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UFRGSMUN | UFRGS Model United Nations
ISSN 2318-3195 | v. 7 2019 | p. 480-519
RESUMO
1 Este artigo é uma revisão, adaptação, atualização e complementação dos artigos de Figueiredo et. al
2017 e Figueiredo et. al 2018 (Figueiredo, A., G. Veiga, M. Motta, V. Petuco, and V. Pacheco. 2017. Diretri-
zes para a Cobertura Jornalística em Modelos das Nações Unidas. UFRGS Model United Nations Journal
5: 256-293.; Figueiredo, A., C. Oliveira, D. Giussani, G. Veiga, M. Motta, V. Petuco, V. Pacheco, e V. Abreu.
2018. Diretrizes para a Cobertura Jornalística em Modelos das Nações Unidas. UFRGS Model United
Nations Journal 6: 564-599.)
2 Graduandas e graduandos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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1 INTRODUÇÃO
Dentre outras maneiras, pode-se entender o jornalismo como “a arte
de captar2 códigos do éter e transmutá-los em linguagem palatável” (Jor-
ge 2008, 34). Nesse sentido, institui-se a noção de um ofício que consiste
em traduzir os acontecimentos da realidade em linguagem propagável e
acessível. Recorremos a Meditsch (1997) para lembrar que o real sempre
será inacessível ao jornalista, uma vez que a realidade é dotada de inúme-
ros sentidos. Ao jornalista, cabe propor ao público leituras da realidade, às
quais é possível se filiar.
Falar de “a verdade”, enquanto substantivo, atributo coisificado, assim vai
perdendo sentido. Mais apropriado seria se falar no adjetivo, no enunciado
“verdadeiro”. E poderão existir muitos enunciados verdadeiros, eventual-
mente até contraditórios entre si, ainda que cada um coerente com seus
pressupostos, porque nenhum enunciado é capaz de esgotar a realidade in-
teira (Meditsch 1997, 4).
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2 A COBERTURA JORNALÍSTICA
O termo “cobrir um evento” refere-se ao ato de reportar uma série
de fatos dentro de um mesmo contexto. Ainda nesse âmbito, também não
se estabelece um número determinado de publicações ou de formatos que
envolvem o acompanhamento de um evento ou acontecimento. Pelo con-
trário, ainda quando planejada, a cobertura jornalística se dá no número
de notícias que se fizerem necessárias para abranger um acontecimento
em sua totalidade. Hoje, com as ferramentas digitais atreladas à ativida-
de jornalística, identifica-se uma série de novas rotinas para a cobertura
diária, pela convergência e pluralidade permitida nas plataformas digitais
(Ferrari 2010). Ainda assim, é importante lembrar os valores fundamentais
da profissão que permanecem, independentemente do meio de propagação
da notícia (Pinto 2014).
[O/A] Jornalista continua sendo alguém capaz de encontrar informação re-
levante e interessante e de transmiti-la da forma mais correta e inteligente.
A plataforma em que ele vai contar sua história - áudio, vídeo, internet, mo-
bile ou papel - pode mudar, mas os fundamentos da profissão continuam os
mesmos (Pinto 2014, 31).
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2.2 APURAÇÃO
Após a identificação do que será noticiado, inicia-se o momento de
apuração jornalística. Este processo diz respeito à coleta e verificação de
informações. Nesse, reúne-se entrevistas, arquivos legais ou administrati-
vos, notas, relatórios oficiais e estatísticas confiáveis para, posteriormente,
ser possível construir o produto jornalístico a ser publicado (Pinto 2009).
É com base nesses documentos e na observação que se faz durante
o processo de apuração que o jornalista irá sustentar o seu texto e, conse-
quentemente, agregar credibilidade ao seu trabalho. Para isso, é preciso
realizar pesquisas, leituras aprofundadas e consultar fontes confiáveis. Da
mesma forma, é de extrema importância no processo de apuração verificar
como o assunto investigado já foi abordado na mídia.
Outra maneira de entender tal processo é conforme a classificação
de Jorge (2008), quando define apuração direta e indireta. A apuração di-
reta, segundo a autora, consiste na investigação em que se consegue che-
gar direto aos protagonistas do ocorrido, aos responsáveis pelo local onde
aconteceu ou a qualquer outra fonte que tenha relação direta com o fato.
Entretanto, nem sempre se consegue tal aproximação com fontes diretas.
Não havendo alternativas, existe a apuração indireta, em que o jornalista
não pode se aproximar do fato e, portanto, articula-se com aquilo que está
ao seu alcance: fatos que antecedem o objeto de reportagem, fontes que se
relacionam indiretamente de alguma forma com esse objeto, entre outros
(Jorge 2008).
Dentre os métodos de apuração indireta está o off the record, que é
referente à situação em que o jornalista entrevista a fonte ou recebe uma
informação, porém não pode citar o emissor dessa. Para isso, repórter e
fonte devem previamente combinar que a informação será passada “em
off”. Em outros casos, a fonte, apesar de não se identificar, fornece pistas ao
jornalista de com quem falar ou onde buscar a informação desejada.
Outra técnica é denominada “Fantasia”. Essa diz respeito às situações
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em que o repórter utiliza disfarces quando a via direta falha. Via de regra,
veículos não encorajam que o profissional se utilize desse subsídio para al-
cançar a informação, visto que é sempre preferível identificar-se como jor-
nalista logo de início para evitar constrangimentos; afinal, qualquer falha
pode afetar a reputação e a credibilidade do repórter e do veículo para o
qual trabalha (Jorge 2008).
Por último, a autora classifica o questionário, que se torna uma al-
ternativa quando a fonte não quer ou não pode realizar a entrevista, até
mesmo por telefone. Na maior parte dos casos, ele é enviado a instituições
nos casos em que a reportagem denuncia alguma irregularidade e a empre-
sa ou autarquia pública prefere, para controlar os danos à própria imagem,
redigir o texto de resposta na tentativa de controlar a sua recepção. Nesses
casos, é preciso comunicar aos leitores, ouvintes ou espectadores as cir-
cunstâncias sob as quais tais informações foram adquiridas (Jorge 2008).
No coração da notícia está a entrevista, de onde o repórter irá buscar
as informações, os testemunhos e o contraditório. Segundo Medina (1986),
a entrevista é uma técnica de interação social e informativa. Apesar de re-
presentar papel essencial na investigação de um acontecimento, é impor-
tante ressaltar que realização de entrevistas é apenas uma das partes do
processo e não a apuração propriamente dita. De acordo com Pinto (2009),
entrevistar implica relacionamento.
É imprescindível estabelecer aquilo que se quer tirar da entrevista e,
a partir disso, elaborar perguntas abertas ou fechadas. Perguntas abertas
tendem a respostas mais longas e elaboradas. Já perguntas fechadas são
úteis para que o entrevistado assuma uma posição ao dar respostas mais
diretas e objetivas. Um dos critérios determinantes para o sucesso de uma
entrevista – e, consequentemente, da redação de notícias – é uma leitura
prévia sobre o assunto e uma listagem dos principais fatos (Pinto 2009).
Aplicado ao que se propõe este guia de estudos, sugere-se, nesse sentido,
que os jornalistas realizem leitura prévia sobre o comitê a ser reportado,
bem como sobre a maneira como o tópico em debate é abordado pelo veí-
culo em representação.
Alguns comportamentos do jornalista no momento da entrevista
auxiliam posteriormente na produção do conteúdo jornalístico. Gravar –
mesmo no caso de produção textual – e fazer anotações, por exemplo, são
algumas das atitudes que podem auxiliar o processo de redação das notí-
cias. Além de permitir a lembrança de informações e dados importantes
mencionados pelo entrevistado, garante a literalidade das declarações e
facilita a organização das informações apuradas. “Mas, principalmente, é
uma maneira de os repórteres salvaguardarem-se de fontes covardes e de
má-fé, desses entrevistados que, diante do primeiro distúrbio de interesse,
anunciam aos ventos jamais terem dito” (Fortes 2008, 57).
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“por quê?”. Essas são perguntas que podem demandar maior detalhamento
e que, se forem respondidas de uma maneira muito sintética, podem trazer
informações incompletas (Pinto 2009).
Essa estrutura diz respeito ao modelo mais tradicional de veiculação
de conteúdo jornalístico. Entretanto, conforme mencionado anteriormen-
te, há uma diversidade de (i) formatos – notícia, reportagem, crônica, colu-
na, crítica – e (ii) finalidades – informar, opinar, prestar serviço – nos quais
a informação pode ser propagada. No Brasil, o jornalista José Marques de
Melo3 foi quem propôs a classificação dos gêneros de textos jornalísticos
mais utilizada tanto no mercado quanto no mundo acadêmico (Jorge 2008).
Em relação à redação jornalística também há alguns aspectos im-
portantes a serem considerados. O primeiro diz respeito à clareza: o ponto
chave de toda boa redação jornalística. Assim como o jornalismo preten-
de democratizar a informação, a linguagem do repórter precisa cumprir
o mesmo papel, sendo compreensível a todos. Diferente do que se pode
imaginar primordialmente, o texto jornalístico se caracteriza por sua sim-
plicidade. Dessa maneira, na redação de notícias deve-se optar sempre por
um vocabulário sem rebuscamentos e um texto escrito na ordem direta.
Rebuscamento e inversão sintática são pontos que facilmente podem gerar
confusão por parte do leitor, como demonstrado pelo trecho abaixo:
3 José Marques de Melo é fundador da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
(ECA-USP) e da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), catedrá-
tico Unesco de Comunicação da Universidade Autônoma de Barcelona, além de ser o primeiro brasileiro
a obter o título de doutor em jornalismo. O autor já escreveu mais de 35 obras e orientou cerca de 72
mestres e 28 doutores.
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Há palavras mais específicas que outras. Gato siamês é mais singular do que
gato; homem, mais do que animal; laranjeira, mais do que árvore; árvore,
mais do que planta ou vegetal. Trabalhador é um termo de sentido geral,
muito amplo. Jornalista tem sentido mais restrito. Jornalista do SBT, mais
ainda (Squarisi 2005, 31).
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2.4 FOTOJORNALISMO
Após suas muitas evoluções e aprimoramentos, a fotografia se tor-
nou um dos formatos mais acessíveis para cobrir eventos. Apesar disso, há
muitos aspectos do fotojornalismo a serem ainda explorados antes de se
realizar a cobertura das sessões simuladas. Nesse sentido, incentiva-se a
produção, edição e compartilhamento de fotografias, por permitirem criar
vínculo com o que está acontecendo, bem como estabelecer a relação com
o presente e com a realidade. No UFRGSMUN, os jornalistas devem utilizar
seus próprios equipamentos, tais como smartphones, tablets, câmeras digi-
tais, câmeras DSLR, entre outros.
A fotografia é um elemento de extrema importância na cobertura jor-
nalística, sendo necessário saber o que, quando e como fotografar, além de
saber quais fotos e o porquê de divulgá-las nas plataformas digitais Twitter
e Medium. Para entender mais detalhadamente esse processo, optou-se por
abordar dois âmbitos distintos da captura fotográfica: as DSLR e as câmeras
portáteis de smartphones e tablets.
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3.1 TWITTER
A rede social famosa por sua instantaneidade foi criada em 2006 por
Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone (Terra 2017). A ideia inicial é a de
que a plataforma se parecesse com uma troca de status, ao estilo de um SMS
(mensagem de texto), razão pela qual há a limitação de 140 caracteres em
cada publicação na linha do tempo, os tweets. No princípio, a ideia era que
o projeto se chamasse twich, palavra cujo significado assemelha-se a algo
como “vibrar”. Como o nome não representava exatamente o propósito da
futura rede social, seus criadores procuraram outro nome semelhante no
dicionário, mas que tivesse significado apropriado. Twitter, além de ser a
palavra em inglês para “pios de pássaros”, quer dizer “uma pequena ex-
plosão de informações inconsequentes”. Atualmente, a rede social possui
em torno de 321 milhões de usuários ativos mensalmente (The Washington
Post 2019a).
A utilização do Twitter para fins jornalísticos está diretamente ligada
à cobertura de eventos em tempo real, de forma que se considera que seu
uso deva ser moderado, porém constante. Isto significa que a conta do Twit-
ter que está sendo utilizada para cobertura deve estar sempre atualizada
com as informações mais relevantes. Durante a sessão de um comitê, nem
tudo o que é falado pelos delegados deve ser relatado na rede social, mas
somente as declarações impactantes ou polêmicas, que causam surpresa e/
ou tem potencial para alterar o curso do debate - neste ponto é importan-
te lembrar dos valores-notícia válidos para o veículo em representação7. A
nível de exemplificação, as falas dos delegados podem ser transcritas entre
aspas ou os fatos podem ser reportados na voz do jornalista – no formato de
uma nota curta sobre o acontecido. É preciso ter concisão, clareza e objeti-
vidade para conseguir, em poucos caracteres, inserir o leitor na realidade
que se reporta.
A linguagem a ser utilizada não necessita de formalidade, mas deve
seguir a norma culta da língua portuguesa, evitando o uso de gírias ou abre-
viações desnecessárias. Mesmo sendo um espaço menos formal, o Twitter
ainda é, nesse caso, um local a serviço da informação; portanto, não serão
7 Na seção 4 deste guia de estudos, serão apresentadas as linhas editoriais dos veículos a serem repre-
sentados pelos jornalistas do CI nos dias de evento.
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3.2 MEDIUM
O Medium é uma plataforma digital criada em setembro de 2012 pela
Obvious – empresa de Evan Williams e Biz Stone, criadores do Twitter e,-
também, do Blogger8. A plataforma que se descreve como “um lugar me-
lhor para ler e escrever coisas que importam” (Tecnoblog 2017, online) é
um modelo que une a funcionalidade das plataformas já comuns de blogs
– como o próprio Blogger e o WordPress9, por exemplo –, mas com alguns
atributos de redes sociais – como Facebook, Instagram, Tumblr e outras –, e
uma maior possibilidade de convergência entre mídias, quando comparada
a estas últimas plataformas mencionadas. Todavia, o diferencial da mídia
em questão tange seu propósito enquanto rede, pois se propõe a veicular
o conteúdo que não cabe de forma tão adequada nas redes sociais e, pelo
mesmo motivo, não se prolifera tão saudavelmente nos blogs comuns. O
Medium, assim, apresenta-se especificamente como uma plataforma de
conteúdo em profundidade, como explicou Evan Williams, co-criador da
plataforma: “Se tornou um lugar para troca de ideias, onde pensadores,
8 Blogger é a plataforma gratuita de blogs do Google. Lançado em agosto de 1999, foi uma das primeiras
ferramentas dedicadas à publicação de blogs e é conhecida por popularizar o formato. Apresenta-se
como uma ferramenta ideal para iniciantes nesse por prometer fáceis navegação e administração, além
de oferecer diversos recursos para criação e personalização dos blogs, de acordo com as necessidades
dos usuários (Techtudo 2017).
9 WordPress é um aplicativo de sistema de gerenciamento de conteúdo para web, semelhante ao Blo-
gger, porém voltado para a criação de sites e blogs, lançado em maio de 2003. Trata-se de uma das
ferramentas mais conhecidas do meio, disputando diretamente com o serviço do Google anteriormente
mencionado. No entanto, o WordPress é adotado por aqueles que buscam uma interface mais profissio-
nal e com recursos de programação mais avançados (Techtudo 2017).
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criadores e pessoas com histórias para contar encontram seu público, emo-
cionam pessoas e nos incentivam a seguir em frente” (Medium 2017, onli-
ne).
As contas no Medium estão diretamente ligadas às contas do Google
e do Twitter de seus usuários, portanto, extrai dados dessas redes e possi-
bilita que todo seguidor nas mídias conectadas – que já possua uma conta
no Medium – seja, de modo automático, um novo seguidor. O mesmo vale
para o Facebook. Todos os posts na plataforma podem ser organizados em
coleções pelos usuários em suas páginas, também permitindo a colabora-
ção de outros usuários nas mesmas. No feed de cada conta, em vez de serem
mostrados posts em ordem cronológica, esses são exibidos em ordem de
avaliação. Isto é, primeiramente são mostrados os posts mais bem avalia-
dos pelos usuários da plataforma. As publicações no Medium são chamadas
de “histórias” e é possível escrever diretamente na plataforma, colar um
texto já pronto ou importar algum fragmento de qualquer outra página
da web (Medium 2017). Ao começar a escrever, pode-se notar o sinal “+”
na margem esquerda da tela. Clicando nele, é possível acessar à barra de
ferramentas de incorporação:
10 É possível conferir quais site e aplicativos são compatíveis com a plataforma no seguinte endereço:
http://embed.ly/providers.
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4 LINHAS EDITORIAIS
A linha editorial de um jornal é a política determinada pela direção
do veículo de comunicação, que define seus valores e princípios. Tendo ela
como base, o repórter cobrirá ou não certos acontecimentos, bem como
saberá de que forma se posicionar diante deles (Moreira 2006). Um exemplo
prático disso é o ataque envolvendo Nicolás Maduro, no dia 4 de agosto de
2018. Veja como a Folha de São Paulo chamou o venezuelano:
Agora veja como o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, tratou da mesma
pessoa:
Um drone com explosivos estourou próximo ao palanque do presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, em um evento que comemorava os 81 anos da
Guarda Nacional Bolivariana, neste sábado (4), de acordo com fontes oficiais
do governo. O ministro da Comunicação, Jorge Rodriguez, afirmou que sete
guardas ficaram feridos (Zero Hora 2018, online).
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4.1 AL JAZEERA
A Al Jazeera é uma rede de televisão fundada em 1996 pelo Emir do
Qatar, Hamad bin Khalifa Al Thani. Surgiu com base no reconhecimento da
necessidade do público árabe de um canal confiável de um país árabe. As-
sim, a emissora procurou preencher um espaço que sempre fora ocupado e
monopolizado por canais e estações estrangeiras (Al Jazeera 2006).
Após os ataques do 11 de setembro, a empresa de comunicação pas-
sou a ter alcance maior a nível mundial, quando transmitiu em primeira
mão o discurso de Osama Bin Laden assumindo responsabilidade pelo ocor-
rido. Desde então, as entrevistas e outras matérias da Al Jazeera têm sido
retransmitidas por outros canais como CNN e BBC, esta última com a qual
tem um acordo de compartilhamento de instalações e informações desde
2003 (BBC 2003). Como resultado, em 2005 a Al Jazeera já alcançava mais
de 50 milhões de espectadores (Miles 2005). Atualmente, transmitem para
mais de 270 milhões de lares em mais de 100 países (Al Jazeera 2019).
Apesar da ligação com o governo do Qatar, a Al Jazeera se declara uma
emissora independente, sendo reconhecida pela liberdade de expressão e
posicionamento de oposição diferenciais na mídia árabe (Sidlow e Hens-
chen 2013). A empresa de comunicação procura atuar a partir do slogan “a
opinião e a outra opinião” (Al Jazeera 2006, online). Essa abordagem chegou
a incomodar alguns países vizinhos com inúmeras acusações de enviesa-
mento. A exemplo, em meados do ano 2000, algumas autoridades sauditas
afirmavam que os programas da emissora eram anti-islâmicos, ao mesmo
tempo que Yasser Arafat irritava-se com a frequência das entrevistas com
líderes de grupos militantes islâmicos palestinos. Nos primeiros três anos e
meio de Al Jazeera, os diplomatas do Qatar já haviam recebido mais de 400
reclamações oficiais de outros países árabes sobre as matérias da emissora
(Gambill 2000).
4.2 ALLAFRICA
Fundada em 2000, a AllAfrica Global Media é uma voz de e sobre a
África, agregando, produzindo e distribuindo informações de mais de 140
organizações africanas de notícias para um público africano e global (AllA-
frica 2019a). A partir dessas fontes e da emissão massiva de conteúdo para
o público africano e global, a empresa coloca-se como uma plataforma mul-
ticanal pan-africana independente que visa a eliminação de estereótipos
acerca da região (AllAfrica 2019b). Ademais, a AllAfrica é provedora de ser-
viços de conteúdo multimídia, desenvolvedora de tecnologia de sistemas
e a maior distribuidora eletrônica de notícias e informações africanas em
todo o mundo (AllAfrica 2019c).
Considerando a grande quantidade e a variedade da origem de tal, a
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4.3 BBC
Fundada em 1922, a British Broadcasting Corporation (Corporação
Britânica de Radiodifusão) é uma corporação pública de rádio e televisão,
sendo a maior e mais antiga emissora do mundo. Detém de cinco redes de
rádio na Grã-Bretanha, canais de televisão com transmissões nacionais e
internacionais, além de suas plataformas online. Tem alcance semanal de
mais de 376 milhões de pessoas ao redor do mundo, transmitindo em mais
de 40 idiomas. Mais de ¼ dessa audiência tem idade entre 15-24 anos (BBC
2018).
Sendo uma organização de serviço público, a BBC tem base constitu-
cional na Carta e Acordo Real, apresentada ao parlamento inglês. A partir
desta foram estabelecidos os objetivos da corporação, suas normas de fi-
nanciamento e diretrizes de imparcialidade. O financiamento da BBC ocor-
re através de uma taxa de licença anual de televisão, aplicada sobre todas as
casas, empresas e organizações britânicas que utilizem equipamentos que
transmitam ou gravem emissões de televisão ao vivo. A Carta Régia proíbe
propaganda ou programas patrocinados em sua programação (BBC 2019a).
O objetivo da corporação é o de “informar, educar e entreter” (BBC
2019b, online), propagando a cultura britânica sob o lema “A nação deve
transmitir paz à nação”. Essa ação deve vir através de notícias e informa-
ções imparciais que permitam que o público compreenda e se envolva com
o mundo à sua volta, formando opinião própria.
Embora haja críticos que considerem a BBC enviesada, pró-Londres,
contra a política da centro-direita, opositora ao Partido Conservador, a
corporação usa a expressão “imparcialidade devida” para descrever sua
abordagem, considerando que o termo “neutralidade” pressupõe que o
jornalista não se posiciona enquanto produz, o que não é possível ao fa-
zer a apuração do material. Um posicionamento é necessário para o dire-
cionamento da pesquisa, sem que isso significa a defesa de uma opinião
específica (BBC 2009). Aqui no Brasil, o serviço da BBC local é considerado
progressista, endossando campanhas a favor de direitos das mulheres ou
contra LGBTfobia, por exemplo.
4.4 EL PAÍS
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os princípios do Le Monde de ser uma voz livre para na França, o “Diplô”
surge com a proposta de fazer uma cobertura crítica sobre o que julgam ser
as lacunas da imprensa. Com o tempo, o Diplomatique se desvinculou ad-
ministrativa e editorialmente do jornal Le Monde, expandindo suas pautas
para além da agenda consular e diplomática (Rodrigues 2012).
Fazendo uso de abordagens comparativas e de panoramas históricos,
o Monde Diplomatique traz suas publicações menos noticiosas e mais re-
flexivas acerca de cultura, mídia, filosofia, política, artes, entre outros (Le
Monde Diplomatique 2019a). Se posiciona contra o neoliberalismo, atuan-
do em defesa dos países de terceiro mundo, com críticas à ideologia e ao
funcionamento do capitalismo, apontando as consequências ecológicas e
sociais do livre comércio, o perigo do “choque de civilizações”, o que há
por trás de alianças militares, as utopias necessárias e as perspectivas de
novas formas de democracia na era das grandes mudanças geopolíticas (Le
Monde Diplomatique 2019b).
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4.13 RT
Lançado em 2005 como Russia Today, o RT é uma rede internacional
de comunicação financiada pelo governo russo que conta com notícias de
rádio e oito canais de televisão, apresentando em sua programação desde
notícias políticas e documentários, até talk shows e outros tipos de entre-
tenimento. Suas plataformas digitais e canais de notícias 24 horas são dis-
ponibilizados em seis idiomas diferentes: inglês, árabe, espanhol, alemão,
francês, além do russo (RT 2018a). Partindo do slogan “Questione mais”, a
RT se propõe a trazer uma análise alternativa e ser o ponto de vista russo
sobre os principais eventos globais para seu público internacional, além de
dar enfoque à matérias negligenciadas pela grande mídia.
Seu público mundial é de cerca de 100 milhões de espectadores sema-
nais, considerando apenas 47 países dos mais de 100 onde a RT é transmiti-
da (RT 2018b). On-line, a RT é a principal rede de notícias de TV não-anglo-
-saxônica em termos de tráfego: ao final de 2015, os sites da RT tinham mais
de 190 milhões de visitas ao todo, de acordo com a SimilarWeb (RT 2016).
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