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Artigo analisa três fatores que influenciam a noção de objetividade dos jornalistas:
forma, relações interorganizacionais e conteúdo.
“Por forma, entendo aqueles atributos das notícias e dos jornais que exemplificam os
processos noticiosos, como o uso de aspas. Por conteúdo, entendo aquelas noções da
realidade social que os jornalistas consideram como adquiridas. O conteúdo é também
relacionado com as relações interorganizacionais do jornalista, pois as suas experiências
com essas organizações levam-no a tomar por certas algumas coisas acerca delas.
Finalmente, sou de opinião que o manuseio da “estória”, isto é, o uso de certos
procedimentos perceptíveis ao consumidor de notícia, protege o jornalista dos riscos de
sua atividade, incluindo os críticos.” (p. 75)
“Isto é, o cientista social tem que ocupar-se da análise epistemológica reflexiva (Shultz,
1962, p. 245); o jornalista não. Ele tem de tomar decisões imediatas relativamente à
validade, fiabilidade e “verdade” a fim de conhecer os problemas impostos pela
natureza de sua tarefa – o processamento de informação que dá pelo nome de notícia,
um produto de consumo depletivo feito diariamente. O processamento das notícias não [A3] Comentário: Ato de diminuir os
humores de um corpo vivo. Termo mais
deixa tempo disponível para a análise epistemológica reflexiva. Todavia, os jornalistas comum em Portugal. Muito utilizado na
necessitam de uma noção operativa de objetividade para minimizar os riscos impostos área médica. Vem do latim depletio
pelos prazos de entrega do material, pelos processos difamatórios e pelas reprimendas [A4] Comentário: Mais uma vez,
retoma-se a questão da fragmentação.
dos superiores.” (p. 76)
“A menos que o repórter tenha levado a cabo uma investigação prolongada, ele
geralmente tem menos de um dia de trabalho para se familiarizar com o background do
acontecimento, para recolher informações para escrever seu artigo. O repórter sabe que
ser trabalho escrito passará através de uma cadeia organizacional composta por uma
hierarquia de editores e respectivos assistentes. Como os jornalistas esclarecem
prontamente, o processamento de uma notícia envolve “conjecturas”. O repórter faz
“conjecturas” sobre as preferências do editor da seção local e os seus assistentes, que
fazem o mesmo gênero de conjecturas relação aos editores da seção política, e estes em
relação aos editores principais, que, por sai vez, fazem conjecturas sobre as preferências
do diretor, e todos eles “conjecturam” a vontade do proprietário. Todos criticarão a
notícia após a publicação” (p. 76-77)
Ricardo Noblat (2005), por sua vez, põe em cheque a sobrevivência de jornais
impressos e demonstra em números a queda nas vendas dos jornais. Isso ocorre de
forma sistemática e generalizada nos últimos anos. A escolha de um jornal impresso
como corpus do trabalho, não significa que acreditamos na permanência e na
preponderância desse meio sobre os demais. Especialmente na era da convergência
digital, meios eletrônicos ocupam cada vez mais a vida dos leitores. É cada vez mais
comum as pessoas se informarem por meio da internet (texto, áudio e vídeo). O
importante é a forma, a linguagem, que se mantém em todos os suportes de mídia.
“Em suma, cada notícia acarreta perigos para o corpo redatorial e para a organização
jornalística. Cada notícia afeta potencialmente a capacidade dos jornalistas no
cumprimento de suas tarefas diárias, afeta a sua reputação perante os seus superiores, e
tem influência nos lucros da organização. Dado que o jornal é composto de muitas
notícias, estes perigos são múltiplos e omnipresentes.” (p. 78)
“Ao acrescentar mais nomes e citações, o repórter pode tirar as suas opiniões da notícia,
conseguindo que outros digam o que ele pensa.” (p. 82)
Depois disso, o autor apresenta três generalizações feitas pelo jornalista. A questão
chave desta parte do artigo é a experiência do jornalista.
“Do ponto de vista dos jornalistas, as suas experiências com outras organizações
durante um período de tempo validam o seu news judgemente podem ser reduzidos ao
“senso comum”. Por “senso comum” os jornalistas entendem o que a maioria deles
considera verdadeiro, ou dado como adquirido” (87)
“Esta interpretação tem várias implicações teóricas interessantes. Primeiro, defende o [A5] Comentário: É seqüência do
trecho anterior.
ponto de vista de Everett Hughes (1964, PP. 94-98) de que as profissões desenvolvem
procedimentos ritualizados para se protegerem das críticas. Ele afirma: “Ao ensinar”,
uma atividade como o jornalismo, “onde os objetivos estão muito mal definidos – o
mesmo acontecimento, consequentemente, com os erros – onde os leigos estão prontos
a criticar e culpar – a forma correta de tratar os problemas torna-se um ritual, tanto ou
mesmo mais que uma arte. Se um professor conseguir provar que seguiu o ritual, a [A6] Comentário: Interessante que o
livro de Noblat leva o título: “a arte de
culpa passa para a pobre criança ou estudante; e o fracasso pode-lhes ser, e é, imputado” fazer um jornal diário”.
(PP. 96-97) [...] os atributos formais das notícias e dos jornais parecem necessitar de
rituais estratégicos para se justificar o direito de se reivindicar objetivos. Eles permitem
a um jornalista dizer, apontando para as suas provas: “eu sou objetivo porque usei
aspas”. (p. 89)