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SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da notícia e do jornalismo. Chapecó: Argos, 2005.

O
jornalismo e seus referentes.

Resenha1 “O jornalismo e seus referentes – Jorge Pedro Sousa”


Adriana Queiroz

Jorge Pedro Sousa é professor e pesquisador de jornalismo na Universidade Fernando


Pessoa (Porto, Portugal) e no Instituto de Ciências da Comunicação da Universidade
Nova de Lisboa (ICNova). Tem doutorado em Jornalismo pela Universidade de Santiago
de Compostela (Espanha, 1997), onde também realizou pós-doutorado. Entre as
experiências profissionais estão sua atuação na editoria de Política no diário “O Primeiro
de Janeiro” (Porto, Portugal), e colaboração com o diário “Jornal de Notícias” e com a
“Rádio Press”. Desenvolve estudos nas áreas de teoria e história do jornalismo,
fotojornalismo e análise do discurso jornalístico impresso.
O texto “O jornalismo e seus referentes”, que será a matéria-prima da presente resenha,
faz parte do livro “Teorias da notícia e do jornalismo”, do qual Jorge Pedro Sousa é
autor. Assim como nos estudos de Nelson Traquina (2005), a reflexão de Sousa ocorre
a partir da pergunta: “Por que as notícias são como são?”.
Sousa (2005) aponta os fatores que influenciam na seleção e construção da notícia e
propõe uma “teoria da notícia unificada” partindo das perspectivas apresentadas por
Michael Schudson (1988), na qual a compreensão das notícias depende da conciliação
de várias explicações, como ação pessoal, social e cultural; e Pamela Schoemaker
(1991), que, ao estudar o gatekeeping, identificou a existência de diversos fatores que
influenciam esse processo, como as questões individual, organizacional, social e as
rotinas produtivas.
O autor justifica sua preocupação com a “notícia” ao defender que a “notícia é o
resultado pretendido do processo jornalístico de produção de informação”. Assim, toda
teoria do jornalismo deve se preocupar com a delimitação do que é notícia.
O ponto de partida é a discussão sobre os referentes do jornalismo, que são
determinados acontecimentos, ideias e temáticas. “O acontecimento ganha na
competição, até porque o ritmo do trabalho jornalístico dificultaria que se desse uma
ênfase semelhante às problemáticas e aos processos sociais invisíveis e de longa
duração” (p.21).
1
Atividade da Disciplina “Teorias do Jornalismo” ministrada pelo Prof. Dr. Mário Luiz Fernandes (UFMS).
O acontecimento é selecionado devido ao seu caráter de “notoriedade”. No entanto,
Sousa (2005) faz uma importante observação ao estabelecer que os acontecimentos
são “manipuláveis”, uma vez que permitem seu tratamento por meio da linguagem
escrita ou audiovisual, que não são neutras, mas são ferramentas que tornam o
acontecimento comunicável e acabam moldando-o dentro de um tempo e espaço,
necessários para o caráter de notícia. “Todavia, a percepção de que o acontecimento é
concreto e delimitado é uma falácia, já que o real é contínuo e os fenômenos são
estreitamente interligados” (p.22)
Há também uma reflexão sobre a natureza dos acontecimentos, que poderiam ser
imprevistos (seriam os “verdadeiros”, como as catástrofes); pseudo-acontecimentos
(seriam os provocados ou fabricados, como uma coletiva de imprensa); acontecimentos
midiáticos (programados para se tornarem notícia, mas aconteceriam mesmo sem a
cobertura da imprensa, como assinatura de uma lei, ordem de serviço, jogos olímpicos);
acontecimentos não-categorizados (extravasam qualquer categorização, como as
guerras); e não acontecimentos (acontece quando os media começam a construir
notícias a partir de fatos não sucedidos, como uma entidade que não se pronunciou
sobre algo que não deveria se pronunciar mesmo – segundo o autor, isso mina a
realidade, veracidade e atualidade).
Por causa da imprevisibilidade de alguns acontecimentos, as redações tentam impor
“uma ordem no tempo, através da agenda, e no espaço, lançando uma rede que
procuraria capturar os acontecimentos nas suas malhas” (p.23). Considerando estudos
da socióloga americana Gaye Tuchman (1978), essa rede seria composta pelos
seguintes fatores: (1) área geográfica, ou seja, a distribuição dos correspondentes; (2)
especialização organizacional, que é a concentração de repórteres nas assembleias,
câmaras e demais organizações produtoras de matéria-prima jornalística; e (3)
especialização temática, que é divisão por editorias.
Assim, “os acontecimentos são transformados em notícia pelo sistema jornalístico”
(p.25). Essas notícias podem ser classificadas como hard news (notícias duras), soft
news (notícias brandas), hot news (acontecimentos recentes), spot news
(acontecimentos imprevistos) e running stories (notícias em desenvolvimento).
Após essa análise conceitual, Sousa (2005) afirma que “toda notícia é notícia de
determinada maneira devido à ação informadora de uma série de forças, que poderão
ser categorizadas numa ação pessoal, numa ação social, numa ação ideológica, numa
ação cultural e numa ação física e tecnológica, sem esquecermos que essas ações não
são estanques e admitem várias submodalidades” (p.26).
Essa ideia será melhor detalhada na parte “Newsmaking e a versão schudsodiana de
sistematização das teorias da notícia”. É apresentada a visão de Michael Schudson
(1988), que explica a seleção do que é notícia a partir de três fatores: ação pessoal,
ação social e ação cultural. Sousa (2005) acrescenta à essa sistematização a ação
sócio-organizacional, ação social extra-organizacional, ação ideológica, ação
sociocultural, ação do meio físico e tecnológico e ação histórica.
Na ação pessoal, as notícias são vistas como um produto das pessoas e das suas
intenções (Schudson, 1988). Aqui entra o processo de gatekeeping descrito no estudo
de David White (1950), que considera “o papel do jornalista, enquanto pessoa
individual, na conformação da notícia” (p.39). White conclui que o processo de seleção
das notícias é altamente subjetivo, fortemente influenciado pelas experiências, valores e
expectativas do gatekeeper.
Sousa (2005) traz para essa discussão reflexões que tentam identificar a “forma como a
“mente” ajuda a construir as notícias” (p.40). Por exemplo, sob a pressão do tempo, “os
jornalistas farão uso adaptado de rotinas cognitivas que lhes sejam familiares para
organizar informações e produzir sentido; tenderão também a procurar e selecionar
informações que confirmem suas convicções” (p.40). E recorrem ainda a formas
estereotipadas de pensamento, o que pode explicar a padronização noticiosa. Essa
padronização, segundo o autor, seria uma das razões pela qual a imprensa está
perdendo eleitores ao falar sempre do mesmo assunto e da mesma maneira, sem
atender às necessidades informativas do público (p.41).
Outra questão que influencia no processo de seleção de notícia é a autoimagem do
jornalista. Enquanto os jornalistas “neutros” buscam difundir informação rapidamente
para uma audiência mais vasta possível, os jornalistas “participantes” se consideram
cães de guarda e estão mais interessados na investigação jornalística.
A concepção ética do papel do jornalista também é outro fator importante na hora de
definir se é válido o uso de uma câmera escondida ou simular uma situação fingindo ser
um paciente em um posto de saúde para checar a veracidade de uma informação
passada pela assessoria de imprensa, por exemplo. Como o profissional avalia a
possibilidade do fato ser notícia a partir desses procedimentos que podem ser
considerados antiéticos para alguns, mas não para outros devido ao caráter de
interesse público? Como isso interfere no processo de seleção da notícia?
O autor também aborda dois tipos de heurísticas, que são processos cognitivos ou
estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais
fácil e rápida. A atividade jornalística envolve a heurística cognitiva, na qual a obtenção
de conhecimento ocorre por descoberta; e a representativa, na qual ocorre a
categorização automática por comparação com outros itens já incluídos numa categoria.
Em resumo, Sousa (2005) conclui que “as notícias possuem sempre a marca da ação
pessoal de quem as produz, embora temperada por outras forças conformadoras”
(p.45).
Entre essas outras forças está a ação social, que dá ênfase para questões
relacionadas a agentes externos e rotinas produtivas. Essa perspectiva considera, por
exemplo, a dependência dos media dos canais de rotina, como assessorias de
imprensa, tribunais e agências de notícias; a negociação entre jornalistas e fontes; os
valores compartilhados entre os jornalistas; e a tirania do fator tempo. Este último tópico
é explorado a partir das considerações de Philip Schlesinger (1977).
Para aumentar a compreensão das origens da notícia, é preciso considerar o fator
tempo, que está presente na atividade jornalística sob vários aspectos.
O jornalista precisa de um excepcional grau de precisão nos timings (p.47). O tempo
tem ainda grande influência no processo de seleção, já que as informações atuais
passam mais facilmente pelos portões. Além disso, há limites temporais na produção da
notícia com o chamado “deadline”.
A notícia é efêmera e transitória, basta lembrar do jornal impresso, que já no dia
seguinte passa a ter outras utilidades nada relacionadas com a função de informar. No
entanto, sobre este ponto, Sousa (2005) observa que “a ligação atual do jornalista ao
fator tempo já é mais baseada na cultura profissional do que no caráter da notícia como
mercadoria rapidamente deteriorável” (p.48). Ou seja, pesa mais a preocupação do
jornalista com a agilidade de se noticiar o fato, do que a característica efêmera da
notícia em si.
O tempo insere fatores negativos na prática jornalística. A pressão para se noticiar um
fato o mais rápido possível é agravada pela competividade e faz com os jornalistas
relatem as histórias em situação de incerteza. Como exemplo, podemos citar o caso da
Boate Kiss, em que o número de mortes teve oscilações a cada instante, provocando
ainda mais desespero nos familiares das vítimas.
Ainda sobre o fator tempo, o autor lembra que este impede a profundidade, “razão pela
qual as notícias se concentrariam no primeiro plano (foreground) em detrimento do
plano contextual de fundo (background), o que contribuiria para abolir a consciência
histórica (p.48)”.
Na ação social, também estão as rotinas, que podem ser consideradas como respostas
práticas às necessidades dos veículos de comunicação e dos jornalistas. Conforme
Sousa (2005, p.49), “são procedimentos que asseguram ao jornalista, sob pressão do
tempo, um fluxo constante e seguro de notícias e uma rápida transformação do
acontecimento em notícia”.
O autor também faz uma crítica a essas rotinas, que acabam sendo usadas como
defesa dos jornalistas com relação aos riscos elevados provocados pelo “uso de aspas”,
por exemplo. Ou seja, “sem tempo” de apurar se determinada informação é verdadeira,
o jornalista coloca “aspas” e divulga o conteúdo, passando a “responsabilidade” para a
fonte.
Outra questão é que, por causa dessas rotinas, o trabalho jornalístico está relacionado
mais a procedimentos rotineiros e sistematizados do que à capacidade intuitiva para a
notícia ou ao “faro” jornalístico.
Seguindo com a análise crítica do autor, as rotinas favorecem ainda (1) a distorção ou
simplificação dos acontecimentos; (2) a burocracia, ao condicionar a notícia a recursos
e horários compatíveis; (3) a institucionalização das fontes, já que para “cumprir” a
rotina são ouvidas as mesmas pessoas e os mesmos especialistas; (4) e, pelo mesmo
motivo (cumprimento da rotina/necessidade de fechamento do caderno de pautas), a
utilização constante de fontes oficiais.
Outros fatores como a comparação com outros veículos de comunicação, que pode
contribuir para diferenciação ou padronização do conteúdo, também afetam a produção
noticiosa.
Para descrever a ação sócio-organizacional, Sousa (2005) utiliza elementos da ação
social descrita por Schudson (1988), que dá ênfase ao papel das organizações e seus
constrangimentos na conformação da notícia.
Uma vez que os veículos de comunicação visam lucro, as razões financeiras podem
afetar as decisões editorais. O que justificaria o custo de uma viagem para uma cidade
sem correspondente do jornal? Uma tragédia? Um escândalo político? Um fato com
interesse comercial para a empresa?
A própria distribuição de equipes - que se concentra mais na capital que no interior -
interfere diretamente no processo de seleção das notícias. Os recursos disponíveis e a
qualidade dos equipamentos também podem ser determinantes na cobertura de um
acontecimento.
Assim como Traquina (2005), Sousa (2005) apresenta a socialização do jornalista como
outro ponto importante. Ambos autores citam Warren Breed (1955), que afirma que
essa socialização depende de seis processos não evidentes de recompensa-punição:
(1) autoridade institucional e sanções; (2) progressão na carreira profissional; (3)
sentimentos de obrigação e estima para com seus superiores; (4) ausência de conflitos
e lealdade; (5) prazer do exercício do jornalismo; e (6) jornalismo como valor.
De acordo com Sousa (2005, p.54), “percebe-se que o jornalista será sempre
constrangido pela política editorial e pela forma de fazer as coisas no órgão de
comunicação social para o qual trabalha”.
No contexto da ação social extra-organizacional estão as fontes (ao selecionar a
fonte, o jornalista já está influenciando no conteúdo da notícia); os outros órgãos de
comunicação social (assessorias e outras redações); os interesses da audiência (o
jornalista pensa no que a audiência está interessada); e o mercado (o peso dos
anunciantes e do governo).
As fontes são consideradas gatekeepers externos aos media. Conforme Sousa (2005),
a relação entre jornalistas e fontes implica em uma série de riscos, entre eles, possíveis
“graus problemáticos de cumplicidade e amizade” (p.58). Em contato constante com
determinada fonte, o jornalista cria uma relação de confiança que pode ir além das
questões profissionais, e isso acaba influenciando diretamente na capacidade de
análise crítica e na devida contextualização de determinado acontecimento.
Intercalar trabalhos em assessoria de imprensa durante campanha eleitoral e redação
também pode prejudicar a abordagem de fatos políticos. O desfrute de certas vantagens
ou benefícios garantidos por alguma autoridade é outra situação que mina a
credibilidade do jornalista.
Assim, os processos de seleção de fontes jornalísticas são importantes e mesmo
problemáticos (p.58). Um estudo de Herbert Gans (1980), nos Estados Unidos, apontou
que as fontes de maior poder econômico e político tem acesso privilegiado aos meios
de comunicação. E identificou ainda que os poderosos tendem a ser representados em
atividades “dignificantes”, e o restante das pessoas em atividades “menos ou nada
dignificantes” como crimes e manifestações.
Sousa (2005, p.59) afirma que “os jornalistas estão interessados em fontes abertas,
capazes de providenciar toda a informação crível de que eles necessitam
“desesperadamente” para que o produto noticioso seja fabricado”. Desta forma, o “vício”
em fontes oficiais é justificado por estas fornecerem informações rápidas e importantes,
no entanto, resulta em um jornalismo acrítico, que se torna um simples intermediário
para informação manipuladora.
Saindo do âmbito das questões técnicas e organizacionais, a ação ideológica vai trazer
uma reflexão sobre o papel dos meios de comunicação na propagação de uma
ideologia e do fortalecimento das forças que determinam a natureza dessa ideologia.
Sousa (2005) apresenta algumas definições de ideologia. Uma delas é a de Raymond
Willians de que a ideologia é um sistema articulado de significados, valores e crenças.
No contexto do jornalismo, o autor português cita Pamela Schomaker e Stephen Reese
(1996) para dizer que “as rotinas dos jornalistas e das fontes, as convenções
profissionais, os valores e a estrutura organizacional combinam-se, assim, para manter
um sistema de controle e reprodução das ideologias dominantes” (p.75). E ainda
considera a visão de Stuart Hall (1982) de que os media geram “construções simbólicas
que fazem percepcionar a ordem existente como natural e imutável” (p.75).
A ideia de que os veículos de comunicação têm uma autonomia relativa garante maior
credibilidade e legitimidade, fazendo com que a ideologia dominante seja inserida de
forma quase imperceptível nas construções simbólicas, ou seja, nas atitudes e valores
da população.
Para explicar a ação ideológica, Sousa (2005) também considera a ideia da teoria da
hegemonia, proposta pelo filósofo Antonio Gramsci, na qual a hegemonia é a forma
como a ordem vigente mantém sua dominância (p.75). Quando o jornalista prioriza
versões “oficiais” e fontes com poder econômico e político está contribuindo para
manutenção do poder das elites. Assim, “as notícias teriam as marcas dessa
hegemonia” (p.76). A própria objetividade seria um instrumento da hegemonia, ao
considerar o jornalismo como um simples intermediário e não um “verdadeiro mediador”.
No processo de newsmaking, as questões culturais também são levadas em conta. Na
ação sociocultural, o sistema cultural e as estruturas sociais são apontados como
fatores que influenciam no conteúdo dos meios de comunicação. Pela visão de
Schudson (1988), a notícia é um artefato que se apoia e faz uso dos padrões culturais
pré-existentes para ser realizado e para produzir sentido. Desta forma, a notícia é um
produto da cultura e dos limites do que é culturalmente concebível no seio dessa
cultura.
Sousa (2005) cita Gaye Tuchman (1976) que apresenta o conceito de frame elaborado
por Erving Goffman (1975). Frames são formas de organizar a vida cotidiana para se
compreender as situações sociais. “As notícias transportam consigo os enquadramentos
(frames) em que foram produzidas” (p.81). Esse enquadramento está relacionado a
atribuição de sentido aos acontecimentos.
Também é apresentada a visão de que as notícias seriam “construídas no seio de uma
gramática da cultura” (p.81). Ou seja, ajudariam a compreender os valores e símbolos
da cultura na qual está inserida.
Pela conclusão de Stuart Hall (1977), os media reproduziriam os discursos dominantes
através dos quais se dá significado à realidade; perpetuariam as ideias dominantes
através da linguagem e sistemas simbólicos; e estruturariam os acontecimentos
selecionados mediante esquemas ideológicos (p.84).
A ação do meio físico e tecnológico sobre as notícias também é outro fator inserido
no processo de newsmaking. Sousa (2005) fala sobre a hipótese de que o advento dos
meios informáticos nas redações vai melhorar a qualidade dos textos. Sabemos que
hoje o que acontece é exatamente o contrário, por diversas questões, entre elas a
tirania do tempo, já comentada aqui. O autor apresenta ainda preocupações com novas
formas de atuação profissional como o teletrabalho. “Até que ponto o jornalista não se
furtará aos mecanismos de socialização, ideologização e aculturação que até hoje tem
moldado o campo jornalístico?” (p.88)
E já em 2005, havia a reflexão sobre a mudança no acesso às informações, uma vez
que o consumidor passa a ter maior capacidade de se furtar ao “crivo” jornalístico.
Contexto no qual o jornalista deixa de ser o único gestor dos fluxos de informação e
passa a ter um papel fundamental como analista e seletor de informação. O
pesquisador aponta ainda o que temos notado até hoje: os jornais online não
aproveitam todas as possibilidades da internet. Tanto jornalistas quanto leitores ainda
precisar aprender a fazer um uso inteligente política, econômica e socialmente das
novas tecnologias.
A ação histórica acrescenta ao processo de newsmaking a percepção de que “as
notícias que temos, os conteúdos e os formatos das notícias que temos, são frutos da
história” (p.90). Os avanços nos processos de transmissão e difusão de informação
trouxeram novas formas de noticiar. A questão cultural também está inserida nesse
processo, pois a evolução dos frames culturais foi modificando os temas noticiáveis, o
que é notícia hoje pode não ter sido há 50 anos e vice-versa.
Sousa (2005) retoma Jesús Timoteo Álvarez (1992) para fazer um breve resgate
histórico do jornalismo. O primeiro estágio, por volta do século XIX, é marcado por uma
imprensa opinativa ou ideológica, devido à “escassez de matéria-prima informativa, à
alfabetização reduzida, à politização da audiência”, entre outros motivos.
Ainda conforme Timoteo Álvarez (1992), a notícia só veio a tornar-se elemento central
do discurso jornalístico com o advento, nos Estados Unidos, da imprensa popular. Entre
os fatores que contribuíram para esse processo estão o aumento do volume de
informação e da capacidade de circulação (graças ao trem e ao telégrafo); a
alfabetização e urbanização; e o surgimento de empresas voltadas para o lucro e não
para ideologia. Foi o envio de informação por telégrafo, inclusive, que favoreceu a
implantação do lead, uma vez que os dados mais importantes deveriam chegar primeiro
ao destinatário.
Na segunda geração da imprensa popular, nos anos 30, o jornalista Joseph Pulitzer
trouxe novas formas de se fazer jornalismo. Indo além da linguagem clara, direta e
simples, introduziu no seu jornal “The World” um grafismo inovador e as manchetes. Em
relação ao conteúdo, Pulitzer deu atenção aos escândalos e o combate à corrupção,
estimulou a abordagem de histórias pelo ângulo do interesse humano e a publicação de
ilustrações. Também utilizou o sensacionalismo e as ações de assistência social. O
jornalista também trouxe contribuições para formação profissional: impulsionou a
criação da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia (NY).
Retomando o resgate histórico, o jornalismo de declarações/citações ganha força
durante os períodos das I e II Guerra Mundial. Já nos anos 60, predomina o modelo de
análise e especialização. Em seguida, surge o chamado “Novo Jornalismo”, com o
fortalecimento do jornalismo de investigação em profundidade.
Nos anos 90, o jornalismo de serviços é consagrado. E com a chegada da Internet, o
jornalismo especializado começa a ganhar cada vez mais espaço. A quantidade de
informações disponíveis aumentou, mas a qualidade é prejudicada pela rapidez e o
tamanho reduzido dos textos, o que é um paradoxo já que as plataformas digitais não
têm limites de espaço, como ocorre no impresso. Na reflexão sobre esse cenário, Sousa
(2005, p.94) conclui que o melhor é “dar as notícias tarde, mas bem, do que cedo, mas
mal”.
A proposta de uma teoria unificada da notícia, que se constitui no processo de
newsmaking, considera os principais fatores que interferem no processo de seleção de
notícia e, por isso, no meu ponto de vista, dá conta da complexidade da pergunta “Por
que as notícias são como são?”. É uma análise que mostra como a atividade jornalística
sofre influências de diferentes organizações, interesses e concepções sócio-culturais.
Não existe uma receita pronta do que é notícia, mas existem caminhos, como a
proposta de Sousa (2005), que nos indicam como esse processo ocorre.

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