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Túlio Vasconcelos
Dessa forma, a atividade jornalística pode ser entendida como tendo um “papel
socialmente legitimado para produzir construções da realidade que são
publicamente relevantes” (ALSINA, 1996:18), ou seja, ao jornalista é delegada
a competência para recolher os acontecimentos e temas importantes e atribuir-
lhes sentido (TRAQUINA, 1993:168). Embora esse processo de construção
social dependa dos conteúdos e da prática discursiva do jornalismo, deve-se
ficar atento para não incorrer no erro de imaginar essa construção sem a
participação ativa do público, nas diversas interações em que os indivíduos
tomam parte no dia-a-dia.
Acontecimentos e textos
Existe uma linha que encara o jornalismo como uma forma de conhecimento
(MEDITSCH). O jornalista não só comunica os fatos para os outros, mas é
alguém que também produz e reproduz conhecimento. Traquina acrescenta
que “os jornalistas não são simplesmente observadores passivos, mas
participantes ativos no processo de construção de realidade. E as notícias não
podem ser vistas como emergindo naturalmente dos acontecimentos do mundo
real; as notícias acontecem na conjunção de acontecimentos e textos.
Enquanto o acontecimento cria a notícia, a notícia também cria o
acontecimento” (TRAQUINA, 1993:168).
Contexto imediato
A realidade trabalhada pelo jornalismo será sempre a preparada para o
consumo e corre o risco de erros ocorridos por desatenção. Cada leitura do
real dará um conteúdo diferente, cada fato trará a contradição que é própria na
prática jornalística. Desse modo, da enormidade de eventos simultâneos que
irrompem na esfera da vida cotidiana, teríamos conhecimento, principalmente,
daqueles que se tornassem acontecimentos jornalísticos, ou seja, aqueles
eventos que, por força de sua noticiabilidade, “explodem na superfície da mídia
sobre a qual se inscrevem como sobre uma membrana sensível” (TRAQUINA,
1993:50).
Considerações finais
Bibliografia
Informação em jornalismo é compreendida como bem social e não como uma comodidade, o
que significa que os jornalistas não estão isentos de responsabilidade em relação à informação
transmitida e isso vale não só para aqueles que estão controlando a mídia, mas em última
instância para o grande público, incluindo vários interesses sociais. A responsabilidade social
do jornalista requer que ele ou ela agirão debaixo de todas as circunstâncias em conformidade
com uma consciência ética pessoal. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA – ABI).
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, reexaminado nos últimos anos e aprovado em
assembleia da Federação Nacional dos Jornalistas, em agosto de 2007, também atribui
especial atenção ao tema. O Artigo 2º explicita:
Art. 2º - Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental,
os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão
por que: III - a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica
compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão. (CÓDIGO DE ÉTICA DOS
JORNALISTAS BRASILEIROS, 2007).
O jornalista é, ao mesmo tempo, funcionário de uma empresa capitalista, responsável pela
produção de uma mercadoria (a notícia) submetida às leis de mercado; e uma espécie de
contra-poder, cuja autoridade, delegada pela sociedade, lhe permite fiscalizar as instituições
em nome do interesse público. (PEREIRA, 2004).
No exercício desse papel social, ao sair para a sociedade “[...] para rastrear o maior número
possível de versões, na busca incessante de uma verdade inatingível, na solidariedade aberta a
todos que tenham alguma coisa a falar” (MEDINA, 1982, p. 23), o jornalista constrói a
realidade. E constrói a realidade, conforme ensinam as teorias construcionistas, no sentido de
“[...] não permitir que os acontecimentos permaneçam no limbo do aleatório, mas sejam
trazidos aos horizontes do significativo” (HALL apud TRAQUINA, 2005, p. 171). Se é assim, o
jornalista não executa simples técnicas de investigação e redação, mas desenvolve apurada e
cuidadosa habilidade de ver o mundo [sentir-se com o mundo]. Da mesma forma, ao concluir
sua reportagem, o profissional não apresenta apenas um relato sobre fatos, pois o que viu,
ouviu, sentiu e vivenciou foi processado pela sua inteligência e pelos seus sentimentos – um
processo de atribuição de significados. Ele apresenta uma narrativa viva, uma construção da
realidade, mediada pelo social.
Como entende Manuel Carlos Chaparro, o Jornalismo é um processo social de ações
conscientes, controladas ou controláveis. Se é assim, “[...] cada jornalista é responsável moral
pelos seus fazeres” (CHAPARRO, 1994, p. 22). Bertrand Russell, em seus estudos sobre a ética e
a moralidade, enfatiza que as escolhas do ser humano para suas aspirações de liberdade e
bem-estar decorrem de um quadro de referência determinado pelas condições histórico
sociais.
O certo ou o errado, o bem ou o mal são definidos por uma comunidade com a atribuição de
valores, segundo uma ideologia, de conceitos de louvor ou censura, estabelecendo uma
consciência que orienta as ações do indivíduo. Uma ação objetivamente certa, para Russell, é a
que melhor serve aos interesses do grupo eticamente dominante – desejadas pelo grupo. O
quadro de referência, portanto, pode ser ampliado e/ou reformulado de acordo com a
vivência, do exercício do debate, da reflexão do indivíduo e do grupo. Esse exercício ético, ou
seja, o debate e a reflexão contínua sobre o desejável para si e para os outros podem refletir
na elevação do nível de consciência – a visão de mundo que orienta as ações dos indivíduos,
seus propósitos e intenções (RUSSELL, 1977).
Com a ampliação contínua do seu quadro de referência – seu nível de consciência – seus
fazeres poderão constituir, mais que “notícias”, os relatos humanizados e humanizadores que
promovam o debate, que contribuam com a inter-relação de pessoas com quadros de
referências diferentes. Esta postura colabora com a reflexão de outros seres humanos – da
audiência –, com o alargamento da visão de mundo e a elevação do nível de compreensão, de
cumplicidade e solidariedade entre seres humanos. Se este compromisso constituir um
propósito e um dever e querer-fazer do jornalista, ele estará contribuindo para estender ao
seu público o exercício ético do qual pratica/participa diuturnamente. Em outros termos,
podemos ratificar a argumentação já proposta: o ser que, pela ação e reflexão, contribui com a
transformação da sociedade, como a sociedade contribui com a sua transformação (IJUIM,
2009).
Como sublinha a autora, como um agente cultural, ao jornalista cabe “[...] produzir narrativas
atravessadas por contradições, embates de visões de mundo, incertezas e interrogações[...] ” –
não as “certezas” que o impele a acusar e julgar. Se sua legítima especialização é a de produzir
sentidos, o uso de uma “[...] linguagem dialógica enfrenta não apenas a polifonia, mas a
complexidade conflitiva dos diferentes.” (MEDINA, 2006, p. 81-82). Por essas razões, o
enfrentamento ao risco da especialização profissional requer o constante aperfeiçoamento
técnico, intelectual, ético – a capacidade de refletir para agir.
A Responsabilidade social do jornalista e o pensamento de Paulo Freire
Jorge Kanehide Ijuim
Jornalismo Digital
A exigência por informações instantâneas estimulada pela rápida expansão das redes sociais, o
assédio à privacidade resultante do mau uso de novas tecnologias de comunicação, os
vazamentos anônimos de informações, os limites cada vez mais indefinidos entre publicidade e
jornalismo, e a identidade líquida do jornalista contra o robusto número de usuários digitais,
são apenas alguns dos dilemas éticos colocados pela Internet como uma ferramenta para o
desenvolvimento e disseminação de conteúdo de notícias.
Ética no jornalismo digital
Em primeiro lugar, a veracidade como uma qualidade essencial da informação versus outras
expressões comunicativas. A velocidade com que são transmitidos os acontecimentos de hoje
não livra o jornalista de verificar os fatos, não o exime do respeito pelos direitos das pessoas
nem do rigor na busca da informação. Por outro lado, vale também a pena examinar as
virtudes da participação dos leitores nos meios digitais, o que pode tornar o jornalismo mais
aberto e sensível ao público.
Tal participação corre o risco de se tornar um apêndice da informação que contamina seu
significado social com as expressões mais infelizes, incentivando atitudes inadequadas entre os
leitores. A esse respeito, a responsabilidade dos meios de comunicação deve não só satisfazer
aos critérios de verdade, mas também ao controle de uma participação que deve ser plural e
construtiva para os cidadãos com espírito crítico e dialógico.
O jornalista conta os fatos e oferece um diagnóstico de sua importância em relação aos
interesses públicos. O jornalista não precisa apenas conhecer os eventos além da
superficialidade dos episódios que impactam hoje. Estes são a ponta do iceberg de problemas
com interesses e conflitos, nos quais se deve aprofundar para dar uma interpretação correta
dos fatos.
O profissional da informação é um notário da realidade e deve levar consigo uma base
importante de conhecimento das questões com as quais lida. Caso contrário, não poderá ter
independência para analisar e criticar o que as fontes oficiais podem dizer.
O jornalista tem com finalidade a cidadania. Mas a ética jornalística não pode ser condicionada
a um simples voluntarismo ético, mas também deve se estender à ética dos meios de
comunicação e de suas organizações profissionais.
Nesses casos, a ética do jornalismo deve ser entendida como um mosaico de instâncias que
supervisionam o cumprimento dos princípios e deveres éticos, algumas surgidas da própria
categoria profissional (auto rregulação), de órgãos públicos que regulam o setor com a
participação de agentes envolvidos no jornalismo (corregulação) ou por organismos externos,
vindos da sociedade civil para levantar suas vozes para exigir uma maior responsabilidade dos
meios de comunicação. Esse conjunto de documentos e mecanismos destinados a cuidar e
assegurar as responsabilidades da mídia também são chamados de instrumentos de prestação
de contas (accountability) (VILLEGAS, 2019).
Como avaliar a responsabilidade do jornalismo frente à cidadania
Juan Carlos Suárez Villegas