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LOUISE PINHEIRO
Porto Alegre
2014
1
LOUISE PINHEIRO
ORIENTADOR:
Prof. Me. TICIANO RICARDO PALUDO
Porto Alegre
2014
2
LOUISE PINHEIRO
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
Porto Alegre
2014
3
AGRADECIMENTOS
Cada corpo tatuado traz em sua pele um diário cheio de histórias. E nenhuma
história se escreve individualmente. Esta monografia é resultado de uma coletânea
repleta de participações importantíssimas, de pessoas que colaboraram durante
todo o seu processo de construção e merecem meu agradecimento mais sincero.
A minha mãe, Susana, pelo seu amor incondicional e companheirismo
incansável. Tudo em minha vida só aconteceu porque tenho ao meu lado um
exemplo de mulher, uma excelente amiga e minha maior referência. É sempre por ti
e para ti tudo que faço.
A minha avó, Jurema, que desde meu nascimento abriu mão do que fosse
necessário para meu bem-estar e que, mesmo não estando mais presente, é e
sempre será uma das minhas maiores motivações por sua força e bravura.
Aos meus irmãos de vida, Luã, Marcelo e Vinicius, por serem meu porto
seguro, com abraços apertados, sorrisos sinceros e uma lealdade indescritível.
As minhas companheiras famequianas, Cindy, Daniela e Rafaela, que
compartilham do mesmo amor pela publicidade que eu e me proporcionaram
momentos incríveis dentro e fora da sala de aula.
A todos meus amigos, em especial Joana, Nicole, Paola, Renata e Ricardo,
por sua compreensão e apoio incansável, não só neste momento, mas em todos os
outros da minha vida.
Ao meu orientador, Ticiano, por ter acreditado em mim e se dedicado
intensamente na construção desse projeto. Seu conhecimento, paciência e incentivo
foram de extrema importância para dar vida a cada frase desta monografia.
Ao meu tatuador, Carlos, por toda a sua cumplicidade ao abrir as portas do
seu estúdio, me auxiliar e fazer verdadeiras obras de arte na minha pele.
Aos colegas da Duplo, por sua compreensão e apoio nesses meses tão
intensos. Aos professores que me ajudaram a trilhar cada passo da minha vida
acadêmica, aos entrevistados que contribuíram com este projeto e se dispuseram a
colaborar com a pesquisa e a todos aqueles que, de alguma forma, participaram e
oportunizaram a realização desse sonho.
4
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM PESSOAS TATUADAS ........ 70
1 INTRODUÇÃO
1
A nomenclatura dos capítulos faz alusão ao processo da realização das tatuagens, distribuído em
seções.
2
Povo que utilizava técnicas de tatuagem que realmente cortavam a pele, sendo um dos estilos mais
antigos do mundo.
3
Estilo tradicional de tatuagem, conhecido também como antiga escola ou velha guarda.
16
Alpes, entre a Itália e a Áustria, na qual trazia cinquenta marcas na pele, todas
espalhadas pelas costas e atrás dos joelhos. Outro caso é o da princesa Amunet,
que viveu há 4.000 anos na XI Dinastia do Egito Antigo e portava desenhos com
linhas e pontos no ventre, representando ritos de fertilidade (ARAUJO, 2009)
Desde sua origem, as tatuagens são utilizadas como um meio para comunicar
algo e, em muitos casos, acabaram utilizadas como uma forma de castigo. Na
Grécia Antiga (1.100 a.C - 146 a.C), os escravos que fugiam e eram recapturados
traziam a mensagem "Pare-me, sou um fugitivo" estampada na testa (ARAUJO,
2009).
No Ocidente, as tatuagens eram consideradas um atentado moral à
integridade corporal e foram violentamente combatidas e condenadas pela Igreja,
permanecendo em uma certa obscuridade até o século XVIII. Elas eram
identificadas como marcas de perversidade presente à tradição judaico-cristã, sendo
utilizadas como forma de diferenciar o pagão do crente, o puro do infiel. Só podiam
ser aceitas quando eram consideradas práticas de autoflagelação, sendo
divinamente inspiradas, utilizadas para demonstrar obediência e devoção religiosa
(FERREIRA, 2004).
Foi no final do século XVIII que as marcas corporais, como tatuagens e
brincos, começaram a se popularizar na sociedade europeia, marcando aquele
período histórico. A partir desse momento, condições culturais e sociais foram
criadas para a consolidação dessas práticas. Porém, naquela época, quem portava
uma tatuagem levava consigo uma evidência ou característica corporal de
descrédito perante a sociedade, pois as marcas e acessórios eram relacionadas ao
primitivismo, exotismo e a barbárie da Europa civilizada (FERREIRA, 2004).
A era das máquinas, no final do século XIX, modifica o mundo ocidental em
todos os setores, revolucionando os aparelhos de transporte e produção. E com as
tatuagens não foi diferente, as máquinas se tornam mecanizadas, transformando
todo o contexto da época. Durante milhares de anos as pinturas corporais eram
realizadas com ferramentas manuais, sendo um processo dolorido e demorado,
chegando a levar semanas e, até mesmo, anos para serem finalizadas. A primeira
máquina tecnológica de tatuar, criada por O'Reilly6 em 1891 na cidade de Nova
Iorque modifica esse processo, o tornando mais ágil e popular. A partir de então, as
6
Imigrante irlandês, tatuador e inventor da máquina de tatuar.
19
pinturas corporais podiam ser realizadas em algumas horas e eram muito menos
doloridas, o que fez as lojas de tatuagem surgirem e se espalharem por toda a
América do Norte. Nesse momento, a habilidade do artista não era um item
imprescindível, tendo em vista que os desenhos eram vendidos em qualquer lugar e
podiam ser facilmente copiados (CARUCHET, 1995).
A tatuagem como conhecemos hoje chegou ao Brasil por volta do século XIX,
trazida por marinheiros ingleses e americanos às cidades portuárias. O mesmo
processo acontecia simultaneamente em todo mundo, sendo transmitida como uma
moda entre marinheiros. A palavra tatuagem começa a ser reconhecida oficialmente
pela língua portuguesa no final do século XIX, quando entra para o "Novo Dicionário
da Língua Portuguesa", em 1889 (FERREIRA, 2004).
Até o momento, não existiam tatuadores fixos em território brasileiro, haviam
apenas aqueles que vinham com os navios e ficavam pouco tempo no nosso país. O
primeiro tatuador a fixar raízes e criar seu próprio estúdio no Brasil foi Lucky,
conhecido na época também como Mr. Tattoo, um dinamarquês que aportou no país
em julho de 1959. Lucky foi o único tatuador profissional da América Latina até
meados da década de 1970 (FERREIRA, 2004).
Em meados do século XX, aqueles sujeitos que eram extensivamente
tatuados acabavam sendo expostos em freak-shows7 de eventos como feiras
itinerantes e espetáculos de circo. Ao seu lado, estavam anões, gigantes, mulheres
barbadas e qualquer pessoa com alguma diferença no seu corpo. Essas pessoas
também podiam ser vistas em bairros populares de boemia, marcados pela pobreza
e marginalidade (FERREIRA, 2004).
A associação entre marcas corporais e delinquência acaba por ganhar força
na virada para o século XX, sendo disseminada dessa forma através do discurso
médico e jurídico, além desse pensamento também ser replicado por alguns
criminologistas. Essa manifestação era embasada sobre os indícios físicos de
delinquência, sendo a tatuagem destacada como um fortíssimo sinal de
criminalidade, representando a insensibilidade dos criminosos à dor, como um
homem primitivo e selvagem. Desde então, o que era visto como curiosidade,
aberração e exotismo, passa a ser uma expressão corporal patologicamente
criminal, legitimando de forma jurídica o descrédito social das tatuagens
7
Show de horrores onde se apresentam aberrações.
20
(FERREIRA, 2004).
Entre os ingleses, as tatuagens exerciam o papel de punição. Aqueles que se
recusaram a servir pelo país na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foram
marcados com a letra D, de desertores, no braço. A mesma tática foi apropriada
pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945): uma tatuagem marcava os
judeus nos campos de concentração, além dos próprios soldados da guarda de elite
nazista, que tinham o tipo sanguíneo escrito no braço, facilitando assim um possível
salvamento. Com a derrota de Adolf Hitler (1899 - 1945), essas tatuagens foram de
grande ajuda, pois se tornaram uma das maneiras mais efetivas de identificar e punir
os soldados nazistas (KEMP, 2005).
No início de sua história, as tatuagens eram utilizadas como distintivo de
pequenos grupos, formas de castigo e estavam atreladas a outras significações
sociais. Em meio a isso, aconteceu uma apropriação cultural que se deve,
principalmente, ao fato de que as tatuagens eram um símbolo de exclusão e as
tribos que buscavam formas de discordância e autoafirmação, encontraram nas
pinturas corporais uma maneira de se posicionar contra os valores impostos pela
sociedade (ARAUJO, 2009).
Grupos como as minorias aderiram ao uso dessa técnica como símbolo de
sua condição e, com o passar do tempo, foram invadindo os movimentos jovens e
adquirindo visibilidade e expressão até possuírem uma adesão mais abrangente por
pessoas de todas as idades e estilos. Quando as suas tradicionais vítimas
começaram a incorporar esses símbolos corporais voluntariamente, a prática da
tatuagem adquiriu grande popularidade em todos os contextos, inclusive dentro das
prisões. Em ambientes de reclusão, o que se espera daqueles que estão presos é
de que seus corpos reajam de forma dócil e receptiva ao mecanismo de controle,
vigilância e disciplina. Nesse caso, marcar o corpo através das tatuagens, ou até
mesmo com escarificações, passou a corresponder de um ato de resistência
simbólica (FERREIRA, 2004).
De uma espécie de contracultura, as tatuagens foram sendo trazidas ao
sistema que transformou o seu significado anterior. A imagem de uma pessoa
tatuada sendo diretamente ligada aos operários, reclusos, jovens delinquentes e
outras figuras criminalizadas e marginalizadas surge como um pensamento
desatualizado. As marcas corporais saíram da, até então, penumbra social e
21
8
Painel de mídia exterior de grandes dimensões, disposto em locais de grande visibilidade, visando a
divulgação de algo.
22
9
Foi um mercador, embaixador e explorador. Ao lado de seu pai, foi um dos primeiros navegantes a
percorrer a Rota da Seda.
10
Navegador e explorador genovês, responsável por liderar a frota que alcançou o continente
americano no final do século XV.
11
Mercador, navegador, geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos ao serviço do Reino
de Portugal e de Espanha.
23
do cabo de madeira batendo num ancinho de dentes afiados, usado para picar a
pele e introduzir-lhe a tinta aos poucos. Conforme a madeira batia no ancinho, surgia
o som tac tac ta tau.
James Cook continuou suas expedições e, quando chegou às ilhas da
Austrália, ficou intrigado com os broches de osso que atravessavam a cartilagem do
nariz dos nativos: tinham a grossura de um dedo e mais ou menos quinze
centímetros de comprimento. Quase tapavam os buracos do nariz. Cook achou que
a voz dos nativos era fanha por causa deste piercing gigante (ARAUJO, 2009).
Após dez anos de viagens e exploração, o vermelho que antes era tinta das
tatuagens se transformou no vermelho do sangue. Em 1779, em uma volta
inesperada ao Taiti, Capitão Cook foi recebido pelos havaianos com desconfiança.
Segundo o calendário religioso daquele povo, o momento representava o
afastamento de Lono, para oportunizar a fertilidade natural e fazer com que o bem-
estar de todos os seres humanos fosse restaurado. James foi atacado pela multidão
e seu corpo foi oferecido em sacrifício a Lono (ARAUJO, 2009).
15
Fonte: <http://multticlique.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/09/sailor-jerry-ancora.jpg> Acesso
em 08 set 2014.
16
Fonte: <http://tatuando.com/desenhos/wp-content/gallery/old/2224941709_eeaf24b2db.jpg>
Acesso em 08 set 2014.
17
Fonte: <http://25.media.tumblr.com/tumblr_lgapxlZVGE1qasqa8o1_500.png> Acesso em 08 set
2014.
18
Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-2TGRj8PoaGg/UUkxw3w7vWI/AAAAAAAAAGY/9WVpO3FL_Yw/
s1600/Old5.jpg> Acesso em 08 set 2014.
27
19
Fonte: <http://tatuando.com/desenho/data/media/20/old_school_tattoo_flash_166_by_calico1225-
d3f1t2s.jpg> Acesso 08 set 2014.
20
Fonte: <http://media-cache-ec0.pinimg.com/736x/48/3c/84/483c84f13f6a1abe76c20a85c9ace976.j
pg> Acesso em 08 set 2014.
21
É uma modelo cujas imagens sensuais produzidas em grande escala exercem um forte atrativo na
cultura pop. Destinadas à exibição informal, as pin-ups constituem-se de um tipo leve de erotismo.
28
22
Comportamento de contracultura dos anos 1960 que contrariava os ideais da sociedade. Possuíam
uma filosofia orientada por mestres espirituais, cultivo da natureza e viver em comunidade.
23
Banda inglesa de punk rock, formada em Londres, em 1975.
24
Movimento musical e cultural que surgiu em meados da década de 1970.
29
25
Gênero musical, com uma subcultura iniciada durante a década de 1970, nas áreas centrais de
comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque.
26
Do inglês “arte do corpo”, é uma manifestação das artes visuais onde até o corpo do próprio artista
pode ser utilizado como suporte ou meio de expressão.
27
Discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século XX entre as comunidades
negras dos Estados Unidos.
30
Há muito tempo, o ser humano encontra maneiras e cria suas próprias formas
de ser reconhecido. Muito antes da existência da escrita, os homens já possuíam
28
É o processo usado para determinar que produtos ou serviços poderão interessar aos
consumidores.
29
Ato de administrar a imagem/marca de uma empresa.
32
nomes, permitindo que eles fossem identificados dentro de suas tribos. A assinatura
como conhecemos hoje, aplicada em documentos de identidade, teve sua origem
nas tribos nômades. Essa ferramenta de identificação era utilizada para marcar a
propriedade do gado e dos demais objetos. Alguns vestígios dessas assinaturas
foram encontradas em utensílios de barro, provenientes da Idade da Pedra (cerca de
2 milhões de anos - há 10 mil anos atrás). A manifestação das assinaturas nos
objetos pode ser reconhecida como a primeira de uma marca. (PEREZ, 2004).
Quando buscamos entender a origem das marcas estamos, na verdade,
embarcando em uma viagem no tempo, pois existem estudiosos que reconhecem o
seu início com a prática de identificar com brasa, barris de cedro com bebidas
destiladas. Outros, afirmam que a origem das marcas se dá nas marcações
realizadas com fogo no gado, ou ainda, nas artes (PEREZ, 2004).
No período conhecido como Antiguidade (4.000 a.C-476 d.C), os escultores e
artistas plásticos costumavam assinar seus trabalhos como uma forma de identificar
suas próprias obras. Na Idade Média (476 d.C-1.500), essa tradição acabou se
perdendo, tornando assim, artistas e escultores verdadeiras figuras anônimas.
Igrejas, monumentos, esculturas e qualquer manifestação cultural não possuíam a
assinatura de seu autor, fazendo com que esse período histórico seja reconhecido,
também, como “Idade das Trevas” (PEREZ, 2004).
Somente no período da Renascença (final do século XIV e início XVII) que os
trabalhos artísticos voltaram a apresentar a assinatura de seus autores. Esse
reinício começou com Michelangelo Buonarroti30 (1475-1564), sendo seguido por
Peter Paul Rubens31 (1577-1640). A presença da marca dos criadores fazia com que
fosse possível realizar uma avaliação comercial da obra e, dependendo do autor,
isso influenciava de forma positiva ou negativa (PEREZ, 2004).
Antes de iniciar a evolução dos mercados varejistas na Europa Ocidental,
cidades do Oriente Médio e do litoral Mediterrâneo já haviam se apoderado da
identidade dos produtos no momento de sua comercialização, conseguindo assim,
agregar um item importante ao processo de produção e venda (PEREZ, 2004).
O modelo econômico-produtivo na Europa Ocidental passou a ser o
feudalismo e, dessa forma, uma economia autossuficiente e fechada se instalou
30
Pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte
do Ocidente.
31
Pintor flamengo do estilo barroco.
33
34
Mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e
comercializados em nível mundial.
36
(NEUMEIER, 2008). Mais do que vender uma ideia para o público, vendê-la para um
grupo pequeno de pessoas importantes passou a ser um dos focos principais das
marcas. Para desempenhar essas atividades, nasce o conceito de branding, que na
visão de Sampaio (2003, p. 27, grifo do autor), pode ser definido como “o conjunto
de tarefas de marketing - incluindo suas ferramentas de comunicação - destinadas a
otimizar a gestão de marcas”.
É nesse contexto de evolução que surge a essência do branding emocional,
que se baseia em realizar um encontro íntimo e pessoal com os consumidores, e
não com os gerentes de marca, pois, para Gobé (2007, p.25), “O branding
emocional sempre teve a ver com inspiração, personalidade e conexão”.
Um branding eficaz é aquele que possui relações com as emoções que são
geradas pelo design. A partir disso, desenvolve-se uma nova visão batizada por
Gobé (2007, p. 38, grifo do autor) de brandjam:
permanência na mente dos clientes não deve ter fim nunca (GOBÉ, 2007).
Ainda sobre as inúmeras vertentes a partir do conceito de marca, existe o
personal branding, sendo traduzido de forma simplória em marca pessoal, que
compara nós, indivíduos, a grandes empresas. Para entender essa visão, é preciso
encarar as pessoas que estão à nossa volta como compradores e mercado em
potencial. Nosso chefe é nosso consumidor, assim como nossos amigos
representam o mercado. Pessoas que conhecemos são nossos prospects35 e,
qualquer um que já tenha ouvido falar a nosso respeito, ou nossa marca, são
potenciais compradores.
Todos aqueles que já estiveram em contato conosco foram atingidos pela nossa
marca e formaram, a partir disso, uma percepção positiva ou negativa da nossa
imagem, que pode impulsionar em uma venda futura (BENDER, 2009).
Em um panorama comum de mercado, com marcas representando empresas,
aquelas que não de adaptam, apresentam produtos defeituosos e estragados são
influenciadas pelo boca a boca e acabam tendo sua imagem e reputação danificada.
Recuperar uma visão positiva é muito difícil. Trazendo isso para o personal
branding, cada erro, atraso ou postura indevida no ambiente de trabalho pode fazer
com que os clientes escolham outra pessoa para executar as tarefas (BENDER,
2009).
Independente da situação, Martins (1999, p. 17) aponta que “a marca também
é o maior patrimônio que se pode criar e desejar”. e, como consequência disso, a
imagem se torna um fator decisivo no momento de escolha de uma marca
(MARTINS, 1999).
Todos os dias, nosso mercado em potencial, composto por amigos, colegas,
familiares e chefes, nos observa e nos analisa. Eles recebem os nossos sinais de
marca e, se estivermos no lugar certo, com a “embalagem” atraente, esses itens
irão, mais cedo ou mais tarde, impulsionar a nossa venda. Alguém nos comprará
(BENDER, 2009).
É importante que percebamos o poder que possuímos em nossas mãos, pois
funcionamos como uma marca multimídia. Durante 24 horas por dia, emitimos sinais
que trabalham como comerciais de televisão, com imagens ao vivo, áudio, cores e
formas. Os inúmeros instrumentos, meios e ferramentas de comunicação que
35
Possíveis clientes para um vendedor, empresa ou marca.
40
36
Empresário, pintor, cineasta norte-americano e uma das principais figuras do movimento de pop
art.
37
Atriz, cantora e modelo norte-americana.
41
nesse momento que o nome propaganda é criado, tendo sua origem inspirada na
propagação da fé (MARTINS, 2004).
Até meados do século XVIII, os bens e produtos eram produzidos de forma
totalmente artesanal. O sapateiro criava sapatos e botinas um a um, assim como o
alfaiate fazia com as roupas e o mesmo se replicava em outros setores. Tudo
funcionava a partir de pedidos sob medida, o planejamento de produção era simples
e as vendas transcorriam de forma tranquila, mas demorada. Com a chegada da
Revolução Industrial (1760-1840), a produção desses mesmos produtos se dava em
grande quantidade e com uma enorme redução de custos, multiplicando os números
de fabricação (MARTINS, 2004).
Com a virada do século, surgiram alguns problemas como a excedente
quantidade de mercadorias em produção e estoque. Além disso, a facilidade de
produção implicou na crescente concorrência e, produzir primeiro e vender depois já
não demonstrava ser uma boa estratégia. É nesse contexto que, por volta de 1920,
o marketing acaba por ser inventado nos Estados Unidos. Na época, de forma meio
precária, mas como aponta Martins (2004, p. 29) o conceito de marketing já estava
estabelecido: “saber antecipadamente as características comportamentais, culturais,
estéticas e psicológicas do público-alvo; como podemos homogeneizá-lo em
segmentos e quanto dinheiro está disposto a gastar” (MARTINS, 2004).
Historicamente, a publicidade teve um salto significativo, principalmente, por
Joseph Goebbels (1897-1945), Ministro das Comunicações do 3º Reich e
responsável pelo desenvolvimento e popularização de Adolf Hitler (1899-1945). Com
conhecimentos que permeavam as áreas da sociologia e antropologia cultural,
Goebbels foi um inovador na comunicação de massa, desenvolvendo uma série de
métodos para serem aplicados nos discursos de Hitler que, aliados às artes cênicas,
faziam com que as plateias não só se convencessem, mas que também fossem ao
delírio com as palavras de origem puramente publicitária (MARTINS, 2004).
A propaganda começa a se moldar de maneira técnica, como conhecemos
hoje, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Muitos dos métodos criados por
Goebbels foram melhorados e, a partir disso, incorporados à comunicação
(MARTINS, 2004).
Esse período também trouxe produtos como radares, foguetes, melhorias na
segurança de voo, novas sistemas de comunicação, técnicas mais modernas para a
42
Para atender aos objetivos deste trabalho, foi realizada uma pesquisa de
caráter qualitativo, que visa descobrir opiniões e pensamentos de forma mais
aprofundada, estimulando o indivíduo respondente através de uma conversa
amigável com o entrevistador. Assim, torna-se possível o acesso a resultados mais
efetivos e diretos de acordo com o tema proposto pelo estudo.
É através desse tipo de pesquisa que encontra-se o material necessário para
entender as percepções do público, como aponta Aaker (2001, p. 206) que
“sentimentos, pensamentos, intenções e comportamentos passados são alguns
exemplos de coisas que só podem ser conhecidas por meio dos dados qualitativos”.
O método escolhido para obter a coleta dessas informações de forma
qualitativa se deu a partir da realização de entrevistas em profundidade, técnica que
47
7 Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por
quê?
Fonte: A pesquisadora (2014).
2 Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca. Por
quê?
3 Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
6 O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?
2 Em geral, tu acredita que o tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
3 Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
acha muito bonito as pessoas que possuem esse tipo de manifestação corporal.
Também afirma que, no início, teve como referência o cantor Donavon
Frankenreiter38, além de inúmeras bandas de rock. Para R.F., as tatuagens são bem
importantes na sua vida e representam aquilo que é de seu interesse, coisas que
estão relacionadas com a profissão escolhida, objetos que sempre gostou e fazem
parte do seu cotidiano.
Para a próxima entrevistada, C.S., a tatuagem é um evento recente, já que
começou a se tatuar há pouco mais de um mês e tem apenas um desenho no seu
corpo. Ela conta que sempre teve vontade de marcar na pele algo que houvesse
significado pessoal, fosse bonito e representasse uma etapa de sua vida. Além
disso, também diz que foi bastante influenciada por amigas, o que acabou
reforçando o seu desejo. No início, tinha receio de que as tatuagens fossem
atrapalhar no aspecto profissional, já que aspira trabalhar como atriz e deseja ter
uma carreira no teatro, mas se convenceu de fazer a primeira tatuagem quando viu
que isso não é um empecilho artístico. Sobre a importância dessa prática na sua
vida, afirma que em uma escala de 0 a 10 as tatuagens estão no nível 7, tendo em
vista que o que foi marcado no corpo já faz parte dela, apenas não havia sido
exposto para os outros.
S.P. fez sua primeira tatuagem há 12 anos, tendo sido influenciada pelo seu
primo que, na época, iniciava o seu trabalho como tatuador. Atualmente, possui seis
desenhos no corpo e uma vontade de ampliar essa lista, já que as tatuagens são
bem importantes na sua vida. Ela considera as tatuagens como uma arte, mas conta
que também teve receio sobre como os desenhos no corpo seriam aceitos perante o
mercado de trabalho. Porém, esse medo foi quebrado quando analisou e percebeu
que, para ela, era mais importante expressar no corpo algo que admira do que ficar
se perguntando sobre como seria se tivesse feito uma tatuagem.
Já no grupo dos tatuadores, C.R. relata que não sabe ao certo quantas
tatuagens possui, “A última vez que eu parei para contar eu deveria ter umas 25,
26”. Começou quando tinha 14 anos por querer ser diferente e mostrar a sua
essência, além, é claro, de toda a rebeldia e revolução que ele acredita que a
tatuagem traz consigo. Afirma que não possuiu nenhuma influência, mas que
admirava muito o trabalho que via em outras pessoas e, a partir disso, foi
38
Cantor norte-americano e surfista profissional.
54
39
Brinquedo produzido pela Manufatura de Brinquedos Estrela, com sucesso de vendas na década
de 1980.
55
que vai ficar para sempre no corpo de outra pessoa e ressalta que as tatuagens
podem ser vistas como arte “Eu tiro o chapéu para o tatuador porque eu fico
imaginando como deve ser difícil e complicado, é uma responsabilidade muito
grande. Enfim, tatuar é uma arte”. Todas as suas 32 tatuagens ela fez com o mesmo
tatuador e diz que, nas próximas, continuará fazendo com ele, pois se sente segura
e confia de olhos fechados no profissional que escolheu. Conta que quando está em
dúvida sobre o desenho ele mostra opções, dá alternativas e constrói algo junto com
ela e que isso reforça a sua segurança no profissional.
Para a entrevistada C.S., a profissão do tatuador é um grande desafio que se
repete todos os dias e escolheu o seu profissional pela sua competência e talento.
Ela acredita não adianta pagar barato se o trabalho apresentado não for muito bom
então, nesse caso, prefere qualidade a preço. Costuma acompanhar o trabalho do
seu tatuador no corpo de uma amiga - que também faz os seus desenhos no corpo
com ele - e afirma que as próximas que virão serão realizadas com o mesmo
profissional.
S.P. conta que gostaria de ter o dom para tatuar e considera que,
infelizmente, as pessoas não reconhecem como deveriam a profissão do tatuador.
Atenta para o fato de que, na hora de escolher um profissional, também se importa
com cuidados acerca da higiene dos materiais que serão utilizados, além da sua
competência. A entrevistada afirma que fez todas as suas tatuagens com o mesmo
profissional, é leal ao seu tatuador por saber que ele vai fazer um trabalho com
dedicação e profissionalismo e brinca que “tatuador nunca pode ser traído.
Namorado sim, tatuador não”. Além disso, costuma acompanhar o trabalho daqueles
que considera como referências através de redes sociais, como o Facebook40.
O tatuador e entrevistado C. R. conta que começou a tatuar outras pessoas
quando tinha 19 anos, em Minas Gerais. No início não era nada formal, sua cartela
de clientes era baseada em amigos e conhecidos. Essa decisão foi tomada por
acreditar no impacto e rebeldia das tatuagens, além de enxergar isso como uma
forma de arte livre e urbana, uma espécie de demarcação de território, e gosta de
ver nos outros a sensação de quando ele fez a sua primeira tatuagem. No começo
da sua carreira, afirma que teve importantes referências em aspectos profissionais e
pessoais, uma se tratando da qualidade do trabalho que ele aspirava fazer e outra
40
Site e serviço de rede social, onde os usuários podem criar um perfil pessoal, adicionar amigos,
trocar mensagens e compartilhar fotos e interesses em comum.
56
sobre o incentivo que recebeu, pois relata que, na época, o tatuador era visto como
um marginal e contar com a ajuda de alguém foi muito importante “Referência visual
foi mais o Zé, quando eu entrei no estúdio dele pela primeira vez eu pensei que eu
tinha que viver esse universo. E o Leandro foi um cara que me deu bastante força”.
Para R.D., a tatuagem como profissão é algo bem mais recente, já que
começou os seus primeiros trabalhos há dois meses e que, por enquanto, seus
clientes são amigos e a namorada. Além disso, trabalha com ilustrações e
desenhos, é publicitário e faz o gerenciamento do marketing de uma empresa. Ele
expressa que atualmente a profissão do tatuador está em ascensão, pois a
sociedade está aceitando melhor a presença de tatuagens. Para ele, isso se deve,
também, pelo fato de ser uma tendência na mídia, mas que isso é uma moda
apenas para um grupo de pessoas, não para aquelas que realmente vivem no
mundo da tatuagem. Completa contando que suas principais referências são de
artistas em si, como Vik Muniz, pois deseja ser reconhecido por todo o seu trabalho,
e não apenas pela tatuagem.
V.F. lembra de quando começou a tatuar, há 26 anos, e conta que na época
existiam apenas uns seis tatuadores em Porto Alegre. Sua história na tatuagem
começou na época do colégio, desenhando os colegas com caneta de nanquim.
Quando aprendeu a montar a sua própria máquina, passou a tatuar de verdade. Ele
não considera que o tatuador ainda seja uma profissão reconhecida, pois mesmo
que paguem impostos, tenham alvará de funcionamento, não é algo legalizado.
Relata que existe um levantamento recente que mostra que existem cerca de 400
mil tatuadores no Brasil, obtendo renda e gerando empregos, e acredita que por
isso, em breve, a profissão será legalizada.
mas imagina que para pessoas que não entendem muito do assunto pensam nesse
indivíduo como alguém “rock and roll”. Ela relata que, em determinados momentos,
já sofreu preconceito por ter uma tatuagem grande à mostra e acredita que isso é
efeito da tatuagem ter sido uma prática marginalizada no passado e que esse
preconceito está presente, em sua maioria, nas pessoas mais velhas.
C.S. acredita que existam perfis diferentes de pessoas tatuadas, mas que no
geral são indivíduos que possuem desapego ao corpo e ao material, que usam seu
corpo para mostrar suas convicções. Completa dizendo que os mais moralistas
enxergam como “oh, ele é tatuado”, mas que os jovens, dentro da sua geração,
veem o fato como algo cada vez mais comum.
Quando questionada, S.P. comenta que, felizmente, hoje as pessoas
tatuadas são vistas como alguém que cultua o seu corpo, mas que até pouco tempo
atrás não era assim. Além disso, acredita que as principais características dos
indivíduos que portam tatuagens no corpo contemplam a liberdade, ser uma pessoa
autêntica, mas principalmente livre e desprendida de tudo.
O tatuador C.R. enxerga dois grupos de pessoas tatuadas, denominadas por
ele como modistas e cultuadores da arte. O primeiro contempla aqueles que viram
um desenho em um artista ou um conhecido e querem fazê-lo igual. O segundo é
composto quem tem uma história para contar por trás daquela tatuagem e não a faz
por influência do meio. Além disso, acredita que a tatuagem está passando por uma
evolução, tanto no aspecto profissional como perante ao público em si.
R.D. acredita que pessoas tatuadas, no geral, prezam pela arte em si e estão
envolvidas com outros aspectos dela, como a música ou sua profissão. Também
afirma que são indivíduos livres de estereótipos e paradigmas e que tratam o seu
corpo como um templo, que está sempre sendo cultivado. Ele conta que percebe o
momento atual como o de uma transição, onde o preconceito acerca do tema está
sendo diminuído, mas ainda é existente.
O entrevistado V.F. conta que, atualmente, todos os tipos de pessoa se
tatuam e que ele já fez trabalhos em todos os níveis da sociedade. Acredita que não
existe mais uma “tribo da tattoo” e que talvez isso seja impulsionado pela mídia e por
programas de televisão que já falam abertamente sobre o assunto. Porém,
considera a sociedade muito hipócrita, já que as tatuagens só são aceitas porque
estão sendo mostradas por um jogador de futebol ou uma pessoa influente
58
financeiramente. Finaliza dizendo que hoje ele enxerga que ser tatuador é sinônimo
de status e que, de certa forma, a profissão ainda não legalizada está ganhando
uma dose de glamour.
41
Coleção de trabalhos já realizados de uma empresa ou de um profissional.
59
capacidade e boa vontade, o ser tatuador se transforma em uma marca “É isso que
o Verani fez para ele e o que eu quero fazer para mim”. Ele comenta que em todas
as suas tatuagens existe algo de semelhante, seja um traço ou uma cor, e faz isso
porque almeja ter a sua marca reconhecida a partir das tatuagens que faz. Comenta
que o futuro da tatuagem vai ser algo mais profissional, pois atualmente o Governo
tem promovido cursos de tatuagens em entidades como Senai42.
O tatuador iniciante R.D. acredita que as tatuagens, manifestação corporal
que está em ascensão, ainda são um diferencial e fazem parte de uma marca
pessoal dos indivíduos. Isso se deve, também, porque a mídia está impulsionando
esse fato. Ele enxerga o tatuador como uma marca, pois diz que o que constrói
aquilo não são as máquinas ou o estúdio, mas sim o próprio tatuador.
Já o experiente V.F. conta que, assim como podem ajudar a construir uma
imagem, elas também podem destruir, porque tatuagens não são commodities,
diferente de pacote de bolacha que se compra no supermercado. Dependendo do
profissional que se escolhe, se tem um resultado diferente. Comenta que para o
tatuador se tornar uma marca é preciso trabalhar da maneira correta e ter atenção a
todos os detalhes, pois se trabalha o tempo todo com o público. Mas quando isso é
bem feito, pode até inspirar marcas de roupas, algo bem comum no exterior.
Menciona que, mais do que fazer parte da sua marca, as suas tatuagens fazem
parte dele. Brinca que no seu corpo tem apenas duas, mas que tem milhares de
tatuagens andando por aí em outros indivíduos. Acredita que o futuro da tatuagem
vai ser repleto de novidades, pois a cada convenção surgem novos estilos e
técnicas. Finaliza dizendo que mesmo que um dia não exista mais a necessidade
financeira de tatuar, ele vai o fazer por prazer e que deseja de tornar um velhinho
tatuador.
4.5 CRUZAMENTO
42
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial é uma instituição privada brasileira de interesse
público, sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo apoiar 28 áreas industriais por meio da
formação de recursos humanos e da prestação de serviços técnicos e tecnológicos.
60
43
Rede social online de compartilhamento de foto e vídeo que permite aos seus usuários tirar fotos e
vídeos, aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais.
63
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
entrevistas, onde foi possível estabelecer que existem relações de afeto e carinho
com o tatuador e que sua denominação como marca é adequada e reconhecida
perante o público. Há uma certa apropriação dos signos e desenhos que
representam essa marca por parte dos tatuados, pois além de demonstrar satisfação
sobre carregar em seu corpo um elemento do seu tatuador, eles também se sentem
integrados a um grupo seleto de pessoas, que se destaca perante os outros e é
pertencente àquela marca.
Sob o aspecto de que a propaganda é uma das grandes transformadoras do
atual ambiente cultural e social que vivemos, é possível perceber que a sua
presença se dá nas mais variadas formas, uma dessas manifestações é a própria
tatuagem. Já foi observado que as tatuagens podem representar uma marca e,
quando se trata de um tatuador competente, trazê-la consigo é transformar o próprio
corpo em um outdoor, fazendo com que a marca seja apresentada aos mais
variados públicos.
Quando falamos em futuro, é considerável expor a opinião dos entrevistados
de que todo o universo, tanto das marcas dos tatuadores em si, como as próprias
tatuagens em um contexto geral, tem muito a crescer e se desenvolver. Foi
destacado pelos respondentes que a mídia possui um papel muito importante sobre
essa revolução no ramo da tatuagem, pois o assunto saiu de uma antiga zona
cinzenta e passou a estampar programas de televisão e figuras importantes, como
jogadores de futebol e cantores. Essa exibição permite que os tatuadores possam
expor sua marca de maneira mais efetiva e traz para o público em geral uma visão
menos criminalizada.
Acredita-se que a presente monografia atingiu o seu objetivo geral de identificar
se as pessoas cultuadoras das tatuagens, assim como os próprios tatuadores,
enxergam a figura do profissional da tatuagem como uma marca. Em uma visão
estabelecida pelos próprios entrevistados, foi possível reconhecer que essa
identificação se deve, principalmente, pela relação emocional existente entre
tatuadores e tatuados. Esse pensamento foi o complemento de informações obtidas
a partir da bibliográfica, que embasou esse estudo.
Avaliando toda a pesquisa realizada, que teve como resultado esta monografia,
é possível perceber a manifestação de uma contribuição da temática para o campo
da publicidade e propaganda, assim como para a tatuagem, pois apresenta
66
pensamentos que são relevantes para ambas as áreas. Isso se dá porque, através
desse estudo, tatuadores poderão aprimorar as suas ferramentas de comunicação,
proporcionando a agências e empresas do setor um novo mercado que pode ser
explorado. Por fim, procurou-se investigar as características de duas áreas que,
aparentemente, são distintas e sem relação, mas que possuem muito em comum.
Se ambas trabalharem em conjunto, podem gerar resultados muito positivos e até
mesmo novas oportunidades mercadológicas, como a exposição de um mercado
que está em ascensão e que tende a trazer muito lucro para aqueles que estiverem
atentos a essa nova posição do mercado. Considerando que essa pesquisa foi
realizada com uma amostra pequena de entrevistados, deixa-se a proposta de
seguir futuramente o estudo e continuar o desdobramento de seu processo, para
aprofundar a relação entre esses dois aspectos.
A autora considera ter alcançado o objetivo inicial e espera ter contribuído para
o meio acadêmico com este trabalho que possui uma tentativa de ampliar o
conhecimento sobre essas duas áreas. Desde o início deste estudo, com os
conceitos e históricos sobre as marcas e as tatuagens, sendo complementados
pelas entrevistas em profundidade realizadas, muitas visões importantes foram
reveladas, trazendo à pesquisadora informações necessárias sobre a temática, a
capacitando para estabelecer um entendimento sobre o tema proposto. Todas as
etapas do trabalho foram de suma importância para a autora, como praticante da
tatuagem desde os seus 14 anos de idade, tendo no presente momento 13
desenhos no seu corpo e, também, como estudante de comunicação social no curso
de publicidade e propaganda. Essa pesquisa resulta em uma importante e
expressiva oportunidade de estudo de dois temas tão significativos em sua vida,
tanto no quesito acadêmico, como no pessoal, resultando em mais uma linha escrita
com paixão e arte.
67
REFERÊNCIAS
AAKER, David A.. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 2001. 745 p.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999.
200p.
GREWAL, Dhruv. LEVY, Michael. Marketing. 2. ed. Porto Alegre : AMGH, 2012. 432
p.
KEMP, Kênia. Corpo modificado, corpo livre? São Paulo: Paulus, 2005. 98 p.
NEUMEIER, Martin. The brand gap: o abismo da marca. Porto Alegre: Bookman,
2008, 208 p.
PAIS, José Machado e BLASS, Leila Maria da Silva. Tribos Urbanas: produção
artística e identidades. São Paulo: Annablume, 2007. 233 p.
69
PAVAN, Maria Angela e SILVA, Josimey Costa da. O corpo como um outdoor:
produto da cultura de massas na pele. [2012?]. Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/7o-encontro-2009-Ω/O%20CORPO
%20COMO%20UM%20OUTDOOR.pdf>. Acesso em: 19 out 2014.
Por aí, na Inglaterra, Punks tatuados dos anos 1970. Disponível em:
<http://porainainglaterra.blogspot.com.br/2014/01/no-tunel-do-tempo-do-metro-
londrino.html>. Acesso em 08 set 2014.
mais alternativa, é mais não sei o que”. Eu não vejo o estereótipo de uma pessoa
tatuada, qualquer um pode ter ou pode ser tatuado também.
- Quando falamos em tatuador, o que vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Confiança. Confio de olhos fechados nele.
- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Sim, acho que sim. Tem vários tatuadores bem conhecidos assim, que tem gente
até que consegue, eu não conseguiria diferenciar, mas tem gente que vê uma
tatuagem e tu sabe que é do Heráclito, porque o traço dele já é uma marca
registrada, não deixa de ser uma marca do tatuador.
- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Talvez, talvez sim. Até o meu tatuador, no início, eu vejo que ele mudou o traço dele
desde que eu comecei. Não sei se é pelas minhas tatuagens terem sido bem
diferentes uma da outra, ou porque o estilo dele acabou mudando. Talvez até, acho
que mais por parte do desenho mesmo.
passageira como tatuagem de henna. São coisas que marcaram a minha vida e que
eu não mudaria de opinião daqui alguns anos. Acho que, cada vez mais, está todo
mundo se tatuando mais. Tem gente que faz a primeira tatuagem já velha, vovózona
assim. Espero também que deixe de existir o preconceito com as pessoas que tem
tatuagem, acho que tem só a crescer, cada vez mais.
76
- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Sim, o Carlos! Que fez a minha tatuagem. E ele vai ser o meu próximo também, na
próxima que em breve virá.
- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Acho que sim, acho que se o cara for muito foda sim. Os estúdios já são uma marca,
tem lá o Verani, o Heráclito, o Vertigem, mas o estúdio do Heráclito é porque o
Heráclito é muito foda, é muito bom, e conseguiu dar o nome dele para o estúdio.
Quando o profissional é muito competente, as pessoas procuram por ele e não pelo
78
estúdio. Esse foi o caso do Carlos, que saiu do Mantra e conseguiu criar sua marca
própria. Isso é um baita passo, porque significa que ele já transcendeu a principal
etapa.
- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Sim, com certeza. O portfólio dele é a pele das pessoas.
- O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?
Representa uma escolha, uma escolha minha que eu vou levar para o resto da
minha vida. Está no meu corpo aquela escolha.
- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Acho que agora tem essa coisa de “ah, todo mundo tem tatuagem, eu não tenho, eu
sou diferente”. Mas não acho que chega a ser uma moda não ser tatuado, é mais
uma birra das pessoas mesmo.
79
- Em caso de mais de uma tatuagem, costuma fazer todas com o mesmo tatuador?
Por quê?
Sim, por acreditar no trabalho, saber que é um trabalho bom e lealdade. Lealdade a
uma pessoa que faz em mim uma coisa que vai ser permanente, com dedicação e
profissionalismo, uma coisa bem feita. Acho que tatuador nunca pode ser traído.
Namorado sim, tatuador não.
- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Verani, porque ele é um mito na tatuagem. Aqui na cidade, no Estado, acredito que
Região Sul e talvez até mais do que isso.
- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Acredito que sim, eu acho que pode pela dedicação que ele dá ao trabalho que ele
faz, a divulgação desse trabalho, como ela é feita. Se for um trabalho bem feito
nesse sentido pode sim associar muito o tatuador a uma marca, como é feito com o
Verani, por exemplo.
- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Algumas sim, a maioria. Claro, o tatuador é um profissional, chega lá uma pessoa e
quer tatuar ele vai fazer e não pode simplesmente fazer só o que transmite ele, a
personalidade dele. Muitas vezes sim. Deve ter algumas que é 100% o gosto da
pessoa, o que ela quer, mas na maioria dos casos transmite muito o que tatuador
quer, o que ele é. Por que tem uma sequência, a partir do momento que tu gosta de
tatuagens, tu consegue identificar traços, cores, o modo que aquele profissional
trabalha e acho que dá pra identificar sim.
- O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?
Orgulho, eu gosto. Eu acho muito legal mostrar e dizer “olha, essa aqui foi o Carlos
que fez. Eu fiz em tal época, por tal motivo, queria fazer tal coisa e ele me sugeriu
fazer assim e assado”. Até porque, querendo ou não querendo, quando tu faz muitas
tatuagens e faz muitas com a mesma pessoa, tu acaba criando um vínculo de
82
amizade. E eu acho isso super importante, super bonito, tu mostrar uma arte. Eu me
sinto muito orgulhosa em dizer foi tal pessoa que fez. Isso é importante pra mim, eu
poder mostrar, através do meu corpo, toda a capacidade que aquela pessoa tem. É
como se eu fizesse parte de um grupo seleto de pessoas.
- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Eu acho que não. Talvez, claro, que vá existir essas pessoas que acompanham
somente a moda, provavelmente façam uma tatuagem hoje e daqui há 10 anos vão
estar profundamente arrependidos. Mas aqueles que, talvez seja meio forte usar
esse termo, os adoradores de tatuagem, eles não estão nem aí para a moda, eles
fazem aquilo porque é uma coisa que eles acreditam, que eles gostam, que tem um
sentido para eles fazer aquilo ali, não tem nada a ver com moda.
83
C. R, 28 anos e tatuador.
- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Regional, no Rio Grande do Sul, o Verani. Mundial, são muitos, é muito foda. Mas
mundial, para mim, uma grande referência que eu tive é o Joe Capobianco. Ele
trabalha muito com cartunismo e o cara é muito foda. No Brasil eu fico com o meu
amigo Abel Rodrigues, que para mim é um artista completo. O cara faz desde
escultura a gesso a esculturas de plástico, ele é o verdadeiro artista. Do zero ao
limite assim. Tem muita gente, se eu for te falar, te falo um livro porque vai um pra
cada estilo. Por que, querendo ou não, a tatuagem se ramifica em vários estilos.
Tem o cara que tem o seu próprio estilo, tem o que melhora um estilo que já existe e
se sobressai. Tem o estilo em preto e branco, o colorido, o comics. É muito difícil. Se
for por estilo, tem um para cada, sempre. Mas generalizando é o Joe Capobianco.
- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Se ele tiver boa vontade ele se transforma numa marca, o ser, pessoa se transforma
nessa merca.
- Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
Tanto na parte de aplicação, de posição, as tatuagens identificam e se tornam uma
marca. É o que eu quero fazer para a Don Carlitos, é o que o Verani fez para ele.
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- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Acredito que sim. Está tendo essa evolução, isso eu noto aqui na minha loja. Então
por mais que o cara tenha a ideia da moda, a ideia de ser modista porque viu um
amigo com a mesma tatuagem ele está com vontade de ter a ideia dele e também
acho que depende muito do profissional estimular a vontade dele. Eu sempre
procuro falar “cara, para que fazer algo igual se a gente pode fazer diferente, coloca
a sua ideia e a sua vontade real”. Não é porque viu um surfista que tinha uma carpa,
que tu é um surfista e curte carpa que tem que fazer exatamente a mesma coisa.
Acho que a evolução está ajudando até nisso. Acho que vão ter pessoas que não
vão copiar e acho que vão ter pessoas que acabarão com essa grande onda da
tatuagem. Acho que na próxima geração vai ter uma galera que vai curtir não ter
tatuagem, vai ser um outro nível assim, vai ter seus altos e baixos. Em relação a
ideia, acho que ninguém vai querer copiar mais de ninguém, todo mundo vai querer
colocar a sua própria essência.
maior, com mais profissionais trabalhando comigo. De dois em dois anos eu quero
mostrar a evolução dela e eu luto para isso. Eu vejo o futuro, sem abandonar meus
clientes e minha essência, porque o principal é manter o seu carisma, a sua
essência e a sua humildade, isso eu quero manter sempre. Mas a loja eu quero ver
bombar, me fazendo muito feliz, mais do que eu já sou.
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- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Sailor Jerry, que é o cara que criou o Old School. Ele tem uma história bem legal.
Old School é um tipo de tatuagem bem difícil assim de fazer, e ele foi o precursor, o
pioneiro. É o primeiro nome que me vem.
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- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Acho que na maioria dos casos sim, porque a ferramenta que faz isso não é o
estúdio dele, não são as máquinas dele, é o próprio tatuador.
ao ponto de pensar que poderia virar algo mais sério e que, muito menos, viraria
algo desse tamanho.
aqui, decalcava, desenhava, sombreava e era isso. Hoje em dia a pessoa vem com
uma história de tattoo. Ainda, boa parte das tatuagens são feitas para fins estéticos,
mas mesmo assim, mesmo para esse fim quer ter algo exclusivo. Existem vários
tipos de pessoas e isso não tem como dizer. Isso seria uma coisa muito boa para
estudar, sobre psicologia. Deveria ter um estudo disso nos estúdios porque, não só
nos clientes como nos próprios tatuadores, varia muito de pessoa para pessoa.
trabalhos, porque hoje existe uma coisa que não tinha em outra época, que é a
internet e as redes sociais, isso alavancou de uma maneira que, qualquer um que
tenha um trabalho bom, se sobressai. Então a maioria dos tatuadores que tem um
trabalho de nível superior fica a maior parte do tempo cobrindo ou refazendo essas
tatuagens mal feitas e tentando ajudar essas pessoas que se tatuaram com pessoas
que não tinham aptidão pra isso. É uma coisa que tem em qualquer profissão, mas
nesse ramo é mais evidente. Ninguém quer ficar com uma tatuagem mal feita, e tem
certas coisas que não tem como melhorar. São peles que ficam com manchas para
o resto da vida. Tatuagem seria mais qualidade do que preço, mas tem gente que
primeiro vai no mais barato, que sai ganhando em cima e que, se mesmo assim não
ficar bom, vai lá e faz de novo e ainda continua no “lucro”. É uma coisa que é normal
do povo.
- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Na época que eu comecei, tinha o tatuador Mauricio. Não só no Brasil, mas ele
inspirava gente no mundo inteiro, na época que tatuagem era uma coisa difícil de
conseguir material, era difícil de conseguir acesso a outras mídias, e eu tinha um
certo contato com ele, que é o Mauricio Teodoro, de São Paulo. Hoje em dia tem
muita gente que o cara se inspira, não só como artista, mas como pessoa, o
Mauricio foi o cara que mudou a cara da tatuagem no Brasil. Acho que hoje ele é
muito respeitado por isso, mesmo que não esteja mais em mídia e não se exponha
tanto, ele é conhecido por ensinar muita gente. Atualmente se tu vai para fora do
país, o Brasil é reconhecido e bem quisto no meio da tattoo. Mesmo as pessoas que
não conhecem ele pessoalmente, perguntam se conhecem ou não, porque ele é
muito bem visto lá fora.
- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Acho que sim, hoje sim. Tudo depende de como tu vai trabalhar isso. Tu lida com
pessoas o dia inteiro, tu atende uma média de três a quatro pessoas por dia, tu fica
conversando com essas pessoas. Sailor Jerry era um tatuador da década de 1920, e
inspirou muita gente a ter até sua própria marca de roupa. Lá fora isso é bem
comum, aqui no Brasil é meio que tipo, controverso, porque a gente gosta muito do
que é fabricado lá fora e não dá valor pra gente mesmo, mas tem muito tatuador
aqui que teria condição de fazer isso. Acho que é só questão de tempo, de começar
97
a rolar mais isso. Hoje em dia se vê muito mais gente com roupas de desenhos de
tatuagem e antigamente não se via isso. Tu vai para uma convenção e consegue
comprar muitas camisetas legais de marcas de tatuador, lá tem várias marcas que
são baseadas nisso. E claro, não só digamos eles ocupam a mídia com nome de
tatuadores famosos, mas eles também oferecem produtos de marcas para
tatuadores reconhecidos. É uma mídia. Aqui no Brasil existem muitos tatuadores,
mas a maior base de tudo ainda é os Estados Unidos. O Brasil deve estar em
terceiro lugar.
- Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
Não digo que fazem parte da minha marca, mas eles fazem parte de mim. A
tendência de tu ver um trabalho teu é tu reconhecer ele, não que isso seja uma
regra, mas é uma coisa tua que está rolando. É como se fosse uma pintura tua que
tu vai ver daqui há 10, 15 anos. A tatuagem é tanto do tatuado quanto do tatuador,
eu posso dizer que eu tenho mais tatuagem que os outros, só que não está em mim.
que a pessoa vai usar na pele é diferente do piercing que outro vai estar usando o
mesmo. Tatuagem é sempre novidade, a gente está sempre indo em conveções e
vendo coisas novas. Tatuagem tem uma coisa de evolução, até nas competições,
que toda hora muda uma regra aqui ou ali, ou começa a surgir um estilo novo. É um
leque de escolhas que as pessoas podem fazer, então é muito mais complexo do
que, propriamente, um piercing. Eu acho que vai ser muito duradouro o esquema, ou
com o tempo, vão surgindo profissionais melhores no mercado, ocorreu isso. Numa
revista internacional de tatuagem tu vê que a nossa mente foi abrindo, a gente
começou a ver arte em vários estilos, gostando deles ou não, como o Old, o oriental,
New School, existe muita ramificação nisso aí. E cada vez vai surgindo mais coisas
novas, o pessoal mais novo vai sempre criar novidades então acho que vai ser
bastante duradouro. Além, é claro, de cada vez mais gente fechando o corpo. Na
época que eu comecei, tatuagens pequenas era o que o pessoal fazia. Por isso que
começam a cobrir esses trabalhos, porque jogadores de futebol, atores e cantores
começaram a fazer tatuagens grandes. Isso facilita o nosso trabalho, porque quando
tu faz uma linha e a linha é muito pequena, a tatuagem escorre. Então ela vai durar
um ano, dois anos e, em 15 anos, a gente percebe que se perdia essas tatuagens.
Fazer coisas maiores é uma tendência de durar muito mais, e é também uma
evolução, porque a gente não sabia o que ocorreria com a tatuagem 20 anos depois,
hoje a gente já sabe e passa isso para o nosso cliente. E a tendência de alguém que
tem uma parte do corpo fechada é sempre fechar outra também. Se uma pessoa faz
uma tatuagem e ela já não gosta, dificilmente vai fazer uma segunda tatuagem. A
gente ocupa basicamente o nosso tempo fazendo fechamento, dificilmente é uma
tatuagem pequena.
- Ao longo dos teus 26 anos como profissional, qual foi a mudança no segmento ou
o fato que mais te marcou?
Não é nem questão de marcar, mas a gente notou uma nítida diferença quando
surgiram as primeiras revistas de tatuagens e teve uma revolução na tatuagem na
década de 2000, que teve uma procura muito maior do que a oferta. Era muita gente
querendo se tatuar e pouco tatuador e, a partir disso, muita gente entrou no mercado
e virou tatuador. Nessa época também apareceram as mídias sociais, várias
plataformas que podia se divulgar e se alastrou. Antigamente tinham sete tatuadores
em Porto Alegre com 2 milhões de habitantes e um que outro no interior do estado.
Hoje em dia, se a cidade tiver 2 mil habitantes, vai ter um que é tatuador. Então
todas as cidades do país tem tatuadores, com certeza, inclusive no Nordeste. Tatuei
uma menina de Alagoas, que morava no interior e na cidade dela tinham três
tatuadores. Tu vai encontrar tatuador em todos os níveis, altos e baixos, em
qualquer lugar.