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Fórmula da Comunicação Envolvente – Módulo 9 | www. comunicacaoenvolvente.com.br


Apostila Módulo 9 – Fórmula da Comunicação Envolvente.
Curso de Especialização da Voz e da Fala para Comunicadores.
Copyright © by Marcio Seixas e Marcelo Rezende 2017.

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Projeto Gráfico e Criação: Bradlei Zolotujim Mazur – FCE 072015/MG


Textos e Edição: Marcelo Moreira Rezende – Mtb 04887
Textos e Revisão Geral: Marcio Roberto Seixas – DRT 933/RJ e DRT 625/RJ

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Conteúdo do Módulo 9

Programa do Curso – 04

Exercícios de Narração – 05

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Programa da Fórmula da Comunicação Envolvente

Compreensão dos processos de produção da Voz Falada,


tanto nos aspectos teóricos quanto práticos.

Exercícios de respiração e articulação.

Exercícios de locução com textos de noticiários e


reportagens.

Interpretação de textos comerciais para Rádio e TV.

Identificação de vícios de linguagem.

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EXERCíCIOS DE NARRAÇÃO

O empreiteiro precisava com urgência se desfazer de seu imóvel. O tempo


para ele naquele momento valia ouro. Entregou-se de corpo e alma à
reforma de seu único bem. Descascou as paredes, tirou o forro de
madeira, trocou por gesso com sancas. Não satisfeito, substituiu todo o
piso de tábua corrida por lajotas, tirou os ladrilhos quebrados, e trocou
todo o sistema hidráulico e elétrico. Queria melhorar a aparência daquele
recanto. Terminada a reforma, olhou orgulhoso sua obra com a certeza
inabalável de que faria um bom negócio em poucos dias.

Impaciente com sua tendência a engordar, você procura um


endocrinologista. Exagero? Vaidade extremada? Silhueta desfavorável?
São tantas as possibilidades, tão variadas as respostas. E no fim, ao longo
de uma penosa bateria de exames médicos, o veredicto: comida quase
sem sal, hábitos alimentares saudáveis, caminhadas sob o sol, ginástica
localizada, redução drástica de calorias nas refeições. Nos finais de
semana, talvez, apenas TALVEZ, um copo de refrigerante, ou um copo de
duzentos mililitros de cerveja.

Nervosa, a mulher bem vestida equilibrando-se em saltos muito altos


gesticulava histérica expondo-se perigosamente na via pública. Seu
semblante crispado era uma demonstração inequívoca de seu deplorável
estado psicológico. Gritava obscenidades acompanhadas de gestos não
menos obscenos. Às vezes parecia se jogar na frente dos veículos
provocando angústia nas pessoas que testemunhavam a estranha
movimentação. A mulher atraía a curiosidade dos motoristas, que não
diminuíam a marcha para verificar o estranho comportamento.

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Benito Falbo, avesso a falcatruas, entregou à freguesa uma sacola de
plástico contendo doze itens hortifrutigranjeiros. Dentre eles, dois cachos
de uva Itália, doze bananas d’água e espinafre. Seu semblante severo
sinalizava que havia em seu íntimo um intenso conflito. Sem que a
freguesa, entre atônita e constrangida, pudesse esboçar o menor gesto
que fosse, ouviu Benito murmurar entredentes: o proprietário da barraca
ensacava produtos imprestáveis como se fossem viçosos. Para agir assim
ele contava com a conivência dos fiscais.

Durante anos o velho pároco reinou na pequena localidade de Vila Nova


Granada, cidadezinha de dois mil e oitocentos habitantes, a sudoeste de
Mar de Espanha, Minas Gerais. De idade avançada, conhecia cada
morador das cercanias pelos nomes, conhecia-lhes os problemas, para os
quais tinha na ponta da língua uma solução escavada nos salmos que
pregava. Afável, porém altivo, solícito sem subserviência, ouvia, mas não
se envolvia, abençoava imbuído de fé, reprovava com um olhar para
relevar em seguida com um gesto suave das mãos.

Irascível, áspero, afoito, ríspido no limite da grosseria, aquele político não


tardou a pagar caro por seus erros. Sua índole era conhecida por todos
especialmente pela mídia, sem exceção. Possuidor de índole psicótica, de
ideias ultrapassadas, ostentava uma cultura estranha. Seu passatempo
predileto era bizarro: adorava irritar o Cacique Juruna, provocando-o,
expondo-o ao ridículo. Certa vez, durante uma entrevista tumultuada a
jornalistas, a maioria estrangeiros, declarou com profundo desdém que o
autóctone era um aculturado exótico.

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Expedito vivia contando vantagens sobre o seu celibato. Mas finalmente
seu dia de homem que procura estabilidade chegou. Terminado o jantar na
casa da namorada, ficou de pé, aprumou-se como a ensaiar um discurso,
pigarreou e pediu a mão de Tereza em casamento. Recebeu um sonoro
“NÃO” como resposta. Chegando em casa, levantou a cabeça, empinou o
nariz e disse à mãe com estudada indiferença que uma simples negativa
não lhe tiraria do páreo. Pensando bem, seria melhor estender um
pouquinho mais seu reinado de celibatário.

Na antevéspera de completar 70 anos o aposentado leu a notícia nos


jornais: ALIMENTOS COMUNS ESTÃO CHEIOS DE AGROTÓXICOS.
Contrafeito com o que acabara de ler, chamou sua esposa. Pousou o
jornal nos joelhos, retirou os óculos que estavam pendurados na ponta de
seu nariz e disparou: não vamos mais comprar alimentos condenados. A
partir de hoje só vou adquirir produtos orgânicos. São mais caros? São,
não importa. Tem aspecto feio? Tem, mas tenebroso é o câncer. O gosto é
duvidoso? É. O do remédio é pior ainda.

Taifeiro que dedicou toda sua vida ao trabalho em portos, era dado a
fantasias e elucubrações as mais estapafúrdias. Nos momentos de
reflexão, dizia a si mesmo que era necessário dar um basta a conjeturas
vazias. Mas ao se aproximar da ponte móvel para ganhar a margem
oposta do riacho que passava nos fundos de sua casa, tremia de medo.
Suava em bicas. Empacava feito animal quando pressente o perigo. Não
havia quem pudesse lhe convencer que a ponte era segura. Seus olhos
assustados provocavam mais riso do que compaixão.

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Eueli, Yaçanã, e Yara, primas entre si em primeiro grau, mineiras oriundas
da pequena cidade de Cordisburgo vieram passar as férias no Rio de
Janeiro. Com idades de 21 a 24 anos, mal conseguiam conter o
entusiasmo aguardando o ônibus que as levaria a percorrer a cidade
maravilhosa. Na primeira parada do veículo junto a um famoso parque de
diversões, resolveram brincar um pouco no túnel dos horrores. Quase
morreram de susto ouvindo os gritos, explosões, gargalhadas medonhas,
gemidos e lamentos dentro do apertado túnel de lata.

Viajou 5 horas seguidas, a maior parte do trajeto debaixo de chuvas


intensas, sem descansar, sem ao menos descer do carro pra ir ao
banheiro. Mas conseguiu realizar o sonho que acalentava desde que era
estudante do primário: conhecer a antiga mina de Morro Velho. O que o
atraía? O trabalho dos homens no ventre da terra? O desejo de ver uma
pepita de ouro? Resoluto, aproximou-se o mais que pode da entrada
principal da mina e cantou a linda canção de Renato Teixeira: “ILUMINA A
MINA ESCURA E FUNDA O TREM DA NOSSA VIDA...”.

Qualquer pessoa educada, com um mínimo de bom senso, toca a


campainha como toda pessoa faz. Menos Ana Elisa. Impaciente, egoísta,
dona da verdade, insegura, ela prega sustos na família esmurrando a
porta para chamar a atenção. De nada valem os apelos dos parentes, que
sugerem um tratamento psicológico para identificar essa agressividade
latente. O temperamento difícil de Ana Elisa a impede de ficar mais do que
um mês nos poucos empregos que conseguiu arranjar. Sentindo-se
rejeitada, passou a cultivar um ódio irracional contra tudo e todos.

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Munido de uma câmera digital, um tripé, e binóculos, me postei imóvel à
sombra de uma frondosa amendoeira no parque. A alguns metros de mim,
uma touceira de hibiscos, fonte de alimento deles, brilhava sob o sol da
manhã. Eu queria fotografar essas criaturinhas graciosas, nervosas,
ariscas, micro organismos dotados de energia impressionante. Era uma
tentativa – possivelmente inútil – de fotografar o “ballet” encantador. Mas
seu magnífico instinto de autoproteção denunciava minha presença
levando-os a se afastarem na mesma velocidade da chegada.

Nas feiras livres, as hortaliças e legumes que ficam em primeiro plano são
uma isca infalível. Manipulados por mãos desonestas, os produtos
exercem um grande poder de atração. O cliente incauto, ao tentar escolher
os itens, se vê impedido pelo vendedor que usa as mais deslavadas
mentiras pra justificar sua recusa. O comerciante, mal intencionado, sabe
que o cliente é na maioria das vezes muito passivo. Somente ao chegar
em casa o freguês se dá conta de ter sido vitima da má fé, do vicio de
enganar disseminado neste tipo de comércio.

O candidato possuía todos os requisitos para obter a vaga oferecida. Muito


jovem ainda, o trainee cometeu uma falha imperdoável: omitiu, sabe-se lá
por que, informações importantes sobre seu reduzido currículo. Ao
discorrer sobre o medo de não saber qual carreira seguir depois de ter
passado por etapas difíceis dos testes, admitiu não estar à altura do cargo
pleiteado. Só então, os funcionários do departamento de recursos
humanos, responsáveis pela convocação equivocada, viram o tamanho da
trapalhada em que se meteram.

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Calado, imóvel, olhar fixo no infinito, respondeu sem pestanejar as
perguntas formuladas pelo psiquiatra. Com gestos calmos,
milimetricamente calculados, colocou o telefone celular ao lado do
aparelho de fax do médico. Estaria tramando alguma coisa? Estaria
insatisfeito com o tratamento recebido? Havia eletricidade no ar abafado
dentro do luxuoso consultório. O silencio era perturbador. O psiquiatra,
como que obedecendo a um forte impulso, pôs-se de pé, abriu a porta ao
paciente, comunicando que a sessão havia terminado.

Entrou no cinema em estado de alegria juvenil. Aguardou a semana inteira


pela estreia. Escolheu uma poltrona entre as primeiras fileiras. Agarrado
ao pacote de pipocas e um copo cheio de coca cola, olhou para os lados
avaliando a plateia naquela primeira sessão matinal. Esperava ver seu
astro predileto em cenas arrebatadoras. Porém, logo nos primeiros 15
minutos de filme, o fã de carteirinha do famoso lutador entendeu a
mensagem: o filme nada mais era do que um amontoado de cenas de
violência gratuita, brigas, explosões, correrias.

Ninguém no banco disse uma palavra sequer em favor do funcionário


demitido. Clientes e funcionários pareciam aliviados pela ausência do
recalcitrante colega dispensado por justa causa. Eram constantes as
reclamações em que ele figurava como figura central. Áspero, impaciente,
mal educado, colecionou adversários dentro e fora do banco. Vivia isolado,
já que ninguém queria sua companhia mesmo na área da copa onde se
servia o cafezinho de todas as manhãs. Questionado sobre seu
comportamento, esquivou-se, dizendo-se estressado e agitado.

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Bruna Bia é linda, bem humorada, simpática, espirituosa, e bastante
tímida. Seus modos suaves, sua pele muito alva, os olhos de um azul
transparente, lembram mais uma princesa, do que uma aplicada aluna do
segundo grau. Ela tem prontas, palavras de incentivo, de solidariedade às
colegas de classe que sofrem de ansiedade à época das provas
bimestrais. Não se nega a ajudá-las. Doa seu tempo sem mostrar qualquer
sinal de incômodo. Essa adolescente encantadora se transforma quando
volta ao lar pra conviver com sua irmã caçula.

Mudar, mudar sempre. Para se renovar. Se reciclar, acompanhar os novos


tempos. Para usar uma palavra muito em voga: se reinventar. Mudar
inclusive de opinião. Por que não? Há que se defender com unhas e
dentes os seus princípios? Aquele cantor, ou cantora que sempre nos
incomodou, não poderá em algum momento tocar nosso coração?
Mexendo fundo na nossa emoção? E quando esse momento chegar,
devemos desembainhar a espada da controvérsia e dizer não? A isso
chamamos de radicalismo vazio.

Quinze minutos antes do horário previsto o jovem casal estava na fila do


cinema. Munidos de um enorme saco de pipoca, chicletes e o indefectível
copo de Coca-Cola, transpiravam ansiedade. Meia hora depois de iniciado
o filme, levantaram-se e foram embora cuspindo marimbondos. Alegaram
que foram induzidos a erro, pois jamais assistiriam uma droga como
aquela. Indignados, taxaram os roteiristas de “incompetentes” por não
buscarem em clássicos da literatura alguma história que os remetesse à
cultura, ao lazer para qualquer faixa etária.

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Onze meses de trabalho ininterrupto e lá um belo dia vem o aviso de férias
do RH junto com o contracheque. Exultante, o funcionário público afrouxa
a gravata ainda em pleno expediente. Parar. Interromper a rotina de sai-
cedo-de-casa-fica-horas-no-engarrafamento-consegue-uma vaga-na-rua-
sai-correndo-e-marca-o-cartão-faltando-um-minuto-pras-nove. Ufa!
Finalmente as tão esperadas férias. Guardar a pasta na escrivaninha de
casa, cobrir o computador e dizer tchau! Sair, viajar, sol na pele, dormir
tarde, andar sem destino. Isso sim, é que é viver!

O carteiro Max cujo nome rima com o nome da Rua Ajax onde fica o
sobrado em que reside desde que nasceu há cinquenta anos, vai se
aposentar. Max está cobrindo temporariamente a rota do colega Paulo
Emilio, antigo nos correios como ele. Paulo contraiu uma virose resistente
o que o impede de comparecer ao trabalho desde o início do mês. Embora
esteja fora de forma, já que passou aos trabalhos internos, Max
começando a entregar a correspondência no Leme às quatro e meia
acaba o estafante trabalho no mais tardar às cinco e meia.

O governo venezuelano sob a égide do militares quis aumentar o preço da


gasolina e do óleo diesel. Sob qual pretexto? O de sempre, a velha
desculpa desgastada de que o preço do barril de óleo cru tinha subido
muito. O povo recusou. Disse não. E foi pras ruas mostrar seu desagrado,
produzindo um barulhão infernal batendo em panelas, latas vazias,
tambores, etc. Teve inicio os enfrentamentos. O povo destemido fincou pé
no terreno como se dissesse: “daqui só saímos mortos!” As forças de
repressão entenderam, e voltaram aos quartéis.

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Bêbado, esforçando-se para não cair, o violonista tentou ficar de pé. Mas
contou com a paciência e uma ajuda discreta do maitre que serviu de
escora. Sem se incomodar com os olhares que atraía, colocou-se muito
perto do carrinho onde o maitre flambava um steak à Diana. Chamou o
garçom, pagou a conta sem ao menos conferir. Seu estado etílico não
afetou sua lucidez pois deu generosa gorjeta ao garçom. Então abraçou o
maitre, fitou-o com os olhos esgazeados dizendo em tom de discurso que
deveria tomar uma saideira e partir.

Faça essa experiência. Vá a um shopping, qualquer shopping e faça o


teste. Pare diante de uma vitrine. Demore-se alguns minutos olhando para
algum produto exposto. Mas antes, aperte o cronômetro do seu relógio.
Em menos de dois minutos você será abordado por um sorriso
estereotipado, padronizado de um vendedor que dirá: - “olá, meu nome é
Diogo, e o seu?”. Você pode eventualmente entrar, até comprar o produto,
ser bem atendido, mas... É necessário dizer seu nome? E você? Teve
vontade de saber o nome do vendedor?

Estressado o ilustrador vivia brigando com a namorada. Aos berros.


Temperamental, o rapaz se descontrolava porque a moça reclamava – e
estava coberta de razão – de seus constantes atrasos, chamando-o de
relapso. Mas esta briga em especial tinha um elemento novo: a ameaça da
moça de terminar o namoro já que estava saturada de tanta desavença.
Dirigindo feito um bêbado, em alta velocidade, ziguezagueando feito
cachorro fugitivo, o namorado parecia desejar que o final do romance
deles terminasse em tragédia.

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Será mesmo possível que tendo 30, 40, 50 canais a cabo à disposição no
controle remoto, alguém não se interesse em zapear? É possível que
alguém seja tão acomodado? Tanto faz ter um ou 20 canais? É normal
sentar-se diante da TV sem demonstrar interesse no que os outros
inúmeros canais mostram? Tereza Esmeralda é diferente. Nutre
verdadeira ojeriza pelos apresentadores de talk shows. Com a sua
franqueza peculiar, reclama deles por se acharem mais interessantes e
brilhantes que os próprios entrevistados.

Aglutinador. Envolvente. Tentador. Excitante. Disputado. Pode-se dizer


tudo isso e tantas outras coisas mais sobre o BAILE DOS COROAS. É um
Evento anual promovido no Clube Olímpico. Aguardado com ansiedade
pelos sócios da terceira idade, é uma tradição que causa furor em todos os
anos de sua realização. Porém, a cada ano, avolumam-se as queixas
contra a falta de planejamento da festa. Quando os encarregados pela
distribuição do buffet começam a circular no exíguo espaço do salão de
baile, começa o empurra-empurra.

Do apartamento situado numa zona de tráfego intenso a moradora fechou


pensativa a janela. Há semanas debruçada no parapeito do seu imóvel no
quarto andar, chegou a uma desoladora certeza: os motoristas teimam em
desobedecer as regras do trânsito. O guarda, em seu uniforme impecável,
semblante severo, porém simpático, completava exausto sua jornada de
trabalho. Pessimista, a moradora não via mais solução. Mas ela esperava
o quê? Que os mal educados tivessem consciência? Que as autoridades
não fossem omissas?

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Amplexos contra plexos agitados chegaram ao clímax entre os convivas
depois de duas horas de exaustiva reunião. Estavam todos, sem exceção,
exultantes. Mais do que exultantes, estavam aliviados. Ações de
solidariedade empreendidas durante o mês foram determinantes. Um
grupo de voluntários, a maioria aposentados, percorreu as redondezas
durante dias a fio. A prefeitura então abriu uma nova escola no bairro para
abrigar crianças pobres. Estava em curso um movimento para conduzir
essas crianças carentes rumo ao futuro.

Cheirando a Almíscar e a Alfazema, a recém-formada engenheira estava


linda. Trajando vestido listrado de bege e azul, saiu apressada do elevador
de serviço. Seu motorista a aguardava dentro do carro. Quando ele deu
partida, a engenheira mudou de ideia, desceu do carro, voltou em casa e
trocou de roupa. Agora estava vestida com um conjunto amarelo-ouro e
marrom. Olhou-se no espelho. O resultado não a agradou. Despiu-se de
novo. Colocou uma indumentária de seda que incorporava o roxo e o
cinza. Estava pronta pra entrevista.

Altivo o frentista do posto de gasolina parou de abastecer o caminhão.


Caprichoso, muito dedicado ao trabalho, era, porém, muito lento. Lerdo o
definiria melhor. Ignorando a buzinaria histérica e a impaciência dos
motoristas que aguardavam para também abastecer, pôs a bomba no
automático. Alheio ao tumulto ao seu redor atendeu a um entregador de
pizza. O motoboy estava perdido e queria informações sobre determinada
rua. O frentista com toda a calma do mundo orientou o entregador como
chegar rápido à Praia de Icaraí.

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Paulo Henrique Espinosa, diretor adjunto de engenharia de tráfego do
Detran de Juiz de Fora chegou cedo ao trabalho. Com um rápido olhar
perscrutou o ambiente à procura de sua secretária. Não a viu. Sua linha de
raciocínio estava de novo saindo para uma bifurcação. Conforme
observou, um engarrafamento nunca é igual ao anterior. As razões são
infinitas. Nunca seguem um padrão. Sem dúvida, não há estratégia
especial que possa resolver as intrincadas retenções verificadas todos os
dias entre as ruas Halfeld e Aulus Altamirando.

Junte um abacaxi médio, doze folhas de hortelã, três cerejas, um raminho


de dill, e doze gotas de angustura. Bata no liquidificador. Por 10 segundos
no máximo. É importante que o abacaxi não seja totalmente
desmanchado. Deixe descansar. Adicione meia fatia de laranja ácida,
maçã verde com a casca, gelo moído, açúcar ou adoçante. Para enfeitar a
borda da taça, prenda uma “estrela” de carambola. A vodca pode ser a
STOLISHNAYA, a WIBOROWA, a ABSOLUT, ou a pobrezinha da
SMIRNOFF. Você terá um delicioso drinque de cítricos.

A tarde morria melancólica. No velório repleto de pessoas próximas à


família do ilustre defunto, lá estava o indefectível Pascoal. Simplório, sob a
ação de incontáveis doses de aguardente, disparava frases de efeito.
Esbarrando nos presentes, se desculpava com sua fala entrecortada por
soluços etílicos. Movendo-se com dificuldade, esgueirou-se no ambiente
apertado, estampou no rosto a expressão que lhe pareceu mais adequada,
tomou fôlego, localizou a viúva amparada pelos filhos a um canto, e
disparou: “a vida é bela” para espanto dos presentes.

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Diante da porta cujo verniz semiapagado indicava desleixo, o cobrador
deteve-se em dúvida. Abriu a pasta, conferiu os papéis, fechou a pasta,
sempre segurando-a com a mão esquerda. A temperatura no corredor
escuro, mal iluminado, sem exagero era 5 graus superior à externa.
Resoluto, tocou a campainha. Quando foi atendido, falou rispidamente que
o seu patrão aguardava uma solução definitiva para aquele problema que
se arrastava há meses. Ato contínuo virou as costas sem dar tempo ao
inquilino inadimplente de proferir alguma palavra.

Admoestado de que a proposta era inócua, deduziu que estava ouvindo


errado. Antes de interromper o que estava fazendo, avaliou com esmero
suas chances reais de ser bem sucedido. Levou as duas mãos à cabeça,
espalmando-as sobre a calvície precoce, franziu a testa, trancou os lábios,
ficando assim por longos minutos. Capricorniano, não era de seu estilo
desistir na primeira queda resultante do enfrentamento. Entretanto,
obedecendo à intuição – que podemos chamar também de sexto sentido –
calou seus argumentos, ficando, porém na defensiva.

Maria Auxiliadora se beliscava pra saber que não estava sonhando, ou


imaginando coisas. Tinha sido aprovada em todas as etapas de testes.
Como o próprio nome indica, era uma auxiliar valiosa, esforçada,
generosa, solidária. Jovem ainda, estava radiante por causa de sua
contratação. Podia afirmar com muito orgulho: “não obtive ajuda de
ninguém, superei todas as expectativas, por méritos próprios!” Preencheu
todos os requisitos ao se candidatar ao emprego, contrariando a
resistência do RH que não lhe reconhecia o talento.

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Pouco afeito a relações sociais, o livreiro dava pouca ou nenhuma
importância aos clientes que procuravam seu estabelecimento. “Já
acabou!” – “ Não saiu ainda!” – “Está esgotada!”- Passe outra hora!”
Brindava seus clientes com respostas assim, ríspidas, definitivas, à maioria
das indagações sobre livros didáticos. Porém certo dia um fato impensável
ocorreu: ele foi visto entre os bairros de Benfica e Caju, circulando absorto
no meio do engarrafamento. Numa das mãos, levava doze xeroxes com
autenticação.

Numa área bucólica, desabitada, de difícil acesso, um seleto grupo de


rapazes se exercita sob o sol causticante. São os recrutas da aeronáutica.
A pesada rotina de treinamentos começa muito cedo. Acordam às 6 da
manhã, tomam seu café em menos de dez minutos, mal têm tempo de
escovar os dentes e são convocados para a formação. Treinados para
suportar tensão, medo, ansiedade, desconforto, cansaço, enfrentam com
bravura e abnegação os exercícios militares. Muitos querem seguir
carreira. A maioria desiste nos primeiros seis meses.

Trabalhadores apressados, ziguezagueando num balé neurótico,


avançando com ímpeto ao destino. O mesmo ocorre nas estações
ferroviárias. Esse panorama imutável surpreende por se tratar de um dia
de trabalho normal. A balbúrdia está no ar. O barulho é ensurdecedor. Há
histeria no semblante das pessoas, faltam poucos minutos para começar o
confronto entre as duas torcidas. Mas sem qualquer explicação plausível,
o trânsito segue seu fluxo normal entre Gramacho e Caxias, o mesmo
acontecendo entre Saracuruna e Vila Esperança.

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Depois de várias horas de exaustivos ensaios no Teatro Municipal, o
maestro ufanista colocou a batuta na estante à sua frente. Dispensou os
músicos para um rápido intervalo, mas ele próprio permaneceu em seu
posto. Olhou a rés do palco, caminhou na boca de cena com a mão direita
espalmada sobre o beiral, olhando nessa posição e voltou ao pódio. No
camarim, Jesse Norman recusava-se a ouvir sua empresária. Extenuada,
ríspida até, reclamava do número de vezes em que teve que repetir
NOBODY LOVES ME da ópera PORGY AND BESS.

Nossa lógica é furada? Sim, isso já se sabe. Retrógrada? Antropofágica?


A aceitar esses adjetivos e argumentos não seria lógico uma retomada de
consciência pra avaliação de nossos erros? Esses rótulos se devem à
nossa prudência em lutarmos contra um mercado organizado? Agressivo?
Seu sistema de vendas é dinâmico, moderno, inovador. Isso por acaso é
defeito? Não temos que condenar a concorrência por ameaçar nossa
hegemonia. Temos sim, é de rever nossa filosofia empresarial e deixar de
atacar as técnicas de abordagem do concorrente.

Ir às compras em shopping centers aos sábados é um desafio à sua


paciência. Os andares ficam apinhados de pessoas que mais circulam do
que compram. E então você tem que ir a um aniversário. Ou levar um
presente pra filhinha do seu colega de trabalho. Pior: tem que comprar pra
sua mulher o presente do dia das mães. E lá vai você, incauto, munido de
cartão de crédito e de nenhuma paciência. Se resolver parar diante de
uma vitrine qualquer você ganha logo a amizade íntima da vendedora:
“olá, meu nome é Bianca, e o seu? Posso ajudar?”

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Gripado, afônico, olhos injetados, cabelos em desalinho, temperatura
beirando os 38 graus e meio, mesmo assim queria ir trabalhar. De nada
valeram os apelos para desistir do intento. Precisava ir à empresa. Era
questão de foro íntimo. Havia um surto de gripe grassando naqueles dias,
portanto seria natural que fosse contaminado e não pudesse trabalhar. Tal
hipótese simplesmente não foi aventada. Levantou-se da cama, endireitou
o corpo, tossiu muito, queixou-se de dores no ouvido, mesmo assim, num
impulso exibicionista, saiu de casa pra ir trabalhar.

Contrariando todos os prognósticos, o pestinha mais uma vez passou de


ano. Esses eventos já haviam se tornado recorrentes na escola em que
ele estudava. Indisciplinado, negligente, descuidado com seu material
didático, dava a impressão de que desta vez seria jubilado. Passou todo o
ano letivo perturbando os professores, desafiando os inspetores, irritando
os colegas de classe. Porém nas provas finais, tirou as melhores notas.
Para espanto geral ainda ouviu comentários simpáticos de seus pais
alienados sobre seu execrável comportamento social.

Pode parecer exagero. Pode parecer tentativa de indução, ou podem até


taxar de capcioso esse conceito, mas nenhum cantor brasileiro conseguiria
se igualar a Caetano Veloso na precisão articulatória. Talvez seja difícil
que algum cantor ou cantora pronuncie com tanta perfeição os vocábulos
“rapte-me” – “capte-me” – “adapte-me” – “adote-me” – “touch me” na
música RAPTE-ME CAMALEOA. Porém há quem discorde dessa opinião
e se arrisque a dizer que Emilio Santiago é ainda mais perfeccionista do
que o irmão de Maria Betânia.

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