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Disciplina de Epidemiologia
Estação Ensino
Sumário
CONCEITO 3
APLICAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA 4
DELINEAMENTO DOS ESTUDOS 5
PLANEJAMENTO EM SAÚDE 6
DIAGNÓSTICO EM SAÚDE COLETIVA 7
NECESSIDADES DA POPULAÇÃO 8
AUTORIZAÇÃO E CONSENTIMENTO DOS PARTICIPANTES 9
AUTO PERCEPÇÃO EM SAÚDE 10
LEVANTAMENTO DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 11
EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA 16
TERMINOLOGIAS EM EPIDEMIOLOGIA 18
EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE BUCAL 20
ÍNDICES ODONTOLÓGICOS 22
NECESSIDADE DE TRATAMENTO 23
DOENÇAS MAIS PREVALENTES EM SAÚDE BUCAL 32
REFERÊNCIAS 35
Conceito
A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças e agravos em populações
humanas e os diferentes fatores determinantes destes padrões. Objetiva investigar os fatores que
intervêm na difusão e propagação de doenças e agravos, sua frequência, seu modo de distribuição,
sua evolução e a introdução dos meios necessários a sua prevenção.
A diferença entre doenças e agravos à saúde pode ser entendida da seguinte maneira: por exemplo,
a cárie dentária é uma doença muito prevalente na população, causada por bactérias que
desmineralizam o esmalte e a dentina. Seu tratamento requer um profissional habilitado (cirurgião-
dentista), equipamentos (equipo odontológico, compressor, caneta de alta rotação e outros) e
materiais restauradores (resina composta, amálgama ou cimento de ionômero de vidro). Já o
traumatismo dental é um agravo muito frequente em certas faixas etárias (como crianças e
adolescentes), que causam danos ao esmalte e dentina e que pode inclusive atingir a polpa dental. O
traumatismo não é causado por bactérias, porém seu tratamento envolve as mesmas variáveis do
tratamento restaurador da cárie dentária (profissional, equipamentos e materiais). Dessa forma,
entender a epidemiologia do traumatismo dental é muito importante para as medidas de prevenção
desse agravo na população, tanto quanto a prevenção da doença cárie e de outras doenças bucais.
O termo Epidemiologia tem sua origem grega e significa: epi = sobre; demos = povo; logos = estudo.
Enquanto a clínica aborda a doença em “nível individual”, a Epidemiologia aborda o processo saúde-
doença em “grupos de pessoas” que podem variar de pequenos grupos até populações inteiras.
É muito importante que o Técnico em Saúde Bucal entenda os usos da Epidemiologia na área da Saúde,
principalmente no âmbito da Odontologia, uma vez que esse profissional pode e deve atuar no
levantamento de dados populacionais que servirão de base para suas próprias ações de promoção e
prevenção junto à população.
Aplicaçao da Epidemiologia
Por algum tempo prevaleceu a ideia de que a Epidemiologia restringia-se ao estudo de epidemias de
doenças transmissíveis. Hoje, é reconhecido que a Epidemiologia trata de qualquer evento relacionado
à saúde ou doença da população.
Suas aplicações variam desde a descrição das condições de saúde da população, da investigação dos
fatores determinantes de doenças, da avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde
até a avaliação da utilização dos serviços de saúde, incluindo custos de assistência.
Os estudos epidemiológicos podem ser muito úteis no enfrentamento e controle dos problemas de
saúde. O uso da Epidemiologia como ferramenta para o conhecimento da realidade da distribuição
das doenças na população é de extrema relevância para o planejamento de ações e organização dos
serviços de saúde.
Dessa forma, a Epidemiologia contribui para o melhor entendimento da saúde da população, partindo
do conhecimento dos fatores que determinam doenças e agravos e provendo consequentemente,
subsídios para o Planejamento em Saúde.
Planejamento em Saude
Em nossa vida, sabemos que antes de realizar uma atividade, qualquer que seja ela, é preciso que
façamos um planejamento para obtermos um bom resultado. Por exemplo, se quisermos realizar uma
viagem de férias, precisamos planejar com antecedência: escolher o destino, reservar hospedagem,
comprar passagens ou fazer uma revisão no carro.
Dessa forma, para que as atividades sejam planejadas, é preciso que se conheça antes qual é a
situação. Isso não é diferente na área da Saúde. Para planejarmos atividades em Saúde, precisamos
também conhecer a realidade, nesse contexto precisamos conhecer a realidade da população.
Saber qual é a situação pode ser chamado também de reconhecimento inicial ou Diagnóstico. Se
quisermos realizar atividades que promovam a saúde da população, precisamos planejar e para isto
devemos primeiro fazer o Diagnóstico em Saúde Coletiva, que consiste em descobrir como está a
saúde de uma população e como estão sendo resolvidos os problemas de saúde. O Diagnóstico na
área de Saúde pode ser feito de várias maneiras, sendo que para isso alguns dados são fundamentais.
Necessidades da Populaçao
O Diagnóstico em Saúde Coletiva deve ser realizado tomando como referência de análise as
necessidades da população que são classificadas como Necessidades Normativas e Necessidades
Sentidas ou Percebidas:
Necessidades normativas: são aquelas que são observadas pelos profissionais. Podem ser medidas por
levantamentos e inquéritos. Exemplo: dente(S) com cárie, gengiva sangrando e outros.
Necessidades sentidas ou percebidas: são aquelas que as próprias pessoas percebem. Elas podem não
identificar o que é, mas sabem que as incomodam e atrapalham sua vida. São medidas por
questionários, entrevistas e conversas em grupos. Exemplo: dor no(s) dente(s) ou gengiva, buraco(s)
no(s) dente(s), dente(s) quebrado(s) e outros.
Para que o profissional da Saúde tome conhecimento das necessidades da população da qual ele é
responsável, é preciso que se realizem levantamentos (epidemiológicos ou de necessidades) nos quais
as pessoas são examinadas, ou realizar inquéritos que são instrumentos para coleta de informações.
Os inquéritos podem ser realizados por meio de questionários, entrevistas ou grupos focais. As
principais características de cada um desses instrumentos podem ser visualizadas no quadro a seguir:
Questionários Entrevistas Grupos focais
Os profissionais organizam grupos
Os participantes respondem
com participantes de uma
Os participantes recebem as perguntas feitas pelos
comunidade para discutirem
perguntas e eles mesmos profissionais, que anotam ou
determinado assunto e
respondem/preenchem o(s) gravam/filmam e depois
gravam/filmam e depois
questionário(s). transcrevem as respostas dos
transcrevem as respostas dos
participantes.
participantes.
As perguntas podem ser as O profissional que estiver
mesmas de um questionário, liderando o grupo (moderador) faz
Perguntas simples, geralmente de
porém os participantes podem a mesma pergunta a todos, aonde
múltipla escolha, ou com
extrapolar as alternativas e o podem surgir mais informações, e
alternativas de simples (sim/não).
profissional anota os os participantes vão se lembrando
comentários dos participantes. e relatando mais detalhes.
Exemplo: “Sua gengiva sangra?”
Exemplo: “Sua gengiva sangra?” Exemplo: “Alguém já teve a
Resposta: De vez em quando...
Resposta escrita: sim ou não gengiva sangrando?”
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maneira de se conseguirem os dados em pouco tempo, com gastos pequenos, por meio da percepção
da própria população. Como vimos anteriormente, a essa percepção da população denominamos
necessidade sentida, e ela pode ser obtida por meio de observação, aplicação de questionários,
realização de entrevistas e grupos focais. O quadro a seguir apresenta os dados necessários para o
estudo epidemiológico de uma população e o método de coleta utilizado para obtê-lo:
Fator de Risco
Processo Saúde-Doença
O Processo Saúde-Doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis que
envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas estão interligadas
e é consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito, a determinação do estado de
saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve diversos fatores.
Diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do século XX, que considerava
como fator único de surgimento de doenças um agente etiológico (vírus, bactérias, protozoários), o
conceito de Saúde-Doença estuda os fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles,
pretende obter possíveis motivações para o surgimento de alguma enfermidade.
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O conceito de multicausalidade não exclui a presença de agentes etiológicos em uma pessoa como
fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o psicológico do paciente,
seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de instrução, entre outros. Esses fatores,
inclusive, não são estáveis; podem variar com o passar dos anos, de uma região para outra, de uma
etnia para outra.
A Saúde é hoje definida também como a capacidade de empoderamento das pessoas para
modificarem os determinantes da sua saúde em benefício da sua própria qualidade de vida. A
qualidade de vida resulta da adequação das condições socioambientais às exigências humanas.
A Constituição Federal de 1988 evidenciou este processo de transformação e quebrou um paradigma
quanto à maneira de interpretar as necessidades e ações de saúde, de uma perspectiva unicamente
biológica, mecanicista, individual, específica, para uma perspectiva contextual, histórica, coletiva,
ampla. O Estado brasileiro assumiu como seus objetivos precípuos a redução das desigualdades sociais
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e regionais, a promoção do bem de todos e a construção de uma sociedade solidária sem quaisquer
formas de discriminação por meio da adoção dos princípios de diretrizes do SUS.
O processo saúde-doença não depende exclusivamente dos mecanismos biológicos que afetam o
organismo humano, mas de vários condicionantes chamados determinantes do processo saúde-
doença. Esses determinantes são classificados como endógenos e exógenos:
Fatores Endógenos: são os fatores determinantes que, no quadro geral da ecologia da doença, são
inerentes ao organismo e estabelecem a receptividade do indivíduo. São exemplos de fatores
endógenos os genes que as pessoas herdam de seus pais, capazes de predispor ou desenvolver
determinadas doenças, como por exemplo, a diabetes e a doença periodontal.
Fatores Exógenos: são os fatores determinantes que dizem respeito ao ambiente no qual o indivíduo
se insere. Podemos citar como determinantes biológicos a exposição a vírus e bactérias; como
determinantes físico-químicos a exposição ao ar ou ao solo contaminado e como determinantes
socioculturais a influência no seu estilo de vida ou a exposição das pessoas a catástrofes naturais e
guerras.
Os Determinantes Sociais da Saúde são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos, psicológicos
e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na
população.
Enquanto fatores individuais são importantes para identificar que indivíduos no interior de um grupo
estão submetidos o maior risco, as diferenças nos níveis de saúde entre grupos e países estão
relacionadas principalmente ao grau de equidade na distribuição de renda, uma vez que há diferença
nos investimentos em infraestrutura comunitária (educação, transporte, saneamento, habitação,
serviços de saúde) decorrentes de processos econômicos e de decisões políticas.
Podemos afirmar que a utilização da epidemiologia nos serviços de saúde é composta basicamente de
quatro grandes áreas que são:
• Análise da situação de saúde: consiste no levantamento do panorama atual da saúde e da
taxa de mortalidade, correlacionando-os sempre que possível com fatores sociais, ambientais e
demográficos;
• Identificação de perfis e fatores de risco: consiste na identificação dos fatores que mais
corroboram para o desenvolvimento de determinados quadros epidemiológicos bem como na
identificação de populações mais suscetíveis a determinadas doenças e agravos;
• Avaliação epidemiológica de serviços: esse processo tem como objetivo selecionar os
indicadores mais apropriados para mensurar a eficiência e abrangência das estratégias adotadas,
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estabelecer metas a ser atingidas (como por exemplo, as crianças vacinadas), comparar resultados e
revisar estratégias quando necessário;
• Vigilância em saúde pública: esse processo se aprimorou ao longo dos séculos, passando
pelo isolamento, quarentena, cordões sanitários entre outros processos que não continham de
maneira apropriada as epidemias. Atualmente a observação sistemática de infectados e grupos de
risco permite abordagens mais eficientes e com menor caráter excludente dos infectados.
Com todas essas contribuições nos serviços de saúde é inegável a importância da
epidemiologia na elaboração de políticas sanitárias de combate e prevenção das doenças de maneira
mais humanista.
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Epidemiologia Clínica
Enquanto a Epidemiologia geral estuda a distribuição da ocorrência e determinantes dos estados de
saúde e doença em populações humanas, a epidemiologia clinica ocupa-se especificamente da prática
clínica por meio do estudo da variação e dos determinantes da evolução da doença.
A Epidemiologia clínica aplica, portanto, métodos epidemiológicos à atividade clínica. Ajuda a olhar de
forma crítica a literatura científica, dando um significado particular ao fato da prática clínica ser
dominada pela relação médico-paciente. Ajuda a colocar o doente individual na sua comunidade de
origem, o que o permite compreender simultaneamente tanto como um ser único quanto um membro
de um grupo de indivíduos com os quais compartilha algumas características.
Na abordagem epidemiológica populacional, descrita estatisticamente, o doente é visto enquanto
mais um membro de uma população a que passa a pertencer: o daqueles que também partilham da
mesma sintomatologia ou doença. A Epidemiologia clínica procura-se situar o doente dentro da sua
população de origem, de forma que permita ao profissional clínico formular certo número de
hipóteses sobre o diagnóstico, prever o efeito do tratamento ou outras consequências da decisão
médica e depois recalcular probabilidades a priori com base na informação que vai sendo obtida pela
Epidemiologia de base populacional.
Dessa forma, é um erro pensar que somente os profissionais que atuam no serviço público precisam
da Epidemiologia em suas ações cotidianas em seu local de trabalho. Os profissionais que atuam na
esfera privada também podem e devem utilizar os conceitos da Epidemiologia para melhorar sua
prática profissional, sempre pensando no bem estar e na segurança do paciente.
Os conceitos epidemiológicos podem ser empregados nos serviços de saúde para fornecer aos
trabalhadores e usuários respostas para questionamentos comuns como, por exemplo: é comum após
uma extração de um terceiro molar o paciente apresentar inchaço e hematomas? Qual o percentual
dos nossos pacientes que necessitaram de retratamento endodôntico?
Para responder a esses e outros questionamentos, os profissionais (tanto cirurgiões-dentistas quanto
os Técnicos em Saúde Bucal) devem recorrer à literatura científica, colher dados dos pacientes e
sistematizar essas informações.
É possível, por meio da Epidemiologia clínica, perceber falhas, por exemplo, nas ações de
biossegurança, quando a incidência de pacientes com alveolite (infecção dos alvéolos dentais pós-
extração) aumenta devem-se rever as práticas profissionais pré-operatórias (processo de esterilização,
lavagem de mãos, técnica de colocação da luva estéril) e trans-operatórias (trabalho a quatro mãos,
infecção cruzada). Essa revisão e análise permite que medidas de ajustes possam ser aplicadas e
incorporadas ao dia a dia. Neste caso citado a epidemiologia clínica trabalharia no primeiro momento
no sentido de enteder as causas do aumento da alveolite e num segundo momento trabalharia no
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sentido de reduzir o número de alveolites, fixando inclusive uma data limite. Além disso, poderia ser
constituído um monitoramento contínuo para evitar novos casos de alveolite.
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Terminologias em epidemiologia
Como vimos no início desse texto, a Epidemiologia estuda a distribuição e os determinantes dos
problemas de saúde (e fenômenos associados) em populações humanas e alguns conceitos são muito
importantes para nós, que trabalhamos com saúde.
ENDEMIA: quando uma doença existe constantemente (habitualmente) em um lugar e acomete
determinado número de indivíduos. Por exemplo, atualmente em Minas Gerais, a dengue pode ser
considerada uma doença endêmica.
EPIDEMIA: quando ocorre o surgimento rápido de uma doença num lugar e que acomete
simultaneamente grande número de pessoas. Observamos no último ano (2017) uma epidemia de
febre amarela não só no estado de Minas Gerais, como em outros estados brasileiros.
PANDEMIA: é uma epidemia generalizada, que atinge vários continentes do mundo. Um exemplo de
doença global é a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS). O vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV) surgiu na África no início do século XX. Na década de 60, as várias guerras de independência no
continente africano fizeram com que alguns infectados se refugiassem na Europa. A partir de então, o
vírus da AIDS foi espalhado em novas regiões do mundo e hoje está disseminado por todo o planeta.
INDICADORES DE SAÚDE: são medidas-síntese que contêm informações relevantes sobre
determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de
saúde. Esses devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das
condições de saúde. Os principais usos dos indicadores são a descrição das condições de saúde e de
vida de uma população; a avaliação de intervenções e a investigações epidemiológicas.
Os principais indicadores de saúde são:
MORBIDADE (prevalência e incidência de doenças): é a taxa de portadores de determinada doença
em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento. Os
indicadores de morbidade mais utilizados no planejamento e na avaliação das medidas de prevenção
e controle de doenças e agravos são as taxas de prevalência e de incidência, descritas a seguir.
PREVALÊNCIA: é o número de casos (novos e antigos) de uma doença em um momento e local
determinado. Ela descreve a força com que subsistem as doenças nas coletividades.
INCIDÊNCIA: é o número de casos novos de uma doença num momento e local determinado. Equivale
ao crescimento ou mesmo a uma "velocidade” de crescimento com que casos novos da doença são
agregados ao contingente dos que no passado adquiriram a doença.
A incidência traduz a ideia de intensidade com que acontece a morbidade em uma população,
enquanto a prevalência, conforme foi visto, é termo descritivo da força com que subsistem as doenças
nas coletividades.
MORTALIDADE: as taxas de mortalidade são quocientes entre as frequências absolutas de óbitos e o
número dos expostos ao risco de morrer.
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O exame é uma observação da boca, feita em espaços pré-definidos (escola, na residência, em centros
de saúde, etc), com toda técnica, segurança e higiene, conforme normas da Organização Mundial da
Saúde e do Ministério da Saúde. Não representa riscos nem desconforto para quem é examinado. Os
dados individuais não são divulgados em nenhuma hipótese, mas os resultados da pesquisa
contribuem de forma significativa na prevenção de doenças bucais e melhora da saúde de todos. Logo,
a colaboração do paciente, autorizando a realização do exame, é muito importante. Portanto, deve-
se esclarecer que a participação do indivíduo é decorrente da livre decisão após receber todas as
informações necessárias.
Estima o acesso da população aos serviços odontológicos para assistência individual no âmbito do
SUS. Não se refere a atendimentos eventuais como os de urgência/emergência que não tem
seguimento previsto.
(* Pacto da Atenção Básica (instrumento normativo que estabeleceu para municípios e estados, o cumprimento de metas a serem alcançadas na atenção primária em saúde,
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Índices odontologicos
Como vimos anteriormente, os índices odontológicos são unidades de medida que utilizamos para
quantificar e ou qualificar doenças e ou agravos em saúde bucal. Possuímos em odontologia os
seguintes índices:
O ideal é que o exame para o levantamento do índice de cárie e gengival/periodontal e também para
avaliar as alterações dentofaciais seja realizado com a sonda recomendada pela OMS, chamada por
muitos de CPI: sonda milimetrada/sonda periodontal graduada de três em três milímetros. A
sondagem do periodonto só pode ser realizada pelo cirurgião-dentista, devendo o TSB participar
apenas como anotador.
Cárie Dentária
0 (A) Coroa hígida
Não há evidência de cárie. Estágios iniciais da doença não são levados em consideração.
Os seguintes sinais devem ser codificados como hígidos:
• manchas esbranquiçadas;
• descolorações ou manchas rugosas resistentes à pressão da sonda CPI;
• sulcos e fissuras do esmalte manchados, mas que não apresentam sinais visuais de base
amolecida, esmalte socavado, ou amolecimento das paredes, detectáveis com a sonda
CPI;
• áreas escuras, brilhantes, duras e fissuradas do esmalte de um dente com fluorose
moderada ou severa;
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• lesões que, com base na sua distribuição ou história, ou exame táctil/visual, resultem de
abrasão.
Raiz Hígida
A raiz está exposta e não há evidência de cárie ou de restauração
(raízes não expostas são codificadas como “8”).
1 (B) Coroa Cariada. A sonda CPI deve ser empregada para confirmar evidências visuais de cárie
nas superfícies oclusal, vestibular e lingual. Na dúvida, considerar o dente hígido.
Raiz Cariada. -A lesão pode ser detectada com a sonda CPI. Se há comprometimento
radicular discreto, produzido por lesão proveniente da coroa, a raiz só é considerada
cariada se há necessidade de tratamento radicular em separado
2 (C) Coroa Restaurada mas Cariada.
Raiz Restaurada, mas Cariada.
3 (D) Coroa Restaurada e Sem Cárie.
Raiz Restaurada e Sem Cárie.
4 (E) Dente Perdido Devido à Cárie
5 (F) Dente Perdido por Outra Razão.
6 (G) Selante
7 (H) Apoio de Ponte ou Coroa
8 (K) - Coroa Não Erupcionada
Raiz Não Exposta
T(T) Trauma (Fratura).
9 (L) Dente Excluído
Necessidade de tratamento
0 Nenhum Tratamento
1 - Restauração de uma superfície dentária
2 - Restauração de 2 ou + superfícies dentárias .
3 Coroa por qualquer razão.
4 - Faceta Estética
5 Tratamento Pulpar e Restauração.
6 Extração
7 Remineralização de Mancha Branca
8 Selante
9 Sem informação
Nota a respeito das necessidades de tratamento:
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A decisão deve ser tomada com base no senso clínico do examinador, após ter inserido a sonda OMS
na margem entre a restauração e o tecido duro ou após observar uma significativa descoloração do
esmalte adjacente; o excesso marginal, causando irritação local do tecido gengival e não podendo ser
removido por meio de um ajuste da restauração; fratura, que possa causar a perda da restauração ou
infiltração marginal.
Fluorose
A fluorose é um sensível indicador de que o desenvolvimento do dente esteve exposto ao flúor. Com crescente
exposição, os dentes mostram progressivas alterações na superfície do esmalte. As lesões distribuem-se
simetricamente dentro da boca, mas nem todos os dentes são igualmente afetados. Os pré-molares e segundos
molares são os mais freqüentemente afetados, seguidos pelos incisivos superiores, enquanto os incisivos
inferiores são os menos afetados.
O grau de severidade reflete o estágio no qual vários tipos de dentes são formados e mineralizados, considerando
também o regime de fluoretação (baixa ou alta) a que o indivíduo esteve exposto. A dentição temporária costuma
ser menos envolvida que a permanente. Alguns estudos relataram casos de fluorose na dentição temporária em
áreas de altos teores de flúor.
O índice é o recomendado pela OMS, o qual se baseia no índice de Dean. Neste levantamento serão examinadas
as idades de 12, e de 15 a 19 anos. Todos os dentes são examinados, mas a avaliação da condição individual é
feita levando-se em conta apenas os dois dentes mais afetados (se esses dois dentes mais afetados não estiverem
comprometidos de modo semelhante, o valor do menos afetado entre os dois será registrado). As lesões
fluoróticas são usualmente bilaterais e simétricas e tendem a apresentar estrias horizontais.
5 - Severa. A hipoplasia está generalizada e a própria forma do dente pode ser afetada. O sinal
mais evidente é a presença de depressões no esmalte, que parece corroído. Manchas castanhas
generalizadas.
9 Sem informação
A condição periodontal será avaliada com a utilização de três indicadores: os índices IPC, para as idades de 12,
15 a 19, 35 a 44 e 65 a 74 anos, PIP, para 35-44 e 65-74 anos e uma verificação de alterações gengivais (AG) na
idade de 5 anos.
Dentes-Índices - São os seguintes os dentes-índices para cada sextante (se nenhum deles estiver presente,
examinam-se todos os dentes remanescentes do sextante, não se levando em conta a superfície distal dos
terceiros molares):
• 20 anos ou mais: 17, 16, 11, 26, 27, 37, 36, 31, 46 e 47.
Pelo menos 6 pontos são examinados em cada um dos 10 dentes-índice (molares e incisivos: 17, 16, 26, 27, 36,
37, 46, 47, 11, 31)
• Embora 10 dentes sejam examinados, apenas 6 anotações são feitas: uma por sextante, relativa à
pior situação encontrada;
• Quando não há no sextante pelo menos dois dentes remanescentes e não indicados para extração,
cancelar o sextante registrando um "X"
Exame – A visibilidade da JCE é a principal referência para o exame. Quando a JCE não está visível e a
pior condição do CPI bolsa para o sextante é igual a “1”, qualquer perda de inserção para o sextante é
estimada em menos de 4mm (PIP = 0).
Anormalidades Dento-Faciais
Para a idade de 5 anos será adotado o índice preconizado pela OMS em sua versão anterior (1987), modificado
pela Faculdade de Saúde Pública da USP em 1996. A condição oclusal aos 5 anos será examinada, conforme
critérios descritos a seguir:.
Índice de Má-Oclusão
0 Normal: ausência de alterações oclusais;
1 Leve: quando há um ou mais dentes com giroversão ou ligeiro apinhamento ou
Espaçamento prejudicando o alinhamento regular, e;
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Espaço
Apinhamento no Segmento Incisal
0 Sem apinhamento
1 Apinhamento em um segmento.
2 Apinhamento em dois segmentos.
Espaçamento no Segmento Incisal
0 Sem Espaçamento
1 Espaçamento em um segmento.
2 Espaçamento em dois segmentos.
Diastema incisal Medido em mm
Desalinhamento Medido em mm
maxilar Anterior
Desalinhamento Medido em mm
mandibular
anterior
Oclusão
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Edentulismo
A situação do edentulismo é avaliada quanto ao uso e necessidade de próteses, as quais têm como base a
presença de espaços protéticos. Um mesmo indivíduo pode estar usando e, ao mesmo tempo, necessitar
prótese(s). Deve ser assinalado o uso e a necessidade para os arcos superior e inferior. As observações ao exame
levarão em conta os códigos e critérios ilustrados nos quadros a seguir. Vale lembrar que os exemplos citados
são apenas os mais comuns. É importante que, durante o treinamento, a equipe considere outras ocorrências
e crie um mesmo padrão de análise.
Uso de prótese
0 Não usa prótese dentária
1 Usa uma ponte fixa
2 Usa mais do que uma ponte fixa
3 Usa prótese parcial removível
4 Usa uma ou mais pontes fixas e uma ou mais próteses parciais removíveis
5 Usa prótese dentária total
9 Sem informação
Necessidade de Prótese
0 Não necessita de prótese dentária
1 Necessita uma prótese, fixa ou removível, para substituição de um elemento
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Uma observação importante é que a verificação da necessidade de prótese deve incluir uma avaliação
da qualidade da prótese quando a mesma está presente. Os dois índices não são excludentes, ou seja,
é possível estar usando e também necessitar de uma prótese. Para que haja uniformidade nesta
avaliação, o critério de decisão para determinar que uma prótese que está em uso é inadequada e,
portanto, deve ser trocada, será baseado nas seguintes condições:
Traumatismo
Necessidade de Prótese
0 Nenhum traumatismo ou sinal de fratura
1 Fratura de esmalte
2 Fratura de esmalte e dentina
3 Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar
4 Ausência do dente devido a traumatismo
9 Exame não realizado
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Para realização do IHOS é necessário utilizar substâncias evidenciadoras de placa bacteriana. Esse
índice é subdividido entre o Índice de Placa Bacteriana e o Índice de Cálculo. Os arcos dentais são
divididos em sextantes, nos quais são definidos os dentes índices e suas faces de exame: vestibular
dos dois primeiros molares superiores (16 e 26), vestibular do incisivo central superior direito e do
central inferior esquerdo (11 e 31), superfície lingual dos dois primeiros molares inferiores (36 e 46).
Na falta dos dentes indicados examina-se o próximo posterior, como por exemplo, na falta do
elemento 26, examina-se o 27. Apenas os dentes totalmente erupcionados são examinados
O índice médio individual só poderá ser estabelecido quando houver presença de, no mínimo, dois
dentes índices e seus substitutos. O resultado é dado pela soma dos códigos de cada dente dividida
pelo total de dentes examinados. Há um subíndice para placa e um para cálculo, sendo o IHO-S a soma
dos dois.
Para cada resultado encontrado para a Higiene Oral diferente de Satisfatória, será necessária uma
estratégia, que pode incluir Educação em Saúde, instruções de higiene oral, escovação supervisionada,
dentre vários outros.
O quadro a seguir resume a idade em que os exames descritos são mais adequados:
Traumatismo
Edentulismo
Alteração de
periodontal
tecido mole
Fluorose
Oclusão
Doença
Cárie
Idade
30
31
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Significant Caries Index (SiC), que permite identificar a polarização da entre os grupos populacionais e
as disparidades socioeconômicas na experiência de cárie. Vários outros índices de cárie estão em
desenvolvimento na área de epidemiologia.
A Organização Mundial da Saúde utiliza o CPO-D aos 12 anos de idade como indicador básico de
comparação para o estado de saúde bucal entre populações diversas (internacionalmente). A escolha
dessa idade é devido à formação da dentição permanente, e foi estabelecida a seguinte escala de
severidade para a idade aos 12 anos:
CPO-D Prevalência
0,1 a 1,1 Muito baixa
1,2 a 2,6 Baixa
2,7 a 4,4 Moderada
4,5 a 6,5 Alta
Maior ou igual a 6,6 Muito alta
Portanto, os valores elevados de CPO-D indicam más condições de saúde bucal da população,
frequentemente associadas a condições socioeconômicas desfavoráveis; a dificuldade de acesso aos
serviços; aos hábitos prejudiciais, como alto consumo de açúcares e esses valores também podem
indicar limitado acesso ao flúor.
O CPO-D é utilizado para contribuir para a avaliação das ações de prevenção da cárie dental, bem
como subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas e ações voltadas à melhoria
da saúde bucal. Porém esse indicador possui como limitações a possibilidade de interpretações
distintas dos estágios iniciais da cárie, por parte dos examinadores, e também pode ocorrer ainda
subestimação do índice quando as cáries de esmalte deixam de ser consideradas. Outra limitação é
que como o exame é restrito à coroa do dente, esse índice não permite identificar as cáries radiculares.
O índice ceo-d é o índice utilizado para a dentição decídua e inclui os dentes cariados (c), com extração
indicada (e) e os obturados (o). Os dentes extraídos não são incluídos por ser difícil de separar os que
foram extraídos por cárie daqueles que passaram pelo processo natural de esfoliação.
O índice CPO-S (cariados, perdidos e obturados por superfície) é um índice geralmente utilizado para
medir a eficácia de algum tratamento preventivo. Para a dentição decídua é ceo-s. Dividem-se os 32
dentes permanentes em 148 superfícies da seguinte forma: molares e pré-molares (5 superfícies -
oclusal, mesial, distal, vestibular e lingual); incisivos e caninos (4 superfícies - mesial, distal, vestibular
e lingual).
Doença Periodontal
Na área da periodontia, os índices surgiram com a finalidade de detectar a presença e a severidade da doença
periodontal através de análises epidemiológicas. Assim como a cárie, a doença periodontal (periodontite-
perda óssea) está associada aos fatores biológicos e sociais. Como fatores sociais possuem os mesmos
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Porém, existem outras formas de doenças periodontais destrutivas como a GUNA (gengivite ulcerativa
necrosante aguda), a periodontite juvenil, a periodontite rapidamente progressiva e a periodontite
pré-puberal.
Os índices de prevalência de doença periodontal no Brasil são alarmantes. Estima-se que praticamente
quase a totalidade dos brasileiros jovens e adultos tem necessidade de alguma forma de tratamento
da doença periodontal. A presença de cálculo (tártaro ou biofilme calcificado) com ou sem
sangramento gengival constitui o problema mais frequente. Medidas de promoção da saúde e de
educação são muito eficientes em programas dirigidos à população, que a periodontite pode começar
com uma simples gengivite.
Nós já vimos os detalhes dos índices gengivais e periodontais. Se precisar ver mais detalhes, reveja.
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REFERENCÍAS
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Aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
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Manual do Examinador Projeto SB2000 - Condições de Saúde Bucal da População Brasileira no ano
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