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PROFILAXIA PARA TÉTANO E

RAIVA
Epidemiologia • A traumatologia pode variar de esmagamentos,
arrancamentos, lesões de ossos, nervos, vasos,
A mordedura de animais é muito frequente, sendo tendões e articulações, além de perdas de
um problema em todo o mundo. Nos EUA, estima- substância e lacerações.
se que há 1 a 2 milhões de casos de mordeduras por
animais ao ano. No Brasil temos mais de 600 mil
atendimentos anuais para profilaxia da raiva
(clínicas públicas).
Em média 85% dos casos ocorrem por mordedura
de cães, 10% de gatos e 5% de demais animais.
Mordeduras

Obs.: Mordida de morcego (figura acima) – o maior


risco, nesses casos, é o de transmissão da raiva.
Importante!! Deve-se haver atendimento nas
primeiras 8 horas do atendimento. Inclui-se nesse
tempo a atenção ao trauma produzido pela
mordedura e profilaxias para tétano e raiva. Depois
dessas 8 horas, geralmente há busca de
atendimento para cuidado de complicações
• Tem predomínio no sexo masculino, referentes às mordeduras.
principalmente em adolescentes e adultos
jovens; Tétano
• Ocorrem mais no verão, principalmente por se
Ao longo dos anos, os casos de tétano estão
tratar de férias escolares;
diminuindo, e isso se dá, principalmente, pela
• Costumam atingir mais extremidades do corpo,
adesão à vacinação. Porém, preocupa-se com o
principalmente braços (tentativa de se
futuro da cobertura vacinal no Brasil quando se fala
defender), e rostos;
do movimento anti-vacina.
• Tem uma relação maior com determinadas
profissões, como veterinários, carteiros e
entregadores;
• Geram de 5 a 10 óbitos por ano, geralmente
quando há lesão de grandes vasos e pescoço;
• Devemos ter maior atenção às raças Pit-Bull e
Rottweiler, que causam mordidas com pressão
de 100 a 300 quilos. Além disso, sua mordida é
muito bem fixada, fortalecida com o sacodir de
suas cabeças;A
• As feridas puntiformes dos gatos têm uma taxa
de infecção secundária de 20 a 80% dos casos; Cadeia de transmissão – na natureza, esporos
muito resistentes (são viáveis por anos) são
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largamente disseminados, servindo de fonte de Obs.: A correta limpeza do ferimento geralmente
infecção. Inclusive, esses esporos podem fazer evita essas condições.
parte da microbiota normal do tubo digestivo de
Toxinas produzidas
animais, principalmente os herbívoros.
• Tetanolisina – parece atuar criando melhores
Isso passa a ser um problema ao homem quando há
condições para a proliferação do bacilo no foco
contaminação de ferimentos agudos em gerais e
tetânico;
em outras vias (coto umbilical, cirurgias, injeções,
abortos ilegais, feridas crônicas, entre outros). • Tetanoplasmina – parece ser a toxina mais ativa
a causar a lesão → leva a uma hipertonia
Obs.: 5 a 10% dos casos pode não ter a porta de generalizada, além de agir no encéfalo levando
entrada aparente, o que não pode excluir o a convulsões tetânicas (contraturas
diagnóstico. paroxisticas) e síndrome de desautonomia.
De forma geral, a toxina atua na placa
Sendo assim, a população alvo de profilaxia é:
mioneural, com diminuição da acetilcolina, o
• Não vacinados; que teoricamente levaria à paralisia flácida,
• Sexo masculino, por ser mais comum; porém, predomina-se a atuação na medula,
• Profissões de maior risco – que tenham contato levando à hipertonia.
com solo e traumas; Além disso, os neurônios pré-ganglionares
• Ênfase em nível sócio-econômico e cultural simpáticos e parassimpáticos são acometidos,
mais baixos – tem maior cuidado com seus levando a disautonomia simpática.
ferimentos; E a toxina parece atuar também no encéfalo,
• Acesso a cuidados médicos de ferimentos; explicando as contraturas paroxísticas.
• Cidades por terem mais casos;
• Predomínio em idosos que aderem menos aos
esquemas vacinais.
Patogenia
Um trauma já existente ou no próprio momento de
sua ocorrência é contaminado por esporos, que em
situação de anaerobiose consegue se reproduzir,
entrando em sua forma vegetativa, capazes de
produzir toxinas que geram o tétano.
Aliado a isso, algumas situações favorecem o
crescimento do bacilo tetânico nas lesões e a Diagnóstico clínico – geralmente, o diagnóstico
consequente produção de toxinas: será dado apenas pela clínica do doente.
• Sujeitas; • Paciente não vacinado corretamente –
• Terra; geralmente ainda sofrerá erros na profilaxia
• Corpos estranhos em geral; após o trauma;
• Tecidos desvitalizados; • Presença de uma porta de entrada ou foco
• Isquemia local; tetânico;
• Sais de cálcio; • Hipertonia muscular generalizada – trismo é
• Ácido lático; contratura mais precoce e frequente da doença;
• Quinino; • Contraturas paroxísticas – doente apresenta
• Infecção bacteriana secundária – infecções por câimbras com muita dor, que, ao passar, volta
S. pyogenes e S. aureus baixam a oxigenação para condição de hipertonia;
dos tecidos, favorecendo condição de • Disautonomia – sudorese profusa, instabilidade
anaerobiose. de PA, arritmias e outros;
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• Paciente lúcido, sem irritação meníngea ou Esquema básico de vacinação contra tétano
sinais de hipertensão intracraniana. Nesses
A vacinação inicia aos 2, 4 e 6 meses, sendo um
casos, haverá rigidez de nuca, mas pela
dos componentes da vacina pentavalente. Aos 15
hipertonia e não pela dor;
meses e aos 4 anos, fazer vacinação com a DTP. A
• Presença ou não de complicações do tétano.
partir daí, fazer reforço a cada 10 anos com vacina
dT até o fim da vida.
Se a vacinação contra o tétano é iniciada depois dos
7 anos, ela deverá ser feita com a dT em 3 doses,
com intervalo de 2 meses entre elas. Em seguida,
segue-se o reforço normal, de 10 anos.
Durante a gestação, o esquema vacinal contra o
tétano deve ser atualizado, após a 20ª semana de
gravidez, independente do estado vacinal da mãe,
através de uma dose de dTPa.
Os indivíduos com 1 ou 2 doses da vacina
antitetânica devem completar o esquema de 3
Opistótono doses, e a partir disso, seguir o reforço a cada 10
anos.
É importante também que pelo menos uma dessas
vacinações de reforço seja com dose de dTPa.
Importante – em idosos fragilizados, desnutridos e
imunocomprometidos pode ser que não haja
resposta adequada à vacina. Nesses casos, não se
trata de contraindicação à vacina, mas sim que se
deve ter maior atenção com o doente, e uma dose
de SAG ou TIG estarão indicadas.

Trismo
SAT = soro antitetânico e TIG = gamaglobulina.
Atendimento para profilaxia
Serão recomendados para pacientes que nunca
Avaliar o tipo de ferimento do doente – alto ou foram vacinados ou que não souberam informar.
baixo risco. Será de alto risco quando: Em alguns casos, em indivíduos fragilizados, pode
ser feito mesmo que já exista vacinação completa.
• Há lesões múltiplas e contusas;
• Feridas muito profundas; 5 anos é o período de ação plena da vacina, logo,
• Presença de infecções secundárias (2 a 30%); dentro desse tempo, não é necessário fazer um
• Paciente com comorbidades, como cirrose, reforço.
regular estado de nutrição e a própria idade A vacina em indivíduos até então não vacinados é
avançada. dada para evitar episódios futuros, e não para agir
Estado imunitário do acidentado para tétano no ferimento atual. Para isso, existe SAT e TIG.

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Nesses casos, a SAT ou TIG devem ser feitas em Infecções piogênicas relacionadas à
local diferente da vacinação. mordedura
Pacientes corretamente vacinados, com problemas Costumam ser comuns porque a cavidade oral dos
para continuar os cuidados com o ferimento após o animais é rica em patógenos. Essas infecções
primeiro atendimento, devem fazer o reforço se geralmente estão relacionadas às mordeduras:
tiverem mais de 10 anos após a última dose e
também o SAT ou TIG. • De cães – 2 a 30%;
• De gatos – 20 a 80%;
A dose profilática do SAT varia com o ferimento,
• De macacos – 25%.
sendo, em média, 5000 UI IM; e a dose da TIG é,
em geral. 250 UI IM. A gamaglobulina humana
circula por mais tempo e causa menos alergia.
Cuidados da ferida
• Atendimento o mais precoce possível;
• Usar degermantes em volta da lesão;
• Anestesia local e manejo das lesões com
técnica asséptica;
• Limpeza das lesões com água e sabão e, em
segundo momento, soro fisiológico estéril;
• Inventário correto dos ferimentos – muito Fatores de risco – podem servir também como
importante; indicações para a profilaxia.
• Realizar suturas, se necessário. Em mordeduras
evita-se fazer a sutura, mas isso não é lei; • Lesões em mãos, pés, couro cabeludo, face e
• Considerar a história patológica do paciente articulações;
para melhor manejo – verificar se há • Lesões puntiformes e profundas ou com perda
necessidade de antibioticoprofilaxia. de substância – ocorrem em mordedura de gato
e são de difícil limpeza;
Antibioticoprofilaxia para tétano • Retardo no tratamento, como idade avançada e
• Amoxicilina + Clavulanato – serve para baixa imunidade;
infecções piogênicas e para o tétano, sendo o • Uso de corticoides – baixa imunidade;
preconizado; • Alcoolismo – imunossupressão;
• Tetraciclinas; • Diabetes descompensado;
• Cefalotinas; • Pacientes com edema ou equimoses – servem
• Penicilina G; como meio de cultura para patógenos;
• Eritromicina; • Doença vascular;
• Clindamicina; • Presença de fraturas – risco de osteomielite;
• Metronidazol. • Presença de próteses – risco de infecção em
prótese.
Geralmente não há indicação de
antibioticoprofilaxia para o tétano em si, porém, o Principais bactérias envolvidas – em infecções de
Clavulin é um antibiótico que serve também para pele normais os patógenos envolvidos geralmente
evitar infecções bacterianas secundárias, logo, será são Streptococcus sp e S. aureus. Porém, nos casos
utilizado com esses dois propósitos. de mordedura, os patógenos da boca dos animais
também devem ser considerados.
Obs.: Penicilina G benzatina não serve para
profilaxia do tétano!! Ela não atinge concentração • Streptococcus sp.;
mínima para agir no Clostridium. • Staphylococcus aureus;
• Pasteurella multocida;

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• Eikenella corrodens;
• Capnocytophaga canimorsus;
• Corynebacterium sp;
• Anaeróbios – Peptostreptococcus sp.,
Provotella sp., Bacteroides fragilis, Vellionella
sp., Porphyromonas sp. e Fusobacterium sp.
Para profilaxia e tratamento, visa-se
principalmente o Streptococcus, S. aureus,
anaeróbios e Pasteurella multocida. Atendimento para profilaxia
Buscar espécie animal envolvida
Geralmente cães (85%) e gatos (10%). Os demais
5% se dão por outros animais.

• Animais domésticos e aqueles de interesse


econômico (bovinos, equinos, caprinos e
suínos) são de médio risco de transmissão;
O Amoxicilina + Clavulanato é o antibiótico
• Animais silvestres (morcego, raposa, macacos,
comum a toda essa microbiota, logo será indicado
micos, sagui, gambá, quatis e outros) são de
para profilaxia e tratamento das infecções de
alto risco de transmissão, sendo o morcego o
pele secundária. Nos casos graves, que se
principal fator para transmissão;
suspeitam de MRSA, deve-se internar doente, para
• Coelhos, hamster, rato de telhado, ratazana,
antibiótico venoso e acrescenta-se Sulfametoxazol
camundongo e porquinho da índica são
+ Trimetoprim, que pega MRSA.
considerados de baixo risco;
• Amoxicilina + Clavulanato, 30 a 50 mg/Kg de • Répteis, peixes e aves não transmitem;
8/8 horas; • Pode haver transmissão inter-humana, porém é
• Sulfametoxazol + Clindamicina com rara, geralmente através de transplantes e, ainda
Clindamicina – em casos de alergia à clavulin; mais raramente, pela saliva;
• Clindamicina + Ciprofloxacino. • Pode ocorrer também de forma inalatória, em
grutas com morcegos;
Raiva • Pode ocorrer em casos mais raros de zoofilia e
Ciclo básico manipulação de carcaças.
Obs.: em acidentes domésticos, mesmo que animal
esteja vacinado, a profilaxia será a mesma. Bem
como em acidentes com animais de transmissão
menos comum.
Buscar área geográfica de procedência do animal
• Tentar entender se a raiva é controlada ou não
no local – no Brasil o controle da raiva é muito
raro;
• Período de observação de 10 dias – só é válido
para cão e gato. Eles são capazes de transmitir
O morcego, em seu ciclo aéreo, é o grande a raiva de 2 a 4 dias antes de ficarem doentes e
disseminador da doença. Porém, com as costumam morrer até 6º dia de doença, logo,
profilaxias, essa transmissão diminui passando-se os 10 dias não há mais risco de
consideravelmente. aparecimento do quadro de raiva. O ideal é que

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essa observação seja feita por veterinário, • Profundidade – pode ser superficial ou
exceto em animais domiciliados, sem contato profundo (pior situação);
com outros animais, e que estejam bem • Quanto ao número e extensão – pode ser único,
cuidados. múltiplos, extensos ou não.
Observar as condições do animal no momento e Diagnóstico
após o acidente
Pode ser evidenciado no histopatológico, com a
• Condição sanitária do animal e vacinação presença de Corpúsculos de Negri.
contra a raiva;
• Se são cães domiciliados, semi-domiciliados,
comunitários ou errantes (os de maior risco,
pois não tem nenhum cuidado);
• Acidentes em condições normais (explicáveis)
ou não;
• Se animal já mostrava mudança de
comportamento anteriormente;
• Se já havia manifestações sugestivas de raiva.
Obs.: São as principais manifestações da raiva em
cães e gatos:

• Mudança de hábitos, procurando lugares


escuros; Pode ser feito também uma imunofluorescência
• Mudança de comportamento, geralmente, com direta do tecido.
agitação ou agressividade intensas;
• Pode ocorrer o contrário, estando o animal
quieto e aborrecido;
• Mudança de hábitos alimentares, ingerindo
materiais estranhos;
• Dificuldade em deglutir água ou alimentos;
• Salivação abundante, não conseguindo engolir
a saliva;
• Paralisia das patas traseiras e latido rouco ou
bitonal.
Natureza da exposição ao vírus Tipos de exposição

• Buscar entender se houve mordedura, Contato indireto – manipulação de utensílios


lambedura ou contato com saliva. potencialmente contaminados, lambedura em pele
íntegra e acidentes com agulhas durante aplicação
Obs.: A lambedura em mucosa é grave quando se de vacina animal não são considerados acidentes de
trata de um animal doente. Entretanto, a lambedura risco e não exigem esquema profilático.
em pele só será infectante quando houver quebra da
barreira da pele. Acidentes leves – ferimentos superficiais, pouco
extensos, geralmente únicos, em tronco e membros
Em relação aos ferimentos causados pelo animal (exceto mãos, polpas digitais e plantas dos pés).
• Local do corpo – costuma ser pior quando Podem acontecer em decorrência de mordeduras ou
ocorre em áreas mais inervadas, por sua arranhaduras causadas por unha ou dente. Além de
proximidade com SNC; lambedura de pele com lesões superficiais.

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Acidentes graves – ferimentos na cabeça, face, • Acidentes graves → Lavar local com água e
pescoço, mãos, polpas digitais e/ou planta do pé; sabão, iniciando o esquema profilático com
ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em soro e 4 doses da vacina nos dias 0, 3, 7 e 14
qualquer região do corpo; lambedura de mucosas; pela via IM ou nos dias 0, 3, 7 e 28 pela via
lambedura de pele onde já existe lesão grave; e intradérmica, e observar o animal durante 10
ferimento profundo causado por unha de animal. dias após a exposição. Se a suspeita da raiva for
descartada após o 10º dia de observação,
Profilaxia – irá depender do tipo de exposição e
suspender o esquema profilático e encerrar o
das condições do animal agressor.
caso.
Cão e gato sem suspeita de raiva
Cão ou gato raivoso, desaparecido ou morto, ou
• Contato indireto → Lavar local com água e animais domésticos de interesse econômico ou de
sabão, não sendo necessário tratar; produção
• Acidentes leves → Lavar ferida com água e
• Contato indireto → Lavar ferida com água e
sabão e observar o animal durante 10 dias após
sabão e não tratar;
a exposição. Se o animal permanecer sadio no
• Acidentes leves → Lavar local com água e
período de observação, encerrar o caso. Se o
sabão e iniciar imediatamente o esquema
animal morrer, desaparecer ou se tornar
profilático com 4 doses da vacina, nos dias 0, 3,
raivoso, administrar 4 doses de vacina
7 e 14 por via IM, ou nos dias 0, 3, 7 e 28 por
antirrábica nos dias 0, 3, 7 e 14 pela via IM, ou
via intradérmica;
nos dias 0, 3, 7 e 28 pela via intradérmica;
• Acidentes graves → Lavar local com água e
• Acidentes graves → Lavar ferida com água e
sabão e iniciar imediatamente o esquema com
sabão e observar o animal durante 10 dias após
soro e esquema profilático com 4 doses de
o acidente. Iniciar esquema profilático com
vacina nos dias 0, 3, 7 e 14 por via IM, ou nos
duas doses, uma no dia 0 e outra no dia 3. Se o
dias 0, 3, 7 e 28 por via intradérmica.
animal permanecer sadio, encerrar o caso. Se o
animal morrer, desaparecer ou se tornar Morcego e outros animais silvestres, mesmo que
raivoso, dar continuidade ao esquema domiciliados
profilático, administrando o soro e completar
o esquema até 4 doses de antirrábica. Aplicar • Contato indireto → Lavar ferida com água e
uma dose entre o 7º e o 10º dia e uma dose no sabão e não tratar;
14º dia, pela via IM, ou nos dias 0, 3, 7 e 28 pela • Acidentes leves e graves → Lavar local com
via intradérmica. água e sabão, iniciar imediatamente o soro e o
esquema de 4 doses da vacina, nos dias 0, 3, 7
Cão ou gato clinicamente suspeito de raiva e 14 por via IM, ou nos dias 0, 3, 7 e 28 por via
intradérmica.
• Contato indireto → Lavar ferida com água e
sabão e não tratar; Soro antirrábico (SAR) – deve ser infiltrado em
• Acidentes leves → Lavar local com água e volta das portas de entrada. Nos ferimentos muito
sabão, iniciar esquema profilático com 2 doses, extensos ou múltiplos, o soro pode ser diluído em
uma no dia 0 e outro no dia 3 e observar o soro fisiológico. Caso sobre SAR, injetá-lo por via
animal durante 10 dias após a exposição. Se a intramuscular.
suspeita de raiva for descartada após o 10º dia
O soro deve ser feito até o sétimo dia após a
de observação, suspender o esquema profilático
primeira dose da vacina. Após o oitavo dia, sabe-se
e encerrar o caso. Se o animal morrer,
que já há produção de anticorpos, logo, o soro já
desaparecer ou se tornar raivoso, completar o
não mais é necessário. Importante que o soro e a
esquema até 4 doses, sendo uma entre 7º e 10º
vacina devem ser aplicados em locais diferentes.
dia e uma no 14º dia, pela via IM, ou nos dias
0, 3, 7 e 28 pela via intradérmica; O soro deve ser aplicado em 40 UI/Kg; ou em casos
de soro homólogo (ideal), fazer 20 UI/Kg.
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Vacina antirrábica • Esporotricose (mais comum no nosso meio) →
Causada por gato;
A vacina para raiva é feita com vírus morto, logo
• Peste (incomum no Brasil) → Causada por gato
não é contraindicado para imunocomprometidos. A
e rato;
única preocupação é que esses pacientes não
consigam responder à vacina, por sua falta de • Brucelose (raramente ocorre por mordedura) →
sistema imune competente. Causada por cão;
• Blastomicose norte-americana (não tem no
É uma vacina que pode ser usada em via IM Brasil) → Causada por cão e gato;
profunda, com preferência no deltoide ou vasto • Leptospirose (incomum ser causada por
lateral da coxa, não devendo ser aplicada na região mordedura) → Causada por cão e rato.
glútea. Também pode ser usada por via
intradérmica. Caso clínico
Esporotricose Paciente masculino 76 anos, foi atacado por um
pitbull quando caminhava na calçada. Sofreu
Doença causada por mordedura ou arranhadura de múltiplas mordidas pelo corpo, sendo as mais
gatos, sendo causada pelo fungo Sporothrix graves no braço direito, rosto e cabeça. Foi salvo
schenckii. por um vira-lata que virou herói e enfrentou o
pitbull, o qual foi morto a pauladas por vizinhos. O
cão era conhecido, pois já havia mordido vários
vizinhos e transeuntes, sem motivo aparente, em
ocasiões anteriores. O idoso registrou queixa e o
dono do cão terá que responder judicialmente por
omissão na guarda de animais e por lesão corporal
culposa. As lesões mais graves eram contusas, de
Tratamento formato estrelado, profundas, sendo atendido em
Forma cutânea emergência 2 horas depois.

• Itraconazol, 100 a 200 mg/dia, até a cura clínica Considera-se para fins didáticos que:
(em geral, 90 dias); • O dono do pitbull informou que o animal era
• Terbinafina – segunda opção; vacinado todo ano com vacina antirrábica;
• Solução saturada de iodeto de potássio – • O idoso era vacinado corretamente contra o
segunda opção. tétano, sendo o último reforço há cerca de 15
Forma cutânea disseminada ou extra cutânea anos. Trata de cirrose hepática há vários anos,
disseminada compensada no momento e o seu estado
nutricional é regular;
• Anfotericina B lipossomal (preferencial) ou • Apresentou 2 dias depois do episódio, febre de
desoxicolato – feita até melhora clínica 39ºC e celulite extensa no braço direito e
evidente; em seguida, realizar Itraconazol, 200 adenite axilar do mesmo lado.
a 400 mg/dia até resposta clínica indiscutível
(cerca de 1 ano). Portanto, são pontos importantes para iniciar a
profilaxia:
Outras doenças transmitidas por mordedura
• Fator de risco para raiva – múltiplas mordidas,
de cão e gato próximas a SNC (rosto e cabeça) e lesão
• Doença da arranhadura do gato (incomum no profunda (abaixo do tecido subcutâneo),
Brasil) → Causada por gato; pegando camada muscular;
• Tularemia (não tem caso no Brasil) → Causada • Paciente foi atendido em um tempo bom, em 2
por gato e coelho; horas após acidente;

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• Situação imunitária do paciente → Vacinado
corretamente para tétano, porém com último
reforço há 15 anos (ideal é a 10);
• O fato do animal ser vacinado não muda o
esquema de profilaxia ao paciente;
• Ferimentos → Ferimento de alto risco para
tétano, infecção piogênica e raiva (mordedura
de Pitbull, múltiplas, profundas, áreas muito
inervadas e próximas ao SNC);
• Condições do acidente → Condições normais
(animal considerava a rua seu território e atacou
quando sentiu ter seu local invadido), área
endêmica de raiva, animal sadio, semi-
domiciliado, vacinado, porém morto e não
observável;
• Medidas indicadas → Vacina dT ou dTPa de
reforço + cuidados locais adequados (limpeza e
antibioticoprofilaxia - clavulin);
• Paciente tem comorbidade (cirrose hepática),
possível desnutrição e idade avançada, o que
pode indicar o uso de TIG ou SAT;
• Profilaxia para raiva (Conclusão que eu mesma
tirei, não sendo comentada pelo professor!!) →
Lavar local com água e sabão e iniciar
imediatamente o esquema com soro e esquema
profilático com 4 doses de vacina nos dias 0, 3,
7 e 14 por via IM, ou nos dias 0, 3, 7 e 28 por
via intradérmica.

DIP – PR2 FERNANDA DE BRITO – M8

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