism. Journalism. Convergence. Image. Impermanence. Ephemeral.
8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustração da Câmara Escura .......................................................... 15


Figura 2 – View from the Window at Le Gras ................................................... 19
Figura 3 – Daguerreótipo ................................................................................. 22
Figura 4 – Negativo e positivo fotográficos ..................................................... 25
Figura 5 – Valley Of The Shadow Of Death ..................................................... 27
Figura 6 – Abraham Lincoln por Mathew Brady .............................................. 29
Figura 7 – Foto tirada após a Batalha de Antietam, em 1862 ......................... 30
Figura 8 - Roger Fenton e seu laboratório fotográfico durante a Guerra da Crimeia
......................................................................................................................... 31
Figura 9 – Câmera Brownie Kodak .................................................................. 33
Figura 10 – Leica I............................................................................................ 34
Figura 11 – "Death of a Loyalist Soldier" de Robert Capa, utilizando Leica ..... 35
Figura 12 - A primeira Polaroid......................................................................... 35
Figura 13 - Polaroid Socialmatic....................................................................... 36
Figura 14 - Gráfico com percentual do uso da Internet pelos celulares ........... 41
Figura 15 - Gráfico com percentual do uso da Internet pelos celulares ........... 42
Figura 16 - Smartphone ................................................................................... 43
Figura 17 - Desktop e Notebook....................................................................... 49
Figura 18 - Gráfico do consumo de notícias através de smartphones ............. 50
Figura 19 - Gráfico do consumo de notícias através das redes sociais ........... 51
Figura 20 - Snapchat e Instagram Stories ........................................................ 52
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10

2 DA CAMARA ESCURA À FOTOGRAFIA DIGITAL ..................................... 14


2.1 OS NOMES POR TRÁS DO INVENTO ..................................................... 17
2.2 A FOTOGRAFIA NO MUNDO .................................................................... 26
2.3 A FOTOGRAFIA E O JORNALISMO ......................................................... 26

3 MOMENTOS HISTÓRICOS DE RUPTURA ................................................. 31


3.1 KODAK ...................................................................................................... 32
3.2 LEICA ........................................................................................................ 33
3.3 POLAROID ................................................................................................ 35

4 A ERA DIGITAL ............................................................................................ 38

5 FOTOGRAFIA E MEMÓRIA ......................................................................... 41


5.1 AS REDES DE IMAGEM ........................................................................... 43

6 O FOTOJORNALISMO EFÊMERO E OS APLICATIVOS ............................ 48


6.1 INSTAGRAM ............................................................................................. 53

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 63

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 65
10

1 INTRODUÇÃO

Desde a criação da fotografia no século XIX, é possível percebermos as


inúmeras transformações que a técnica fotográfica já sofreu, principalmente em
relação aos avanços tecnológicos. Do analógico ao digital, entrando no vasto mundo
que é o da Internet. Diferentemente do que ocorria antes da chegada da Internet, hoje
a propagação fotográfica acontece de maneira cada vez mais massiva.
Conforme foram surgindo novas tecnologias, o modo de consumo também
mudou. Antes existia uma glamorização em torno das fotografias, visto que estas
passavam por um processo muito mais elaborado para chegar até os olhos das
pessoas. Hoje consumimos fotografias a todo momento. Diante desse cenário
surgiram incontáveis plataformas online com diferentes segmentos e o jornalismo
adotou várias delas como forma de propagar as informações, obtendo um maior
número de leitores.
A difusão da Internet trouxe novas possibilidades de criação de plataformas
com conteúdos mais específicos, como o proposto para estudo nesta monografia: as
Redes de Imagens1.
As Redes de Imagens tratadas neste trabalho serão os aplicativos de
smartphones voltados para a fotografia onde a principal característica é a produção e
o consumo de imagens com vida útil preestabelecidas: Snapchat e Instagram Stories.
O Snapchat encontra-se no mercado desde 2011 e suas funções se resumem
ao compartilhamento de fotos e vídeos de curta duração com prazo de validade. O
aplicativo permite a criação de snaps para compartilhamento privado ou público. No
caso do compartilhamento privado, o conteúdo enviado é eliminado após a
visualização do receptor daquela mensagem. Já no modo de compartilhamento
público, a mensagem fica disponível durante 24h no perfil do emissor daquela
mensagem.
O Instagram Stories segue a mesma lógica do seu pioneiro Snapchat. Criado
em 2016, o Instagram Stories é uma ferramenta adicionada ao já existente aplicativo
Instagram. De acordo com a equipe do aplicativo, o objetivo dessa funcionalidade é

1
Utilizaremos ao longo dessa monografia no termo Redes de Imagens criado por Souza e Silva, onde redes de
imagem refere-se às redes sociais Snapchat e Instagram Stories (Wagner Souza e Silva, 2015).
11

permitir que os usuários compartilhem posts informais sobre as suas atividades


diárias2.
Esse novo modelo de aplicativos, voltados exclusivamente para a produção e
consumo de fotografias efêmeras, foram criados com intuito de registrar momentos
por um curto período, possibilitando que fotografias sejam divulgadas na Internet por
no máximo 24 horas, atribuindo um caráter de impermanência da fotografia na história.
Pulamos da ânsia de eternizar momentos para cliques efêmeros. Saturamos
de tanta informação? As imagens já não são tão importantes como eram? Para que
essa pesquisa seja realizada, é importante entendermos por qual razão a fotografia
tem incorporado ao seu uso o descartável e como o crescimento dessa cultura pode
influenciar a fotografia no processo de perda do caráter de documento histórico.
Através de um mergulho na história da fotografia e nas produções fotográficas
dentro do jornalismo até a chegada do digital, podemos olhar com certa clareza um
tema que de início causou inquietações na autora desta monografia.
A técnica fotográfica foi, durante muito tempo, considerada como documento
histórico e uma forma de guardar registros, principalmente dentro do jornalismo.
Com o advento das Redes de Imagens, essa construção da memória passa por
um momento de incertezas, no qual a produção fotográfica ganha um caráter efêmero
e não mais de eternidade.
O tema deste estudo surgiu a partir da observação da pesquisadora da
utilização que os portais de notícias têm feito desses aplicativos em relação ao uso da
fotografia, visto que nos primórdios da existência da técnica fotográfica, artistas e
cientistas buscavam formas de eternizar momentos. Chegamos em um período da
história no qual a fotografia ganha protagonismo dentro de uma plataforma que visa a
descartabilidade do que é ali produzido, indo na contramão de tudo o que a fotografia
lutou para ser até o presente momento.
Com os novos avanços, temos fotografia em qualquer lugar, a qualquer
momento, não necessitamos mais do uso de grandes equipamentos pesados.
Possuímos sempre disponível uma câmera fotográfica em nossos aparelhos
telefônicos. A interatividade fotográfica nasce a partir do momento em que aparelhos
telefônicos passam a ter câmeras fotográficas e a utilização da Internet cresce. A partir

2
Informação retirada de: <http://www.wplay.com.br/stories-do-instagram-o-que-sao-onde-vivem-o-que-
fazem-hoje-no-globo-reporter/>.
12

disso, podemos fazer o upload diretamente dos aparelhos através de uma rede Wi-Fi
ou da Internet. Um clique, um segundo. Sua foto está em qualquer lugar do mundo.
Nessa pesquisa vamos buscar identificar a aplicação da fotografia jornalística
dentro dessas Redes de Imagens. Além disso, buscamos também observar, apontar
e descrever as mudanças e as possíveis consequências que estas plataformas estão
trazendo para o fotojornalismo.
Pela proximidade da autora com o tema e a relevância da fotografia como
documento histórico, consideramos importante estudar e entender a necessidade de
tornar descartável algo que sempre teve como caráter o “eterno”.
As primeiras observações em volta do tema aqui proposto identificaram uma
separação nos usos da fotografia. A fotografia como registro pessoal tem sofrido mais
com a utilização dessas Redes de Imagens, já a fotografia jornalística tem aderido à
estas plataformas com outros usos.
Observamos aqui como o jornalismo utiliza e se beneficia dessas Redes
de Imagens. Para isso, foi promovido um estudo das possibilidades da imagem
jornalística na era da fotografia descartável, utilizando pesquisa bibliográfica para
sustentar a fundamentação do trabalho, análise de conteúdo a fim de entender,
descrever e interpretar o conteúdo estudado e pesquisa exploratória. Também foi
utilizado como suporte para observação final do objeto, técnicas de entrevistas não
padronizadas.
O presente trabalho estrutura-se em seis capítulos, sendo o primeiro a
introdução. No segundo capítulo falaremos sobre o surgimento da fotografia, desde a
utilização da câmara escura até o surgimento dos primeiros fotojornalistas, através de
um apanhado histórico dessas mudanças com enfoque na sua impermanência ao
longo dos anos, que serão divididos em três subcapítulos. No capítulo três será
destacada a chegada da fotografia de forma cotidiana na vida das pessoas, passando
pela criação de grandes marcas que consideramos fundamentais para a disseminação
da fotografia no mundo. No quarto capítulo será analisada a chegada do digital e da
Internet e as consequências que isto causou para a fotografia. No quinto e sexto
capítulo analisaremos a interação da fotografia com as plataformas de conteúdo
temporário, demonstrando como essas plataformas funcionam passando desde as
consequências no âmbito social da fotografia como no âmbito jornalístico, como essa
nova linguagem poderá afetar o mercado de trabalho e se essa inovação ajuda a abrir
13

novas perspectivas profissionais para os repórteres fotográficos. No último capítulo


concluímos o trabalho trazendo as considerações finais da autora.
14

2 DA CAMARA ESCURA À FOTOGRAFIA DIGITAL

Para iniciar a pesquisa com clareza de campo de observação, vamos traçar


uma pequena linha do tempo para entendermos como a fotografia surgiu. Embora não
haja a intenção de estender demasiadamente o assunto, visto que existe um número
vasto de informações a respeito da história da fotografia e seu surgimento, é
importante citar alguns pontos da história para nos ajudar no processo de
entendimento dessa pesquisa, citando momentos da história que nos dê apoio no
entendimento dos atuais acontecimentos em torno da fotografia.
Sabemos que a fotografia nasceu num momento histórico importante: a
Revolução Industrial. Em meio a todos os acontecimentos daquela época, nascia uma
das coisas mais buscadas pelo homem em seu âmago: eternizar aquilo que seus
olhos viam.
Segundo Boris Kossoy (2009) a fotografia teria papel fundamental enquanto
possibilidade inovadora de informação e conhecimento, além, é claro, como forma de
expressão artística. Vamos, portanto, traçar uma linha do tempo que nos dê apoio na
hora de entender todo o processo que levou a fotografia até onde ela está hoje.
Consideramos necessário voltar alguns séculos para pontuar algumas descobertas.
A fotografia começa a dar os seus primeiros passos com a invenção da câmara
escura. Nesse momento da história é difícil traçarmos com objetividade o real
surgimento desse objeto, visto que temos registros de documentos escritos pelo
chinês Mo Tzu que comprovam a sua existência já no século V a.C. e em 300 a.C.
Nomes conhecidos como Aristóteles já utilizavam a câmara escura para estudar
eclipses solares. Tal artefato existe há milhares de anos e não possui dentre as suas
“funções” os mesmos objetivos da fotografia, mas foi através dele que nossos
antepassados começaram uma busca incansável a fim de fixar imagens.
Por tratar-se de um objeto tão antigo, vamos resumir o princípio da câmara
escura à sua utilização. A câmara escura nada mais é do que o que o próprio nome
diz: uma caixa com um pequeno orifício em um dos lados para permitir a entrada de
luz. Segundo Beaumont Newhall (2006, p. 9, tradução nossa), “o princípio da câmera
é conhecido há muito tempo: a luz que penetra através de um pequeno orifício, da
15

parede de um quarto escuro, forma na parede oposta uma imagem invertida do que
está do lado de fora3.
Foi através dessa técnica que artistas como Leonardo Da Vinci simplificavam o
trabalho de copiar objetos e cenas. A câmara refletia em uma tela e o artista utilizava
essa projeção para "copiar" o que era projetado facilitando o trabalho dos artistas
daquela época. Essa foi uma das grandes utilidades da câmara escura: um apoio para
que artistas pudessem desenhar.

Figura 1 – Ilustração da Câmara Escura

Fonte: InfoEscola / Reprodução

Podemos então dizer que a câmara escura foi o pontapé inicial para o
surgimento da fotografia. Para as necessidades daquela época, a câmara escura era
um objeto extremamente funcional, mas ainda possuía um defeito: as imagens eram

3
El principio de la cámara es conocido durante mucho tiempo: la luz que penetra por un agujero minúsculo,
desde la pared de una habitación oscura, forma sobre la pared opuesta una imagen invertida de lo que haya en
el exterior.
16

projetadas invertidas. Foi em 1550 que o milanês Girolamo Cardano 4 acrescentou um


disco de cristal para melhorar a visão e inverter as projeções dos desenhos. A câmara
escura nunca parou de evoluir, mas até então, todas as suas adaptações eram feitas
com o objetivo de melhorar a sua função primária: servir como guia para que artistas
pudessem desenhar com maior verossimilhança.

Em resumo, todos estes instrumentos com notáveis melhorias de tipo óptico -


espelhos dirigindo as imagens, lentes intermutáveis de focais diferentes - apontavam
para o objectivo final de desenhar à mão, e só se podia conservar a imagem
projectada se o lápis decalcava mais ou menos fielmente o reflexo fugaz (SOUGEZ,
2001, p. 5 e 6).

Sabemos até aqui que a câmara escura é basicamente a mãe da fotografia. Foi
através dela que as pesquisas em torno da fixação das imagens surgiram. Segundo
Newhall (2006) a fotografia nada mais é do que uma maneira de fixar as imagens da
câmara escura.
Após esgotar todas as possibilidades da câmara escura e todos os estudos
para aperfeiçoá-la, o homem já não se via satisfeito. Ter um objeto como guia já não
era mais suficiente. Pesquisadores e cientistas de várias partes do mundo, em
paralelo, buscavam uma forma de fixar as imagens obtidas através desse objeto.
Antes que os experimentos em volta da fixação das imagens da câmara escura
começassem, em 1727, o cientista Johann Heinrich Schulze descobriu uma das
reações químicas da luz: nitrato de prata. A descoberta foi feita quando Schulze
trabalhava com nitrato de prata e notou que as partículas de prata mudam de cor ao
entrar em contato com a luz do sol. Ele não imaginava, mas sua descoberta veio a
tornar-se o princípio básico da fotografia durante muitos anos.
Mais tarde, segundo Newhall (2006), Thomas Wedgwood, sabendo dos
experimentos de Schulze e tendo familiaridade com a câmara escura, tentou gravar a
imagem da câmara escura pela primeira vez. O processo foi descrito pelo seu amigo
e químico Humphry Davy no Journals of the Royal Institutio de 1802:

O papel branco, ou couro branco, umedecido com uma solução de nitrato de


prata, não sofre qualquer alteração se for mantido num local escuro, mas
quando exposto à luz do dia muda rapidamente de cor e depois de passar
por vários tons de cinza e marrom tornam-se, a longo prazo, quase pretos...

4
Informações disponível em
<http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/1264/8/CT_PPGFCET_M_Silva%2C%20Milene%20Dutra%20
da_2015_6.pdf>. Acesso em 26 mar. 2018.
17

Quando a sombra de alguma figura é projetada na superfície assim


preparada, a parte oculta permanece branca e as outras rapidamente se
tornam pretas.
Para copiar fotos em vidro, a solução deve ser aplicada em couro e, neste
caso, reage mais rapidamente do que quando se usa papel 5 (Sir Humphry
Davy, «An Account of a Method of... Making Profiles by the Agency of Light»,
en Journals of the Royal Institution, vol. I, 1802, pp. 170 a 174 apud
NEWHALL, 2006, p. 13, tradução nossa).

Embora em um primeiro momento os experimentos de Wedgwood tenham se


mostrado promissores, a fixação do nitrato de prata não era permanente, o material
continuava a agir com a exposição à luz independentemente do tempo. Por fim,
acabou por desistir de seus experimentos. Vemos, já nessa época, um paralelo
interessante com o rumo que a fotografia tomou: enquanto durante o seu surgimento
buscávamos formas de tornar a fotografia “imortal”, hoje a tornamos um produto
efêmero propositalmente.

2.1 OS NOMES POR TRÁS DO INVENTO

Em 1815, na França, surgem os primeiros experimentos de Joseph-Nicéphore


Niepce com cloreto de prata. Mais uma vez a fotografia se encontra em um momento
de sorte: Niepce fazia experimentos com o intuito de aprimorar a litografia6, mas, para
isso, ele precisava de desenhos. Por não possuir tais habilidades, decidiu utilizar a
câmara escura para tal finalidade. Foi assim que, ao utilizar papel molhado em nitrato
de prata, descobriu seu potencial junto à câmara escura.

Quando a litografia começou na França, em 1815, Niepce propôs que as


pesadas e irritantes pedras de Solenhofen usadas por seu inventor, Aloys
Senefelder, fossem substituídas por placas de metal. Para seus
experimentos, ele precisava de desenhos, mas por possuir pouca habilidade

5
El papel blanco, o el cuero blanco, humedecido con una solución de nitrato de plata, no experimenta cambio
alguno si se lo mantiene en un sitio oscuro, pero cuando es expuesto a la luz diurna, cambia rápidamente de
color, y tras pasar por diversas tonalidades de gris y de marrón se convierte, a la larga, casi en negro...
Cuando la sombra de alguna figura es proyectada sobre la superficie así preparada, la parte oculta permanece
blanca y las otras se convierten rápidamente en negras.
Para copiar cuadros sobre el vidrio, la solución debe ser aplicada sobre cuero, y en este caso reacciona más
rápidamente que cuando se utiliza papel.
6
Litografia é um termo de origem grega, formada por lithos (pedra) e graphein (escrever). É uma técnica de
impressão que utiliza uma pedra calcária de grão muito fino e baseia-se na repulsão entre a água e as
substâncias gordurosas.
18

artística, ele concebeu a ideia de transformá-los em luz7. (NEWHALL, 2006,


p. 13, tradução nossa).

Ele descrevia sua invenção como uma espécie de "olho artificial". As cartas que
trocava com seu irmão nos deixaram um registro rico de informações do que acontecia
naquela época em volta de seus experimentos. Em 15 de maio de 1816 escreveu:

Coloquei o dispositivo na sala onde trabalho, em frente à gaiola e à janela


aberta. Fiz o experimento de acordo com o processo que você conhece,
querido amigo, e vi no papel branco toda a parte da gaiola que pode ser vista
da janela e uma imagem fraca dos caixilhos das janelas, que eram menos
iluminados que as janelas. objetos externos ... Esta é apenas uma tentativa
muito imperfeita ... A possibilidade de pintar dessa maneira parece quase
comprovada ... O que você previu aconteceu. O fundo da pintura é preto e os
objetos são brancos, isto é, mais iluminados que o fundo 8 (Victor Fouque, La
Verité sur l'invention de la photographie: Nicéphore Niepce: Sa vie, ses
essais, ses travaux, Libraire des Auteurs et de l'Académie des Bibliophiles,
París, 1867, p. 61 apud NEWHALL, 2006, p. 13 e 14, tradução nossa).

Niepce, em seus experimentos - comprovados pelas cartas que trocava com o


seu irmão -, acabara de inventar o primeiro negativo, embora não tenha sido capaz
de descobrir uma forma de fazer cópias desses negativos para assim inverter os tons
novamente. Na busca desse resultado Niepce deparou-se com uma espécie de asfalto
chamado de Betume de Judéia. O betume, ao entrar em contato com a luz, sofre um
processo químico que faz com que ele endureça, fazendo com que as partes mais
expostas à luz endureçam mais e, consequentemente, as menos expostas endureçam
menos.
De acordo com Newhall (2006), este foi o primeiro grande passo que Niepce
deu. Foi através dessa descoberta que todas as outras puderam obter sucesso. O
princípio básico de que diferentes graus de endurecimento causados pela luz em uma
base seja capaz de controlar a intensidade das sombras de uma imagem nessa

7
Cuando se inició la litografía en Francia, en 1815, Niepce propuso que las pesadas y molestas piedras
Solenhofen utilizadas por su inventor Aloys Senefelder fueran reemplazadas por placas de metal. Para sus
experimentos necesitaba dibujos, pero como tenía poca habilidad artística concibió la idea de hacerlos
mediante la luz.
8
Coloqué el aparato en la habitación donde trabajo, frente a la jaula de los pájaros y a la ventana abierta. Hice
el experimento de acuerdo al proceso que conoces, querido amigo, y vi en el papel blanco toda la parte de la
jaula que puede ser vista desde la ventana y una débil imagen de los marcos de la ventana, los que estaban
menos iluminados que los objetos exteriores...
Este es sólo un intento muy imperfecto... La posibilidad de pintar de esta manera me parece casi demostrada...
Lo que tú habías previsto ha ocurrido. El fondo del cuadro es negro y los objetos blancos, es decir, más
iluminados que el fondo.
19

mesma base. Em uma nova descoberta o que conhecemos como fotografia hoje
começou a tomar forma.

É a mais importante das contribuições feitas por Niepce, porque supôs um


princípio que se tornou básico para técnicas futuras: o grau diferente de
endurecimento causado por luz em uma base, que controlará a gravura como
a contraparte exata da imagem9 (NEWHALL, 2006, p. 14 e 15, tradução
nossa).

Após aprimorar sua técnica, no ano de 1826, Niepce registra o que vem a ser
a primeira fotografia da história: uma imagem da visão da janela de sua casa na aldeia
de Sanit-Loup de Varenne, próximo à Chalon sur-Saône. O registro feio por Niepce
existe até hoje. É chamada de “View from the Window at Le Gras10”, possui 25 cm de
largura e pode ser visitada na Universidade do Texas, em Austin, nos Estados
Unidos11.

Figura 2 - View from the Window at Le Gras

Fonte: Wikipedia/Reprodução

Apesar de hoje considerarmos esse registro como uma fotografia, Niepce deu
o nome à técnica de heliografia. A heliografia nada mais é do que um processo

9
Es la más importante de las contribuciones hechas por Niepce, porque suponía un principio que se hizo básico
para las técnicas futuras: el distinto grado de endurecimiento que provoca la luz sobre una base, la cual
controlará el grabado como contrapartida exacta de la imagen.
10
Tradução: Vista da Janela em Le Gras, de Niepce.
11
Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2013/12/de-niepce-leibovitz-
grandes-fotografos-se-destacaram-na-historia.html>. Acesso em 04 jun. 2018
20

“fotográfico” no qual utilizava-se um derivado do petróleo, sobre uma placa de vidro


ou metal, que endurecia quando exposto à luz solar. As exposições necessárias para
realizar as gravuras heliográficas necessitavam de exposições longas, podendo
chegar a 8 horas de exposição solar. Após essa exposição, a superfície era lavada
com óleo de lavanda, deixando gravada nela apenas a imagem.
Esse processo possui baixa velocidade de captação e pouca qualidade de
imagem. A heliografia, portanto, foi o primeiro passo dado para a invenção do que
viríamos a chamar de fotografia.
A história da fotografia é repleta de inventores. Cada pequena descoberta nos
levaram a descobrir e aprimorar técnicas a fim de eternizar momentos. Embora muitas
dessas descobertas tenham sido realizadas individualmente, aos pouco foram sendo
integradas. Esse trecho da história une dois grandes nomes: Niepce e Louis-Jacques-
Mandé Daguerre.
Daguerre já possuía conhecimento dos experimentos de Niepce através de um
fornecedor de lentes em comum e o procurou para que juntos pudessem trocar
experiências e saírem da estagnação que ambos se encontravam naquele momento.
Em 1827, Niepce viajou para Londres para visitar seu irmão, Durante a viagem, Niepce
fez uma pausa em Paris, onde visitou Daguerre. Em uma carta datada em 2-4 de
setembro de 1827, Niepce conta detalhes da visita ao seu filho Isidore:

Eu tive entrevistas frequentes e demoradas com Daguerre. Ele veio nos ver
ontem. O encontro durou três horas... e a conversa sobre o assunto que nos
interessa é realmente interminável... Nada do que vi aqui me impressionaria
tanto ou me daria tanto prazer com o Diorama. Nela fomos guiados por
Daguerre, e pudemos contemplar, com toda a comodidade, os magníficos
quadros ali exibidos... Não há nada superior às duas paisagens pintadas por
Daguerre: uma de Edimburgo, à luz da lua, durante um incêndio; o outro é
uma aldeia suíça, onde você vê por uma rua muito larga, de frente para uma
montanha de enorme altura, coberta pela neve eterna. Essas representações
são tão reais, até mesmo os menores detalhes, que a pessoa fica tentada a
sair da cadeira, caminhar ao ar livre e subir ao topo da montanha. Garanto-
lhe que não há exagero da minha parte, porque os objetos são, ou parecem
ser, em tamanho natural12 (Victor Fouque, La Verité sur l'invention de la
photographie: Nicéphore Niepce: Sa vie, ses essais, ses travaux, Libraire des

12
He tenido frecuentes y prolongadas entrevistas con Daguerre. Vino a vernos ayer. La reunión se prolongó
tres horas... y la conversación sobre el tema que nos interesa es realmente interminable... Nada he visto aquí
que me impresionara tanto ni me diera tanto placer com el Diorama. Fuimos guiados en ello por Daguerre, y
pudimos contemplar, con toda comodidad, los magníficos tableaux allí expuestos... Nada hay superior a los dos
paisajes pintados por Daguerre: uno de Edimburgo, a la luz de la luna, durante un incendio; el otro es una aldea
suiza, donde se ve hacia abajo una calle muy ancha, frente a una montaña de enorme altura, cubierta por una
nieve eterna. Estas representaciones son tan reales, hasta el ínfimo detalle, que uno se siente tentado a dejar
la butaca, pasearse al aire libre y subir a la cima de la montaña. Te aseguro que no hay la menor exageración de
mi parte, porque los objetos son, o parecen ser, de tamaño natural.
21

Auteurs et de l'Académie des Bibliophiles, París, 1867, p. 140 a 146 apud


NEWHALL, 2006, p. 17, tradução nossa).

Embora tenha demonstrado empolgação, Niepce não tinha planos de partilhar


suas descobertas com mais ninguém naquele momento. Algum tempo depois tentou
publicar suas descobertas, mas foi desencorajado por Daguerre – alguns textos
referem-se essa atitude de Daguerre como duvidosa –. Sem dinheiro para prosseguir
e convencido de que não avançaria com as ferramentas que possuía, Niepce, dois
anos depois, em 1829, deu-se por vencido e firmou um contrato de 10 anos com
Daguerre. Destes 10 anos, apenas quatro foram cumpridos, pois Niepce faleceu em
Chalon-sur-Saône. No papel, o contrato manteve-se com o filho de Niepce, embora
este não tenha feito nenhuma contribuição para as pesquisas que seguiram sendo
feitas por Daguerre.
Após algumas pesquisas, Daguerre descobriu em 1837 um novo processo
químico capaz de fixar as imagens da câmara escura e o batizou de daguerreótipo.
Esse método possuía apenas um problema: se expostas ao sol, as imagens então
fixadas desapareciam com o passar do tempo. É interessante observarmos que
apesar desses percalços pelos quais a fotografia passou, nada impediu que mais
adiante fossem criadas as tão famosas Polaroids e, atualmente, processos digitais
dos quais as fotografias se comportam de maneira efêmera propositalmente.

O daguerreótipo foi realizado sobre uma folha de cargas, revestidas com


prata, com um tamanho de 6,5 por 8,5 polegadas [...] para polir a superfície
de leitura da placa até que era brilhante como um espelho e quimicamente
limpo. Sensibilizou-o colocando-o invertido em uma caixa contendo partículas
de iodo, cujos gases se combinavam com a prata, formando na superfície um
iodeto de prata, sensível à luz. Então eu coloquei o prato em uma câmera. a
luz que formava a imagem óptica reduzia o iodeto de prata, transformando-o
em prata, de acordo com a intensidade daquela luz. Mais tarde, Daguerre
colocou a placa exposta, na qual não havia imagem visível, em uma caixa
contendo mercúrio aquecido; seus gases formaram um amálgama com a
prata anteriormente reduzida e a imagem ficou visível. A placa foi então
banhada em uma solução concentrada de sal comum (cloreto de sódio), que
fez com que o iodeto de prata, na parte não exposta, fosse relativamente
insensível a uma ação posterior da luz. Finalmente, a placa foi lavada em
água ou deixada a secar13 (NEWHALL, 2006, p. 18, tradução nossa).

13
El daguerrotipo fue realizado en una hoja de cobra, recubierta de plata, con un tamaño de 6,5 por 8,5
pulgadas (...) Pulía el lado plateado de la placa, hasta que quedara brillante como un espejo y químicamente
limpia. La sensibilizaba al colocarla invertida sobre una caja que contenía partículas de yodo, cuyos gases se
combinaban con la plata, formando en la superficie un yoduro de plata, que es sensible a la luz. Luego colocaba
la placa en una cámara. la luz que formaba la imagen óptica reducía el yoduro de plata, reconvirtuéndolo en
plata, según la intensidad de esa luz. Más tarde Daguerre colocaba la placa expuesta, en la que no había
imagen visible, sobre una caja que contenía mercurio calentado; sus gases formaban una amalgama con la
22

Em decorrência dessa nova descoberta, Daguerre propõe a Isidore um novo


contrato no qual ele passa a ser o único inventor dessa nova tecnologia. Além disso,
é claro, do invento levar o seu nome. Para tal, Daguerre garante a Isidore a menção
do processo inicial descoberto pelo seu pai, Niepce. Há indícios na história de que
Isidore não tenha ficado muito feliz com a ideia, embora tenha assinado o contrato.
Ele considerava isso um insulto à memória de seu falecido pai.

Figura 3 - Daguerreótipo

Fonte: Info Escola/Reprodução

Apesar disso, historicamente Daguerre não cometeu nenhum tipo de “roubo”,


pois seu processo veio a partir dos estudos de Niepce, mas é um método diferente.
Quando Daguerre e Isidore firmam acordo, Daguerre então escreve um documento
contendo as especificações técnicas de seu invento e o coloca à venda. François
Arago14 ao saber do invento de Daguerre o procura convencendo-o a vender

plata antes reducida y la imagen se hacía visible. La placa era después bañada en una solución concentrada de
sal común (cloruro de sodio), lo que provocaba que el yoduro de plata, en la parte no expuesta, fuera
relativamente insensible a una posterior acción de la luz. Finalmente, la placa era lavada en agua u se la dejaba
secar.
14
François Jean Dominique Arago foi um físico, astrônomo e político francês. Ocupou o cargo de primeiro-
ministro da França, de 10 de maio a 24 de junho de 1848.
23

diretamente ao governo francês ambos os processos descobertos por ele e Niepce,


em troca, Daguerre e Isidore passariam a receber uma pensão anual vitalícia do
governo francês. Arago então leva as descobertas de Daguerre à Academia Francesa
de Ciências, comprovando, com a ajuda de Biot e Humboldt15, a veracidade da
invenção e finalmente vende os direitos do daguerreótipo ao Estado Francês. A
publicação das descobertas de Daguerre foram realizadas na véspera na Gazette de
France16 e na Compte-rendu des Scéances de l’Académie des Sciences17 em 1839,
embora sem dar muitos detalhes.
Logo após a publicação francesa, uma versão inglesa foi publicada na Literary
Gazette18 no dia 19 de janeiro de 1839. Através desta publicação, surge Henry Fox
Talbot, que tomou conhecimento sobre os estudos realizados por Niepce e Daguerre,
reivindicando a propriedade da invenção. Talbot é conhecido como o primeiro homem
a inventar o negativo preservado até os dias atuais.
Na mesma época em que Niepce e Daguerre faziam seus estudos sobre a
fixação da imagem da câmara escura em papel, Talbot também o fazia, sem
conhecimento da existência de que em outro lugar do mundo outras pessoas já
realizavam técnicas parecidas com as suas. Talbot escreveu para a Literary Gazette
que havia sido "colocado diante de um dilema pouco habitual (de poucos paralelos
nos anais da ciência)19" (Literary Gazette, n.º 1160, 12 de abril de 1839, p. 235 apud
NEWHALL, 2006, p. 19, tradução nossa).
Segundo Newhall (2006), a descoberta de Talbot acontece quase que
acidentalmente. Durante férias na Itália, Talbot utilizava uma câmara lúcida para
desenhar, após olhar os seus desenhos, Talbot constatou que não possuía
habilidades suficientes para utilizar a câmara lúcida20 e, diante sua frustração com

15
Jean-Baptiste Biot e Alexander von Humboldt, homens de ciência bem conhecidos e membros da Academia
de Ciências.
16
La Gazette, originalmente Gazette de France, foi a primeira revista semanal publicada na França. Foi fundada
por Théophraste Renaudot e publicou sua primeira edição em 30 de maio de 1631.
17
Revista científica publicada pela Academia Francesa de Ciências.
18
Literary Gazette foi uma revista britânica estabelecida em Londres.
19
Colocado ante un dilema poco acostumbrado (de escasos paralelos en los anales de la ciencia).
20
Uma câmara lúcida ou câmera lúcida é um dispositivo óptico usado para auxiliar artistas durante o desenho.
A câmara lúcida executa uma sobreposição óptica do objeto a ser visto sobre uma superfície sobre a qual o
artista está desenhando. O artista vê tanto a cena quanto a superfície do desenho simultaneamente, como em
uma exposição fotográfica dupla. Isso permite que o artista duplique os pontos-chave da cena na superfície do
desenho, auxiliando assim na composição precisa da perspectiva. Às vezes, o artista pode até traçar os
contornos dos objetos.
24

isso, resolveu retomar seus estudos acerca da possibilidade de fixar as imagens


obtidas através da câmara escura.

Esse método era usar uma câmera escura e projetar a imagem dos objetos
em uma folha de papel colocada em seu foco: imagens mágicas, criações de
um momento, destinadas a desaparecer rapidamente. Foi durante essas
reflexões que surgiu a ideia: como seria bonito se fosse possível que essas
imagens naturais fossem impressas de maneira duradoura e
permanecessem fixas no papel21. (Williarn Henry Fox Talbot, The Pencil of
Nature, Longroan Brown, Green & Longmans, Londres, 1844-1846 apud
NEWHALL, Beaumont, 2006, p. 19, tradução nossa).

Diante da descoberta de que havia outra pessoa publicando estudos a respeito


do que Talbot julgava ser a sua invenção, ele retomou seus estudos sobre fotografia.
Refez experimentos antigos e alguns novos e, cerca de duas semanas depois da
publicação da Literary Gazette, Talbot mostrou para o mundo, através de uma
apresentação para cientistas em Londres na Royal Institut22 as suas descobertas. Foi
a primeira vez que fotografias foram expostas publicamente.
No mesmo dia, Talbot escreveu para Arago dizendo que ele formulou uma
reivindicação de propriedade sobre Daguerre. Este texto chegou a Royal Society23 e
despertou interesse de um astrônomo e “homem da ciência”, Sir John F. W. Herschel.
Herschel decidiu por si só resolver os problemas encontrados por Daguerre e,
em anotações, descreve as suas descobertas:

29 de janeiro [de 1839]. Experimentos tentados durante os últimos dias,


depois de ter ouvido falar do segredo de Daguerre e que a Fox Talbot também
obteve algo do mesmo tipo... Três requisitos: 1) Papel muito sensível; 2)
Câmera muito perfeita; 3) Meios de neutralizar a ação do ulterir. [...]
Eu tentei hiposulfito de sódio para evitar a ação da luz, lavando todo o cloreto
de prata ou outros sais de prata. Funciona perfeitamente. Os papéis expostos
à luz em uma metade e protegidos dela na outra metade por um papelão,
quando foram removidos da luz solar, foram lavados com hipossulfito de
sódio, depois com água pura, depois secos e expostos novamente. A metade
escura era escura, a metade branca era branca, após qualquer exposição,
como se tivessem sido pintadas em sépia... Então o problema de Daguerre

21
Este método era utilizar una camara obscura y proyectar la imagen de los objetos sobre una hoja de papel
colocada en su foco: imágenes mágicas, creaciones de un momento, destinadas a esfumarse rápidamente. Fue
durante estas reflexiones que se me ocurrió la idea: qué hermoso sería si se hiciera posible que tales imágenes
naturales fueran impresas en forma duradera y quedaran fijas sobre el papel.
22
Organização dedicada à educação e pesquisa científicas, sediada em Londres. Foi fundada em 1799 pelos
principais cientistas britânicos da época, incluindo Henry Cavendish e seu primeiro presidente, George Finch, o
9º Conde de Winchilsea, por difundir o conhecimento e facilitar a introdução geral de invenções e melhorias
mecânicas úteis; e para ensinar, por meio de cursos de palestras e experimentos filosóficos, a aplicação da
ciência aos propósitos comuns da vida.
23
Instituição britânica, fundada em 1660 com o objetivo da promoção do conhecimento científico.
25

está resolvido por enquanto24 (Cita del original, por gentileza del Science
Museurn de Londres apud NEWHALL, Beaumont, 2006, p. 20 e 21, tradução
nossa).

Em fevereiro do mesmo ano Talbot e Herschel encontram-se para debater suas


técnicas de fixação da imagem. No mesmo mês, com o consentimento de Herschel,
Talbot publicou uma carta na Compte-rendu des Scéances de l’Académie des
Sciences as melhorias descobertas por Herschel. Daguerre, assim que soube da nova
técnica, adaptou-a imediatamente.
Herschel foi de grande valia para o nascimento da fotografia, sua contribuição
foi essencial para os avanços fotográficos que prosseguiram. Entre suas
contribuições, Herschel também propôs que o invento levasse o nome de fotografía.
Além disso, também nomeou os processos negativo, o primeiro processo da
fotografia, onde elas saem invertidas e positivo, o segundo processo, onde a imagem
é invertida novamente.

Figura 4 - Negativo e positivo fotográficos

Fonte: Mediateca/Reprodução

24
29 de enero [1839]. Experimentos intentados durante los últimos días, tras haber oído hablar del secret de
Daguerre y que Fox Talbot ha obtenido también algo de la misma clase... Tres requisitos: 1) Papel muy sensible;
2) Cámara muy perfecta; 3) Medio de contrarrestar la acción ulterir. (...)
Probé hiposulfito de sodio para impedir la acción de la luz, lavando todo el cloruro de plata u otras sales de
plata. Funciona perfectamente. Papeles expuestos a la luz en una mitad y protegidos de ella en la otra mitad
por un cartón, cuando fueron retirados de la luz solar se lavaron con hiposulfito de sodio, luego con agua pura,
a continuación secados y expuestos nuevamente. La mitad oscura quedó oscura, la mitad blanca, quedó blanca,
tras cualquier exposición, como si hubieran sido pintados en sepia... Así el problema de Daguerre queda
solucionado por ahora.
26

2.2 A FOTOGRAFIA NO MUNDO

Após aprovação do governo francês, Niepce escreveu, em agosto de 1839, um


manual de 79 páginas, intitulado "História e descrição do processo Daguerreótipo e
do Diorama", contendo um relatório de Arago25 perante a Câmara dos Deputados e
registro das medidas adotadas pelo governo Francês. Além disso, é claro, havia uma
descrição da heliografia de Niepce e todos os detalhes técnicos para a produção e
uso do Daguerreótipo.
A invenção finalmente chega ao mundo todo. Daguerre, conhecidamente como
um homem de negócios, antes de publicar seu manual já havia fechado um acordo
com seu cunhado, Alphonse Giroux, para a fabricação de daguerreótipos. Cada
câmera produzida e vendida por Daguerre continha os dizeres "O daguerreótipo.
Nenhum dispositivo é garantido a menos que tenha a assinatura de Daguerre e o selo
de Giroux”26 (NEWHALL, 2006, p. 25, tradução nossa).

2.3 A FOTOGRAFIA E O JORNALISMO

A fotografia consolidou-se no mundo todo. Com o tempo ganhou o seu espaço


e a profissão fotógrafo nasceu junto com o novo fenômeno da época. Segundo Gisèle
Freund (2011) os primeiros fotógrafos não tinham pretensão alguma de fazer arte,
trabalhavam, em sua maioria, para si mesmos e poucas eram as pessoas que
conheciam seus trabalhos. Apesar disso, um vasto grupo começou a vender fotografia
como arte, com o intuito de lucrar com a nova ferramenta já que o mercado de pintura
havia decaído.
No âmbito jornalístico, Segundo Jorge Pedro Sousa (2004) as primeiras
manifestações fotográficas que se enquadram dentro do fotojornalismo aconteceram
quando "os primeiros entusiastas da fotografia apontaram a câmara para um
acontecimento, tendo em vista fazer chegar essa imagem a um público, com intenção
testemunhal" (SOUSA, 2004, p. 25), notamos, aqui, que a fotografia logo cedo tomou
para si a intenção de documentar os acontecimentos.

25
François Jean Dominique Arago foi um físico, astrônomo e político francês. Ocupou o cargo de primeiro-
ministro da França, de 10 de maio a 24 de junho de 1848.
26
El Daguerrotipo. Ningún aparato queda garantizado a menos que posea la firma de Daguerre y el sello de
Giroux.
27

O fotojornalismo começou a ganhar força em meio às guerras, embora as


limitações técnicas ainda existissem quando este começou a dar os seus primeiros
passos. Apesar disso, temos nomes como de Roger Fenton, que registrou a Guerra
da Criméia (1853-1856). Os registros de Fenton, assim como de outros fotógrafos da
época, resumem-se a demonstrar o cenário da guerra e não a guerra propriamente
dita, visto que as limitações técnicas daquele momento não permitiam um avanço
maior na documentação daqueles acontecimentos, segundo Susan Sontag (2003)

nas primeiras guerras importantes registradas por fotógrafos, [...] o combate


propriamente dito esteve fora do alcance das câmeras. As fotos de guerra [...]
eram, em geral [...] retratos das conseqüências: os cadáveres espalhados ou
a paisagem lunar resultante de uma guerra de trincheiras; as vilas francesas
arrasadas que a guerra encontrara em seu caminho. (SONTAG, 2003, p. 21-
2).

Nada disso tornou as fotografias de Fenton menos impactantes. Antes disso,


não havia documentações de como eram de fato as guerras, tudo que se sabia era
através do que os soldados contavam. Fenton forneceu as imagens necessárias para
que as guerras saíssem apenas do imaginário das pessoas e passassem a ser, de
fato, vistas como algo real.

A fotografia [...] transformou a maneira como a humanidade vê o mundo e,


por conseqüência, como olha para o outro e para o semelhante, sejam estes
próximos ou distantes (BARCELOS, Janaina Dias, 2009, p. 1).

Figura 5 - Valley Of The Shadow Of Death

Fonte: PetaPixel/Reprodução
28

O mundo enfim começa a entender e valorizar a fotografia como documento


histórico e não mais somente como forma de arte. Os profissionais e o público
precisavam que os avanços tecnológicos em volta da fotografia continuassem a
crescer para que essa seguisse contando, através de imagens, histórias do mundo.
Por volta de 1851 a fotografia avançou alguns passos técnicos ligados à melhoria da
qualidade das lentes e à adoção de novos processos químicos.
Foi com a chegada de um novo processo químico, o colódio úmido, e a
disseminação dos processos negativo-positivo que a fotografia passa a ter a noção
de reprodutibilidade. O colódio úmido é um antigo processo fotográfico que foi
inventado em 1848 pelo inglês Frederick Scott Archer (1813-1857). A técnica consiste
na aplicação deste colódio ainda líquido em uma placa de metal ou vidro. Esta placa
é submersa por alguns minutos em uma solução de nitrato de prata tornando-se assim
fotossensível27.
Com a possibilidade de tempos de exposição menores, o fotojornalismo ganhou
força, tendo como trunfo a conquista do movimento, podendo assim “congelar”
qualquer ação e dar a impressão de que tudo está acontecendo em tempo real. As
fotos não precisavam mais de “planejamento”, era, a partir dali, possível fotografar as
coisas de forma inesperadas e instantâneas. O caráter documental da fotografia
ganhou ainda mais força com esses avanços. O espontâneo, até hoje, é visto como
reprodução (quase) fiel dos acontecimentos.
Com o continuar dos avanços, nas últimas décadas do século XIX, a fotografia
também ganhou espaço como meio de informação nos jornais. Segundo Gisèle
Freund (2011)

A mecanização da reprodução, a invenção da placa seca ao brometo de


gelatina que permite o uso de pratos preparados antecipadamente (1871), a
perfeição dos objetivos (os primeiros anastigmáticos foram construídos em
1884), o filme em rolos (1884), a melhoria da transmissão de uma imagem
pela telegrafia (1872) e, posteriormente, pela belinografia, abriram o caminho
para a fotografia de imprensa.28 (FREUND, Gisèle, p. 95, tradução nossa).

27
Disponível em: <https://retratistadecolodio.wordpress.com/sobre-a-fotografia-de-colodio-3/>. Acesso em:
15 jun. 2018.
28
La mecanización de la reproducción, el invento de la placa seca al gelatino - bromuro que permite el uso de
placas preparadas de antemano (1871), el perfeccionamiento de los objetivos (los primeros anastigmáticos se
costruyen en 1884), la película en rollos (1884), el perfeccionamiento de la transmisión de una imagen por
telegrafía (1872) y más tarde opr belinografía, abrieron el camino a la fotografía de prensa.
29

Junto com a evolução da fotografia, nasce um nome importante no que diz


respeito ao início do fotojornalismo propriamente dito: Mathew Brady. Antes de ser
considerado como um dos primeiros fotojornalistas, Brady já havia consolidado-se
como fotógrafo, com retratos feitos de figuras importantes da época como Daniel
Webster, Edgar Allan Poe e Henry Clay. Brady deu rosto a figuras conhecidas de
forma que pudessem ser difundidas. Lincoln, à época, foi retrato por Brady. Neste
mesmo dia Lincoln participou de um evento importante, a reprodutibilidade de seu
discurso e a fotografia de Brady ganharam capas de jornais e revistas.

Figura 6 - Abraham Lincoln por Mathew Brady

Fonte: American Studies Journal/Reprodução

Em 1861, com o início da Guerra Civil Americana, Brady decide sair de sua
zona de conforto e fotografar pelas ruas. Brady entendia a importância que a fotografia
30

tinha perante a sociedade. No ano seguinte exibiu na sua galeria em Nova York
imagens de cadáveres após a Batalha de Antietam fotografados por seus colegas
Alexander Gardner e James Gibson. Era notável como Brady entendia o impacto que
aquelas imagens produziam nas pessoas.

Figura 7 - Foto tirada após a Batalha de Antietam, em 1862

Fonte: Wikipedia/Reprodução

Apesar da repercussão que as fotografias de guerra causaram, com o tempo


estas deixaram de chocar. As imagens de guerra já não despertavam tanto interesse.
A demanda por esse tipo de trabalho diminuiu e Brady viu-se falido. Segundo
Jacqueline Trescott (2010) em reportagem para o Estadão

os tribunais americanos o declararam falido em 1873 e em 1875 seus


estúdios em Nova York foram fechados. Brady encaminhou uma petição ao
Congresso, pedindo para que a Casa comprasse sua coleção, o que foi feito
pelo valor de US$ 25 mil, ainda em 1875 (Jacqueline Trescott, 2010).

Outros nomes surgiram e, aos poucos, a fotografia foi descobrindo seus


campos de atuação e possibilidades.
31

3 MOMENTOS HISTÓRICOS DE RUPTURA

Consideramos aqui momentos de ruptura na história da fotografia a chegada


no mercado do que consideramos marcar de extrema importância para a fotografia.
O consumo de fotografia já era algo real naquela época, mas este ainda se
dava de forma extremamente elitizado, visto que durante muitas décadas a fotografia
exigia conhecimentos de química e equipamentos pesados e caros, o que de fato não
era acessível a todas as pessoas.

Durante as décadas que se seguiram desde a invenção do daguerreótipo a


fotografia pouco evoluiu. O ato de registrar imagens ainda era algo trabalhoso
e demorado, que exigia técnica, capital, equipamento e conhecimento de
química por parte dos fotógrafos; eram poucos os que podiam trabalhar neste
novo ramo (CORRÊA, Juliana Rosa, 2013, p.16).

Figura 8 - Roger Fenton e seu laboratório fotográfico durante a Guerra da Crimeia

Fonte: V&A/Reprodução

Embora ainda fosse um processo de difícil execução e custoso, a utilização do


daguerreótipo ganhou o mundo e passou a ser utilizado com bastante frequência, mas
esta ainda tinha muito a evoluir e os estudos ao redor do mundo para torná-la mais
funcional e de fácil acesso a toda população não cessaram.
32

Aquela época em que tirar foto demandava um aparato caro e complicado -


o passatempo dos hábeis, dos ricos e dos obsessivos - parece, de fato,
distante da era das cômodas câmeras de bolso que convidam qualquer um
tirar fotos (SONTAG, 2004, p.18).

Foi então que, após algumas décadas de estagnação, a fotografia enfim ganha
uma grande aliada no que diz respeito a sua disseminação no mundo. Surge, então,
a Kodak29.

3.1 KODAK

Em 1881 a fotografia finalmente deixa de ser um objeto elitizado para adentrar


de fato em todas as casas ao redor do mundo. Esse fato deve-se à criação da Kodak
pelo americano George Eastman. A Kodak teve uma enorme importância na história
da fotografia por todas as inovações que esta trouxe em tão pouco tempo.
Dentre suas contribuições para a fotografia, destaca-se a criação de máquinas
compactas e rolos de filmes, proporcionando que as câmeras fotográficas fossem um
bem comum a todas as pessoas e não somente àquelas com poder aquisitivo,
possibilitando a aquisição de tais equipamentos por um preço acessível e facilidade
para carregar, pois esta não possuía todo o peso de suas antecessoras. Os químicos
também foram dispensados: Eastman lançou a Kodak no mundo com o slogan: Você
aperta o botão, nós fazemos o resto. Acontece que com a compra de uma máquina
fotográfica, o cliente já saía da loja com um rolo de filme de 100 poses. Assim que
este acabasse, era possível retornar à loja e pagar pela impressão daquelas
fotografias e levar um novo rolo para casa.

29
Segundo o próprio site da empresa, George Eastman, fundador da Kodak, costumava dizer que o nome da
empresa surgiu de uma combinação aleatória com palavras começando e terminando com a letra K. Ele
considerou a palavra inventada ideal para sempre ser pronunciada corretamente em qualquer parte do mundo
e completamente ''inédita'' no mercado.
33

Figura 9 - Câmera Brownie Kodak

Fonte: Câmeras Antigas30/Reprodução

A Kodak consolidou-se no mercado fotográfico não somente por ter sido a


pioneira em relação à disseminação simples e descomplicada da fotografia amadora,
como por todos os seus processos inovadores que trouxe para a fotografia ao longo
dos anos.

3.2 LEICA

Chega ao mundo fotográfico a "extensão do olho31”: Leica32. A Leica é uma das


marcas de maior renome no mundo fotográfico e não poderia ser diferente: durante
alguns anos de pesquisa, o seu criador, Oskar Barnack, desenvolveu um protótipo do
que viria a ser a primeira câmera fotográfica no mercado a operar com películas de
35mm. Este formato permite melhor qualidade nas ampliações fotográficas.
Em 1925 a primeira Leica é oficialmente lançada: uma câmara com suporte
para filmes de 35mm com uma lente de distância focal de 50mm e abertura f/3.5.
Pouco tempo depois, em 1930, surge o primeiro modelo Leica com lentes
intercambiáveis.

30
Disponível em: <http://www.camerasantigas.com.br/grandes_cameras_grandes_historias.htm>. Acesso em
13 jun. 2018
31
Termo utilizado por Henti Cartier-Bresson em sua biografia "The Mind's Eye".
32
O nome deve-se a combinação de Leitz + Camera.
34

Figura 10 – Leica I

Fonte: Wikipedia/Reprodução

Não demorou muito para a marca tornar-se referência dentro do mercado


fotográfico profissional. Enquanto a Kodak conquistou um público mais voltado para o
lazer, a Leica conquistou aqueles que buscavam transformar a fotografia em
profissão. De acordo com Wagner Souza e Silva (2010), a introdução da Leica no
mercado fotográfico, junto com a possibilidade de intercambiamento de objetivas,
passou a definir

um mercado de equipamento portátil mais seleto, mais custoso ao


consumidor comum, e que determinaria parâmetros tecnológicos que dariam
toda a sustentação da prática do fotojornalismo (SILVA, 2010, p. 29).

A marca conquistou o mercado profissional de fotografia e disseminou o médio


formato (35 mm), tornando-se febre e dominando o mercado fotográfico ao longo da
década de 30.

As câmeras Leica transformaram o gênero embrionário do fotojornalismo.


Jornalistas vinham usando câmeras desde o nascimento da fotografia [...]
Esses pioneiros sofriam limitações devido ao peso do equipamento e por
esse motivo suas reportagens eram estáticas e formais. Na maioria dos
trabalhos em campo, os candidatos a fotojornalistas tinham que ficar rígidos
e estáticos como os tripés que eram obrigados a usar.
A Leica mudou tudo isso. De repente, tornou-se possível ser discreto. A
câmera cabia num bolso de paletó. Prescindia de tripé; podia ser operada
com rapidez e em silêncio. Assim, a fotografia tornou-se fluida, informal,
íntima, e a tecnologia deixou de atrapalhar a história que se queria contar
(John Naughton, 2014).
35

Figura 11 - "Death of a Loyalist Soldier" de Robert Capa, utilizando Leica

Fonte: B9/Reprodução

3.3 POLAROID

A Polaroid (1948) nasceu em contrapartida a quase tudo aquilo que se buscava


na época. De um lado, a instantaneidade, por outro lado, a efemeridade. Dilema esse
que ressurge nos tempos atuais da fotografia e que motivou o início dessa pesquisa.
A criação da Polaroid deve-se graças ao americano Edwin Land.

Figura 12 – A primeira Polaroid

Fonte: Eugene Ilchenko/Flickr/Reprodução


36

Pelo imediatismo que a câmera instantânea possibilitava, bastava apertar um


botão e esperar cerca de um minuto, o consumidor abriu mão da qualidade de
imagem. Para Silva (2010) é importante considerarmos a introdução da Polaroid no
mercado como algo importante por evidenciar “que a instantaneidade da imagem
fotográfica sempre foi desejada” (SILVA, 2010, p. 31). O surgimento da Polaroid nos
mostra “que a necessidade de uma boa imagem não era tão maior do que a
necessidade de se ter imediatamente a imagem” e “outro fator que a colocava em
paralelo com os dias de hoje, era a descartabilidade de suas fotografias” (SILVA, 2010,
p. 31), tanto que a empresa só fechou suas portas com a chegada do digital.

Na trajetória da tecnologia da fotografia, até antes de sua inserção no digital,


pode-se perceber este movimento que é evidente: do metal passou-se ao
papel, do papel passou-se ao vidro, do vidro passou-se ao plástico; e em
relação ao seu maquinário, passou-se do grande ao portátil. A fotografia foi
sendo enraizada socialmente pela perda significativa de sua matéria
tecnológica, e isto se acentua na era digital. (SILVA, 2010, p. 32).

Embora a Polaroid tenha fechado suas portas em 200833 e o destino das


fotografias instantâneas (lembrando que aqui queremos dizer por fotografia
instantânea aquela produzida e "impressa" na hora, em um único aparelho) tenha
tomado, de certo modo, rumo à decadência, quase 10 anos depois ressurge no
mercado inúmeras marcas de câmeras instantâneas.

Figura 13 - Polaroid Socialmatic

Fonte: photographyblog /Reprodução

33
Disponível em https://istoe.com.br/1047_O+FIM+DA+POLAROID/
37

A grande diferença da nova Polaroid é a união entre o "velho e o novo". O novo


modelo possui visor que permite que o usuário visualize a fotografia e decida se quer
fazer a revelação instantânea daquela fotografia, seu descarte ou compartilhamento,
visto que o novo modelo também conta com Wi-Fi e Bluetooth.
De acordo com Ari Zlotoff (2014), diretor de desenvolvimento de negócios
globais da Polaroid, em entrevista para o portal Terra, a nova Polaroid une, em um
único aparelho, “o mundo analógico, que permite ao usuário tirar a foto e não salvar.
E o mundo digital, que não deixa você imprimir as fotos (instantaneamente)” (Ari
Zlotoff, 2014).
38

4 A ERA DIGITAL

Ao longo desse estudo podemos notar que a fotografia está atrelada aos
avanços tecnológicos, principalmente o fotojornalismo. A fotografia como documento
histórico nasceu ao nos darmos conta de que havia naquele invento um potencial além
das artes. O fotojornalismo, no entanto, nasceu das explosões tecnológicas que
surgiram a partir disso, possibilitando um novo fazer fotográfico que fosse capaz de
assimilar o aqui e o agora. Com o notar do potencial da fotografia para além do campo
artístico, o homem notou que aquele invento precisava de “melhorias” para então
servir como documentação dos fatos. Era preciso, além do saber, comprovar. A
fotografia por muito tempo foi uma espécie de comprovação quase que inquestionável
do real. Foi assim que ganhou espaço dentro do jornalismo.
De acordo com Daniel Rodrigo Meirinho de Souza (2010) “a imagem, desde a
sua criação e durante muitos anos, não só foi a essência da representação do real,
mas também a própria realidade” (SOUZA, 2010, p. 2). Ainda segundo Souza (2010),
a fotografia deixa de ser "uma mera ilustração" a partir do momento que esta
desempenha um papel noticioso e passa a "assumir uma função complementar de
veracidade do texto escrito" (SOUZA, 2010, p. 4).
Depois de anos, teria então a possibilidade da fotografia perder seu caráter
documental por conta de um novo processo de produção? Esse questionamento foi
levantado com a chegada do digital e as inúmeras possibilidades que este permitia na
manipulação de imagens, embora, é claro, no tempo do analógico tais façanhas já
fossem possíveis.

A manipulação, em laboratório convencional, das imagens fotográficas possui


um histórico e marcas em projectos específicos desde o início do século XIX
e posteriormente com os artistas vanguardistas do dadaísmo, cubismo e a
Pop Arte. (SOUZA, Daniel Rodrigo Meirinho de, 2008, p. 3634).

O digital trouxe facilidade na hora da captura, mais facilidade ainda na hora da


manipulação. Entendemos que essa mudança no conceito de produção das imagens
alterou historicamente o seu papel dentro da sociedade, colocando, muitas vezes, a
prova a sua comprovação como documento histórico. Segundo informações dadas
39

pelo The Guardian34 (2015), o renomado fotógrafo de guerra Don McCullin afirmou
que a fotografia digital seria "uma experiência totalmente falsa", reafirmando a aura
de instabilidade que a fotografia vem sofrendo nos últimos anos referente à sua
veracidade em registrar e documentar os acontecimentos.
De acordo com o jornal britânico, McCullin deu este pronunciamento durante a
feira de arte Photo London. Para McCullin, as câmeras digitais "sequestraram" o
mundo da fotografia. "[...] a fotografia digital pode ser um tipo totalmente falso de
experiência [...] você pode mover qualquer coisa que quiser nela. A coisa toda não
pode ser confiada de verdade”, disse o fotógrafo em seu pronunciamento.
Para Fernando Bohrer Schmitt (1999), a chegada do digital significa uma
reinvenção da fotografia, onde, segundo ele, "introduz características específicas -
diferentes daquelas da fotografia convencional - e novos usos sociais".
É inegável o fato de que o digital trouxe para a fotografia um dinamismo que o
analógico ainda não possuía, mas não podemos atribuir a este fato um sentimento
negativo. Já no início da fotografia jornalística, essa foi capaz de causar impacto e
mostrar para o mundo coisas que antes somente eram ditas. A fotografia chocou
quando deu forma e rosto para acontecimentos históricos, principalmente as guerras.
O digital apenas multiplicou a disseminação dessas imagens.

A necessidade de comprovar a realidade e de engrandecer a experiência


através das fotografias é uma forma de consumismo estético a que todos nos
entregamos. As sociedades industriais transformam os seus cidadãos em
viciados de imagens; trata-se da mais irresistível forma de poluição mental.
[...] Mallarmé, o lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo o que existe
no mundo existe para vir acabar num livro. Hoje em dia, tudo o que existe,
existe para vir a acabar numa fotografia. (Sontag, 1986 apud SOUZA 2008).

Para Jesualdo de Almeida Castro (2007, p. 3 e 4), "imagens fortes como a fome
e as devastações causadas pelos conflitos étnicos na África reforçam o poder que tem
a imagem de mexer com o inconsciente das pessoas".
A chegada da fotografia digital e os avanços desenfreados da informática
tornam as imagens cada vez mais acessíveis, assim como o consumo de fotografias
também aumentou.

34
The Guardian é um jornal diário nacional britânico, conhecido até 1959 como Manchester Guardian. Junto
com seus jornais irmãos, The Guardian Weekly e The Observer, o Guardian faz parte do Guardian Media Group,
propriedade do The Scott Trust Limited.
40

A câmera fotográfica digital, versão para amadores, toma forma e se


estabelece como produto de desejo. Incorporando algumas das tecnologias
das câmeras de vídeo, ela se torna um produto de maior alcance de objetivos,
ou seja, supera as próprias características de sua concepção original. Na
versão profissional, os equipamentos se destacam pela extrema qualidade
da imagem, rapidez na captura, possibilidade de tratamento e transmissão
em tempo real para qualquer parte do planeta (CASTRO, 2007, p. 5).

Podemos deduzir que a chegada do digital facilitou em muitos aspectos os


campos da fotografia. Inclusive como um facilitador na preservação das imagens, já
que estas podem encontrar-se armazenadas na nuvem35.
Segundo Castro (2007), a fotografia possui em sua essência o conceito da
imortalidade. "Desta forma, por indução, podemos também conceber a idéia de que
uma imagem fotográfica seja, enquanto preservadas as suas características físicas,
técnicas e ideológicas, um objeto perene” (CASTRO, 2007, p. 7).
Com a chegada da internet de forma cotidiana na vida das pessoas e a vida
cada vez mais corrida e dinâmica, o jornalismo precisou buscar uma forma de integrar-
se a esse novo modo de consumir das pessoas, desta forma, de acordo com
Kassandra Merielli Lopes Lima e Maria Larissa Dennyfher de Moura (2017, p. 3), nos
"primeiros anos após a popularização da internet houve certa dificuldade para se
encontrar um caminho do fazer jornalismo em rede”, fazendo com que profissionais
da área do jornalismo e empresas buscassem uma forma de integrar-se a esse novo
mundo.
O jornalismo precisou, aos poucos, encontrar uma forma de interagir com seu
público, visto que uma das grandes diferenças entre o jornalismo tradicional e o
webjornalismo36 está na possibilidade de interação entre emissor e receptor.
A internet não só trouxe um dinamismo para o jornalismo como também deu
início à convergência digital: fusão de tecnologias de comunicação digital, computação
e mídia online.
Para Lima e Moura (2017) "a convergência parte de uma mudança não apenas
tecnológica, mas, sobretudo cultural" (LIMA; MOURA, 2017, p. 4), e isso tem exigido
que o jornalismo precise de um poder de adaptação cada vez mais rápido.

35
O termo refere-se à utilização da memória e da capacidade de armazenamento e cálculo de computadores e
servidores compartilhados e interligados por meio da Internet.
36
Termo utilizado para designar o jornalismo na internet.
41

5 FOTOGRAFIA E MEMÓRIA

A interação com o público, aos poucos, ganhou espaço dentro das redes
sociais37. Sites como Twitter e Facebook passaram a fazer parte das redações
jornalísticas. Com os avanços tecnológicos e a vida cada vez mais agitada, o uso de
smartphones cresceu. Segundos dados retirados da nona edição da pesquisa TIC
Domicílios38 de 2013, 31% da população brasileira já utilizava a Internet por meio de
smartphones. Ainda, segundo a pesquisa, em 2013, 30% dos usuários de telefone
celular utilizavam o aparelho para acessar redes sociais.

Figura 14 - Gráfico com percentual do uso da Internet pelos celulares

TIC DOMICÍLIOS 2013/Reprodução

Segundo a TIC Domicílios 201639, o número de brasileiros que utiliza a Internet


por meio de smartphones praticamente dobrou, passando a ser 66%. No mesmo ano,

37
Redes sociais, no mundo virtual, são sites e aplicativos que operam em níveis diversos — como profissional,
de relacionamento, dentre outros — mas sempre permitindo o compartilhamento de informações entre
pessoas e/ou empresas.
38
Disponível em: http://cetic.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-
comunicacao-no-brasil-tic-domicilios-e-empresas-2013/
39
Disponível em: <http://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/TIC_DOM_2016_LivroEletronico.pdf>.
42

o percentual de utilização do celular para acessar redes sociais também aumentou,


passando a ser 78%.

Figura 15 - Gráfico com percentual do uso da Internet pelos celulares

TIC DOMICÍLIOS 2016/Reprodução

Essas mudanças nos hábitos de consumo geraram o surgimento e a


popularização de diversos aplicativos, e, com isso, surgiram redes sociais com
propósitos e plataformas diferentes, como as Redes de Imagens, proposta de estudo
desta monografia.
Conforme Lucas Guimarães de Oliveira, Ícaro de Abreu, Marcelo Arrozio
Capanema e Renato Gaion (2016) os próprios aparelhos telefônicos atuais "que
permite a transmissão e recebimento de fotos e vídeos, também influencia como as
imagens são recebidas, percebidas e assimiladas", a produção massiva de fotografias
"gera uma acumulação de imagens que cada vez mais dificulta que as mesmas sejam
observadas, admiradas, apreciadas e até entendidas" (OLIVEIRA; ABREU;
CAPANEMA; GAION, 2016, p. 2).
Dentro desse contexto é possível entendermos a popularização da função
stories desses aplicativos, visto que essas plataformas têm seguido o fluxo que a
sociedade tem tomado de produção fotográfica massiva e pouco tempo para o
43

consumo dessas imagens. As fotografias passam a ter um novo status onde elas
“passam a ser mais um elemento de comunicação na web e menos um instrumento
de resgate de memória” (OLIVEIRA; ABREU; CAPANEMA; GAION, 2016, p. 3).
Para André Lemos (2004) esses novos moldes da sociedade fazem com que
“não seja mais o usuário que se desloca até a rede, mas a rede que passa a envolver
os usuários e os objetos numa conexão generalizada” (LEMOS, 2004, p. 1). A era da
conexão está intrinsecamente ligada à era da mobilidade.
O que difere inicialmente as Redes de Imagem de outras redes sociais é a
disponibilidade apenas para smartphones. Não que estes não possam ser acessado
de outra maneira, mas sua tecnologia mediadora é inerente a estes aparelhos móveis.

Figura 16 – Smartphone

Fonte: Pixabay/Reprodução

5.1 AS REDES DE IMAGEM

O Snapchat encontra-se no mercado desde 2011 e suas funções se resumem


ao compartilhamento de fotos e vídeos de curta duração com prazo de validade. O
aplicativo permite a criação de snaps para compartilhamento privado ou público. No
caso do compartilhamento privado, o conteúdo enviado é eliminado após a
visualização do receptor daquela mensagem. Já no modo de compartilhamento
44

público, a mensagem fica disponível durante 24h no perfil do emissor daquela


mensagem.
O Instagram Stories segue a mesma lógica do seu pioneiro Snapchat. Criado
em 2016, o Instagram Stories é uma ferramenta adicionada ao já existente aplicativo
Instagram. Com a força que o Instagram já possuía na Internet, quando este integrou
a função Stories às suas funcionalidades, o Snapchat perdeu acabou perdendo
espaço, visto que o Instagram já tinha um o seu público fidelizado.
Para entendermos este fenômeno é preciso analisar o início da utilização
dessas plataformas dentro do jornalismo, através do pioneiro Snapchat e da crescente
utilização do seu principal concorrente, o Instagram Stories.
As plataformas de reprodução momentânea ganharam força dentro do
jornalismo por entenderem as mudanças no modo de consumir das pessoas. O
público não somente consome mais notícia como a consome em tempo real. Nesse
ponto, vale destacar questões ligadas à mobilidade. É comum pessoas consumirem
diretamente dos seus smartphones a qualquer hora e em qualquer lugar. Rodrigo
Martins Aragão (2012) entende que a popularização dos aplicativos iniciou-se com a
chegada do iPhone, o que resultou em um "crescimento de uma nova forma de
consumo midiático: os aplicativos" (ARAGÃO, 2012, p.1).

As novas formas de conexão móvel e ubíqua traz consigo, além de uma nova
forma de comunicação que se desenvolve com características próprias e
cada vez mais específicas – como a redefinição dos aparelhos com acesso a
essas redes em dispositivos de mídia locativa desafios novos para o
jornalismo, que busca se adaptar às novas tecnologias e formas de produção,
consumo e circulação de informações (SILVA, 2007; BRIGGS, 2009 apud
ARAGÃO, 2012, p.1).

A utilização dessa plataforma também deixa evidente, segundo José Afonso da


Silva Junior (2012) uma

visão singular de quem fotografa em modo desprendido, olhando para o


significativo e o banal, reduzindo a distância entre fotografar e observar, uma
escrita das ruas, finalmente, uma flanerie capaz de registrar o percurso e, ao
mesmo momento, permitir sua observação” (SILVA JR, 2014, p. 123).

Reforçando o imediatismo e dando ênfase ao aqui e agora. "O fotografar-


compartilhar-consumir simultâneo e georreferenciado amplia a independência da
fotografia como registro" (ARAGÃO, 2012, p. 9). Esse tipo de plataforma faz com que
45

a fotografia reassuma "com mais força o seu papel de meio de comunicação próprio,
sem necessariamente estabelecer uma combinação com outras modalidades de
discurso” (SILVA JR, 2012, p. 8 apud ARAGÃO, 2012, p. 9).
Chegamos ao momento em que o fotojornalismo encontra força dentro de uma
plataforma onde ele é o protagonista, não servindo apenas como um apoio para o
texto e sim ao contrário.

Este potencial se associa à estética da transparência da fotografia


Instagram, permitindo que também esta seja uma forma de registro
jornalístico, imbuído ainda mais da legitimidade [...] pela simultaneidade do
registro e do consumo (ARAGÃO, 2012, p. 9).

Com a fotografia fazendo parte do cotidiano das pessoas, aplicativos voltados


para a fotografia ganharam espaço no dia a dia, possibilitando o inegável sucesso das
redes sociais voltadas para a fotografia.
De acordo com Vitor Braga, Jessica Carneiro e Idilva Maria Germano (2017), a
fotografia tem desempenhado um novo papel "sob a égide do “aqui e agora”, trazendo,
assim, efeitos sobre a memória" (BRAGA; CARNEIRO; GERMANO, 2017, p. 213).
A grande diferença desse tipo de plataforma é a possibilidade da
instantaneidade e a efemeridade. Fato que nos leva a repensar o sucesso que a
Polaroid fez ao chegar ao mercado. Dentro do fotojornalismo, essa função pode
também ser atrelada a crise de veracidade que o fotojornalismo sofreu com a chegada
do digital. Fotos produzidas e publicadas na mesma hora, sem margem para
manipulação.
Apesar disso, esse tipo de produção fotográfica coloca a prova uma das
funções mais básicas da fotografia no âmbito jornalístico que é, além de informar,
guardar como documentação suas produções fotográficas.

Esse “enquanto”, sempre “presentificado”, gera efeitos não apenas na


recepção das imagens por quem as consome, mas na relação e mediação
da experiência com a imagem e a memória do próprio produtor (BRAGA,
CARNEIRO, GERMANO, 2017, p. 215-6)

.
Esse tipo de "produção" fotográfica abre questionamentos referentes ao papel
que a fotografia tem dentro da nossa sociedade, onde a fotografia "desempenhou por
muito tempo [...] a função de “evocar” a memória, tornando-se um meio de acesso
46

para representar o passado de um indivíduo, uma comunidade ou sociedade”


(BRAGA; CARNEIRO; GERMANO, 2017, p. 217).
Os avanços tecnológicos das últimas décadas desencadearam um novo modo
de relacionamento entre as pessoas e a fotografia, essa, que antes era elitizada, agora
se faz presente de forma cotidiana na vida das pessoas.
A presença das imagens de forma constante na vida das pessoas g inúmeros
novos usos para a fotografia "pautada no uso das novas mídias" (BRAGA;
CARNEIRO; GERMANO, 2017, p. 220), no qual a fotografia digital encontrou
protagonismo. Essas plataformas, segundo Braga, Carneiro e Germano (2017, p.
220), traça na história da fotografia "um novo percurso na construção da memória,
calcada na mediação midiatizada entre eventos passados e presentes".
A chegada desse tipo de plataforma "parece a todo instante nos fazer
questionar como é possível produzir e guardar memória perante uma prática
fotográfica cujo fim é o esquecimento da imagem recém-produzida” (BRAGA;
CARNEIRO; GERMANO, 2017, p. 220).
Ainda de acordo com Braga, Carneiro e Germano (2017), as mídias digitais
possuem capacidade para auxiliar a memória humana por "serem externas ao
indivíduo – estariam materializadas em algum objeto palpável", porém, em
contrapartida, também podem ser consideradas um certo tipo de "ameaça" para as
lembranças, visto que estas geralmente são "vistas como uma “prótese artificial” que
poderia libertar o cérebro de encargos desnecessários e dispendiosos" (BRAGA;
CARNEIRO; GERMANO, 2017, p. 220-1).
Essas plataformas e esse novo “fazer fotográfico” dá novos sentidos à
fotografia. Nos é apresentado um sentido fotográfico que vai além do registrar e
guardar e sim o de comunicar, visto que essas plataformas estão diretamente ligadas
a lógica de fotografar e compartilhar. Os registros fotográficos ali realizados já são
feitos pensando no ato de compartilhar. Segundo Van House (apud BRAGA;
CARNEIRO; GERMANO,, 2017, p. 224), "as imagens [...] circulam entre indivíduos e
grupos, a fim de estabelecer e fortalecer laços", o ato de fotografar não é mais
realizado com o intuito de guardar um momento e sim de interação. "Tirar uma foto,
enviá-la e receber outras, é uma experiência em tempo real, assim como palavras
faladas, as imagens trocadas não têm o propósito de serem armazenadas" (BRAGA;
CARNEIRO; GERMANO,, 2017, p. 224-5). Esse novo fazer fotográfico está
47

intrinsecamente ligado às interações e não ao registro fotográfico. É uma nova forma


de comunicação pautada em fotografias.
Tendo em vista essa nova lógica do uso fotográfico, como o fotojornalismo tem
se beneficiado dessas plataformas?
48

6 O FOTOJORNALISMO EFÊMERO E OS APLICATIVOS

Embora inicialmente esse tipo de plataforma tenha sido utilizado como forma
de compartilhamento de imagens pessoais. Ainda utilizando o exemplo do pioneiro
Snapchat, aos poucos, segundo Eduardo Leite Vasconcelos (2016-17), "a plataforma
foi incorporando outros tipos de conteúdo, como a aba Discover, em que o usuário do
Snapchat tem acesso a conteúdos editoriais de alguns veículos de comunicação
mundialmente conhecidos [...] o que aproximou o conteúdo jornalístico ao aplicativo".
No Instagram, existe atualmente a função intitulada como "Seu story", onde o
conteúdo publicado fica disponível no seu perfil por 24h. A utilização dessa função
dentro do jornalismo caracteriza-se pela publicação "de imagens do cotidiano dos
usuários, para informar, uma das funções básicas do jornalismo (SCHUDSON, 2008
apud VASCONCELOS, 2016-7).
Quando falamos de jornalismo, é possível traçarmos uma ligação entre a
utilização dessas plataformas efêmeras visto que, de acordo com Robert Park (apud
VASCONCELOS, 2016-7), "a notícia [...] diz respeito apenas ao tempo presente e,
depois de assimilada pelo público, o que era notícia deixa de sê-lo para se tornar
história". Tornando possível atribuirmos às características essências do jornalismo a
efemeridade. Mas e a fotografia? A fotografia jornalística é capaz de encaixar-se
dentro desse quadrante?
Com a chegada dos smartphones houve uma mudança no consumo de
conteúdo. Antes era necessário a utilização de um “desktop (computador de mesa),
equipamento relativamente grande, estático e restrito a conexões locais, muitas vezes
com cabos vinculados a telefones fixos” (MENEZES; SILVA; COSTA, 2016, p.1), logo
após, com a chegada dos computadores móveis (notebooks), o jornalismo ganhou um
grande facilitador pela possibilidade de deslocamento desses aparelhos. "O
jornalismo se apoderou das mais diversas tecnologias para atingir um elevado nível
de rapidez e eficiência" (RESENDE, 2008, p. 25).
49

Figura 17 - Desktop e Notebook

Fonte: BlogbringIT/Reprodução

Hoje, porém, é possível realizar qualquer tarefa por meio dos smartphones. A
chegada desses aparelhos móveis com a possibilidade de conexão em qualquer lugar
sem o uso de cabos mantém o consumidor disponível na rede 24h por dia. “O celular
proporcionou aos usuários uma experiência atomizada de fruição de consumo, além
de um estado de conexão quase permanente” (MENEZES; SILVA; COSTA, 2016,
p.1).
A utilização do jornalismo dentro das redes sociais acontece com a intenção de
ser um canal de divulgação das notícias que estão sendo veiculadas em seus portais.

O jornalismo procurou aproveitar a Internet para chegar mais longe, ficar cada
vez mais íntimo dos consumidores ou mesmo para atrair novos públicos até
então desligados do mundo das notícias. Por isso, ao aparecimento de cada
nova aplicação de sucesso corresponde uma por tentativa de apropriação por
parte dos media: aconteceu com os blogues, os microblogues, como o Twitter
e, mais recentemente, com as redes sociais. (FERREIRA, Rui Fernando da
Rocha, 2012, p. 21-2).

O que fazemos dentro das redes sociais não é jornalismo propriamente dito e
sim uma forma de disseminar as notícias a fim de atingir um número maior de leitores.
As redes sociais chegaram e o jornalismo apropriou-se dessas plataformas com a
intenção de atingir um público maior e com maior velocidade.

Outra apropriação também identificada pela literatura é aquela do


compartilhamento e difusão de informações (Mischaud, 2007; Java et al.,
2007), dentro das quais incluem-se também as apropriações jornalísticas
(Silva, 2009; Zago, 2008). Essa apropriação compreende práticas de repasse
de informações consideradas relevantes entre os atores das várias redes
sociais [...], a difusão de informações obtidas em outros meios – como meios
de comunicação de massa, por exemplo – e o impacto dessa circulação
50

dentro das redes estabelecidas na ferramenta (RECUERO; ZAGO, 2010, p.


70).

Dessa forma é possível entendermos que as redes sociais possuem um


enorme potencial colaborativo perante o jornalismo e a difusão de informações. “Uma
rede social não é uma ferramenta, mas apropria-se delas para expressar suas
identidades, construir seus valores e operar de forma coletiva” (RECUERO, 2009:25-
26 apud FRANCISCO, Kárita Cristina, 2010).
De acordo com o relatório Reuters Institute News Digital 201740, 91% dos
internautas acessam a internet através de smartphones. Segundo a pesquisa, 65%
dos brasileiros consomem notícias através de smartphones e 66% utilizam as redes
sociais para ler notícias.

Figura 18 - Gráfico do consumo de notícias através de smartphones

Fonte: Reuters Institute News Digital 2017/Reprodução

40
Disponível em
https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/default/files/Digital%20News%20Report%202017%20web_0.pdf
. Acesso em 09 jun. 2018.
51

Figura 19 - Gráfico do consumo de notícias através das redes sociais

Fonte: Reuters Institute News Digital 2017/Reprodução

Além disso, um outro estudo realizado pelo Centro de Estudos sobre Meios e
Sociedade (Meso)41, na Argentina, e publicado na revista Anfibia, mostra que o
consumo de notícias pelos jovens dá-se de maneira incidental através das redes
sociais.

Os pesquisadores perceberam que os jovens ouvidos não acessam a internet


para buscar notícias, mas deparam com elas de forma não intencional
durante a navegação, principalmente em meio aos conteúdos compartilhados
em sites como Facebook, Twitter e Instagram (KANNENBERG, 2017, p. 4).

Essas informações são importantes para entendermos o crescimento do


jornalismo dentro das redes sociais e a forma como o jornalismo se comporta dentro
dessas redes.
No Instagram Stories, o consumo incidental acontece pela forma como o
aplicativo funciona: ao clicar em um Stories, o aplicativo vai passando todos os Stories
daquele usuário, mas ao chegar no final, ele não sai da tela de reprodução dos Stories,
somente pula para os Stories do próximo usuário, facilitando que os usuários daquela
função esbarrem em conteúdos que antes, talvez, estes não pensassem em abrir
voluntariamente.

41
Disponível em < http://www.revistaanfibia.com/ensayo/medio-ya-no-mensaje/>. Acesso em 09 jun. 2018
52

Apesar disso, o jornalismo na web não sobrevive somente dos acasos. Palacios
(2003 apud MENEZES; SILVA; COSTA, 2016) aborda seis características que ele
afirma serem necessárias para o desenvolvimento do jornalismo na web:
multimedialidade, interatividade, hipertextualidade, personalização, atualização
contínua e memória. Nessa pesquisa, vamos abordar apenas a atualização contínua
e memória.
Seguindo esses conceitos estabelecidos por Palacios, vivenciamos atualmente
uma geração que prima pelo imediatismo. "Os acontecimentos devem ser noticiados
em tempo real [...] A atualização contínua dos portais favorece o acompanhamento
quase ao vivo das notícias mais relevantes do momento (MENEZES; SILVA; COSTA,
2016, p.4).
Ainda sobre a perspectiva de Palacios (2003 apud MENEZES; SILVA; COSTA,
2016, p.4), a questão da memória dentro da web dá-se pela possibilidade de
armazenamento massivo e disponibilidade infinita desses conteúdos.

Com a convergência dos formatos e a interação cada vez contínua dos


usuários da web, a quantidade de informações armazenadas na web
aumenta significativamente no banco de dados da Internet. A
colaboração massiva dos internautas concomitantemente com os
jornalistas constrói essa base de informações e memória coletiva da
rede (MENEZES; SILVA; COSTA, 2016, p.6).

Os aplicativos de reprodução instantânea e momentânea chegam para quebrar


esse padrão.

Figura 20 - Snapchat e Instagram Stories

Fonte: Reprodução
53

6.1 INSTAGRAM

Com o pontapé inicial do Snapchat e a popularidade de uma função semelhante


no aplicativo Instagram, que já possuía espaço significativo dentro da web e do
cotidiano das pessoas, o sistema dessa construção de memória coletiva vem
enfraquecendo (MENEZES; SILVA; COSTA, 2016, p.6).
É uma maneira de reforçar que a notícia não possui valor a longo prazo, o
importante é o aqui e o agora. O passado dentro do jornalismo não possui valor
significativo. “O produto jornalístico deve possibilitar ao leitor participar de um presente
amplo, global, capaz de coincidir com o seu” (DALMONTE, 2010, p. 328).
Essas plataformas chegam, para além do que a Internet já havia se proposto a
fazer, para dar ênfase para a ideia da instantaneidade, reforçando assim a importância
do presente, isso, segundo Franciscato (apud DALMONTE, 2010, p. 328) surge para
"reforçar e qualificar tanto o sentido de imediatez ou rapidez de uma ação quanto de
veiculação de um intervalo ínfimo de tempo".
O que difere de imediato o Instagram Storie das demais redes sociais (além de
ser uma plataforma exclusivamente voltada para produções fotográficas) é a
impermanência dos seus conteúdos veiculados. Esse tipo de plataforma permite que
o público consumidor decida o que é importante ser guardado e o que não é, já que é
possível fazer uma captura de tela ao visualizar uma "história" (story). "Elas se tornam,
então, o modo de consolidar aquela seleção e registrá-la" (DALMONTE, 2010, p.6).
A popularização desse meio de divulgação de notícias se dá, também, baseado
na forma de consumo da atual sociedade. O filósofo francês Gilles Lipovetsky, em
entrevista para o Globo Universidades (2012), fala sobre as mudanças no
comportamento dos consumidores. "Nós não estamos mais em uma sociedade
baseada na tradição, de modo que não há mais nada que legitime a repetição". Dessa
forma, todos os aspectos do cotidiano das pessoas precisou adaptar-se, inclusive o
jornalismo.
Aplicativos como Snapchat e Instagram Stories quebram os padrões de
repetição que outras redes sociais permitiam. Não que os meios de comunicação não
possam repetir seus conteúdos nessas plataformas, visto que nada impede que um
mesmo conteúdo seja postado mais de uma vez. Mas entendendo a lógica de
utilização dessas redes, é mais prudente utilizá-las para publicação de conteúdos sem
o uso de repetições.
54

O "fazer jornalismo", como já destacado anteriormente, é por natureza uma


produção efêmera, visto que no rádio e na televisão os conteúdos não passam pelo
processo de repetição. Quando estes são repetidos, é atribuído a eles outro valor que
não o noticioso.

Depois de o conteúdo ser veiculado, ele só reaparece ao espectador se este


for em busca do arquivo da emissora, [...] como retrospectivas de fim de ano,
onde tal conteúdo não é mais notícia, mas memória, resquício do que um dia
já foi notícia (VASCONCELOS, 2016-7, p. 94).

Embora tenha sido atribuído à fotografia um teor documental, para Groth (2011,
p. 254 apud VASCONCELOS, 2016-7, p. 95), o jornalismo não é um produto
historiográfico. "O jornal nunca pode ter a pretensão de escrever ele próprio a história.
Ele só é cogitado para isto quando não é mais jornal” (GROTH, 2011, p. 254 apud
VASCONSELOS, 2016-7, p. 95). A fotografia jornalística enquadra-se assim também.
O que acontece dentro dessas plataformas é a noção de impossibilidade de tornar,
futuramente, esses conteúdos documentais. A possibilidade praticamente infinita de
armazenamento dentro da rede não foi capaz de mudar nossa forma de consumir
jornalismo.
De acordo com Lipovestky (2009), o homem, como sociedade, não está mais
ligado às coisas "muda-se facilmente de casa, de carro, de mobiliário [...] à medida
que o efêmero invade o cotidiano, as novidades são cada vez mais rapidamente e
cada vez mais bem aceitas” (LIPOVETSKY, 2009, p. 176). Isso, segundo
Vasconcelos, é capaz de explicar como aplicativos como o Snapchat atingiram
rapidamente altos índices de consumo e adentraram o fazer jornalismo. Além do mais,
é possível atrelarmos seu sucesso ao que Bauman (2000) já havia denominado de
modernidade líquida. “Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”. O termo
refere-se, principalmente, a fluidez com que as coisas acontecem e se modificam.
Para Vasconcelos, o uso desses aplicativos onde suas principais características são
o instantâneo e o impermanente "remete diretamente a algumas características da
sociedade contemporânea, como a busca incessante pela novidade e pela grande
volatilidade dessas novidades, que se tornam obsoletas cada vez mais rapidamente",
atribuindo valor somente no momento em que as coisas acontecem ou a consumimos
(VASCONCELOS, 2016-7, p.97).
55

A facilidade de acesso e os avanços tecnológicos que permitiram termos


câmeras fotográficas em aparelhos telefônicos fez com que o fotojornalismo passasse
de mero coadjuvante do texto para protagonista da reportagem.

A tela, como suporte para a informação, favorece o uso de imagens, e a


fotografia, embrião das imagens técnicas (ou tecnoimagens), ocupa uma
posição estratégica em tais modalidades contemporâneas de comunicação
(SOUZA E SILVA, Wagner, 2016, p.65).

O que vemos hoje em dia, e que afeta diretamente a fotografia, é exatamente


a presença marcante desses dispositivos na rotina das pessoas, fazendo com que,
segundo Wagner Souza e Silva (2016), o desejo de compartilhamento se sobreponha
a questões estéticas de feitura de imagens.
Esse novo momento em que a fotografia se encontra está diretamente ligado
aos avanços permitidos pela Internet, onde impera uma “era da visualização” em que
as redes sociais possuem o papel principal e a fotografia sofre com a disseminação
rápida e fácil.

O século XXI é a era da visualização promovida pela web, em que as redes


sociais servem como fator multiplicador de imagens. A diversidade de
possibilidades aumenta, como a rede segmentada Instagram, que sugere o
abandono das câmeras sofisticadas substituindo-as por smartphones
(AVANCINI, Atílio, 2015, p. 11).

A possibilidade de criação de fotografias onde a técnica é praticamente


indispensável, onde a estética é claramente substituída pela publicação rápida e
eficiente de imagens, faz com que esses dispositivos deixem de ser apenas intermédio
e passem a ser também meio de produção.

Tais gadgets prometiam ocupar uma posição amadora no universo dos


equipamentos de produção fotográfica, agora, com as redes de imagem, este
tipo de dispositivo vem demonstrando seu potencial para protagonizar um
papel muito mais influente e determinante na prática da fotografia, passível
de ser comparado ao mesmo potencial que veio a reboque com o surgimento
das câmeras Leica no início do século XX, as quais deram início ao processo
de consagração do pequeno formato da película de 35mm, o que determinou
a estruturação técnico-estética da afirmação identitária do fotojornalismo
moderno (SOUZA E SILVA, 2016, p. 67).

Em um momento em que a produção de imagens se dá de forma massiva, no


qual milhares de fotos são produzidas ao longo de um ano, é possível que muitos
desses materiais não tenham valor significativo, independentemente da plataforma
56

onde estes sejam veiculados, mas, de acordo com o fotojornalista Bruno Alencastro42
(2018), sempre haverá uma parcela que se tornará um registro histórico.

Eu acho que tem exemplos de momentos em que a fotografia e o


fotojornalismo são duradouros. A gente olha para aquilo e ativa memória e
lembra de toda uma situação [...] São fotos que tu lembra que marcaram a
época daquele ano [...] Tantas fotos que estão no nosso imaginário e que é
fotojornalismo. É um documental, histórico, político de que marcou uma
época (ALENCASTRO, 2018).

Para Souza e Silva (2016) o fotojornalismo está passando por um processo de


ressignificação, onde ele elabora a teoria de uma possível mudança nos atuais
conceitos identitários do fotojornalismo. Para o autor, essa mudança está intrínseca a
"uma reconfiguração do entorno que nos permitiria atribuir aos smartphones a mesma
centralidade que já foi atribuída à TV", isto é, segundo ele, a atribuição de conceitos
dentro da sociedade que já foram atribuídos a TV, com a diferença de que a TV se
deu "a partir de uma postura passiva de seus usuários" e agora, na era dos
smartphones "essa sensação de vinculação social pela imagem tende a ser mais
expressiva", onde há uma "potencialização do protagonismo de seus usuários, que
passam agora a ter um papel muito mais ativo na produção de conteúdo e na atuação
no controle dos fluxos de informação" (SOUZA E SILVA, 2016, p. 69).
Essa aproximação com a TV dá-se também pela possibilidade da utilização de
vídeos dentro dessas plataformas (Instagram, Snapchat...). É a partir dessas
possibilidades que Souza e Silva (2016) classifica a fotografia dentro dessas
plataformas como “uma fotografia telemidiatizada”, onde o “fotojornalismo, ali
presente, acaba por ser uma espécie de telejornalismo".
Essa aproximação de conceitos do Instagram com a TV acaba por prejudicar o
uso que nós jornalistas fazemos dessa ferramenta, visto que, segundo Bruno
Alencastro (2018), as empresas jornalísticas ainda estão muito apegadas à lógica das
métricas, buscando uma forma de lucrar em cima das ferramentas em detrimento da
qualidade ou do fácil acesso ao consumidor.

42
Bruno Alencastro é jornalista, fotografo e professor de fotografia. Atualmente ministra um curso voltado
para a produção de conteúdo para o Instagram Stories.
57

As métricas são uma forma de quantificar os acessos a determinados links e a


sua utilização dentro do jornalismo acaba por criar uma forma de entregar ao leitor
somente aquilo que gera mais acesso.

Elas são sistemas de mensuração que quantificam uma tendência e o


desempenho de um produto. Com elas, os veículos têm a oportunidade de
analisar, conhecer e produzir conteúdos para públicos cada vez mais
específicos. Um setor novo e que tem mantido a circulação de grandes
jornais, além de ter uma ligação direta aos processos evolutivos das
plataformas digitais (PEREIRA, 2017, p. 10).

Alencastro (2018) acredita que para o fotojornalismo consolidar-se de forma


efetiva nessas redes é importante que as empresas mudem essa visão e deixem de
focar, de forma demasiada, nas métricas.

Óbvio que tu tem que cuidar audiência, óbvio que tu tem que fazer o cara ir
pro teu jornal, ir no "ver mais", entrar lá na matéria, mas as vezes eu acho
que se perde a oportunidade de usar aquele espaço como um lugar de
fidelizar o cara, de oferecer um outro conteúdo que não necessariamente
fazer o sujeito ir lá e medir que x pessoas entraram lá (ALENCASTRO, 2018).

Esse uso desacreditado das funções que o Instagram nos oferece acaba por
gerar uma falta de identidade perante os conteúdos produzidos nele. Esse mau uso
dessa ferramenta acaba por desperdiçar um local importante onde o fotojornalismo
poderia ter um protagonismo ainda maior. “Eu vejo que alguns jornais de fora usam o
espaço para valorizar a boa fotografia. Acho que aqui não” (ALENCASTRO, 2018).

Uma parte considerável das empresas jornalísticas ainda ignora as


potencialidades da tecnologia e, principalmente, a sua forma particular de
interação com o público (CANAVILHAS; SANTANNA, 2011, p. 54 apud
ARAGÃO, 2012, p. 1 ou 2).

Como visto anteriormente nessa monografia, a produção fotográfica que


envolve a utilização dessas Redes de Imagem traz para a fotografia um caráter
efêmero, sobretudo para a fotografia como construção de memória no âmbito familiar.
Isto é, para aquelas fotografias nas quais o impacto da memória não se dá de maneira
coletiva e sim individual. De acordo com Alencastro (2018), há uma possibilidade de
a fotografia sofrer não só com as questões ligadas a memória, mas também estéticas.
Para Alencastro (2018), "a sociedade como um todo [...] sofre dessa discussão
de um volátil e efêmero. O jornalismo não". Alencastro (2018) defende que a
58

volatização da fotografia no meio jornalístico não acontece apenas pelo fato dos
jornais encaram essas novas ferramentas de maneira comercial, com uma
preocupação (consciente) com a preservação dessas imagens, mas sim pelo
compromisso de entregar para o consumidor final um produto de qualidade, onde a
intenção é gerar lucro a partir daquele conteúdo. "Eles (empresas) olham para essas
ferramentas como algo potencial de audiência e de vender assinaturas e não de usar
o propósito que seria de uma coisa instantânea e rápida" (Alencastro, 2018).
Como já visto anteriormente, a efemeridade já fazia parte do "fazer jornalismo”
muito antes dessas plataformas serem criadas, no qual, segundo Robert Park (apud
Vasconcelos), a notícia só possui valor no momento em que ela acontece e é
divulgada. Posteriormente esse conteúdo não possui mais relevância jornalística e
passa a ser história. Fernanda Pugliero43 (2018), editora de multimídia do Correio do
Povo, acredita que os stories reafirmam essa lógica. "Creio que o stories se trate de
uma ferramenta na qual são mais exploradas as hard news, ou seja, a efemeridade é
componente positivo e não negativo, nesse caso".
Apesar disso, Alencastro (2018) acredita que o mercado se apropriou dessas
ferramentas dando-lhes novos usos que não aqueles propostos por essas
plataformas. “Quem trabalha com assessoria, quem trabalha com marca, trabalha com
imagem e tal ou empresas [...] fazem fotos com câmeras, fazem vídeos editados no
Premiere pra só depois jogar ele pra dentro da plataforma”. Isso porque “pro meio
profissional ainda impera a lógica do qualitativo" (ALENCASTRO, 2018).
O conteúdo veiculado no Instagram Stories das empresas jornalísticas não
costuma ser produzido pelas ferramentas que o próprio aplicativo e os smartphones
oferecem. No caso das fotografias, o click não vem a partir dos celulares e sim de
câmeras profissionais e passam pela pós-produção para só depois serem veiculadas
nos Stories.

Fotografia pra mim é com muita qualidade. Dificilmente eu posto alguma foto
no stories que não seja feita com câmera. Tanto é que eu não sei se algum
dia eu usei a própria câmera do stories para capturar uma imagem. Eu
sempre puxo ela de fora, ou seja, ela sempre é feita com a câmera, passa
por um processo de edição e só depois vai pro stories (ALENCASTRO, 2018).

43
Fernanda Pugliero é jornalista e editora da área de Multimídia do jornal Correio do Povo.
59

No vídeo acontece a mesma coisa, toda a captação é realizada por ferramentas


externas e ainda passam por uma edição avançada a fim de entregar um conteúdo
muito mais elaborado para o usuário daquela rede. “Porque a lógica das grandes
empresas é a lógica de fazer aquilo com qualidade e não usar tanto o recurso nele
mesmo e sim pegar emprestado de outras coisas e levar para dentro dele (Instagram
Stories), mirando grana” (ALENCASTRO, 2018).
O jornal Correio do Povo, durante cobertura da greve dos caminhoneiros de
2018, utilizou a plataforma do Instagram Stories com o intuito de informar seus leitores
sobre os acontecimentos da greve. Foi possível observar durante a cobertura da greve
a utilização de pequenos vídeos, enviados por repórteres do jornal, em determinados
pontos das estradas do Rio Grande do Sul, explicando a situação da greve naquele
momento e local. Esses vídeos, apesar de possuírem uma construção simples, no
qual os repórteres aparentavam apenas estar com o celular na mão, passaram por
um processo de curadoria e edição na redação da empresa. Pugliero (2018) explica
que “os vídeos eram editados e passavam por um processo de curadoria. Acredito
que utilizar vídeos seja uma tendência no stories e que a timeline fica com as fotos,
nesse caso. Estamos sempre experimentando”, para a jornalista, a utilização de
vídeos dentro da plataforma é uma forma mais dinâmica de interagir com os usuários
daquela rede que, em suma, são pessoas jovens e que preferem um consumo rápido
e simplificado.

Os vídeos também são uma forma de disponibilizar a informação de forma


mais simplificada e rápida para a nossa audiência. Se optássemos por fotos,
precisaríamos utilizar de vários cards para explicar algo que pode ser
resumido em 15 segundos de vídeo (PUGLIERO, 2018)

Ainda de acordo com Fernanda Pugliero (2018), a câmera do aplicativo é


utilizada em alguns momentos específicos, “quando o fato está ocorrendo e alguém
da equipe está in loco”, mas a utilização do Instagram Stories pela empresa (Correio
do Povo) costuma acontecer de maneira mais planejada, visando uma padronização
nos conteúdos veiculados.

Priorizamos uma padronização em termos de qualidade e também sempre


fazemos uma previsão do que iremos postar (definimos também horários, por
exemplo), acabamos optando por fotos dos fotógrafos da casa (no caso de a
pauta ter sido fotografada e ser interessante pro stories) ou pela utilização de
material das agências que possuímos assinatura (PUGLIERO, 2018).
60

Muitas empresas jornalísticas dentro do Brasil têm notado a importância de


aderir a este modelo de distribuição de notícias, como o já citado aqui, Correio do
Povo, além de integrar o uso do stories no dia a dia da redação, já têm notado
resultados positivos perante o seu uso. De acordo com Pugliero (2018), a interação
com o público é fundamental para a participação do jornalismo dentro desses espaços
virtuais. E a resposta positiva para essa interação vem dentro do próprio aplicativo.
“Sempre participam das enquetes e nos respondem quando acham o stories bem
executado. Temos cativado cada vez mais pessoas a interagirem conosco”
(PUGLIERO, 2018).
Segundo Pugliero (2018), não existe de fato um motivo para preocupação
perante o futuro do fotojornalismo dentro desses aplicativos. Para ela, o fotojornalismo
está passando por um processo comum da era digital, do qual não só a fotografia vem
tendo que se adaptar, como outras áreas também. “É assim que as coisas funcionam
na Era Digital” (PUGLIERO, 2018).
A fotografia ganhou novos usos dentro dessas redes de imagens, onde esta
passa a ter um protagonismo significativo na propagação das notícias. Embora a
chegada dessas plataformas coloque a fotografia em evidência, há também uma
preocupação sobre a preservação desses conteúdos.
Em um mundo onde há uma produção em excesso, há também a falta de
preocupação em preservar.

Com todo o avanço que teve, de uma certa forma isso é um retrocesso de
preservar. Antes o risco era um incêndio [...] mas salvo isso, não tinha como.
Agora hoje em dia é um problema isso, de memória [...] É todo um
desenvolvimento técnico e de suporte e de qualidade, mas ao mesmo tempo,
o inverso disso é que, o risco de perda é muito maior do que antes. Se ganha
por um lado, e se perde pelo outro (ALENCASTRO, 2018).

Apesar disso, Alencastro também acredita que não existe uma real
possibilidade de, futuramente, nos encontrarmos em um “limbo” sem fotografias. Não
há, segundo Alencastro (2018), a possibilidade de posteriormente não termos
preservados registros importantes para a história da humanidade.

Eu acho que não [...] "nossa, ninguém tem uma única foto da posse do
Obama", não, mas eu acho que essas perdas de fotografias sociais, essas
coisas, para pessoas que não tem a cabeça de organizar e de querer
preservar, mas tem bastante gente se dando conta disso já (ALENCASTRO,
2018).
61

Sabendo que o maior público consumidor do Instagram Stories é jovem,


Pugliero explica o fluxo de conteúdo publicado na plataforma:

Tentamos explorar uma temática mais coloquial, escolhendo sempre


assuntos de editorias de peso (como política e economia), mas optando,
especialmente nos primeiros stories postados no dia, por assuntos mais
leves, ligados ao universo pop, por exemplo. Fazemos isso porque sabemos
que o Instagram é uma rede social acessada mais pelo público jovem e
queremos adotar uma postura que atenda a esse público no Stories
(PUGLIERO, 2018).

Apesar de ser uma ferramenta em que efemeridade é a sua principal


característica, profissionais da área da fotografia e do jornalismo buscam formas
alternativas de utilizar essa plataforma de modo a ampliar o alcance do conteúdo e ter
um melhor aproveitamento dessas produções. Os conteúdos publicados no instagram
Stories não são de fato produzidos pelas ferramentas disponibilizadas pelo aplicativo
e sim em meios externos (câmeras fotográficas), visando entregar para o público um
produto de qualidade, previamente editado em outras ferramentas. “Tudo é posterior.
Tu produz e depois empacota ele pro stories" (ALENCASTRO, 2018).
O jornalismo apropriou-se dessa ferramenta como meio de divulgação de
notícias previamente selecionadas e que já possuem publicação em seus portais.

Eu acho que tem duas frentes: tem uma do uso social da fotografia que visa
aí usando o stories que sim, que pouco estão se importando pro estético, mas
ao mesmo tempo, por exemplo, de quem faz o meu curso, que trabalha com
assessoria, que trabalha com marca, trabalha com imagem e tal ou empresas
não vão por essa lógica, fazem exatamente o contrário. Fazem fotos com
câmeras, fazem vídeos editados no premiere para só depois jogar ele para
dentro da plataforma” (ALENCASTRO, 2018).

Além disso, indo na contramão de tudo o que a função stories se propôs a fazer
até agora, recentemente o Instagram abriu a possibilidade dos stories serem fixados
ao perfil de forma permanente (ou até quando o usuário determinar). A nova função
ganhou o nome de Highlights (Destaques). Essa nova funcionalidade permite que as
histórias, que possuem duração de 24h, possam permanecer no perfil em um espaço
entre a biografia e o feed. O conteúdo é exibido no Stories normalmente e ao mesmo
tempo fixado nos Destaques, para que possa ser visualizado novamente.
Essa nova funcionalidade também permite que o Instagram Stories arquive as
histórias. Esse arquivamento funciona de modo automático (mas pode ser desativado)
e permite que os usuários possam no futuro resgatar essas publicações, seja para
62

compartilhar no feed usual do Instagram, adicionar novamente no Stories ou até


mesmo colocá-la como destaque.
Essa nova função permite que o fotojornalismo se torne cada vez menos
efêmero dentro de uma plataforma que no seu princípio se propôs a ser um lugar para
publicação de conteúdos impermanentes.
Vale, sobretudo destacar que apesar de o jornalismo ter adaptado o uso dessa
ferramenta para atender aos seus interesses e necessidades, a criação de uma
função na qual as imagens ali produzidas e até as que somente são publicadas na
plataforma, ganham um novo aliado no que diz respeito a preservação e na construção
da memória. Essa função permite que os profissionais que lidam com as mais diversas
linguagens visuais possam ter, dentro de uma mesma ferramenta, a instantaneidade
e o dinamismo que a atual sociedade necessita.
63

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando falamos de fotografia, uma das primeiras coisas que nos vem à cabeça
é a palavra recordação. Os imensos avanços tecnológicos proporcionaram à
população o fácil acesso às câmeras fotográficas, seja através das câmeras
compactas e até mesmo diretamente dos aparelhos telefônicos. A chegada da Internet
trouxe a ideia de que tudo ali produzido é eterno, considerado um grande aliado no
que diz respeito à memória.
Com esses avanços, a fotografia passa a fazer parte do cotidiano das pessoas,
no qual há uma mudança significativa no modo do consumo fotográfico ao longo dos
anos. A facilidade de produção, reprodução e compartilhamento de imagens atribui à
fotografia novas características, no qual as imagens aderem aos seus usos a noção
de instantaneidade.
À medida que a retrospectiva em torno da história da fotografia foi avançando,
foi possível identificar as mudanças que a técnica fotográfica passou desde às
primeiras utilizações da câmara escura com a intenção de fixar imagens. A
humanidade buscou nos princípios da câmara escura maneiras de eternizar recortes
do que se via, mas, com os progressos que a fotografia teve ao longo dos anos, é
possível notar que esta deixa de ser um objeto e passa a viver no mundo digital.
Ao longo dessa pesquisa foi possível notar os inúmeros meios onde a fotografia
pode atuar. Além disso, também buscamos identificar a trajetória fotográfica até a
chegada do digital e das então chamadas Redes de Imagens, onde a fotografia ganha
um local no qual passa a ser protagonista e não mais coadjuvante do texto. As
observações feitas ao decorrer desta monografia quebram a concepção de fotografia
eterna ao nos darmos conta de que o conteúdo produzido dentro dessas plataformas
é ainda mais efêmero do que em outras mídias.
Foi possível analisar os avanços e retrocessos que a fotografia sofreu em uma
sociedade que prima pelo efêmero. Por um lado, é possível observarmos a fotografia
no âmbito social sofrendo com uma desvalorização como documento histórico e
ferramenta da construção de uma memória familiar, visto que aplicativos voltados
exclusivamente para o uso de imagens priorizam publicações temporárias e de
conteúdos rasos, não priorizando pelo arquivamento dessas produções e sim pela sua
instantaneidade e impermanência, gerando uma quebra nos paradigmas da utilização
da fotografia como memória.
64

A ideia desse estudo parte do pressuposto de que todas as áreas onde a


fotografia atua estariam sofrendo do mesmo processo de desvalorização das
imagens, mas, por outro lado, notamos que a fotografia jornalística tem se apropriando
dessas ferramentas com outros usos, onde o volátil e efêmero se dá somente na
divulgação dentro dessas redes de imagens, e não na produção de conteúdo dentro
desses aplicativos. A utilização dessas redes de imagens por parte do fotojornalismo
gera uma falsa sensação de que o conteúdo ali divulgado é completamente efêmero,
mas no decorrer dessa pesquisa foi possível observar que as empresas jornalísticas
utilizam esses meios de divulgação com a intenção de trazer o leitor para dentro de
seus portais, onde as notícias continuam sendo produzidas da maneira tradicional do
digital.
O jornalismo buscou integrar-se a essas redes de imagens com a intenção de
gerar uma maior interatividade com um público que consome notícias através de
aparelhos móveis e das redes sociais. Foi identificado através do Centro de Estudos
sobre Meios e Sociedade (Meso) que o consumo de notícias entre os jovens acontece
de maneira incidental, no qual o jovem se depara com as notícias enquanto realiza
outras tarefas nas redes sociais. Portanto, a utilização das redes de imagens para
atingir esse público é o caminho que consideramos ideal.
Apesar da principal proposta dessas redes de imagens ser a propagação de
conteúdos onde renunciamos o arquivamento e a memória, a existência e utilização
desses aplicativos não afeta de maneira efetiva a construção da memória dentro do
fotojornalismo. Também não é capaz de substituir outras plataformas onde os
conteúdos não são descartáveis. O consumo de imagens através desses aplicativos
apenas no dá a falsa sensação de estarmos consumindo um produto descartável, mas
o que ocorre dentro dessas redes de imagens no que diz respeito ao fotojornalismo é
uma adaptação do uso dos recursos disponibilizados por essas plataformas para
atender as mudanças no modo de consumo de notícias. As redes de imagens acabam
por trabalhar junto com outras plataformas a favor de atingir um maior público e facilitar
a chegada das informações até o consumidor final.
Consideramos que seja necessária a continuação das observações em volta
do assunto a fim de entender como futuramente o emprego dessas redes de imagens
pode afetar de fato o fotojornalismo, visto que são aplicativos que estão no mercado
a pouco tempo e a utilização delas pelo jornalismo ainda está dando os primeiros
passos.
65

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