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Sem meu amigo Deus, nada seria possível em minha vida, inclusive este trabalho. Foi
Ele quem me deu forças para não desistir dos meus objetivos este ano. A Ele elevo meu
coração e agradecimento.
Agradeço minha linda família por todo incentivo, mas em especial à minha vózinha
Lucia (em memória) que sempre se demonstrou feliz em saber da minha opção por cursar
jornalismo e vibrou quando passei no vestibular. Agradeço minha mãe Regina pelo apoio
incondicional aos estudos, agradeço ao meu esposo Diego por me apoiar em cada decisão e
também ao meu amor, Larissa, que chegou pra me ensinar muitas coisas sobre a vida, ela
merece o melhor de mim.
Nenhum aprendiz concluí seu trabalho sem um bom mestre, agradeço de todo meu
coração a professora e orientadora Melissa Carolina de Moura que foi fundamental para que
eu não desistisse, obrigada por me apoiar e orientar. Também tenho grande gratidão à
professora Fabrícia Lopes por me orientar e mostrar o mundo das teorias. Agradeço ainda aos
professores que sempre terão um lugarzinho especial em minha memória, a professora Ana
Paula Saab, Clayton Khan, Ágatha Urzedo e Pedro Luís Piedade Novaes.
Muito obrigada!
―Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade‖.
Joseph Goebbels
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo abordar o conceito das Fakes
News com ênfase no ambiente digital, lugar onde mais pessoas além de jornalistas passam de
receptores para criadores de conteúdo. Primeiramente realizando um recorte do que é
jornalismo; um breve histórico sobre sua evolução e de como sua relação com a ética e a
verdade são importantes para que não haja desvios dos fatos, momento este em que acontece a
perda de credibilidade dos jornalistas e seus canais de comunicação.
This Course Conclusion Paper aims to address the Fakes News concept with emphasis on the
digital environment, where more people than journalists go from receivers to creators of
content. First by making a cut of what journalism is; a brief history of its evolution and how
its relationship with ethics and truth are important so that there are no deviations from the
facts, at which moment the credibility of journalists and their channels of communication is
lost.
Figura 1 - Livros, jornais e revistas impressos pela prensa móvel de Gutenberg ................... 12
Figura 2 - Jornal Gazeta do Rio de Janeiro ........................................................................... 13
Figura 3 - Correio Brasiliense imprenso em Londres, entre 1808 e 1822 .............................. 13
Figura 4 - Diferenciação dos conceitos de Fake News e pós-verdade .................................... 52
Figura 5 - Características encontradas na fake News ............................................................ 55
Figura 6 - Identificando a falsa notícia ................................................................................. 58
Figura 7 - Compartilhamento de internauta sobre a vida da parlamentar ............................... 62
Figura 8 - Notícias falsas ganham forças nas mãos de autoridades ........................................ 62
Figura 9 - Fake News sobre a vítima foram repassados por autoridades sem checagem dos
fatos ..................................................................................................................................... 63
Figura 10 - Post realizado pelo site Ceticismo Político sobre a Vereadora assassinada Marielle
Franco .................................................................................................................................. 65
Figura 11 - O site publicou uma carta aberta a seus leitores .................................................. 67
Figura 12 - Site voltou dois meses após o ocorrido ............................................................... 68
Figura 13 - Post em análise publicado na página por Luciano Ayan ..................................... 70
Figura 14 - Infográfico criado pelo site O Globo .................................................................. 72
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... 8
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO
Há dois mil anos, em 59 a.C., o líder político e militar reformista Júlio César (100-44
a.C) a fim de divulgar as práticas positivas de seu reinado ordenou a exposição e leitura
pública das Actas Diurnas, um boletim oficial que incluía desde o resultado de deliberações
do Senado, decretos, leis e outros acontecimentos locais e até eventos ocorridos nas
províncias romanas ou países distantes (STEPHENS, 2007).
Aponta Carlos Rizzini, (1997, p. 5) que as atas mantinham a população informada ―Na
linguagem romana, publicar alguma coisa não queria dizer levá-la e sim deixá-la ao
conhecimento do público, afixando-a em lugar onde pudesse ser facilmente lida‖.
De acordo com F. Fraser Bond (1962, p. 49), criou-se então o primeiro jornal a ter-se
conhecimento no mundo, a Acta Diurna em 59 a.C. O material era exposto em praças
públicas, sem custo, com informações por vezes ultrapassadas, já que a mensagem vinha por
meios de transportes não tão eficientes quanto os dos dias atuais.
Acrescenta Waléria Cristina dos Santos (2011, p. 30), que ―as atas só foram reaparecer
no séc. XVI em Veneza e com uma nova versão: Elas já eram distribuídas em cópias
12
De acordo com Nilson Lage (2001), quando o texto informativo surgiu, o que
predominava era o discurso retórico e os jornais mais lembravam livros. Um século depois, o
jornalismo acompanhou a luta pela destituição da aristocracia e pela desconstrução do poder
da Igreja Católica. A produção de informação e saber, que, até então, estava nas mãos da
Igreja, passou a fazer parte da vida de pesquisadores que não estavam ligados à instituição
(CAVALCANTI E NETO, 2014, p. 5).
A imprensa no Brasil, no entanto, ocorreu apenas 14 anos antes da separação do Brasil
de Portugal, de acordo com Richard Romancini e Cláudia Lago (2007). Ela nasceu com a
chegada da família portuguesa ao Brasil, alguns jornais foram criados, como o Correio
Brasiliense e a Gazeta do Rio. Mais uma vez, as informações saiam dos superiores, e assim
como o Imperador Júlio Cesar, que controlava o que era publicado, em 1808 não seria
diferente.
13
Fonte: Wikipédia
Régia (que durou 14 anos), caracterizada pela censura prévia do governo, que zelava para que
não fosse impresso nada contra a religião, o governo e os bons costumes. É possível perceber
uma forte influência do jornalismo sobre a esfera pública nacional, o que, consequentemente,
faz da comunicação social um importante instrumento para a construção de nossa própria
história (ROMANCINI E LAGO, 2007).
Ainda no tempo Imperial, o Jornalismo obteve periodismo e começou a incluir
fotografias e ilustrações para complementar a informação. Na primeira fase da República o
jornalismo brasileiro passa por um processo de transição: por um lado, ele deixa de fazer parte
de um processo de produção artesanal para tornar-se um negócio, uma empresa estruturada.
Por outro, ele perde seu caráter opinativo, sendo substituído pelo jornalismo de informação
(ROMANCINI E LAGO, 2007).
Os avanços tecnológicos que impulsionavam o jornalismo continuaram, e em 1844 o
telégrafo possibilitou a transmissão de mensagens de um ponto a outro. O jornalismo ganhara
mais ferramentas de trabalho e com isso, mais meios de comunicação começaram a surgir. De
acordo com Ildeu e Moreira (2007, p. 49), ―os primeiros ensaios para a introdução do
telégrafo elétrico no Brasil datam de 1851, e contaram com o incentivo do Ministro da Justiça,
Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara (1812-1868), e o apoio de um personagem
central no desenvolvimento da telegrafia no país, Guilherme Schüch de Capanema (1824-
1909), lente de física da Escola Central‖.
Com tudo isso, é possível perceber a importância do jornalismo, tida como a profissão
principal ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as notícias,
ou que comentam fatos do momento de acordo com (KASZYK E PRUYS, 1976).
―Em 4 de janeiro de 1875 foi lançado o jornal ―A Província de São Paulo‖, que a partir
de 1890, devido a Proclamação da República, mudaria o nome para O Estado de São Paulo.
Desde então permanece em circulação‖. Afirma Queiroz (2015, p. 27). Com a evolução
tecnológica o jornal ganhou espaço nos sites com o nome Estadao.com.br.
O jornalismo é aliado dos que buscam pela informação. Ele é capaz de responder
muito mais do que suas seis primordiais perguntas, o que, como, onde, quando, quem e por
quê, tornando-se uma ferramenta útil à sociedade. A técnica do primeiro parágrafo foi
desenvolvida para ser a abertura do texto, adotado no Brasil nos anos 50, o lead, de acordo
com Seabra (2002 p. 38) ―é um guia ou uma orientação para o leitor‖.
Conta Fábio Henrique Pereira, (2004, p.5) que ―no Brasil, a profissionalização do
jornalismo tem início durante o Estado Novo e só será concluída em 1969, com a aprovação
da Lei de Imprensa‖. O jornalismo passou por um longo período até sua modernidade, para
15
Para saber o que é uma notícia falsa, é importante refletir o que é uma notícia
―verdadeira‖. Para isso, é preciso definir o que é jornalismo e esclarecer quais mecanismos
atuam na construção daquilo que chamamos de notícias. Ao falar sobre jornalismo, é preciso
remeter-se ao enredo criado por seus profissionais para que algo seja contado. Clóvis Rossi
(1994, p. 7) diz que ―Independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha
pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes‖,
complementando que trata-se de uma batalha sutil, que faz uso de uma arma de aparentemente
inofensiva, como a palavra.
De acordo com Beltrão (1992, p. 65) ―Fazer jornalismo é informar. Jornalismo é antes
de tudo, informação‖, a partir dessa afirmação faz-se necessário revelar outras definições
sobre o que é jornalismo.
Bond (1962, p. 15) define jornalismo da seguinte maneira:
A palavra jornalismo significa, hoje, todas as formas nas quais as notícias e seus
comentários chegam ao público. Todos os acontecimentos mundiais, desde que
interessem ao público, e todo o pensamento, ação e ideias que esses acontecimentos
estimulam, constituem o material básico para o jornalista.
Eduardo Meditsch (1992, p. 25) destaca em sua obra algumas definições sobre o
jornalismo, de acordo com ele, ―jornalismo é uma forma de comunicação [...] uma forma de
comunicação que serve para integrar e adaptar o homem ao seu papel social‖. Meditsch ainda
diz que ―jornalismo não é uma forma de comunicação qualquer, mas uma forma de
comunicação que serve para integrar o homem, para que ele funcione dentro do sistema ao
qual pertence‖.
Em seu livro, Meditsch referencia também os conceitos de jornalismo de acordo com
Adelmo Genro Filho, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Para ele, ―o
jornalismo é uma forma social de conhecimento. Ele reconhece que está partindo de uma
generalidade abstrata, e a toma, provisoriamente, por que existem outras formas sociais de
comunicação que implicam em conhecimento‖ (MEDITSCH 1992, p. 26 apud GENRO
FILHO 1987).
A comunicação é um sistema que se completa e não é exato. Para Lage (1992, p.13)
―Comunicação é uma das tais abstrações coisificadas. É função de todos os sistemas: nervos,
circuitos, estradas, o DNA, radiações cósmicas comunicam. Nas sociedades, toda obra, gesto,
objeto de cultura, silêncio e fala é comunicação. Exatamente por ser tão universal, abrangente,
a ação nominalizada de comunicar não constitui corpus que se possa considerar
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cientificamente‖. Após tal descrição a autor ainda defende que então ciência não é
comunicação.
Ainda para Meditsch (1992, p. 56), o jornalismo se envolve muito mais nos sentidos
do que na própria exatidão dos fatos: ―Assim, enquanto a Ciência se torna um modo de
conhecimento do mundo explicável, o Jornalismo se torna um modo de conhecimento do
mundo sensível. Cada um vai ter a sua forma própria de refletir e, inevitavelmente, de refratar
realidade‖.
Para tanto, o mesmo jornalismo é desenvolvido sob a ótica de alguns interesses como
afirma o autor:
O jornalismo como conhecimento é condicionado por sua produção industrial como
mercadoria, por valores ideológicos de seus produtores, pelo autoritarismo de suas
formas, pela arbitrariedade de suas escolhas, pelas falsas categorias que a sua
tradição e sua técnica (e o poder da morte embutido nelas) construíram. No entanto,
tem potencialidade muito maior do que a Ciência de revelar o novo. (MEDITSCH,
1992, p. 56).
Para tanto observa-se que ―para terem relevância jornalística, as informações devem
ser categorizadas como fato jornalístico,‖ afirmam os autores Enio Moraes Júnior, Luciano
Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira (2013. p.141).
Os fatos jornalísticos são um recorte do fluxo contínuo, uma parte que, em
certa medida, é separada arbitrariamente do todo. (...). A verdade se resume a
um processo de revelação e constituição do fato exposto pelo jornalista, isto é
o fato deve ser entendido na sua forma polissêmica por se tratar de uma
versão traduzida com o poder de valores e interesses (GENRO FILHO, 1987, p.
186-188).
Após esse recorte, Altheide (1976, p. 112) apud Wolf (2003, p. 83) explanam que ―a
notícia é o produto de um processo organizado que implica uma perspectiva
prática dos acontecimentos, perspectiva essa que tem por objetivo reuni-los, fornecer
avaliações, simples e diretas, acerca das suas relações, e fazê-lo de modo a entreter os
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espectadores‖. Já Traquina (2004, p.203) afirma que ―as notícias acontecem na conjunção de
acontecimentos e textos. Enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia cria o
acontecimento‖.
Ao falar sobre a construção da notícia, Jorge Pedro Souza (2002, p. 3), menciona em
seu artigo que de acordo com Sousa (2000; 2002), pode dizer-se que uma notícia é um
artefato linguístico que representa determinados aspectos da realidade, resulta de um processo
de construção onde interagem fatores de natureza pessoal, social, ideológica, histórica e do
meio físico e tecnológico, é difundida por meios jornalísticos e comporta informação com
sentido compreensível num determinado momento histórico e num determinado meio
sóciocultural, embora a atribuição última de sentido dependa do consumidor da notícia.
a noticia tem uma carga de grande influencia na vida de seu receptor e a maneira
como ela chega pronta até seu público final é de grande relevância, ―finalmente, a
notícia só se esgota no momento do seu consumo, já que é nesse momento que ela
produz efeitos e passa a fazer parte dos referentes da realidade. Esses referentes são
a parte da realidade que formam a imagem que os sujeitos constroem da realidade.
Por isso, a construção de sentido para uma notícia depende da interação perceptiva,
cognoscitiva e até afetiva que os sujeitos com ela estabelecem‖ (SOUZA 2002, p. 4).
Para Enio Moraes Júnior, Luciano Victor Barros Maluly, Dennis de Oliveira, (2013, p.
140):
―A fonte de construção do jornalismo está no acontecimento, no evento que gera
informação. Um acontecimento só tem algum valor quando ele tem algum resultado
para a sociedade. Logo, o jornalismo se alimenta dos acontecimentos que, de alguma
forma, devem ser informados àqueles que formam o tecido social. Para produzir essa
informação, o jornalismo vai usar de determinados parâmetros para poder atingir os
seus objetivos [...]‖.
Para que haja uma determinação daquilo que será oferecido ao público, alguns
critérios surgem para afunilar o que chega em grande quantidade nos centros de comunicação
como afirma Gislene Silva (2005, p. 97), ―a necessidade de se pensar sobre critérios de
noticiabilidade surge diante da constatação prática de que não há espaço nos veículos
informativos para a publicação ou veiculação da infinidade de acontecimentos que
ocorrem no dia-a-dia. Frente a volume tão grande de matéria-prima, é preciso estratificar
para escolher qual acontecimento é mais merecedor de adquirir existência pública como
notícia‖.
Segundo Wolf (2003, p. 83) ―a noticiabilidade é constituída pelo conjunto de
requisitos que se exigem dos acontecimentos - do ponto de vista da estrutura do trabalho
nos órgãos de informação e do ponto de vista do profissionalismo dos jornalistas - para
adquirirem a existência pública de notícias. Tudo o que não corresponde a esses
requisitos é «excluído», por não ser adequado às rotinas produtivas e aos cânones da cultura
profissional. Não adquirindo o estatuto de notícia, permanece simplesmente um
acontecimento que se perde entre a «matéria-prima» que o órgão de informação não
consegue transformar e que, por conseguinte, não irá fazer parte dos conhecimentos
do mundo adquiridos pelo público através das comunicações de massa‖.
Para ele ainda é importante salientar que, a ― noticiabilidade corresponde ao conjunto
de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam
a tarefa de escolher, quotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de
factos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias‖ Wolf (2003, p. 83).
O autor Alfredo Vizeu (2005, p.26), descreve noticiabilidade como ―o conjunto de
elementos com os quais as empresas jornalísticas controlam e produzem a quantidade e o tipo
de fatos, entre os quais vai selecionar as notícias‖. Já Luis Beltrão (1964, 2006) lista dez
fatores de noticiabilidade, sendo eles: proximidade, proeminência, consequência,
raridade, conflito, idade e sexo, progresso, drama e comédia (emoção), exclusividade e
política editorial. No entanto, há autoras como Cremilda Medina (1986), que de maneira mais
curta define os critérios para se criar o fato jornalístico com os itens a seguir: atualidade,
interesse, veracidade e clareza.
Aponta Silva (2011, p. 59), que ―O papel desses valores -notícia é orientar o
processo de produção da notícia, e definir quais acontecimentos são
suficientemente interessantes para serem transformados em notícia e ao mesmo tempo
são esses mesmos valores que fazem com que um determinado fato tenha uma cobertura
massiva pelos jornalistas‖.
Silva (2011, p. 59) complementa ainda que as escolhas das notícias pelos jornalistas
baseiam-se nos valores-notícias que elas tem para o público:
Ainda sobre noticiabilidade, (Gans, 1979, 82 apud Wolf 2003, 86) cita que:
A esses critérios e valores atribuídos à notícia, Silva (2005, p. 106), conclui que ―definir
valores-notícia como atributos do acontecimento e reconhecê-los ao mesmo tempo como
construção social e cultural é apenas um primeiro procedimento para pensar a
noticiabilidade, cujo processo exige muitas outras reflexões, passando, como etapas
seguintes, pelo tratamento dos fatos noticiosos e pela interpretação que a notícia faz desses
acontecimentos.
Ao pensar nos critérios de noticiabilidade, Silva (2005, p 102-103), lista em seu texto,
uma tabela com conceitos desenvolvidos por diferentes autores sobre os valores que dão
destaque à notícia, sendo eles:
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Elencos de valores-notícias
Stieler: novidade, proximidade geográfica, proeminência e negativismo.
Lippman: clareza, surpresa, proximidade geográfica, impacto e conflito pessoal.
Bond: referente à pessoa de destaque ou personagem público (proeminência); incomum (raridade); referente
ao governo (interesse nacional); que afeta o bolso (interesse
pessoal/econômico); injustiça que provoca indignação (injustiça); grandes perdas de
vida ou bens (catástrofe); consequências universais (interesse universal); que provoca emoção (drama);
de interesse de grande número de pessoas (número de pessoas
afetadas); grandes somas (grande quantia de dinheiro); descoberta de qualquer setor
(descobertas/invenções) e assassinato (crime/violência).
Galtung e Ruge: frequência, amplitude, clareza ou falta de ambiguidade, relevância,
conformidade, imprevisão, continuidade, referência a pessoas e nações de elite,
composição, personificação e negativismo.
Golding-Elliot: drama, visual atrativo, entretenimento, importância, proximidade,
brevidade, negativismo, atualidade, elites, famosos.
Gans: importância, interesse, novidade, qualidade, equilíbrio.
Warren: atualidade, proximidade, proeminência, curiosidade, conflito, suspense,
emoção e conseqüências.
Hetherington: importância, drama, surpresa, famosos, escândalo sexual/crime, número de pessoas envolvidas,
proximidade, visual bonito/atrativo.
Shoemaker et all: oportunidade, proximidade, importância/impacto, conseqüência,
interesse, conflito /polêmica, controvérsia, sensacionalismo, proeminência, novidade/curiosidade/raro.
Wolf: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas
envolvidas, relevância quanto à evolução futura.
Erbolato: proximidade, marco geográfico, impacto, proeminência, aventura/conflito, consequências, humor,
raridade, progresso, sexo e idade, interesse pessoal,
interesse humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial, oportunidade, dinheiro,
expectativa/suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas/
invenções, repercussão, confidências.
Chaparro: atualidade, proximidade, notoriedade, conflito, conhecimento, conseqüências, curiosidade,
dramaticidade, surpresa.
Lage: proximidade, atualidade, identificação social, intensidade, ineditismo, identificação humana.
contudo os primeiros jornais, como são conhecidos até hoje, surgiram apenas na
primeira década do séc. XVII, em burgos alemães; depois vieram os jornais
impressos na Holanda, em Marsella, na França, em 1631, surgiu o La Gazette
de France, o primeiro jornal francês. A partir daí o jornal passou a ter um
novo caráter, com uma vertente ética e a busca por relatar apenas a verdade.
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Contudo é possível enxergar uma ligação direta entre a verdade e a ética exercida pelo
profissional de jornalismo, como relata Silva (2011, p. 59) quando diz que ―buscar a notícia
e publicá-la passa a ser então o primeiro dever ético do jornalista. Para tanto, deve-se
sempre perseguir a verdade dos fatos, ouvir todos os lados da história, e oferecer, por meio do
relato, a confiabilidade que o cidadão precisa ter‖.
Para Silva (2011, p. 60) ainda é possível concluir que:
De acordo com o autor Bernardo Kucinski (2005, p.19) ―o jornalismo existe para
socializar as verdades de interesse público, para tornar público o que grupos de
interesse ou poderosos tentam manter como coisa privada. O absolutismo dessa ética
pode ser sentido por uma de suas implicações, a de que o jornalista não é responsável
pelas consequências da divulgação de uma verdade de interesse público, seja ela qual
for. Mas é responsável e até cúmplice das consequências de não ter socializado essa
verdade de interesse público‖.
Embora a verdade seja defendida como algo primordial ao trabalho jornalístico pelos
autores acima, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1873, p. 45- 48), faz uma duras críticas
sobre essa ideia defendendo que ela não existe:
Durante certo tempo depois de seu aparecimento, o rádio, pelas simples novidade,
prendia a atenção dos ouvintes, presos aos receptores pelos fones de ouvido,
encantados pela única razão de que havia alguma coisa para ouvir. Rapidamente o
número de ouvintes chegou a milhões, o número de estações emissoras foi a
milhares e a variedade dos programas ultrapassou a imaginação normal.
Com o veículo radiofônico o jornalismo impresso precisou ser criativo para continuar
atraindo seus leitores, diz Mattos (org.) (2002, p. 38). O autor ainda afirma que, ―a
transformação do jornalismo literário em jornalismo informativo, entretanto, era insuficiente
para competir com as emissoras radiofônicas‖. Nesse mesmo período o autor ainda salienta a
troca do paginador pelo diagramador e a inserção dos primeiros projetos gráficos que
mudaram a apresentação gráfica do impresso por serem mais elaborados.
Para Corrêa (2001, p. 103):
introdução de provedores gratuitos como o IG. Nessa época surge a primeira versão de jornal
on-line, a do Jornal do Brasil. A TV acabo também é iniciada pelos grupos Abril (TVA) e
Globo (NET). (ROMANCINI E LAGO, 2007).
De acordo com a autora Raíssa Benevides Veloso (2012, p. 4):
O e-mail substitui efetivamente o fax, uma vez que é mais rápido, mais confiável,
personalizado e não necessita de papel. Os jornalistas observaram que o e-mail pode
ser usado de maneira eficiente para responder a questões de rotina e verificação de
fatos. Pode ser, com freqüência, o único método disponível para contatar fontes em
locais remotos ou em horários díspares.
sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (CASTELLS, 2003 apud CORRÊA,
2004, p. 287).
Para o autor Palácios (2003) a internet como suporte para o fazer jornalístico,
oportuniza a complementação entre suportes tradicionais (rádio, TV e impresso), com o
digital, o que sinaliza, para o autor, como continuidade e potencializações de resultados, sem,
necessariamente, romper com práticas anteriores. Com isso, o Saad (2009, p. 321), afirma
surgir uma diferente forma de se fazer comunicação. ―Ela ocorre estrategicamente e integrada
ao composto comunicacional‖.
A comunicação está para cada um, assim como o ar. As pessoas se comunicam de
diversas maneiras; fala, expressão, desenho, dentre outras formas. A capacidade de se
comunicar difere o homem, um ser racional dos demais seres existentes no mundo. Para
Marcos Alexandre (2001, p. 113) ―a comunicação não envolve somente as linguagens oral e
escrita, como também a música, as artes plásticas e cênicas, ou seja, todo comportamento
humano‖.
A comunicação humana não está resumida apenas à linguagem verbal, mas também
a uma série de gestos e expressões faciais e corporais que completam a conversação
e a tornam mais eficaz. A postura do corpo, as expressões faciais e os gestos
esclarecem muito mais sobre o que se está falando do que as próprias palavras.
Jornalismo, metaforicamente é o pão francês diário que prepara o cidadão para iniciar
o dia. Ele nutre o leitor para que ele seja capaz de extrair informações suficientes para ter uma
opinião, saber conceituar e interagir, podendo ser reprodutor de conteúdo à outros. Entre todas
as atividades humanas, nenhuma responde tanto a uma necessidade do espírito e a da vida
social quanto o jornalismo. É próprio da nossa natureza infomar-se e informar, reunir a maior
soma de conhecimento. Para os autores Clarissa Miranda, Ricardo Schaefer, Vicente
Medeiros (2012, p. 2) ―a importância que o jornalismo exerce em nossa sociedade é crescente.
Boa parte da realidade construída na mente de cada cidadão provém do que é notícia‖,
Afirmam.
[...] quisemos, apenas, situar o jornalismo como atividade essencial à vida das
coletividades, como uma instituição social que, no mundo moderno, assume posição
da mais alta relevância. Com efeito, os homens dos nossos dias ―têm fome de
conhecer o presente‖. Para estar a par das ideias, eventos e situações correntes,
procuram veículos muito mais especializados e diversificados do que seus ancestrais
(BELTRÃO, 1992, p. 65).
Beltrão (1992, p. 99) ainda define que ―a imprensa, sem dúvida, elemento
determinante na vida individual como na vida coletiva; nenhuma pessoa, nem núcleo social,
pode passar sem ela; se pensa no tempo que se lhe dedica, utilizando todos os sentidos‖.
Para os autores Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003) o jornalismo apresenta funções
que vão além de comunicar, ele serve para construir a comunidade, a cidadania, a democracia.
Acredita-se que ele então, seja capaz de construir significados na vida de quem o usufrui
tornando o indivíduo livre para formar sua própria opinião acerca de algo. A imprensa nos
ajuda a definir nossas comunidades, nos ajuda a criar uma linguagem e conhecimentos
comuns com base na realidade.
Traquina (2005, p. 208) ainda fala sobre o papel do comunicador:
(2000, p. 10) ―O jornalismo é filho legítimo da Revolução Francesa. Ele expande-se a partir
da luta pelos direitos humanos‖.
Acredita-se então, que ele vem para transformar situações. Onde há questionamento,
manifestação ou mesmo utilidade pública, ali se faz necessária a comunicação jornalística.
Para Jürgen Habermas (1984, p. 213) ―o jornalismo que conhecemos passou por três fases até
os dias atuais. Sendo elas para melhorias em prol do leitor ou de seus interesses editoriais ou
comerciais‖.
Miranda, Schaefer e Medeiros (2012, p. 5) citam ainda em seu artigo algumas
características dos ser jornalista de acordo com o ponto de vista de Beltrão (1960), para ele a
função última do jornalismo seria a promoção do bem comum. Mas, para isso, aponta ações
como elogiar, explicar, ensinar, guiar, dirigir, examinar os conflitos, propor soluções,
fundamentar ensinamentos, entre outros, como premissas para informar e orientar a
sociedade. ―Todo esse trabalho tem, evidentemente, uma função educativa, visando esclarecer
a opinião pública para que sinta e aja com discernimento, buscando o progresso, a paz e a
ordem da comunidade‖ conforme Beltrão (1960, p. 62).
Pode-se concluir sobre o texto acima segundo os autores Christa Berger; Tavares
Mello (2008, p. 69) que ―a função da notícia é de orientar o homem e a sociedade num mundo
real. À medida que ela consegue isto, a notícia tende a preservar a sanidade do indivíduo e a
permanência na sociedade‖.
Bond (1962) ressalta que a ideia de servir o público reside profundamente nos
preceitos e na prática do jornalismo. De início e acima de tudo, esforça-se em alertar seus
leitores e ouvintes, para o sentido vital dos acontecimentos. Faz isto fornecendo-lhes
informação na forma de seus próprios julgamentos editoriais. Além desta utilidade
fundamental, o jornalismo, em todas as suas formas, fornece uma relação múltipla de auxílios
especiais aos seus clientes, para tornar suas vidas mais completas, mais seguras, mais ricas,
mais saudáveis, mais compensadoras.
A primeira fase do jornalismo foi marcada por tratar da notícia como um produto, para
Habermas (1984), fruto das primeiras atividades capitalistas. A partir desse período empresas
de comunicação não viam o leitor como um simples seguidor, mas sim como um consumidor,
o interesse então, não era mais simplesmente informar.
No entanto, observa-se que na segunda fase houve a retomada de colocar a informação
como foco. Para Carmem Carvalho (2007), o jornalismo era opinativo, literário e o lucro não
era o objetivo principal das empresas. O que começou a mudar novamente na terceira fase
voltando-se para o comercial.
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[...] relacionamos jornalistas a pessoas que prezam pela verdade e se regem por ela.
Nesse sentido, a verdade é um valor extensivo a todos os cidadãos, mas entre os
jornalistas parece pesar mais. Isso não significa que jornalistas sejam mais
verdadeiros que as demais pessoas, mas transgredir nesse terreno provoca
consequências mais graves para esses profissionais. (CHRISTOFOLETTI, 2008,
p.21).
Após a citação acima, Bahia e Rigueira (2009, p. 11) afirmam que ―a qualidade das
informações difundidas pelos meios de comunicação evidencia aos consumidores de
informação a credibilidade das empresas, fator que possibilita que a sociedade identifique
profissionais e empresas éticas ou não. A ética está ligada à vida diária, a qualquer ação de um
jornalista ou de qualquer cidadão, e não está restrita a conceitos extraídos de livros‖.
Jane B. Singer (2014, p. 11) afirma que ―os conteúdos gerados pelo utilizador
trouxeram preocupações tanto legais como éticas. A necessidade de assegurar que materiais
oriundos de fora da redação eram ―legalmente seguros para publicação‖ sempre tomou muito
tempo e muitas energias aos jornalistas‖.
Há alguns ensaios básicos, com as diferentes normas de jornalismo, os códigos de
imprensa que procuram responder à questão relativa às normas que devem guiar o trabalho do
jornalista. Todos esses princípios profissionais exigem que o jornalista respeite a verdade,
informe cuidadosa e confiavelmente o público, verificando a fonte das notícias e corrigindo as
informações errôneas. Embora no momento não se possa discernir nenhum consenso
internacional sobre a ética do jornalismo, é irrefutável a necessidade dessa ética. O objetivo é
evitar que as notícias se distorçam e que os ―jornalistas‖ altamente qualificados utilizem suas
habilidades técnicas para a manipulação (KUNCZIK, 1997).
É preciso abrir um parêntese para citar então, o Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros, onde está previsto na FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) que:
Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito
fundamental do cidadão à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser
informado e de ter acesso à informação.
Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito
fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum
tipo de interesse, razão por que:
I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e
deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica - se pública, estatal
ou privada - e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.
II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos
fatos e ter por finalidade o interesse público;
III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo,
implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão;
IV - a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as
não governamentais, é uma obrigação social.
33
Para Fernanda Vasque Ferreira (2011 p. 2) ―é válido lembrar que no Brasil, existe uma
herança colonial que se estende até os dias atuais e que caracteriza a propriedade dos meios de
comunicação estabelecendo relações de promiscuidade com políticos e empresários‖.
Com isso, Ferreira (2011, p. 3) conclui que ―em um primeiro momento, a mídia
brasileira –principalmente a radiodifusão – está, de todos os modos, cercada por interesses
que, definitivamente, não são os de informar com vistas ao interesse público, muito menos,
está comprometida com a democratização do acesso à informação. O comprometimento que
se tem observado na mídia brasileira quase sempre é com a troca de favores entre políticos,
garantindo em alguns casos, cenários de consolidação política permanente‖, afirma.
Para Roberta Stegalha (2010) a profissão do jornalista é carregada de mitos e
ideologias, e um dos mais marcantes é a ideia de que o jornalismo é um contrapoder em favor
do cidadão. É como se todo jornalista tivesse uma missão com a verdade, e por isso, apenas
refletiria, ou seja, transmitiria, sem distorção, a realidade que o cerca, como se fosse uma
espécie de espelho.
O jornalismo tem o poder de tornar algo verdadeiro alcançando um grande número de
pessoas que levaram aquilo como verídico também de acordo Miranda, Schaefer e Medeiros
(2012, p. 2) ―Se aquilo que "vira notícia" pode se tornar também a realidade construída no
34
imaginário social acerca de diferentes aspectos do mundo, é possível dizer que os valores
divulgados por estas notícias trarão vasto impacto no modo de vida da população, tanto para o
bem, quanto para o mal. É possível, portanto, fazer questionamentos sobre qual realidade
social vem sendo construída sob influência do discurso jornalístico. Na medida em que a
informação jornalística é constituída por profissionais que têm preparação específica para tal
função – os jornalistas –, está neles e no contexto em que trabalham o critério de como se dá a
construção midiática da realidade‖, concluem.
O papel do jornalista é definido como o de um observador inocente, que narra a cena,
o fato que se desenrola a sua frente. Não julga nem acha nada, apenas informa. Mas isso não é
verdade, pois para descrever o que está acontecendo, o profissional faz um recorte da
realidade e o faz de acordo com o seu repertório pessoal e também de acordo com a linha
editorial da empresa em que trabalha (STEGALHA, 2010).
Para o autor Rossi (1994, p. 9) ―a batalha pelas mentes e corações é temperada por um
mito, o da objetividade que a maior parte da imprensa brasileira importou dos padrões norte-
americanos‖. Para ele, salvo nos jornais de cunho ideológico ou partidário a imprensa, de
acordo com o mito da objetividade, deveria colocar-se numa posição neutra e publicar tudo o
que ocorreu, deixando ao leitor a tarefa de tirar suas próprias conclusões.
Ainda sob tal perspectiva, a introdução da televisão no campo do jornalismo poderia
conferir à objetividade o caráter de possibilidade real e não o de mito. Afinal, a câmera de TV
registra, friamente, o que se passa, assim como os microfones captam os sons tais como são
emitidos, afirma Rossi (1994).
O imediatismo presente no jornalismo na web, traz consigo o mesmo objetivo de
imparcialidade e verdade com o internauta. ―O repórter precisa ir atrás dos dados e confirmá-
los antes de publicar na Web ou em qualquer outro veículo jornalístico, seja televisivo,
radiofônico ou impresso. Sentir-se obrigado a noticiar o fato antes que o concorrente o faça é
uma camisa-de-força e, como vimos, pode ter consequências desastrosas‖, afirma Ferrari
(2003, p. 80). Afirma a autora que diz que é nesse cenário virtual que muitos erros são
cometidos por falta de checagem da informação.
As assessorias de imprensa travam uma luta diária com os filtros jornalísticos e, assim,
por meio de edições, ideologias, interesses políticos e da seleção de fatos pelo pauteiro,
muitas vezes as empresas não tem seu lado plenamente contemplado pelos veículos de
comunicação e os leitores ficam à deriva de interpretações tendenciosas, movidas pelas
representações semióticas e discursivas feitas pela imprensa (BORGES E DEBIASI, 2010
APUD WILLIG 2010, p. 7).
35
Como qualquer outro ser, o jornalista tem sua bagagem influenciadora no entanto
carrega consigo a carga da objetividade, veracidade e imparcialidade. Para Alexandre (2001,
p. 120), ―cada palavra, por mais descritiva que pretenda ser, contém uma carga de emoção. A
objetividade da linguagem jornalística ou científica apresenta-se com uma roupagem de
distância, ou em termos emocionais, de imparcialidade‖.
Bond (1962, p. 16) diz que ―a maioria das pessoas vê a imparcialidade como uma
virtude que se esforçam por alcançar‖. O jornalismo vê a imparcialidade como um ideal. Os
melhores redatores e os melhores jornais procuram evitar a parcialidade deliberada e
intencional. É hoje uma prática generalizada permitir que as partes contrárias exponham suas
razões. O ideal de imparcialidade é alcançado pelo jornalismo que evita erros,
tendenciosidade, preconceitos e sensacionalismo. No entanto, há autores que defendem a não
neutralidade na prática de se comunicar. Onde um lado sempre será favorecido em detrimento
a outro, como Traquina (2005) que afirma não existir imparcialidade na prática do jornalismo.
O autor Cláudio Abramo (1988, p. 109), reflete que a ética no fazer jornalismo não
está associada apenas ao profissional, mas sim ao cidadão que ele é:
Onde entra a ética. O que o jornalista não deve fazer que o cidadão comum não deva
fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do
outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e
como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter
opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos
eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O
jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do
cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista.
Não confere a esse tipo plural menos ou mais democracia e muito menos igualdade.
Vale a reflexão se isso não é apenas um ―excesso de vozes que fará calar o diálogo entre as
pessoas e restringir ainda mais o espaço para o debate democrático, conclui Seabra (2002).
De acordo com Maria Emília Tavares Varela Cavalcanti e Manoel Pereira da Rocha
Neto (2014, p. 2) ―O crescimento e a popularização da Internet, aliados às tecnologias e
desenvolvimento dos meios digitais, contribuíram para uma mudança no modo de fazer
jornalismo no mundo. O cidadão comum, que, antes, não tinha acesso às redações
jornalísticas, agora, pode produzir notícias e influenciar no conteúdo de um veículo de mídia‖.
Para os autores ainda ―a partir do início dos anos 2000, essas mídias passaram a
permitir, ainda mais, a participação da sociedade na produção de notícias. Agora, o
consumidor da informação, que, antes, era passivo, passou a ter um papel de destaque, tanto
37
em questões sobre o feedback que está sendo apresentado, quanto na própria produção desse
conteúdo‖ (CAVALCANTI E NETO, 2014, p. 5).
Para Hérica Lene (2014, p. 4) ―o jornalismo trabalha, sobretudo, com proposições a
serem consideradas verdadeiras pelo público, ou seja, verídicas (credíveis)‖.
Com isso, Liriam Sponholz (2009, p.67) diz que ―os fatos oferecidos pelo jornalismo
podem ser credíveis, mas não são a realidade em si, contêm valores e via de regra não se pode
dizer a priori se são falsos ou não, porque não foram averiguados validamente pelo
jornalista‖, diz o autor.
Para tanto de acordo com Lene (2014, p. 4), isso ocorre ―porque a captação de
informações e de investigação para formatar uma narrativa noticiosa está limitada às rotinas
de produção jornalística (Newsmaking)‖.
O jornalista é livre para escrever sua história e colocar em suas linhas aquilo que
apurou dos fatos. Para Bond (1962, p. 300) ―embora a liberdade de imprensa exista sob
garantia constitucional, nenhum jornal é livre para fazer afirmações falsas, maliciosas ou
difamatórias sobre qualquer pessoa, grupo ou instituição, quer intencionalmente, quer por
negligência ou acidentalmente‖.
De acordo com a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS apud
GOMES (2004, p.32):
Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.
Para Rossi (1994, p.60), há ainda a liberdade que por vezes é privada pelo próprio
veículo aos jornalistas. ―O fato é que parece haver mais liberdade de empresa do que
liberdade de imprensa‖. Logo, os donos dos meios de comunicação são livres para veicular o
que lhes parece mais conveniente, mas os jornalistas que trabalham nesses veículos têm uma
liberdade incomparavelmente menor.
Bucci (2000, p. 33) ressalta ainda o papel do jornalista como formador de opinião:
38
Esta liberdade de que o jornalismo em todas as suas formas hoje goza foi
penosamente conquistada. No passado, a Autoridade, tanto civil como eclesiástica,
possuía meios de obstar todas as manifestações, de fato ou de opinião, que não
coincidiam com seus desejos, pois temia o preceito bíblico: ‗A verdade vos fará
livre.
Com a citação acima diz se que ―[...]ao jornalismo cabe perseguir a verdade dos fatos
para bem informar o público, que o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um
negócio, que a objetividade e o equilíbrio são valores que alicerçam a boa reportagem‖.
afirma Bucci (2000, p.30).
A liberdade de imprensa está para o povo assim como o povo está para ela, pois cabe
ao leitor extrair suas conclusões dos fatos apresentados. Para Bond (1962, p. 16), ―a liberdade
da palavra e imprensa não é um fim por si mesma‖. Ela simplesmente torna o povo capaz de
expressar livremente seu pensamento, e faz nascer, todos os matizes de opinião, a melhor
decisão possível.
Na Constituição Brasileira de 1988 no Art. 220, fica garantida a liberdade de
expressão e de informação: ―A manifestação de pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veiculação não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição. (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, 1988,
p. 144)‖.
Partindo do texto acima onde descreve alguns pontos da liberdade de imprensa, vale
salientar algumas consequências do mau uso da liberdade de imprensa. ―A agressão ao bom
39
nome de uma pessoa pode ser de caráter injurioso ou caluniador‖ diz Bond (1962, p. 302). De
acordo ainda com o autor, ―para o redator de jornal, a injuria pode ser definida como qualquer
difamação, quer escrita, quer impressa, que falsamente sugira que uma pessoa tenha cometido
um crime; ou que tende a injuriá-lo em seu negócio ou profissão.
Ressalta Bond (1962, p. 302):
De tudo isso podemos fazer a generalização de que uma matéria de jornal pode ser
injuriosa a alguém se seu feito obvio é levar os que a leem a pensar mal daquela
pessoa. Não importa o que o jornal tencionava dizer: a questão é o efeito, sobre os
leitores, mais do que a matéria realmente disse.
Bond (1962) ainda afirma a necessidade de compreender que um boato não é um fato.
E que a publicação de um boato tem o mesmo efeito de uma acusação direta. Ele ainda
complementa afirmando que ―sempre que possível, apresente os dois lados da história.
Quando são feitas acusações contra um indivíduo, e quando é apresentado apenas um aspecto
do caso, o repórter deve tentar dar à pessoa acusada uma oportunidade de manifestar-se na
mesma ocasião em que as acusações são publicadas.
por meio da razão (clareza, ordenação, rigor e precisão de pensamentos e palavras afima
Vilalba (2006).
Para Matos (1998 p. 31) ―na obra Atualidade da Filosofia, Adorno escreve que o
conteúdo de verdade da palavra comunicativa não coincide com as formas e virtualidades do
inteligir por parte do Sujeito‖.
Filósofos Frankfurtianos como Horkheimer e Adorno diante a teoria critica,
acreditavam que os produtos midiáticos criados para a satisfação do público pertenciam à
indústria Cultural e a partir disso esse conteúdo servia como um controle social e ideológico
imposto as pessoas que recebem o conteúdo. Para esses estudiosos, o indivíduo recebe a
mensagem de forma influenciadora e passiva (WOLF, 2015).
Para Adorno (1967, p. 6) a essa sociedade controlada ele diz que ―o consumidor não é
soberano, como a indústria cultural queria fazer crer, não é o seu sujeito, mas o seu objeto‖.
O produto cultural seja ele a informação, de acordo com os pensadores da indústria,
tem um efeito de anular aquilo que o individuo acredita, sobrepondo ao que lhe é passado.
Wolf (2015, p. 37) ainda afirma que ―influência da indústria cultural, e todas as suas
manifestações, leva a alterar a própria individualidade do consumidor, que é como o
prisioneiro que cede à tortura e acaba por confessar seja o que for, mesmo aquilo que não
fez‖.
Schulman (2000, p. 182) afirma que ―Stuart Hall vem para quebrar os paradigmas da
tradicional recepção das mensagens, com o estudo‖. Para ele os estudos rompem com a ideia
de que textos da mídia são suportes transparentes do significado e que Hall acredita que há
sim dominação e manipulação do meio para com o receptor, no entanto, a mensagem é plural
e a notícia pode não ser seu próprio real, interpretada negociadamente ou de total oposição
pelo receptor.
Para Stuart Hall (2003, p. 366) ―Ser perfeitamente hegemônico é fazer com que cada
significado que você quer comunicar seja compreendido pela audiência somente daquela
maneira pretendida‖. Segundo o estudioso ainda é ilusório ―um tipo de sonho de poder –
nenhum chuvisco na tela, apenas a audiência totalmente passiva‖.
Após estudos sobre o modelo de encoding e decoding desenvolvido por Hall, Porto
(2003, p. 10) afirma que ―[...] uma mensagem pode ser codificada com um ―significado
preferencial‖ particular e a audiência pode decodificá-la com um significado diferente ou
oposicional‖.
41
Ainda sobre as afirmações acima, Jean Henrique Costa (2012, p. 115) diz que ―Desde
modo, não é possível que os meios de comunicação de massa consigam moldar a opinião e o
sentimento de todas as classes populares‖.
Para Porto, (2003, p. 9) ―teorias sobre o processamento da informação têm
demonstrado que as formas pelas quais os indivíduos atendem e processam a informação da
mídia são variadas e complexas‖. A mensagem pode ser ou não compreendida pelo receptor
da forma como o emissor quer, isso dependendo da construção de significados estabelecidas
durante o processo da mensagem que varia mediante à experiência acumulada de cada
individuo, ―tratando os membros da audiência como agentes que interpretam ativamente o
conteúdo da mídia‖, como ainda afirma Porto ao explanar sobre a teoria da recepção adotada
por estudioso Stuart Hall.
Além da teoria da recepção, teorias como a da persuasão ainda discutem sobre o ciclo
de comunicação entre o emissor e receptor, indicando uma relevância da mensagem sobre a
audiência, onde o emissor pode-se obter efeitos desejados sobre o receptor se o conteúdo se
adequar à suas características pessoais. Para tanto, Wolf (1999, p. 33) compreende que,
―persuadir os destinatários é um objetivo possível, se a forma e a organização da mensagem
forem adequadas aos fatores pessoais que o destinatário ativa quando interpreta a própria
mensagem‖.
De Fleur (1970, p. 122) apud Wolf (1999, p. 33) conclui esse pensamento afirmando
que,
[...] as mensagens dos meios de comunicação contém características particulares do
estímulo que interagem de maneira diferente com os traços específicos da
personalidade dos elementos que constituem o público. Desde o momento em que
existem diferenças individuais nas características da personalidade dos elementos do
público, é natural que se presuma a existência, nos efeitos, de variações
correspondentes a essas diferenças individuais.
É possível enquadrar até o tema proposto neste estudo com a imprensa marrom, visto
que esse termo está ligado diretamente a algo irregular e ao seu histórico de sensacionalismo,
afirma o autor Danilo Angrimani (1994, p. 22-23), onde descreve também que ―imprensa
marrom, ainda é amplamente utilizada quando se deseja lançar suspeita sobre a credibilidade
de uma publicação‖. Descreve também o autor que ―no Brasil, quando se quer acusar
pejorativamente um veículo, o termo utilizado é ―imprensa marrom‖, possivelmente uma
apropriação do termo francês para procedimento não muito confiável‖. Conclui Angrimani
que ―o sensacionalismo e credibilidade se repelem, são incompatíveis‖.
Marcondes Filho (1986) critica a imprensa sensacionalista:
42
A partir dos pensamentos acima pode-se citar uma outra teoria, a do espelho que
também conversa com o jornalismo. De acordo com essa teoria o jornalismo reflete a
realidade.
O ethos dominante, os valores e as normas identificadas com um papel de árbitro, os
procedimentos identificados com o profissionalismo, faz com que dificilmente os membros da
comunidade jornalística aceitem qualquer ataque à teoria do espelho, porque a legitimidade e
a credibilidade dos jornalistas estão assentes na crença social de que as notícias refletem a
realidade (TRAQUINA, 2004).
Bruno Bernardo de Araújo (2011, p. 8) apud Traquina (2004) diz que:
ao dar vida textual a um acontecimento, o jornalista incorpora, mesmo
involuntariamente, marcas da sua subjetividade, através de um processo de
mediação, que pressupõe a existência de uma construção discursiva. Do mesmo
43
Segundo Jenkins (2009 p. 45) ―Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os
resultados podem ser maravilhosamente criativos; podem ser também uma má notícia para
todos os envolvidos‖ .
Do mesmo modo que Stuart Hall defendia a existência de uma comunicação plural,
Renata Carvalho da Costa (2009 p. 2) diz que ―O jornalista deve estabelecer e evidenciar a
verdade ou o que julga ser a verdade. Ele não pode defender uma causa, prosseguir uma
demonstração a despeito dos testemunhos. A verdade exposta pelo jornalista é construída a
partir da pluralidade de vozes que ele deve considerar para concretizar sua reportagem. O
discurso jornalístico é necessariamente plural‖, afirma.
A comunicação sofre distorções por alguns motivos como afirma Bucci (2000 p. 176),
que existe manipulação, existe. Ela nada mais é que a distorção deliberada da
informação. Movidos por interesses escusos, há donos de meios de comunicação e
funcionários da cúpula das empresas que patrocina, mentiras para atingir objetivos
particulares. A manipulação agride o cidadão e deve ser combatida, como é óbvio.
O poder da manipulação vem sendo exacerbado tanto pelos críticos como pelos
aproveitadores. Os primeiros enxergam acordos de cúpula secretos para dominar
corações e mentes – expressão que lhes é muito cara – sem que os corações e mentes
se dêem conta do que que acontece à sua volta. ...mas o seu método de abordagem
costuma vir marcado por uma postura essencialmente autoritária, baseada na
subestimação da inteligência alheia. Engana-se. Há mais contradições nas páginas de
um jornal do que jamais sonhou sua chã filosofia. Já os aproveitadores querem tirar
vantagem da possibilidade de manipulação: acreditam que podem enganar
ininterruptamente os cidadãos com suas mentiras recorrentes.
Partindo do principio discutido acima é possível analisar o jornalismo por diversos pontos
de vista: o das teorias. A seguir, é possível avaliar um exemplo de como a comunicação em
prol ao cidadão é interferida por meio de seleção e edição dos fatos, de acordo com Silva
(2002, p. 52):
Cada vez mais os meios de comunicação de massa interagem com seus públicos,
dedicando-lhes atendimentos e encaminhamentos de soluções junto às autoridades
públicas ou junto ao setor produtivo. São os programas de rádio voltados para as
reinvindicações de ouvintes e associações, são as colunas e até as páginas dedicadas
a queixas e denúncias, são os programas de TV que angariam donativos para
desafortunados e cirurgias para pessoas que não têm acesso a tratamentos. Algumas
dessas programações até se insinuam como um refúgio dos pobres, injustiçados e
desassistidos. Lamentavelmente, não constituem um genuíno serviço público, mas
uma demonstração de quanto os veículos podem ser ―sensíveis‖ às demandas
46
sociais. Antes, tiram proveito da miséria social. Eles não revelam, por exemplo,
quantos casos chegaram à produção e deixaram de ser atendidos para cada situação
que é exibida e ―solucionada‖. Em outros termos, para cada um dos contemplados
nesse ―baú da felicidade‖ da caridade mediática há numerosos pedintes que jamais
serão alvo de nenhuma ajuda. A seletividade é uma condição própria da mídia, cujas
escolhas sempre obedecem a critérios de noticiabilidade, audiência ou pura
espetacularização. Até mesmo as cartas de leitores são submetidas a uma triagem e a
uma edição.
Kunczik (1997, p. 250) ainda diz que ―as percepções da realidade por parte de um
povo são formadas de modo decisivo pelos critérios de seleção de um único grupo
ocupacional: os jornalistas‖. O autor ainda concluí que ―realidade dos meios de comunicação‖
significará a imagem do mundo criada na cabeça dos receptores como resultado dos critérios
de seleção de notícias dos jornalistas‖, afirma.
O nosso jornalismo, na maioria das vezes, é feito por jovens que creem produzir as
notícias para prestar um serviço de conhecimento, de modo a contribuir para a ética
social, para o direito de todos os povos. Esta é uma bela vocação. Porém todos os
jovens, enquanto não acordarem, são eles próprios os instrumentos da manipulação.
Isto é, um jornal se escreve para fazer crer daquele modo (MENEGHETTI, 2011,
informação verbal).
É possível fazer um paralelo entre o jornalismo negativo, que será apresentado abaixo
com a construção de conteúdos por vezes vazios e inverídicos, pois a notícia sensacionalista
presente neles chocam são as que geram compartilhamento. Wilke (1994) apud
Kunczik,1997, p. 246, diz que ―As más notícias são boas notícias‖ e explica essa afirmação:
As notícias entram nos canais noticiosos mais facilmente por que satisfazem melhor
ao critério da frequência. Existe na vida uma assimetria básica entre o positivo, que
é difícil e demorado, e o negativo, que é muito mais fácil e rápido. (WILKE, 1984
apud KUNCZIK, 1997, p. 246).
De acordo com Wilke apud Kunczik (1997, p. 247) ―as notícias negativas são mais
inesperadas do que as positivas. No entanto, a proposta segundo a qual quanto mais violento
for um fato mais provável será que ele chegue ao noticiário da televisão‖. Mesmo que a
48
citação acima cite a televisão, o exemplo pode facilmente se encaixar nas redes sociais,
espaço onde memes e posts se proliferam.
Neville Jayaweera (1986, p. 216) diz que o sensacional, o espetacular, o anormal e o
negativo não convêm. ―Esses valores parecem ter surgido mais como produto de uma
tentativa de satisfazer às necessidades subjetivas de uma sociedade individualista e de ritmo
veloz do que ao desejo de representar uma realidade precisa e objetiva‖. Singer (1997, p. 80)
afirma que: ―A Internet trabalha com alguma informação falsa que é apresentada como sendo
real. Julgo que a questão maior que isso levanta é: quem é que pode/deve ser
responsabilizado?‖
Segundo Meditsch (1992, p. 19) ―enquanto a forma do jornalismo evolui, seu
conteúdo muitas vezes fica em segundo plano na atenção dos jornalistas e, com isso, estaciona
e até involui. Há certo amortecimento na capacidade de o Jornalismo interpretar o mundo, e
isso não passa desapercebido do público‖, afirma.
Meditsch (1992, p. 19) aponta ainda alguns fatores que contribui para o regresso do
jornalismo como conteúdo:
Não é difícil encontrar culpados por esse fracasso. Os interesses políticos e
comerciais da mídia, impedindo muitas vezes o trabalho honesto e competente de
seus profissionais, seguramente são os primeiros. Mas os próprios jornalistas, nas
vezes em que têm alguma chance, não demonstram estar preparados para o desafio
de reverter esse processo. A responsabilidade aqui não cabe apenas a eles, mas
também às escolas encarregadas de sua formação.
A tão sonhada autonomia jornalística tem sido atropelada pela intervenção das forças
do mercado de anunciantes e do mercado de leitores no campo jornalístico. Este processo tem
início com a formação da indústria cultural, advindo do crescimento, diversificação e
profissionalização da produção dos bens culturais (CHAISE, 2006).
De acordo com Vilalba (2006, p. 49) ―as ações comunicacionais podem ajudar a
atestar a verdade e a universalidade de um sentido ao confrontá-lo com outros sentidos,
desenvolvendo, no ser humano, uma postura crítica com relação à realidade. Entretanto, as
ações comunicacionais também podem ser utilizadas para ―mascarar‖ uma pretensa razão.
Mecanismos de controle podem ser utilizados para limitar o acesso de um sujeito
comunicador aos sentidos do ―outro‖ e a aplicação desses mecanismos muitas vezes ocorre
sem que os sujeitos comunicadores afetados percebam‖.
[Passamos] do conceito de «manipulação» (bias) [entendida como] a distorção
deliberada das notícias com fins políticos ou pessoais, conceito que, regularmente limita a
perspectiva daqueles que criticam os mass media, para as distorções voluntárias e a breve
49
Por meio das ideias analisadas anteriormente no presente estudo, é possível ver uma
nítida relação entre o jornalismo e o compromisso com a verdade. No entanto, um fenômeno
inverso à essa ligação mais conhecido como pós-verdade vem tomando espaço principalmente
no campo digital. Esse termo esse foi escolhido no ano de 2016 pelo Dicionário de Oxfort
como a palavra do ano, significando - ―relativa a circunstâncias em que fatos objetivos são
menos influentes na formação da opinião pública do que emoções e crenças pessoais".
(ENGLISH OXFORD LIVING DICTIONARIES, 2016).
O termo pós traz uma grande relevância ao significado do termo completo, de acordo
com Poletize (2017), ―a explicação da palavra pós-verdade de acordo com o Oxford é de que
o composto do prefixo ―pós‖ não se refere apenas ao tempo seguinte a alguma situação ou
evento – como pós-guerra, por exemplo –, mas sim a ―pertencer a um momento em que o
conceito específico se tornou irrelevante ou não é mais importante‖. Neste caso, a verdade.
Portanto, pós-verdade se refere ao momento em que a verdade já não é mais importante como
já foi‖.
De acordo com o recente estudo das autoras Jessica de Almeida Santos e Egle Müller
Spinelli (2017, p.2), o termo pós-verdade ―se encaixa perfeitamente em um mundo em que
mentiras, rumores e fofocas se espalham velozmente, em um cenário propício para a formação
de redes cujos integrantes confiam mais uns nos outros do que em qualquer órgão tradicional
da imprensa‖.
Para elas, isso ocorre devido ao fato da grande criação de conteúdo realizada pelos
próprios usuários que antes só o consumiam ―na terra da era digital com informações e
escolhas infinitas, as pessoas procuram criar seu próprio ambiente de mídia pessoal em
busca de conteúdos [...], afirmam Almeida Santos e Spinelli (2017, p. 2).
Na mesma direção das autoras FARHAD MANJOO (2008, p. 2), acredita que o
indivíduo cria seu próprio mundo e com isso a sua verdade indo a uma direção oposto a uma
versão contraditória ao que acredita ser verdade, ele ainda afirma que:
51
O indivíduo apropria-se da sua própria verdade como aponta a plataforma digital Vaza
Falsiane (2018, p. 10),
se um texto diz algo que você sempre quis ouvir, e parece provar definitivamente
suas opiniões, há uma chance grande que você queira que todo mundo tenha acesso
a essa história e reconheça que você estava certo. Você compartilha o texto e marca
meio mundo para provar que estava certo.
Ainda para Elisa Cristina Delfini e Marcela Gaspar Custódio (2018, p. 3), o conceito
de pós-verdade refere-se ―aos eventos em que a opinião pública e os comportamentos são
orientados mais pelos apelos emocionais, falaciosos ou subjetivos, afirmados pelas suas
convicções pessoais, do que em fatos verídicos e atestados‖, Carlos Castilho (2016) aplica o
termo à ―um fenômeno que já começou a mudar nossos comportamentos e valores em relação
aos conceitos tradicionais de verdade, mentira, honestidade e desonestidade, credibilidade e
dúvida‖.
Na era da pós verdade, as versões ganharam mais importância do que os fatos, o que
não é bom e nem mau. É simplesmente uma realidade. O que chamamos de fatos, na
verdade são representações de um fato, dado ou evento desenvolvidas pela mente de
cada indivíduo‖ (CASTILHO, 2016).
As notícias falsas mais disseminadas como o termo Fake news é um produto da pós-
verdade e de acordo com Hunt Allcott e Matthew Gentzknow (2017, p.213), a definição de
fake News é ―notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsas, podendo enganar
os leitores‖. Eles ainda dizem que as fake News são de fácil consumo, ―porque os
consumidores podem desfrutar de notícias partidárias‖, e ainda complementam que: ―nós
conceitualizamos notícias falsas como sinais distorcidos não correlacionados com a verdade‖.
Aponta Politico Magazine (2016), que as notícias falsas não nasceram apenas no
cenário digital nos atuais dias e sim ao mesmo tempo em que as demais notícias começaram a
―decolar‖, momento em que a prensa móvel de Gutenberg possibilitou isso. No entanto,
naquela época as fontes de verificação da noticia segundo ele não tinham um ― conceito de
ética ou objetividade jornalística‖, de acordo com o autor, apenas ―no século 17, historiadores
começaram a desempenhar um papel na verificação das notícias, publicando suas fontes
verificáveis nas notas de rodapé‖.
De acordo com as autoras Almeida Santos e Spinelli (2017, p. 4), ―no cenário de pós-
verdade, as fake news ganham espaço nas redes sociais, preocupam a grande mídia no
Brasil e podem manchar ainda mais a reputação das instituições jornalísticas no país.
De acordo com levantamento do Grupo de Pesquisa‖
53
Um boato cresce como uma bola de neve: começa pequeno, vai ganhando tamanho e
fica cada vez mais difícil de conter sua difusão. Se uma quantidade grande o
suficiente de pessoas acreditar em algo e resolver passar isso para frente, essa
avalanche pode acabar soterrando o nosso espírito crítico: afinal, se fosse falso,
porque tanta gente. [...] O maior problema da reação em cadeia é que, uma vez que
esses boatos são disparados e compartilhados massivamente, fica quase impossível
conseguir negá-los. Isso acontece porque nem sempre a mentira tem pernas curtas -
e poucos reconhecem suas mancadas.(VAZA FALCIANE p. 9- 10).
Visto que o receptor não busca mais pela informação apenas pelos meios tradicionais
como relata Poletize (2017) ―o jornalismo sempre foi o canal que disseminava as notícias e
conteúdos às pessoas, seja a respeito da sua própria comunidade ou sobre o mundo. Hoje há,
porém, um ruído na relação entre os jornalistas, os meios de comunicação tradicionais e o
público. Em alguns casos, o público não quer mais ser informado por apenas o que uma
emissora de TV, de rádio ou jornal impresso têm vontade de veicular‖.
Em seu texto sobre a compreensão da informação diante o cenário atual, Sara
Mendonça Poubel de Oliveira (2018, p.6) entende fake News por: ―informações falsas no
formato de notícias, veiculadas em grande parte na internet, mais especificamente em redes
sociais, como por exemplo o Whatsapp‖. Concluindo que ―considera-se, então, uma parcela
de culpa ao jornalismo pela proliferação de mentiras e imprecisões nas mídias e a
negligência em relação aos imperativos de qualidade, os quais ferem o maior patrimônio da
mídia: a credibilidade‖ (ALMEIDA SANTOS, SPINELLI, 2018 p. 11).
Gabriel Itagiba (2018, p. 3-4) explica como ocorre parte da disseminação de notícias
falsas dando o exemplo:
O usuário X é contra o partido Y, que está na presidência do País. Diariamente, X
expressa sua opinião usando hashtags como #foraY ou #vazaY. Diversos robôs
controlando perfis falsos são programados para varrer as redes sociais em busca de
usuários que utilizam as hashtags mencionadas. Após a identificação, bots executam
o resto de sua programação, enviando mensagens falsas sobre o partido Y para o
usuário. O usuário então passa a compartilhar essas informações com seus amigos.
Ainda de acordo com Almeida Santos, Spinelli (2017, p. 5), ―os sites que difundem
notícias falsas mantêm-se firmes na produção de conteúdos graças aos cliques da
audiência, e a divulgação de fake news acaba sendo incentivada pela publicidade‖.
Com a lista de definições detalhadas por Rosa Nívea Pedroso (1983) abaixo é possível
fazer uma ligação entre o sensacionalismo e a Fake News observando algumas características
presentes ao identificá-las:
De acordo com Bourdieu (1997, p.144) apud Santos (2011, p. 34), ―os profissionais
desse campo que se deixam pautar pelo sensacionalismo, cujo principal objetivo é a
audiência, deixam a ética de lado em razão das tensões exercidas pelo campo econômico
sobre o ideológico‖.
Ao assunto é possível fazer uma ligação sobre a sociedade do espetáculo discutida por
Guy Deboard onde o autor diz que: ―O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma
relação social entre pessoas mediada por imagens.‖ (DEBORD, 1997, p.14).
Ele ainda complementa discutindo que:
O instinto da verdade não é menor hoje, na era da nova mídia e das fontes
proliferantes, do que era antes. Mais interpretação pode acabar em cacofonia e
desviar a atenção do leitor para o lado mais superficial da verdade, o nível que deve
ser parte do processo de seleção depois que os fatos foram estabelecidos. É um
erro passar ao estágio interpretativo antes de apurar o que realmente aconteceu. Em
lugar de correr para acrescentar contexto e interpretação, a imprensa precisa se
concentrar na síntese e na verificação. Que tire fora o rumor, a insinuação, o
insignificante e engraçadinho e se concentre no que é verdadeiro e importante em
uma história. À medida que os cidadãos encontram um grande fluxo de dados
– e não menos – fontes identificáveis para verificar aquela informação,
apontando o que é mais importante para saber e descartando o que não é.
(KOVACK; ROSENSTIEL, 2003, p. 77)
Para tanto é preciso uma conscientização da audiência que de acordo com estudos
teóricos acimas citados, deixou de ser considerada passiva, com isso Corrêa e Custódio (2018,
p. 3) apontam que há ―[...] urgente necessidade de desenvolver habilidades para o acesso e uso
da informação a fim de distinguir verdadeiras e falsas, bem como adquirir uma maior
consciência social em relação à responsabilidade cidadã de replicar informações verídicas
advindas de fontes consideradas fidedignas‖.
―O debate público poderia ser mais bem resolvido se as pessoas, ao lerem um texto,
prestassem atenção em quem transmite a informação, seja uma pessoa ou uma
organização. E se preocupassem em entender que informar algo novo é diferente de
opinar sobre o significado desse algo novo. E quando um autor traz elementos para
opinar ou analisar não significa que defende que seu posicionamento seja a verdade
absoluta (até porque isso não existe), mas a interpretação de fatos que ele achou
mais cabível. A questão, portanto, não é apenas os interesses de quem chama de
"falso" tudo o que é divergente de sua ideologia ou que distorce conteúdos na
internet. Até porque essa situação se repete em todo o espectro político, da direita à
esquerda e envolve uma série de fatores, como a questão do viés de confirmação
(tendemos a chamar de verdade tudo com o qual concordamos e de mentira, tudo o
que discordamos), as bolhas produzidas pelos algoritmos nas redes sociais (que nos
isolam e dificultam o respeito à diferença), entre outros‖ (VAZA FALSIANE 2018,
p. 5 – 6).
Relata Alexandra Martins (2017), diz que um dos objetivos para disseminação das
notícias falsas na internet, são: ―as notícias falsas (ou pós-verdades) são criadas, na maioria
absoluta das vezes, para a obtenção de lucro. Quanto mais visualizações do seu site, mais
cliques e mais ganhos, os quais podem chegar a milhares de dólares. Este mecanismo é
seguido por outras empresas como o Facebook‖, conclui a autora.
Do ponto de vista de um jornalista, Castilho (2016), aponta que, ―a pós - verdade é
talvez o maior desafio para o jornalismo contemporâneo porque ela afeta a relação de
credibilidade entre nós e o público. A nossa atividade está baseada na confiança das pessoas
de que o que publicamos é verdadeiro. Quando uma nova conjuntura informativa interfere
nesta confiabilidade, temos serias razões para nos preocupar, e muito, sobre o futuro da
profissão‖, conclui o jornalista.
Além dos passos acima de como reconhecer uma notícia falsa, autores como Carlos
Affonso Souza e Vinicius Padrão (2018, p.2) identificaram algumas características que sites
propagadores de noticias falsas têm, dividindo eles em quatro categorias: ―(i) os que
intencionalmente buscam enganar através de manchetes tendenciosas; (ii) os de reputação
razoável que compartilham boatos em larga escala sem verificar corretamente os fatos;
(iii) os que relatam de forma tendenciosa fatos reais, manipulando a informação; e (iv)
os que humoristicamente trabalham com situações hipotéticas‖.
Fake News tornou-se assunto de grande relevância visto que cursos foram criados
como base na necessidade de educar o receptor diante essa realidade. O site Vaza Falsiane
(2018), contribui com uma plataforma digital com textos e cursos, no volume 7 do curso é
possível encontrar os ―dez mandamentos para divulgar notícias nas redes sociais‖, sendo eles:
5) Não repassarás informações que não fazem sentido algum só porque você não
gosta da pessoa ou instituição em questão. A disputa entre posições políticas deve
ser baseada em um jogo limpo e não em invenciones.
6) Lembrarás que mais vale um tuíte, um post ou uma mensagem atrasados e bem
checados que algo rápido e mal apurado. E que um número grande de retuítes,
compartilhamentos e ―likes‖ não garante credibilidade de coisa alguma.
7) Não matarás – sem antes checar o óbito.
8) Não esquecerás que a apuração in loco, por telefone e/ou por e-mail precede, em
ordem decrescente
de importância, o chute.
9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, a falha em caso de
divulgação ou encaminhamento de informação incorreta. Errar é humano, pedir
desculpas é divino.
10) Na dúvida, não retuitarás, compartilharás, darás ―like‖ ou passarás adiante
mensagem de coisa alguma. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas e atestas.
Ou seja, se der merda, você também é culpado. E, sim, retuitar, compartilhar, dar
―like‖ e repassar coisa ruim pode dar condenação na Justiça. (VAZA FALSIANE,
2018 p. 9-10).
O curso on-line Vaza Falsiane (2018, p. 10 -11) em seu oitavo módulo esclarece que
―apesar de não existir censura prévia no Brasil, as leis continuam valendo aqui também.
Quem desrespeitar, ofender, caluniar, discriminar ou incitar à violência pode enfrentar
processos, pagar multa e até acabar preso‖.
O conteúdo on-line ainda esclarece que ―aqui no Brasil, delegados já tem defendido
mudanças na lei, e o exército foi consultado para monitorar e combater fake news. No final de
2017, durante a votação da reforma política o Congresso chegou a aprovar uma emenda que
poderia suspender publicações que tratem de "discurso de ódio, disseminação de informações
falsas ou ofensa em desfavor de partido ou candidato". Essa proposta deixa bastante claro o
60
risco de surfar nessa onda de medo contra as fake news: ideias e informações diferentes,
muitas delas bem fundamentadas, poderiam ser removidas por ser consideradas falsas ou
ofensivas. Devido às críticas a essa proposta, que parecia abrir a porta para a censura política
na internet, o próprio autor dessa emenda sugeriu que ela não entrasse em vigor, e o trecho foi
vetado pelo presidente Temer‖.
Sobre a proposta acima Martinez e Junior, (2018 p, 7), discute que, ―o art. 220 da
Constituição reforça tal garantia ao prescrever que ―a manifestação do pensamento, a criação,
a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição‖. No mais, está consignado que ―nenhuma lei conterá dispositivo que possa
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV‖ (§ 1º), sendo
vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística (§ 2º)‖.
61
O caso da vereadora Marielle Franco ganhou espaço nas redes sociais de uma forma
negativa, onde diversas notícias falsas foram criadas sobre seu histórico de vida pessoal e
político como uma tentativa de denigrir a imagem da ativista após sua morte no dia 14 de
março de 2018. Segundo El Pais (2018) Marielle era ―defensora dos direitos humanos e crítica
da atuação de policiais que agem fora da lei‖ o site conta ainda que a parlamentar ―voltava de
um evento no bairro carioca da Lapa quando foi alvo de disparos‖.
Em busca de esclarecer tais boatos disseminados sobre Marielle, alguns sites como o
UOL (2018), publicaram informações para contrastar com as fake News divulgadas sobre a
mesma em sites como o facebook e aplicativos de mensagem. Em sua coluna, ―Congresso em
foco‖ é possível encontrar um breve histórico sobre a vereadora: ―Socióloga com mestrado
em Administração Pública, Marielle Franco nasceu em 27 de julho de 1979 e foi criada na
Maré, complexo de favelas da periferia do Rio. A parlamentar cursou Sociologia na Pontifícia
Universidade Católica (PUC), com auxílio de uma bolsa integral, e concluiu o curso de
mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mulher, negra, favelada e companheira
há 12 anos da arquiteta Monica Tereza Benício, a vereadora se destacava pelo ativismo em
prol das minorias e da militância pelos direitos humanos‖.
O site UOL (2018), ainda disponibiliza os principais boatos criados sobre a trajetória
de Marielle, onde é discutido que a vereadora era ―era ex-mulher do traficante Marcinho VP‖,
―Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho‖, ―Marielle era usuária de maconha‖, ―Marielle
engravidou aos 16 anos‖, ―Marielle defendia bandidos‖.
Informações como as citadas acima ganharam compartilhamento nas redes sociais
sendo replicadas pelos internautas.
62
Assim como o deputado Alberto Fraga, o advogado Paulo Nader, também fez
afirmações sobre a vereadora em sua conta no facebook, levando outra autoridade, a
desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) na
sexta – feira, 16 a comentar o post, fazendo afirmações falsas e negativas sobre Marielle.
Figura 9 - Fake News sobre a vítima foram repassados por autoridades sem checagem dos fatos
Após tal publicação, outros sites como o Ceticismo Político publicou a fala de Marília
em suas redes sociais, propagando os boatos falsos sobre Marielle como verdadeiros, logo
após excluído o post.
A plataforma digital, Ceticismo Político, está entre os dez sites apontados como
disseminadores de notícias falsas. A lista de nomes foi citada por um grupo de pesquisa da
Universidade de São Paulo (USP) e analisada pela Associação dos Especialistas em Políticas
Públicas do Estado de São Paulo (AEPPSP).
De acordo com Isso é notícia (2018), esses sites têm algumas características em
comum, sendo uma delas o anonimato, para eles ainda esses ―não são sites de empresas da
grande mídia comercial, tampouco veículos de mídia alternativa com corpo editorial
transparente, jornalistas que se responsabilizam pela integridade das reportagens que assinam,
ou articulistas que assinam artigos de opinião‖.
1. Foram registrados com domínio .com ou .org (sem o .br no final), o que
dificulta a identificação de seus responsáveis com a mesma transparência que os
domínios registados no Brasil.
2. Não possuem qualquer página identificando seus administradores, corpo
editorial ou jornalistas. Quando existe, a página 'Quem Somos' não diz nada que
permita identificar as pessoas responsáveis pelo site e seu conteúdo.
3. As "notícias" não são assinadas.
4. As "notícias" são cheias de opiniões — cujos autores também não são
identificados — e discursos de ódio (haters).
5. Intensiva publicação de novas "notícias" a cada poucos minutos ou horas.
6. Possuem nomes parecidos com os de outros sites jornalísticos ou blogs
autorais já bastante difundidos.
7. Seus layouts deliberadamente poluídos e confusos fazem-lhes parecer
grandes sites de notícias, o que lhes confere credibilidade para usuários mais leigos.
8. São repletas de propagandas (ads do Google), o que significa que a cada
nova visualização o dono do site recebe alguns centavos (estamos falando de
páginas cujos conteúdos são compartilhados dezenas ou centenas de milhares de
vezes por dia no Facebook).
65
O portal de notícias, IG (2018) em sua página Último Segundo publicou ainda que o
site Ceticismo Política foi um dos dois principais canais de divulgações falsas sobre Marielle,
―até a noite de quinta (22), as notícias falsas divulgadas pelo Ceticismo Político tinham mais
de 360 mil compartilhamentos no Facebook. A página, assim, foi a que alcançou mais
usuários nas redes com os boatos sobre Marielle‖, afirmou.
Figura 10 - Post realizado pelo site Ceticismo Político sobre a Vereadora assassinada Marielle Franco
O site Ceticismo Político atualmente encontra-se no ar, com 7.123 assinantes em seu
blog e com 735 curtidas em sua página do facebook. A página, no entanto havia sido
removida pelo facebook, assim como a conta do escritor responsável pela divulgação dos
boatos de Marielle, Luciano Henrique Ayan, que teve sua real identidade divulgada.
Segundo o site Gauchaz (2018) ―conforme o jornal O Globo, Ayan possui o domínio
ceticismopolitico.org desde novembro de 2017. O site está registrado por uma empresa
dinamarquesa. Antes, ele manteve o Ceticismo Político com outro endereço — o
ceticismopolitico.com, com registro por uma empresa canadense, também usada para
esconder o proprietário real do site‖.
De acordo com a matéria realizada pelo site O Globo – Rio (2018) ―Carlos Afonso
admite pela primeira vez que Luciano Ayan é um "pseudônimo". Diz que o Ceticismo Político
foi criado por ele, e hoje tem outros colaboradores, cujos nomes não são revelados. Afonso
afirma que editou o post ―Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se
envolvia com bandidos e é ‗cadáver comum‘‖, que recebeu mais de 360 mil
compartilhamentos no Facebook e se tornou o link mais influente na campanha difamatória
contra a vereadora assassinada‖.
67
Depois de retirado do ar, o site Ceticismo Político voltou a seu expediente normal, em
declaração na própria página, Carlos Afonso, o então ―Luciano Ayan‖, afirmou que o site
estaria de volta com uma ―perspectiva mais arrojada‖ e que a página do facebook
correspondente ao site teria sido alvo de perseguição.
68
Embora a ideia inicial fosse analisar o conteúdo da matéria publicada pelo site
Ceticismo Político e compartilhado no Facebook, o mesmo foi retirado do ar após denúncias
de fake news, por tanto, será analisado o post de chamada.
A teoria do enquadramento pode ser usada como ferramenta de análise dessa
publicação. Segundo Mauro Porto (2004, p.78) enquadramentos são ―marcos interpretativos
mais gerais construídos socialmente que permitem as pessoas fazer sentido dos eventos e das
situações sociais‖.
Ainda sobre o enquadramento de uma notícia é possível entender que ―na maioria das
vezes, o enquadramento que uma matéria jornalística possui não é percebido pelo público.
Portanto, o conhecimento sobre os processos e critérios de construção da notícia é relevante
para que cidadãos possam interpretar criticamente as informações que recebem e terem mais
segurança para formarem suas opiniões‖, afirma Politize (2018).
Dentro da teoria do enquadramento é possível encontrar os enquadramentos editoriais,
noticiosos e os enquadramentos interpretativos. Para tanto, Porto (2004, p. 96) afirma que:
Outra perspectiva que pode ser analisada de acordo com o post estudado é o
enquadramento noticioso, que de acordo com Porto (2002, p. 15) ―são padrões de
apresentação, seleção e ênfase utilizados por jornalistas para organizar seus relatos‖.
Para analisar o post propagado pelo site Ceticismo Político é necessário que aja uma
análise do enquadramento de conteúdo, que segundo Luana Meneguelli Bonone (2016, p. 82)
―esse é um método de tratamento e análise de informações colhidas dos textos por meio de
técnicas de coleta de dados. Aplica-se a textos noticiosos, quaisquer textos escritos e também
à comunicação oral ou visual pertencente a um texto. O método pressupõe uma leitura crítica
do significado das mensagens, seu conteúdo expresso ou velado, ou seja, o que está dito e
também o que está implícito ou mesmo disfarçado‖.
Ainda é possível encontrar enquadramentos baseados em palavras sendo que o
enquadramento de interesse humano, que é possível ser utilizado para tal análise, ―destaca o
lado emocional envolvendo seres humanos, personalizando e dramatizando a notícia‖, afirma
Price et al. (1997).
Dentro do espaço digital onde aconteceu a disseminação da fake News, foi analisado o
post realizado por Luciano Ayan, então nome fictício de Carlos Augusto de Moraes Afonso.
Em declaração ao portal Catraca Livre (2018) no mesmo mês em que a publicação foi
realizada, Carlos Augusto de Moraes Afonso declarou que ―no último fim de semana, o site
Ceticismo Político, criado por mim (e que hoje possui vários colaboradores) publicou uma
matéria sobre a desembargadora Marília, que fez acusações sobre a vereadora Marielle, que
havia sido assassina na quarta (14)‖. Após confirmar os fatos Carlos Augusto o então Luciano
Ayan afirma que ―o post basicamente apontava o conteúdo da matéria de Mônica Bergamo. O
post, publicado por colaboradores, mas editado por mim, trata as declarações de Marília como
se fossem uma ironia e usa o termo ―quebra de narrativa‖, principalmente ao mencionar o fato
de que foi levantada a hipótese de que Marielle talvez não tivesse sido vítima de um crime
político. Ou seja, são os fatos, acompanhados de uma análise. A desembargadora realmente
fez as declarações que fez [...]‖.
A redação do site Catraca Livre (2018) comentou o ocorrido dizendo que ―o Ceticismo
Político validou as opiniões da desembargadora Marília Neves contra Marielle Franco,
acusando-a de vinculações com o crime organizado. O link foi compartilhado 360 mil vezes
no Facebook, graças a essa dobradinha com o MBL.
72
Posto isso o enquadramento de interesse humano que visa ressaltar o lado da emoção e
da dramatização da notícia, levou o leitor a acreditar no que está escrito, ainda mais aqueles
que não conheciam o histórico e as causas pelas quais Marielle lutava. Sendo assim, o post
prendeu a atenção dos internautas pelas informações sensacionalistas e negativas que
continham levando ao compartilhamento em massa, antes de ser excluído pela plataforma
digital. Para Politize (2018), ―cada notícia é resultado de uma perspectiva sobre um
acontecimento e o relato sobre esse mesmo episódio pode ser feito sob outros pontos de vista
sem que sejam ditas mentiras‖.
74
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível verificar que as palavras descritas acima podem estar relacionadas com o
estudo de caso proposto e com as demais notícias que tem uma aparência diferente do seu real
conteúdo, onde criam uma verdade tão realista a ponto do individuo toma-la como sua
verdade também devido as suas crenças e emoções já existentes.
Para Luiz Costa Pereira Junior (2006, p. 29), ―o trabalho jornalístico seria, assim, o de
explicar o encadeamento de eventos que produziram o fato, não falsear a sua ordem, mas dar
legitimidade a suas escolas ao encadear o evento a outros, também legitimados‖.
De acordo com Christofoletti (2008, p. 15), para que haja um jornalismo melhor é
necessário ―que se formem bem os recursos humanos que povoarão as redações em breve. É
fundamental pensar, discutir e difundir um ambiente de reflexão ética nos processos de
comunicação‖.
75
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