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FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Giulia de Mello Medeiros

JORNALISMO INDEPENDENTE E JORNALISMO TRADICIONAL

a referência na hora da pauta

Porto Alegre
2022
Giulia de Mello Medeiros

JORNALISMO INDEPENDENTE E JORNALISMO TRADICIONAL: a referência na


hora da pauta

Trabalho de Conclusão de Curso, da


Faculdade de Comunicação Social,
apresentado ao Centro Universitário Ritter dos
Reis como requisito parcial para conclusão do
curso de Jornalismo.

Orientador: Prof. Ms. Ricardo Ramos


Carneiro da Cunha

Porto Alegre
2022
AGRADECIMENTOS

Pensei que esse momento não chegaria, mas agora esse é o espaço onde
agradeço todos que torceram por mim nesses sete anos. A emoção de chegar até
aqui não cabe dentro de mim, por isso divido esse espaço com todos que nunca
soltaram a minha mão. Principalmente os meus tios, Andressa e Christian.

Família, vocês não fazem ideia de quantas vezes pensei em desistir, mas
olhava cada um e lembrava a minha missão aqui. Obrigado por ajudar sempre a me
levantar, cada abraço e cada lágrima que me ajudaram a secar. Todos vocês são à
base da pessoa que me tornei até aqui, e ainda tenho muito a evoluir com vocês.

Mãe, no caminho até aqui, eu gostaria de fazer um capítulo só sobre ti.


Gostaria que todos pudessem conhecer um pouco da pessoa que tu és e representa
para mim. Foi você que me ensinou a sonhar. Mãe, eu não cheguei até aqui. Nós
chegamos até aqui.

Não poderia deixar de agradecer as pessoas que sempre também me


incentivaram. Cada amigo que nesse caminho chegou primeiro e me esperou chegar
à linha final. Os que chegaram junto, obrigado por cada apoio e troca de ideias.

Agradeço a cada professor que passou na minha vida acadêmica. Todos me


ensinaram diferentes lições que foram além do jornalismo. Todos vocês são uma
grande inspiração para a profissional que desejo ser. A cada momento vou lembrar
um conselho, uma conversa mais séria, cada abraço, carinho e risadas.

Agradeço os meus avós, Luiza e Antonio. O amor que sinto por vocês não
tem tamanho. Aos meus BonsAvósDrastos, Vanderlei e Rose. Agradeço todos os
dias por ter vocês em minha vida. Obrigado por cada carinho e palavra amiga.

Por fim, agradeço o meu paidrasto que me incentivou a tirar os meus sonhos
do papel e me ajudou a concretiza-los. O Rock in Rio, de 2024 nos espera.

RESUMO
A presente pesquisa possui como tema o jornalismo independente e como ele vem
ganhando espaço na sociedade, por meio de pautas locais. Dentro desse aspecto, a
monografia consiste em abordar como o Grupo Matinal Jornalismo foi pauta das
mídias tradicionais, no caso representada pelo Portal GZH. O objetivo da pesquisa é
analisar o jornalismo independente sendo pauta das grandes mídias. Além disso,
refletir sua autonomia para escrever na hora de selecionar as notícias. Para analisar
a pesquisa, foi estabelecido como processo metodológico o Estudo de Caso de
(YIN,2001), com base no valor-notícia, Teoria de Gatekeeper e “como” e “por que” o
Grupo Matinal Jornalismo deu a notícia primeiro. O estudo foi durante o período de
24 de agosto a 2 de setembro. O intervalo foi selecionado durante o tempo em que o
caso foi investigado e denunciado pelo Grupo Matinal Jornalismo. Para referenciar a
monografia, a fundamentação teórica escolhida foi os autores como YIN (2001),
LAGE (2015), TRAQUINA (2005), FERNANDES (2014), WOLF (2012),
FERRARETTO, MORGADO (2020) e entre outros. O problema de pesquisa a ser
respondido é “O que levou um portal de jornalismo independente a ser referência de
pauta aos grandes veículos tradicionais de comunicação”? Por meio da pergunta é
possível responder que entre um dos motivos é a liberdade editorial que o jornalismo
independente tem.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo Independente; Mídia Tradicional; COVID-19; O


Matinal.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1 - Capa do portal do Grupo Matinal Jornalismo do dia 6 de novembro. ....... 36


Figura 2 - Capa do Portal GZH do dia 6 de novembro. ............................................. 37
Figura 3 - Reportagem do Grupo Matinal Jornalismo, em 24 de agosto de 2021. .... 38
Figura 4 - A notícia foi dada pelo GZH, que faz parte da RBS, afiliada do grupo
Globo. ........................................................................................................................ 39
Figura 5 - Manchete da Reportagem do Grupo de Jornalismo Matinal ..................... 43
Figura 6 - Manchete do Portal GZH sobre replicando o Grupo Matinal Jornalismo .. 44
Figura 7 - Matinal notícia que o Conselho de Medicina irá investigar o caso ............ 45
Figura 8 - Portal GHZ traz novos desdobramentos ................................................... 46
Figura 9 - Grupo Matinal Jornalismo sobre proxalutamida ........................................ 47
Figura 10 - Portal GZH alcança o Grupo Matinal Jornalismo .................................... 48
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

1 O PAPEL DO JORNALISMO NA SOCIEDADE ................................................... 10

1.1 Jornalismo e a Pandemia do COVID-19 .......................................................... 11

2 O JORNALISMO INDEPENDENTE ..................................................................... 17

2.1 Portal Matinal .................................................................................................... 20

3 JORNALISMO DIGITAL ....................................................................................... 21

3.1 As Fake News .................................................................................................... 23


3.2 Informação versus Desinformação ................................................................. 23

4 O GATEKEEPER .................................................................................................. 27

4.1 Critérios de Noticiabilidade ............................................................................. 28


4.2 Valor-Notícia ...................................................................................................... 29

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 34

5.1 Métodos de Análise ........................................................................................... 35

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 50

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 52

APÊNDICE – Entrevista com Pedro Nakamura ..................................................... 55


7

INTRODUÇÃO

No ritmo de constantes mudanças, o jornalismo busca cada vez mais se reinventar e buscar
soluções para eventuais crises. Atualmente, percebe-se que o jornalismo vive uma grande crise de
credibilidade. O caso ocorre devido aos inúmeros veículos que propagam informações falsas ou
simplesmente não cumprem com seu papel principal de informar a população e defender a
democracia.

Em meio a demissões e diminuição das equipes nas redações dos veículos de comunicação
de mídia tradicional, os jornalistas buscaram meios para se reinventar dentro das suas profissões
(GOSH, 2021, p.13):

As manifestações populares de 2013, no Brasil, aumentaram,


significativamente, a visibilidade de veículos autodeclarados independentes.
Além disso, a crise nos meios impressos, o elevado número de demissões e
a insatisfação com a mudança nas rotinas produtivas levou à desvinculação
de muitos jornalistas dos grandes veículos de comunicação. Para se manter
no mercado de trabalho, criar novos nichos foi uma das opções escolhidas
por muitos profissionais da área (...). De acordo com a Associação
Brasileira de Startups (ABStartups), de 2.580 projetos cadastrados na
entidade, em 2014, 5% eram da área de mídia e comunicação.

Com a chegada da tecnologia, o jornalista teve que se reformular no meio de tantas


informações. Com a convergência entre as rádios, televisão, impresso e internet, o jornalista
completo é aquele que faz tudo, ou seja, saiba cobrir a notícia onde ela seja publicada ou noticiada.

No final do ano de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre casos de
pneumonia em Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Desde então, o vírus
SARS-CoV2, nome científico dado ao coronavírus/COVID-19, começou a se espalhar rapidamente.

No ano de 2020, o mundo parou diante da maior crise sanitária dos últimos tempos. A
pandemia de COVID-19 era decretada e a maior fonte de informações chegava através da
Organização. Com os estudos sobre o vírus, maiores informações foram passadas. Os veículos
sérios de comunicação repassaram as informações aos jornalistas.

A pandemia de coronavírus afetou inúmeros setores da sociedade e causou mortes em


escala global. A COVID-19 segue infectando e matando pessoas, porém em menor quantidade, pois
a vacina foi criada e disponibilizada para a população. Porém, as desinformações e fake news sobre
a imunização segue fazendo suas vítimas.

Durante a pesquisa é abordado o que a informação e a desinformação são capazes de fazer.


Nesse momento o ato de informar é de extrema importância para a sociedade. Para MEDINA (2022,
p.22):

(..)A informação é o conjunto de formas, condições e atrações para


públicos - contínua ou periodicamente - os elementos do saber, de fatos, de
acontecimentos, de especulações, de ações e projetos, tudo isso mediante
8

uma técnica especial feita com este fim e utilizando os meios de


transmissão ou comunicação social.

O seguinte trabalho busca mostrar a importância do jornalismo independente como uma


informação mais isenta em meio a tantas fake news. O Jornalismo de Novo Tipo, como é chamado
por alguns autores presentes no trabalho, tem como objetivo fiscalizar e buscar respostas do poder
público. A liberdade editorial permite a cobrança dos órgãos públicos com mais clareza.

No ambiente social das redes, foi o local onde os atuais veículos independentes começaram
a chegar. Por isso, o veículo escolhido para ser analisado é o Grupo Matinal Jornalismo, que é um
portal de notícias feito de forma independente. O Grupo foi escolhido devido à investigação e
denúncia sobre o Hospital da Polícia Militar do RS, que testou proxalutamida sem autorização da
Anvisa em pacientes com COVID-19.

A grande questão a ser respondida durante a monografia é: O que levou um portal de


jornalismo independente a ser referência de pauta aos grandes veículos tradicionais de
comunicação?

Nessa perspectiva, é possível analisar como os jornais independentes buscam e recebem


suas pautas, sendo mais locais e autônomas. Assim, as pessoas poderão entender o processo de
produção de notícia em um portal de jornalismo independente. O jornalismo independente, em sua
maioria, possui a checagem dos fatos antes das postagens e toda ética exigida e estudada na
Academia.

Por isso, o objetivo geral da pesquisa é analisar o jornalismo independente sendo pauta das
grandes mídias. Além disso, refletir seu espaço na sociedade local e sua autonomia para escrever na
hora de selecionar as notícias.

Como objetivo específico é analisar o Jornalismo Independente no contexto da pandemia de


Covid-19 e como os veículos tradicionais o pautaram com base nos valores-notícia.

Neste projeto, será mostrado o jornalismo independente a serviço do público e como levar
mais do seu poder de pauta. Segundo a Organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) no seu 20°
Índice Global de Liberdade de Imprensa, o Brasil ocupa no ranking a posição 110° entre 180 países.
O jornalismo independente pode ser a saída para tirar o país dessa posição.

A monografia será feita com base no Estudo de Caso (YIN), analisando “como” e “por que” o
Grupo Matinal Jornalismo deu a notícia primeiro. A comparação será feita com o Portal GZH.

Nos primeiros capítulos estudados consistirá em analisar o papel do jornalismo na sociedade,


sua história e o dever de levar a informação e defender a democracia. Os autores principais utilizados
ao longo do capítulo são em maioria (TRAQUINA, 2020, e-book), (MEDINA, 2022) e
(FERRARETTO,MORGADO, 2020). Os autores (GOSH,2021), (MICK, CHRISTOFOLETTI E
LIMA,2021) serão usados para explicar o jornalismo independente.
9

Para analisar a mídia tradicional versus a mídia independente, serão utilizados para a análise
(MICK, CHRISTOFOLETTI, LIMA 2021) e (MUNHOZ,2022). Logo em seguida, (PRADO, 2011) será
base para o jornalismo digital. Continuando o estudo, entraremos nas fake news, (Silva Gomes e
Dourado, 2019) serão a base para entender a pós-verdade.

Para explicar os princípios básicos do jornalismo, (LAGE, 2011), (MEDINA, 2022) e


(TRAQUINA, 2005), explicarão Gatekeeper, Critérios de Noticiabilidade e Valor-Notícia.
10

1 O PAPEL DO JORNALISMO NA SOCIEDADE

A sociedade, especialmente os grandes centros urbanos, utiliza o jornalismo


como fonte de informação e entretenimento. ”As notícias predominam no dia-a-dia,
carregadas da dupla função de informar/distrair .”(MEDINA, 1978, p.71). Nos jornais,
seja impresso, online ou portais de notícias, é possível encontrar informações desde
denúncias e investigações até o filme que está em cartaz na semana. Com a
quantidade de informações inseridas no dia a dia devido a velocidade em que as
notícias chegam, a sociedade procura o que é mais importante no momento. Como
conta (TRAQUINA, 2005):

(...) a vida dividida em seções que vão da sociedade, a economia, a ciência


e o ambiente, à educação, à cultura, à arte, aos livros, aos media, à
televisão, e cobre o planeta com a divisão do mundo em local, regional,
nacional (onde está essencialmente a política do país) e internacional”.

Assim não existe tempo para consumir todas, apenas algumas emissoras
oferecem plataformas de streaming para que o consumidor possa ver depois a
programação. ”Poder-se-ia dizer que o jornalismo é um conjunto de “estórias”,
“estórias” da vida, “estórias” das estrelas, “estórias” de triunfo e tragédia”.
(TRAQUINA, 2005). A sociedade está cada vez mais inserida em notícias e
mergulhada em informações, e o jornalista está fazendo seu principal papel para que
isso seja possível: informar e contar histórias. Para (MEDINA,1988, p.25):

A informação é classificada em setores expressos pela divisão tradicional


dos próprios jornais (internacional, nacional, polícia, educação etc.); os
conteúdos difusos, difusos, difíceis de se enquadrar no esquema direto, são
rotulados de “diversos”; e processa-se uma mensuração (centimetragem
das notícias) que vai determinar a importância das informações e sua
análise teórica.

O jornalismo reflete a sociedade no sentido de que o consumimos de notícias


é o que está acontecendo na nossa comunidade. “A imagem que o homem faz de
seu ambiente é moldada por sua experiência” (MEDINA, 1978, p.15). O fazer
jornalismo é ter a consciência de estar levando o conhecimento das informações
para toda sociedade, assim as deixando situadas de tudo ao seu redor.

Para entender a sociedade em que estamos inseridos, é preciso conhecê-lo


como surgiu no Brasil. No livro “O texto da notícia” (LUSTOSA, 1996. p.68), o
jornalismo foi dividido em 5 ciclos a partir de 1808. “Na primeira fase, que vai até
11

1827, as matérias tinham o lado opinativo acentuado por princípios cristãos e


morais. A segunda segue até 1889, com o surgimento das primeiras agências de
notícias e a valorização do texto em ordem cronológica”. Lustosa continua:

(...) é o terceiro e marcante movimento, que vai até 1930. Neste período,
com a proclamação da República, as notícias meramente informativas
passam a ser adotadas. Há uma segregação entre os meios de
comunicação da época, alguns começam a ser perseguidos, outros
fechados, o que causa um aumento da censura. Em contraposição a isso,
os jornais ficavam cada vez mais profissionalizados com tecnologia vinda do
exterior, possibilitando sua melhoria estética. De 1930 a 1969, com a Era
Vargas, as mídias impressas iniciaram a utilização da técnica do lide, que
facilitava a elaboração do texto de forma padronizada. A partir de 1969
prevalece a cultura visual, como a televisão, que passará a moldar jornais e
revistas. A partir de 1980 começamos a verificar a informatização das
redações e a adoção de técnicas mais apuradas de diagramação.

O papel do jornalismo como prática na sociedade está além de levar as


notícias. O jornalismo na sociedade tem o papel fundamental de garantir o maior
bem que a comunidade brasileira conquistou: A democracia. “ O que é o jornalismo
numa democracia?” (TRAQUINA, 2005). O poder de informar, manifestar e repudiar
faz parte da profissão. O que mais deve ser defendido é o livre poder de rechaçar a
censura, que durante períodos mais sombrios do Brasil aconteceu. Segundo Nelson
Traquina (2005), a democracia não pode ser imaginada como sendo um sistema de
governo sem liberdade e o papel central do jornalismo, na teoria democrática, é de
informar o público sem censura:

Os pais fundadores da teoria democrática têm insistido, desde o filósofo


Milton, na liberdade como sendo essencial para a troca de ideias e opiniões,
e reservaram ao jornalismo não apenas o papel de informar os cidadãos,
mas também, num quadro de checks and balances (a divisão do poder
entre poderes), a responsabilidade de ser o guardião (watchdog) do
governo. Tal como a democracia sem uma imprensa livre é impensável, o
jornalismo sem liberdade ou é farsa ou é tragédia. O que é o jornalismo num
sistema totalitário, seja nas suas formas seculares, como, por exemplo, o
fascismo, seja numa forma religiosa, como, por exemplo, o ex-regime dos
Taleban no Afeganistão, é fácil de definir: o jornalismo seria propaganda a
serviço do poder instalado.

1.1 Jornalismo e a Pandemia do COVID-19

Em 11 de março de 2020, uma quarta-feira, o diretor da Organização Mundial


da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, fazia o anúncio que repercutiu em
todos os canais de comunicação para que fosse transmitido ao mundo inteiro. O
Coronavírus² era caracterizado como Pandemia. O que é importante ressaltar que o
12

termo é usado para questões geográficas, ou seja, a Emergência de Saúde Pública


de Importância Internacional (ESPII), maior nível de alerta da Organização, era
aplicado em todos os países. A Covid-19 até aquele momento, segundo a OMS,
havia causado 118 mil casos em 114 países e 4.291 mortes.

Nesse momento, grande parte da sociedade ficou confusa, já que as notícias


não eram bem claras. “É necessário diferenciar sobre o que é e o que não é
informação, porém, quando pensamos em termos de controvérsia – como é o caso
das controvérsias científicas – informações não são exatamente precisas ou
verdadeiras (...)”(VIGNOLI,RABELLO,ALMEIDA,2021, p.9) .Quando o assunto era
informar, no início do decreto de Pandemia, a OMS era o centro de referência
enquanto cientistas da área estudavam e buscavam saber mais do comportamento
do vírus. No mesmo ritmo, seguiam os veículos e profissionais de comunicação em
busca das notícias para passar aos cidadãos de forma objetiva e correta. Da Matta
pag. 11:

Em tempos como estes, jornalistas têm o papel relevante de serem os


responsáveis pelas notícias, cumprindo não só a função de informar, mas
também de selecionar as notícias, divulgando ideias e estabelecendo
relações seja com as fontes, seja com a sociedade ou demais membros da
profissão. Logo, podemos assemelhar o profissional de jornalismo e o
profissional de saúde no aspecto de importância, pois este trabalha
diretamente com os cuidados do paciente que contraiu o vírus, enquanto
aquele vem (re)descobrindo maneiras de informar, conscientizar e prevenir
os cidadãos.

As transformações do jornalista para adaptar-se ao novo tipo de trabalho


imposto pela pandemia não foram poucas e a necessidade de encaixar-se da melhor
forma no trabalho foi necessária. O jeito era trabalhar de casa na maior parte do
tempo, assim evitando as aglomerações nas redações. Alguns viram como um
grande obstáculo essa nova modalidade, o home office. O excesso de trabalho, não
ter hora para realmente parar, o celular que mesmo fora do período de trabalho
segue tocando em busca de alguma dúvida. O Centro Internacional para Jornalistas
(ICFJ, em inglês) – organização-matriz da IJNet, junto com Centro Tow para
Jornalismo Digital da Universidade Columbia para conduziram uma pesquisa com
jornalistas em sete idiomas e chegaram na seguinte conclusão:

Os jornalistas estão sofrendo com o impacto psicológico do jornalismo


durante a crise de COVID-19, descobriram os pesquisadores. O relatório
expõe a extensão do problema: 70% dos entrevistados classificaram o custo
psicológico como seu maior desafio durante a pandemia: a resposta mais
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comum. Mais de 80% dos entrevistados notaram pelo menos um efeito


psicológico negativo, incluindo ansiedade, esgotamento, dificuldade para
dormir e sensação de desamparo.

Para sua segurança, o jornalista foi obrigado a refazer o jeito de fazer


jornalismo. Entrevistas com especialistas, médicos e entre outras passaram a ser via
online, por programas como Skype e outros tipos de chamadas de vídeo. A
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI 1), fez uma matéria sobre
os repórteres durante a Pandemia. Para o repórter entrevistado, Paulo Mario
Martins, “(...) já que tentamos ao máximo, fazer entrevistas por chamada de vídeo -
e, sobretudo, de humanizar a conversa com uma interação mais próxima com o
entrevistado.” O home office dificultou o trabalho do repórter de rua, já que no
desligar das câmeras o lado mais humano e não tão profissional poderia ser deixado
de lado para conversar e até mesmo ter algum contato mais próximo com seus
entrevistados. Um simples aperto de mão era proibido. O repórter também diz, "Eu
sou do tipo que não consigo ver o entrevistado se emocionar ao contar sua história e
não dar um abraço em seguida”. Para algumas pessoas o jornalista é até chamado
de urubu, mas elas não sabem que justamente por estar tão perto a emoção do
acontecimento torna-se até maior.

A pandemia de certa forma aproximou mais os ouvintes dos emissores e vice-


versa, afinal estavam na mesma situação, em home office. “Com parte significativa
da população em confinamento, o vazamento do som de um bebê chorando ou de
um cachorro latindo colocam o jornalista ou o radialista e o seu público em um
mesmo patamar, estreitando laços essenciais ao processo de comunicação.”
(FERRARETTO,MORGADO, 2020). O jornalista se moldou para o bem do bom
jornalismo.

O jornalismo é um serviço essencial, ainda mais quando inserido no meio de


uma pandemia. Na rua, os repórteres ficaram mais expostos ao vírus, principalmente
os que cobriam matérias perto ou dentro de hospitais. De acordo com a Federação
Nacional dos Jornalistas2, até o fim de janeiro de 2021, noventa e quatro

1
Matéria feita pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Disponível em:
<https://www.abraji.org.br/noticias/um-ano-depois-da-pandemia-jornalistas-relatam-desafios-e-danos-
a-saude-mental> Acesso em 26 de out.22
2
Matéria feita pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Disponível em:
<https://www.abraji.org.br/noticias/um-ano-depois-da-pandemia-jornalistas-relatam-desafios-e-danos-
a-saude-mental> Acesso em: 22 de out. 2022
14

profissionais de imprensa morreram por conta do coronavírus. O jornalista foi uma


das profissões mais essenciais, ainda mais em conjunto com a ciência.

Na medida em que descobertas comprovadas pelos pesquisadores tornaram-


se concretas, como o distanciamento, lockdown, o uso de álcool líquido e/ou gel e as
máscaras, o papel principal do jornalista foi destacado, que é levar a informação até
a sociedade em que está inserido ou é representado. “(...) (2) O comunicador
(jornalista e/ou radialista) deve atuar como curador de conteúdo, mediador/
fomentador de interlocução e certificador de acontecimentos e de
posicionamentos”(FERRARETTO,MORGADO, 2020).

Em 2020, primeiro ano da pandemia, o Brasil passou por uma das mais
controversas medidas tomadas pelo Governo Brasileiro. No dia 5 de junho de 2020,
o Ministério da Saúde apagou os dados que revelavam a dimensão da Covid-19 no
Brasil. No dia 6 de junho, um dia depois, o site voltou ao ar, mas somente com
números que registravam apenas casos e óbitos das últimas 24 horas, sem oferecer
um panorama da situação desde o início da pandemia e a situação em cada estado.
A imprensa e os especialistas chamaram o momento de “apagão” 3. O ato foi um
claro momento de tentar silenciar a imprensa e os cientistas com a falta de números,
assim negando a informação à sociedade. Os dados, no início da pandemia, eram
atualizados até as 19 horas, com a entrada do ministro da saúde Eduardo Pazuello,
os números começaram a ser atualizados às 22 horas. Desta forma os telejornais
não poderiam dar os números atualizados. Na época, o presidente Jair Bolsonaro
chegou a dizer “acabou a matéria no Jornal Nacional”4.

Nesse momento, de acordo com “O jornalismo de serviços torna-se mais


relevante do que antes” (FERRARETTO,MORGADO, 2020). Com a atitude do
Governo Federal, a imprensa uniu-se e formou o Consórcio de Veículos de Imprensa
(CVI)5. A parceria foi firmada em oito de junho de 2020 entre os veículos de

3
Material sobre o assunto. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/06/apos-
reduzir-boletim-governo-bolsonaro-retira-dados-acumulados-da-covid-19-de-site-oficial.ghtml> Acesso
em: 20 de out. 22
4 Matéria sobre o assunto. Dísponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/05/dados-
do-coronavirus-bolsonaro-defende-excluir-de-balanco-numero-de-mortos-de-dias-anteriores.ghtml>
Acesso em: 20 de out.22
5
Consórcio de Veículos de Imprensa - Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cons%C3%B3rcio_de_Ve%C3%ADculos_de_Imprensa> Acesso em: 21
out.22
15

imprensa brasileiros O Estado de S. Paulo, G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo e


UOL. O consórcio reunia os dados fornecidos de cada estado brasileiro e calculava
a média diária de casos e óbitos. A tentativa de apagar os dados e confundir a
sociedade com a falta de informação deu errado para quem queria negar a realidade
que a imprensa diariamente levava.

Ao mesmo tempo em que o jornalismo era de extrema importância para levar


a informação, ele passava por mais uma crise. ”Aliás, uma das situações mais
comuns desse acaso nas carreiras jornalísticas são as demissões” (PEREIRA,2018,
PÁG.36). Esse momento, que já aconteceu em outros períodos da nossa história,
voltava as redações. “O jornalismo sobreviveu a muitas crises no passado. E como
ele enfrenta um de seus desafios imperiosos até o momento, é importante refletir
sobre o que a pandemia COVID-19 significa para o jornalismo” (OLIVEIRA,GADINI,
2020, pág.17) . A crise não levou só às demissões, mas também a diminuição na
carga horária, assim diminuindo o salário.

Os jornalistas que cobrem a pandemia COVID-19 enfrentaram vários


desafios e restrições. O desafio mais imperioso até o momento é a falta de
sustentabilidade financeira para garantir a longevidade da produção de
notícias. Em muitos países, jornalistas foram demitidos porque as receitas
de publicidade, que já minguavam antes do início da crise, despencaram. A
decisão do BuzzFeed de descontinuar suas operações no Reino Unido e na
Austrália é um bom exemplo. O Canadian Jewish News, que operou por
mais de 50 anos, também fechou as portas. Além disso, não se deve
esquecer que jornalistas também morreram desta catastrófica pandemia.

A crise sanitária atingiu outros pontos do jornalismo. A pandemia que deveria


ser debatida de forma ampla e clara, em alguns países sofreu restrição. “A censura
também aumentou, com muitos jornalistas sendo presos ou ameaçados de prisão, já
que as autoridades em muitos países lançaram uma repressão aos jornalistas”
(OLIVEIRA,GADINI,2020,). A coibição e censuras foram utilizadas em ditaduras,
quando não podia se falar de algum determinado assunto que não satisfizesse as
autoridades a favor delas. “Um jornalista malgaxe que criticou a forma como o
presidente lidou com a pandemia foi preso e jogado em uma cela. Em uma tentativa
de controlar as informações sobre o coronavírus” (OLIVEIRA,GADINI, 2020). A
desconfiança aumenta quando se trata de veículos de comunicação que visam dar a
reportagem correta e não agradar líderes políticos e seus apoiadores como explica
(ROSSINI,KALOGEROPOULOS, 2021):
16

Cientistas são considerados a fonte de informações mais confiável, mas a


confiança em fontes oficiais varia conforme o posicionamento político dos
respondentes. Enquanto aqueles que se identificam politicamente como de
direita estão mais propensos a confiar no governo federal, respondentes
alinhados à esquerda tendem a desconfiar do governo federal e a favorecer
a Organização Mundial da Saúde e os meios de comunicação como fontes
mais confiáveis de informações sobre a Covid-19.

As fake news, em livre tradução, são notícias falsas. O termo ganhou vida no
Brasil, durante as eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2016. Segundo
(Roxo, Melo, 2018), em uma busca preliminar pelas palavras fake news no portal da
Folha de S. Paulo6 é possível constatar que, só de 01 de janeiro a 26 de abril de
2018, o termo apareceu 257 vezes nas reportagens e colunas do jornal.

A população sendo influenciada pelo seu bem e com as informações corretas


souberam a melhor forma de lidar com o vírus. A quarentena, ou seja, 40 dias,
tornaram-se um ano até chegar a vacina eficaz e mais um ano para grande parte da
população consciente completar seu esquema vacinal. Houve também quem
discordou da mídia, por meio de fake news. As redes sociais serviram muito bem
como fonte de desinformação. (CAMPONEZ,FERREIRA, DÌAZ, 2020, p.11):

Segundo os Repórteres Sem Fronteiras, as notícias falsas infectaram como


o coronavírus os media sociais menos transparentes. Entre 20 de janeiro e
10 de fevereiro, sete por cento de dois milhões de pessoas que estavam a
postar no Twitter divulgaram teorias da conspiração sobre o coronavírus e
setenta e quatro por cento dos utilizados mostraram-se preocupados com
desinformação nas redes sociais. Estes valores ocorrem num contexto em
que um número maioritário de portugueses utiliza meios online para aceder
notícias , um espaço bastante permeável à desinformação (Cardoso,
Paisana & Pinto-Martinho, 2020).

As notícias falsas foram tão rápidas, que se alastraram de tal forma que
muitas vezes os jornalistas tinham que desmentir a informação que tinha dado a
pouco. O remédio que não tinha comprovação científica, que a máscara era
necessária e entre outras verdades em que negacionistas tornam mentiras. O
profissional não teve apenas que buscar o conteúdo correto e lutar por sua
sobrevivência, afinal estava exposto na rua para trazer a informação, mas também
lutar contra ataques feitos ao vivo e pela internet. (FERRARETTO,MORGADO,
2020):

6
Folha de S.Paulo, também conhecida como Folha de São Paulo ou simplesmente Folha, é um jornal
brasileiro editado na cidade de São Paulo e é atualmente o segundo maior jornal do Brasil em
circulação.
17

“(...) (2) Nunca foi tão necessário ter tanta precisão na veiculação de
informações por esses veículos de comunicação. (3) Nunca foi tão
necessário combater fake news. (4) Nunca foi tão necessário cuidar da
saúde de quem produz comunicação”.

2 O JORNALISMO INDEPENDENTE
18

O jornalismo independente é o novo meio que o jornalista encontrou para


enfrentar as crises e demissões. Além disso, a liberdade e autonomia editorial são
um dos principais pontos para o novo tipo de fazer jornalismo. A vontade de
empreender e arriscar-se na comunicação também é um dos fatores que levam o
jornalista ao independente.

A sociedade sempre busca adaptar-se conforme a situação em que está


inserida. As crises econômicas que atingem a população obrigam todos a moldar-se
diante o que está acontecendo. Segundo MICK, CHRISTOFOLETTI E LIMA, nas
últimas décadas, por uma série imprevisível de razões que acabaram por se
combinar, o jornalismo se tornou cada vez menos interessante como negócio. Este
comportamento se encaixa em qualquer condição. A população sofre com o
desemprego e alguns se reinventam, e esse é o caso do jornalismo. Diante dessa
nova realidade os jornalistas criaram um novo tipo de fazer sua profissão e uma
delas é a forma independente.

A crise vem ao encontro com o que pensam MICK, CHRISTOFOLETTI E


LIMA: “Nos últimos anos, ao menos 331 veículos jornalísticos fecharam as portas no
Brasil, sendo 195 jornais impressos. (2021.p.8)”. O jornalismo independente
entende-se também como local ou regional, é ainda muito novo para alguns e pode
gerar desconfiança. Para a autora Cátia Vânia Ferreira da Costa, (...) “o jornal
regional é visto muitas vezes como um produto inferior quando comparado com a
imprensa de âmbito nacional”.

As iniciativas independentes aproximam mais o jornalista da verdadeira


realidade da sociedade. O jornalismo independente é uma espécie de laboratório
para os acadêmicos no início da Academia e para quem já está saindo. O jornalismo
independente não tem compromissos com ideologias e com hierarquias. O novo tipo
de jornalismo mudou a forma de narração e recepção da notícia. Conforme
(GOSH,2021,p.69):

Contudo, foi verificado que o entendimento do que pode ser definido como
jornalismo independente oscila de acordo com a visão de quem o conceitua,
diante das iniciativas nativas digitais. Ademais, ainda é necessário aumentar
e buscar na literatura da academia brasileira, mais bases conceituais sobre
jornalismo independente (...).
19

O jornalismo independente é uma alternativa antiga de informar. Há relatos de


jornais independentes no formato de crítica, da época do Brasil Imperial, como o
Correio Braziliense7.

A luta pela sua sobrevivência e na profissão levou o jornalista a explorar


novos nichos e formas de colocar seu aprendizado a serviço do público local. O
jornalismo independente trouxe informações da sua localidade para toda sociedade.
Desta forma, o jornalista consegue descentralizar as notícias dos grandes centros
urbanos e as levando para, muitas vezes, uma comunidade esquecida pelas
autoridades.

O jornalismo independente levou a informação aonde as mídias hegemônicas


nunca chegaram. O caso da população rural é um exemplo. Para (Medina 1988) nós
temos, ao mesmo tempo, centros urbanizados em fase violenta de industrialização (
caso de São Paulo) e uma comunidade rural onde não passou ainda a eletricidade.
Em sua maioria o independente é contra o jornalismo hegemônico, focado nos
direitos humanos e em grande parte, com um viés político. Para (MICK,
CHRISTOFOLETTI,LIMA, DÍAZ, 2021, p. 8):

Algumas mídias locais, originalmente de propriedade familiar, fundiram-se a


ou foram incorporadas por grupos de mídia ancorados em interesses
econômicos, políticos e/ou religiosos. É o caso do duopólio de mídia que
concentra 85% da informação jornalística em Santa Catarina: os grupos
NSC/Globo e RIC/Record assumiram, publicamente, sua adesão ao
governo Bolsonaro. Tudo isso empobreceu a quantidade e a qualidade da
informação disponível aos cidadãos.

O novo tipo de fazer jornalismo, normalmente começa com profissionais não


satisfeitos com seu local de trabalho, ou que estão fora do mercado de trabalho.
Isso é possível devido a não obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a
profissão. A não obrigatoriedade deu-se em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal
(STF).

A saturação das redações contribui para o surgimento do jornalismo


independente. A falta de incentivo nos grandes veículos de comunicação e até
mesmo a liberdade de poder se expressar, independente do viés político adotado
pela redação ou agência de notícias em que faz parte. A luta por democracia de

7
O Correio Braziliense foi fundado por Hipólito José da Costa, considerado o pioneiro do jornalismo
no Brasil.
20

verdade, é uma das maiores buscas do independente. Segundo TRAQUINA (2005,


p.4):

Existe uma relação simbiótica entre jornalismo e democracia na teoria


democrática. Mas a teoria democrática define claramente um papel
adversarial entre o poder político e o jornalismo, historicamente desde o
século XIX chamado o “Quarto Poder”, talvez porque séculos de domínio
autocrático e por vezes despótico criaram um legado de desconfiança,
suspeita e medo em relação ao poder político. Mesmo nas chamadas
democracias estáveis, a defesa da liberdade é festejada como uma vitória
da comunidade jornalística.

O jornalismo independente tem em uma das suas maiores características de


identificação a forma de se sustentar. A renda é obtida majoritariamente de seus
assinantes, campanhas de doações, crowdfunding (vaquinhas online) e por poucos
anunciantes. Segundo (GOSCH, 2021), esses veículos possuem independência em
mais de um eixo, porém o destaque fica por conta da publicidade e os espaços
comerciais oferecidos. O jornalista que escolhe fazer o novo tipo de jornalismo deve
ter a ciência de que apesar de ter maior independência editorial, também vai ter uma
renda menor.

2.1 Portal Matinal

Como parte do objeto de pesquisa da monografia, o Grupo Matinal Jornalismo


foi fundado no final de novembro de 2019, por Filipe Speck, Tiago Medina e Paulo
Serpa. O Matinal é a união das mídias Matinal News, Revista Parêntese e site Roger
Lerina. A Matinal News é uma newsletter diária, de segunda-feira a sexta-feira,
composta pelas principais notícias de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Com
sede na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o Grupo conta com
quinze profissionais entre editores, repórteres, designer e social media. Entre eles,
está o jornalista Juremir Machado, que atuou em grandes mídias como a Rádio
Guaíba e o Correio do Povo8. Junto ao Grupo está a Parêntese, que é uma revista
digital com foco em entrevistas, reportagens, ensaios, resenhas e crônicas,
enquanto o Roger Lerina é um site editado pelo jornalista Roger Lerina com foco nas
artes e na cultura, por meio de notícias, artigos e críticas. Então o Grupo Matinal se
consolidou na atualidade, como um dos maiores sites de Porto Alegre.

8
Rádio Guaíba é uma emissora de rádio brasileira sediada em Porto Alegre, capital do estado do Rio
Grande do Sul.
21

Como todos os canais de comunicação independente a renda é obtida


majoritariamente de seus assinantes, campanhas de doações e por muito poucos
anunciantes, que na maioria das vezes são instituições como a Aliança Francesa 9 ou
um evento como o Unimúsica10 ou Feira do Livro. O repórter do Grupo Matinal
Jornalismo, Pedro Nakamura, conta que não tem certeza sobre o Sindicato dos
Engenheiros11 e a Livraria Bambolê12, como patrocinadores.

O repórter do Grupo, explica que no inicio, a proposta do Matinal era se tornar


um Nexo13, com materiais e matérias mais explicativas.

O Grupo Matinal Jornalismo é membro da Associação de Jornalismo Digital


(AJOR).

3 JORNALISMO DIGITAL

O jornalismo digital nasce no século XX e se consolida como meio de


comunicação mais avançado. Vivenciamos a evolução do jornalismo na profissão e

9
Aliança Francesa
10
Projeto cultural do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS. (N.A.).
11
Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul. Fundado em 1940(N.A)
12
Livraria e grupo editorial composto das editoras: Bambolê, Opala e Elipse. (N.A)
13
Veículo de Comunicação Independente fundado em 2015
22

como consumidores da notícia. Na internet podemos folhear as edições impressas,


as notícias em tempo real pelo portal e escutar a rádio. Conforme Magaly Prado,
“essa revolução tornou o mundo menor, mais próximo (...)”. A relação entre o
jornalista e o digital, cresceu a tempo de não existir mais fechar a redação com a
próxima edição. O portal disponível na internet vai atualizando a notícia, conforme as
informações que chegam. O acesso é amplo à informação com conexão com os
consumidores.

Junto às renovações pelas quais as mídias passaram, as redes sociais


chegaram junto para a divulgação de notícias e reportagens. Assim, divulgando o
que está por vir e gerando mais engajamentos para os portais. As informações
seguem sendo as mesmas. (PRADO,2011):

Dispomos ainda das especializações do jornalismo, como o jornalismo


esportivo, cultural, econômico; aqueles que unem os assuntos com
especialidades, como o jornalismo público, empresarial, gonzo, entre
diversos outros. Quer dizer então que qualquer ramo do jornalismo, de
qualquer editoria, como internacional ou local, de classificados ou de
especiais, agronegócios ou política, pode ser convertido para a web? Sim.
Todo tipo de jornalismo, sem exceção, Àgura na rede, e mais, abrigando
todos os veículos, segmentados ou não, especializados ou não.

Um hábito que com a chegada da notícia na palma da mão, é a informação


chegando muito mais rápido aos consumidores. O perigo são os títulos e manchetes
de caráter tendencioso e sensacionalista. As notícias “caça cliques” ou clickbait são
geradas por portais duvidosos. Neste contexto, o portal consegue a monetização por
meio de cliques gerados. Ainda segundo DELMAZO E VALENTE (2018, p.158), "a
própria forma como os links são partilhados nas redes sociais dificulta a identificação
da natureza dos conteúdos em circulação". O tipo de reportagem desses sites
podem causar confusão, desinformação e o compartilhamento de notícias falsas.

O jornalismo digital acelerou ainda mais a vida da sociedade. O dinamismo e


a necessidade da notícia chegar é uma das principais características do digital. O
jornalismo digital acelerou o novo estilo de vida, adotado por alguns durante a
pandemia de COVID-19.

Segundo Pedro Nakamura, o jornalismo digital vai prevalecer sobre o


impresso. Na visão dele, o impresso pode acabar como um artigo de luxo, onde os
assinantes premium receberão.
23

3.1 As Fake News

Com o aumento das redes sociais, as trocas de informações cresceram entre


as pessoas que utilizam esses meios. Em um clique, a informação compartilhada
chega a seus amigos, seguidores ou contatos. Desse jeito, algumas das notícias
falsas ou inventadas são disseminadas e tornam-se verdade para alguns. Nesse
momento em que surgem as famosas fake news.

O termo fake news surgiu com força durante as eleições presidenciais


americanas, em 2016. Uma notícia falsa antes, poderia ser algum descuido na hora
de apuração e checagem. Atualmente, é a maior forma de causar grandes danos,
seja em eleições ou em notícias de tom mais sério, como as notícias em relação a
pandemia causada pelo novo coronavírus. As fake news chegaram com a mesma
intenção. (SILVA GOMES E DOURADO, 2019, pág.35):

Em 2018, já havia expectativa de que o volume viral de boatos e mentiras


iria poluir o debate eleitoral em função [...] de episódios pré eleitorais do
Brasil, como o rastilho de rumores que se seguiram à execução da
vereadora Marielle Franco (PSOL), à greve dos caminhoneiros e à prisão do
ex-presidente Lula. Esses casos, que antecederam a corrida eleitoral
brasileira, foram representativos no sentido de mostrar o potencial que têm
relatos sobre fatos inverídicos de influenciar a discussão e o discurso
públicos e de servir como peças estratégicas para batalhas eleitorais.

O Brasil é um dos maiores produtores do mundo na atualidade. A ação de


desinformar ganhou também um novo nome: fake news, que significa notícias falsas.
Segundo o Ministério Público, o Art. 287-A, diz:

“Divulgar informação ou notícia que sabe ser falsa e que possa modificar ou
desvirtuar a verdade com relação à saúde, segurança pública, economia ou
processo eleitoral ou que afetem interesse público relevante. Pena –
detenção, de um a três anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave”.

Toda desinformação em grande escala, seja em eleições ou em uma das


maiores crises sanitárias pelas quais o mundo enfrentou, são perigosas.

3.2 Informação versus Desinformação

No Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa Michaelis a palavra informação


aparece com diferentes significados: ato ou efeito de informar-se; conjunto de
24

conhecimentos acumulados sobre certo tema por meio de pesquisa ou instrução;


explicação ou esclarecimento de um conhecimento, produto ou juízo;etc. Para esta
pesquisa interessa o significado que diz que a informação está relacionada com a
notícia trazida ao conhecimento público pelos meios de comunicação.” As notícias
são baseadas na realidade, enquanto a mentira e a invenção são violações graves
às regras jornalísticas”.(MUNHOZ, 2021, pág. 27).

O último tópico é essencial para os profissionais da comunicação, pois o


trabalho dos jornalistas, especialmente, foi e ainda é colocado em questionamento.
“É a própria vitória da informação nos últimos dois séculos que impõe a redefinição
do estatuto da comunicação. Só se fez metade do caminho.” Para (Wolton,2010), o
ato de informar é uma espécie de luta diária para defender-se, mostrar a apuração
das notícias e proteger a maior conquista dos brasileiros: A democracia. O papel do
jornalista na pandemia de COVID-19 está além de informar. O profissional tem
também a função de combater notícias falsas e informações incorretas a respeito do
novo coronavírus. (DA MATTA,2022, pag.11):

No entanto, o jornalismo vem passando por uma crise democrática no


Brasil, pois o governo vigente vem trabalhando, antes mesmo da eleição de
Jair Bolsonaro como presidente, para uma descredibilização dos veículos
de comunicação, não apenas atingindo os profissionais da chamada grande
mídia, mas também atingindo o senso crítico da população, que tem
dificuldade em se informar em meio às incertezas, estagnação e notícias
fraudulentas.

O questionamento, em algumas situações parte do próprio profissional de


comunicação. Para a maior parte dos jornalistas, isso significa que a informação é
séria, não a comunicação. “Sim à informação, não à comunicação, que está sempre
sob suspeita de seduzir e manipular” (MATT, 2022,). A informação também pode
ser colocada em mais de uma situação. (WOLTON, 2010, p.17):

O que se deve entender por informação, mensagem, comunicação e


relação' Existem três grandes categorias de informação: oral, imagem e
texto. Esses dados podem estar presentes em diversos suportes. Tem-se a
informação-notícia ligada à imprensa; a informação-serviço, em plena
expansão mundial graças especialmente à internet; e a informação-
conhecimento, sempre ligada ao desenvolvimento dos bancos e bases de
dados. Falta a informação relacional, que permeia todas as demais
categorias e remete ao desafio humano da comunicação.

Conforme o mesmo Dicionário, a desinformação quer dizer: ação de


desinformar, dados falsos que induzem ao erro, privação de conhecimento sobre
25

determinado assunto, ignorância. Já com os significados dessa palavra, todos os


sentidos encaixam- se perfeitamente no tema principal tratado neste capítulo: a
desinformação, atraso e negacionismo. “A desinformação é uma ameaça para as
democracias e para as diversas dimensões da vida social. Esta ameaça é
particularmente relevante em tempos de crise, como é o caso da atual pandemia da
COVID-19 (...)” (CAMPONEZ,FERREIRA,DÍAZ,2020). A desinformação é tão
perigosa quanto o próprio vírus. A sociedade não só lutou contra a pandemia de
coronavírus, mas também batalhou contra a infodemia, pandemia da desinformação.
“A primeira vítima da guerra é a verdade'', afirma um velho ditado jornalístico.
Embora o mais correto fosse dizer que a verdade é vítima recorrente em qualquer
sociedade organizada14 (...)”. As fake news, como no capítulo anterior, é crime.

No momento em que a informação é o que o cidadão mais precisa, pessoas


má intencionadas ou com interesse político-econômicos a transformam em
inverdades. (VIGNOLI,RABELLO,ALMEIDA, 2021, pag.8/9):

À luz de tais observações, a desinformação pode ser identificada ou


estudada a partir das seguintes características: 1. A desinformação como
atividade governamental ou militar; 2. Serviços de notícias, que disseminam
desinformação; 3. Desinformação planejada, com algum propósito; 4. Nem
sempre a desinformação surge da organização ou do indivíduo que
pretende enganar; 5. É normalmente escrita ou verbal, mas também pode
estar contida ou constituir imagens (fotografias adulteradas); 6. É distribuída
de forma descontrolada por qualquer pessoa que tenha, por exemplo,
assinatura em um jornal, TV ou com acesso a internet. Também pode ser
destinada a organizações específicas.

Não podemos esquecer que neste momento aplicam-se as maiores


ferramentas, a checagem de fatos e as fontes oficiais. No caso da pandemia que
assolou o mundo, muitos jornalistas acabaram confessando que foram formadores
de opinião. Segundo (CAMPONEZ,FERREIRA,DÍAZ,2020, pág. 23):

Um inquérito realizado por uma investigadora da Universidade do Minho,


Felisbela Lopes, revelou que noventa e dois por cento dos jornalistas
assumiram terem tentado “orientar os cidadãos” para comportamentos
durante o estado de emergência, numa lógica de serviço público, levando a
investigadora a admitir que “os media assumiram um lugar na frente de
combate e mostraram-se eficazes”.Por certo que os jornalistas estarão
muito mais disponíveis para admitirem que influenciam a opinião e o
comportamento do público em contextos em que a ideia de um certo
desígnio público se impõe como consenso, do que em momentos de divisão
social.Também não é menos certo.

14
Pesquisa disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/08/cultura/1528467298_389944.html> Acesso em: 25 out. 22.
26

As redes sociais serviram muito bem como fonte de desinformação.


(CAMPONEZ,FERREIRA,DÌAZ,2020 pág.11):

Segundo os Repórteres Sem Fronteiras:, as notícias falsas infectaram como


o coronavírus os media sociais menos transparentes. Entre 20 de janeiro e
10 de fevereiro, sete por cento de dois milhões de pessoas que estavam a
postar no Twitter divulgaram teorias da conspiração sobre o coronavírus e
setenta e quatro por cento dos Utilizados mostraram-se preocupados com
desinformação nas redes sociais. Estes valores ocorrem num contexto em
que um número maioritário de portugueses utiliza meios online para aceder
a notícias, um espaço bastante permeável à desinformação (Cardoso,
Paisana & Pinto-Martinho, 2020).

A desinformação na comunicação atingiu a ciência e favoreceu o surgimento


de tratamentos duvidosos não indicados pela maioria dos médicos e profissionais
que buscavam como combater o vírus. Os remédios citados por negacionistas eram
como cloroquina, proxalutamida (caso que será abordado mais à frente) e até um Kit
de Tratamento Precoce, que continha vitaminas C e D, zinco, ivermectina,
azitromicina, prednisona. A desinformação foi combatida, mas alguns seguiram
acreditando na mentira. (VIGNOLI,RABELLO,ALMEIDA,2021, pág.3):

As vacinas são responsáveis pelo avanço na prevenção de doenças


imunopreveníveis (BRASIL, 2014). Já os discursos contrários à sua eficácia
têm sido uma preocupação constante de governos e instituições de saúde.
Por trás dos movimentos antivacina por vezes se encontram
comportamentos anti-intelectuais, anti-científicos, naturalistas e relativistas
os quais impactam no interesse, utilização e apropriação de conhecimento
balizado por critérios científico-racionais.
No que diz informar e desinformar, os checadores de notícias foram essenciais
durante a pandemia. Os profissionais desmentiram muitas fake news, informaram
sobre notícias corretas no âmbito científico:

Não podemos esquecer que neste momento aplicam-se as maiores


ferramentas, a checagem de fatos e as fontes oficiais. Os checadores se
viram obrigados a trabalhar com base de dados não consolidados, em
construção. (...). Tinha desinformação racial, religiosa,política,científica,
desinformação sobre covid. A Pandemia colocou os checadores em um
lugar que eles sempre mereceram, mas que precisou de uma pandemia
para mostrar isso.Finalmente, o planeta entendeu que a checagem pode
salvar vidas.Checar a informação de que beber álcool puro não curacovid é
15
fundamental.

15
Matéria sobre. Disponível em:<https://www.abraji.org.br/noticias/um-ano-depois-da-pandemia-
jornalistas-relatam-desafios-e-danos-a-saude-mental> Acesso em: 2 de nov. 22
Matéria sobre. Disponível em:<https://www.abraji.org.br/noticias/um-ano-depois-da-pandemia-
jornalistas-relatam-desafios-e-danos-a-saude-mental> Acesso em: 2 de nov. 22
27

O jeito certo em que o jornalista aprende a fazer a checagem dos fatos,


deveria ser repassada para a população.

4 O GATEKEEPER

Segundo Nelson Traquina, a Teoria do Gatekeeper analisa a seleção de


notícias somente pela visão do jornalista e seus próprios juízos de valor. Desta
forma, a concepção de notícias torna-se limitada. A série de escolhas que a Teoria
sugere na visão de Traquina, a informação passa por diversos gates, isto é,
“portões”.

A partir dos “portões” não é mais o jornalista tem que decidir, e sim alguém
em um cargo superior, normalmente o editor-chefe. Pode-se resumir em: A Teoria
do Gatekeeper analisa a seleção de notícias somente pela visão do jornalista e seus
próprios juízos de valor (TRAQUINA, 2005).
28

O termo gatekeeper foi introduzido pelo psicólogo social Kurt Lewin, referindo-
se à pessoa que toma decisões em uma sequência de decisões. Já o responsável
pela Teoria do Gatekeeper no Jornalismo foi David Manning White na década de
1950 (TRAQUINA, 2005) .

4.1 Critérios de Noticiabilidade

Não é nada fácil escolher o que mais importante para ser noticiado antes ou
depois e o que vai ser pauta no dia ou não. Cada um de nós conceitua as coisas por
comparação e contraste, do ângulo da utilidade, da função. Para comunicar esses
conceitos, aplicamos princípios lógicos (...) (LAGE, 2011). Os critérios pessoais,
junto à ideologia de vida e caráter, entram em conflito com os critérios que devem
ser seguidos na hora de escolher o que entrará no ar, irá para rede ou será para a
televisão.

Conforme Traquina, diversos estudos sobre jornalismo demonstram que os


jornalistas têm dificuldades em responder o que é notícia e quais são seus critérios
de noticiabilidade. O que o jornalista escreve ou a sessão que escreve é levado em
conta até na hora do reconhecimento. A classificação de notícias deve seguir uma
ordem de publicação de seu interesse comercial e interesse público. Segundo
MEDINA (1988 p.25):

A informação é classificada em setores expressos pela divisão tradicional


dos próprios jornais (internacional, nacional, polícia,educação e etc.); os
conteúdos difusos, difíceis de se enquadrar no esquema direto, são
rotulados de “diversos” e processa-se uma mensuração (centimetragem das
notícias) que vai determinar a importância das informações e sua análise
teórica.

Na redação dos veículos de comunicação, os acontecimentos se tornam de


conhecimento dos repórteres, mas apenas alguns chegam ao público. A notícia, em
seu sentido mais amplo, é a transmissão da experiência para quem não a vivenciou
(LAGE, 2011). Os critérios do que vai ser noticiado seguem uma ordem de interesse
público. Para Traquina “quanto maior o número de valores um acontecimento atingir,
maior a chance de se tornar notícia.”. (TRAQUINA, 2005):

A previsibilidade do esquema geral das notícias deve-se à existência de


critérios de noticiabilidade, isto é, à existência de valores-notícia que os
29

membros da tribo jornalística partilham. Podemos definir o conceito de


noticiabilidade como o conjunto de critérios e operações que fornecem a
aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como
notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-
notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de
se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado
em matéria noticiável e, por isso, possuindo “valor-notícia”

O gosto do público está muito em questão, já que é o consumidor final do


produto. Nesse sentido, notícias ligadas à cultura (fora os escândalos
políticos),acabam ficando de fora das principais informações do dia. Se houver um
espaço , caso contrário não. Na sociedade brasileira, rica em cultura, onde só
quando um artista brasileiro é reconhecido em países como Estados Unidos, talvez
ele seja citado em algum momento do noticiário.

A espetacularização da notícia, conforme seus critérios podem parecer cruéis


dependendo do assunto tratado. A morte é um dos primeiros valores a ser
transformado em notícia para Traquina. No caso aplica-se perfeitamente em um dos
assuntos tratados na monografia. A pandemia de Covid-19. Nelson Traquina afirma
que “onde há morte, há jornalistas”. O segundo critério é a notoriedade, ou seja,
além do número de mortes, o falecimento de uma pessoa conhecida pelo grande
público ganha destaque.

4.2 Valor-Notícia

As notícias que vão ao ar são de certas formas previsíveis. O fato ocorre


devido a uma série de fatores elencados. A primeira tentativa de identificar os
valores-notícia foi por meio do estudo de Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge em
1965. Os autores elencaram alguns critérios que, segundo eles, justificam a
transformação de um acontecimento em notícia. Segundo os autores, são esses
valores que justificam a transformação de um acontecimento em notícia. Abaixo
estão elencados alguns desses critérios:

Frequência: refere-se a duração do acontecimento ou o espaço de tempo


necessário para o acontecimento se desenrolar e adquirir significado (GALTUNG;
RUGE, 1965). “Se um acontecimento for produzido em um tempo que esteja de
acordo com a frequência do meio e com o seu tempo de produção, é mais provável
que ele se torne notícia” (ALSINA, 2009, p. 159). Em outras palavras, isso significa
30

dizer que se o fato ocorrer após o fechamento da edição de um jornal ou de um


noticioso da mídia eletrônica, a notícia só entrará na próxima edição ou então numa
edição extraordinária, caso o assunto seja relevante para esse tipo de flash.

Amplitude: Quanto mais intenso for um acontecimento ou quanto mais ele


crescer em intensidade, quanto mais pessoas estiverem envolvidas ou quanto mais
pessoas o acontecimento afetar, mais probabilidade tem de se tornar notícia. Para
Alsina (2009) um acontecimento é mais percebido quando o seu limiar de
intensidade é muito alto ou o seu nível normal de significação tem um aumento
repentino. “Para um meio de comunicação, se um acontecimento continua sempre
na mesma frequência, isso fará com que, ao longo de todo o processo, ele perca a
confiabilidade na transmissão da notícia” (ALSINA, 2009, p. 158).

Clareza ou Ausência de Ambiguidade: Se um fato for claro, se não


existirem dúvidas em relação a ele, ele terá muito mais condições de se tornar
notícia. Para Galtun e Ruge (1993) quanto menos ambiguidade, mais facilmente o
acontecimento será notado. Já Traquina (2008) defende a ideia de que é preferível
que um acontecimento seja claro e livre de ambiguidade no seu significado, a ser
altamente confuso. Caso isso aconteça, Alsina (2009) entende que o jornalista não
dará à informação o status de notícia até que ele seja confirmado.

Significância: Em outras palavras, esse critério diz respeito à proximidade,


ou seja, quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais probabilidade ele terá
para se tornar notícia. São exemplos de critérios de proximidade a questão afetiva, a
língua, a cultura e a distância geográfica. Para Galtung e Ruge (1965), o público
concentra a atenção no que lhe é culturalmente familiar. “Portanto, aumenta a
possibilidade de seleção se um acontecimento está de acordo com os interesses e
com a cultura de uma determinada comunidade” (ALSINA, 2009, p.158).

Consonância: Traquina (2008) define esse valor com base no conceito de


Galtung e Ruge (1965), dizendo que a consonância liga a notícia que está sendo
selecionada a uma imagem pré-mental, na qual o novo acontecimento é construído
a partir da velha imagem. Poderíamos definir também como sendo um fato que vem
ao encontro daquilo que os jornalistas estão esperando e, portanto, acaba se
transformando em notícia. Já para Alsina (2009, p. 158) “se os jornalistas achassem
31

que um acontecimento pode ser de interesse para o seu público, o tornarão mais
rapidamente notícia”.

Inesperado ou Imprevisibilidade: Quanto mais inédito for um fato, mais


chance ele terá de ser transformado em notícia. Alsina (2009) entende que diante de
dois acontecimentos parecidos, aquele que for mais misterioso e esquisito terá mais
chance se virar notícia. “O que é inesperado, o curioso, o extravagante, costuma
chamar a atenção da mídia” (ALSINA, 2009, p. 159).

Continuidade: No jornalismo se convencionou usar a expressão “suitar um


assunto” para aqueles casos em que a notícia volta a ocupar espaço nos noticiários
por vários dias, mesmo depois da sua primeira divulgação, quando pode ter inclusive
ocupado as manchetes. Alsina (2009, p. 159) resume esse valor-notícia explicando
que “quando aparece um acontecimento que é notícia, produzir-se-á uma
continuidade com os acontecimentos que têm relação com ele”.

Composição: Este valor está associado ao equilíbrio que deve existir na


edição do conjunto de notícias em um meio de comunicação. Traquina (2008) traz
um exemplo de uma estação de rádio para explicar o critério estabelecido por
Galtung e Ruge (1965). Segundo o autor é preciso imaginar um dia em que, para o
fechamento do noticiário, só existem notícias internacionais, no entanto, pouco antes
de entrar no ar, chegam à redação algumas notícias locais de pouca importância e
outras internacionais de gênero diferente. A inserção delas no noticiário só vai se
justificar pela necessidade de haver um equilíbrio entre os assuntos.

Valores Socioculturais: Segundo Alsina (2009), refere-se às pessoas da


elite, às nações de elite ou a qualquer coisa negativa. De forma mais simples quer
dizer que pessoas ou países que servem de modelo, ou que detêm reconhecido
prestígio, terão muito mais chances de se tornarem notícia do que se for comparado
a pessoas anônimas ou países pouco conhecidos. Para Traquina (2008, p. 72) “as
ações da elite são, pelo menos geralmente e na perspectiva a curto prazo, mais
importantes do que as atividades dos outros: isso se aplica tanto às nações de elite
como às pessoas de elite”. Alsina (2009) salienta ainda que, em geral, os meios de
comunicação têm uma atração por notícias negativas.
32

Personalização: A escolha desse valor-notícia se justifica pelo fato de Galtung e


Ruge (1965) entenderem que os acontecimentos são narrados sempre com um
sujeito. Transpondo esse critério para a atualidade, podemos ver que sempre nas
matérias existem personagens. De certa forma isso ajuda o público a se identificar
com o assunto.

Negatividade: Embora já tenha sido tratado acima por Alsina (2009) esse valor
negativo, é preciso salientar que Galtung e Ruge (1993) entendem que as notícias
negativas são as preferidas do público. De acordo com Traquina (2008), as
justificativas dos autores para esse estado de coisas são: as notícias negativas
satisfazem melhor os critérios de frequência; as notícias negativas são mais
facilmente consensuais e inequívocas no sentido de que haverá acordo acerca da
interpretação do acontecimento como negativo; as notícias negativas são mais
consonantes com, pelo menos, algumas pré-imagens dominantes do nosso tempo e
as notícias negativas são mais inesperadas do que as positivas, tanto no sentido de
que os acontecimentos referidos são mais raros, como no sentido de que são menos
previsíveis.

Segundo Traquina, quanto mais valores no ocorrido, maiores são as chances de se


tornar notícia. Porém os próprios autores salientam a relatividade dos critérios, pois
um fato pode não ter algum dos valores. O autor segue a basicamente a mesma
linha dos outros citados, mas considera junto os valores de seleção (relacionados às
características dos acontecimentos) e os valores de construção (relativos às rotinas
de produção) Os valores-notícia de seleção dividem-se em critérios substantivos
(acontecimento) e critérios contextuais ( produção da notícia). Entre os critérios
substantivos de Traquina (2008) estão:

Morte: valor-notícia que explica o negativismo do mundo jornalístico que é


apresentado na TV e publicado nos jornais.

Notoriedade: Diz respeito a pessoas importantes (Presidente da República,


Deputados, etc...). Esse mesmo valor-notícia foi definido por Galtung e Ruge (1965)
como valores socioculturais.

Proximidade: Pode tanto ser usado em termos geográficos quanto culturais. Para
Galtung e Ruge (1965), esse valor-notícia se referia à significância.
33

Relevância: Assim como foi definido por Galtung e Ruge (1993) esse critério diz
respeito a um acontecimento que é importante e que tem um impacto sobre a vida
das pessoas.

Novidade: A busca pelo novo é sempre uma das missões dos jornalistas.

Tempo: Esse valor-notícia se refere a datas e comemorações. Pode ser usado como
“gancho” para tratar na atualidade de uma comemoração do passado. Um exemplo
são as datas festivas.

Notabilidade: Refere-se à qualidade de ser visível. Notabilidade também pode ser


medida pela quantidade de pessoas que participam de um acontecimento e o fazem
um evento único. Este valor-notícia pode ser usado para questões de noticiabilidade
do tempo, como por exemplo, altas temperaturas ou excesso de chuva.

Inesperado: Assim como já foi tratado por Galtung e Ruge (1965), esse critério se
refere a tudo aquilo que surpreende a expectativa da comunidade jornalística.

Conflito: Esse valor-notícia está associado a uma ruptura na ordem social. Pode ser
exemplificado por uma briga entre deputados.

Infração: Nesse caso o critério de noticiabilidade está vinculado com a


transgressão, a violação das regras. Exemplos de infração são os crimes e os
escândalos.

Os próximos valores-notícia são em referência aos valores de produção de notícia:

Disponibilidade: Este valor-notícia está associado à facilidade em fazer uma


cobertura jornalística de um acontecimento.

Equilíbrio: Critério relacionado à quantidade de notícias veiculadas sobre um


determinado assunto. Quanto mais inserções houver na mídia, menor será seu valor
de noticiabilidade.

Visualidade: Em particular no jornalismo de TV, este valor-notícia é um fator de


noticiabilidade fundamental. A existência de elementos visuais e de boa qualidade
garante a presença da notícia.
34

Concorrência: A procura pelo “furo” jornalístico é o que faz a diferença entre as


empresas de comunicação.

Para esta monografia, os valores de construção são essenciais, principalmente o


último deles: A concorrência.

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa busca estudar a reportagem do Grupo Matinal


Jornalismo divulgado no dia 24 de agosto de 2021, com a seguinte manchete:
Hospital da polícia militar do RS testou proxalutamida sem autorização da Anvisa em
pacientes com COVID-19. O veículo escolhido para comparar o caso, que usou a
pauta do Grupo Matinal Jornalismo como base para sua reportagem foi o GZH,
portal do grupo RBS após a fusão dos portais da Rádio Gaúcha e Jornal Zero Hora.

O Grupo Matinal Jornalismo surgiu em 2019. A proposta do Matinal é noticiar


os principais acontecimentos de Porto Alegre, com pautas locais. Já o Portal GHZ,
tem o foco mais em notícias do estado do Rio Grande Sul, mas também notícia
Brasil e o mundo. Além disso, o Portal GZH conta com mais publicidade,
patrocinadores e assinaturas. Assim, o Portal GZH tem mais dinheiro para
investimentos do que o Grupo Matinal Jornalismo.
35

Retomando o que foi apresentado durante o referencial teórico, a proposta


metodológica irá desenvolver um estudo de como o jornalismo Independente serviu
como pauta para os grandes veículos de comunicação. A pesquisa busca entender
por meio do método do Estudo de Caso, “como” e “por que”, o Portal Matinal
Jornalismo alcançou um dos portais com maiores acessos a nível estadual, o GZH,
com sua pauta de teor investigativo.

A escolha do estudo de caso para dar seguimento nesta pesquisa é proposta


por meio de fatores determinantes (YIN, 2001) para a exploração do case definido.
Por se tratar de um evento contemporâneo, o jornalismo independente como pauta
das grandes mídias.

Nesse contexto Yin (2001) ressalta que o estudo de caso constitui em uma
estratégia de pesquisa que não pode ser classificada a priori como qualitativa nem
quantitativa, por excelência, mas no que está interessada no fenômeno a ser
estudado.

Segundo informações de Pedro Nakamura, responsável pela reportagem do


Grupo Matinal Jornalismo, o veículo independente estudado busca fiscalizar e cobrar
do poder público, mas sem tomar nenhum viés político. A outra característica que é
presente no Matinal é a liberdade editorial, pois não tem compromissos comerciais
com patrocinadores, pois sua renda vem de assinantes, doações e crowdfunding.

Após a denúncia feita pelo jornalismo independente, as mídias comerciais


tiveram que ir atrás da notícia e tentar desvendar algo novo ou relacionado a
reportagem do Grupo Matinal Jornalismo. Na presente pesquisa, será comparada a
mesma notícia que foi pauta depois pelo Portal GZH, do Grupo RBS, afiliada a TV
Globo.

5.1 Métodos de Análise

A liberdade editorial do Jornalismo Independente é fundamental na hora de


investigar e denunciar, com a devida checagem e apuração. O fato do independente
não ter limites de caracteres é outro ponto importante, já que a notícia pode ser
reportada por completo e sem preocupações com o corte para espaço publicitário.
36

Porém, justamente por ter tal liberdade na escrita por falta de anunciantes, a renda é
menor.

Já o Portal GZH tem limites de caracteres, pois uma reportagem muito longa
não serve de interesse para o próprio Portal. Além disso, o limite é estabelecido
devido a publicidade, que geralmente é bastante procurada pela relevância dos
maiores grupos de comunicação. O foco maior das reportagens é concentrado em
notícias do estado do Rio Grande do Sul, e quando traz denúncias geralmente não

Figura 1 - Capa do portal do Grupo Matinal Jornalismo do dia 6 de novembro.

são ligadas a alguma instituição.

Créditos: Grupo Matinal Jornalismo

Na capa podemos ver a liberdade de escrita com notícias neutras que


informam a população, colunas e pautas voltadas para a sociedade.
37

Figura 2 - Capa do Portal GZH do dia 6 de novembro.

Créditos: Portal GZH

As grandes mídias, no caso de GHZ, seguem os critérios de noticiabilidade,


entretanto o mais marcante presente na capa é a publicidade. O Grupo Matinal
Jornalismo também segue os critérios. Segundo Nakamura, o jornalismo
independente também segue os critérios, sempre se dedicando mais para critérios
como proximidade e relevância. Porém, o repórter do Matinal conta que já fez uma
matéria que em sua opinião era grave, mas ela não repercutiu. A reportagem era
sobre uma loteria municipal que seria criada em Porto Alegre. O caso acarretaria em
uma serie de processos administrativos, mas a sugestão não foi votada na Câmera
de Vereadores.
38

Figura 3 - Reportagem do Grupo Matinal Jornalismo, em 24 de agosto de 2021.

Créditos: Grupo Matinal Jornalismo


39

Figura 4 - A notícia foi dada pelo GZH, que faz parte da RBS, afiliada do grupo
Globo.

Créditos: Portal GZH


40

O repórter do Grupo Matinal Jornalismo, contou em entrevista que já havia


suspeitas do Estadão do uso ilegal de proxalutamida em Manaus, no estado do
Amazonas. A investigação fez com que o repórter buscasse e investigasse na
proximidade do Matinal, ou seja, Porto Alegre. Na sua visão, o jornalismo
independente deveria ser mais voltado para a investigação, do que para o factual.
As denúncias no Grupo Matinal Jornalismo chegam através de algumas fontes por
e-mails, ligações ou contato direto.

A escolha do estudo de caso para dar seguimento nesta pesquisa é proposta


por meio de fatores determinantes (YIN, 2001) para a exploração do case definido.
Por se tratar de um evento contemporâneo, o jornalismo independente como pauta
das grandes mídias.

Conforme apresentado anteriormente, a monografia se dará com base no


Estudo de Caso e de “como” e “por que” como enfoque. No total foram selecionadas
seis matérias. Desta forma, três do Grupo Matinal Jornalismo e outras três do Portal
GHZ. O trabalho analisou as notícias durante o período de 24 de agosto a 2 de
setembro de 2021.

A pesquisa foi feita relacionada ao valor-notícia (TRAQUINA, 2005),


enumerando os principais valores presentes na reportagem e que impactou a
sociedade. Os seguintes critérios no jornalismo a serem estudados durante o
período são:

● Proximidade

● Relevância

● Concorrência

Serão estudados como cada um dos valores-notícia foi importante na


publicação da reportagem em ambos os veículos. Na pesquisa também será
ressaltado a importância do Gatekeeper, filtro que decide além dos critérios o que
vai ser notícia ou não, fazendo a seleção das mesmas.

Valor-notícia proximidade: Como a reportagem local de um jornal


independente tornou-se notícia em grandes mídias e porque a notícia foi replicada
41

mesmo não sendo o enfoque principal do portal comercial analisado. O objetivo é


mostrar como o fator proximidade é relevante principalmente para o jornalismo
independente. De acordo com Fernandes (2014, p.140), na contramão da
emergente cultura e de mídia globalizadas, “cada vez mais estudiosos e produtores
da informação têm se voltado a analisar a proximidade como um importante
elemento de interesse da notícia e um poderoso nicho de mercado na comunicação”

Valor - notícia relevância: Nesse valor vai ser analisado como uma
reportagem do Grupo Matinal Jornalismo atingiu o Portal GZH e por que a
investigação e denúncia foi reportada antes da mídia comercial. (FEITOZA, 2015):

No livro Relevância: comunicação e cognição, os autores fundaram a Teoria


da Relevância, que explica o funcionamento dos processos cognitivos e a
possibilidade de interações comunicativas através de uma tendência da
cognição humana, adquirida através da evolução biológica, de dirigir-se
para a maximização da relevância. Em outras palavras, ao longo do tempo,
as pressões evolutivas que moldaram desenvolvimento das espécies,
condicionaram a cognição humana a uma busca por relevância, como um
recurso necessário para a sobrevivência.

Valor-notícia concorrência: A busca pelo inesperado, diferente e denunciado


ocorre em todas as redações, independentes ou não. Entretanto, nesse valor será
feita a análise de como e por que um grupo independente com menos recursos
conseguiu investigar e denunciar antes de um portal com mais renda. (WOLF 2012,
p. 193 - 194):

“a cultura profissional dos jornalistas; a organização do trabalho e dos


processos de produção. As conexões e as relações entre os dois aspectos
constituem o ponto central desse tipo de pesquisa.”

O Gatekeeper: A pesquisa busca entender a seleção de notícias feitas pelo


Grupo Matinal Jornalismo e pelo Portal GZH. Conforme o repórter do Matinal, no
jornalismo independente faltam pessoas para cobrir o factual, mas é melhor para o
Grupo investir em grandes reportagens especiais. (SERRA, 2004, p.101):

Visando compreender como um dos “gatekeepers” na cadeia da produção


de notícias controlava a sua guarita, White realizou um estudo de caso que
não se utilizou de uma abordagem etnográfica, como fariam hoje os
pesquisadores na linha do newsmaking, mas valeu-se da assistência do
editor telegráfico de um jornal não metropolitano, que trabalhava com ele na
universidade, e que foi também entrevistado. Esse jornalista tinha então a
seu cargo selecionar, a partir da grande quantidade de notícias nacionais e
internacionais que chegavam das agências, as que apareceriam no limitado
espaço da primeira página e como seriam desenvolvidas nas páginas
interiores.
42

Segundo o repórter do Matinal, para as mídias comerciais é mais fácil cobrir o


factual do que dedicar parte da equipe para uma investigação.

Nos dias atuais, no meio digital , onde as plataformas se encontram, é cada


vez mais difícil filtrar o que vai ser notícia ou não. Os responsáveis por cada portal
cuidam para que isso não ocorra. Cada notícia é selecionada com rigor antes de
entrar e até mesmo na hora ir para a capa.

As fake news tanto para o jornalismo independente, quanto para as grandes


mídias são perigosas. Existem portais independentes disseminadores de fake news
e que tomam lado partidário mesmo negando. Conforme Pedro Nakamura, o Grupo
Matinal Jornalismo não tem lado partidário, pois acreditam que assim deve ser o
bom jornalismo.
43

Figura 5 - Manchete da Reportagem do Grupo de Jornalismo Matinal

Créditos: Grupo Jornalismo Matinal

É possível ver no título da reportagem do Grupo Matinal Jornalismo, através


de algumas palavras, os valores-notícia. A sigla RS como proximidade. A sociedade
acabava de saber que o medicamento proxalutamida, tratada como diz na
reportagem como a “nova cloroquina” e defendida pelo então presidente Jair
Bolsonaro, estava sendo testada sem aval da Anvisa.

O caso do uso do medicamento foi denunciado em Gramado, Rio Grande do


Sul e em Manaus, no Amazonas. O repórter do Grupo Matinal Jornalismo, Pedro
Nakamura, sofreu ameaças quando denunciou o caso em Porto Alegre.
44

Figura 6 - Manchete do Portal GZH sobre replicando o Grupo Matinal Jornalismo

Créditos: Portal GZH

No dia 25 de agosto, um dia após o lançamento feito pelo Grupo Matinal


Jornalismo, o Portal GZH deu a notícia. Nesse caso também é possível ver o fator
proximidade quando cita Porto Alegre.
45

Nas primeiras análises sobre o fator proximidade, ambas deixam claro onde
acontece o caso. O Portal GZH deu a notícia um dia depois, o que subentende que
houve a checagem antes de replicar em seu site. Por tratar-se de um assunto
importante entende-se que o Portal GZH deu a notícia por ser uma denúncia em um
hospital da cidade sede da redação. O porquê se dá pelo fato de autoridades
maiores, como o Ministério Público Federal, já está investigando o caso.

Figura 7 - Matinal notícia que o Conselho de Medicina irá investigar o caso

Créditos: Grupo Matinal Jornalismo

A investigação e denúncia do Grupo Matinal Jornalismo chegou até o


Conselho Médico de Medicina. A palavra denúncia mostra o poder de relevância da
reportagem que foi dada pelo o Grupo. Para Pedro Nakamura, a reportagem nunca
seria dada pelo Portal GZH, já que a mídia tradicional prefere pautas regionais e não
46

locais. Um dos motivos seria o tempo em que o Grupo Matinal Jornalismo investiu na
reportagem com mais aspecto de cobrança do que foi tratado em GZH.

Figura 8 - Portal GHZ traz novos desdobramentos

Créditos: Portal GZH


No dia 26 de agosto o Portal GZH, trouxe a informação de que agora, o
Comitê de Ética e Pesquisa (Conep), estava investigando o caso. A relevância já
47

estava presente nos dois Portais. A hipótese é que GZH acompanhou o caso depois
da sua repercussão. Desta maneira, o Portal não tinha outra saída. A reportagem,
por mais relevante que fosse, precisava de um por que para dar seguimento e não
perder para um jornal independente. Em sua opinião, o repórter responsável pela
investigação e denúncia, o portal tradicional não se interessa cobrar e fiscalizar o
poder público com a mesma intensidade que o jornalismo independente. Conforme
Pedro, às vezes o que interessa para a mídia tradicional investir em colunistas que
ficam opinando assim, gerando cliques com mais frequência.

Figura 9 - Grupo Matinal Jornalismo sobre proxalutamida

Créditos: Grupo Matinal Jornalismo


No dia 2 de setembro, o Grupo Matinal Jornalismo noticiava a resposta da
Anvisa sobre o caso.
48

Figura 10 - Portal GZH alcança o Grupo Matinal Jornalismo

Créditos: Portal GZH

No mesmo dia, o Portal GZH alcança o Grupo Matinal Jornalismo. Agora a


concorrência pela matéria é direta e no mesmo dia.

As mídias independentes em comparação com os veículos comerciais, em


sua maioria possuem uma estrutura menor. Então se a denúncia é certa, a grande
49

mídia tem como correr atrás do prejuízo de publicar depois a denúncia, pois conta
com mais recursos devido ao número de patrocinadores e assinaturas.

Agora se pode observar o porquê e como o Grupo Matinal Jornalismo


reportou primeiro a notícia do que o Portal GZH, segundo o Estudo de Caso (Yin
2001). Um fato excepcional e raro de acontecer. Um jornal independente serve como
pauta para um veículo comercial.
50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao retomar a presente pergunta que norteou a pesquisa, “O que levou um


portal de jornalismo independente a ser referência de pauta aos grandes veículos
tradicionais de comunicação?”, é possível entender que a questão está relacionada,
especialmente, ao conceito de liberdade editorial. Além disso, é importante ressaltar
a questão da proximidade.

No decorrer dos estudos para a monografia, a parte financeira entre o


jornalismo independente para os grandes veículos tradicionais, é algo muito
importante quando comparadas. Com poucos recursos, o jornalismo independente,
na pesquisa representado pelo Grupo Matinal Jornalismo, conseguiu investigar e
denunciar uma violação.

Enquanto as mídias tradicionais, representadas pelo Portal GHZ, e possuem


mais dinheiro, não descobriu antes a infração. Durante a pesquisa o viés de ambos
ficou bem claro. O independente investe mais tempo em reportagens no estilo long
form, com teor investigativo e denunciando o que acontece ao seu redor e o
tradicional, em matérias factuais regionais, curtas e com respostas imediatas.

Por não ter muitos patrocinadores e ter sua renda praticamente toda vinda
somente de assinaturas, o Grupo Matinal Jornalismo não tem limites de caracteres
para escrever. A falta de anunciantes é positivo nesse lado, pois permite mais
liberdade editorial. Já o Portal GZH, um dos que mais tem visibilidade entre os
veículos tradicionais no Rio Grande do Sul, tem bastantes anunciantes.

Portanto a resposta a pergunta principal desta monografia é que por ter mais
liberdade editorial e dedicar mais o seu tempo ao jornalismo local, o Grupo Matinal
Jornalismo, chegou antes na denúncia que faz parte da sua proximidade. Assim, o
jornalismo independente chegou antes no caso do “Hospital da polícia militar do RS
testou proxalutamida sem autorização da Anvisa em pacientes com Covid-19”.

O jornalismo está em processo de mudanças e as alterações nas redações


são prova disso. Portanto, o jornalismo independente é a grande e melhor solução
para os profissionais que desejam continuar na sua profissão. O jornalismo de Novo
51

Tipo, como foi chamado por alguns autores durante a monografia, é o futuro que
está cada vez mais próximo e muito provavelmente, vai ser a maneira de fazer
jornalismo dos novos profissionais que estão se formando na Academia. Já que
partes das mídias tradicionais ainda não se reinventaram e o mercado de trabalho
está se afunilando nos grandes veículos. A época em que vivemos salienta bem a
realidade estudada durante a pesquisa.

Ao responder a pergunta principal da pesquisa, já é possível estabelecer uma


parte dos objetivos que era mostrar a liberdade de escrita do jornalismo
independente e sua atual realidade.

Quando estudado o jornalismo independente durante a pandemia de COVID-


19, os valores-notícias proposto na metodologia da pesquisa - proximidade,
relevância e concorrência - chega-se a um resultado. Por mais relevante que seja a
notícia, dependendo do seu contexto, não é tão importante para as mídias
tradicionais e próximas ao fato da reportagem analisada.

Enquanto para o jornalismo independente a proximidade é o valor mais


considerando, seguido da relevância da notícia. O valor-notícia concorrência, a
mídia tradicional mesmo dando a notícia depois, conseguiu alcançar o jornalismo
independente nas pesquisas sobre o assunto. O principal motivo volta a ser a
questão financeira.

Durante todo o estudo, desde o início de 2022, quando iniciou-se o projeto de


pesquisa, trabalhar com o tema ” Jornalismo Independente”, não foi fácil. Os motivos
principais são a falta de estudo sobre o tipo de jornalismo do futuro que está cada
vez mais próximo.

Como acadêmica de jornalismo penso em seguir nesse sentido do jornalismo


independente, que é dar voz a proximidade e realidade em que estou inserida.
Contudo, desejo praticar os maiores propósitos do jornalista: Informar e defender a
democracia.

A sociedade em que estamos inseridos precisa da atenção para que cada vez
mais possamos combater as fake news e levar a informação correta, principalmente
nas mídias digitais, onde a informação é muita. Nós, jornalistas e acadêmicos de
52

jornalismo, temos o dever de defender a população de qualquer desinformação. A


forma de agirmos como Gatekeepers nunca foi tão precisa.

Por fim, considero o jornalismo independente sério, a melhor forma de


informar e proteger nossa democracia atualmente. Apenas os jornalistas
independentes e mesmo assim disfarçados com camisas do Brasil, estão
conseguindo informar o que está realmente acontecendo nos protestos
antidemocráticos que se passam depois do resultado das últimas eleições de 2022.

O jornalismo independente foi escolhido como tema para a monografia, pois


acredito que necessitamos falar mais de jornalismo entre os jornalistas. Por mais
que tenha conseguido responder às questões e objetivos propostos nesta
monografia, termino com a sensação de dever não cumprido.

Precisamos falar mais nas Academias sobre o jornalismo independente e


seus principais aspectos e idealizações. Outro motivo que é necessário, é realizar
cada vez mais pesquisas sobre o assunto para que possamos nos questionar mais
vezes “O que levou um portal de jornalismo independente a ser referência de pauta
aos grandes veículos tradicionais de comunicação”.

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53

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55

APÊNDICE – Entrevista com Pedro Nakamura

P - Então, eu vou começar te perguntando. Claro, meu nome é Giulia, né.


Estudo na Uniritter, no último semestre. Então Pedro, qual seria seu ponto de vista
entre a vantagem do independente para as grandes mídias,a GZH ou as outras
maiores?

R- De vantagem enquanto cobertura jornalística, nesse sentido.

P- Isso, vantagens e desvantagens.

R- Bom, eu e a minha experiência de maneira geral, ela sempre foi mais no


Jornalismo Independente e o que eu noto, até conversando com alguns colegas que
estão na chamada imprensa tradicional, é que existe uma certa... aquele papel de
fiscalização do poder público a nível local, de maneira geral ele funciona melhor no
jornalismo independente. O Jornalismo Independente a pessoa ter parece ter mais
capacidade para fiscalizar e fazer cobranças no que tange o poder público mesmo.
Eu lembro de coberturas, assim matérias, em específico, não é o caso da
proxalutamida, mas de outras matérias em que as informações chegam antes nas
pessoas da GZH, por exemplo, e a GZH ignorou ou não foi atras. Não sei
exatamente por quais motivos, mas optaram conscientemente em não ir atrás das
histórias. Eram duas histórias envolvendo a UFRGS, inclusive e o Matinal foi atrás,
né. Então às vezes a gente pode acabar tendo mais liberdade para ir atrás de
alguns assuntos, para fiscalizar alguns assuntos que por vezes são considerados ou
sem importância ou mexem com interesses que não estão muito com certas mídias
comerciais não estão afim. Até porque o lance de ser comercial sempre pesa, né?
Às vezes você tem patrocinadores, você tem uma série de apoiadores que
pertencem a uma camada social da população que tem seus interesses e que os
jornais e veículos não querem contrariá-los. Então é isso, até não sei qual é o
conceito de jornalismo independe você estaria trabalhando, mas assim, eu acho que
de modo geral é isso. Essa... tu não está tão submetido a interesses comerciais e
isso dá mais fôlego para fazer um trabalho jornalístico crítico, nessa linha, eu diria.
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P - É nessa linha que eu estou estudando e pesquisando, que infelizmente


tem muito pouco material e quanto tem é um citando o outro. Um manual de
sobrevivência do independente é algo não tem assim.

R - Então é um espaço de pesquisa para ti. Saiu até um livro agora, que eu fui
pra SBPJOR nesse último final de semana, porque fui apresentar um trabalho do
meu TCC também e o pessoal lá UFSC, do Rogério Christofoletti e outros assim,
eles publicaram um livro chamado jornalismo local a serviço dos públicos. Imagino
que ajude, talvez tenha algum artigo ou alguma coisa que possa te ajudar.

. P - A respeito de Fake News o Jornalismo Independente, bem nessa pegada


que a gente estava falando. Ele é menos vulnerável a elas? Na sua visão.

R - Tu diz de propagar?

P - Isso de propagar e da maneira da apuração, da checagem.

R - Eu acho que de modo geral, a gente corre o risco nos mesmo vieses, as
vezes que talvez alguém de mídia comercial pode acabar. Se tu não faz um trabalho
correto, seja para mídia independente, seja para mídia comercial, eu acho que você
acaba cometendo esse tipo de coisa. Lembro, por exemplo, o diário do centro
mundo que em tese é mídia independente, não sei se são, mas eles publicavam
várias matérias erradas, factualmente esquecitíssimas, por exemplo. E eles são
como se fosse mídia independente. O Brasil 247 fez aquele documentário da facada,
que é uma salada de frutas muito esquisita, em tese eles são mídias independentes
mais vai do quão independente você é. A partir do momento que você começa a
tomar partido pelo um partido e tu começa a abrir mão de determinados valores
jornalísticos, eu acho que você deixa um pouco de ser mídia independente. Então,
eu não saberia dizer. De modo geral, se você segue a linha do jornalismo preciso
correto, se tu segue o ideal tu não cai, mas o ideal nem sempre está praticamente
concretizado para as pessoas o que elas estão fazendo.

P - E no jornalismo factual, do dia a dia. Tu achas que o independente


consegue concorrer com os maiores? Como é a estrutura do Matinal, se é menor e
em relação às pessoas? A saída seria as pautas mais especiais, como foi do
Hospital da BM e ter mais espaço para a produção de notícias?
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R - Eu acho que a cobertura diária é uma dificuldade muito grande do


jornalismo independente justamente porque falta braço, falta muita coisa para a
cobertura factual diária, a menos que seja focada em uma coisa muito específica.
Como alguns blogs fazem, sei lá, enfim, você tem dentro de jornais grandes equipes
que se dedicam a uma cobertura específica e enfim. Eu não acho que seja um
modelo impossível alguma cobertura factual diária no jornalismo independente, mas
a tendência é o investimento em matérias maiores, em matérias investigativas, que é
a forma que tem pra se diferenciar. Justamente por um pouco do que a gente falou
antes. A mídia comercial, pelo menos em matéria local, tende a ser muito pouco
combativa. Então também tende não ir muito atrás das coisas do jornalismo factual.
O jornalismo factual, às vezes ele cria... ele vai criando uma visão fragmentada do
que tá acontecendo, né. Então, é até uma forma de diferenciação de fazer matérias
maiores que deem mais contexto, que de a história toda, que eventualmente
cheguem depois até, mas trazendo algum detalhe novo do que a cobertura factual
diária. Na prática do Matinal, eu frequentemente em várias matérias, eu construía
pontinhos em cima de coisas que já saíram na imprensa tradicional. O caso da
proxalutamida, por exemplo, já tinha uma apuração, mas lá em Manaus, do que
aconteceu lá em Manaus, do Globo. Então já tinha alguns pontos ali que já dava
para ajudar a formar um cenário, né. Então partindo do que já estava estabelecido
ali eu consegui ir além. Então existe isso, assim eu acho que de modo geral a
cobertura factual é um desafio, falta braço. Não acho que seja impossível, eu acho
que até dependendo do enquadramento pode ser desejado, né. Justamente porque,
por exemplo, aqui no Rio Grande do Sul a gente tem uma cobertura muito ruim da
Câmara de Vereadores, em Porto Alegre e tem uma cobertura ruim da Assembleia
Legislativa Estadual. Então são buracos que o jornalismo independente poderia
suprir com alguma cobertura mais factual, né, mas falta braço, se tivesse braço seria
bom. Enfim, dependendo às vezes o long form investigativo é sempre mais
desejável também.

P- Eu vou te fazer mais perguntas, mas dá vontade de ficar conversando e


conversando. E aquela velha pergunta. Tu acredita que o jornalismo digital vai
prevalecer sobre o impresso?

R - Acho que ninguém mais lê o impresso, quase ninguém liga mais pro
impresso. Eu fiz um trainee no Estadão e uma das coisas que eu ouvi lá foi que a
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tendência do impresso era ele virar um artigo de luxo, um artigo sabe? O assinante
premium vai receber no lugar do assinante comum, sabe? Ser um produto premium
pra pessoa que é bem de nicho, que gosta de ter alí o papel na mão. Então acho
que sim, a tendência é o jornalismo digital prevalecer, eu acho que já prevalece, né.
A maior parte das pessoas não lê jornal. Eu inclusive, quando fui pra São Paulo, eu..
pelo amor de Deus a gente não lê. Até quando fui pra São Paulo agora, eu peguei
uma cópia da Folha, uma cópia do Globo e uma cópia do valor econômico lá na
redação no Estadão, peguei uma cópia do Estadão também, e eu lembro que eu
peguei a Folha de São Paulo e eu fique assim: Cara pra que tanto texto, tinha tanta
coisa ali que eu ficava assim pô isso aqui é uma revista, mas na verdade era de um
dia, um dia da semana. Ai eu fiquei porra, quem que le essa merda toda . Ninguém
lia, sabe, ninguém tem tempo pra ler aquilo, sei lá́ , só um cara aposentado que vai
ter tempo pra acordar de manhã e ler tudo que está ali. E mesmo assim, os
aposentados estão no zap, sei lá, né tô falando coisa assim, mas ninguém lê, eu
acho e é tanta informação assim que também, que tanto ali no jornal ou como na
internet e etc que falta justamente essas coisas e curadoria, né. De algo que ordene
o que é importante e não é. Eu lembro que eu abri o jornal tmbém e tive essa
mesma sensação de confusão, porra tanta coisa acontecendo e tudo parece
importante, sabe. Enfim, mas acho que sim vai prevalecer o jornalismo digital e a
gente tem que encontrar um jeito de ordenar essa bagunça. Porque quem faz essa
bagunça são os algoritmos, né? Tu entra no twitter e no twitter que diz o que é
importante pra ti. O instagram que joga na tua cara e diz o que é importante. O
facebook, sabe.

P - Sim e eu acho que tu já deu uma pincelada, mas se tu puder falar um


pouco mais sobre a construção da notícia no independente. Tu falou do caso
específico da proxalutamida, né, que já tinha um estudo e tu pegou um pouquinho e
foi indo. E as outras? Como é a construção da notícia no independente

R - Olha, eu acho que não foge do tradicional, eu acho que depende um


pouco do tipo de independente que tu está falando, porque eu trabalhei como
freelancer fazendo matérias pro Intercept também. O que eu posso dizer é que no
intercept, o Joio do Trigo que eu já escrevi matérias e o que prevalece do Matinal,
por exemplo, é o aspecto local. Então aquela coisa do pensando nos valores da
notícia é aquela coisa da proximidade, né? Mas eu acho que de modo geral, eu acho
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que dependendo do editor. O meu estilo, aí é o meu estilo, vai que tem gente,
pessoas que pensam diferente de mim, mas a minha concepção diz que tu deve
enxergar milhares de coisas todos os dias, não todos os dias. Assim sempre tem
alguma coisa acontecendo e pra eleger prioridades, que às vezes uma investigação
precisa despender tempo e às vezes, demora tu encontrar algo. Eu acho que o fator
impacto, assim como aquilo impacta aquela comunidade, como aquilo é uma coisa
desconhecida, aquilo é uma coisa que pode gerar alguma mudança? O que aquilo
acrescenta de novo ao assunto, tem alguém falando nisso. Eu lembro que , por
exemplo, uma notícia bem local que saiu que eu achei grave, que obviamente não
iria sair em lugar nenhum, mas que eu achei grave e fui atrás no Matinal, foi um
lance da criação de uma loteria municipal. O Melo queria porque queria criar uma
loteria municipal, só que assim, tem discussões que falam da incostinualidade.
Primeiro que não se tem certeza se é legal ou não, seria uma criação de uma loteria
municipal no meio de um vácuo jurídico. Porque não se tem certeza se pode e
caberia uma ação direta de incostinualidade e vindo uma ação desse gênero teria
todo tipo de repercussão jurídica que iria gerar responsabilização eventualmente
administrativa e criminal pra uma penca de gente da administração municipal. Então
seria uma aventura jurídica muito grave, sabe? E aí eu fui atrás, mas assim porque
eu achei grave e era um aspecto muito assim"loteria municipal de Porto Alegre". Não
teve se lá uma repercussão, algumas pessoas leram, claro e talvez tenha ajudado e
nem foi muito pra frente a proposta. Talvez alguém tenha se ligado na matéria, não
sei, nunca dá para saber, mas sabe tua ajuda, sei lá. É aquela coisa de escala tu
tem uma GZH que é uma tendência regional ela não vai lidar com esse tipo de
assunto, sabe? Então eu acho que é isso, pensando no impacto e pensando nas
lacunas de cobertura que a mídia comercial não cobre.

P - E se tu pudesse falar um pouco mais do Matinal Tem as pessoas que


assinam, né, o premium e algum patrocinador? O último artigo que li, tinha dois.
Sabe dizer se tem algum?

R - Não sei dizer assim. O projeto do Matinal eu parei de contribuir em agosto.


Eu dei uma saída e agora ele está passando por várias reformas administrativas no
momento. Mudou o CEO e ele estão renovando algumas coisas. Porém tem ali um
sistema de parceria com alguns locais. Tem a Unisinos, tinha o sindicato dos
engenheiros, tinha uma livraria a bambolê. Então algumas parcerias comerciais eles
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tem, até porque leitor no modo geral é fraco.Eu acho que no Brasil a gente tem os
leitores de modo geral eles não tem a cultura de assinar, né? De pagar jornal e
apoiar, sabe. Então acaba precisando desses parceiros comerciais, mas eu não sei
exatamente a quantidade que eles bancam, mas tem um patrocinador.

P - Tu falou que saiu em agosto, né? e Tu entrou quando? Como foi a tua
vivência trabalhando com o Matinal? Como é com reportagem, enfim

R - Eu tava trabalhando meio que como um freela fixo, né? Eu fiquei um ano.
Na verdade eu comecei em agosto de 2021 e sai no final de julho deste ano para
começar o trainee no Estadão que eu fui fazer. E basicamente. eu estava em um
freela fixo e eu ficava atendendo demandas de editores. Quando eu comecei no
Matinal, eu tava associado ao estudo Fronteira. A fronteira é meio que uma
cooperativa de jornalistas freelancers e eu já tava como estagiário e naquele
momento eu fui efetivado na fronteira pra ser como um adido no Matinal. Eu era a
pessoa que prestava serviço, que fazia conteúdo pro Matinal que era cliente da
Fronteira. Então era essa relação cruzada, né. Era o Matinal que contratava a
Fronteira e a Fronteira me designou como a pessoa que atendesse o cliente. Em um
momento inicial, o plano do Matinal ele tinha uma ideia de ser um Nexo, a inspiração
era ser um Nexo. Daí é aquela coisa mais explicativa, né? Com aquela coisa meio
académica e no primeiro mês, eu sempre tive um viés mais investigativo, não só a
Fronteira, mas alguns repórteres que tavam ali no nosso entorno também. Enquanto
eles estavam se organizando pra me pautar em relação ao que fazer e o que não
fazer e etc, acho que na segunda semana de trabalho no Matinal eu já recebi a dica
da Proxalutamida. Então a proxalutamida acabou sendo a segunda matéria que eu
publiquei no Matinal, porque eu comecei oficialmente em agosto e a partir da
segunda semana eu já estava apurando a proxalutamida. E acabou sendo a
segunda matéria e ao longo do segundo semestre de 2021, o Matinal por causa da
repercussão nacional que deu o caso, acabou se dedicando ao investigativo. Eles
me deixaram no investigativo e contrataram um outro repórter pra fazer a cobertura
diária explicativa que era o que eles queriam. Ao longo de 2022, primeiro semestre
de 2022, esse outro repórter ele largou, né, cortaram e ficou só eu. E aí eu meio que
assumi as duas coberturas diária e coberturas investigativas. Acabou não dando
muito certo. Até porque, eu acho que tinha uma espécie de crise de identidade um
pouco no Matinal, porque se tinha essa ideia de seguir um padrão meio Nexo, de um
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jornalismo explicativo, que está explicando a cidade e mostrando como a cidade é e


não sei o que e tal . E eu tinha essa perspectiva mais investigativa. E eles queriam
fazer os dois. Não funcionou muito bem e na minha humilde opinião faz muito mais
sentido pra mídia independente ela ter esse local, ter esse viés investigativo, do que
ter esse viés explicativo a não ser em casos muito específicos. Porque ficar
explicando a cidade eu acho que não tem interesse público muito grande, sabe? É
um nicho muito pequeno e eu não sei se as pessoas pagam pra isso, sabe? Mas as
pessoas pagam pro jornalismo de interesse público, que vai fiscalizar, que vai falar,
olha tem tal coisa de errado acontecendo aqui ,tem tal coisa de errado acontecendo
ali, sabe. Eu acho que o interesse público reside mais na investigação do que na
explicação, mas enfim e agora eu queria voltar, em algum momento, mas eles estão
passando por renovações e rediscussões agora lá no Matinal.

P - E eu acho que a última pergunta que agora eu estava vendo e esqueci de


te perguntar sobre a busca pelas fontes em si, como é. Elas vem até vocês no
matinal no caso ou vocês acabam indo atrás

R - Então, eu acho que o lance das fontes eu acho que algo vai da
credibilidade do repórter que vai se construindo. Então, isso é uma coisa que eu
aprendi até em uma coisa do Estadão, uma coisa que eu identifiquei que eu achei
interessante descobrir. É porque às vezes, e eu ficava, será que as pessoas não me
respondem porque eu sou de um veículo menor? Será que estão me tratando mal,
porque eu sou do Matinal e não da GZH. Então eu fiz o trainee no Estadão e às
vezes eu era ignorado da mesma maneira, sabe. Sendo o Estadão ou não. Então ,
uma das coisas que eu fui identificando foi que vai da credibilidade do repórter essa
coisa da fonte. De cultivar a fonte sabe, mais que o veículo, mas de modo geral eu
acho que as pessoas estão mais ligadas nisso e mais algumas denúncias chegavam
até nós, mas geralmente elas vinham por meio jornalístico, porque o jornalista ficou
sabendo de tal coisa, acho curioso e mandava pra gente, sabe. Então de modo
geral era isso. Às vezes leitores. Um ou outro leitor mandava algumas coisas, mas a
partir do momento, pelo menos a partir da proxa, que a gente ficou um pouco mais
reconhecido como veículo que vai atrás e até o Matinal tentou se vender um pouco
assim, várias coisas chegaram até nós ou até mim. Muitas coisas chegavam até
mim. Uma ou outra fonte me enviava diretamente alguma coisa ,mas eu acho que é
isso assim, é um misto é coisa da credibilidade . A credibilidade se constrói, ela é
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uma construção. Então não vejo tanta diferença na construção da credibilidade,


talvez os grandes veículos por serem mais notórios tem uma vida mais fácil em
algum sentidos, mas eu acho que não é um caminho muito diferente não, nessa
diferença entre os dois

P - Então eu acho que essas são as principais perguntas. Tinha umas aqui,
mas foi respondendo conforme. Então é isso Pedro, muito obrigado por ceder teu
tempo, teu espaço.

R - Eu que agradeço pelo teu interesse na matéria, foi uma cobertura bem
estimulante. Eu estou até ... hoje mesmo eu recebi uma ligação de uma pessoa lá da
época e agora buscando ação judicial e tal. Eu to vendo em escrever um livro sobre
esse assunto, que é uma coisa que foi bem impactante, né? É um tipo de assunto
que foi muito complexo, foi uma loucura total da nossa equipe, foi uma coisa muito
grande, com repercussões internacionais e eu acho que é bom ter um registro
histórico com essa doideira toda.

E obrigado pelo teu interesse, né. Só aproveitando só pra ligar assim, é um


tipo de história que não sairia na mídia comercial gaúcha. Do jeito que saiu, do jeito
que foi formatado não sairia de modo nenhum na mídia comercial gaúcha. Eu acho
que umas das grandes características da mídia comercial gaúcha, que é uma coisa
que incomoda, é existe um vínculo institucional com a Brigada Militar, em que tu não
pode criticar a brigada militar, eu acho, não sei porque. Mas tem esse peleguismo
com a Brigada Militar e eu tenho a sensação que as pessoas não iriam mexer nisso
pra não comprar briga ou pra não sabe... não sei. Tem um certo jogo de comadres
um pouco na atitude da mídia comercial com algumas instituições, pelo menos aqui
no Rio Grande do Sul, e eu acho que pudesse até sair como uma nota ou alguma
coisa bem morna numa GZH da vida e tal, mas com fôlego que foi se tratado, com o
aspecto de cobrança que foi tratado e tudo mais acho que não poderia ter saído em
nenhum outro lugar que não o Matinal. Que é no momento em que a gente tinha
tempo pra investigar, o que é importante e que não se investe nessas grandes
redações, por que não se investe em investigativo, porque às vezes não interessa
cobrar, fiscalizar o poder público, às vezes não interessa, às vezes o que interessa
é ficar dando opinião que rende uma frequência mais de cliques investindo em
colunista e é isso, acho que ... limitação de caracteres. O Matinal permite uma
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matéria do tamanho que fosse necessária, um textão tem uns 30 mil caracteres até
porque a ideia é dar uma história completa e não fragmentada, eu acho que foi um
tanto divido em série e eu acho que é isso de maneira geral, acrescentando esse
aspecto.

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