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Rayane Cristina de Oliveira

O CONCEITO DE FAKE NEWS NO AMBIENTE DIGITAL: UM


ESTUDO DE CASO

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2018
Rayane Cristina de Oliveira

O CONCEITO DE FAKE NEWS NO AMBIENTE DIGITAL: UM


ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro


Universitário Toledo como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, sob a
orientação da Profa. Me. Melissa Carolina de Moura e
Profa. Me. Fabrícia Aparecida Lopes de Oliveira Rocha.

Centro Universitário Toledo


Araçatuba
2018
Dedico este trabalho a dois grandes
amores da minha vida: minha avó Lucia
Pampolini (em memória) e minha filha
Larissa Pampolini Nogueira.
AGRADECIMENTOS

Sem meu amigo Deus, nada seria possível em minha vida, inclusive este trabalho. Foi
Ele quem me deu forças para não desistir dos meus objetivos este ano. A Ele elevo meu
coração e agradecimento.

Agradeço minha linda família por todo incentivo, mas em especial à minha vózinha
Lucia (em memória) que sempre se demonstrou feliz em saber da minha opção por cursar
jornalismo e vibrou quando passei no vestibular. Agradeço minha mãe Regina pelo apoio
incondicional aos estudos, agradeço ao meu esposo Diego por me apoiar em cada decisão e
também ao meu amor, Larissa, que chegou pra me ensinar muitas coisas sobre a vida, ela
merece o melhor de mim.

Nenhum aprendiz concluí seu trabalho sem um bom mestre, agradeço de todo meu
coração a professora e orientadora Melissa Carolina de Moura que foi fundamental para que
eu não desistisse, obrigada por me apoiar e orientar. Também tenho grande gratidão à
professora Fabrícia Lopes por me orientar e mostrar o mundo das teorias. Agradeço ainda aos
professores que sempre terão um lugarzinho especial em minha memória, a professora Ana
Paula Saab, Clayton Khan, Ágatha Urzedo e Pedro Luís Piedade Novaes.

Obrigada Priscila Cristina, Vânia Nogueira, Cândida Maria Pampolini, Raquel


Marques Tozi, e as minhas colegas de faculdade Diane, Maria Paula, Adrieli e Geovani por
sempre estarem por perto, aconselhando, incentivando e ajudando, este trabalho também é por
vocês.

Muito obrigada!
―Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade‖.
Joseph Goebbels
RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo abordar o conceito das Fakes
News com ênfase no ambiente digital, lugar onde mais pessoas além de jornalistas passam de
receptores para criadores de conteúdo. Primeiramente realizando um recorte do que é
jornalismo; um breve histórico sobre sua evolução e de como sua relação com a ética e a
verdade são importantes para que não haja desvios dos fatos, momento este em que acontece a
perda de credibilidade dos jornalistas e seus canais de comunicação.

Palavras-chaves: Jornalismo, Conceito, Pós-verdade, Fake News.


ABSTRACT

This Course Conclusion Paper aims to address the Fakes News concept with emphasis on the
digital environment, where more people than journalists go from receivers to creators of
content. First by making a cut of what journalism is; a brief history of its evolution and how
its relationship with ethics and truth are important so that there are no deviations from the
facts, at which moment the credibility of journalists and their channels of communication is
lost.

Keywords: Journalism, Concept, Post-Truth, Fake News.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Livros, jornais e revistas impressos pela prensa móvel de Gutenberg ................... 12
Figura 2 - Jornal Gazeta do Rio de Janeiro ........................................................................... 13
Figura 3 - Correio Brasiliense imprenso em Londres, entre 1808 e 1822 .............................. 13
Figura 4 - Diferenciação dos conceitos de Fake News e pós-verdade .................................... 52
Figura 5 - Características encontradas na fake News ............................................................ 55
Figura 6 - Identificando a falsa notícia ................................................................................. 58
Figura 7 - Compartilhamento de internauta sobre a vida da parlamentar ............................... 62
Figura 8 - Notícias falsas ganham forças nas mãos de autoridades ........................................ 62
Figura 9 - Fake News sobre a vítima foram repassados por autoridades sem checagem dos
fatos ..................................................................................................................................... 63
Figura 10 - Post realizado pelo site Ceticismo Político sobre a Vereadora assassinada Marielle
Franco .................................................................................................................................. 65
Figura 11 - O site publicou uma carta aberta a seus leitores .................................................. 67
Figura 12 - Site voltou dois meses após o ocorrido ............................................................... 68
Figura 13 - Post em análise publicado na página por Luciano Ayan ..................................... 70
Figura 14 - Infográfico criado pelo site O Globo .................................................................. 72
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10

I - CONCEITOS APLICADOS AO JORNALISMO: SUA HISTÓRIA E


RELEVÂNCIA .................................................................................................................. 11

1.1 Jornalismo no Brasil..............................................................................................................11

1.2 Jornalismo: conceitos ............................................................................................................15

1.2.1 O que é informação versus notícia .................................................................................18

1.2.2 Critérios de noticiabilidade ............................................................................................19

1.3 O que é então verdade ...........................................................................................................22

1.4 Jornalismo dos sentidos .........................................................................................................24

1.5 Jornalismo e sociedade: Como o jornalismo pode ser relevante? ........................................27

1.5.1 Imparcialidade e tendenciosidade: Apuração e ética no Jornalismo ............................30

1.6 Liberdade de imprensa e as Leis que regem .........................................................................37

1.7 Paralelo entre as teorias e o jornalismo, uma visão do não real...........................................39

II - DISCUTINDO O JORNALISMO NA ERA DA PÓS-VERDADE ............................ 50

2.1 O que é pós-verdade ..............................................................................................................50

2.2 O fenômeno Fake News .........................................................................................................52

2.3 Como reconhecer uma fake news no ambiente digital .........................................................57

2.4 Punições à prática de fake News ...........................................................................................59

III - ESTUDO DE CASO ................................................................................................... 61

3.1 Repercussão “Marielle Franco” nas redes sociais ................................................................61

3.1.1 Ceticismo Político ...........................................................................................................64

3.2 Análise do post .......................................................................................................................69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 76


10

INTRODUÇÃO

A comunicação tem traçado caminhos de evolução a séculos chegando a lugares


impensáveis em algumas décadas atrás. Com isso infinitas possibilidades foram chegando ao
alcance não só aos profissionais da área de comunicação, mas também àqueles que antes
dependiam da visão de outro para se informar.
Com este trabalho é proposto fazer uma análise do que é jornalismo, seu compromisso
ético com o seu público até fazer então um choque de contraste do real jornalismo com as
notícias falsas que tomaram grandes proporções com o cenário digital que possibilita novos
canais de busca de informação assim como a multiplicação de formadores de opinião,
trabalho este anteriormente reservado apenas aos jornalistas.
No primeiro capítulo buscou-se então definir o que é jornalismo, quais os deveres
desse profissional, sua relação com a notícia, a ética e a credibilidade que os desafiam
diariamente no expor os fatos sem ruídos, além de expor algumas teorias que fazem parte do
meio jornalístico e suas influências.
Já no segundo capítulo é apresentando uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, fake
news, divulgando quem são seus criadores, como o internauta colabora com o seu crescimento
e como o jornalismo tem sua credibilidade afetada com a sua propagação.
E para finalizar no terceiro capítulo é apresentado um estudo de caso onde mostra
como as fake news criaram uma nova identidade a vereadora Marielle Franco de uma forma
sensacionalista e dramática, sendo possível analisar o fato utilizando o recurso da teoria do
enquadramento.
11

I - CONCEITOS APLICADOS AO JORNALISMO: SUA HISTÓRIA E


RELEVÂNCIA

1.1 Jornalismo no Brasil

O jornalismo no Brasil se intensificou com a chegada da família real de Portugal para


cá, Roberto Seabra (2002), diz que em nosso país a imprensa surgiu em 1808. O autor ainda
conta que ―o primeiro jornal brasileiro é o Correio Braziliense, editado naquele mesmo ano
por Hipólito José da Costa, em Londres, já que no Brasil era proibido fazê-lo‖.
No entanto os registros históricos mostram que essa prática é muito mais antiga do que
se pode pensar. É imprescindível deixar de notar que o mesmo nasceu com o objetivo e
interesses políticos de quem o comandavam ―o dono‖, exemplo que pôde ser testemunhado no
Brasil também como afirma Seabra (2002, p. 32):

Entre 1808 e 1822, ano em que o pais se torna independente e desaparece a


proibição formal ao desenvolvimento da imprensa, o único jornal permitido era o
órgão oficial do governo, a Gazeta do Rio de Janeiro, inaugurada em setembro de
1808, três meses depois da primeira edição do Correio Braziliense.

Há dois mil anos, em 59 a.C., o líder político e militar reformista Júlio César (100-44
a.C) a fim de divulgar as práticas positivas de seu reinado ordenou a exposição e leitura
pública das Actas Diurnas, um boletim oficial que incluía desde o resultado de deliberações
do Senado, decretos, leis e outros acontecimentos locais e até eventos ocorridos nas
províncias romanas ou países distantes (STEPHENS, 2007).
Aponta Carlos Rizzini, (1997, p. 5) que as atas mantinham a população informada ―Na
linguagem romana, publicar alguma coisa não queria dizer levá-la e sim deixá-la ao
conhecimento do público, afixando-a em lugar onde pudesse ser facilmente lida‖.
De acordo com F. Fraser Bond (1962, p. 49), criou-se então o primeiro jornal a ter-se
conhecimento no mundo, a Acta Diurna em 59 a.C. O material era exposto em praças
públicas, sem custo, com informações por vezes ultrapassadas, já que a mensagem vinha por
meios de transportes não tão eficientes quanto os dos dias atuais.
Acrescenta Waléria Cristina dos Santos (2011, p. 30), que ―as atas só foram reaparecer
no séc. XVI em Veneza e com uma nova versão: Elas já eram distribuídas em cópias
12

manuscritas e divulgavam notícias relacionadas aos negócios de empresas locais, além de


acontecimentos urbanos‘‖.
Para Bond (1962, p. 49) ―o jornalismo começou quando o homem aprendeu a escrever
em intervalos regulares‖ A partir dessa largada histórica para o jornalismo, outros eventos
marcantes aconteceram para a evolução da notícia. Como é o caso das prensas móveis, que
possibilitavam a veiculação de uma informação no mesmo dia. O alemão, Johannes
Gutenberg, fez história ao imprimir jornais e livros com este invento.

Figura 1 - Livros, jornais e revistas impressos pela prensa móvel de Gutenberg

Fonte: Hábito da Leitura (2017)

De acordo com Nilson Lage (2001), quando o texto informativo surgiu, o que
predominava era o discurso retórico e os jornais mais lembravam livros. Um século depois, o
jornalismo acompanhou a luta pela destituição da aristocracia e pela desconstrução do poder
da Igreja Católica. A produção de informação e saber, que, até então, estava nas mãos da
Igreja, passou a fazer parte da vida de pesquisadores que não estavam ligados à instituição
(CAVALCANTI E NETO, 2014, p. 5).
A imprensa no Brasil, no entanto, ocorreu apenas 14 anos antes da separação do Brasil
de Portugal, de acordo com Richard Romancini e Cláudia Lago (2007). Ela nasceu com a
chegada da família portuguesa ao Brasil, alguns jornais foram criados, como o Correio
Brasiliense e a Gazeta do Rio. Mais uma vez, as informações saiam dos superiores, e assim
como o Imperador Júlio Cesar, que controlava o que era publicado, em 1808 não seria
diferente.
13

Figura 2 - Jornal Gazeta do Rio de Janeiro

Fonte: Wikipédia

A seguir, a figura 3 apresenta a capa do Correio Brasiliense.

Figura 3 - Correio Brasiliense imprenso em Londres, entre 1808 e 1822

Fonte: Gazeta do Povo (2008)

As informações tinham cunho de interesse da família Real. Nesse período também,


muitas informações ainda vinham de países europeus. Houve também a criação da Imprensa
14

Régia (que durou 14 anos), caracterizada pela censura prévia do governo, que zelava para que
não fosse impresso nada contra a religião, o governo e os bons costumes. É possível perceber
uma forte influência do jornalismo sobre a esfera pública nacional, o que, consequentemente,
faz da comunicação social um importante instrumento para a construção de nossa própria
história (ROMANCINI E LAGO, 2007).
Ainda no tempo Imperial, o Jornalismo obteve periodismo e começou a incluir
fotografias e ilustrações para complementar a informação. Na primeira fase da República o
jornalismo brasileiro passa por um processo de transição: por um lado, ele deixa de fazer parte
de um processo de produção artesanal para tornar-se um negócio, uma empresa estruturada.
Por outro, ele perde seu caráter opinativo, sendo substituído pelo jornalismo de informação
(ROMANCINI E LAGO, 2007).
Os avanços tecnológicos que impulsionavam o jornalismo continuaram, e em 1844 o
telégrafo possibilitou a transmissão de mensagens de um ponto a outro. O jornalismo ganhara
mais ferramentas de trabalho e com isso, mais meios de comunicação começaram a surgir. De
acordo com Ildeu e Moreira (2007, p. 49), ―os primeiros ensaios para a introdução do
telégrafo elétrico no Brasil datam de 1851, e contaram com o incentivo do Ministro da Justiça,
Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara (1812-1868), e o apoio de um personagem
central no desenvolvimento da telegrafia no país, Guilherme Schüch de Capanema (1824-
1909), lente de física da Escola Central‖.
Com tudo isso, é possível perceber a importância do jornalismo, tida como a profissão
principal ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as notícias,
ou que comentam fatos do momento de acordo com (KASZYK E PRUYS, 1976).
―Em 4 de janeiro de 1875 foi lançado o jornal ―A Província de São Paulo‖, que a partir
de 1890, devido a Proclamação da República, mudaria o nome para O Estado de São Paulo.
Desde então permanece em circulação‖. Afirma Queiroz (2015, p. 27). Com a evolução
tecnológica o jornal ganhou espaço nos sites com o nome Estadao.com.br.
O jornalismo é aliado dos que buscam pela informação. Ele é capaz de responder
muito mais do que suas seis primordiais perguntas, o que, como, onde, quando, quem e por
quê, tornando-se uma ferramenta útil à sociedade. A técnica do primeiro parágrafo foi
desenvolvida para ser a abertura do texto, adotado no Brasil nos anos 50, o lead, de acordo
com Seabra (2002 p. 38) ―é um guia ou uma orientação para o leitor‖.
Conta Fábio Henrique Pereira, (2004, p.5) que ―no Brasil, a profissionalização do
jornalismo tem início durante o Estado Novo e só será concluída em 1969, com a aprovação
da Lei de Imprensa‖. O jornalismo passou por um longo período até sua modernidade, para
15

Kunczik (1997, p. 23), ―foi preciso: a publicidade, atualidade, a universalidade e


periodicidade. Para o autor ainda, a publicidade tornou-se cada vez mais importante para a
imprensa. À medida que progredia a divisão do trabalho e os mercados cresciam‖.

1.2 Jornalismo: conceitos

Para saber o que é uma notícia falsa, é importante refletir o que é uma notícia
―verdadeira‖. Para isso, é preciso definir o que é jornalismo e esclarecer quais mecanismos
atuam na construção daquilo que chamamos de notícias. Ao falar sobre jornalismo, é preciso
remeter-se ao enredo criado por seus profissionais para que algo seja contado. Clóvis Rossi
(1994, p. 7) diz que ―Independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha
pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes‖,
complementando que trata-se de uma batalha sutil, que faz uso de uma arma de aparentemente
inofensiva, como a palavra.
De acordo com Beltrão (1992, p. 65) ―Fazer jornalismo é informar. Jornalismo é antes
de tudo, informação‖, a partir dessa afirmação faz-se necessário revelar outras definições
sobre o que é jornalismo.
Bond (1962, p. 15) define jornalismo da seguinte maneira:

A palavra jornalismo significa, hoje, todas as formas nas quais as notícias e seus
comentários chegam ao público. Todos os acontecimentos mundiais, desde que
interessem ao público, e todo o pensamento, ação e ideias que esses acontecimentos
estimulam, constituem o material básico para o jornalista.

Sob esta concepção, afirma ainda que o Jornalismo é a transmissão de informação, de


um ponto a outro, com exatidão, penetração e rapidez, numa forma que sirva à verdade e torne
aquilo que é certo evidente aos poucos, quando não imediatamente. Difundir notícias é o
primeiro objetivo do jornalismo e sua função primeira é comunicar ao gênero humano o que
seus membros fazem, sentem e pensam. A objetividade é necessária quando se refere ao fazer
jornalismo, pois o primeiro propósito e responsabilidade deste é assegurar ao povo a
informação (BOND, 1962).
Sobre o papel desenvolvido pelo profissional de jornalismo, os autores Enio Moraes
Júnior, Luciano Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira, (2013. P.151), dizem que ―o
reconhecimento da verdadeira natureza do jornalismo como direito do cidadão de ser bem
16

informado, porta-voz da opinião da sociedade e espaço para o debate do interesse público,


coloca essa atividade no campo dos direitos sociais. E é como direito social que o jornalismo
deve ser tratado pelas estruturas curriculares das escolas de nível superior que formam esses
advogados da sociedade‖.
Também, complementam dizendo que, ―o papel ideal do jornalista é apurar para
publicar. Atentar para a veracidade e importância do fato para a sociedade. Verificar se o
fato eleito como fato jornalístico têm componentes balizados pelo interesse público e conexão
com as gerações dos direitos fundamentais do cidadão. Pensar questões deste respeito é o
começo de reflexões válidas sobre o modelo de formação a ser defendido nas escolas de
jornalismo, afirmam Enio Moraes Júnior, Luciano Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira
(2013, p.152).
Para o exercício da profissão alguns quesitos são levados em consideração como a
lista criada por Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003, p. 22-23) em sua obra, sendo elas:

A primeira obrigação do jornalismo é a verdade. 2. Sua primeira lealdade é com os


cidadãos. 3. Sua essência é a disciplina da verificação. 4. Seus profissionais devem
ser independentes dos acontecimentos e das pessoas sobre as que informam. 5. Deve
servir como um vigilante independente do poder. 6. Deve outorgar um lugar de
respeito às críticas públicas e ao compromisso. 7. Tem de se esforçar para
transformar o importante em algo interessante e oportuno. 8. Deve acompanhar as
notícias tanto de forma exaustiva como proporcionada. 9. Seus profissionais devem
ter direito de exercer o que lhes diz a consciência.

Para compreender o jornalismo, faz-se necessário compreender a origem da palavra


―comunicação‖, que segundo Rodrigo Vilalba (2006, p. 5) ―deriva do latim communicare que
significa tornar comum, associar‖. Logo, entende-se que comunicar é a ação social de tornar
algo comum entre os sujeitos que se relacionam. Porém, algumas designações devem ser
realizadas antes de um aprofundamento sobre a origem e como o jornalismo pode ser útil à
sociedade. E também é importante apresentar algumas considerações sobre a comunicação e
comunicador.
Michael (2002, p. 15) define o comunicador com precisão, afirmando que:

O termo comunicador é frequentemente usado para definir toda a organização dos


meios de comunicação. Quem quer que passe informação, opinião ou entretenimento
aos receptores ou participe de alguma maneira em tal processo está compreendido
nessa categoria.

Se o jornalista é aquele que media a informação a um determinado grupo, para que


então o mesmo crie sua posição mediante aos fatos. Conceitua-se que a mediação em uma
sociedade democrática é o principal papel deste profissional, sendo a tarefa dos jornalistas
17

facilitar a mútua comunicação entre os diferentes grupos da sociedade. O jornalista que se


considera mediador não deve, em nenhuma circunstância, dedicar-se basicamente à auto
representação subjetiva, nem exercer o poder pessoal (LANGENBUCHER, 1974, p. 100 apud
KUNCZIK, 1997).
O jornal, como matéria prima do Jornalismo, foi chamado de ―o quarto poder‖ pela
primeira vez por Edmund Burke. Bond (1962) afirma que este o classificou como o meio que
conta ―a história do mundo por um dia e que na verdade, pois, o jornal é uma fonte de valor
real, não somente como material para futuros historiadores, mas como um prontuário vivo da
natureza humana, no presente. Leva-nos por toda a parte, conta-nos tudo.
Por meio de outros autores presente na obra de Bond, o valor do jornal é destacado. De
acordo com Clarence S. Brigham, na introdução de sua História e Bibliografia dos Jornais
Americanos, 1660-1920, concluiu-se que:

Se todas as fontes impressas de história, para um certo século ou década, tivessem


que ser destruídas, salvo uma, que seria escolhida como de maior valor para a
posterioridade, esta seria o arquivo de um jornal importante‖. (BRIGHAM, 1690-
1920 apud BOND, 1962, p. 174).

Eduardo Meditsch (1992, p. 25) destaca em sua obra algumas definições sobre o
jornalismo, de acordo com ele, ―jornalismo é uma forma de comunicação [...] uma forma de
comunicação que serve para integrar e adaptar o homem ao seu papel social‖. Meditsch ainda
diz que ―jornalismo não é uma forma de comunicação qualquer, mas uma forma de
comunicação que serve para integrar o homem, para que ele funcione dentro do sistema ao
qual pertence‖.
Em seu livro, Meditsch referencia também os conceitos de jornalismo de acordo com
Adelmo Genro Filho, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Para ele, ―o
jornalismo é uma forma social de conhecimento. Ele reconhece que está partindo de uma
generalidade abstrata, e a toma, provisoriamente, por que existem outras formas sociais de
comunicação que implicam em conhecimento‖ (MEDITSCH 1992, p. 26 apud GENRO
FILHO 1987).
A comunicação é um sistema que se completa e não é exato. Para Lage (1992, p.13)
―Comunicação é uma das tais abstrações coisificadas. É função de todos os sistemas: nervos,
circuitos, estradas, o DNA, radiações cósmicas comunicam. Nas sociedades, toda obra, gesto,
objeto de cultura, silêncio e fala é comunicação. Exatamente por ser tão universal, abrangente,
a ação nominalizada de comunicar não constitui corpus que se possa considerar
18

cientificamente‖. Após tal descrição a autor ainda defende que então ciência não é
comunicação.
Ainda para Meditsch (1992, p. 56), o jornalismo se envolve muito mais nos sentidos
do que na própria exatidão dos fatos: ―Assim, enquanto a Ciência se torna um modo de
conhecimento do mundo explicável, o Jornalismo se torna um modo de conhecimento do
mundo sensível. Cada um vai ter a sua forma própria de refletir e, inevitavelmente, de refratar
realidade‖.
Para tanto, o mesmo jornalismo é desenvolvido sob a ótica de alguns interesses como
afirma o autor:
O jornalismo como conhecimento é condicionado por sua produção industrial como
mercadoria, por valores ideológicos de seus produtores, pelo autoritarismo de suas
formas, pela arbitrariedade de suas escolhas, pelas falsas categorias que a sua
tradição e sua técnica (e o poder da morte embutido nelas) construíram. No entanto,
tem potencialidade muito maior do que a Ciência de revelar o novo. (MEDITSCH,
1992, p. 56).

1.2.1 O que é informação versus notícia

Há uma mudança de valores quando um fato é apenas uma informação e se transforma


em uma notícia. Informação é de acordo com Alberto Manuel Vara Branco (2009, p. 75):
―O conjunto das formas, condições e atuações para fazer públicos, contínua ou
periodicamente, os elementos do saber, do acontecimento, de especulações, de
ações e projetos, tudo isto mediante uma técnica especial com este fim e
utilizando os meios de transmissão ou comunicação social‖.

Para tanto observa-se que ―para terem relevância jornalística, as informações devem
ser categorizadas como fato jornalístico,‖ afirmam os autores Enio Moraes Júnior, Luciano
Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira (2013. p.141).
Os fatos jornalísticos são um recorte do fluxo contínuo, uma parte que, em
certa medida, é separada arbitrariamente do todo. (...). A verdade se resume a
um processo de revelação e constituição do fato exposto pelo jornalista, isto é
o fato deve ser entendido na sua forma polissêmica por se tratar de uma
versão traduzida com o poder de valores e interesses (GENRO FILHO, 1987, p.
186-188).

Após esse recorte, Altheide (1976, p. 112) apud Wolf (2003, p. 83) explanam que ―a
notícia é o produto de um processo organizado que implica uma perspectiva
prática dos acontecimentos, perspectiva essa que tem por objetivo reuni-los, fornecer
avaliações, simples e diretas, acerca das suas relações, e fazê-lo de modo a entreter os
19

espectadores‖. Já Traquina (2004, p.203) afirma que ―as notícias acontecem na conjunção de
acontecimentos e textos. Enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia cria o
acontecimento‖.
Ao falar sobre a construção da notícia, Jorge Pedro Souza (2002, p. 3), menciona em
seu artigo que de acordo com Sousa (2000; 2002), pode dizer-se que uma notícia é um
artefato linguístico que representa determinados aspectos da realidade, resulta de um processo
de construção onde interagem fatores de natureza pessoal, social, ideológica, histórica e do
meio físico e tecnológico, é difundida por meios jornalísticos e comporta informação com
sentido compreensível num determinado momento histórico e num determinado meio
sóciocultural, embora a atribuição última de sentido dependa do consumidor da notícia.

a noticia tem uma carga de grande influencia na vida de seu receptor e a maneira
como ela chega pronta até seu público final é de grande relevância, ―finalmente, a
notícia só se esgota no momento do seu consumo, já que é nesse momento que ela
produz efeitos e passa a fazer parte dos referentes da realidade. Esses referentes são
a parte da realidade que formam a imagem que os sujeitos constroem da realidade.
Por isso, a construção de sentido para uma notícia depende da interação perceptiva,
cognoscitiva e até afetiva que os sujeitos com ela estabelecem‖ (SOUZA 2002, p. 4).

1.2.2 Critérios de noticiabilidade

Para Enio Moraes Júnior, Luciano Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira, (2013, p.
140):
―A fonte de construção do jornalismo está no acontecimento, no evento que gera
informação. Um acontecimento só tem algum valor quando ele tem algum resultado
para a sociedade. Logo, o jornalismo se alimenta dos acontecimentos que, de alguma
forma, devem ser informados àqueles que formam o tecido social. Para produzir essa
informação, o jornalismo vai usar de determinados parâmetros para poder atingir os
seus objetivos [...]‖.

Segundo Golding e Elliot apud Wolf (2002, p. 203):

Os valores-notícia são usados de duas maneiras. São critérios para selecionar, do


material disponível para a redação, os elementos dignos de serem incluídos no
produto final. Em segundo lugar, eles funcionam como linhas-guia para a
apresentação do material, sugerindo o que deve ser enfatizado, o que deve ser
omitido, onde dar prioridade na preparação das notícias a serem apresentadas ao
público.(...) Os valores/notícia são a qualidade dos eventos ou da sua construção
jornalística, cuja ausência ou presença relativa os indica para a inclusão num
produto informativo. Quanto mais um acontecimento exibe essas qualidades,
maiores são suas chances de ser incluídos.
20

Para que haja uma determinação daquilo que será oferecido ao público, alguns
critérios surgem para afunilar o que chega em grande quantidade nos centros de comunicação
como afirma Gislene Silva (2005, p. 97), ―a necessidade de se pensar sobre critérios de
noticiabilidade surge diante da constatação prática de que não há espaço nos veículos
informativos para a publicação ou veiculação da infinidade de acontecimentos que
ocorrem no dia-a-dia. Frente a volume tão grande de matéria-prima, é preciso estratificar
para escolher qual acontecimento é mais merecedor de adquirir existência pública como
notícia‖.
Segundo Wolf (2003, p. 83) ―a noticiabilidade é constituída pelo conjunto de
requisitos que se exigem dos acontecimentos - do ponto de vista da estrutura do trabalho
nos órgãos de informação e do ponto de vista do profissionalismo dos jornalistas - para
adquirirem a existência pública de notícias. Tudo o que não corresponde a esses
requisitos é «excluído», por não ser adequado às rotinas produtivas e aos cânones da cultura
profissional. Não adquirindo o estatuto de notícia, permanece simplesmente um
acontecimento que se perde entre a «matéria-prima» que o órgão de informação não
consegue transformar e que, por conseguinte, não irá fazer parte dos conhecimentos
do mundo adquiridos pelo público através das comunicações de massa‖.
Para ele ainda é importante salientar que, a ― noticiabilidade corresponde ao conjunto
de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam
a tarefa de escolher, quotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de
factos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias‖ Wolf (2003, p. 83).
O autor Alfredo Vizeu (2005, p.26), descreve noticiabilidade como ―o conjunto de
elementos com os quais as empresas jornalísticas controlam e produzem a quantidade e o tipo
de fatos, entre os quais vai selecionar as notícias‖. Já Luis Beltrão (1964, 2006) lista dez
fatores de noticiabilidade, sendo eles: proximidade, proeminência, consequência,
raridade, conflito, idade e sexo, progresso, drama e comédia (emoção), exclusividade e
política editorial. No entanto, há autoras como Cremilda Medina (1986), que de maneira mais
curta define os critérios para se criar o fato jornalístico com os itens a seguir: atualidade,
interesse, veracidade e clareza.

O principal objetivo prático dos valores/notícia é rotinizar a tarefa do jornalismo,


deixando-o exequível, a partir de um critério, para gerenciar a produção da notícia,
pois essa seleção deve ser rápida e se constituir de modo que viabilize uma
padronização automática (WOLF, 1992, p.197-8).
21

Aponta Silva (2011, p. 59), que ―O papel desses valores -notícia é orientar o
processo de produção da notícia, e definir quais acontecimentos são
suficientemente interessantes para serem transformados em notícia e ao mesmo tempo
são esses mesmos valores que fazem com que um determinado fato tenha uma cobertura
massiva pelos jornalistas‖.
Silva (2011, p. 59) complementa ainda que as escolhas das notícias pelos jornalistas
baseiam-se nos valores-notícias que elas tem para o público:

É a notícia que faz com que determinados fatos cheguem ao conhecimento


público por meio do texto jornalístico. E é o jornalista quem vai decidir na
escolha de um fato em detrimento do outro, baseado nesses valores-notícia.

Ainda sobre noticiabilidade, (Gans, 1979, 82 apud Wolf 2003, 86) cita que:

Os critérios são orientados para a eficiência, de forma a garantirem o necessário


reabastecimento de notícias adequadas, com o mínimo dispêndio de tempo,
esforço e dinheiro. O resultado é um vasto número de critérios e cada notícia
pode ser avaliada com base em muitos deles, alguns opondo-se entre si. Para evitar o
caos, a aplicação dos critérios relativos às notícias exige consenso entre os
jornalistas e, mais ainda, exige uma organização hierárquica dentro da qual
aqueles que possuem mais poder possam impor a sua opinião acerca dos critérios
relevantes para uma determinada notícia.

De acordo com WOLF (2003, p.200):

Sendo assim, o produto informativo parece ser resultado de uma série de


negociações, orientadas pragmaticamente, que têm por objeto o que dever ser
inserido e de que modo dever ser inserido no jornal, no noticiário ou no telejornal.
Essas negociações são realizadas pelos jornalistas em função de fatores com
diferentes graus de importância e rigidez, e ocorrem em momentos diversos do
processo de produção.

A esses critérios e valores atribuídos à notícia, Silva (2005, p. 106), conclui que ―definir
valores-notícia como atributos do acontecimento e reconhecê-los ao mesmo tempo como
construção social e cultural é apenas um primeiro procedimento para pensar a
noticiabilidade, cujo processo exige muitas outras reflexões, passando, como etapas
seguintes, pelo tratamento dos fatos noticiosos e pela interpretação que a notícia faz desses
acontecimentos.
Ao pensar nos critérios de noticiabilidade, Silva (2005, p 102-103), lista em seu texto,
uma tabela com conceitos desenvolvidos por diferentes autores sobre os valores que dão
destaque à notícia, sendo eles:
22

Tabela 1 - Critérios de noticiabilidade

Elencos de valores-notícias
Stieler: novidade, proximidade geográfica, proeminência e negativismo.
Lippman: clareza, surpresa, proximidade geográfica, impacto e conflito pessoal.
Bond: referente à pessoa de destaque ou personagem público (proeminência); incomum (raridade); referente
ao governo (interesse nacional); que afeta o bolso (interesse
pessoal/econômico); injustiça que provoca indignação (injustiça); grandes perdas de
vida ou bens (catástrofe); consequências universais (interesse universal); que provoca emoção (drama);
de interesse de grande número de pessoas (número de pessoas
afetadas); grandes somas (grande quantia de dinheiro); descoberta de qualquer setor
(descobertas/invenções) e assassinato (crime/violência).
Galtung e Ruge: frequência, amplitude, clareza ou falta de ambiguidade, relevância,
conformidade, imprevisão, continuidade, referência a pessoas e nações de elite,
composição, personificação e negativismo.
Golding-Elliot: drama, visual atrativo, entretenimento, importância, proximidade,
brevidade, negativismo, atualidade, elites, famosos.
Gans: importância, interesse, novidade, qualidade, equilíbrio.
Warren: atualidade, proximidade, proeminência, curiosidade, conflito, suspense,
emoção e conseqüências.
Hetherington: importância, drama, surpresa, famosos, escândalo sexual/crime, número de pessoas envolvidas,
proximidade, visual bonito/atrativo.
Shoemaker et all: oportunidade, proximidade, importância/impacto, conseqüência,
interesse, conflito /polêmica, controvérsia, sensacionalismo, proeminência, novidade/curiosidade/raro.
Wolf: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas
envolvidas, relevância quanto à evolução futura.
Erbolato: proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência, aventura/conflito, consequências, humor,
raridade, progresso, sexo e idade, interesse pessoal,
interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial, oportunidade, dinheiro,
expectativa/suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas/
invenções, repercussão, confidências.
Chaparro: atualidade, proximidade, notoriedade, conflito, conhecimento, conseqüências, curiosidade,
dramaticidade, surpresa.
Lage: proximidade, atualidade, identificação social, intensidade, ineditismo, identificação humana.

Fonte: Gislene Silva (2005)

1.3 O que é então verdade

Um dos significados da palavra verdade de acordo com o dicionário online de


português, Dicio, é ―Exatidão; que está em conformidade com os fatos e/ou com a realidade‖.
Santos (2011, p. 30) diz que: ―os jornalistas tinham como função difundir a verdade [...]‖
e ainda aponta que com a propagação do meio esse dever foi intensificado:

contudo os primeiros jornais, como são conhecidos até hoje, surgiram apenas na
primeira década do séc. XVII, em burgos alemães; depois vieram os jornais
impressos na Holanda, em Marsella, na França, em 1631, surgiu o La Gazette
de France, o primeiro jornal francês. A partir daí o jornal passou a ter um
novo caráter, com uma vertente ética e a busca por relatar apenas a verdade.
23

Ainda, ausência da verdade é um descomprometimento do profissional com seu


público como afirma (BUCCI, 2000, p.25):

A ética jornalística não é apenas um atributo intrínseco do profissional ou da


redação, mas é, acima disso, um pacto de confiança entre a instituição do jornalismo
e o público, num ambiente em que as instituições democráticas sejam sólidas. A
ética interna das redações e a ética pessoal dos jornalistas devem ser cultivadas,
aprimoradas e exigidas, mas elas só são plenamente eficazes quando as premissas da
liberdade de imprensa estão asseguradas.

Contudo é possível enxergar uma ligação direta entre a verdade e a ética exercida pelo
profissional de jornalismo, como relata Silva (2011, p. 59) quando diz que ―buscar a notícia
e publicá-la passa a ser então o primeiro dever ético do jornalista. Para tanto, deve-se
sempre perseguir a verdade dos fatos, ouvir todos os lados da história, e oferecer, por meio do
relato, a confiabilidade que o cidadão precisa ter‖.
Para Silva (2011, p. 60) ainda é possível concluir que:

A notícia como fonte de informação, verídica e factível, deve ter embutida


dentro de seus valores a ética do profissional que tem como objetivo o
compromisso com a verdade e com o público. Sobretudo, a forma com essa
informação é apreendida pelos jornalistas, diante de tantos meios ilícitos que
perpassam pela a atividade jornalística.

De acordo com o autor Bernardo Kucinski (2005, p.19) ―o jornalismo existe para
socializar as verdades de interesse público, para tornar público o que grupos de
interesse ou poderosos tentam manter como coisa privada. O absolutismo dessa ética
pode ser sentido por uma de suas implicações, a de que o jornalista não é responsável
pelas consequências da divulgação de uma verdade de interesse público, seja ela qual
for. Mas é responsável e até cúmplice das consequências de não ter socializado essa
verdade de interesse público‖.
Embora a verdade seja defendida como algo primordial ao trabalho jornalístico pelos
autores acima, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1873, p. 45- 48), faz uma duras críticas
sobre essa ideia defendendo que ela não existe:

O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias,


antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram
enfatizadas, poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo
uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são
ilusões, das quais se esqueceu que o são. Metáforas que se tornaram gastas e
sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em
consideração como metal, não mais como moedas.
24

No entanto, a transparência é um requisito para um jornalismo ético relata JUNIOR


(2011, p.38 apud BUCCI 2000, p. 96-98) onde afirma essa relevância ao dizer que ―a
importância da transparência no jornalismo é cada vez mais difusa e ultrapassa fronteiras‖.
Para tanto Bucci (2000, p. 96-98) ainda diz que ―o pecado ético do jornalista não é
trazer consigo convicções e talvez até preconceitos. Isso todos temos. O pecado é não
esclarecer para si e para os outros, essas suas determinações íntimas, é escondê-las, posando
de ―neutro‖. O pecado ético do jornalista, em suma, é falsear a sua relação com os fatos,
tomando parte na impostura da neutralidade‖.
Há três níveis de transparência considerados por Bucci, sendo eles: ―do jornalista para
consigo mesmo, do jornalista para com seus colegas e chefes e do veículo para com o
público‖.

1.4 Jornalismo dos sentidos

Sobre os sentidos Rodrigo Vilalba (2006, p. 6) explana em sua obra Teoria da


Comunicação, conceitos básicos que:

O sentido é codificado (―ampliador‖) em um plano de expressão perceptível a outros


sujeitos comunicadores e sofre semiose: ―vira‖ signo. Por exemplo, você vê um ser
vivo que sabe chamar-se ―cachorro‖ na língua portuguesa. Se quiser expressar
associação que fez entre a visão do animal e a palavra que o representa na língua
portuguesa, você pode produzir um conjunto de sons e falar: ―Eu vi um cachorro!‖
Esses sons permitem que outro sujeito comunicador perceba, ao menos
parcialmente, a associação feita.

É possível experimentar quatro sentidos quando falamos de jornalismo, o tato, para


folhear os jornais, a visão; para lê-los, assistir televisão, assim como a audição para ouvir
rádio e a TV. Santos (2015, p. 16) afirma que "é dinâmica a relação entre mídia e história,
porque perpassa por várias interseções, ou seja, caminhos se cruzam‖.
―Os jornais foram a principal fonte de informação no Brasil durante mais de um século
e meio. A imprensa se expandiu no século XIX. No século XX, sua supremacia não foi
ameaçada pela chegada do rádio, na década de 1920‖, afirma Hérica Lene (2017, p. 11).
Na análise das páginas da Gazeta de Notícias em 1900, pôde-se perceber o aumento da
frequência da publicação de ilustrações na capa das edições, tornando-se quase diária. É
interessante apontar a publicação de uma série de charges sobre personagens da cidade,
intitulada ―Figuras, figurinhas e figurões‖ afirma Letícia Pedruce Fonseca (2008, p. 176).
25

Bond (1962, p. 45) afirma:

Durante certo tempo depois de seu aparecimento, o rádio, pelas simples novidade,
prendia a atenção dos ouvintes, presos aos receptores pelos fones de ouvido,
encantados pela única razão de que havia alguma coisa para ouvir. Rapidamente o
número de ouvintes chegou a milhões, o número de estações emissoras foi a
milhares e a variedade dos programas ultrapassou a imaginação normal.

Com o veículo radiofônico o jornalismo impresso precisou ser criativo para continuar
atraindo seus leitores, diz Mattos (org.) (2002, p. 38). O autor ainda afirma que, ―a
transformação do jornalismo literário em jornalismo informativo, entretanto, era insuficiente
para competir com as emissoras radiofônicas‖. Nesse mesmo período o autor ainda salienta a
troca do paginador pelo diagramador e a inserção dos primeiros projetos gráficos que
mudaram a apresentação gráfica do impresso por serem mais elaborados.
Para Corrêa (2001, p. 103):

O processo de comunicação é influenciado por necessidades latentes de seus


agentes, pressões políticas e competitivas e pelas inovações tecnológicas e sociais se
verifica que as novas mídias não surgem de forma espontânea e independente, mas,
sim, de uma metamorfose das velhas mídias, que, por sua vez, não morrem, mas
evoluem e adaptam-se às transformações.

Na década de cinquenta, a tecnologia trazida de outros países culminou na chegada da


TV, aparelho que veio para aliar a informação dos jornais, o som do rádio e agora a imagem,
mesmo que em preto e branco. De acordo com Thompson (1998) o desenvolvimento dos
meios de comunicação atrelou-se de forma complexa a uma série de outros processos de
desenvolvimento que, juntos, constituíram a modernidade.
Marcondes Filho (1988, p.34) descreve como a chegada do aparelho televisivo trouxe
não somente mais um avanço tecnológico para época, mas sim, uma conduta comportamental
para os telespectadores.

―[...] a TV possuía um fascínio único. As pessoas falavam com os


apresentadores, achando que estavam sendo vistas, paravam de conversar a
cada momento, ficavam magnetizadas pelo novo aparelho e só voltavam ao normal
quando o desligavam. Mas sua sedução permanecia. Desligar o aparelho
parecia um retorno ao ambiente de casa, ao cotidiano, à mesmice das estórias
de rua, dos parentes, dos amigos. Ligá-lo, ao contrário, abria um espaço para se
entrar em outros mundos‖.

O jornalismo especializou-se para atender a linguagem de cada época e de cada


veículo. Com a chegada da internet no início dos anos 90, não foi diferente. A partir da
década de 1990 a internet passa a ganhar popularidade no Brasil, em especial com a
26

introdução de provedores gratuitos como o IG. Nessa época surge a primeira versão de jornal
on-line, a do Jornal do Brasil. A TV acabo também é iniciada pelos grupos Abril (TVA) e
Globo (NET). (ROMANCINI E LAGO, 2007).
De acordo com a autora Raíssa Benevides Veloso (2012, p. 4):

―[...] Com os atuais recursos tecnológicos disponíveis à sociedade, a


dependência do jornal impresso para se ter acesso à informação é cada vez menor.
Se antes era necessário esperar até a manhã do dia seguinte para saber através do
diário o que aconteceu, hoje basta logar no Twitter para ter conhecimento em
tempo real do que está acontecendo pelo mundo. O jornal viu surgir o rádio
e a televisão no século XX e vê agora a ampliação dos recursos da Internet‖.

Em seu artigo Veloso (2012, p. 4) ressalta que:

Além de processarem a informação em tempos distintos dos meios tradicionais, os


canais de comunicação virtuais estão possibilitando que cada pessoa busque a
informação que lhe interessa. Se no rádio, na televisão ou no impresso a
audiência encontra a informação que foi selecionada por profissionais da mídia
para uma grande massa, na Internet é possível procurar somente informações
ligadas ao interesse do usuário, segmentando a antiga audiência.

Os meios antes encontrados separadamente, agora estavam reunidos em um só lugar.


Para Garrison (2007, p. 29):

O e-mail substitui efetivamente o fax, uma vez que é mais rápido, mais confiável,
personalizado e não necessita de papel. Os jornalistas observaram que o e-mail pode
ser usado de maneira eficiente para responder a questões de rotina e verificação de
fatos. Pode ser, com freqüência, o único método disponível para contatar fontes em
locais remotos ou em horários díspares.

A forma de fazer jornalismo se atualizou com a internet, levando os veículos como


jornal, revista, rádio e até mesmo a televisão para suas telas. Com isso mais sites foram
criados e a busca pela informação está a um clique. A utilização de áudio, gráficos, vídeos e
links são combinações que agregam no texto da internet, descreve Ferrari (2002, p.48). ―A
maneira de encontrar pautas, fontes e entrevistados também foi facilitada para os próprios
veículos‖. (Kenia Beatriz Ferreira MAIA e Luciane Fassarella AGNEZ 2011, p.1).
Os meios antes encontrados separadamente, agora estavam reunidos em um só lugar e
a internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base
material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a
Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a
27

sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (CASTELLS, 2003 apud CORRÊA,
2004, p. 287).
Para o autor Palácios (2003) a internet como suporte para o fazer jornalístico,
oportuniza a complementação entre suportes tradicionais (rádio, TV e impresso), com o
digital, o que sinaliza, para o autor, como continuidade e potencializações de resultados, sem,
necessariamente, romper com práticas anteriores. Com isso, o Saad (2009, p. 321), afirma
surgir uma diferente forma de se fazer comunicação. ―Ela ocorre estrategicamente e integrada
ao composto comunicacional‖.

1.5 Jornalismo e sociedade: Como o jornalismo pode ser relevante?

A comunicação está para cada um, assim como o ar. As pessoas se comunicam de
diversas maneiras; fala, expressão, desenho, dentre outras formas. A capacidade de se
comunicar difere o homem, um ser racional dos demais seres existentes no mundo. Para
Marcos Alexandre (2001, p. 113) ―a comunicação não envolve somente as linguagens oral e
escrita, como também a música, as artes plásticas e cênicas, ou seja, todo comportamento
humano‖.

Souza, Leal e Sena (2010, p. 1) reiteram:

A comunicação humana não está resumida apenas à linguagem verbal, mas também
a uma série de gestos e expressões faciais e corporais que completam a conversação
e a tornam mais eficaz. A postura do corpo, as expressões faciais e os gestos
esclarecem muito mais sobre o que se está falando do que as próprias palavras.

A necessidade de se comunicar e buscar por informações que acrescentem o


conhecimento individual ou em grupo faz com que o jornalismo ganhe relevância no dia-a-dia
de qualquer um que faz uso das mensagens recebidas para o seu crescimento intelectual e para
sua interação com seu grupo de convivência, com isso Ribeiro e Fossá (2009, p. 6) dizem que
―a linguagem jornalística é a normalizadora da sociedade, é ela que ameniza o caos social, e é
uma forma de instaurar uma ideologia de um grupo que se verbaliza através da mídia e torna-
se a ideologia dominante, que tem o poder sobre a informação‖
Silva (2002, p. 59) afirma em sua obra que:

Teoricamente, o jornalismo é uma atividade essencial e genuinamente pública, tanto


quanto a política e administração pública. A circulação da informação é uma
condição essencial para as ações sociais até estabelecer uma relação intrínseca,
28

biunívoca e interdependente entre imprensa e democracia. Teoricamente, um não


vive sem a outra, uma é constitutiva da outra.

Jornalismo, metaforicamente é o pão francês diário que prepara o cidadão para iniciar
o dia. Ele nutre o leitor para que ele seja capaz de extrair informações suficientes para ter uma
opinião, saber conceituar e interagir, podendo ser reprodutor de conteúdo à outros. Entre todas
as atividades humanas, nenhuma responde tanto a uma necessidade do espírito e a da vida
social quanto o jornalismo. É próprio da nossa natureza infomar-se e informar, reunir a maior
soma de conhecimento. Para os autores Clarissa Miranda, Ricardo Schaefer, Vicente
Medeiros (2012, p. 2) ―a importância que o jornalismo exerce em nossa sociedade é crescente.
Boa parte da realidade construída na mente de cada cidadão provém do que é notícia‖,
Afirmam.

[...] quisemos, apenas, situar o jornalismo como atividade essencial à vida das
coletividades, como uma instituição social que, no mundo moderno, assume posição
da mais alta relevância. Com efeito, os homens dos nossos dias ―têm fome de
conhecer o presente‖. Para estar a par das ideias, eventos e situações correntes,
procuram veículos muito mais especializados e diversificados do que seus ancestrais
(BELTRÃO, 1992, p. 65).

Beltrão (1992, p. 99) ainda define que ―a imprensa, sem dúvida, elemento
determinante na vida individual como na vida coletiva; nenhuma pessoa, nem núcleo social,
pode passar sem ela; se pensa no tempo que se lhe dedica, utilizando todos os sentidos‖.
Para os autores Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003) o jornalismo apresenta funções
que vão além de comunicar, ele serve para construir a comunidade, a cidadania, a democracia.
Acredita-se que ele então, seja capaz de construir significados na vida de quem o usufrui
tornando o indivíduo livre para formar sua própria opinião acerca de algo. A imprensa nos
ajuda a definir nossas comunidades, nos ajuda a criar uma linguagem e conhecimentos
comuns com base na realidade.
Traquina (2005, p. 208) ainda fala sobre o papel do comunicador:

O poder do jornalismo e dos jornalistas aponta para a importância das suas


responsabilidades sociais. A afirmação do reconhecimento de suas
responsabilidades, por parte dos jornalistas e também dos donos das empresas
jornalísticas, não é possível reduzindo as notícias a uma simples mercadoria.

Jornalistas, críticos e os atuais populares formadores de opinião tem uma grande


responsabilidade com seu fiel público. A grande relevância no se fazer jornalismo vai além de
redigir alguns parágrafos banhados de palavras informativas, segundo Marcondes Filho
29

(2000, p. 10) ―O jornalismo é filho legítimo da Revolução Francesa. Ele expande-se a partir
da luta pelos direitos humanos‖.
Acredita-se então, que ele vem para transformar situações. Onde há questionamento,
manifestação ou mesmo utilidade pública, ali se faz necessária a comunicação jornalística.
Para Jürgen Habermas (1984, p. 213) ―o jornalismo que conhecemos passou por três fases até
os dias atuais. Sendo elas para melhorias em prol do leitor ou de seus interesses editoriais ou
comerciais‖.
Miranda, Schaefer e Medeiros (2012, p. 5) citam ainda em seu artigo algumas
características dos ser jornalista de acordo com o ponto de vista de Beltrão (1960), para ele a
função última do jornalismo seria a promoção do bem comum. Mas, para isso, aponta ações
como elogiar, explicar, ensinar, guiar, dirigir, examinar os conflitos, propor soluções,
fundamentar ensinamentos, entre outros, como premissas para informar e orientar a
sociedade. ―Todo esse trabalho tem, evidentemente, uma função educativa, visando esclarecer
a opinião pública para que sinta e aja com discernimento, buscando o progresso, a paz e a
ordem da comunidade‖ conforme Beltrão (1960, p. 62).
Pode-se concluir sobre o texto acima segundo os autores Christa Berger; Tavares
Mello (2008, p. 69) que ―a função da notícia é de orientar o homem e a sociedade num mundo
real. À medida que ela consegue isto, a notícia tende a preservar a sanidade do indivíduo e a
permanência na sociedade‖.
Bond (1962) ressalta que a ideia de servir o público reside profundamente nos
preceitos e na prática do jornalismo. De início e acima de tudo, esforça-se em alertar seus
leitores e ouvintes, para o sentido vital dos acontecimentos. Faz isto fornecendo-lhes
informação na forma de seus próprios julgamentos editoriais. Além desta utilidade
fundamental, o jornalismo, em todas as suas formas, fornece uma relação múltipla de auxílios
especiais aos seus clientes, para tornar suas vidas mais completas, mais seguras, mais ricas,
mais saudáveis, mais compensadoras.
A primeira fase do jornalismo foi marcada por tratar da notícia como um produto, para
Habermas (1984), fruto das primeiras atividades capitalistas. A partir desse período empresas
de comunicação não viam o leitor como um simples seguidor, mas sim como um consumidor,
o interesse então, não era mais simplesmente informar.
No entanto, observa-se que na segunda fase houve a retomada de colocar a informação
como foco. Para Carmem Carvalho (2007), o jornalismo era opinativo, literário e o lucro não
era o objetivo principal das empresas. O que começou a mudar novamente na terceira fase
voltando-se para o comercial.
30

As empresas retomaram a lógica capitalista, com base em novas tecnologias e no


capitalismo, de acordo com Genro Filho (1980). Começou a ser levado em consideração
aquilo que o leitor gostaria de ler. O lead então foi exportado dos Estados Unidos como forma
prática para levar o leitor a uma compreensão rápida logo nas principais linhas.
Cremilda Medina (1988, p. 118) diz que ―este apelo adquiriu tanta significação que se
desdobrou em outras formas como os subtítulos abaixo dos títulos, os supratítulos
introduzindo os títulos ou simplesmente os chamados ‗olhos‘, texto irregulares, em corpo
maior, espalhados pela página para apregoar informações‖.

1.5.1 Imparcialidade e tendenciosidade: Apuração e ética no Jornalismo

Apuração refere-se à atividade de verificação, pelo jornalista, de algum fato a partir de


conhecimento geralmente prévio e muitas vezes superficial de que algo está acontecendo,
aconteceu ou está prestes a acontecer e que tal acontecimento se dá, se deu ou se dará de uma
determinada maneira, ou seja: o repórter é enviado pelo jornal para verificar uma ocorrência e
assim sai em sua busca, estimando que esta é de interesse da sua atividade. Apuração é gênero
e abrange as fases pré-redacionais a seguir mencionadas, de acordo Emanoel Barreto (2006, p.
2).
A notícia, assim, resulta das interferências e inserções negociadas entre os atores
políticos e o jornal/jornalista a partir do que foi apurado, declarado, constatado e afinal
transposto à publicação. Todas essas instâncias de apuração, declaração, constatação e
publicação são momentos negociais, envolvem relações de convergências ou confrontações de
interesses Barreto (2006, p. 2).
Para Mauro Wolf (2015, p. 82) ―Como qualquer outra organização complexa, um
meio de informação não pode trabalhar sobre fenómenos idiossincrásicos. Tem de
reduzir todos os fenômenos a classificações elaboradas propositadamente, como os
hospitais que «reduzem» cada doente a um conjunto de sintomas e de doenças [...]. Estas
exigências, que são devidas à superabundância de factos que acontecem, indicam que os
órgãos de informação, para produzirem notícias, devem cumprir três obrigações:
1. devem tornar possível o reconhecimento de um facto desconhecido (inclusive os
que são excepcionais) como acontecimento notável.
2. devem elaborar formas de relatar os acontecimentos que não tenham em
conta a pretensão de cada facto ocorrido a um tratamento idiossincrásico;
3. devem organizar, temporal e espacialmente, o trabalho de modo que os
acontecimentos noticiáveis possam afluir e ser trabalhados de uma forma
planificada. Estas obrigações estão relacionadas entre si, conforme Tuchman
(1977, p. 45).
31

Na apuração da notícia é coerente declarar o posicionamento de vários lados da


história para que ela então se complete. Afirma Rossi (1994, p. 11) ―frequentemente, há dois
lados opostos numa mesma história‖. O jornal publicará, lado a lado, as opiniões de um e
outro e o leitor formará a sua própria opinião.
Compreende-se que notícia não é um acontecimento, ainda que assombroso, mas a
narração desse acontecimento. Não o acontecimento real, mas a história ou o relato deste
acontecimento que nos atinge, afirma (BOND, 1962).
Para apuração das informações que chegam ao jornalista o compromisso com a
verdade dos fatos deve ser estabelecida como algo primordial. A veracidade é uma defesa
completa, e é a melhor. Um redator ou editor está isento de toda responsabilidade civil se
puder estabelecer a veracidade de sua afirmação, para o autor ainda, é importante não só que
uma reportagem injuriosa seja conhecida pelo repórter como verdadeira, sendo também
importante que esteja certo de que a veracidade da mesma pode ser provada (BOND, 1962).
A apuração e a ética andam lado a lado. Pois é nesse momento em que o profissional
decide por suas fontes, informações, quantos lados deverão ser ouvidos e quanto tempo ele
levará para averiguar e transcrever os fatos. Segundo Ferrari (2007, p. 20) ―a busca de
evidências para aquilo que se quer informar é fundamental para a credibilidade não só do
repórter diante de seu editor, como do veículo perante o leitor. A explicitação de fontes no
texto da internet é justamente o que pode diferenciar o trabalho do repórter do blogueiro‖.
Acrescenta ainda Ignacio Ramonet (2012, p. 10) dizendo que ―A democratização da
comunicação traz à tona um fator preocupante: web-atores difundindo informações com
alcance global – e muitas vezes sem nexo com a autoria‖.
A deontologia é a ética profissional e de acordo com Luka (1997, p. 76) ―ela considera
o aspecto moral do homem exercendo sua profissão. Essa parte da ética fixa-se especialmente
no conteúdo e na honradez das atividades e trabalhos, comprometendo, desta forma, a própria
profissão‖, afirma o autor.
Fala-se, então, em imparcialidade jornalística como o termo que designa o
comportamento justo e honesto do profissional diante dos fatos e acontecimentos. A
objetividade, neste sentido, prega a primazia dos fatos às opiniões (TRAQUINA, 2005).
No entanto, Rogério Christofoletti (2008, p.15) explana sobre conceitos utópicos que
cercam a sociedade como: ―Cada um tem sua ética‖; ―Ética é uma coisa abstrata‖; ―A ética é
uma só‖; ―Ética é um assunto acadêmico‖; e ―Ética se aprende na escola‖. Conceitos esses
que rondam não só os civis, mas também os profissionais de jornalismo, afirmam Ana Lúcia
Alves BAHIA e Marina Rigueira Carlos e RIGUEIRA (2009, p. 8).
32

[...] relacionamos jornalistas a pessoas que prezam pela verdade e se regem por ela.
Nesse sentido, a verdade é um valor extensivo a todos os cidadãos, mas entre os
jornalistas parece pesar mais. Isso não significa que jornalistas sejam mais
verdadeiros que as demais pessoas, mas transgredir nesse terreno provoca
consequências mais graves para esses profissionais. (CHRISTOFOLETTI, 2008,
p.21).

Após a citação acima, Bahia e Rigueira (2009, p. 11) afirmam que ―a qualidade das
informações difundidas pelos meios de comunicação evidencia aos consumidores de
informação a credibilidade das empresas, fator que possibilita que a sociedade identifique
profissionais e empresas éticas ou não. A ética está ligada à vida diária, a qualquer ação de um
jornalista ou de qualquer cidadão, e não está restrita a conceitos extraídos de livros‖.
Jane B. Singer (2014, p. 11) afirma que ―os conteúdos gerados pelo utilizador
trouxeram preocupações tanto legais como éticas. A necessidade de assegurar que materiais
oriundos de fora da redação eram ―legalmente seguros para publicação‖ sempre tomou muito
tempo e muitas energias aos jornalistas‖.
Há alguns ensaios básicos, com as diferentes normas de jornalismo, os códigos de
imprensa que procuram responder à questão relativa às normas que devem guiar o trabalho do
jornalista. Todos esses princípios profissionais exigem que o jornalista respeite a verdade,
informe cuidadosa e confiavelmente o público, verificando a fonte das notícias e corrigindo as
informações errôneas. Embora no momento não se possa discernir nenhum consenso
internacional sobre a ética do jornalismo, é irrefutável a necessidade dessa ética. O objetivo é
evitar que as notícias se distorçam e que os ―jornalistas‖ altamente qualificados utilizem suas
habilidades técnicas para a manipulação (KUNCZIK, 1997).
É preciso abrir um parêntese para citar então, o Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros, onde está previsto na FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) que:
Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito
fundamental do cidadão à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser
informado e de ter acesso à informação.
Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito
fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum
tipo de interesse, razão por que:
I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e
deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica - se pública, estatal
ou privada - e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.
II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos
fatos e ter por finalidade o interesse público;
III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo,
implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão;
IV - a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as
não governamentais, é uma obrigação social.
33

V - a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de


censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade, devendo ser
denunciadas à comissão de ética competente, garantido o sigilo do denunciante.

O compromisso com a verdade dedicada aos profissionais de comunicação parece ser


abandona por vezes por interesses do veículo ou comerciais, no entanto, essa prática não é de
hoje. Segundo Carvalho (2007, p. 4) ―No século passado XX, e mais acentuadamente no XXI,
a mercantilização da informação aparece escancarada nos jornais, onde impera a filosofia do
―jornal-empresa apregoada pelo sistema capitalista‖.
De acordo com Meditsch (1992, p. 44) ―existem jornalistas que, em nome de uma
paixão, se preocupa, em descobrir o que é escondido da população, contar bem contato e lutar
até o fim do processo de feitura do jornal para que a informação chegue ao público,
enfrentando o medo e o conformismo‖. O autor ainda conclui que:

Todo o conhecimento social, e o jornalismo é um conhecimento social, envolve


determinado ponto-de-vista sobre a história, sobre a sociedade e sobre a
humanidade. E como Humanidade e História são processos que estão em
construção, naturalmente não existe um jornalismo puramente objetivo, ou seja, um
jornalismo que seja absolutamente neutro (MEDITSCH 1992, p.31).

Para Fernanda Vasque Ferreira (2011 p. 2) ―é válido lembrar que no Brasil, existe uma
herança colonial que se estende até os dias atuais e que caracteriza a propriedade dos meios de
comunicação estabelecendo relações de promiscuidade com políticos e empresários‖.
Com isso, Ferreira (2011, p. 3) conclui que ―em um primeiro momento, a mídia
brasileira –principalmente a radiodifusão – está, de todos os modos, cercada por interesses
que, definitivamente, não são os de informar com vistas ao interesse público, muito menos,
está comprometida com a democratização do acesso à informação. O comprometimento que
se tem observado na mídia brasileira quase sempre é com a troca de favores entre políticos,
garantindo em alguns casos, cenários de consolidação política permanente‖, afirma.
Para Roberta Stegalha (2010) a profissão do jornalista é carregada de mitos e
ideologias, e um dos mais marcantes é a ideia de que o jornalismo é um contrapoder em favor
do cidadão. É como se todo jornalista tivesse uma missão com a verdade, e por isso, apenas
refletiria, ou seja, transmitiria, sem distorção, a realidade que o cerca, como se fosse uma
espécie de espelho.
O jornalismo tem o poder de tornar algo verdadeiro alcançando um grande número de
pessoas que levaram aquilo como verídico também de acordo Miranda, Schaefer e Medeiros
(2012, p. 2) ―Se aquilo que "vira notícia" pode se tornar também a realidade construída no
34

imaginário social acerca de diferentes aspectos do mundo, é possível dizer que os valores
divulgados por estas notícias trarão vasto impacto no modo de vida da população, tanto para o
bem, quanto para o mal. É possível, portanto, fazer questionamentos sobre qual realidade
social vem sendo construída sob influência do discurso jornalístico. Na medida em que a
informação jornalística é constituída por profissionais que têm preparação específica para tal
função – os jornalistas –, está neles e no contexto em que trabalham o critério de como se dá a
construção midiática da realidade‖, concluem.
O papel do jornalista é definido como o de um observador inocente, que narra a cena,
o fato que se desenrola a sua frente. Não julga nem acha nada, apenas informa. Mas isso não é
verdade, pois para descrever o que está acontecendo, o profissional faz um recorte da
realidade e o faz de acordo com o seu repertório pessoal e também de acordo com a linha
editorial da empresa em que trabalha (STEGALHA, 2010).
Para o autor Rossi (1994, p. 9) ―a batalha pelas mentes e corações é temperada por um
mito, o da objetividade que a maior parte da imprensa brasileira importou dos padrões norte-
americanos‖. Para ele, salvo nos jornais de cunho ideológico ou partidário a imprensa, de
acordo com o mito da objetividade, deveria colocar-se numa posição neutra e publicar tudo o
que ocorreu, deixando ao leitor a tarefa de tirar suas próprias conclusões.
Ainda sob tal perspectiva, a introdução da televisão no campo do jornalismo poderia
conferir à objetividade o caráter de possibilidade real e não o de mito. Afinal, a câmera de TV
registra, friamente, o que se passa, assim como os microfones captam os sons tais como são
emitidos, afirma Rossi (1994).
O imediatismo presente no jornalismo na web, traz consigo o mesmo objetivo de
imparcialidade e verdade com o internauta. ―O repórter precisa ir atrás dos dados e confirmá-
los antes de publicar na Web ou em qualquer outro veículo jornalístico, seja televisivo,
radiofônico ou impresso. Sentir-se obrigado a noticiar o fato antes que o concorrente o faça é
uma camisa-de-força e, como vimos, pode ter consequências desastrosas‖, afirma Ferrari
(2003, p. 80). Afirma a autora que diz que é nesse cenário virtual que muitos erros são
cometidos por falta de checagem da informação.
As assessorias de imprensa travam uma luta diária com os filtros jornalísticos e, assim,
por meio de edições, ideologias, interesses políticos e da seleção de fatos pelo pauteiro,
muitas vezes as empresas não tem seu lado plenamente contemplado pelos veículos de
comunicação e os leitores ficam à deriva de interpretações tendenciosas, movidas pelas
representações semióticas e discursivas feitas pela imprensa (BORGES E DEBIASI, 2010
APUD WILLIG 2010, p. 7).
35

Como qualquer outro ser, o jornalista tem sua bagagem influenciadora no entanto
carrega consigo a carga da objetividade, veracidade e imparcialidade. Para Alexandre (2001,
p. 120), ―cada palavra, por mais descritiva que pretenda ser, contém uma carga de emoção. A
objetividade da linguagem jornalística ou científica apresenta-se com uma roupagem de
distância, ou em termos emocionais, de imparcialidade‖.
Bond (1962, p. 16) diz que ―a maioria das pessoas vê a imparcialidade como uma
virtude que se esforçam por alcançar‖. O jornalismo vê a imparcialidade como um ideal. Os
melhores redatores e os melhores jornais procuram evitar a parcialidade deliberada e
intencional. É hoje uma prática generalizada permitir que as partes contrárias exponham suas
razões. O ideal de imparcialidade é alcançado pelo jornalismo que evita erros,
tendenciosidade, preconceitos e sensacionalismo. No entanto, há autores que defendem a não
neutralidade na prática de se comunicar. Onde um lado sempre será favorecido em detrimento
a outro, como Traquina (2005) que afirma não existir imparcialidade na prática do jornalismo.
O autor Cláudio Abramo (1988, p. 109), reflete que a ética no fazer jornalismo não
está associada apenas ao profissional, mas sim ao cidadão que ele é:

Onde entra a ética. O que o jornalista não deve fazer que o cidadão comum não deva
fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do
outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e
como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter
opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos
eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O
jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do
cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista.

A consciência no fazer jornalismo dá limites e aberturas para que o profissional exerça


seu trabalho, para Abramo (1988, p. 109) ―deve-se, sim, ter opinião, saber onde ela começa e
onde acaba, saber onde ela interfere nas coisas ou não. É preciso ter consciência. O que se
procura, hoje, é exatamente tirar a consciência do jornalista. O jornalista não deve ser
ingênuo, deve ser cético. Ele não pode ser impiedoso com as coisas sem um critério ético. Nós
não temos licença especial, dada por um xerife sobrenatural, para fazer o que quisermos‖,
afirma o autor.
Christofoletti (2008, p.21) acrescenta ainda que:
[...] relacionamos jornalistas a pessoas que prezam pela verdade e se regem
por ela. Nesse sentido, a verdade é um valor extensivo a todos os cidadãos,
mas entre os jornalistas parece pesar mais. Isso não significa que jornalistas
sejam mais verdadeiros que as demais pessoas, mas transgredir nesse terreno
provoca consequências mais graves para esses profissionais.
36

O que é apresentado ao internauta, leitor ou telespectador diversas vezes como


verdade pode ter significados incutidos. De acordo com Alexandre (2001, p. 112) ―a
preocupação não é mais com o que é comunicado, mas sim com a maneira com que se
comunica e com o significado que a comunicação tem para o ser humano‖.
É necessário cautelosamente analisar os valores dados a cada informação no momento
em que buscam por ela nos meios digitais. Nos dias atuais, qualquer internauta tem acesso a
criação de conteúdo. Para desenvolver o trabalho jornalístico em um entorno cada vez mais
amplo e complexo como o mundo digital tanto o profissional quanto o usuário das redes
telemáticas devem dominar técnicas adequadas para avaliar dados muito diversos, com valor
desigual e propósitos distintos que cada cidadão pode publicar sem qualquer tipo de restrição
prévia (MACHADO, 2011).
A esse cenário, onde o indivíduo passa de internauta passivo à formador de conteúdo o
autor Seabra (2002) chama de jornalismo plural. Para ele ―no jornalismo plural coexistem
diversos estilos do fazer jornalístico, por que, em primeiro lugar, as novas tecnologias de
comunicação mudaram o eixo do controle da informação‖. Seabra ainda diz que ―a internet
permitiu uma pulverização do controle dos meios de informação, numa mudança comparável
ao que aconteceu com a escrita no momento seguinte à invenção da imprensa‖.
O autor complementa dizendo que:

Vulgariza-se entre jornalistas, e mesmo entre profissionais de outras áreas, a ideia de


que cada um pode ter seu próprio jornal (ou página) na rede, para dizer o que pensa
sobre qualquer assunto. Com isso, assiste-se a um retorno a um tipo de jornalismo
que parecia extinto: o da imprensa de opinião. (SEABRA, 2002, p. 45).

Não confere a esse tipo plural menos ou mais democracia e muito menos igualdade.
Vale a reflexão se isso não é apenas um ―excesso de vozes que fará calar o diálogo entre as
pessoas e restringir ainda mais o espaço para o debate democrático, conclui Seabra (2002).
De acordo com Maria Emília Tavares Varela Cavalcanti e Manoel Pereira da Rocha
Neto (2014, p. 2) ―O crescimento e a popularização da Internet, aliados às tecnologias e
desenvolvimento dos meios digitais, contribuíram para uma mudança no modo de fazer
jornalismo no mundo. O cidadão comum, que, antes, não tinha acesso às redações
jornalísticas, agora, pode produzir notícias e influenciar no conteúdo de um veículo de mídia‖.
Para os autores ainda ―a partir do início dos anos 2000, essas mídias passaram a
permitir, ainda mais, a participação da sociedade na produção de notícias. Agora, o
consumidor da informação, que, antes, era passivo, passou a ter um papel de destaque, tanto
37

em questões sobre o feedback que está sendo apresentado, quanto na própria produção desse
conteúdo‖ (CAVALCANTI E NETO, 2014, p. 5).
Para Hérica Lene (2014, p. 4) ―o jornalismo trabalha, sobretudo, com proposições a
serem consideradas verdadeiras pelo público, ou seja, verídicas (credíveis)‖.
Com isso, Liriam Sponholz (2009, p.67) diz que ―os fatos oferecidos pelo jornalismo
podem ser credíveis, mas não são a realidade em si, contêm valores e via de regra não se pode
dizer a priori se são falsos ou não, porque não foram averiguados validamente pelo
jornalista‖, diz o autor.
Para tanto de acordo com Lene (2014, p. 4), isso ocorre ―porque a captação de
informações e de investigação para formatar uma narrativa noticiosa está limitada às rotinas
de produção jornalística (Newsmaking)‖.

1.6 Liberdade de imprensa e as Leis que regem

O jornalista é livre para escrever sua história e colocar em suas linhas aquilo que
apurou dos fatos. Para Bond (1962, p. 300) ―embora a liberdade de imprensa exista sob
garantia constitucional, nenhum jornal é livre para fazer afirmações falsas, maliciosas ou
difamatórias sobre qualquer pessoa, grupo ou instituição, quer intencionalmente, quer por
negligência ou acidentalmente‖.
De acordo com a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS apud
GOMES (2004, p.32):

Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.

Para Rossi (1994, p.60), há ainda a liberdade que por vezes é privada pelo próprio
veículo aos jornalistas. ―O fato é que parece haver mais liberdade de empresa do que
liberdade de imprensa‖. Logo, os donos dos meios de comunicação são livres para veicular o
que lhes parece mais conveniente, mas os jornalistas que trabalham nesses veículos têm uma
liberdade incomparavelmente menor.
Bucci (2000, p. 33) ressalta ainda o papel do jornalista como formador de opinião:
38

Jornais, revistas, emissoras, de rádio e televisão dedicados ao jornalismo, assim


como os sites informativos na internet, nada disso deve existir com a simples
finalidade de gerar empregos, fortunas e erguer os impérios da mídia; deve existir
porque os cidadãos têm o direito à informação (garantido em todo o mundo
democrático, sobretudo desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, que estabelece, no artigo 19, o direito à liberdade de opinião e expressão, que
inclui a liberdade de "procurar, receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras‖, e garantido também no Brasil
pela Constituição Federal, artigo 5º - XIV). Sem que esse direito seja atendido, a
democracia não funciona, uma vez que o debate público pelo qual se formam as
opiniões entre os cidadãos se torna um debate viciado. Por isso a imprensa precisa
ser forte, independente e atuante.

A responsabilidade de transmitir aquilo que é fato e verdade é resultado do


compromisso com o leitor. Segundo Bond (1962, p. 16), ―Uma imprensa livre não pode estar
sujeita a qualquer pressão, seja ela governamental ou social‖.
Caracterizando esta concepção, Bond (1962, p. 16) diz:

Esta liberdade de que o jornalismo em todas as suas formas hoje goza foi
penosamente conquistada. No passado, a Autoridade, tanto civil como eclesiástica,
possuía meios de obstar todas as manifestações, de fato ou de opinião, que não
coincidiam com seus desejos, pois temia o preceito bíblico: ‗A verdade vos fará
livre.

Com a citação acima diz se que ―[...]ao jornalismo cabe perseguir a verdade dos fatos
para bem informar o público, que o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um
negócio, que a objetividade e o equilíbrio são valores que alicerçam a boa reportagem‖.
afirma Bucci (2000, p.30).
A liberdade de imprensa está para o povo assim como o povo está para ela, pois cabe
ao leitor extrair suas conclusões dos fatos apresentados. Para Bond (1962, p. 16), ―a liberdade
da palavra e imprensa não é um fim por si mesma‖. Ela simplesmente torna o povo capaz de
expressar livremente seu pensamento, e faz nascer, todos os matizes de opinião, a melhor
decisão possível.
Na Constituição Brasileira de 1988 no Art. 220, fica garantida a liberdade de
expressão e de informação: ―A manifestação de pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veiculação não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição. (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, 1988,
p. 144)‖.

Partindo do texto acima onde descreve alguns pontos da liberdade de imprensa, vale
salientar algumas consequências do mau uso da liberdade de imprensa. ―A agressão ao bom
39

nome de uma pessoa pode ser de caráter injurioso ou caluniador‖ diz Bond (1962, p. 302). De
acordo ainda com o autor, ―para o redator de jornal, a injuria pode ser definida como qualquer
difamação, quer escrita, quer impressa, que falsamente sugira que uma pessoa tenha cometido
um crime; ou que tende a injuriá-lo em seu negócio ou profissão.
Ressalta Bond (1962, p. 302):

De tudo isso podemos fazer a generalização de que uma matéria de jornal pode ser
injuriosa a alguém se seu feito obvio é levar os que a leem a pensar mal daquela
pessoa. Não importa o que o jornal tencionava dizer: a questão é o efeito, sobre os
leitores, mais do que a matéria realmente disse.

Bond (1962) ainda afirma a necessidade de compreender que um boato não é um fato.
E que a publicação de um boato tem o mesmo efeito de uma acusação direta. Ele ainda
complementa afirmando que ―sempre que possível, apresente os dois lados da história.
Quando são feitas acusações contra um indivíduo, e quando é apresentado apenas um aspecto
do caso, o repórter deve tentar dar à pessoa acusada uma oportunidade de manifestar-se na
mesma ocasião em que as acusações são publicadas.

1.7 Paralelo entre as teorias e o jornalismo, uma visão do não real

Os estudos sobre os efeitos da comunicação incluem uma ampla seleção de teorias,


para Mauro Porto (2003, p. 7),
as teorias sobre o processamento da informação surgiram a partir da revolução
cognitiva e apresentaram o conceito de esquema como uma de suas contribuições e
inovações mais importantes. O conceito tem sido frequentemente aplicado na
pesquisa sobre os efeitos da mídia para investigar como as pessoas processam e
fazem sentido da informação fornecida pela mídia.

Para fazer um paralelo entre algumas teorias da comunicação visando entender o


jornalismo da pós-verdade é preciso fazer uma retomada bibliográfica desde o iluminismo. De
acordo com texto Dialética do Iluminismo: Mito iluminado e Iluminismo mitológico de
Olgária Matos (1998, p. 30), é preciso enxergar além de um único ponto, ―o propósito do
Iluminismo era proteger do medo do desconhecido, pela ciência‖. Sendo essa uma função
clara do jornalismo já definida anteriormente.
A noção de Theodor Adorno e Max Horkheimer de que a Indústria cultural serve à
manipulação da opinião pública e atesta o fracasso relativo do Iluminismo (visão filosófica
que imperou entre meados do século XVIII e inicio do XIX) em tentar libertar o ser humano
40

por meio da razão (clareza, ordenação, rigor e precisão de pensamentos e palavras afima
Vilalba (2006).
Para Matos (1998 p. 31) ―na obra Atualidade da Filosofia, Adorno escreve que o
conteúdo de verdade da palavra comunicativa não coincide com as formas e virtualidades do
inteligir por parte do Sujeito‖.
Filósofos Frankfurtianos como Horkheimer e Adorno diante a teoria critica,
acreditavam que os produtos midiáticos criados para a satisfação do público pertenciam à
indústria Cultural e a partir disso esse conteúdo servia como um controle social e ideológico
imposto as pessoas que recebem o conteúdo. Para esses estudiosos, o indivíduo recebe a
mensagem de forma influenciadora e passiva (WOLF, 2015).
Para Adorno (1967, p. 6) a essa sociedade controlada ele diz que ―o consumidor não é
soberano, como a indústria cultural queria fazer crer, não é o seu sujeito, mas o seu objeto‖.
O produto cultural seja ele a informação, de acordo com os pensadores da indústria,
tem um efeito de anular aquilo que o individuo acredita, sobrepondo ao que lhe é passado.
Wolf (2015, p. 37) ainda afirma que ―influência da indústria cultural, e todas as suas
manifestações, leva a alterar a própria individualidade do consumidor, que é como o
prisioneiro que cede à tortura e acaba por confessar seja o que for, mesmo aquilo que não
fez‖.
Schulman (2000, p. 182) afirma que ―Stuart Hall vem para quebrar os paradigmas da
tradicional recepção das mensagens, com o estudo‖. Para ele os estudos rompem com a ideia
de que textos da mídia são suportes transparentes do significado e que Hall acredita que há
sim dominação e manipulação do meio para com o receptor, no entanto, a mensagem é plural
e a notícia pode não ser seu próprio real, interpretada negociadamente ou de total oposição
pelo receptor.
Para Stuart Hall (2003, p. 366) ―Ser perfeitamente hegemônico é fazer com que cada
significado que você quer comunicar seja compreendido pela audiência somente daquela
maneira pretendida‖. Segundo o estudioso ainda é ilusório ―um tipo de sonho de poder –
nenhum chuvisco na tela, apenas a audiência totalmente passiva‖.
Após estudos sobre o modelo de encoding e decoding desenvolvido por Hall, Porto
(2003, p. 10) afirma que ―[...] uma mensagem pode ser codificada com um ―significado
preferencial‖ particular e a audiência pode decodificá-la com um significado diferente ou
oposicional‖.
41

Ainda sobre as afirmações acima, Jean Henrique Costa (2012, p. 115) diz que ―Desde
modo, não é possível que os meios de comunicação de massa consigam moldar a opinião e o
sentimento de todas as classes populares‖.
Para Porto, (2003, p. 9) ―teorias sobre o processamento da informação têm
demonstrado que as formas pelas quais os indivíduos atendem e processam a informação da
mídia são variadas e complexas‖. A mensagem pode ser ou não compreendida pelo receptor
da forma como o emissor quer, isso dependendo da construção de significados estabelecidas
durante o processo da mensagem que varia mediante à experiência acumulada de cada
individuo, ―tratando os membros da audiência como agentes que interpretam ativamente o
conteúdo da mídia‖, como ainda afirma Porto ao explanar sobre a teoria da recepção adotada
por estudioso Stuart Hall.
Além da teoria da recepção, teorias como a da persuasão ainda discutem sobre o ciclo
de comunicação entre o emissor e receptor, indicando uma relevância da mensagem sobre a
audiência, onde o emissor pode-se obter efeitos desejados sobre o receptor se o conteúdo se
adequar à suas características pessoais. Para tanto, Wolf (1999, p. 33) compreende que,
―persuadir os destinatários é um objetivo possível, se a forma e a organização da mensagem
forem adequadas aos fatores pessoais que o destinatário ativa quando interpreta a própria
mensagem‖.
De Fleur (1970, p. 122) apud Wolf (1999, p. 33) conclui esse pensamento afirmando
que,
[...] as mensagens dos meios de comunicação contém características particulares do
estímulo que interagem de maneira diferente com os traços específicos da
personalidade dos elementos que constituem o público. Desde o momento em que
existem diferenças individuais nas características da personalidade dos elementos do
público, é natural que se presuma a existência, nos efeitos, de variações
correspondentes a essas diferenças individuais.

É possível enquadrar até o tema proposto neste estudo com a imprensa marrom, visto
que esse termo está ligado diretamente a algo irregular e ao seu histórico de sensacionalismo,
afirma o autor Danilo Angrimani (1994, p. 22-23), onde descreve também que ―imprensa
marrom, ainda é amplamente utilizada quando se deseja lançar suspeita sobre a credibilidade
de uma publicação‖. Descreve também o autor que ―no Brasil, quando se quer acusar
pejorativamente um veículo, o termo utilizado é ―imprensa marrom‖, possivelmente uma
apropriação do termo francês para procedimento não muito confiável‖. Conclui Angrimani
que ―o sensacionalismo e credibilidade se repelem, são incompatíveis‖.
Marcondes Filho (1986) critica a imprensa sensacionalista:
42

A imprensa sensacionalista ―não se presta a informar, muito menos a formar. Presta-


se básica e fundamentalmente a satisfazer as necessidades instintivas do público, por
meio de formas sádicas, caluniadora e ridicularizadora das pessoas. Por isso, a
imprensa sensacionalista, como a televisão, o papo no bar, o jogo de futebol, servem
mais para desviar o público de sua realidade imediata do que para voltar-se a ela,
mesmo que fosse para fazê-lo adaptar-se a ela.

Assim, não há como moldar a opinião das pessoas a ponto de unilateralmente


prescrever-lhes o que é bom e o que ruim no âmbito do consumo cultural. Sem o
consentimento ativo do indivíduo tal prescrição não se faz enérgica. As pessoas têm um certo
―bom senso‖ na recepção cultural. O problema da recepção, do ponto de vista da
unilateralidade e da hemogeneidade, é crer que as mensagens tenham somente um significado,
e que este, por sua vez, seja aprendido somente num sentido de mão única (HALL, 2003, p.
366 apud COSTA, 2012, p. 116).
De acordo com Altheide (1976, p. 97). ―O processo de tratamento da notícia não pode
ser explicitado nos noticiários; se o fosse, destruiria a convicção que o público tem de que a
pretensão do órgão de informação não é criar as notícias mas apenas relatá-las‖, afirma.
Com isso é possível se questionar o que ainda mantém a objetividade e o real retratado
das notícias? Para com Hadassa Ester David Iesriv (2011, p. 1):

Os críticos da objetividade alegam que esta passou a ser utilizada principalmente


como um instrumento para privilegiar a subjetividade, ou seja, os interesses,
opiniões e ideologias, dos proprietários das empresas. Outro fator que também
comprometeria a fidelidade dos fatos seria o próprio método de produção de
notícias, próprio do procedimento jornalístico que inclui o critério na escolha das
fontes, as técnicas narrativas, a hierarquização.

A partir dos pensamentos acima pode-se citar uma outra teoria, a do espelho que
também conversa com o jornalismo. De acordo com essa teoria o jornalismo reflete a
realidade.
O ethos dominante, os valores e as normas identificadas com um papel de árbitro, os
procedimentos identificados com o profissionalismo, faz com que dificilmente os membros da
comunidade jornalística aceitem qualquer ataque à teoria do espelho, porque a legitimidade e
a credibilidade dos jornalistas estão assentes na crença social de que as notícias refletem a
realidade (TRAQUINA, 2004).
Bruno Bernardo de Araújo (2011, p. 8) apud Traquina (2004) diz que:
ao dar vida textual a um acontecimento, o jornalista incorpora, mesmo
involuntariamente, marcas da sua subjetividade, através de um processo de
mediação, que pressupõe a existência de uma construção discursiva. Do mesmo
43

modo, o discurso jornalístico resulta da forma como está organizada a estrutura


profissional, que permite, como diz fazer face à imprevisibilidade dos
acontecimentos.

Conceitos como a verdade jornalística, a neutralidade, a imparcialidade, passam a


figurar, desta forma, numa espécie de hall de ideais que, quando afrontados com o dia a dia
profissional, se demonstram nem sempre possíveis ou atingidos pela imprensa. Parece real
afirmar que o que se atinge, ao contrário, é uma verdade constituída por este profissional e
não dada pelo fato em si (MIRANDA, SHAEFER E MEDEIROS, 2012).
―O repórter analisa e interpreta o acontecimento de acordo com uma grelha
institucional, profissional e social, que é a sua e a partilha com outros‖ (SANTOS, 1997 p.
49). O autor nos diz então, que a notícia ―não é a representação da realidade, mas uma
representação sua, em que o jornalista não pode deixar de se assumir como ator social e
cultural‖ (SANTOS, 1997, p. 49 apud MIRANDA, SCHAEFER E MEDEIROS 2012, p. 8).
Na concepção de Ferrari (2007):

Quando se fala na era da pós verdade é possível observar que houveram


transformações tanto do profissional quanto do conteúdo com a transição dos meios
tradicionais para a internet. Surgiram as figuras dos produtores de notícias, gerentes
de informação e do editor multimídia; assim, a grande diferença do novo processo
digital está no fato de que os meios de produção foram parar totalmente na mão do
jornalista – em geral um jornalista jovem, recém-formado, com facilidade para lidar
com softwares, mas pouca experiência para tratar da informação e este começa a
coletar, administrar, filtrar, editar e publicar as notícias. Todo o processo de
produção está sob sua responsabilidade, sem nenhum filtro aparente ou editores que
desempenhem o papel de revisão e edição (FERRARI, 2007).

A informação em tempo real está presente em sites de notícias da internet,


acompanhando o fato e atualizando o internauta de minuto a minuto. No entanto, vale
ressaltar a construção da notícia perante o entendimento do leitor e sua exigência. Para
Pollyana Ferrari (2007, p. 18) ―às vezes o ciberleitor clica em uma notícia que acabou de
acontecer e que, portanto, tem apenas um ou dois parágrafos. Ele passa a acreditar que aquilo
é tudo, ou incorpora a maneira como o texto foi exibido, assumindo o parcial como a
totalidade do fato‖.
Finalizando este conceito, Ferrari (2007) afirma que quem tem acesso à informação
exclusiva ou de melhor qualidade – bem fundamentada, com contexto histórico – consegue
construir opinião. A internet é agora um meio acessível a todos e trabalhar a qualidade da
informação é fundamental para que o trabalho jornalístico continue sendo prestigiado na
formação da opinião pública.
Dialogando com a explanação acima, Ferrari (2007, p. 23) diz que
44

o jornalista da internet tem o poder não só de selecionar, editar e publicar o material


que considera mais adequado, mas pode até determinar em que ritmo isso vai
acontecer. Quando ele não está lá, à noite ou nos finais de semana, um robô se
encarrega de recolher e publicar as notícias que chegam automaticamente nos
―feeds‖ das agências noticiosas e, ao mesmo tempo, pode ―subir‖ matérias
exclusivas que foram guardadas para ir ao ar em determinada hora‖.

No Brasil, a abertura comercial da Internet aconteceu em 1995, mesmo ano em que a


World Wide Web começou a ser usada de forma disseminada por cerca de 16 milhões de
usuários. Em 2001, o número de pessoas na rede pulou para 400 milhões e, de acordo com
levantamento do site Pingdom, publicado pelo site Gazeta do Povo, em 2012, a quantidade de
usuários atingiu a marca de 2,4 bilhões (CAVALCANTI E NETO, 2014, p. 5).
Desde 1995, os veículos de comunicação passam a trabalhar dentro da rede, alguns já com
a noção de ‗tempo real‘, enquanto outros apenas disponibilizando versões digitais do material
impresso. A partir da segunda metade da década de 2000, o grande boom na Internet foi das
redes e mídias sociais, que permitiram aos usuários uma troca maior de informações e
experiências, antes limitada aos e-mails e fóruns de discussões (CAVALCANTI E NETO,
2014, p. 5).
Para Cavalcanti e Neto (2014, p.14)

no Brasil, a rede é uma das principais usadas pelos jornalistas no trabalho de


apuração das notícias, porque, além do texto, os perfis ainda podem publicar fotos e
marcar os assuntos com hashtags, permitindo o monitoramento e acompanhamento
do desenrolar dos fatos. Também é uma das ferramentas que os veículos de
comunicação usam para interagir com seus leitores, seja pedindo conteúdo, seja
oferecendo ao leitor assuntos que possam ser do seu interesse.

De acordo com esses autores (2014, p.14) ―a participação do leitor na produção da


notícia é um caminho sem volta. As redes sociais permitem que qualquer pessoa produza
informação, independente se ela está ligada a algum veículo de comunicação ou se tem
conhecimento jornalístico‖.
Com isso é possível fazer conexão com a convergência descrita por Henry Jenkins
(2009) ―por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através das múltiplas plataformas
de mídias, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório
dos públicos‖, segundo Jenkins (2009, p. 29).
Ainda na obra de Cavalcanti e Neto (2014, p.14), os autores citam que Costa (2009):
discorda da importância dada ao conteúdo produzido por usuários. Ele explica que a
nova mídia é vulnerável ao conteúdo mentiroso e que a apropriação de um
computador e de uma rede de internet não faz de ninguém um jornalista sério. A
opinião de Keen é importante para deixar clara a atuação de um editor na filtragem
45

do conteúdo colaborativo. Não é porque o internauta produziu a informação que a


apuração e a checagem dos fatos devam ser esquecidas.

Segundo Jenkins (2009 p. 45) ―Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os
resultados podem ser maravilhosamente criativos; podem ser também uma má notícia para
todos os envolvidos‖ .
Do mesmo modo que Stuart Hall defendia a existência de uma comunicação plural,
Renata Carvalho da Costa (2009 p. 2) diz que ―O jornalista deve estabelecer e evidenciar a
verdade ou o que julga ser a verdade. Ele não pode defender uma causa, prosseguir uma
demonstração a despeito dos testemunhos. A verdade exposta pelo jornalista é construída a
partir da pluralidade de vozes que ele deve considerar para concretizar sua reportagem. O
discurso jornalístico é necessariamente plural‖, afirma.
A comunicação sofre distorções por alguns motivos como afirma Bucci (2000 p. 176),
que existe manipulação, existe. Ela nada mais é que a distorção deliberada da
informação. Movidos por interesses escusos, há donos de meios de comunicação e
funcionários da cúpula das empresas que patrocina, mentiras para atingir objetivos
particulares. A manipulação agride o cidadão e deve ser combatida, como é óbvio.

Bucci (2000, p. 177) ainda conclui que:

O poder da manipulação vem sendo exacerbado tanto pelos críticos como pelos
aproveitadores. Os primeiros enxergam acordos de cúpula secretos para dominar
corações e mentes – expressão que lhes é muito cara – sem que os corações e mentes
se dêem conta do que que acontece à sua volta. ...mas o seu método de abordagem
costuma vir marcado por uma postura essencialmente autoritária, baseada na
subestimação da inteligência alheia. Engana-se. Há mais contradições nas páginas de
um jornal do que jamais sonhou sua chã filosofia. Já os aproveitadores querem tirar
vantagem da possibilidade de manipulação: acreditam que podem enganar
ininterruptamente os cidadãos com suas mentiras recorrentes.

Partindo do principio discutido acima é possível analisar o jornalismo por diversos pontos
de vista: o das teorias. A seguir, é possível avaliar um exemplo de como a comunicação em
prol ao cidadão é interferida por meio de seleção e edição dos fatos, de acordo com Silva
(2002, p. 52):

Cada vez mais os meios de comunicação de massa interagem com seus públicos,
dedicando-lhes atendimentos e encaminhamentos de soluções junto às autoridades
públicas ou junto ao setor produtivo. São os programas de rádio voltados para as
reinvindicações de ouvintes e associações, são as colunas e até as páginas dedicadas
a queixas e denúncias, são os programas de TV que angariam donativos para
desafortunados e cirurgias para pessoas que não têm acesso a tratamentos. Algumas
dessas programações até se insinuam como um refúgio dos pobres, injustiçados e
desassistidos. Lamentavelmente, não constituem um genuíno serviço público, mas
uma demonstração de quanto os veículos podem ser ―sensíveis‖ às demandas
46

sociais. Antes, tiram proveito da miséria social. Eles não revelam, por exemplo,
quantos casos chegaram à produção e deixaram de ser atendidos para cada situação
que é exibida e ―solucionada‖. Em outros termos, para cada um dos contemplados
nesse ―baú da felicidade‖ da caridade mediática há numerosos pedintes que jamais
serão alvo de nenhuma ajuda. A seletividade é uma condição própria da mídia, cujas
escolhas sempre obedecem a critérios de noticiabilidade, audiência ou pura
espetacularização. Até mesmo as cartas de leitores são submetidas a uma triagem e a
uma edição.

Com isso é possível analisar a mídia diante a perspectiva da agenda-setting, onde


segundo Rodrigues (2002, p. 106) ―a mídia é responsável por selecionar decidindo quando e o
que veremos conforme sua perspectiva‖. Para o autor ainda, quando maior a relevância do
assunto, maior será a probabilidade de agendamento do mesmo.
David Moanning White foi quem utilizou pela primeira vez o termo gatekeeper nos
anos 50. Nessa teoria as informações passam por alguns ―portões‖ (gate) até chegar ao
público e que a escolha do que será ou não noticia é de tarefa do jornalista (TRAQUINA,
2001).
O conteúdo noticiado diariamente passa por uma seleção antes de ser publicado.
Traquinas (2004, p. 150) diz que:
O processo de produção da informação é concebido como uma série de
escolhas onde o fluxo de notícias tem de passar por diversos Gates, isto é,
―portões‟ que não são mais do que áreas de decisão em relação às quais o jornalista,
isto é o gatekeeper, tem de decidir se vai escolher essa notícia ou não.

Para Costa (2009 p. 4):


O conceito de agenda setting (ou teoria do agendamento) foi cunhado vinte anos
depois pelos também norte-americanos McCombs e Shaw e expõe o suposto poder
da mídia em determinar o que é importante ser destacado da realidade. O conceito
evidencia a falta de sustentação da teoria do espelho e da objetividade como
oposição à subjetividade, e deu origem a estudos posteriores que mostraram a
concentração uniforme dos veículos jornalísticos em certos assuntos, fixando estes
como os mais importantes da realidade cotidiana. Ignora, no entanto, a existência de
veículos alternativos que não seguem o padrão comum dos veículos de mídia
comerciais.

Costa (2009 p. 4) conclui ainda que:


Dependendo da teoria de estudos de jornalismo adotada, pode-se encarar o jornalista
como aquele que age como gatekeeper ou determinador de uma agenda, transmissor
da realidade ou mediador. De qualquer forma, sempre há fatores a serem levados em
conta na escolha da notícia que são chamados nos estudos de jornalismo de valores-
notícias (newsworthiness). Na prática, são critérios de noticiabilidade, referências
comuns usadas pela comunidade jornalística para identificar o que é importante de
ser noticiado e são essas referências comuns que acabam por padronizar o noticiário
diário de interesse comercial.
47

De acordo com alguns autores atualizou – se a ideia de que o jornalista pode


representar o próprio real como diz Kunczik (1997, p. 248) ―foi abandonada a ideia de que os
jornalistas podem reproduzir a realidade de maneira objetiva‖, afirma.
Em sua obra o autor cita estudos realizados por Winfriend Schulz na literatura (A
construção da Realidade nos Meios de Comunicação), onde diz que, ―o propósito era mostrar
que a realidade apresentada pelos meios de comunicação não se baseava nos fatos nem
correspondia ao que realmente aconteceu‖. (SCHULZ apud KUNCZIK, 1997 p. 249).

Seja qual for a relação entre a realidade divulgada e a realidade ―verdadeira‖, os


receptores consideram notícias como testemunho autêntico dos acontecimentos
―reais‖. Isso significa que no tocante ao seu efeito ele deve colocar-se em equação
com a realidade (SHULZ, 1976, p.29).

Kunczik (1997, p. 250) ainda diz que ―as percepções da realidade por parte de um
povo são formadas de modo decisivo pelos critérios de seleção de um único grupo
ocupacional: os jornalistas‖. O autor ainda concluí que ―realidade dos meios de comunicação‖
significará a imagem do mundo criada na cabeça dos receptores como resultado dos critérios
de seleção de notícias dos jornalistas‖, afirma.

O nosso jornalismo, na maioria das vezes, é feito por jovens que creem produzir as
notícias para prestar um serviço de conhecimento, de modo a contribuir para a ética
social, para o direito de todos os povos. Esta é uma bela vocação. Porém todos os
jovens, enquanto não acordarem, são eles próprios os instrumentos da manipulação.
Isto é, um jornal se escreve para fazer crer daquele modo (MENEGHETTI, 2011,
informação verbal).

É possível fazer um paralelo entre o jornalismo negativo, que será apresentado abaixo
com a construção de conteúdos por vezes vazios e inverídicos, pois a notícia sensacionalista
presente neles chocam são as que geram compartilhamento. Wilke (1994) apud
Kunczik,1997, p. 246, diz que ―As más notícias são boas notícias‖ e explica essa afirmação:

As notícias entram nos canais noticiosos mais facilmente por que satisfazem melhor
ao critério da frequência. Existe na vida uma assimetria básica entre o positivo, que
é difícil e demorado, e o negativo, que é muito mais fácil e rápido. (WILKE, 1984
apud KUNCZIK, 1997, p. 246).

De acordo com Wilke apud Kunczik (1997, p. 247) ―as notícias negativas são mais
inesperadas do que as positivas. No entanto, a proposta segundo a qual quanto mais violento
for um fato mais provável será que ele chegue ao noticiário da televisão‖. Mesmo que a
48

citação acima cite a televisão, o exemplo pode facilmente se encaixar nas redes sociais,
espaço onde memes e posts se proliferam.
Neville Jayaweera (1986, p. 216) diz que o sensacional, o espetacular, o anormal e o
negativo não convêm. ―Esses valores parecem ter surgido mais como produto de uma
tentativa de satisfazer às necessidades subjetivas de uma sociedade individualista e de ritmo
veloz do que ao desejo de representar uma realidade precisa e objetiva‖. Singer (1997, p. 80)
afirma que: ―A Internet trabalha com alguma informação falsa que é apresentada como sendo
real. Julgo que a questão maior que isso levanta é: quem é que pode/deve ser
responsabilizado?‖
Segundo Meditsch (1992, p. 19) ―enquanto a forma do jornalismo evolui, seu
conteúdo muitas vezes fica em segundo plano na atenção dos jornalistas e, com isso, estaciona
e até involui. Há certo amortecimento na capacidade de o Jornalismo interpretar o mundo, e
isso não passa desapercebido do público‖, afirma.
Meditsch (1992, p. 19) aponta ainda alguns fatores que contribui para o regresso do
jornalismo como conteúdo:
Não é difícil encontrar culpados por esse fracasso. Os interesses políticos e
comerciais da mídia, impedindo muitas vezes o trabalho honesto e competente de
seus profissionais, seguramente são os primeiros. Mas os próprios jornalistas, nas
vezes em que têm alguma chance, não demonstram estar preparados para o desafio
de reverter esse processo. A responsabilidade aqui não cabe apenas a eles, mas
também às escolas encarregadas de sua formação.

A tão sonhada autonomia jornalística tem sido atropelada pela intervenção das forças
do mercado de anunciantes e do mercado de leitores no campo jornalístico. Este processo tem
início com a formação da indústria cultural, advindo do crescimento, diversificação e
profissionalização da produção dos bens culturais (CHAISE, 2006).
De acordo com Vilalba (2006, p. 49) ―as ações comunicacionais podem ajudar a
atestar a verdade e a universalidade de um sentido ao confrontá-lo com outros sentidos,
desenvolvendo, no ser humano, uma postura crítica com relação à realidade. Entretanto, as
ações comunicacionais também podem ser utilizadas para ―mascarar‖ uma pretensa razão.
Mecanismos de controle podem ser utilizados para limitar o acesso de um sujeito
comunicador aos sentidos do ―outro‖ e a aplicação desses mecanismos muitas vezes ocorre
sem que os sujeitos comunicadores afetados percebam‖.
[Passamos] do conceito de «manipulação» (bias) [entendida como] a distorção
deliberada das notícias com fins políticos ou pessoais, conceito que, regularmente limita a
perspectiva daqueles que criticam os mass media, para as distorções voluntárias e a breve
49

prazo. O conceito de manipulação implica uma posição de equilíbrio, da qual as notícias


podem ser subtraídas devido à influência de preconceitos, de conspiração ou daqueles que
possuem o poder político e comercial. (WOLF, 2015, p.80).
50

II - DISCUTINDO O JORNALISMO NA ERA DA PÓS-VERDADE

2.1 O que é pós-verdade

Por meio das ideias analisadas anteriormente no presente estudo, é possível ver uma
nítida relação entre o jornalismo e o compromisso com a verdade. No entanto, um fenômeno
inverso à essa ligação mais conhecido como pós-verdade vem tomando espaço principalmente
no campo digital. Esse termo esse foi escolhido no ano de 2016 pelo Dicionário de Oxfort
como a palavra do ano, significando - ―relativa a circunstâncias em que fatos objetivos são
menos influentes na formação da opinião pública do que emoções e crenças pessoais".
(ENGLISH OXFORD LIVING DICTIONARIES, 2016).
O termo pós traz uma grande relevância ao significado do termo completo, de acordo
com Poletize (2017), ―a explicação da palavra pós-verdade de acordo com o Oxford é de que
o composto do prefixo ―pós‖ não se refere apenas ao tempo seguinte a alguma situação ou
evento – como pós-guerra, por exemplo –, mas sim a ―pertencer a um momento em que o
conceito específico se tornou irrelevante ou não é mais importante‖. Neste caso, a verdade.
Portanto, pós-verdade se refere ao momento em que a verdade já não é mais importante como
já foi‖.
De acordo com o recente estudo das autoras Jessica de Almeida Santos e Egle Müller
Spinelli (2017, p.2), o termo pós-verdade ―se encaixa perfeitamente em um mundo em que
mentiras, rumores e fofocas se espalham velozmente, em um cenário propício para a formação
de redes cujos integrantes confiam mais uns nos outros do que em qualquer órgão tradicional
da imprensa‖.
Para elas, isso ocorre devido ao fato da grande criação de conteúdo realizada pelos
próprios usuários que antes só o consumiam ―na terra da era digital com informações e
escolhas infinitas, as pessoas procuram criar seu próprio ambiente de mídia pessoal em
busca de conteúdos [...], afirmam Almeida Santos e Spinelli (2017, p. 2).
Na mesma direção das autoras FARHAD MANJOO (2008, p. 2), acredita que o
indivíduo cria seu próprio mundo e com isso a sua verdade indo a uma direção oposto a uma
versão contraditória ao que acredita ser verdade, ele ainda afirma que:
51

[...] Os cientistas políticos caracterizaram nossa época como uma de maior


polarização; agora, como vou documentar, o partidarismo rasteiro começou a
distorcer nossas próprias percepções sobre o que é "real" e o que não é. Estamos
lutando por versões concorrentes da realidade. E é mais conveniente do que nunca
para alguns de nós viver num mundo construído a partir de nossos próprios fatos.

O indivíduo apropria-se da sua própria verdade como aponta a plataforma digital Vaza
Falsiane (2018, p. 10),
se um texto diz algo que você sempre quis ouvir, e parece provar definitivamente
suas opiniões, há uma chance grande que você queira que todo mundo tenha acesso
a essa história e reconheça que você estava certo. Você compartilha o texto e marca
meio mundo para provar que estava certo.

No entanto, o jornalista como porta-voz da mensagem não está encarregado por si só


de pela disseminação de notícias falsas, como afirmam as autoras abaixo:

O jornalismo também depende da demanda da sociedade por informações de


qualidade e uma maturidade na utilização da internet, e enquanto estivermos
na ―adolescência digital‖, discursos de ódio e notícias falsas continuarão a existir.
Mas esse cenário não isenta a responsabilidade do jornalismo de filtrar histórias para
a audiência e incentivar o consumo de conteúdos checados‖ (ALMEIDA SANTOS e
SPINELLI, 2017, p.14).

Ainda para Elisa Cristina Delfini e Marcela Gaspar Custódio (2018, p. 3), o conceito
de pós-verdade refere-se ―aos eventos em que a opinião pública e os comportamentos são
orientados mais pelos apelos emocionais, falaciosos ou subjetivos, afirmados pelas suas
convicções pessoais, do que em fatos verídicos e atestados‖, Carlos Castilho (2016) aplica o
termo à ―um fenômeno que já começou a mudar nossos comportamentos e valores em relação
aos conceitos tradicionais de verdade, mentira, honestidade e desonestidade, credibilidade e
dúvida‖.
Na era da pós verdade, as versões ganharam mais importância do que os fatos, o que
não é bom e nem mau. É simplesmente uma realidade. O que chamamos de fatos, na
verdade são representações de um fato, dado ou evento desenvolvidas pela mente de
cada indivíduo‖ (CASTILHO, 2016).

A figura 4, a seguir, apresenta as diferenças conceituais dos termos Fake News e de


Pós-Verdade.
52

Figura 4 - Diferenciação dos conceitos de Fake News e pós-verdade

Fonte: Politize (2017)

2.2 O fenômeno Fake News

As notícias falsas mais disseminadas como o termo Fake news é um produto da pós-
verdade e de acordo com Hunt Allcott e Matthew Gentzknow (2017, p.213), a definição de
fake News é ―notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsas, podendo enganar
os leitores‖. Eles ainda dizem que as fake News são de fácil consumo, ―porque os
consumidores podem desfrutar de notícias partidárias‖, e ainda complementam que: ―nós
conceitualizamos notícias falsas como sinais distorcidos não correlacionados com a verdade‖.
Aponta Politico Magazine (2016), que as notícias falsas não nasceram apenas no
cenário digital nos atuais dias e sim ao mesmo tempo em que as demais notícias começaram a
―decolar‖, momento em que a prensa móvel de Gutenberg possibilitou isso. No entanto,
naquela época as fontes de verificação da noticia segundo ele não tinham um ― conceito de
ética ou objetividade jornalística‖, de acordo com o autor, apenas ―no século 17, historiadores
começaram a desempenhar um papel na verificação das notícias, publicando suas fontes
verificáveis nas notas de rodapé‖.
De acordo com as autoras Almeida Santos e Spinelli (2017, p. 4), ―no cenário de pós-
verdade, as fake news ganham espaço nas redes sociais, preocupam a grande mídia no
Brasil e podem manchar ainda mais a reputação das instituições jornalísticas no país.
De acordo com levantamento do Grupo de Pesquisa‖
53

Um boato cresce como uma bola de neve: começa pequeno, vai ganhando tamanho e
fica cada vez mais difícil de conter sua difusão. Se uma quantidade grande o
suficiente de pessoas acreditar em algo e resolver passar isso para frente, essa
avalanche pode acabar soterrando o nosso espírito crítico: afinal, se fosse falso,
porque tanta gente. [...] O maior problema da reação em cadeia é que, uma vez que
esses boatos são disparados e compartilhados massivamente, fica quase impossível
conseguir negá-los. Isso acontece porque nem sempre a mentira tem pernas curtas -
e poucos reconhecem suas mancadas.(VAZA FALCIANE p. 9- 10).

Visto que o receptor não busca mais pela informação apenas pelos meios tradicionais
como relata Poletize (2017) ―o jornalismo sempre foi o canal que disseminava as notícias e
conteúdos às pessoas, seja a respeito da sua própria comunidade ou sobre o mundo. Hoje há,
porém, um ruído na relação entre os jornalistas, os meios de comunicação tradicionais e o
público. Em alguns casos, o público não quer mais ser informado por apenas o que uma
emissora de TV, de rádio ou jornal impresso têm vontade de veicular‖.
Em seu texto sobre a compreensão da informação diante o cenário atual, Sara
Mendonça Poubel de Oliveira (2018, p.6) entende fake News por: ―informações falsas no
formato de notícias, veiculadas em grande parte na internet, mais especificamente em redes
sociais, como por exemplo o Whatsapp‖. Concluindo que ―considera-se, então, uma parcela
de culpa ao jornalismo pela proliferação de mentiras e imprecisões nas mídias e a
negligência em relação aos imperativos de qualidade, os quais ferem o maior patrimônio da
mídia: a credibilidade‖ (ALMEIDA SANTOS, SPINELLI, 2018 p. 11).
Gabriel Itagiba (2018, p. 3-4) explica como ocorre parte da disseminação de notícias
falsas dando o exemplo:
O usuário X é contra o partido Y, que está na presidência do País. Diariamente, X
expressa sua opinião usando hashtags como #foraY ou #vazaY. Diversos robôs
controlando perfis falsos são programados para varrer as redes sociais em busca de
usuários que utilizam as hashtags mencionadas. Após a identificação, bots executam
o resto de sua programação, enviando mensagens falsas sobre o partido Y para o
usuário. O usuário então passa a compartilhar essas informações com seus amigos.

Ainda de acordo com Almeida Santos, Spinelli (2017, p. 5), ―os sites que difundem
notícias falsas mantêm-se firmes na produção de conteúdos graças aos cliques da
audiência, e a divulgação de fake news acaba sendo incentivada pela publicidade‖.
Com a lista de definições detalhadas por Rosa Nívea Pedroso (1983) abaixo é possível
fazer uma ligação entre o sensacionalismo e a Fake News observando algumas características
presentes ao identificá-las:

Intensificação, exagero e heterogeneidade gráfica; ambivalência linguístico-


semântica, que produz o efeito de informar através da não-identificação imediata da
mensagem; valorização da emoção em detrimento da informação; exploração do
extraordinário e do vulgar, de forma espetacular e desproporcional; adequação
54

discursiva ao status semiótico das classes subalternas; destaque de elementos


insignificantes, ambíguos, supérfluos ou sugestivos; substração de elementos
importantes e acréscimo ou invenção de palavras e fatos; valorização de conteúdos
ou temáticas isoladas, com pouca possibilidade de desdobramento nas edições
subsequentes e sem contextualização político-econômico-social-cultural;
discursividade repetitiva, fechada ou centrada em si mesma, ambígua motivada,
autoritária, despolitizadora, fragmentária, unidirecional, vertical, ambivalente,
dissimulada, indefinida, substitutiva, deslizante, avaliativa; exposição do oculto, mas
próximo; produção discursiva sempre trágica, erótica, violenta, ridícula, insólita,
grotesca ou fantástica; especificidade discursiva de jornal empresarial-capitalista,
pertencente ao segmento popular da grande empresa industrial-urbana, em busca de
consolidação econômica ao mercado jornalístico; escamoteamento da questão do
popular, apesar do pretenso engajamento com o universo social marginal; gramática
discursiva fundamentada no desnivelamento sócio-econômico e sociocultural entre
as classes hegemônicas e subalternas.

De acordo com Bourdieu (1997, p.144) apud Santos (2011, p. 34), ―os profissionais
desse campo que se deixam pautar pelo sensacionalismo, cujo principal objetivo é a
audiência, deixam a ética de lado em razão das tensões exercidas pelo campo econômico
sobre o ideológico‖.
Ao assunto é possível fazer uma ligação sobre a sociedade do espetáculo discutida por
Guy Deboard onde o autor diz que: ―O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma
relação social entre pessoas mediada por imagens.‖ (DEBORD, 1997, p.14).
Ele ainda complementa discutindo que:

Quando o mundo real transforma -se em simples imagens, estas tornam-se


seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico. O
espetáculo como uma tendência de fazer alguém enxergar o mundo através de
diversas mediações especializadas (ele não pode mais ser acessado
diretamente) naturalmente revela a visão como o sentido privilegiado do ser
humano, como o tato foi privilegiado em outras épocas.
55

Figura 5 - Características encontradas na fake News

Fonte: Politize (2017)

Os autores Kovack e Rosenstiel (2003) colaboram com seus pensamentos sobre a


checagem dentro do jornalismo:

O instinto da verdade não é menor hoje, na era da nova mídia e das fontes
proliferantes, do que era antes. Mais interpretação pode acabar em cacofonia e
desviar a atenção do leitor para o lado mais superficial da verdade, o nível que deve
ser parte do processo de seleção depois que os fatos foram estabelecidos. É um
erro passar ao estágio interpretativo antes de apurar o que realmente aconteceu. Em
lugar de correr para acrescentar contexto e interpretação, a imprensa precisa se
concentrar na síntese e na verificação. Que tire fora o rumor, a insinuação, o
insignificante e engraçadinho e se concentre no que é verdadeiro e importante em
uma história. À medida que os cidadãos encontram um grande fluxo de dados
– e não menos – fontes identificáveis para verificar aquela informação,
apontando o que é mais importante para saber e descartando o que não é.
(KOVACK; ROSENSTIEL, 2003, p. 77)

De acordo com Leite e Matos (2017, p. 2336), a desinformação e consequentemente


propagação de notícias que não correspondem com a verdade está na ausência do senso crítico
do receptor, ―gerando uma mecanização no comportamento dos indivíduos acerca da
informação, de modo que acabam se comportando como propagadores de uma onda de
‗poluição informacional‘‖. Sylvia Debossan Moretzsohn (2017, p. 302), ainda contribui
dizendo que o ―compartilhamento de informações sem qualquer preocupação com a
veracidade, que resulta na disseminação de boatos ou de trucagens assumidas como
verdadeiras‖.
56

A complexidade envolvida na relação do usuário com as notícias falsas e boatos


disseminados nas redes sociais, em função da ausência ou diluição da autoria dos
textos requer que a mediação não atue apenas como uma interferência
emprenhada em esclarecer os fatos, mas também para o desenvolvimento
de habilidade nos usuários que possibilite uma análise crítica da informação
recebida e compartilhada (SOUSA, 2017).

Para tanto é preciso uma conscientização da audiência que de acordo com estudos
teóricos acimas citados, deixou de ser considerada passiva, com isso Corrêa e Custódio (2018,
p. 3) apontam que há ―[...] urgente necessidade de desenvolver habilidades para o acesso e uso
da informação a fim de distinguir verdadeiras e falsas, bem como adquirir uma maior
consciência social em relação à responsabilidade cidadã de replicar informações verídicas
advindas de fontes consideradas fidedignas‖.

Ao se apropriar da informação e desenvolver-se cognitivamente, o usuário assume


um papel atuante na sociedade, já não é passivo aos fenômenos sociais, mas
participante, crítico e modificador das circunstâncias que o contorna (SANTOS;
DUARTE; LIMA, 2014, p. 39).

Dessa forma, é relevante ainda considerar que:

―O debate público poderia ser mais bem resolvido se as pessoas, ao lerem um texto,
prestassem atenção em quem transmite a informação, seja uma pessoa ou uma
organização. E se preocupassem em entender que informar algo novo é diferente de
opinar sobre o significado desse algo novo. E quando um autor traz elementos para
opinar ou analisar não significa que defende que seu posicionamento seja a verdade
absoluta (até porque isso não existe), mas a interpretação de fatos que ele achou
mais cabível. A questão, portanto, não é apenas os interesses de quem chama de
"falso" tudo o que é divergente de sua ideologia ou que distorce conteúdos na
internet. Até porque essa situação se repete em todo o espectro político, da direita à
esquerda e envolve uma série de fatores, como a questão do viés de confirmação
(tendemos a chamar de verdade tudo com o qual concordamos e de mentira, tudo o
que discordamos), as bolhas produzidas pelos algoritmos nas redes sociais (que nos
isolam e dificultam o respeito à diferença), entre outros‖ (VAZA FALSIANE 2018,
p. 5 – 6).

―O jornalista necessita ser um guardião da credibilidade‖, afirmam Almeida Santos e


Spinelli (2017, p. 14), ―na era da pós – verdade, em que fatos objetivos são menos relevantes
que emoções e crenças pessoais, o jornalismo precisa apostar na sua essência: o compromisso
com a qualidade e apuração dos fatos‖.
As autoras ainda trazem uma reflexão para o atual cenário:

Talvez a esperança no fim do túnel para combater a disseminação de notícias


falsas seja um jornalismo imbuído da missão de dedicar tempo, empenho e
investimento a contextualizar a informação, fazer com que ela chegue ao público e
que nele repercuta da forma correta. O desafio é que a própria audiência refute fake
57

news compartilhando o que os veículos de credibilidade dizem (ALMEIDA


SANTOS E SPINELLI 2017, p. 15).

Relata Alexandra Martins (2017), diz que um dos objetivos para disseminação das
notícias falsas na internet, são: ―as notícias falsas (ou pós-verdades) são criadas, na maioria
absoluta das vezes, para a obtenção de lucro. Quanto mais visualizações do seu site, mais
cliques e mais ganhos, os quais podem chegar a milhares de dólares. Este mecanismo é
seguido por outras empresas como o Facebook‖, conclui a autora.
Do ponto de vista de um jornalista, Castilho (2016), aponta que, ―a pós - verdade é
talvez o maior desafio para o jornalismo contemporâneo porque ela afeta a relação de
credibilidade entre nós e o público. A nossa atividade está baseada na confiança das pessoas
de que o que publicamos é verdadeiro. Quando uma nova conjuntura informativa interfere
nesta confiabilidade, temos serias razões para nos preocupar, e muito, sobre o futuro da
profissão‖, conclui o jornalista.

2.3 Como reconhecer uma fake news no ambiente digital

Em entrevista ao jornal Estadão (Martins 2017), o professor do Instituto de Ciências


Matemáticas e de Computação, José Fernando R. Júnior, relata que: ―para identificar uma
notícia verdadeira, basta verificar se há em sua teia de compartilhamentos um número
significativo de fontes com credibilidade e/ou de usuários com perfil autêntico, no sentindo de
zelo com relação à veracidade do que compartilham‖. De acordo com o discente ainda, ― as
notícias falsas (ou pós-verdades) são criadas, na maioria absoluta das vezes, para a obtenção
de lucro. Quanto mais visualizações do seu site, mais cliques e mais ganhos, os quais podem
chegar a milhares de dólares. Este mecanismo é seguido por outras empresas como o
Facebook‖, conclui o entrevistado.
58

Figura 6 - Identificando a falsa notícia

Fonte: Politize (2017)

Além dos passos acima de como reconhecer uma notícia falsa, autores como Carlos
Affonso Souza e Vinicius Padrão (2018, p.2) identificaram algumas características que sites
propagadores de noticias falsas têm, dividindo eles em quatro categorias: ―(i) os que
intencionalmente buscam enganar através de manchetes tendenciosas; (ii) os de reputação
razoável que compartilham boatos em larga escala sem verificar corretamente os fatos;
(iii) os que relatam de forma tendenciosa fatos reais, manipulando a informação; e (iv)
os que humoristicamente trabalham com situações hipotéticas‖.
Fake News tornou-se assunto de grande relevância visto que cursos foram criados
como base na necessidade de educar o receptor diante essa realidade. O site Vaza Falsiane
(2018), contribui com uma plataforma digital com textos e cursos, no volume 7 do curso é
possível encontrar os ―dez mandamentos para divulgar notícias nas redes sociais‖, sendo eles:

1) Não divulgarás notícia sem antes checar a fonte da informação.


2) Não divulgarás notícias relevantes sem atribuir a elas fontes primárias de
informação. Um ―cara gente boa‖, sua "mãe" ou seu ―BFF‖ não é, necessariamente,
fonte de informação confiável.
3) Tuítes, posts e mensagens ―apócrifos‖, sem fonte clara,jamais serão aceitos como
instrumento de checagem ou comprovação. Sites que caluniam e não se dignam a
informar quem é o responsável, muito menos.
4) Não esquecerás que informação precede opinião. Porque pode ser checada,
porque pode ser comprovada.
59

5) Não repassarás informações que não fazem sentido algum só porque você não
gosta da pessoa ou instituição em questão. A disputa entre posições políticas deve
ser baseada em um jogo limpo e não em invenciones.
6) Lembrarás que mais vale um tuíte, um post ou uma mensagem atrasados e bem
checados que algo rápido e mal apurado. E que um número grande de retuítes,
compartilhamentos e ―likes‖ não garante credibilidade de coisa alguma.
7) Não matarás – sem antes checar o óbito.
8) Não esquecerás que a apuração in loco, por telefone e/ou por e-mail precede, em
ordem decrescente
de importância, o chute.
9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, a falha em caso de
divulgação ou encaminhamento de informação incorreta. Errar é humano, pedir
desculpas é divino.
10) Na dúvida, não retuitarás, compartilharás, darás ―like‖ ou passarás adiante
mensagem de coisa alguma. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas e atestas.
Ou seja, se der merda, você também é culpado. E, sim, retuitar, compartilhar, dar
―like‖ e repassar coisa ruim pode dar condenação na Justiça. (VAZA FALSIANE,
2018 p. 9-10).

2.4 Punições à prática de fake News

A liberdade de expressão e de imprensa é válida no campo digital, de acordo com


Sérgio Branco, (2017 p. 56) ―em nenhuma plataforma a liberdade de se expressar teve tão
grande impacto quanto nas redes sociais. Em plataformas onde há uma editoria de conteúdo
(como nos sites de jornais e revistas ou em portais de mídia), sempre alguém fará a seleção
daquilo que será publicado. Porém, nas redes sociais, o que vale é exclusivamente a vontade
do usuário‖.

Quando se fala em liberdade de informação, o termo liberdade deve ser entendido


como o direito de informar e de ser (ou se manter) informado. O direito de informar
se refere à igualdade de condições para a obtenção de acesso à informação, dando
margem aos direitos de expressão de pensamento, não podendo olvidar-se do direito
de assimilar e receber as notícias e as opiniões expressas por alguém (VINÍCIO
CARRILHO MARTINEZ, VANDERLEI DE FREITAS NASCIMENTO JUNIOR,
2018 p, 7).

O curso on-line Vaza Falsiane (2018, p. 10 -11) em seu oitavo módulo esclarece que
―apesar de não existir censura prévia no Brasil, as leis continuam valendo aqui também.
Quem desrespeitar, ofender, caluniar, discriminar ou incitar à violência pode enfrentar
processos, pagar multa e até acabar preso‖.
O conteúdo on-line ainda esclarece que ―aqui no Brasil, delegados já tem defendido
mudanças na lei, e o exército foi consultado para monitorar e combater fake news. No final de
2017, durante a votação da reforma política o Congresso chegou a aprovar uma emenda que
poderia suspender publicações que tratem de "discurso de ódio, disseminação de informações
falsas ou ofensa em desfavor de partido ou candidato". Essa proposta deixa bastante claro o
60

risco de surfar nessa onda de medo contra as fake news: ideias e informações diferentes,
muitas delas bem fundamentadas, poderiam ser removidas por ser consideradas falsas ou
ofensivas. Devido às críticas a essa proposta, que parecia abrir a porta para a censura política
na internet, o próprio autor dessa emenda sugeriu que ela não entrasse em vigor, e o trecho foi
vetado pelo presidente Temer‖.

A democratização dos meios de comunicação não pode ser condenada. Ao contrário,


é na possibilidade de ouvir a todos que a internet encontra uma de suas maiores
virtudes. Além disso, a atribuição às mídias tradicionais do papel de decidir o que
pode ser publicado acabaria por acarretar mais malefícios do que benefícios.
Estaríamos instituindo a censura prévia sob a qual vivemos ao longo do século,
repetindo o modelo arcaico de dar voz somente a quem detém o poder. (SÉRGIO
BRANCO, 2017 p. 56)

Sobre a proposta acima Martinez e Junior, (2018 p, 7), discute que, ―o art. 220 da
Constituição reforça tal garantia ao prescrever que ―a manifestação do pensamento, a criação,
a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição‖. No mais, está consignado que ―nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV‖ (§ 1º), sendo
vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística (§ 2º)‖.
61

III - ESTUDO DE CASO

3.1 Repercussão “Marielle Franco” nas redes sociais

O caso da vereadora Marielle Franco ganhou espaço nas redes sociais de uma forma
negativa, onde diversas notícias falsas foram criadas sobre seu histórico de vida pessoal e
político como uma tentativa de denigrir a imagem da ativista após sua morte no dia 14 de
março de 2018. Segundo El Pais (2018) Marielle era ―defensora dos direitos humanos e crítica
da atuação de policiais que agem fora da lei‖ o site conta ainda que a parlamentar ―voltava de
um evento no bairro carioca da Lapa quando foi alvo de disparos‖.
Em busca de esclarecer tais boatos disseminados sobre Marielle, alguns sites como o
UOL (2018), publicaram informações para contrastar com as fake News divulgadas sobre a
mesma em sites como o facebook e aplicativos de mensagem. Em sua coluna, ―Congresso em
foco‖ é possível encontrar um breve histórico sobre a vereadora: ―Socióloga com mestrado
em Administração Pública, Marielle Franco nasceu em 27 de julho de 1979 e foi criada na
Maré, complexo de favelas da periferia do Rio. A parlamentar cursou Sociologia na Pontifícia
Universidade Católica (PUC), com auxílio de uma bolsa integral, e concluiu o curso de
mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mulher, negra, favelada e companheira
há 12 anos da arquiteta Monica Tereza Benício, a vereadora se destacava pelo ativismo em
prol das minorias e da militância pelos direitos humanos‖.
O site UOL (2018), ainda disponibiliza os principais boatos criados sobre a trajetória
de Marielle, onde é discutido que a vereadora era ―era ex-mulher do traficante Marcinho VP‖,
―Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho‖, ―Marielle era usuária de maconha‖, ―Marielle
engravidou aos 16 anos‖, ―Marielle defendia bandidos‖.
Informações como as citadas acima ganharam compartilhamento nas redes sociais
sendo replicadas pelos internautas.
62

Figura 7 - Compartilhamento de internauta sobre a vida da parlamentar

Fonte: Gauchazh (2018)

Autoridades também foram responsáveis pela propagação dos boatos à respeito de


Franco como o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), que publicou em sua conta do
twitter a seguinte afirmação, logo após excluindo-a:

Figura 8 - Notícias falsas ganham forças nas mãos de autoridades

Fonte: Catraca Livre (2018)


63

Assim como o deputado Alberto Fraga, o advogado Paulo Nader, também fez
afirmações sobre a vereadora em sua conta no facebook, levando outra autoridade, a
desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) na
sexta – feira, 16 a comentar o post, fazendo afirmações falsas e negativas sobre Marielle.

Figura 9 - Fake News sobre a vítima foram repassados por autoridades sem checagem dos fatos

Fonte: Veja (2018)

O pronunciamento de Marília foi publicado na coluna da jornalista Mônica Bergamo


da Folha de São Paulo (2018), com o título ―Desembargadora diz que Marielle estava
engajada com bandidos e é ‗cadáver comum‘‖.
De acordo com a (Veja 2018), ―à coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S.
Paulo, que revelou o comentário, Marília afirmou que não conhecia Marielle até saber de sua
morte e que postou informações ―que leu no texto de uma amiga‖. Ela criticou o que chamou
de ―politização‖ do assassinato. ―Outro dia uma médica morreu na Linha Amarela e não
houve essa comoção‖. E ela também lutava, trabalhava, salvava vidas.‖‖.
64

Após tal publicação, outros sites como o Ceticismo Político publicou a fala de Marília
em suas redes sociais, propagando os boatos falsos sobre Marielle como verdadeiros, logo
após excluído o post.

3.1.1 Ceticismo Político

A plataforma digital, Ceticismo Político, está entre os dez sites apontados como
disseminadores de notícias falsas. A lista de nomes foi citada por um grupo de pesquisa da
Universidade de São Paulo (USP) e analisada pela Associação dos Especialistas em Políticas
Públicas do Estado de São Paulo (AEPPSP).
De acordo com Isso é notícia (2018), esses sites têm algumas características em
comum, sendo uma delas o anonimato, para eles ainda esses ―não são sites de empresas da
grande mídia comercial, tampouco veículos de mídia alternativa com corpo editorial
transparente, jornalistas que se responsabilizam pela integridade das reportagens que assinam,
ou articulistas que assinam artigos de opinião‖.

Os meios de comunicação, a imprensa escrita, o rádio, a televisão, todos esses


segmentos estão vivendo uma grave crise com o advento da internet, com a
multiplicação da informação individualizada, com o surgimento das atualizações
em tempo real e de jornais on-line totalmente autônomos (RAMONET, 2016,
p. 53).

Ainda sobre as principais características dos sites propagadores de notícias falsas,


como o Ceticismo Político, a pesquisa divulgada pela AEPPSP e disponibilizada pelo site Isso
é notícia (2018), aponta que:

1. Foram registrados com domínio .com ou .org (sem o .br no final), o que
dificulta a identificação de seus responsáveis com a mesma transparência que os
domínios registados no Brasil.
2. Não possuem qualquer página identificando seus administradores, corpo
editorial ou jornalistas. Quando existe, a página 'Quem Somos' não diz nada que
permita identificar as pessoas responsáveis pelo site e seu conteúdo.
3. As "notícias" não são assinadas.
4. As "notícias" são cheias de opiniões — cujos autores também não são
identificados — e discursos de ódio (haters).
5. Intensiva publicação de novas "notícias" a cada poucos minutos ou horas.
6. Possuem nomes parecidos com os de outros sites jornalísticos ou blogs
autorais já bastante difundidos.
7. Seus layouts deliberadamente poluídos e confusos fazem-lhes parecer
grandes sites de notícias, o que lhes confere credibilidade para usuários mais leigos.
8. São repletas de propagandas (ads do Google), o que significa que a cada
nova visualização o dono do site recebe alguns centavos (estamos falando de
páginas cujos conteúdos são compartilhados dezenas ou centenas de milhares de
vezes por dia no Facebook).
65

É possível ter acesso pelo portal de notícias da Globo na internet a reportagem do


Profissão Repórter sobre onde surgem e quem são os responsáveis por criar e repassar as
notícias falsas. Na matéria, o site Ceticismo Político foi citado:

A divulgação de informações falsas sobre Marielle Franco fez o Facebook tirar do ar


páginas do site Ceticismo Político, administradas por Carlos Afonso. Ele assina as
matérias e análises políticas com pseudônimo Luciano Ayan. O site e o pseudônimo
foram bloqueados após a publicação de uma notícia que associava a vereadora ao
tráfico de drogas.
Carlos diz que apenas reproduziu os comentários da desembargadora Marília Castro
Neves no Facebook. O texto não explica que a desembargadora não conhecia
Marielle, nem que ela se baseou na postagem de uma amiga. O texto, publicado pelo
Ceticismo Político, foi compartilhado mais de 360 mil vezes. A desembargadora
apagou sua postagem e não quis dar entrevista sobre o assunto (GLOBO.COM
.2018).

O portal de notícias, IG (2018) em sua página Último Segundo publicou ainda que o
site Ceticismo Política foi um dos dois principais canais de divulgações falsas sobre Marielle,
―até a noite de quinta (22), as notícias falsas divulgadas pelo Ceticismo Político tinham mais
de 360 mil compartilhamentos no Facebook. A página, assim, foi a que alcançou mais
usuários nas redes com os boatos sobre Marielle‖, afirmou.

Figura 10 - Post realizado pelo site Ceticismo Político sobre a Vereadora assassinada Marielle Franco

Fonte: O Globo – Rio (2018)


66

O site Ceticismo Político atualmente encontra-se no ar, com 7.123 assinantes em seu
blog e com 735 curtidas em sua página do facebook. A página, no entanto havia sido
removida pelo facebook, assim como a conta do escritor responsável pela divulgação dos
boatos de Marielle, Luciano Henrique Ayan, que teve sua real identidade divulgada.
Segundo o site Gauchaz (2018) ―conforme o jornal O Globo, Ayan possui o domínio
ceticismopolitico.org desde novembro de 2017. O site está registrado por uma empresa
dinamarquesa. Antes, ele manteve o Ceticismo Político com outro endereço — o
ceticismopolitico.com, com registro por uma empresa canadense, também usada para
esconder o proprietário real do site‖.
De acordo com a matéria realizada pelo site O Globo – Rio (2018) ―Carlos Afonso
admite pela primeira vez que Luciano Ayan é um "pseudônimo". Diz que o Ceticismo Político
foi criado por ele, e hoje tem outros colaboradores, cujos nomes não são revelados. Afonso
afirma que editou o post ―Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se
envolvia com bandidos e é ‗cadáver comum‘‖, que recebeu mais de 360 mil
compartilhamentos no Facebook e se tornou o link mais influente na campanha difamatória
contra a vereadora assassinada‖.
67

Figura 11 - O site publicou uma carta aberta a seus leitores

Fonte: Metrópoles (2018)

Depois de retirado do ar, o site Ceticismo Político voltou a seu expediente normal, em
declaração na própria página, Carlos Afonso, o então ―Luciano Ayan‖, afirmou que o site
estaria de volta com uma ―perspectiva mais arrojada‖ e que a página do facebook
correspondente ao site teria sido alvo de perseguição.
68

Figura 12 - Site voltou dois meses após o ocorrido

Fonte: Ceticismo Político (2018)

Na mesma publicação da imagem acima é possível encontrar a seguinte declaração do


site Ceticismo Político (2018), ―creio que já ficou notório que desde o início de março, o site
tem sido atacado por adversários, que executaram uma estratégia dissimulada para censurar a
página de FB do Ceticismo Político (que tinha 106.000 seguidores) e o perfil Luciano Ayan
(relacionado ao meu pseudônimo, pelo qual escrevi o livro ―Liberdade ou Morte‖, publicado
em 2015)‖.
Sobre as postagens realizadas pelo site Ceticismo Político é possível analisar que de
acordo com o artigo 19 da Constituição Federal ―todo o homem tem direito à liberdade de
opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente
de fronteiras‖. No entanto segundo o autor Pedro Luís Piedade Novaes (2012, p. 34), ―nosso
ordenamento jurídico pune o abuso da liberdade de expressão. Além da responsabilidade civil
do ofensor, o Código Penal prevê vários crimes relativos ao excesso da manifestação do
pensamento, tais como os delitos de calúnia (art. 138), difamação (art. 139, injúria (art. 141)
[...]‖.
69

3.2 Análise do post

Embora a ideia inicial fosse analisar o conteúdo da matéria publicada pelo site
Ceticismo Político e compartilhado no Facebook, o mesmo foi retirado do ar após denúncias
de fake news, por tanto, será analisado o post de chamada.
A teoria do enquadramento pode ser usada como ferramenta de análise dessa
publicação. Segundo Mauro Porto (2004, p.78) enquadramentos são ―marcos interpretativos
mais gerais construídos socialmente que permitem as pessoas fazer sentido dos eventos e das
situações sociais‖.

Diversos autores discutem as variáveis do enquadramento. Alguns, sob a perspectiva


dos enfoques construídos pela mídia, bem como o que esses frames determinam.
Outros abordam a audiência, ou seja, o modo como o público enquadra
determinados assuntos a partir daquilo que é oferecido pelos meios de comunicação
ROBERT ENTMAN (1993).

Essa teoria frisa pela personificação, dramatização e do uso repetitivo de palavras-


chaves, ainda segundo Entman, (2007, p.164) ―os enquadramentos introduzem ou aumentam a
saliência ou importância aparente de certas ideias, ativando esquemas que encorajam os
públicos-alvo a pensar, sentir e decidir de maneira particular‖.

Entendidos como formatos genéricos de cobertura, os diversos enquadramentos


possíveis a uma matéria podem ser identificados por uma crítica de mídia que
procure emitir um julgamento objetivo sobre as matérias em análise. Os diversos
traços que vão figurar como característicos de um dado enquadramento surgem do
exame atento de uma cobertura específica, em processo de estudo e aproximação no
qual eles vão se revelar como atributos inseparáveis do foco adotado pelo veículo
(DANILO ROTHBERG 2007, p. 8) .

Ainda sobre o enquadramento de uma notícia é possível entender que ―na maioria das
vezes, o enquadramento que uma matéria jornalística possui não é percebido pelo público.
Portanto, o conhecimento sobre os processos e critérios de construção da notícia é relevante
para que cidadãos possam interpretar criticamente as informações que recebem e terem mais
segurança para formarem suas opiniões‖, afirma Politize (2018).
Dentro da teoria do enquadramento é possível encontrar os enquadramentos editoriais,
noticiosos e os enquadramentos interpretativos. Para tanto, Porto (2004, p. 96) afirma que:

Enquadramentos interpretativos são padrões de interpretação que promovem


uma avaliação particular de temas e/ou eventos políticos, incluindo definições
de problemas, avaliações sobre causas e responsabilidades, recomendações de
tratamento etc. Estas interpretações são promovidas por atores sociais diversos,
incluindo representantes do governo, partidos políticos, movimentos sociais,
70

sindicatos, associações profissionais. Embora os jornalistas também contribuam


com seus próprios enquadramentos interpretativos ao produzir notícias, este
tipo de enquadramento tem origem geralmente em atores sociais e políticos
externos à prática jornalística. Trata-se aqui de interpretações oriundas de um
contexto mais amplo que podem ser incorporadas ou não pela mídia.

Outra perspectiva que pode ser analisada de acordo com o post estudado é o
enquadramento noticioso, que de acordo com Porto (2002, p. 15) ―são padrões de
apresentação, seleção e ênfase utilizados por jornalistas para organizar seus relatos‖.
Para analisar o post propagado pelo site Ceticismo Político é necessário que aja uma
análise do enquadramento de conteúdo, que segundo Luana Meneguelli Bonone (2016, p. 82)
―esse é um método de tratamento e análise de informações colhidas dos textos por meio de
técnicas de coleta de dados. Aplica-se a textos noticiosos, quaisquer textos escritos e também
à comunicação oral ou visual pertencente a um texto. O método pressupõe uma leitura crítica
do significado das mensagens, seu conteúdo expresso ou velado, ou seja, o que está dito e
também o que está implícito ou mesmo disfarçado‖.
Ainda é possível encontrar enquadramentos baseados em palavras sendo que o
enquadramento de interesse humano, que é possível ser utilizado para tal análise, ―destaca o
lado emocional envolvendo seres humanos, personalizando e dramatizando a notícia‖, afirma
Price et al. (1997).
Dentro do espaço digital onde aconteceu a disseminação da fake News, foi analisado o
post realizado por Luciano Ayan, então nome fictício de Carlos Augusto de Moraes Afonso.

Figura 13 - Post em análise publicado na página por Luciano Ayan


71

Fonte: Catraca Livre (2018)

Em declaração ao portal Catraca Livre (2018) no mesmo mês em que a publicação foi
realizada, Carlos Augusto de Moraes Afonso declarou que ―no último fim de semana, o site
Ceticismo Político, criado por mim (e que hoje possui vários colaboradores) publicou uma
matéria sobre a desembargadora Marília, que fez acusações sobre a vereadora Marielle, que
havia sido assassina na quarta (14)‖. Após confirmar os fatos Carlos Augusto o então Luciano
Ayan afirma que ―o post basicamente apontava o conteúdo da matéria de Mônica Bergamo. O
post, publicado por colaboradores, mas editado por mim, trata as declarações de Marília como
se fossem uma ironia e usa o termo ―quebra de narrativa‖, principalmente ao mencionar o fato
de que foi levantada a hipótese de que Marielle talvez não tivesse sido vítima de um crime
político. Ou seja, são os fatos, acompanhados de uma análise. A desembargadora realmente
fez as declarações que fez [...]‖.
A redação do site Catraca Livre (2018) comentou o ocorrido dizendo que ―o Ceticismo
Político validou as opiniões da desembargadora Marília Neves contra Marielle Franco,
acusando-a de vinculações com o crime organizado. O link foi compartilhado 360 mil vezes
no Facebook, graças a essa dobradinha com o MBL.
72

Figura 14 - Infográfico criado pelo site O Globo

Fonte: Catraca Livre (2018)

A partir dessa validação é permitido analisar como o site especializado em assuntos


políticos cria uma relação de influência com seus leitores e internautas, causando deturpação
da verdade sobre a vereadora Marielle Franco. Por tanto leva-se em consideração realizada
por Ramonet (2016, p. 54) ―pensamos que suas informações são mais confiáveis e mais
próximas de nossa concepção da verdade do que as dadas por outros. É uma espécie de
contrato de confiança que estabelecemos com os meios de comunicação‖.
Partindo do enquadramento de interesse humanizado é possível analisar que o post
divulgado pelo site Ceticismo Político na conta de Luciano Ayan que tem por legenda ―Isso é
complicado, bem complicado ...‖, não possuí uma legenda clara, neutra, que dá credibilidade
ao escritor e ao veículo que a escreve, ela não apresenta fatos apenas, realizada por um
internauta que não demonstra uma postura jornalísticos com o compromisso de apurar e levar
a verdade a seu leitor que espera de um site onde o assunto é política, seriedade,
profissionalismo, conhecimento da área, textos construtivos para formar opiniões críticas e
embasadas por parte de seu leitor. Sendo que este foi um post sem checagem antes de validá-
lo como verdade, faltando ética e credibilidade do site, além do mais, percebe-se nele uma
clara característica de fake news ao constatar que o post foi feito por alguém que usa
pseudônimos ao invés da real identidade.
73

Posto isso o enquadramento de interesse humano que visa ressaltar o lado da emoção e
da dramatização da notícia, levou o leitor a acreditar no que está escrito, ainda mais aqueles
que não conheciam o histórico e as causas pelas quais Marielle lutava. Sendo assim, o post
prendeu a atenção dos internautas pelas informações sensacionalistas e negativas que
continham levando ao compartilhamento em massa, antes de ser excluído pela plataforma
digital. Para Politize (2018), ―cada notícia é resultado de uma perspectiva sobre um
acontecimento e o relato sobre esse mesmo episódio pode ser feito sob outros pontos de vista
sem que sejam ditas mentiras‖.
74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há princípio o trabalho procurou retomar definições que contrastasse o que jornalismo


com o que são as fake news, encontradas em um cenário de pós – verdade, onde a criação de
conteúdo não parte apenas do profissional de jornalismo, mas de um grupo de receptores que
encontraram no ambiente virtual espaço para criar.
No presente trabalho também foi possível verificar o relacionamento do jornalista com
seus deveres como profissional e como o descumprimento do mesmo influencia o pensamento
e atitudes de cidadãos que buscam por esse profissional por acreditar em sua postura. Como
afirma Schudson (2017, p. 12) ―um jornalista responsável não produz notícias falsas, nem
notícias exageradas ou corrompidas‖.
Para tanto, pode ser criado então um paralelo entre a análise proposta por Vinicius
Siqueira (2014) sobre às ideias descritas por Nietzsche, com a necessidade da verdade e a
ética no jornalismo, e o autor conclui que:
a ilusão, diz Nietzsche, não é um grande problema para o ser humano comum, mas
sim os efeitos negativos que ela pode oferecer (entenda ―ilusão‖ como aquilo que se
passa por verdade, ou seja, neste caso, a linguagem). O mesmo vale para a verdade:
ela é desejada quando suas consequências são agradáveis (ou seja, a linguagem é
aceita sem problemas quando significa uma vantagem de definição para o sujeito,
quando define o sujeito como algo bom).

É possível verificar que as palavras descritas acima podem estar relacionadas com o
estudo de caso proposto e com as demais notícias que tem uma aparência diferente do seu real
conteúdo, onde criam uma verdade tão realista a ponto do individuo toma-la como sua
verdade também devido as suas crenças e emoções já existentes.

[...] está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou


vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas
que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida,
(BAKHTIN, 1997, p. 95).

Para Luiz Costa Pereira Junior (2006, p. 29), ―o trabalho jornalístico seria, assim, o de
explicar o encadeamento de eventos que produziram o fato, não falsear a sua ordem, mas dar
legitimidade a suas escolas ao encadear o evento a outros, também legitimados‖.
De acordo com Christofoletti (2008, p. 15), para que haja um jornalismo melhor é
necessário ―que se formem bem os recursos humanos que povoarão as redações em breve. É
fundamental pensar, discutir e difundir um ambiente de reflexão ética nos processos de
comunicação‖.
75

De toda forma, o mais importante é investir em educação para aprender a distinguir


com mais clareza informações falsas que circulam na internet. Escolas e
Universidades precisam tomar para si a responsabilidade de discutir o tema com
seus alunos. Louváveis também são as iniciativas de criação de entidades de
checagem de fatos (factchecking) e de sites especializados em desmascarar boatos
(BRANCO, 2017, p. 61).

Em tempos de circulação de notícias falsas e de múltiplos criadores de informação,


cabe ao jornalista o compromisso com o cidadão de forma que a checagem dos fatos seja mais
relevante que a urgência em publicá-los primeiro, de forma erronia, incompleta ou com
passagens sensacionalistas para atrair o maior número de leitores e de compartilhamentos no
caso das plataformas digitais. Ainda o papel do internauta como compartilhador de notícias é
importante visto que ele também influenciará outras pessoas a partilharem da mesma mentira,
é preciso que aja educação digital, assim como buscar o bom sendo e a pesquisa,
questionando suas próprias crenças e verdades antes de confirmar algo que pode tomar
grandes proporções por ser fake.
Para tanto, o presente trabalho foi finalizado e com seus objetivos alcançados, visto
que as definições de fake news foram expostas criando um paralelo com o que é jornalismo e
o que se espera do profissional da área de comunicação evidenciando um caso real que serve
de exemplo para expor as proporções que uma noticia falsa têm ao ser divulgada sem
comprometimento ético.
76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro: Comum, v. 6 – nºª 17 – 111 a 125 – jul./dez. 2001.

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Vol. 47. Summus Editorial, 1994.

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