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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

LOUISE PINHEIRO

A TATUAGEM E A MARCA: O DIÁRIO DE UMA PAIXÃO ENTRE TATUADORES


E TATUADOS

Porto Alegre
2014
1

LOUISE PINHEIRO

A TATUAGEM E A MARCA: O DIÁRIO DE UMA PAIXÃO ENTRE TATUADORES


E TATUADOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculdade de
Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, como requisito parcial para obtenção
do grau em Bacharel em Comunicação
Social, com habilitação em Publicidade e
Propaganda.

ORIENTADOR:
Prof. Me. TICIANO RICARDO PALUDO

Porto Alegre
2014
2

LOUISE PINHEIRO

A TATUAGEM E A MARCA: O DIÁRIO DE UMA PAIXÃO ENTRE TATUADORES


E TATUADOS

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculdade de
Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, como requisito parcial para obtenção
do grau em Bacharel em Comunicação
Social, com habilitação em Publicidade e
Propaganda.

Aprovada em: ___de_____________________de __________.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________

Dra. Paula Regina Puhl

_____________________________________________

Dr. Roberto Tietzmann

_____________________________________________

Orientador: Prof. Me. Ticiano Paludo

Porto Alegre
2014
3

AGRADECIMENTOS

Cada corpo tatuado traz em sua pele um diário cheio de histórias. E nenhuma
história se escreve individualmente. Esta monografia é resultado de uma coletânea
repleta de participações importantíssimas, de pessoas que colaboraram durante
todo o seu processo de construção e merecem meu agradecimento mais sincero.
A minha mãe, Susana, pelo seu amor incondicional e companheirismo
incansável. Tudo em minha vida só aconteceu porque tenho ao meu lado um
exemplo de mulher, uma excelente amiga e minha maior referência. É sempre por ti
e para ti tudo que faço.
A minha avó, Jurema, que desde meu nascimento abriu mão do que fosse
necessário para meu bem-estar e que, mesmo não estando mais presente, é e
sempre será uma das minhas maiores motivações por sua força e bravura.
Aos meus irmãos de vida, Luã, Marcelo e Vinicius, por serem meu porto
seguro, com abraços apertados, sorrisos sinceros e uma lealdade indescritível.
As minhas companheiras famequianas, Cindy, Daniela e Rafaela, que
compartilham do mesmo amor pela publicidade que eu e me proporcionaram
momentos incríveis dentro e fora da sala de aula.
A todos meus amigos, em especial Joana, Nicole, Paola, Renata e Ricardo,
por sua compreensão e apoio incansável, não só neste momento, mas em todos os
outros da minha vida.
Ao meu orientador, Ticiano, por ter acreditado em mim e se dedicado
intensamente na construção desse projeto. Seu conhecimento, paciência e incentivo
foram de extrema importância para dar vida a cada frase desta monografia.
Ao meu tatuador, Carlos, por toda a sua cumplicidade ao abrir as portas do
seu estúdio, me auxiliar e fazer verdadeiras obras de arte na minha pele.
Aos colegas da Duplo, por sua compreensão e apoio nesses meses tão
intensos. Aos professores que me ajudaram a trilhar cada passo da minha vida
acadêmica, aos entrevistados que contribuíram com este projeto e se dispuseram a
colaborar com a pesquisa e a todos aqueles que, de alguma forma, participaram e
oportunizaram a realização desse sonho.
4

“Quero ficar no teu corpo


Feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem”
Chico Buarque
5

RESUMO

A presente monografia consiste em um estudo sobre tatuagem e marca que


procurou como resultado identificar a existência da relação entre esses dois
assuntos distintos, mas que estão interligados, utilizando a profissão do tatuador e o
conceito de marca definido por Neumeier (2008), como ponto de partida para
análise. Diante disso, foi traçado o problema de pesquisa: “A imagem do tatuador
pode ser considerada uma marca?” A metodologia utilizada abrange a pesquisa
bibliográfica e documental, onde foi possível obter informações sobre a evolução e o
cenário atual das tatuagens e das marcas, suas primeiras manifestações, assim
como conceitos, definições e importância perante os mais diversos cenários
culturais. Esse estudo se complementa com a realização de uma pesquisa de
campo qualitativa, desenvolvida a partir de uma amostra de respondentes baseada
em pessoas que possuem tatuagens e são adoradoras da prática, além daqueles
que a tem como profissão. Dessa forma, foi possível estabelecer conexões entre o
referencial teórico e a pesquisa de campo, obtendo como resultado a confirmação
de que a imagem do tatuador pode ser considerada uma marca.

Palavras-chave: Marca. Tatuagem. Publicidade. Comunicação. Body art.


6

ABSTRACT

This monograph consists of a study of tattoo marks and as a result we sought


to identify the existence of the relationship between these two issues, but they are
interconnected using a professional tattoo artist and the brand concept defined by
Neumeier (2008), as a point of departure for analysis. Therefore, the problem was
traced to research: "The image of the tattoo can be considered a brand?" The
methodology covers the bibliographic and documentary research, where possible
information on the evolution and the current landscape of tattoos and brands, its
earliest manifestations, as well as concepts, definitions and importance towards the
diverse cultural settings. This study is complemented by conducting a qualitative field
research, developed from a sample of respondents based on people who have
tattoos and are worshipers of practice, beyond those that have as a profession. Thus,
it was possible to establish connections between the theoretical and field research,
obtaining confirmation that the image of the tattoo can be considered a brand.

Keywords: Brand. Tattoo. Advertising. Communication. Body art.


7

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – TATUAGENS DOS ÍNDIOS KADIWÉUS .............................................. 17


FIGURA 2 – CHEFE MAORI, INÍCIO DO SÉCULO XX ........................................... 24
8

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – AS TATUAGENS OLD SCHOOL E SEUS SIGNIFICADOS ............... 26


QUADRO 2 – PERFIL DAS TATUADAS ................................................................... 48
QUADRO 3 – PERFIL DOS TATUADORES ............................................................. 49
QUADRO 4 – O INÍCIO DA TATUAGEM NA VIDA DE CADA UM .......................... 50
QUADRO 5 – A PROFISSÃO DO TATUADOR VISTA PELOS TATUADOS ............ 50
QUADRO 6 – O TATUADOR E A SUA VISÃO SOBRE A PROFISSÃO ................. 51
QUADRO 7 – AS CARACTERÍSTICAS SOCIAIS DE UMA PESSOA TATUADA .... 51
QUADRO 8 – FALANDO SOBRE MARCA COM TATUADOS.................................. 51
QUADRO 9 – FALANDO SOBRE MARCA COM TATUADORES............................. 52
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

2 PRIMEIRA SESSÃO: UMA PRÁTICA MILENAR CADA VEZ MAIS MODERNA 15


2.1 O SURGIMENTO DAS TATUAGENS E SUA HISTÓRIA .................................... 15
2.2 CAPITÃO COOK E A ORIGEM DO TERMO TATTOOW ................................... 22
2.3 DO MAORI AO OLD SCHOOL: SIGNIFICADO DOS PRINCIPAIS SÍMBOLOS 23
2.4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E SUA RELAÇÃO COM AS TATUAGENS .......... 27

3 SEGUNDA SESSÃO: AS INFINITAS POSSIBILIDADES DAS MARCAS ........... 31


3.1 MARCANDO A HISTÓRIA .................................................................................. 31
3.2 UMA MARCA, INÚMERAS VISÕES .................................................................. 35
3.3 O ENCONTRO DA PROPAGANDA COM A HISTÓRIA .................................... 40
3.4 TRADUZINDO CRIATIVIDADE E EMOÇÃO ...................................................... 42
3.5 A PUBLICIDADE NO BRASIL: UM CASE DE SUCESSO ................................. 43

4 TERCEIRA SESSÃO: EXPLORANDO PERCEPÇÕES ....................................... 46


4.1 METODOLOGIA DE CAMPO ............................................................................. 46
4.2 A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS TATUAGENS ....................................... 47
4.3 DESCOBRINDO PONTOS DE VISTA ............................................................... 49
4.4 ANALISANDO PERCEPÇÕES .......................................................................... 52
4.4.1 O início da tatuagem na vida de cada um ........................................................ 52
4.4.2 A profissão do tatuador .................................................................................. 54
4.4.3 As características sociais de uma pessoa tatuada .......................................... 56
4.4.4 Falando sobre marca ...................................................................................... 58
4.5 CRUZAMENTO .................................................................................................. 59

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 63

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM PESSOAS TATUADAS ........ 70

APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM TATUADORES ..................... 71

APÊNDICE C – ENTREVISTA R.F. .......................................................................... 72

APÊNDICE D – ENTREVISTA C.S. .......................................................................... 76

APÊNDICE E – ENTREVISTA S.P. .......................................................................... 79


10

APÊNDICE F – ENTREVISTA C.R. .......................................................................... 83

APÊNDICE G – ENTREVISTA R.D. ......................................................................... 89

APÊNDICE H – ENTREVISTA V.F. ......................................................................... 93


11

1 INTRODUÇÃO

A iniciativa para este estudo se origina na transformação de todo o contexto


das tatuagens, fato que trouxe consigo evolução, técnicas artísticas, a conquista de
um grande número de praticantes e a possibilidade de manifestar essa prática em
diferentes esferas. Todo esse desenvolvimento é acompanhado de novas
perspectivas, quebra de paradigmas e, até mesmo, oportunidades mercadológicas.
Associar a figura do tatuador ao conceito de marca é um pensamento que merece
atenção e tem impulsionado o reconhecimento da profissão em si.
O universo das tatuagens desperta interesse por ser algo tão tradicional e ao
mesmo tempo irreverente. É uma prática milenar que se modernizou com o passar
das gerações e foi trazendo consigo novas tendências, cores, traços, estilos e
descobertas. Conforme aponta Kemp (2005), as tatuagens são as primeiras formas
de modificações corporais encontradas por nossos ancestrais e estabelecer uma
data específica para o início desse universo é difícil. Para termos uma definição mais
objetiva acerca do tema, Pais e Blass (2004) determinam que tatuagens são um
conjunto de práticas ornamentais do corpo, que marcam uma superfície específica
através de perfurações e introdução de tinta na pele.
Assim como as tatuagens, as marcas também possuem um histórico
igualmente antigo e passaram por uma grande evolução até chegar ao seu patamar
atual. Não é possível determinar uma única definição para marca, tendo em vista
que diversos autores e estudiosos discutem a respeito do tema. Para Sampaio
(2003), as marcas podem ser definidas como uma síntese de valor criada pelos
consumidores a partir de suas vivências com os produtos, serviços, empresas e, até
mesmo, pessoas que representem a imagem de uma marca.
O contexto das marcas foi trabalhado a partir da visão de diversos autores,
assim como o desenvolvimento de sua história até chegar na construção do cenário
atual. Alguns aspectos levam a compreensão de marca para o âmbito
predominantemente emocional, que prioriza comportamentos e experiências,
permitindo ao consumidor uma visão individual e subjetiva do tema. Neumeier
(2008) sugere que as marcas podem ser entendidas como um sentimento visceral,
uma percepção íntima que, sobretudo, é construída a partir de pessoas que
representam algo muito maior do que as próprias empresas ou os seus produtos.
Este será o conceito de marca adotado neste estudo.
12

Portanto, esta monografia traz como seu tema “A tatuagem e a marca: o


diário de uma paixão entre tatuadores e tatuados”, que transita sobre aspectos
relevantes entre os dois assuntos principais, a tatuagem e a marca, estabelecendo
vínculos conceituais e permitindo que sejam traçadas relações mercadológicas entre
as áreas que serão estudadas. A partir disso, o presente trabalho tem, também,
como objetivo, aproximar o universo da tatuagem e o da comunicação, com foco na
publicidade e propaganda.
Para cumprir com o objetivo desse trabalho, foram selecionados autores que
abordam questões referentes aos assuntos marca e tatuagem, proporcionando um
embasamento teórico que tem como problema de pesquisa: “A imagem do tatuador
pode ser considerada uma marca?” visando obter respostas com base em uma
amostra selecionada a partir de dois critérios, que são: um grupo de entrevistados
que possuem tatuagens e outro grupo que tem as tatuagens como profissão, ou
seja, os tatuadores. É a partir desse problema de pesquisa que se estabelece a
aplicação das entrevistas, buscando identificar uma relação entre marca e o tatuador
e em que nível ela acontece. Complementando esse propósito, também será
trabalhado o contexto no qual estão inseridas as marcas as e tatuagens, buscando
identificar seus históricos, além de agregar visões específicas sobre ambas as
áreas.
A metodologia aplicada nesta monografia é de caráter qualitativo, pois
segundo Aaker (2011), existem percepções, sentimentos e comportamentos que só
podem ser conhecidos a partir do levantamento desses dados. A técnica qualitativa
utilizada é a de entrevista em profundidade, definida por Malhotra (2011), como uma
entrevista pessoal, realizada a partir de uma conversa levemente estruturada, na
qual o respondente é estimulado pelo entrevistador a revelar seus sentimentos e
opiniões sobre determinado tema. Também foi realizada uma pesquisa bibliográfica,
definida por Lakatos (2002) como a coleta de todos os tipos de publicações, como
livros, revistas e pesquisas, que tem como objetivo oferecer meios para investigar
problemas já conhecidos e explorar novas áreas. Além disso, a pesquisa
documental, apontada por Lakatos (2002), como a coleta de dados de fontes
primárias, serviu para completar as informações que foram levantadas sobre os
temas tatuagem, marca e seus contextos. Concluindo a etapa de pesquisa, foi
13

possível estabelecer relações entre o referencial teórico, o documental e a pesquisa


de campo.
A presente pesquisa foi divida em três capítulos. O primeiro deles, realizado a
partir de uma pesquisa bibliográfica e documental, apresenta um recorte no contexto
histórico sobre a evolução das tatuagens, desde o seu primeiro vestígio registrado,
transcendendo para a criação do termo “tattow”, o batismo e o porquê desse nome,
passando pela sua trajetória nas mais diversas culturas e sua relação com os
movimentos sociais do último século. São abordados pelos autores Araujo (2009),
Breton (2004), Caruchet (1995), Ferreira (2004), Kemp (2005), Maffesoli (2000), Pais
e Blass (2004) e Puelles (1998) inúmeros pontos que marcaram o desenvolvimento
das tatuagens, os personagens que foram de suma importância para a evolução da
sua história e os precursores dessa técnica que tornou possível a sua disseminação
ao redor do mundo. Além disso, revelou-se as formas e circunstâncias em que as
tatuagens eram utilizadas como castigo nas mais variadas culturas, como na Grécia
Antiga, na Igreja do Século XVIII e na Primeira Guerra Mundial, sendo concluído
pelo atual processo de descriminalização dessa prática e da própria profissão do
tatuador.
O segundo capítulo tem como pilar central estudos referentes à marca, com
um levantamento de dados realizados a partir de uma pesquisa bibliográfica que tem
por objetivo estabelecer e contextualizar a história das marcas. Para que isso seja
possível, foi traçada uma linha do tempo desde a Idade da Pedra, passando por
períodos da Antiguidade, Idade Média e Renascença, até chegar no patamar atual.
Para entender a relevância do tema, foram estabelecidos alguns conceitos principais
apresentados por Bender (2007), Gobé (2007), Neumeier (2008), Perez (2004),
Randazzo (1996) e Sampaio (2004). A partir das leituras, foi apresentada
contextualização histórica da propaganda no Brasil e no mundo.
O momento exploratório é contemplado no terceiro capítulo, onde são
apresentadas as técnicas e procedimentos metodológicos da pesquisa de campo.
Isso oportunizou que as informações coletadas fossem sintetizadas, tendo como
ponto principal as percepções e os aspectos abordados pelos respondentes. As
análises desses sentimentos e compreensões foram construídas a partir de uma
relação entre o conteúdo teórico levantado anteriormente e as descobertas feitas a
partir das entrevistas em profundidade, realizadas com o grupo amostral.
14

As paixões pela singularidade e pela excentricidade permitem aos tatuados a


criação de um livro vivo e exclusivo, onde cada parte do corpo apresenta uma
história diferente. E única. A autora acredita na validade deste estudo por tratar de
um tema pouco explorado pelo ramo da publicidade e propaganda, que pode
contribuir para o meio acadêmico da Comunicação Social, assim como para aqueles
que enxergam as tatuagens como profissão. Deve-se considerar que esta pesquisa
é, além de um estudo sobre a relação das marcas e das tatuagens, o esclarecimento
e a divulgação do ponto de vista daqueles que possuem uma forte relação,
fundamentalmente emocional, com essa prática. Por fim, vale salientar que esse
trabalho pode interessar aos membros do mercado publicitário, das tatuagens e
seus admiradores.
15

2 PRIMEIRA SESSÃO1: UMA PRÁTICA MILENAR CADA VEZ MAIS MODERNA

O universo das tatuagens, ponto de partida para a concepção desta


monografia e centro deste primeiro capítulo, será contextualizado historicamente
através de um estudo bibliográfico. A abordagem da evolução das tatuagens,
através da curadoria de grandes estudiosos, é primordial para a compreensão de
como essas pinturas corporais foram apropriadas pela sociedade, tomando conta do
cenário urbano e colorindo as ruas de todo o mundo. Esse capítulo é sustentado por
alguns autores que dissertam sobre o tema e apresentam pontos pertinentes. São
eles: ARAUJO (2009), BRETON (2004), CARUCHET (1995), FERREIRA (2004),
KEMP (2005), MAFFESOLI (2000), PAIS e BLASS (2004) e PUELLES (1998).
Esse capítulo foi dividido por subcapítulos, criados por interesses e assuntos
em comum, sendo apresentados da seguinte forma: O surgimento das tatuagens e o
desenvolvimento da sua história (2.1); Capitão Cook e a origem do termo tattoow
(2.2); Do Maori2 ao Old School3: o significado e evolução dos principais símbolos
(2.3) e Os movimentos sociais e sua relação com as tatuagens (2.4).
Tatuagens são ritos de passagem, marcas de bravura, aceitação própria e
cultural. Um desenho na pele representa mais do que uma vontade de aceitar a dor
e suportá-la, é também uma necessidade de abraçá-la ativamente. Assim como as
tatuagens, a vida é dolorosa - incrivelmente bonita, mas dolorosa.

2.1 O SURGIMENTO DAS TATUAGENS E O DESENVOLVIMENTO DE SUA


HISTÓRIA

Em todas as épocas e regiões do mundo, os homens utilizaram o corpo como


linguagem, sendo resultado de uma expressão individual e, em certos casos, até
mesmo coletiva, já que representa valores comuns à sociedade em diferentes
formas. Por meio do corpo e de seus elementos, é possível fazer uma análise de
fatores sociais e históricos (BRETON, 2004).
As primeiras modificações corporais invasivas tomadas como empréstimos

1
A nomenclatura dos capítulos faz alusão ao processo da realização das tatuagens, distribuído em
seções.
2
Povo que utilizava técnicas de tatuagem que realmente cortavam a pele, sendo um dos estilos mais
antigos do mundo.
3
Estilo tradicional de tatuagem, conhecido também como antiga escola ou velha guarda.
16

culturais da nossa sociedade foram as tatuagens. É válido salientar que, quando


falamos em modificações corporais invasivas, nos referimos a fatos que
transformam o nosso corpo de maneira irreversível, como é o caso das
escarificações4 e das tatuagens. Desde os tempos mais primórdios, o homem utiliza
as pinturas no corpo para escrever em sua pele um verdadeiro diário de viagem,
repleto de experiências e conquistas: tatua no braço o nome da pessoa amada,
pendura um brinco para marcar o dia do nascimento, utiliza uma vareta no lábio para
mostrar a sociedade que chegou a adolescência. Os momentos da nossa vida são
passageiros, mas no corpo humano eles são eternizados em pinturas corporais e
passam a durar para sempre, se transformando em um manifesto do estilo de vida
que cada um quer ter.
Com o passar do tempo, a comunicação através do corpo foi sofrendo
modificações de cultura para cultura e de região para região. Porém, continua
desempenhando funções de poder, beleza e identidade. Ao longo de sua evolução,
as tatuagens se transformaram em um objeto de representatividade social e, até
mesmo, de expressão e construção de identidades. Quando nos referimos a
identidades, não estamos falando de um atributo único, e sim de um conjunto de
valores subjetivos. Pode-se afirmar que não temos uma única identidade, mas
múltiplas referências que, combinadas, permitem que possamos atribuir a cada
contexto uma identidade diferente (KEMP, 2005).
Buscando uma definição mais objetiva, é preciso partir do princípio que nos
permite compreender que identidade não é algo que se estende às nossas
características, como forma física, temperamento e habilidades intelectuais. Como
aponta Kemp (2005, p 28), "A identidade é, antes de qualquer coisa, um processo.
Ela é construída e reconstruída constantemente em relação a vários fatores, tais
como influência do meio, história pessoal e condições de escolhas."
Nas sociedades tradicionais, tatuagens, piercings5 e adornos do corpo
funcionam como uma forma de representar identidade. Araujo (2009) afirma que é
possível identificar a origem de um povo e a ordem hierárquica das pessoas dentro
de uma tribo através das tatuagens, que servem também para oferecer proteção e
poder, além de proibir determinados costumes. Isso acontece, principalmente, em
4
Técnica de modificação do corpo que consiste em produzir cicatrizes no corpo através de
instrumentos cortantes.
5
Inscrição de peça de joalheria em determinada parte da superfície do corpo, sendo, em geral, peças
simples como barras ou argolas.
17

casos de tribos indígenas que não utilizam a escrita como ferramenta de


comunicação, e sim as tatuagens, como mostra a Figura 1.

Figura 1 - Tatuagens dos índios Kadiwéus

Fonte: ARAUJO (2009, p. 11)

A tribo Kadiwéus traz na sua história algumas lendas a respeito de como


iniciou o processo de criação e aplicação das tatuagens, estando nos animais sua
principal fonte de inspiração e aprendizado, como aponta Araujo (2009, p. 9):

Os maiores artistas da pintura corporal, os índios Kadiwéus, contam que, no


princípio, a pele dos animais e as plumas dos pássaros eram brancas. Até
que alguns resolveram se banhar num lago onde não desembocava
nenhum rio - e saíram de lá azuis. Outros mergulharam num lago cheio de
sangue derramado por um menino da tribo - e ficaram vermelhos. Têm a cor
da terra os que se revolveram no barro e a da cinza os que buscaram o
calor dos fogões apagados. Verdes os que esfregaram seus corpos nas
folhagens. E brancos os que ficaram quietos.

Os primeiros registros da existência de tatuagens são imprecisos, por se


tratar de uma prática muito antiga. Há indícios que comprovam essa técnica desde a
pré-história, em homens das cavernas que marcavam seus corpos em rituais de
ordem biológica ou social, como o início da adolescência, participação em guerras
ou casamentos. O primeiro homem tatuado que se tem notícia é Ötzi, o "Homem do
Gelo", que viveu há 5.200 anos. Seus vestígios foram encontrados na região dos
18

Alpes, entre a Itália e a Áustria, na qual trazia cinquenta marcas na pele, todas
espalhadas pelas costas e atrás dos joelhos. Outro caso é o da princesa Amunet,
que viveu há 4.000 anos na XI Dinastia do Egito Antigo e portava desenhos com
linhas e pontos no ventre, representando ritos de fertilidade (ARAUJO, 2009)
Desde sua origem, as tatuagens são utilizadas como um meio para comunicar
algo e, em muitos casos, acabaram utilizadas como uma forma de castigo. Na
Grécia Antiga (1.100 a.C - 146 a.C), os escravos que fugiam e eram recapturados
traziam a mensagem "Pare-me, sou um fugitivo" estampada na testa (ARAUJO,
2009).
No Ocidente, as tatuagens eram consideradas um atentado moral à
integridade corporal e foram violentamente combatidas e condenadas pela Igreja,
permanecendo em uma certa obscuridade até o século XVIII. Elas eram
identificadas como marcas de perversidade presente à tradição judaico-cristã, sendo
utilizadas como forma de diferenciar o pagão do crente, o puro do infiel. Só podiam
ser aceitas quando eram consideradas práticas de autoflagelação, sendo
divinamente inspiradas, utilizadas para demonstrar obediência e devoção religiosa
(FERREIRA, 2004).
Foi no final do século XVIII que as marcas corporais, como tatuagens e
brincos, começaram a se popularizar na sociedade europeia, marcando aquele
período histórico. A partir desse momento, condições culturais e sociais foram
criadas para a consolidação dessas práticas. Porém, naquela época, quem portava
uma tatuagem levava consigo uma evidência ou característica corporal de
descrédito perante a sociedade, pois as marcas e acessórios eram relacionadas ao
primitivismo, exotismo e a barbárie da Europa civilizada (FERREIRA, 2004).
A era das máquinas, no final do século XIX, modifica o mundo ocidental em
todos os setores, revolucionando os aparelhos de transporte e produção. E com as
tatuagens não foi diferente, as máquinas se tornam mecanizadas, transformando
todo o contexto da época. Durante milhares de anos as pinturas corporais eram
realizadas com ferramentas manuais, sendo um processo dolorido e demorado,
chegando a levar semanas e, até mesmo, anos para serem finalizadas. A primeira
máquina tecnológica de tatuar, criada por O'Reilly6 em 1891 na cidade de Nova
Iorque modifica esse processo, o tornando mais ágil e popular. A partir de então, as

6
Imigrante irlandês, tatuador e inventor da máquina de tatuar.
19

pinturas corporais podiam ser realizadas em algumas horas e eram muito menos
doloridas, o que fez as lojas de tatuagem surgirem e se espalharem por toda a
América do Norte. Nesse momento, a habilidade do artista não era um item
imprescindível, tendo em vista que os desenhos eram vendidos em qualquer lugar e
podiam ser facilmente copiados (CARUCHET, 1995).
A tatuagem como conhecemos hoje chegou ao Brasil por volta do século XIX,
trazida por marinheiros ingleses e americanos às cidades portuárias. O mesmo
processo acontecia simultaneamente em todo mundo, sendo transmitida como uma
moda entre marinheiros. A palavra tatuagem começa a ser reconhecida oficialmente
pela língua portuguesa no final do século XIX, quando entra para o "Novo Dicionário
da Língua Portuguesa", em 1889 (FERREIRA, 2004).
Até o momento, não existiam tatuadores fixos em território brasileiro, haviam
apenas aqueles que vinham com os navios e ficavam pouco tempo no nosso país. O
primeiro tatuador a fixar raízes e criar seu próprio estúdio no Brasil foi Lucky,
conhecido na época também como Mr. Tattoo, um dinamarquês que aportou no país
em julho de 1959. Lucky foi o único tatuador profissional da América Latina até
meados da década de 1970 (FERREIRA, 2004).
Em meados do século XX, aqueles sujeitos que eram extensivamente
tatuados acabavam sendo expostos em freak-shows7 de eventos como feiras
itinerantes e espetáculos de circo. Ao seu lado, estavam anões, gigantes, mulheres
barbadas e qualquer pessoa com alguma diferença no seu corpo. Essas pessoas
também podiam ser vistas em bairros populares de boemia, marcados pela pobreza
e marginalidade (FERREIRA, 2004).
A associação entre marcas corporais e delinquência acaba por ganhar força
na virada para o século XX, sendo disseminada dessa forma através do discurso
médico e jurídico, além desse pensamento também ser replicado por alguns
criminologistas. Essa manifestação era embasada sobre os indícios físicos de
delinquência, sendo a tatuagem destacada como um fortíssimo sinal de
criminalidade, representando a insensibilidade dos criminosos à dor, como um
homem primitivo e selvagem. Desde então, o que era visto como curiosidade,
aberração e exotismo, passa a ser uma expressão corporal patologicamente
criminal, legitimando de forma jurídica o descrédito social das tatuagens

7
Show de horrores onde se apresentam aberrações.
20

(FERREIRA, 2004).
Entre os ingleses, as tatuagens exerciam o papel de punição. Aqueles que se
recusaram a servir pelo país na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foram
marcados com a letra D, de desertores, no braço. A mesma tática foi apropriada
pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945): uma tatuagem marcava os
judeus nos campos de concentração, além dos próprios soldados da guarda de elite
nazista, que tinham o tipo sanguíneo escrito no braço, facilitando assim um possível
salvamento. Com a derrota de Adolf Hitler (1899 - 1945), essas tatuagens foram de
grande ajuda, pois se tornaram uma das maneiras mais efetivas de identificar e punir
os soldados nazistas (KEMP, 2005).
No início de sua história, as tatuagens eram utilizadas como distintivo de
pequenos grupos, formas de castigo e estavam atreladas a outras significações
sociais. Em meio a isso, aconteceu uma apropriação cultural que se deve,
principalmente, ao fato de que as tatuagens eram um símbolo de exclusão e as
tribos que buscavam formas de discordância e autoafirmação, encontraram nas
pinturas corporais uma maneira de se posicionar contra os valores impostos pela
sociedade (ARAUJO, 2009).
Grupos como as minorias aderiram ao uso dessa técnica como símbolo de
sua condição e, com o passar do tempo, foram invadindo os movimentos jovens e
adquirindo visibilidade e expressão até possuírem uma adesão mais abrangente por
pessoas de todas as idades e estilos. Quando as suas tradicionais vítimas
começaram a incorporar esses símbolos corporais voluntariamente, a prática da
tatuagem adquiriu grande popularidade em todos os contextos, inclusive dentro das
prisões. Em ambientes de reclusão, o que se espera daqueles que estão presos é
de que seus corpos reajam de forma dócil e receptiva ao mecanismo de controle,
vigilância e disciplina. Nesse caso, marcar o corpo através das tatuagens, ou até
mesmo com escarificações, passou a corresponder de um ato de resistência
simbólica (FERREIRA, 2004).
De uma espécie de contracultura, as tatuagens foram sendo trazidas ao
sistema que transformou o seu significado anterior. A imagem de uma pessoa
tatuada sendo diretamente ligada aos operários, reclusos, jovens delinquentes e
outras figuras criminalizadas e marginalizadas surge como um pensamento
desatualizado. As marcas corporais saíram da, até então, penumbra social e
21

deixaram de ser exclusividade de grupos alternativos para serem exibidas por


homens e mulheres das mais variadas classes sociais, tendo sua maior
predominância entre os jovens.
Hoje, elas deixaram de ser apenas ícones de rebeldia e se transformaram em
ferramentas de identidade e, também, acessórios estéticos com grande visibilidade
social, sendo apropriadas pela moda, publicidade e mídia. A incorporação das
marcas corporais por importantes celebridades e grandes marcas funcionou como
um instrumento de aceitação e familiarização social (ARAUJO, 2009).
As tatuagens passaram a ser ferramentas implícitas de comunicação de
massa dessas marcas e dos próprios tatuadores que as criaram transformando,
como consequência, o corpo em um outdoor8 de escolhas subjetivas. Mas, como
salienta a autora (KEMP, 2005, p.81), esse fato não ocorre de maneira forçada:

O capitalismo como sistema autônomo que regula e orienta nossa vida


social não "abusa" do corpo como querem alguns. A linguagem do corpo
para expressarmos uma condição social e, mais ainda, uma condição
histórica de nossas mentalidades existe desde os primórdios da
humanidade. O que o capitalismo faz é transformar o processo de
construção de nossos corpos também em mercadoria.

Essas dinâmicas acabaram por retirar a aura da criminalidade e do exotismo


que rondava simbolicamente as pinturas corporais. Tudo isso sem apagar das
tatuagens todo o seu potencial transgressivo e de diferencial social, agora sendo
aplicado a uma transgressão branda, consentida ou tolerada, alterando a paisagem
das ruas (ARAUJO, 2009).
Em contraponto a esse pensamento, Ferreira (2004), afirma que a utilização
das tatuagens continua a não ser socialmente aceita de maneira pacífica. Mesmo
que exista uma chamada democratização em torno das subculturas, contra-culturas
ou tribos urbanas, o uso do piercing e das tatuagens continua a ser um assunto
polêmico.
Essas intervenções corporais são donas não apenas de uma longa história
que as marginaliza de forma simbólica e social, mas também de características
particulares e recursos estéticos que constroem o visual de um indivíduo de forma
controvérsia, trazendo para aqueles que as utilizam, recorrentes e cotidianas

8
Painel de mídia exterior de grandes dimensões, disposto em locais de grande visibilidade, visando a
divulgação de algo.
22

demonstrações discriminatórias. Mesmo que a publicidade tenha se apropriado das


marcas corporais para associar os seus produtos e apresentar ícones midiáticos
relacionados ao cinema, moda, música e esporte, tentando uma reabilitação coletiva
e simbólica das tatuagens, não estamos falando de uma aceitação completa, sequer
de um fenômeno de massas. Todo esse entusiasmo, visibilidade, interesse ou até
mesmo fascínio social pelas tatuagens está longe de ser uma prática natural.
Embora o estereótipo marginal em torno das marcas corporais tenha sido reduzido,
fascinando um grande grupo de pessoas, a prática ainda repele muita gente
(FERREIRA, 2004).

2.2 CAPITÃO COOK E A ORIGEM DO TERMO TATTOOW

A descoberta e expansão das tatuagens mais próximas do modelo que


conhecemos atualmente está inteiramente ligada às primeiras viagens e explorações
marítimas. Marco Polo9 (1254-1324) trazia nas anotações de suas expedições do
século XIII o colorido das tatuagens vistas no continente asiático, onde hoje se
localiza a Tailândia. Segundo o navegador, lá era comum cobrir todo o corpo com
desenhos de leões, dragões e etc. Já Cristóvão Colombo10 (1451-1506) e Américo
Vespúcio11 (1454-1512) foram os responsáveis por introduzir os relatos de suas
desbravações e a observação da existência da pintura corporal na sociedade
americana. Nas suas anotações, o ponto principal era a modificação nos rostos dos
nativos brasileiros, com incisões e perfurações (CARUCHET, 1995).
O capitão, explorador, navegador e cartógrafo inglês James Cook ingressou
na marinha quando adolescente, em 1755. Alguns anos depois, fez três viagens
para o Pacífico e, em uma delas, aportou no Taiti com seu navio Endeavour, em
abril de 1769. James Cook, quando desembarcou, foi recebido pelos habitantes
locais como Lono, deus da fertilidade e antigo rei que partiu para um país
estrangeiro. Em terra firme, foi o primeiro ocidental a ouvir o termo tattoow (tatau) -
palavra utilizada pelos nativos locais para a arte de pintar o corpo de modo que não
saísse mais da pele (ARAUJO, 2009). Assim foi batizado, pois "tatau" repetia o som

9
Foi um mercador, embaixador e explorador. Ao lado de seu pai, foi um dos primeiros navegantes a
percorrer a Rota da Seda.
10
Navegador e explorador genovês, responsável por liderar a frota que alcançou o continente
americano no final do século XV.
11
Mercador, navegador, geógrafo, cosmógrafo italiano e explorador de oceanos ao serviço do Reino
de Portugal e de Espanha.
23

do cabo de madeira batendo num ancinho de dentes afiados, usado para picar a
pele e introduzir-lhe a tinta aos poucos. Conforme a madeira batia no ancinho, surgia
o som tac tac ta tau.
James Cook continuou suas expedições e, quando chegou às ilhas da
Austrália, ficou intrigado com os broches de osso que atravessavam a cartilagem do
nariz dos nativos: tinham a grossura de um dedo e mais ou menos quinze
centímetros de comprimento. Quase tapavam os buracos do nariz. Cook achou que
a voz dos nativos era fanha por causa deste piercing gigante (ARAUJO, 2009).
Após dez anos de viagens e exploração, o vermelho que antes era tinta das
tatuagens se transformou no vermelho do sangue. Em 1779, em uma volta
inesperada ao Taiti, Capitão Cook foi recebido pelos havaianos com desconfiança.
Segundo o calendário religioso daquele povo, o momento representava o
afastamento de Lono, para oportunizar a fertilidade natural e fazer com que o bem-
estar de todos os seres humanos fosse restaurado. James foi atacado pela multidão
e seu corpo foi oferecido em sacrifício a Lono (ARAUJO, 2009).

2.3 DO MAORI AO OLD SCHOOL: A EVOLUÇÃO E O SIGNIFICADO DOS


PRINCIPAIS SÍMBOLOS

Além de ser o primeiro ocidental a ouvir o termo tattoow, também foi o


Capitão James Cook que revelou para a Europa a tatuagem moko dos Maori, povo
que habitava a Nova Zelândia. Em 1775, o Capitão Cook voltou ao continente
europeu e levou consigo um homem chamado Omai, que possuía o corpo
completamente tatuado. Seus desenhos eram muito expressivos e, por serem
espirais tão profundas na pele, se assemelhavam ao entalhe na madeira. Como
mostra a Figura 2, os dolorosos rituais duravam anos para cobrir o rosto dos homens
nobres e guerreiros (ARAUJO, 2009).
24

Figura 2 - Chefe Maori, início do século XX

Fonte: ARAUJO (2009, p. 41)

A presença de Omai foi decisiva para a disseminação da tatuagem na


Europa, pois após a sua chegada, os cavaleiros da aristocracia começaram a pintar
seu corpo também. Mas ao contrário das tatuagens Maori, os desenhos eram de
dragões e emblemas da nobreza presentes nos braços e nas costas (PUELLES,
1998).
Os Maori tinham como tradição conservar em urnas sagradas a cabeça -
conhecida na época como toi moko - dos seus inimigos mais importantes. Essa era
uma forma de provar que haviam saído da batalha como vencedores e, quanto mais
nobres fossem os indivíduos, mais espirais estariam cobrindo o seu rosto.
Em meados do século XIX, com a técnica da tatuagem já bem mais ampla ao
redor do mundo, as cabeças tatuadas dos guerreiros Maori tornaram-se objetos
cada vez mais cobiçados pelos colecionadores europeus. Os nativos aceitavam
armas de fogo em troca dessas cabeças tatuadas, durante os anos de luta, para
realizar a defesa de suas terras. Como a procura por essas cabeças e o desejo dos
Maori em trocá-las por armas se tornou tão grande, o governo inglês teve que tomar
uma medida legal para proibir essa ação. Apenas recentemente alguns desses
exemplares começaram a voltar para a Nova Zelândia, ficando em exposição no
Museu Nacional local (ARAUJO, 2009).
25

As tatuagens Maori foram o primeiro estilo reconhecido pela sociedade e,


desde então, ao longo da história e dos fatos, as tatuagens foram se adaptando e
criando novos estilos de acordo com o momento social.
Quanto mais arriscada e passageira é a vida, maior o desejo de tornar os
momentos eternos. Quando compreendemos isso, fica mais fácil entender por que
justamente marinheiros, estivadores, soldados e prostitutas tenham sido os
principais difusores das tatuagens. Foi a exposição a tempestades, guerras,
epidemias e acidentes que tornou esses corpos um diário de bordo.
Um dos principais estilos e muito popular até hoje é o Old School12, também
conhecido como tradicional, com sua origem por volta de 1890. Quando falamos da
sua estética, esse estilo pode ser considerado um pouco rude, pois seus traços são
bem simplistas. Os desenhos são caracterizados, principalmente, por suas cores
brilhantes, sendo na maioria das vezes utilizado o vermelho, amarelo verde e azul,
com contornos em preto e tons escuros de azul. Nos trabalhos desse estilo,
concebidos como mais tradicionais, apenas três cores são permitidas a cada
tatuagem. Quando falamos do sombreamento e efeitos, eles são praticamente nulos
e inexistentes, possuindo a coloração sem muitas quebras de tom.
Mesmo que sua criação tenha se dado em 1890, a popularização do estilo
Old School aconteceu em meados de 1920, devido ao fato dos tatuadores se
deslocarem e irem trabalhar próximo às bases navais dos Estados Unidos. A
expansão das tatuagens coincide com o surgimento do estilo Old School, pois suas
cores e traços são reconhecidos como símbolo de bravura e personalidade
(ARAUJO, 2009).
Após a Segunda Guerra Mundial, este estilo de tatuagem se tornou ainda
mais popular, principalmente por remeter à imagem de rebeldia, diretamente ligada à
ascensão do estilo musical Rockabilly13, normalmente representado por um jovem
rebelde, e grande parte das vezes, tatuado.
Uma importante - e lendária - referência para o estilo tradicional de tatuagem
é Normal Keith "Sailor Jerry" Collins14, nascido em 1911. O tatuador norte-americano
juntou-se à Marinha Norte Americana quando tinha 19 anos e viajou o mundo todo
12
Disponível em: <http://bodyartattack.com/2013/12/11/estilo-tatuagem-old-school/> Acesso em 07
set 2014.
13
Um dos primeiros sub-gêneros do rock and roll, surgido no começo da década de 1950.
14
Disponível em: <http://www.tattootatuagem.com.br/significados/109/tatuagens-old-school/> Acesso
em 07 abr 2014.
26

em busca de inspiração, sendo exposto diariamente as mais variadas formas de


expressão e arte. Nos seus trabalhos, era possível perceber uma mistura das
atitudes de um marinheiro americano em harmonia com o misticismo do extremo
oriente e de imagens do sudeste da Ásia.
Segundo Araujo (2009), cada símbolo possui um significado específico,
sendo eles definidos e apresentados no Quadro 1:

Quadro 1 - As tatuagens Old School e seus significados

Nome Símbolo Significado

Âncora15 Símbolo de firmeza, solidez, fidelidade.


Para o marinheiro, é a última esperança
de se salvar de uma tempestade.

Borboleta16 Representa felicidade, renascimento. Na


China, uma borboleta representa a
mulher e, duas, significam felicidade
conjugal.

Coração17 No Ocidente, é o lugar dos sentimentos,


mas nas culturas tradicionais é
considerado o centro da inteligência, da
intuição e do espírito.

Crânio É o que resta do corpo após a morte,


ou caveira18 chamando a atenção para a
transitoriedade da vida.

15
Fonte: <http://multticlique.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/09/sailor-jerry-ancora.jpg> Acesso
em 08 set 2014.
16
Fonte: <http://tatuando.com/desenhos/wp-content/gallery/old/2224941709_eeaf24b2db.jpg>
Acesso em 08 set 2014.
17
Fonte: <http://25.media.tumblr.com/tumblr_lgapxlZVGE1qasqa8o1_500.png> Acesso em 08 set
2014.
18
Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-2TGRj8PoaGg/UUkxw3w7vWI/AAAAAAAAAGY/9WVpO3FL_Yw/
s1600/Old5.jpg> Acesso em 08 set 2014.
27

Índio19 Coragem e valentia. Evoca a imagem de


ancestralidade dos povos, de retorno à
natureza e fertilidade da terra.

Mulheres20 Homenagem ou afirmação de virilidade.


As imagens de pin-ups21, modelos de
pôsters e calendários se tornaram muito
populares nos anos 1940 e 1950.

Fonte: A pesquisadora (2014).

Recentemente, o estilo Old School ganhou popularidade novamente - e serve


de inspiração para outras escolas e técnicas. A popularização do estilo tradicional se
deve, principalmente, ao fato de alguns tatuadores terem se especializado nesta
área e buscado inovações e desenhos diferentes para o estilo tradicional. Séries da
TV americana como “Miami Ink”, “Los Angeles Ink” e “New York Ink” - que retratam o
cotidiano de alguns estúdios de tatuagem - também colaboraram e se tornaram
pulverizadoras dessa técnica.
Toda essa adaptação e criação de novos estilos e desenhos acontece em
paralelo à evolução da sociedade. Estamos em um cenário de revoluções
tecnológicas e comportamentais que, aliadas, interferem e atuam diretamente no
contexto social e nas suas manifestações de identidade.

2.4 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E SUA RELAÇÃO COM AS TATUAGENS

De distintivo dos pequenos grupos a expressão dos movimentos jovens, as


tatuagens chegaram ao patamar de adesão de pessoas de todas as idades e estilos,
alterando a paisagem das ruas e possuindo um papel importante nos movimentos

19
Fonte: <http://tatuando.com/desenho/data/media/20/old_school_tattoo_flash_166_by_calico1225-
d3f1t2s.jpg> Acesso 08 set 2014.
20
Fonte: <http://media-cache-ec0.pinimg.com/736x/48/3c/84/483c84f13f6a1abe76c20a85c9ace976.j
pg> Acesso em 08 set 2014.
21
É uma modelo cujas imagens sensuais produzidas em grande escala exercem um forte atrativo na
cultura pop. Destinadas à exibição informal, as pin-ups constituem-se de um tipo leve de erotismo.
28

sociais do século XX. Na primeira metade desse período, as tatuagens continuaram


sendo vistas como símbolo das classes marginais. Marinheiros, prisioneiros e
soldados de guerra voltaram para casa com o corpo pintado. Após a Segunda
Guerra Mundial, durante as décadas de 1940 e 1950, era comum os jovens e ex
soldados, irem fazer compras no supermercado carregando armas na cintura. Esses
indivíduos passaram a formar clubes de motoqueiros e utilizar um símbolo próprio
para o grupo, sendo normalmente caveiras e abutres estampados nas jaquetas de
couro e também tatuadas na pele. A vontade de ter uma vida com as próprias regras
estimulou gangues violentas, que pregaram a liberdade sobre duas rodas. É nessa
mesma época que as tatuagens começam a ser realizadas também na pele de
algumas mulheres, em sua maioria tatuando pin-ups, que ficavam bem escondidas e
fora de vista dos olhos alheios (ARAUJO, 2009).
Um movimento mais conectado com a natureza começou a ganhar força no
final da década de 1950. Composto por surfistas e seu desejo de levar a vida sobre
as ondas do Havaí, os símbolos marcados na pele se assemelhavam aos dos
marinheiros, com dragões e estrelas. No Brasil, as tatuagens são redescobertas
pelos surfistas somente por volta de 1970 (ARAUJO, 2009).
Nos anos 1960, as pinturas corporais são inseridas no mundo da
contracultura da indústria pop. Os hippies22 ou geração flower power tinham como
principal objetivo estar em paz com a natureza. Com as pinturas faciais, cabelos
longos e casacos no estilo afegão, essas pessoas protestavam contra a Guerra do
Vietnã com símbolos de paz, amor e flores, sempre enraizados no respeito pela
cultura de diferentes povos (ARAUJO, 2009).
Ao contrário dos anos anteriores, no final dos anos 1970 a rebeldia toma
conta das ruas. Jovens ingleses dos bairros nobres resolvem se rebelar, colocando
os cabelos para cima, furando as bochechas com alfinetes de fralda e colocando
tachas de metal por toda roupa. Embalados pelas músicas do Sex Pistols 23, tudo era
realizado com um único intuito: chamar a atenção do atual sistema econômico que
pouco favorecia as classes, escravizando e desempregando a população.
Contrariando a atitude hippie, os punks24 utilizavam as tatuagens como forma de

22
Comportamento de contracultura dos anos 1960 que contrariava os ideais da sociedade. Possuíam
uma filosofia orientada por mestres espirituais, cultivo da natureza e viver em comunidade.
23
Banda inglesa de punk rock, formada em Londres, em 1975.
24
Movimento musical e cultural que surgiu em meados da década de 1970.
29

protesto, inscrevendo mensagens revolucionárias no corpo. Esse grupo influenciou a


partir dos anos 1980, o surgimento de inúmeras tribos urbanas (ARAUJO, 2009).
As manifestações da cultura negra, predominantes nas periferias
marginalizadas, têm no hip hop25 uma forma de expressar suas opiniões. Essa tribo
era composta por negros americanos nascidos entre 1965 e 1984, sendo estendido
futuramente para o resto do Ocidente. As tatuagens surgem nesse movimento como
uma denúncia ao racismo, violência policial e condições carcerárias. As pinturas na
pele representam então um diário de vida dos detentos, seja como um símbolo
religioso e cultural, ou como uma forma de protesto (ARAUJO, 2009).
Há quem nomeie as tatuagens e os piercings dos anos 2000 como body art26,
ou seja, como “arte no corpo”. A pele se transforma na tela do artista, que será
decifrada no futuro, como vestígios dessa civilização.
As tatuagens passaram pelos selvagens na motocicleta, pelos hippies com
flores pintadas no rosto, foram ao movimento punk com seu moicano e alfinetes na
bochecha, ao rapper27 transmitindo suas mensagens nas zonas mais desfavorecidas
até chegar a atual geração. São inúmeras tribos que olham para o mundo que os
rodeia e buscam torná-lo mais colorido (ARAUJO, 2009).
A sociedade ocidental contemporânea é um verdadeiro palco de mudanças
de identidades e relações coletivas. Estamos vivendo um momento social que nos
leva a retornar ao patamar de tribos e, apesar dessa especificação, nosso
pertencimento nos torna seres plurais e não exclusivos a uma determinada situação
(MAFFESOLI, 2000).
Para compreender melhor esse universo que ronda as tribos, precisamos
entender que o significado dessa palavra, que exprime a ideia de atrito,
apresentando resistência de corpos ou grupos que se enfrentam. Esse pensamento
a redor do conflito está presente no fenômeno das tribos urbanas, fazendo com que
muitos grupos de jovens sejam associados a essa significação, quando na verdade,
podem ser observados de outras maneiras.

25
Gênero musical, com uma subcultura iniciada durante a década de 1970, nas áreas centrais de
comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque.
26
Do inglês “arte do corpo”, é uma manifestação das artes visuais onde até o corpo do próprio artista
pode ser utilizado como suporte ou meio de expressão.
27
Discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século XX entre as comunidades
negras dos Estados Unidos.
30

Quando aplicado a grupos de jovens, o significado de tribo corresponde a


um artificialismo alegórico que pode ter vários efeitos. Alguns identificam-se
com o significado, outros rejeitam-no, ou seja, as identidades atribuídas
nem sempre coincidem com as identidades reivindicadas. As identidades
atribuídas podem ser aceitas ou rejeitadas, porque o termo designa uma
estereotipação negativa de algumas manifestações culturais juvenis
(FERREIRA, 2009, p. 38).

PAIS e BLASS (2004) mostram que a transgressão e ruptura de limites fazem


parte da tradição de qualquer tribo urbana, proporcionando através dessas ações,
uma sensação de liberdade. O principal aspecto a ser analisado nesse caso é a
característica de cada grupo que, na maioria das ocasiões, é preservada para
marcar e garantir a identidade desse conjunto de pessoas. Isso acontece porque os
integrantes das tribos precisam partilhar de um tipo de sentimento de pertença, ao
mesmo tempo em que se distanciam de determinados padrões sociais. Essa mesma
atitude é refletida na busca de um indivíduo por uma tatuagem ou modificação
corporal.
No meio disso tudo, o corpo acaba se tornando uma matéria-prima para o
ambiente, permitindo assim, que as marcas também o modelem. Com a expansão
da indústria do design corporal, as tribos acabam hipervalorizando a sua existência e
buscam incansavelmente uma identidade que, muitas vezes é efêmera, mas é
também essencial para viver dentro de determinado ambiente social.
Seja marginal ou original, as tatuagens tornaram-se uma referência
importantíssima da juventude contemporânea. As novas gerações crescem no
ambiente intelectual de um corpo inacabado e imperfeito, no qual os indivíduos se
esforçam para aprimorá-lo. A construção de si próprio e de sua marca é uma
atividade que nunca conhece o seu fim (BRETON, 2004).
Outros aspectos da história se fazem necessários em busca da solução do
presente problema de pesquisa e, diante disso, é preciso conhecer e conceituar
outros elementos importantes deste trabalho. Uma nova linha do tempo será
traçada, estabelecida a partir dos fundamentos da marca, seu conceito e
desenvolvimento ao longo dos anos.
31

3 SEGUNDA SESSÃO: AS INFINITAS POSSIBILIDADES DAS MARCAS

Atualmente, muito se fala sobre as marcas, seus atributos, sua importância no


mercado e no âmbito social. Para compreender todos os aspectos que a envolvem e
tomar conhecimento dos diversos conceitos que cercam o tema, é preciso analisar,
de forma cronológica, os acontecimentos de sua história, detalhando a sua
abordagem e utilização com o passar do tempo. A evolução das marcas e a
revolução tecnológica são de suma importância para seguirmos com esse estudo.
Eles são insumos para tratar sobre itens como marketing28, branding29 e
propaganda. A história da publicidade no Brasil e no mundo nos permite ter um
panorama completo de como as marcas, sejam elas de pessoas ou empresas,
causaram uma verdadeira revolução cultural.
Portanto, esse capítulo apresenta assuntos que foram abordados pelos seguintes
autores e estudiosos: BENDER (2009), GOBÉ (2007), KOTLER (1998), MACHADO
(2009), MARTINS (1999), NEUMEIER (2008), PEREZ (2004), RANDAZZO (1996) e
SAMPAIO (2003 e 2004).
Vale ressaltar que, novamente, o capítulo está dividido em assuntos específicos
para facilitar a sua abordagem e conhecimento, sendo apresentados da seguinte
forma: Marcando a história (3.1); Uma marca, inúmeras visões (3.2); O encontro da
propaganda com a história (3.3); Traduzindo criatividade e emoção (3.4) e A
publicidade no Brasil: um case de sucesso (3.5).
Os consumidores elevaram o seu nível de consumo e, atualmente, mais do que
realizar a aquisição de um objeto, as pessoas adquirem pensamentos, ideologias e
atitudes que entram em sintonia com sua rotina. Por isso, é preciso ser mais que
apenas outra opção no mercado e tocar o lado emocional do público-alvo para gerar
uma sensação de pertencimento aquele universo.

3.1 MARCANDO A HISTÓRIA

Há muito tempo, o ser humano encontra maneiras e cria suas próprias formas
de ser reconhecido. Muito antes da existência da escrita, os homens já possuíam

28
É o processo usado para determinar que produtos ou serviços poderão interessar aos
consumidores.
29
Ato de administrar a imagem/marca de uma empresa.
32

nomes, permitindo que eles fossem identificados dentro de suas tribos. A assinatura
como conhecemos hoje, aplicada em documentos de identidade, teve sua origem
nas tribos nômades. Essa ferramenta de identificação era utilizada para marcar a
propriedade do gado e dos demais objetos. Alguns vestígios dessas assinaturas
foram encontradas em utensílios de barro, provenientes da Idade da Pedra (cerca de
2 milhões de anos - há 10 mil anos atrás). A manifestação das assinaturas nos
objetos pode ser reconhecida como a primeira de uma marca. (PEREZ, 2004).
Quando buscamos entender a origem das marcas estamos, na verdade,
embarcando em uma viagem no tempo, pois existem estudiosos que reconhecem o
seu início com a prática de identificar com brasa, barris de cedro com bebidas
destiladas. Outros, afirmam que a origem das marcas se dá nas marcações
realizadas com fogo no gado, ou ainda, nas artes (PEREZ, 2004).
No período conhecido como Antiguidade (4.000 a.C-476 d.C), os escultores e
artistas plásticos costumavam assinar seus trabalhos como uma forma de identificar
suas próprias obras. Na Idade Média (476 d.C-1.500), essa tradição acabou se
perdendo, tornando assim, artistas e escultores verdadeiras figuras anônimas.
Igrejas, monumentos, esculturas e qualquer manifestação cultural não possuíam a
assinatura de seu autor, fazendo com que esse período histórico seja reconhecido,
também, como “Idade das Trevas” (PEREZ, 2004).
Somente no período da Renascença (final do século XIV e início XVII) que os
trabalhos artísticos voltaram a apresentar a assinatura de seus autores. Esse
reinício começou com Michelangelo Buonarroti30 (1475-1564), sendo seguido por
Peter Paul Rubens31 (1577-1640). A presença da marca dos criadores fazia com que
fosse possível realizar uma avaliação comercial da obra e, dependendo do autor,
isso influenciava de forma positiva ou negativa (PEREZ, 2004).
Antes de iniciar a evolução dos mercados varejistas na Europa Ocidental,
cidades do Oriente Médio e do litoral Mediterrâneo já haviam se apoderado da
identidade dos produtos no momento de sua comercialização, conseguindo assim,
agregar um item importante ao processo de produção e venda (PEREZ, 2004).
O modelo econômico-produtivo na Europa Ocidental passou a ser o
feudalismo e, dessa forma, uma economia autossuficiente e fechada se instalou

30
Pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte
do Ocidente.
31
Pintor flamengo do estilo barroco.
33

novamente na região. Assim, inúmeros feudos criaram a sua própria identidade


visual, adquirindo, inclusive, uma moeda única. Com essa sucessão de eventos, os
feudos começaram a desenvolver pequenos mercados semanais, semelhantes às
feiras de rua que conhecemos hoje, que impulsionaram o rompimento do isolamento
no sistema de comércio e produção (PEREZ, 2004).
O crescimento das cidades impulsionou a ampliação desses encontros
semanais, tornando-os mais frequentes e aumentando o número de comerciantes e
compradores. Com o tempo, foi necessária a criação de locais para abrigar a todos,
nascendo assim, as primeiras lojas varejistas que se tem conhecimento. É nesse
momento da história que iniciam-se as manifestações promocionais, ainda que de
forma rudimentar (PEREZ, 2004).
Seguindo com a evolução das marcas, temos o surgimento das guildas 32
artesanais e comerciais, que tinham por objetivo estabelecer um controle de
quantidade e qualidade da produção. Cada produtor devia colocar uma marca em
seus produtos, facilitando a sua identificação caso houvesse a necessidade de
ampliar ou reduzir sua fabricação. Através dessa sinalização, as marcas começam a
ganhar importância, mesmo sem possuir uma preocupação promocional ou com a
identidade. Essas marcas serviam também como uma forma de separar produtos de
qualidade dos que possuíam defeitos, oportunizando que os produtores
responsáveis pelos produtos de qualidade inferior fossem punidos. A partir desse
momento, as marcas ganharam a função burocrática e legal, tornando-as
ferramentas de proteção do consumidor, facilitando a identificação da origem da
mercadoria comprada (PEREZ, 2004).
A partir da segunda metade do século XVIII, com o início da Revolução
Industrial (1760-1840), técnicas de promoção e vendas começaram a fazer parte das
marcas modernas, tornando os mercados mais competitivos. Essas ferramentas de
diferenciação foram fatores determinantes para implantar a importância de possuir
um nome e uma marca reconhecida (PEREZ, 2004).
Nos Estados Unidos, logo após a Guerra Civil (1861-1865), os fabricantes de
bebidas, alimentos e remédios populares foram os precursores na utilização de
marcas nos seus produtos. Algumas marcas criadas nas décadas de 1860 e 1870
ainda estão presentes no mercado, como a Ivory Soap - sabonetes; Borden’s
32
Associações de auxílio mútuo, constituídas na Idade Média, entre corporações de operários,
artesãos, negociantes ou artistas.
34

Condesed Milk - alimentos e bebidas, como massas e lácteos; além da icônica


Quaker Oats - produtora, inicialmente, de cereais.
Em 1833, a Convenção da União de Paris estabeleceu uma base legal para
impedir a existência da concorrência ilegal entre duas marcas. Foi por volta de 1890
que grande parte dos países industrializados passaram a ter a sua própria legislação
sobre propriedade e proteção de marcas (PEREZ, 2004).
Um avanço significativo, tornando as marcas muito próximas do que
conhecemos hoje, se deve ao fato das empresas iniciarem a utilização de meios de
comunicação de grande cobertura geográfica, na última década do século XIX.
Assim como a distribuição se dava em larga escala, a divulgação também precisava
ter os mesmos níveis de alcance e atingir a massa populacional (PEREZ, 2004).
A consolidação definitiva da importância das marcas ocorreu no período após
a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). É nessa mesma época que a propaganda
surge como uma forte aliada da construção das marcas, sendo a principal
responsável pela identificação e sucesso das organizações. Os consumidores
deixam de querer um carro movido a motor e passam a desejar um Ford (PEREZ,
2004).
Com o grande surgimento de produtos e marcas novas na década de 1950, a
profissão do gerente de marca acaba ganhando popularidade nas empresas. Foi
nesse mesmo período que os shopping centers33 e a televisão começaram a invadir
o cenário urbano, dando início a propaganda como conhecemos hoje. Até o
momento, nunca se teve um número tão elevado de comerciais e, a partir disso, a
tendência da gerência de marcas proporcionou uma organização perante o cenário
pós-guerra, demonstrando a necessidade da criação de uma identidade específica
para cada empresa (PEREZ, 2004).
No ano de 1967, a presença dos gerentes de marca atingiu o nível de 84%
em grandes fabricantes de bens manufaturados dos Estados Unidos. Mesmo que
tenha existido uma mudança nos nomes por quem desempenhava a função, esse
modelo de gestão permaneceu por muito tempo. Somente em 1990 o gerenciamento
de marcas começa a ser apresentado a novas visões (PEREZ, 2004).
É nesse cenário que as marcas passam a ocupar um lugar de destaque
dentro das empresas. Em muitos casos, a atenção e o investimento realizado a
33
Estrutura que contém estabelecimentos comerciais como lojas, restaurantes, salas de cinema e
etc.
35

configura como o patrimônio principal da organização (PEREZ, 2004).


No Brasil, é somente no final dos anos 1980 que as marcas começaram a
aparecer em grande número. Esse fato se deu a partir de uma mudança no
mercado, oportunizada por multinacionais que trouxeram ao país um modelo
diversificado e com segmentações, já presente em grande parte do mundo. Isso fez
com que muitas empresas repensassem seu modelo de negócios e, também, suas
marcas (PEREZ, 2004).
Nos últimos anos, a economia dos países migrou de um sistema produtivo
para um sistema de consumo. O que antes permeava a racionalidade material
transformou-se no plano do desejo, integrando assim, o campo da subjetividade. É
nesse cenário que o destaque no processo de compra e venda passa a ser
assumido pelas marcas que, de facilitadoras nas transações comerciais, passam a
ser poderosos e complexos fatores de posicionamento social e cultural (PEREZ,
2004).
A expansão do mundo das marcas chegou ao nível de dominação daquilo
que pode ser feito e fornecido, além de reinventar mercados e relações, até então,
estabelecidas como tradicionais. Marcas que antes comercializavam seus produtos
no mercado local adquiriram renome em âmbito nacional e internacional, evoluindo
para fontes geradoras de renda e reconhecimento em qualquer lugar do mundo.
Esse é o caso das marcas brasileiras O Boticário e Havaianas, que viram sua
história alcançar consumidores de todo o planeta (PEREZ, 2004).
Atualmente, produtos mais simples, como laranjas, maçãs e bananas, são
vendidas com suas devidas marcas, pois levam carimbadas em sua superfície o
símbolo do distribuidor ou produtor, oportunizando assim, a distinção de uma
empresa para outra. Até mesmo em setores de commodities34, as marcas promovem
diferenciação e reconhecimento (PEREZ, 2004).

3.2 UMA MARCA, INÚMERAS VISÕES

As marcas estão por toda parte e compõem o cenário cotidiano há muito


tempo, mas, ainda assim, é difícil definir e estabelecer apenas um conceito para o
termo. Autores buscam sua significação através de caminhos puramente lógicos e

34
Mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e
comercializados em nível mundial.
36

práticos, obtendo uma visão mais racional. Já outros, a enxergam como um


fenômeno social, cultural e puramente subjetivo e emocional.
Dentre toda a imensidão de conceitos aplicados para a marca, começamos
pelo mais utilizado em marketing, criado por Kotler (1998, p. 393), que afirma que
marca é “um nome, termo, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que têm o
propósito de identificar bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e
de diferenciá-los de concorrentes”. Na visão de Randazzo (1996, p. 24), marca é
mais do que um produto, “marca é ao mesmo tempo uma entidade física e
perceptual”.
Mesmo que não exista um senso comum a respeito de uma definição, é
importante diferenciar marca de outros conceitos que, frequentemente, confundem
aqueles que não atuam no segmento da comunicação.
Inicialmente, marca não é um logo - que significa palavra, em grego. Essa
denominação é uma abreviação do termo logotipo, que se refere a um sinal visual da
marca e é representado, com ferramentas do design, através de um símbolo,
monograma, emblema ou qualquer outro recurso gráfico. Marca não é um manual de
identidade visual, conhecido também como MIV. Esse manual é um sistema criado
no século XX para controlar o uso correto de símbolos e elementos referentes à
marca em anúncios, papelaria e quaisquer tipos de divulgação. Além disso, marca
também não é um produto. Profissionais de marketing geralmente falam sobre
realizar o gerenciamento de marcas, porém, o que estão desempenhando, é o
gerenciamento de produtos, vendas, qualidade ou distribuição dos mesmos
(NEUMEIER, 2008).
De acordo com Neumeier (2008, p. 2), a sua definição para esse termo, tão
debatido, se aplica da seguinte forma:

Marca é a percepção íntima, o sentimento visceral de uma pessoa em


relação a um produto, serviço ou empresa. É um sentimento visceral porque
todos nós somos seres emotivos, intuitivos, apesar dos nossos melhores
esforços para sermos racionais. É o sentimento visceral de uma pessoa
porque, no final das contas, a marca é definida por pessoas, não por
empresas, mercados ou pelo chamado público geral. Cada pessoa cria sua
própria versão da marca. E, apesar das empresas não poderem controlar
esse processo, elas podem influenciá-lo ao comunicar qualidades que
fazem este produto ser diferente daquele.

A marca é o principal atributo de um produto, pois, sem a sua existência, ele


se torna apenas um objeto - seja uma mercadoria, uma embalagem de café, um
37

sapato ou um sabonete. Geralmente, a visão que o consumidor possui de um


produto genérico, sem marca, faz com que o mesmo seja visto apenas como algo
funcional, e não como um item que apresente uma carga emocional significativa em
sua vida. Para criar um diferencial em relação às outras marcas, é preciso compará-
la com as concorrentes. Gerenciar uma marca é gerenciar diferenças, mas não da
forma como elas aparecem em relatórios, e sim como existem na mente das
pessoas. Afinal, sem a presença na mente do público-alvo, uma marca é
praticamente um fantasma (PEREZ, 2004).
Além das abordagens frente ao conceito de marca, existe, ainda, um ponto de
vista proveniente do consumidor, e outro, da própria empresa. Sampaio (2004, p. 25)
afirma que o público-alvo enxerga a marca como “a síntese das experiências reais e
virtuais, objetivas e subjetivas, vividas em relação a um produto, serviço, empresa,
instituição ou, mesmo, pessoa”. Nessa situação, a marca é a representação de um
conjunto de fatos, sentimentos, atitudes, crenças e valores que se relacionam com
outras marcas do mesmo segmento. Já na visão das empresas e instituições, o
conceito é mais direto, na qual Sampaio (2004, p. 26), traduz a marca como “uma
síntese da sua franquia junto ao mercado”. Como no caso dos consumidores, a
marca é, também, um conjunto de fatos, sentimentos, atitudes, crenças e valores
que se relacionam no seu próprio universo mercadológico.
A ideia de marca que conhecemos hoje existe há, pelo menos, cinco mil anos.
Um questionamento a ser levantado é por que esse assunto assumiu tanta
importância na atualidade? Para chegar a uma resposta, é preciso analisar que
nossa sociedade passou por fortes transformações, como a da economia, que
possuía o perfil de produção em massa e se transformou em customização em
massa, multiplicando as opções de compras (NEUMEIER, 2008). Em paralelo a
essa customização está a visão de Gobé (2007, p. 363), apontando que “a
personalização tem a ver com reunir todas as possibilidades e deixar as pessoas
fazerem a sua combinação e o uso”. Nós passamos a ter muitas informações e
pouco tempo. E o resultado disso é que, o nosso antigo método de comparar
características e benefícios na hora de comprar um produto ou serviço deixou de
funcionar. Hoje baseamos nossas decisões em atributos simbólicos (GOBÉ, 2007).
Diante desse cenário, é preciso perceber que, muito mais importante do que
construir uma estratégia para uma marca, é preciso unir estratégia e criatividade
38

(NEUMEIER, 2008). Mais do que vender uma ideia para o público, vendê-la para um
grupo pequeno de pessoas importantes passou a ser um dos focos principais das
marcas. Para desempenhar essas atividades, nasce o conceito de branding, que na
visão de Sampaio (2003, p. 27, grifo do autor), pode ser definido como “o conjunto
de tarefas de marketing - incluindo suas ferramentas de comunicação - destinadas a
otimizar a gestão de marcas”.
É nesse contexto de evolução que surge a essência do branding emocional,
que se baseia em realizar um encontro íntimo e pessoal com os consumidores, e
não com os gerentes de marca, pois, para Gobé (2007, p.25), “O branding
emocional sempre teve a ver com inspiração, personalidade e conexão”.
Um branding eficaz é aquele que possui relações com as emoções que são
geradas pelo design. A partir disso, desenvolve-se uma nova visão batizada por
Gobé (2007, p. 38, grifo do autor) de brandjam:

Brandjam é uma percepção e uma visão, um estilo e um tom de voz.


Brandjam é um conceito inovador que precisa constantemente de um
vocabulário novo, inventivo. Deve-se usar a evolução da estética e do estilo
para criar uma nova linguagem sensorial conectada com os desejos das
pessoas de experimentar a vida de um modo eficiente, diferente e positivo.

Dado o contexto atual, as marcas devem migrar de comunicações simples e


commodities para as emoções e o design. Isso se deve ao fato do design ser
extremamente sensorial, e também, despertar nossas emoções mais rápido do que
qualquer outra forma de comunicação. Devemos estimular as ofertas padronizadas,
desgastadas e repedidas e transformá-las em um design inspirador (GOBÉ, 2007).
Nesse caso, estimular é adotar uma linguagem que seja um conector sensual
e uma inspiração emocional, através de ideias do design. E é essa linguagem que
pode transformar o cotidiano das pessoas e renovar o seu amor perante a marca.
Organizações como Absolut, Abercrombie, Apple, BMW, Dove, e Victoria’s Secret
tiveram o seu nível de expectativas superado e resultados alcançados em virtude do
bom aproveitamento do design (GOBÉ, 2007).
Conforme aponta Neumeier (2008, p. 12), “o design serve para promover
confiança”. E, para facilitar o processo de inclusão de uma marca em um grupo de
sucesso, é preciso posicioná-la utilizando a emoção, que ao lado do design, é um
dos componentes mais importantes do marketing atual. É oportuno lembrar que
marcas maduras não estimulam as pessoas, por isso o esforço publicitário de
39

permanência na mente dos clientes não deve ter fim nunca (GOBÉ, 2007).
Ainda sobre as inúmeras vertentes a partir do conceito de marca, existe o
personal branding, sendo traduzido de forma simplória em marca pessoal, que
compara nós, indivíduos, a grandes empresas. Para entender essa visão, é preciso
encarar as pessoas que estão à nossa volta como compradores e mercado em
potencial. Nosso chefe é nosso consumidor, assim como nossos amigos
representam o mercado. Pessoas que conhecemos são nossos prospects35 e,
qualquer um que já tenha ouvido falar a nosso respeito, ou nossa marca, são
potenciais compradores.
Todos aqueles que já estiveram em contato conosco foram atingidos pela nossa
marca e formaram, a partir disso, uma percepção positiva ou negativa da nossa
imagem, que pode impulsionar em uma venda futura (BENDER, 2009).
Em um panorama comum de mercado, com marcas representando empresas,
aquelas que não de adaptam, apresentam produtos defeituosos e estragados são
influenciadas pelo boca a boca e acabam tendo sua imagem e reputação danificada.
Recuperar uma visão positiva é muito difícil. Trazendo isso para o personal
branding, cada erro, atraso ou postura indevida no ambiente de trabalho pode fazer
com que os clientes escolham outra pessoa para executar as tarefas (BENDER,
2009).
Independente da situação, Martins (1999, p. 17) aponta que “a marca também
é o maior patrimônio que se pode criar e desejar”. e, como consequência disso, a
imagem se torna um fator decisivo no momento de escolha de uma marca
(MARTINS, 1999).
Todos os dias, nosso mercado em potencial, composto por amigos, colegas,
familiares e chefes, nos observa e nos analisa. Eles recebem os nossos sinais de
marca e, se estivermos no lugar certo, com a “embalagem” atraente, esses itens
irão, mais cedo ou mais tarde, impulsionar a nossa venda. Alguém nos comprará
(BENDER, 2009).
É importante que percebamos o poder que possuímos em nossas mãos, pois
funcionamos como uma marca multimídia. Durante 24 horas por dia, emitimos sinais
que trabalham como comerciais de televisão, com imagens ao vivo, áudio, cores e
formas. Os inúmeros instrumentos, meios e ferramentas de comunicação que

35
Possíveis clientes para um vendedor, empresa ou marca.
40

exercem a sua função simultaneamente nos transformam em outdoors ambulantes,


divulgando a nossa própria marca em constantes ações de marketing (BENDER,
2009).
A personificação das marcas traz consigo inúmeras possibilidades de
comunicação. Além de representarmos a nossa própria marca, o personal branding
impacta nos mais variados segmentos de grandes corporações. Um exemplo é
ícone norte americano Andy Warhol36 (1928-1987), que criou rótulos inspirados nas
latas de sopa Campbell, além de uma infinidade de outros produtos (PEREZ, 2004).
Assim como Andy Warhol, o personal branding de Marilyn Monroe37 (1926-
1962), uma das mais conhecidas figuras americanas, pode ser encontrado no
Museum of Modern Art, localizado em Nova Iorque, nos Estados Unidos (PEREZ,
2004).

3.3 O ENCONTRO DA PROPAGANDA COM A HISTÓRIA

Para muitos, a propaganda é considerada como um fenômeno recente,


proveniente do século XX e das economias mais desenvolvidas, porém sua história
se inicia há muito mais tempo. Por volta de 3.000 a.C. foi encontrado por
arqueólogos, na China, uma placa com o endereço de um alfaiate. Mesmo que em
menor grau, esse fato já denota um tipo de comunicação comercial (MARTINS
2004).
Na Roma Antiga (753 a.C.-476 d.C.) a propaganda possuía seu próprio
espaço no Império. Localizadas de frente para as ruas de maior movimento nas
cidades, as paredes das casas eram muito disputadas. Mesmo que de forma
artesanal e primitiva, já podia começar a se observar o surgimento de uma técnica:
as paredes eram pintadas de branco e, nelas, eram colocadas mensagens
publicitárias. Geralmente, nas cores preto ou vermelho para chamar mais atenção e
ter um contraste maior com o fundo (SAMPAIO, 2003).
Mais tarde, no início do século XVII, o Vaticano criou um organismo
denominado por Congregatio Propaganda Fide ou Congregação para a Propagação
da Fé, para executar funções bem definidas, de acordo com o próprio nome. É

36
Empresário, pintor, cineasta norte-americano e uma das principais figuras do movimento de pop
art.
37
Atriz, cantora e modelo norte-americana.
41

nesse momento que o nome propaganda é criado, tendo sua origem inspirada na
propagação da fé (MARTINS, 2004).
Até meados do século XVIII, os bens e produtos eram produzidos de forma
totalmente artesanal. O sapateiro criava sapatos e botinas um a um, assim como o
alfaiate fazia com as roupas e o mesmo se replicava em outros setores. Tudo
funcionava a partir de pedidos sob medida, o planejamento de produção era simples
e as vendas transcorriam de forma tranquila, mas demorada. Com a chegada da
Revolução Industrial (1760-1840), a produção desses mesmos produtos se dava em
grande quantidade e com uma enorme redução de custos, multiplicando os números
de fabricação (MARTINS, 2004).
Com a virada do século, surgiram alguns problemas como a excedente
quantidade de mercadorias em produção e estoque. Além disso, a facilidade de
produção implicou na crescente concorrência e, produzir primeiro e vender depois já
não demonstrava ser uma boa estratégia. É nesse contexto que, por volta de 1920,
o marketing acaba por ser inventado nos Estados Unidos. Na época, de forma meio
precária, mas como aponta Martins (2004, p. 29) o conceito de marketing já estava
estabelecido: “saber antecipadamente as características comportamentais, culturais,
estéticas e psicológicas do público-alvo; como podemos homogeneizá-lo em
segmentos e quanto dinheiro está disposto a gastar” (MARTINS, 2004).
Historicamente, a publicidade teve um salto significativo, principalmente, por
Joseph Goebbels (1897-1945), Ministro das Comunicações do 3º Reich e
responsável pelo desenvolvimento e popularização de Adolf Hitler (1899-1945). Com
conhecimentos que permeavam as áreas da sociologia e antropologia cultural,
Goebbels foi um inovador na comunicação de massa, desenvolvendo uma série de
métodos para serem aplicados nos discursos de Hitler que, aliados às artes cênicas,
faziam com que as plateias não só se convencessem, mas que também fossem ao
delírio com as palavras de origem puramente publicitária (MARTINS, 2004).
A propaganda começa a se moldar de maneira técnica, como conhecemos
hoje, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Muitos dos métodos criados por
Goebbels foram melhorados e, a partir disso, incorporados à comunicação
(MARTINS, 2004).
Esse período também trouxe produtos como radares, foguetes, melhorias na
segurança de voo, novas sistemas de comunicação, técnicas mais modernas para a
42

conservação de alimentos e desenvolvimento da indústria automobilística. O pós-


guerra aprendeu muito com os conflitos e aplicou esse conhecimento em fins
pacíficos, inclusive na publicidade (MARTINS, 2004).
A propaganda tomou um grande impulso nas economias industriais mais
desenvolvidas nos últimos cinquenta anos e, seu impacto passou a ser notável no
âmbito econômico, social e cultural. Já nas sociedades com uma economia mais
primitiva e ainda em desenvolvimento, a propaganda se faz valer e ocupa um papel
de impulsionadora da economia, assim como um instrumento de desenvolvimento
cultural (MARTINS, 2004).

3.4 TRADUZINDO CRIATIVIDADE E EMOÇÃO

Propaganda geralmente é confundida com alguns outros termos relacionados


à comunicação e, para facilitar, abordaremos a propaganda de acordo com a
definição de Sampaio (2003, p. 26) “é manipulação planejada da comunicação
visando, pela persuasão, promover comportamentos em benefício do anunciante
que a utiliza”.
É da propaganda a responsabilidade de informar e despertar interesse do
público-alvo para a compra ou uso de um produto ou serviço, estimulando que ele vá
em busca de algum benefício ou diferencial oferecido pelo anunciante (SAMPAIO,
2003).
No Brasil, há inúmeras adjetivações que são utilizadas para diferenciar os
tipos de propaganda existente. São eles: propaganda política, propaganda ou
publicidade comercial, propaganda de utilidade pública, publicidade editorial e etc.
Em todos esses casos, a propaganda é a divulgação de um produto ou serviço que
tem como objetivo despertar interesse dos consumidores (SAMPAIO, 2003).
A tecnologia desenvolvida em torno da propaganda faz uso de algumas áreas
do conhecimento humano, como artes plásticas, literatura, cinema, música, dança,
administração, estatística, sociologia e psicologia. Através disso, é possível gerar
uma propaganda com um nível elevado, sendo ela mais eficiente. De forma
resumida, também podemos dizer que a propaganda é uma mistura de setores
artísticos, científicos e técnicos que, combinados, possuem uma forma para planejar,
criar e emitir mensagens comerciais (SAMPAIO, 2003).
Em consequência desse conjunto de áreas e conhecimentos em prol da
43

propaganda, podemos afirmar que todos os integrantes das modernas sociedades


de consumo nas quais vivemos são influenciáveis pela propaganda. Não existe uma
forma de se tornar imune à sua influência. A propaganda é altamente sedutora, pois
incentiva nossos desejos, mexe com nossas aspirações, entra em contato com
nosso inconsciente e propõe novas experiências. Por mais defesas que desejemos
construir e barreiras que possam ser levantadas, sempre existirá um anúncio que irá
penetrar esse bloqueio, interferindo em nossa vontade. A busca pela racionalidade e
pelo ceticismo é interrompida com uma mensagem publicitária (SAMPAIO, 2003).
A propaganda é uma das grandes formadoras do ambiente cultural e social
de nossa época, atuando sobre os instintos mais fortes dos seres humanos, como: o
medo, a vontade de ganhar, a inveja, o desejo de aceitação social, a necessidade de
autorrealização, a vontade de saber mais e a segurança da tradição, nós já
sabemos. Agora é o momento de entender como isso ocorre. Para trabalhar nesses
setores, a propaganda utiliza de alguns princípios básicos que são fundamentais
para o seu sucesso. A criatividade, primeira e a grande dificuldade a se enfrentar, é
o principal atributo. Despertar a emoção e o interesse do público para que ele
continue se envolvendo com a marca também é vital. Além disso, a propaganda
precisa ser pertinente e de fácil compreensão, pois como citado anteriormente, com
a grande exposição a anúncios e divulgações, o público não irá desperdiçar seu
tempo analisando uma mensagem publicitária e buscando o seu sentido (SAMPAIO,
2003).

3.5 A PUBLICIDADE NO BRASIL: UM CASE DE SUCESSO

A história da publicidade no Brasil começa em 1808, no Rio de Janeiro, com


um anúncio no Jornal Gazeta do Rio de Janeiro sobre a venda de uma casa. Ainda
que sem conhecimento do que significava, esse foi o primeiro passo da trajetória
publicitária no país. Nessa época, os textos dos anúncios eram feitos por poetas e a
arte era realizada por artistas famosos, sendo eles basicamente sobre
medicamentos (MACHADO, 2009). É somente em 1920 que vários temas começam
a ser abordados, propagandas sobre sabonete e moda mostram a preocupação com
beleza e estética.
Na década de 1930 a propaganda no Brasil começa a analisar o mercado
para traçar estratégias de comunicação. Os anunciantes eram compostos por lojas
44

de departamentos, restaurantes, lanchonetes, xaropes, entre outros. É também


nesse período que os cinemas começam a exibir propagandas (MACHADO, 2009).
Entre 1945 e 1950 o país começa a corrigir as falhas do sistema econômico e
social pós-guerra. Os produtos anunciados se tornavam brindes para o auditório,
artistas e apresentadores que os divulgavam e grandes empresas, como a Coca-
Cola, começam a investir cada vez mais em publicidade. É na década de 1950 que
surgem as garotas-propaganda, também representadas por pin-ups (MACHADO,
2009).
Nos anos 1960 a profissão publicitário acaba ganhando um certo ar de
sofisticação e a criação tira o foco da informação objetiva, passando a trabalhar com
um conceito, associando a marca psicologicamente ao consumidor (MACHADO,
2009).
Em meados de 1970 o marketing começa a atender as necessidades do
consumidor. É nessa década que surge um garoto-propaganda muito conhecido: o
Garoto Bombril. A linguagem coloquial ganha força e quebra alguns estereótipos
(MACHADO, 2009).
É em 1980 que a segmentação aumenta com o número de veículos de
comunicação cada vez maior no país, com o surgimento do SBT em 1981 e a
chegada da TV por assinatura em 1989. Na década de 1990 as classes populares
são absorvidas pelas estratégias de marketing e, no mesmo período, a internet tem
o seu grande momento no país. Em apenas quatro anos ela atinge cerca de 2,5
milhões de internautas (MACHADO, 2009).
Nos últimos 15 anos, vivenciamos uma verdadeira revolução na maneira
como encaramos a publicidade, e esse fenômeno ocorre no Brasil e no mundo.
Assim sendo, acaba proporcionando aos profissionais dessa área um desafio
cotidiano. Novas mídias que promovem a interatividade, respostas instantâneas e
serviços a públicos segmentados nos trazem um questionamento: e do futuro, quem
sabe? A tendência é que, cada vez mais, os consumidores possuam uma
informação que antes não lhes pertencia, mas que com a popularização da internet,
se tornou uma realidade e impacta na forma de fazer publicidade. Sobre o amanhã
não se tem o controle para fazer uma aposta certeira, só nos resta aguardar
(MACHADO, 2009).
45

Para alcançar o entendimento dessas percepções, se faz necessário estudar,


explorar e ouvir o público. A partir dessa premissa, o próximo capítulo ganha vida,
com a análise de explorações provenientes do universo que foi primeiramente
estudado: o das tatuagens.
46

4 TERCEIRA SESSÃO: EXPLORANDO PERCEPÇÕES

O referencial teórico abordado até o presente momento serviu como uma


forma de ampliar o conhecimento, facilitando a reflexão acerca do assunto tratado,
além de ser uma base fundamental para a etapa de análise de dados coletados. A
fim de identificar informações mais profundas e pessoais, percepções e fatores
sociais a respeito do universo das tatuagens, foi realizada uma busca de dados
primários através de entrevistas em profundidades.
Inicialmente, será explicada e contextualizada a utilização das entrevistas em
profundidade para coletar informações a partir dos teóricos AAKER (2001),
GREWAL (2012) e MALHOTRA (2001).
Este capítulo trata sobre a temática da tattoo, explica como se deu o decorrer
do processo, apresenta como o grupo amostral foi selecionado, os principais pontos
levantados pelos entrevistados no decorrer da pesquisa. Além disso, aborda
informações que permitem a realização de uma análise a partir dos manifestos
obtidos pela pesquisa.
Para facilitar o acompanhamento dessa sequência de dados, este estudo foi
dividido em subcapítulos, definidos por áreas de trabalho. São eles: (4.1)
Metodologia; (4.2) A personalidade por trás das tatuagens; (4.3) Descobrindo pontos
de vista; (4.4) Analisando percepções e (4.5) Cruzamento.

4.1 METODOLOGIA DE CAMPO

Para atender aos objetivos deste trabalho, foi realizada uma pesquisa de
caráter qualitativo, que visa descobrir opiniões e pensamentos de forma mais
aprofundada, estimulando o indivíduo respondente através de uma conversa
amigável com o entrevistador. Assim, torna-se possível o acesso a resultados mais
efetivos e diretos de acordo com o tema proposto pelo estudo.
É através desse tipo de pesquisa que encontra-se o material necessário para
entender as percepções do público, como aponta Aaker (2001, p. 206) que
“sentimentos, pensamentos, intenções e comportamentos passados são alguns
exemplos de coisas que só podem ser conhecidas por meio dos dados qualitativos”.
O método escolhido para obter a coleta dessas informações de forma
qualitativa se deu a partir da realização de entrevistas em profundidade, técnica que
47

pode ser definida por Malhotra (2001, p. 163) da seguinte maneira:

A entrevista em profundidade é uma entrevista não-estruturada, direta,


pessoal, em que um respondente de cada vez é incitado por um
entrevistador altamente qualificado a revelar motivações, crenças, atitudes e
sentimentos sobre um determinado tópico.

A sua aplicação é de suma importância, pois é através dela que se torna


possível aprofundar o estudo tendo como base a experiência dessas pessoas,
tatuadas e tatuadores, e, principalmente, analisar de que forma elas enxergam as
tatuagens como parte de uma marca.
A utilização da entrevista em profundidade, é positivo, pois proporciona uma
troca de informações simultânea, sem fazer com que o entrevistado se sinta
intimidado pela presença de outras pessoas, oportunizando que o resultado dessa
entrevista contemple experiências sensoriais e emocionais. Além disso, é excluída a
possibilidade do respondente ser influenciado pelas opiniões de terceiros, o que
pode acontecer na realização de grupos focais, por exemplo.
Sua aplicação se deu a partir da criação de dois roteiros com questões pré-
estabelecidas, um para o grupo de profissionais da tatuagem e outro para pessoas
que possuem tatuagens. As perguntas se repetiram quase que em sua totalidade
dentro de cada grupo de entrevistados, fazendo com que a análise dos resultados
seja coerente e permita estabelecer uma relação diante de todos os aspectos
abordados. Em alguns casos, no decorrer das entrevistas, novas questões que não
estavam no roteiro surgiram e foram aplicadas.
Outro fator relevante para que as entrevistas em profundidade
transcorressem de maneira equilibrada e coerente foi a escolha dos participantes.
Foi necessário a existência de uma seleção adequada entre as pessoas, para que o
resultado do estudo não fosse comprometido e atendesse aos objetivos da
pesquisa. Sendo assim, foi preciso criar um critério que atenda aos entrevistados,
sendo ele a presença de tatuagens no corpo do grupo amostral.

4.2 A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS TATUAGENS

A determinação do grupo amostral necessita apresentar algumas


semelhanças, para que o objetivo do estudo seja alcançado. Como a técnica de
48

pesquisa desenvolvida neste caso é a entrevista em profundidade,


consequentemente o número de respondentes não é muito elevado.
Existem dois tipos de classificação que são levados em conta no momento de
selecionar uma parcela de indivíduos para pertencer ao grupo de entrevistados. São
eles: amostragem probabilística e a não-probabilística. Para o estudo em questão,
foi adotada a classificação não-probabilística, que representa uma amostragem por
julgamento, tendo em vista que as pessoas selecionadas pelo pesquisador
apresentam alguns elementos semelhantes, que foram considerados como úteis
para esse procedimento (GREWAL, 2012).
Assim como o roteiro das perguntas, o universo da amostra se divide em dois
grupos. O primeiro contempla pessoas tatuadas que apreciam essa manifestação
corporal. O segundo foi composto por tatuadores com estúdios em Porto Alegre e
diferentes níveis de experiência no mercado, sendo eles iniciantes a muito
experientes.
O perfil foi composto por pessoas do sexo feminino e masculino, segmentado
entre mulheres tatuadas e homens tatuadores, escolha essa que se deu a partir da
predominância do sexo masculino no âmbito de profissionais da tatuagem. Assim,
para ter uma visão feminina, as mulheres ficaram caracterizadas nessa amostra no
grupo das pessoas tatuadas. A faixa etária dos respondentes varia entre 21 e 50
anos e essa amplitude foi escolhida justamente para englobar diferentes percepções
e trajetórias históricas do assunto. Para a seleção, não foi levado em conta o fator
de classe social.
A pesquisa foi aplicada com uma amostra de seis indivíduos, sendo eles três
tatuadores e três pessoas tatuadas, em dias e locais alternados. O Quadro 2 e 3
mostram o perfil resumido de cada entrevistado, apresentando informações básicas
sobre o grupo de tatuadores e o de tatuadas.

Quadro 2 - Perfil das tatuadas


Pessoa Iniciais Sexo Idade Profissão Número de
tatuagens

1 R.F. Feminino 25 anos Gerente de loja 32

2 C.S. Feminino 21 anos Redatora 1


publicitária
49

3 S.P. Feminino 50 anos Auxiliar contábil 6


Fonte: A pesquisadora (2014).

Quadro 3 – Perfil dos tatuadores

Pessoa Iniciais Sexo Idade Profissão Número de


tatuagens

4 C.R. Masculino 28 anos Tatuador 26

5 R.D. Masculino 23 anos Artista 7

6 V.F. Masculino 41 anos Tatuador 2


Fonte: A pesquisadora (2014).

O contato com esses indivíduos, em alguns casos, se deu a partir da


indicação de terceiros e dos próprios entrevistados, mas em sua maioria foi escolha
própria da pesquisadora. Todos tiveram o auxílio de meios online para realizar o
agendamento das entrevistas. Os respondentes tiveram a liberdade para escolher o
local de realização da pesquisa, além dos horários das mesmas. No início de cada
encontro, os entrevistados foram informados que a conversa seria gravada,
concordando com o fato para que nenhuma das informações ditas pudesse ser
alterada.

4.3 DESCOBRINDO PONTOS DE VISTA

Como exposto anteriormente, a aplicação das entrevistas aconteceu com dois


grupos de pessoas, os tatuados e tatuadores. É importante ressaltar que algumas
perguntas se repetiram para todos, mas algumas foram específicas para cada nicho.
Mesmo que exista o interesse em comum da tatuagem pelos dois grupos, os
entrevistados fazem partes de esferas diferentes da sociedade, e isso deve ser
levado em conta.
A aplicação das seis entrevistas em profundidade com o público definido na
amostra traz uma relação de dados qualitativos. O roteiro pré-estabelecido foi
aplicado, oportunizando que novos aspectos fossem questionados caso houvesse
necessidade. A seguir, observa-se alguns pontos que foram abordados durante as
pesquisas, apresentando as situações levantadas para os dois grupos de
50

entrevistados. Em ambos os casos, as questões foram divididas em quatro


categorias de perguntas.
Como mostra o Quadro 4, a entrevista foi iniciada, na sua fase de
aquecimento, com curiosidades sobre como a tatuagem entrou na vida de cada
entrevistado e como isso ocorreu, a fim de estabelecer o primeiro contato de forma
mais descontraída e perceber como seria a receptividade do indivíduo. As questões
iniciais foram aplicadas nos dois grupos de entrevistados.

Quadro 4 - O início da tatuagem na vida de cada um

1 Quantas tatuagens tu tem?

2 Há quanto tempo começou a se tatuar?

3 Por que começou a se tatuar?

4 Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?

5 Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


Fonte: A pesquisadora (2014).

A segunda categoria apresenta questionamentos diferentes, como mostram


os Quadros 5 e 6, perguntando para os tatuados como eles enxergam a profissão do
tatuador, o que o faz escolher um e se existe fidelidade nesse quesito. No caso dos
tatuadores, foi abordado sobre a sua profissão, há quanto tempo a realiza, se isso
sempre foi visto como uma atividade puramente profissional e se existiu alguma
referência no início de sua carreira.

Quadro 5 - A profissão do tatuador vista pelos tatuados


1 Como tu enxerga a profissão do tatuador?
2 O que te faz escolher um tatuador?
3 Em caso de mais de uma tatuagem, costuma fazer todas com o mesmo
tatuador? Por quê?
4 Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por
quê?
5 Costuma acompanhar os trabalhos dele? Se sim, de que forma?
Fonte: A pesquisadora (2014).
51

Quadro 6 - O tatuador e sua visão sobre a profissão

1 E sobre tatuar outras pessoas, começou há quanto tempo?

2 É a tua única profissão ou leva isso em paralelo a outra?

3 Sempre encarou isso como profissão ou começou como um hobby?

4 Como tu enxerga a profissão do tatuador?

5 O que te levou a se tornar um tatuador?

6 Existe alguma referência que te levou a essa profissão?

7 Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por
quê?
Fonte: A pesquisadora (2014).

O próximo ponto a ser abordado é mais objetivo e traz como principal


questionamento a visão que os entrevistados acreditam ter perante a sociedade,
além de determinar e citar características para pessoas que se tatuam, como pode
ser visto no Quadro 7.

Quadro 7 - As características sociais de uma pessoa tatuada

1 Quais as principais características de alguém que se tatua?

2 Como tu acha que as pessoas tatuadas são vistas perante a sociedade?


Fonte: A pesquisadora (2014).

Nesse momento, os entrevistados já estão bem descontraídos e à vontade


com o tema. Assim é possível partir para a etapa final da pesquisa, que revela o
objetivo principal do estudo. Os Quadros 8 e 9 mostram algumas das questões
abordadas acerca do assunto marca para os tatuadores e tatuados.

Quadro 8 - Falando sobre marca com tatuados

1 Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?

2 Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca. Por
quê?

3 Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?

4 O que essa marca representa para ti?


52

5 Quais são os atributos dessa marca?

6 O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?

7 Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Fonte: A pesquisadora (2014).

Quadro 9 - Falando sobre marca com tatuadores

1 Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?

2 Em geral, tu acredita que o tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?

3 Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?

4 O que essa marca representa para ti?

5 Quais são os atributos dessa marca?

6 Como tu enxerga o futuro da tatuagem?

7 E o futuro da tua marca?


Fonte: A pesquisadora (2014)

4.4 ANALISANDO PERCEPÇÕES

As informações encontradas nas entrevistas em profundidade foram


organizadas e categorizadas para serem analisadas. Assim, é possível ter uma
compreensão maior do objeto de pesquisa, já que o principal objetivo nesse caso é
descrever, avaliar e entender uma situação específica.
De forma geral, foi possível notar que os entrevistados se sentiram à vontade
para falar sobre o assunto e expressar suas opiniões, já que o tema tratado é de
grande relevância na vida de todos. Compartilhar sobre o significado da tatuagem na
vida de cada um demonstrou ser algo bem prazeroso para os entrevistados. A
seguir, apresenta-se a análise baseada nos principais pontos dos roteiros aplicados.

4.4.1 O início da tatuagem na vida de cada um

Pertencente ao grupo de tatuadas, a primeira entrevistada, R.F., contou que


começou a se tatuar há cerca de três ou quatro anos e que, atualmente, possui 32
desenhos na pele. Ela iniciou essa prática porque sempre gostou dos desenhos e
53

acha muito bonito as pessoas que possuem esse tipo de manifestação corporal.
Também afirma que, no início, teve como referência o cantor Donavon
Frankenreiter38, além de inúmeras bandas de rock. Para R.F., as tatuagens são bem
importantes na sua vida e representam aquilo que é de seu interesse, coisas que
estão relacionadas com a profissão escolhida, objetos que sempre gostou e fazem
parte do seu cotidiano.
Para a próxima entrevistada, C.S., a tatuagem é um evento recente, já que
começou a se tatuar há pouco mais de um mês e tem apenas um desenho no seu
corpo. Ela conta que sempre teve vontade de marcar na pele algo que houvesse
significado pessoal, fosse bonito e representasse uma etapa de sua vida. Além
disso, também diz que foi bastante influenciada por amigas, o que acabou
reforçando o seu desejo. No início, tinha receio de que as tatuagens fossem
atrapalhar no aspecto profissional, já que aspira trabalhar como atriz e deseja ter
uma carreira no teatro, mas se convenceu de fazer a primeira tatuagem quando viu
que isso não é um empecilho artístico. Sobre a importância dessa prática na sua
vida, afirma que em uma escala de 0 a 10 as tatuagens estão no nível 7, tendo em
vista que o que foi marcado no corpo já faz parte dela, apenas não havia sido
exposto para os outros.
S.P. fez sua primeira tatuagem há 12 anos, tendo sido influenciada pelo seu
primo que, na época, iniciava o seu trabalho como tatuador. Atualmente, possui seis
desenhos no corpo e uma vontade de ampliar essa lista, já que as tatuagens são
bem importantes na sua vida. Ela considera as tatuagens como uma arte, mas conta
que também teve receio sobre como os desenhos no corpo seriam aceitos perante o
mercado de trabalho. Porém, esse medo foi quebrado quando analisou e percebeu
que, para ela, era mais importante expressar no corpo algo que admira do que ficar
se perguntando sobre como seria se tivesse feito uma tatuagem.
Já no grupo dos tatuadores, C.R. relata que não sabe ao certo quantas
tatuagens possui, “A última vez que eu parei para contar eu deveria ter umas 25,
26”. Começou quando tinha 14 anos por querer ser diferente e mostrar a sua
essência, além, é claro, de toda a rebeldia e revolução que ele acredita que a
tatuagem traz consigo. Afirma que não possuiu nenhuma influência, mas que
admirava muito o trabalho que via em outras pessoas e, a partir disso, foi

38
Cantor norte-americano e surfista profissional.
54

construindo suas próprias referências. Sobre o nível de importância, comenta que


ele é a tatuagem e que a tatuagem é ele, que eles se completam e não consegue se
imaginar fazendo outra coisa que não seja tatuar as pessoas. Conta que ele vive
disso e respira tatuagem o tempo todo.
R.D. se classifica como um artista completo que, além de ser tatuador,
também trabalha com ilustração e publicidade. Começou a se tatuar há oito anos e
possui sete desenhos pelo corpo, todos eles bem grandes e cobrindo partes como
braços e canelas. Diz que não teve nenhuma celebridade o influenciando, apenas os
seus amigos, e começou com essa prática por acreditar que ela é uma ferramenta
de expressão de ideia. Nunca pensou se viria a se arrepender disso, apenas se
dedicou a escolher o desenho e sempre foi movido pela arte. Ele conta que a
importância da tatuagem na sua vida está em ascensão, no sentido de expansão da
profissão e que os desenhos no corpo estão no topo da sua lista de prioridades e
que busca aperfeiçoar esse aspecto.
O entrevistado V.F. prefere falar sobre o número de tatuagens como partes
do seu corpo que estão cobertas, já que fez e refez tatuagens no mesmo lugar com
o passar do tempo. Tem metade de uma perna coberta e a outra vai pelo mesmo
caminho. Relata que sua primeira tatuagem foi feita em 1989, com uma maquininha
que ele mesmo montou em conjunto com seu irmão, a partir do motor de um
Ferrorama39. Começou a se tatuar porque os amigos lhe mostraram como
funcionava uma máquina e isso despertou seu interesse, mas na época não era algo
bem visto pela sociedade. Ele conta que respira tatuagem, que mesmo quando tira
férias é para ir em convenções e aperfeiçoar o seu trabalho e completa dizendo que
é uma rotina que não tem como sair, pois é extremamente viciante.

4.4.2 - A profissão do tatuador

Ao serem questionados sobre a tatuagem como profissão, os entrevistados


apresentaram suas opiniões que, na maioria dos casos, segue o mesmo ponto de
vista.
R.F., como uma pessoa tatuada, admira os tatuadores, pois considera como
uma profissão difícil e complicada que exige muita atenção o tempo todo, pois é algo

39
Brinquedo produzido pela Manufatura de Brinquedos Estrela, com sucesso de vendas na década
de 1980.
55

que vai ficar para sempre no corpo de outra pessoa e ressalta que as tatuagens
podem ser vistas como arte “Eu tiro o chapéu para o tatuador porque eu fico
imaginando como deve ser difícil e complicado, é uma responsabilidade muito
grande. Enfim, tatuar é uma arte”. Todas as suas 32 tatuagens ela fez com o mesmo
tatuador e diz que, nas próximas, continuará fazendo com ele, pois se sente segura
e confia de olhos fechados no profissional que escolheu. Conta que quando está em
dúvida sobre o desenho ele mostra opções, dá alternativas e constrói algo junto com
ela e que isso reforça a sua segurança no profissional.
Para a entrevistada C.S., a profissão do tatuador é um grande desafio que se
repete todos os dias e escolheu o seu profissional pela sua competência e talento.
Ela acredita não adianta pagar barato se o trabalho apresentado não for muito bom
então, nesse caso, prefere qualidade a preço. Costuma acompanhar o trabalho do
seu tatuador no corpo de uma amiga - que também faz os seus desenhos no corpo
com ele - e afirma que as próximas que virão serão realizadas com o mesmo
profissional.
S.P. conta que gostaria de ter o dom para tatuar e considera que,
infelizmente, as pessoas não reconhecem como deveriam a profissão do tatuador.
Atenta para o fato de que, na hora de escolher um profissional, também se importa
com cuidados acerca da higiene dos materiais que serão utilizados, além da sua
competência. A entrevistada afirma que fez todas as suas tatuagens com o mesmo
profissional, é leal ao seu tatuador por saber que ele vai fazer um trabalho com
dedicação e profissionalismo e brinca que “tatuador nunca pode ser traído.
Namorado sim, tatuador não”. Além disso, costuma acompanhar o trabalho daqueles
que considera como referências através de redes sociais, como o Facebook40.
O tatuador e entrevistado C. R. conta que começou a tatuar outras pessoas
quando tinha 19 anos, em Minas Gerais. No início não era nada formal, sua cartela
de clientes era baseada em amigos e conhecidos. Essa decisão foi tomada por
acreditar no impacto e rebeldia das tatuagens, além de enxergar isso como uma
forma de arte livre e urbana, uma espécie de demarcação de território, e gosta de
ver nos outros a sensação de quando ele fez a sua primeira tatuagem. No começo
da sua carreira, afirma que teve importantes referências em aspectos profissionais e
pessoais, uma se tratando da qualidade do trabalho que ele aspirava fazer e outra
40
Site e serviço de rede social, onde os usuários podem criar um perfil pessoal, adicionar amigos,
trocar mensagens e compartilhar fotos e interesses em comum.
56

sobre o incentivo que recebeu, pois relata que, na época, o tatuador era visto como
um marginal e contar com a ajuda de alguém foi muito importante “Referência visual
foi mais o Zé, quando eu entrei no estúdio dele pela primeira vez eu pensei que eu
tinha que viver esse universo. E o Leandro foi um cara que me deu bastante força”.
Para R.D., a tatuagem como profissão é algo bem mais recente, já que
começou os seus primeiros trabalhos há dois meses e que, por enquanto, seus
clientes são amigos e a namorada. Além disso, trabalha com ilustrações e
desenhos, é publicitário e faz o gerenciamento do marketing de uma empresa. Ele
expressa que atualmente a profissão do tatuador está em ascensão, pois a
sociedade está aceitando melhor a presença de tatuagens. Para ele, isso se deve,
também, pelo fato de ser uma tendência na mídia, mas que isso é uma moda
apenas para um grupo de pessoas, não para aquelas que realmente vivem no
mundo da tatuagem. Completa contando que suas principais referências são de
artistas em si, como Vik Muniz, pois deseja ser reconhecido por todo o seu trabalho,
e não apenas pela tatuagem.
V.F. lembra de quando começou a tatuar, há 26 anos, e conta que na época
existiam apenas uns seis tatuadores em Porto Alegre. Sua história na tatuagem
começou na época do colégio, desenhando os colegas com caneta de nanquim.
Quando aprendeu a montar a sua própria máquina, passou a tatuar de verdade. Ele
não considera que o tatuador ainda seja uma profissão reconhecida, pois mesmo
que paguem impostos, tenham alvará de funcionamento, não é algo legalizado.
Relata que existe um levantamento recente que mostra que existem cerca de 400
mil tatuadores no Brasil, obtendo renda e gerando empregos, e acredita que por
isso, em breve, a profissão será legalizada.

4.4.3 As características sociais de uma pessoa tatuada

Quando os entrevistados foram questionados sobre como as tatuagens e os


tatuadores são vistos perante a sociedade foi possível notar uma certa insatisfação
em como o assunto é percebido por terceiros. Além disso, também foram
questionados quais são as características dessas pessoas com desenhos
estampados no corpo.
A entrevistada tatuada R.F.conta que, atualmente, pessoas de todos os jeitos
e estilos são tatuadas, que acredita não existir um estereótipo de pessoa tatuada,
57

mas imagina que para pessoas que não entendem muito do assunto pensam nesse
indivíduo como alguém “rock and roll”. Ela relata que, em determinados momentos,
já sofreu preconceito por ter uma tatuagem grande à mostra e acredita que isso é
efeito da tatuagem ter sido uma prática marginalizada no passado e que esse
preconceito está presente, em sua maioria, nas pessoas mais velhas.
C.S. acredita que existam perfis diferentes de pessoas tatuadas, mas que no
geral são indivíduos que possuem desapego ao corpo e ao material, que usam seu
corpo para mostrar suas convicções. Completa dizendo que os mais moralistas
enxergam como “oh, ele é tatuado”, mas que os jovens, dentro da sua geração,
veem o fato como algo cada vez mais comum.
Quando questionada, S.P. comenta que, felizmente, hoje as pessoas
tatuadas são vistas como alguém que cultua o seu corpo, mas que até pouco tempo
atrás não era assim. Além disso, acredita que as principais características dos
indivíduos que portam tatuagens no corpo contemplam a liberdade, ser uma pessoa
autêntica, mas principalmente livre e desprendida de tudo.
O tatuador C.R. enxerga dois grupos de pessoas tatuadas, denominadas por
ele como modistas e cultuadores da arte. O primeiro contempla aqueles que viram
um desenho em um artista ou um conhecido e querem fazê-lo igual. O segundo é
composto quem tem uma história para contar por trás daquela tatuagem e não a faz
por influência do meio. Além disso, acredita que a tatuagem está passando por uma
evolução, tanto no aspecto profissional como perante ao público em si.
R.D. acredita que pessoas tatuadas, no geral, prezam pela arte em si e estão
envolvidas com outros aspectos dela, como a música ou sua profissão. Também
afirma que são indivíduos livres de estereótipos e paradigmas e que tratam o seu
corpo como um templo, que está sempre sendo cultivado. Ele conta que percebe o
momento atual como o de uma transição, onde o preconceito acerca do tema está
sendo diminuído, mas ainda é existente.
O entrevistado V.F. conta que, atualmente, todos os tipos de pessoa se
tatuam e que ele já fez trabalhos em todos os níveis da sociedade. Acredita que não
existe mais uma “tribo da tattoo” e que talvez isso seja impulsionado pela mídia e por
programas de televisão que já falam abertamente sobre o assunto. Porém,
considera a sociedade muito hipócrita, já que as tatuagens só são aceitas porque
estão sendo mostradas por um jogador de futebol ou uma pessoa influente
58

financeiramente. Finaliza dizendo que hoje ele enxerga que ser tatuador é sinônimo
de status e que, de certa forma, a profissão ainda não legalizada está ganhando
uma dose de glamour.

4.4.4 Falando sobre marca

Nesse momento, os entrevistados são questionados sobre a relação entre


marcas e tatuagens, objetivo deste estudo. R.F. acredita que as tatuagens ajudam a
construir a marca pessoal de um indivíduo, pois representam o seu estilo e suas
vivências. Também cita que o tatuador pode ser considerado uma marca e que é
possível identificar tatuadores a partir do seu traço, sendo assim, as tatuagens como
parte dessa marca. Sobre o seu tatuador, ela menciona que a marca dele representa
confiança e que a carrega no corpo com orgulho. Quando questionada sobre o
futuro, ela diz que sempre que a perguntam sobre o assunto ela responde que vai
ser uma “velha tatuada” e que acredita que as pessoas estão se tatuando cada vez
mais.
A entrevistada C.S. diz com plena convicção que as tatuagens constroem
uma marca pessoal, pois são escolhas que foram feitas, e isso diz muito sobre
alguém. Comenta que os estúdios já são uma marca em si e que muitos deles
seguiram esse caminho porque tinham por trás um tatuador muito bom que foi
construindo o seu nome e, por consequência, a sua marca. Completa dizendo que a
pele das pessoas é o portfólio41 do tatuador.
Para S.P., as tatuagens que cada indivíduo faz no seu corpo representam a
sua identidade e a transformam em uma marca própria. Além disso, acredita que se
o trabalho do tatuador for bem feito e tiver a devida divulgação pode se tornar uma
marca consolidada, como já aconteceu com alguns tatuadores em Porto Alegre.
Comenta que, à medida em que se conhece tatuagem, é possível identificar o traço
e a marca própria que cada tatuador possui. Ela traz no seu corpo tatuagens que
representam orgulho diante da escolha do profissional que as fez e se sente parte
de um grupo seleto de pessoas por trazer essa arte no corpo.
O tatuador C.R. afirma que quando se sabe construir uma ideia se constrói
uma identidade e uma marca a partir de uma tatuagem e afirma que, se existir

41
Coleção de trabalhos já realizados de uma empresa ou de um profissional.
59

capacidade e boa vontade, o ser tatuador se transforma em uma marca “É isso que
o Verani fez para ele e o que eu quero fazer para mim”. Ele comenta que em todas
as suas tatuagens existe algo de semelhante, seja um traço ou uma cor, e faz isso
porque almeja ter a sua marca reconhecida a partir das tatuagens que faz. Comenta
que o futuro da tatuagem vai ser algo mais profissional, pois atualmente o Governo
tem promovido cursos de tatuagens em entidades como Senai42.
O tatuador iniciante R.D. acredita que as tatuagens, manifestação corporal
que está em ascensão, ainda são um diferencial e fazem parte de uma marca
pessoal dos indivíduos. Isso se deve, também, porque a mídia está impulsionando
esse fato. Ele enxerga o tatuador como uma marca, pois diz que o que constrói
aquilo não são as máquinas ou o estúdio, mas sim o próprio tatuador.
Já o experiente V.F. conta que, assim como podem ajudar a construir uma
imagem, elas também podem destruir, porque tatuagens não são commodities,
diferente de pacote de bolacha que se compra no supermercado. Dependendo do
profissional que se escolhe, se tem um resultado diferente. Comenta que para o
tatuador se tornar uma marca é preciso trabalhar da maneira correta e ter atenção a
todos os detalhes, pois se trabalha o tempo todo com o público. Mas quando isso é
bem feito, pode até inspirar marcas de roupas, algo bem comum no exterior.
Menciona que, mais do que fazer parte da sua marca, as suas tatuagens fazem
parte dele. Brinca que no seu corpo tem apenas duas, mas que tem milhares de
tatuagens andando por aí em outros indivíduos. Acredita que o futuro da tatuagem
vai ser repleto de novidades, pois a cada convenção surgem novos estilos e
técnicas. Finaliza dizendo que mesmo que um dia não exista mais a necessidade
financeira de tatuar, ele vai o fazer por prazer e que deseja de tornar um velhinho
tatuador.

4.5 CRUZAMENTO

Para realizar o cruzamento das informações coletadas, foram selecionados


alguns trechos e percepções consideradas importantes pela autora. As análises
resumem os principais aspectos levantados pelos entrevistados e permitem que os

42
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial é uma instituição privada brasileira de interesse
público, sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo apoiar 28 áreas industriais por meio da
formação de recursos humanos e da prestação de serviços técnicos e tecnológicos.
60

dados mais significantes sejam expressos para um entendimento completo da


pesquisa.
Durante a realização das entrevistas, foi possível notar que os entrevistados
se mostraram receptíveis ao serem questionados sobre a importância das tatuagens
nas suas vidas. É possível perceber que todos eles são muito envolvidos com essa
manifestação corporal e que, mesmo que em diferentes níveis, se orgulham de tê-la
no seu corpo.
Dentre as informações abordadas pelos entrevistados, uma que foi
unanimidade entre eles é a de que as tatuagens estão em evolução e integram um
panorama social muito importante na qual vivemos hoje. Em diversos casos, foi
citado que as tatuagens podem ser consideradas como uma arte e nomeiam
tatuadores como artistas. Isso vai de encontro ao pensamento de Araujo (2009), que
acredita que a pele se transformou na tela do artista, que será esculpida e decorada
por um tatuador.
Outro ponto a ser destacado é que os entrevistados acreditam que hoje os
praticantes da tatuagem deixaram de fazer parte de uma tribo exclusiva, como eram
reconhecidos antigamente. Atualmente, existem tatuados nos mais variados grupos,
em diversas etnias e situações financeiras. Assim como aponta Maffesoli (2000), ao
mencionar que, apesar das nossas características específicas, e a tatuagem é uma
delas, nós somos seres plurais, que não integram exclusivamente uma determinada
situação. É possível ser uma pessoa tatuada e ter o estereótipo de um jogador de
futebol, cantor sertanejo, executivo de negócios, dentre outras inúmeras
possibilidades. Hoje, ter uma tatuagem não é sinônimo de restrição a nenhum grupo
social.
Quando o tema marca foi abordado nas perguntas, as respostas giraram em
torno da identificação do tatuador como marca, tendo em vista que através de um
trabalho bem executado é possível transferir o seu nome, sua credibilidade e
atributos para um meio físico. Conforme aponta Randazzo (1996), a marca é mais
do que um produto, é uma entidade física e perceptual, e esse conceito se aplica ao
universo da tatuagem, pois através de cada traço, cada sombreado e cada aplicação
de cores realizadas por um tatuador, está se construindo uma marca.
Seguindo sobre o fato de o tatuador ser e representar uma marca, os
entrevistados se manifestaram favoráveis a essa opinião, argumentando que, em
61

muitos casos, estúdios famosos de tatuagens foram batizados a partir do nome de


um tatuador muito competente que se diferenciou perante o mercado e construiu sua
marca pessoal. Podemos observar esse fato no pensamento de Perez (2004), que
menciona as infinitas possibilidades de comunicação que a personificação das
marcas traz consigo.
De acordo com Neumeier (2008), o termo marca é baseado em percepções
íntimas, sentimentos acerca de um produto, serviço ou empresa. Esse sentimento é
denominado como visceral porque somos seres emotivos e intuitivos, mesmo que
busquemos a racionalidade. Ao final das contas, o que forma uma marca são
pessoas, não empresas, dando a cada indivíduo o poder de criar e dar atributos a
sua própria versão de uma marca. Esse pensamento vai de encontro a opinião dos
entrevistados, que expressaram que o tatuador pode sim tornar-se uma marca e se
diferenciar através de seus atributos pessoais. Isso acarreta em um sentimento de
orgulho e satisfação que cada tatuado tem em contar suas histórias através das
tatuagens e trazer essa marca estampada no seu corpo.
Ainda com relação a esses atributos, Gobé (2007) sinaliza que a
personalização é o ato de reunir inúmeras possibilidades e deixar com que as
pessoas façam a sua própria combinação e uso, gerando a partir delas um resultado
específico, fazendo com que nossas decisões sejam baseadas em atributos
simbólicos, muitas vezes, puramente emocionais. Esse pensamento está em
sintonia com a opinião dos tatuados nas questões que permeiam os motivos para a
escolha de um tatuador. Respostas como a qualidade do serviço prestado
apareceram, mas o que predominou e possuiu um destaque muito maior no
momento foram o carinho, a dedicação e confiança aplicados sobre esses trabalhos
no corpo. Uma das entrevistadas aponta que, como ela sempre se tatua com a
mesma pessoa, acaba associando ao seu tatuador não somente características
artísticas, mas também particularidades emocionais.
Tratando sobre comunicação, Machado (2009) afirma que a evolução dos
meios de massa, assim como o surgimento da internet, foram de suma importância
para a publicidade e propaganda. O mesmo aconteceu com as tatuagens e as
marcas pessoais dos tatuadores. Um dos entrevistados menciona que nos seus 26
anos de profissão, uma das mudanças mais significativas foi o surgimento de
plataformas online, que facilitam a divulgação do seu trabalho. Agora, o crescimento
62

de um profissional competente se dá de forma muito mais ágil, pois existem


ferramentas como o Instagram43, que ajudam a disseminar as tatuagens realizadas.
Além disso, antes do surgimento da internet existia uma visão sobre as tatuagens e
depois que ela se pulverizou, criou-se um verdadeiro boom no segmento da
tatuagem, fazendo com que a procura fosse muito maior do que a oferta. O
entrevistado aponta esse momento como um dos mais importantes para a tatuagem
recentemente, pois foi aí que muitos profissionais foram incentivados a entrar no
mercado, transformando a maneira como enxergamos a tatuagem através de uma
grande quebra de barreiras e preconceitos.

43
Rede social online de compartilhamento de foto e vídeo que permite aos seus usuários tirar fotos e
vídeos, aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de redes sociais.
63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia, buscando a possibilidade de estabelecer uma relação entre


a imagem do tatuador e as marcas, foi possível a partir da fundamentação teórica
guiada, sobretudo por Araujo (2009), que traz em seu pensamento toda a
contextualização da história da tatuagem e seus principais significados, fato crucial
para seguir com este estudo, assim como Neumeier (2008), que reforça o conceito
de que as marcas são baseadas em percepções íntimas e pessoais. Além disso, o
embasamento teórico teve como complemento a aplicação de uma pesquisa de
caráter qualitativo, cujo o critério principal era a existência de tatuagens ou o fato de
tê-las como profissão.
De forma geral, o estudo aqui apresentado proporcionou um entendimento
nos dois universos tratados, o da tatuagem e o da marca. Toda a construção da
história da tatuagem, e também a da marca, possibilitaram uma análise com um
embasamento, mostrando que essas duas áreas se cruzaram e foram
complementares em diversos momentos da história.
Além disso, foi possível encontrar os diferentes estilos de tatuagens, nas mais
variadas épocas, que marcaram história e foram responsáveis por importantes
movimentos sociais. Mesmo que elas não tenham influenciado o acontecimento
desses fatos, foram utilizadas como ferramentas para mostrar engajamento por
parte de um grupo de pessoas, em sua predominância, jovens. Isso comprova que,
mesmo inconscientemente, as tatuagens e as marcas sempre estiveram em
sintonia, pois cada estilo representa e significa algo sobre a pessoa que o porta.
Existem outras circunstâncias que também podem ser levadas em conta ao
decorrer deste estudo. Uma delas, por exemplo, é a representatividade cultural em
torno das tatuagens e da própria figura do tatuador. Vale ressaltar que,
historicamente, essas artes no corpo foram consideradas por muito tempo como
sinônimos de marcas criminais e, consequentemente, os tatuadores também eram
considerados como figuras ligadas ao crime. Assim como os portadores dos
desenhos eram encarados como marginais perante a sociedade, não sendo dignos
de conviver no mesmo ambiente que pessoas de origens tradicionais, em
determinado momento, as tatuagens também foram utilizadas em práticas de castigo
nas mais variadas culturas.
Enxergar todo esse contexto nos faz perceber que existiu uma grande
64

evolução em torno do assunto, já que o presente da tatuagem é bem diferente do


seu passado. Essas maneiras de expressar preconceitos e criminalizar o estereótipo
das pessoas que as utilizam acabaram se transformando em uma oportunidade de
construir a imagem de empreendedores através da personificação de uma marca,
tendo como ponto de partida desse processo o corpo dos tatuados.
A partir da realização das entrevistas, foi possível constatar que os
respondentes possuem uma relação muito pessoal, íntima e fundamentalmente
emocional com a imagem dos tatuadores e com o que seus trabalhos representam
no cotidiano, em aspectos individuais e coletivos. Essa imagem é construída de
forma subjetiva para cada pessoa e, mesmo que apresente semelhanças em alguns
casos, é algo específico e puramente único, pois está baseado em vivências,
experiências e percepções de cada um.
Ao analisar a representatividade que a figura do tatuador transmite para o
público, simultaneamente ao conceito de uma marca ser, acima de tudo, um
sentimento visceral, é plausível considerar que o tatuador assume o papel de uma
marca. Ele é a personificação de uma sequência de fatores emocionais e pessoais
que ganham forma e se transformam em uma figura com o poder, atributos e
características equivalentes ao de uma marca. Não necessariamente essa marca vá
possuir um signo único, tendo em vista que, como abordado anteriormente, esse
processo é individual e subjetivo.
Quando investigamos sobre o impacto histórico das tatuagens, tatuadores e
suas marcas entramos diretamente na busca de conexões emocionais que são a
base da relação entre esses elementos. Para reforçar a figura do tatuador como
marca, recorremos novamente ao fato de que a marca é retrata como um sentimento
visceral presente nas pessoas. Neste caso, as conexões emocionais são
transformadas em manifestações corporais, presentes no corpo dos tatuados,
através de suas convicções e desenhos no corpo.
Percebe-se que ao relacionar esses fundamentos conceituais sobre marca à
imagem do tatuador, possuímos uma sustentação que afirma essa ideia e a
comprova de maneira teórica, quando abordamos o aspecto de que uma marca é,
acima de tudo, uma percepção íntima. E, mesmo que nos esforcemos para alcançar
a racionalidade, este fato continuará se dando de maneira puramente emocional.
Em paralelo a esse acontecimento, a mesma afirmação é encontrada nas
65

entrevistas, onde foi possível estabelecer que existem relações de afeto e carinho
com o tatuador e que sua denominação como marca é adequada e reconhecida
perante o público. Há uma certa apropriação dos signos e desenhos que
representam essa marca por parte dos tatuados, pois além de demonstrar satisfação
sobre carregar em seu corpo um elemento do seu tatuador, eles também se sentem
integrados a um grupo seleto de pessoas, que se destaca perante os outros e é
pertencente àquela marca.
Sob o aspecto de que a propaganda é uma das grandes transformadoras do
atual ambiente cultural e social que vivemos, é possível perceber que a sua
presença se dá nas mais variadas formas, uma dessas manifestações é a própria
tatuagem. Já foi observado que as tatuagens podem representar uma marca e,
quando se trata de um tatuador competente, trazê-la consigo é transformar o próprio
corpo em um outdoor, fazendo com que a marca seja apresentada aos mais
variados públicos.
Quando falamos em futuro, é considerável expor a opinião dos entrevistados
de que todo o universo, tanto das marcas dos tatuadores em si, como as próprias
tatuagens em um contexto geral, tem muito a crescer e se desenvolver. Foi
destacado pelos respondentes que a mídia possui um papel muito importante sobre
essa revolução no ramo da tatuagem, pois o assunto saiu de uma antiga zona
cinzenta e passou a estampar programas de televisão e figuras importantes, como
jogadores de futebol e cantores. Essa exibição permite que os tatuadores possam
expor sua marca de maneira mais efetiva e traz para o público em geral uma visão
menos criminalizada.
Acredita-se que a presente monografia atingiu o seu objetivo geral de identificar
se as pessoas cultuadoras das tatuagens, assim como os próprios tatuadores,
enxergam a figura do profissional da tatuagem como uma marca. Em uma visão
estabelecida pelos próprios entrevistados, foi possível reconhecer que essa
identificação se deve, principalmente, pela relação emocional existente entre
tatuadores e tatuados. Esse pensamento foi o complemento de informações obtidas
a partir da bibliográfica, que embasou esse estudo.
Avaliando toda a pesquisa realizada, que teve como resultado esta monografia,
é possível perceber a manifestação de uma contribuição da temática para o campo
da publicidade e propaganda, assim como para a tatuagem, pois apresenta
66

pensamentos que são relevantes para ambas as áreas. Isso se dá porque, através
desse estudo, tatuadores poderão aprimorar as suas ferramentas de comunicação,
proporcionando a agências e empresas do setor um novo mercado que pode ser
explorado. Por fim, procurou-se investigar as características de duas áreas que,
aparentemente, são distintas e sem relação, mas que possuem muito em comum.
Se ambas trabalharem em conjunto, podem gerar resultados muito positivos e até
mesmo novas oportunidades mercadológicas, como a exposição de um mercado
que está em ascensão e que tende a trazer muito lucro para aqueles que estiverem
atentos a essa nova posição do mercado. Considerando que essa pesquisa foi
realizada com uma amostra pequena de entrevistados, deixa-se a proposta de
seguir futuramente o estudo e continuar o desdobramento de seu processo, para
aprofundar a relação entre esses dois aspectos.
A autora considera ter alcançado o objetivo inicial e espera ter contribuído para
o meio acadêmico com este trabalho que possui uma tentativa de ampliar o
conhecimento sobre essas duas áreas. Desde o início deste estudo, com os
conceitos e históricos sobre as marcas e as tatuagens, sendo complementados
pelas entrevistas em profundidade realizadas, muitas visões importantes foram
reveladas, trazendo à pesquisadora informações necessárias sobre a temática, a
capacitando para estabelecer um entendimento sobre o tema proposto. Todas as
etapas do trabalho foram de suma importância para a autora, como praticante da
tatuagem desde os seus 14 anos de idade, tendo no presente momento 13
desenhos no seu corpo e, também, como estudante de comunicação social no curso
de publicidade e propaganda. Essa pesquisa resulta em uma importante e
expressiva oportunidade de estudo de dois temas tão significativos em sua vida,
tanto no quesito acadêmico, como no pessoal, resultando em mais uma linha escrita
com paixão e arte.
67

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70

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM PESSOAS TATUADAS

Nome: Idade: Profissão:

1. Quantas tatuagens tu tem?


2. Há quanto tempo começou a se tatuar?
3. Por que começou a se tatuar?
4. Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?
5. Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?
6. Quais as principais características de alguém que se tatua?
7. Como tu acha que pessoas tatuadas são vistas perante a sociedade?
8. Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?
9. Como tu enxerga a profissão do tatuador?
10. O que te faz escolher um tatuador?
11. Em caso de mais de uma tatuagem, costuma fazer todas com o mesmo
tatuador? Por quê?
12. Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por
quê?
13. Costuma acompanhar os trabalhos dele? Se sim, de que forma?
14. Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por
quê?
15. Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
16. O que essa marca representa para ti?
17. Quais são os atributos dessa marca?
18. O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu
corpo?
19. Como tu enxerga o futuro da tatuagem?
71

APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA COM TATUADORES

Nome: Idade: Profissão:

1. Quantas tatuagens tu tem?


2. Há quanto tempo começou a se tatuar?
3. Por que começou a se tatuar?
4. Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?
5. E sobre tatuar outras pessoas, começou há quanto tempo?
6. É a tua única profissão ou leva isso paralelo a outra?
7. Sempre encarou isso como profissão ou começou como um hobby?
8. Como tu enxerga a profissão do tatuador?
9. O que te levou a se tornar um tatuador?
10. Existe alguma referência que te levou a essa profissão?
11. Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?
12. Quais as principais características de alguém que se tatua?
13. Como tu acha que os tatuadores são vistos perante a sociedade?
14. Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?
15. Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por
quê?
16. Costuma acompanhar os trabalhos dele? Se sim, de que forma?
17. Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por
quê?
18. Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
19. O que essa marca representa para ti?
20. Quais são os atributos dessa marca?
21. Como tu enxerga o futuro da tatuagem?
22. E o futuro da tua marca?
72

APÊNDICE C - ENTREVISTA R.F.

R.F, 25 anos. Sou gerente de loja e estudante de moda.

- Quantas tatuagens tu tem?


32.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


Faz uns três ou quatro anos.

- Por que começou a se tatuar?


Na verdade eu comecei com estrelinhas, que eu sempre fui muito apaixonada por
estrelas, e acho que foi porque eu sempre gostei de tatuagens, de ver pessoas com
tatuagens e resolvi fazer também.

- Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?


Pessoas de banda, bandas de rock. Mais no geral assim, mas eu sempre gostei
muito das tatuagens do Donavon Frankenreiter, que eu sou mega fã, ele tem os
braços fechadões assim e eu sempre gostei muito porque eram bem coloridas.

- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


Eu trabalho em uma loja que é super aberta pra isso, então isso me oportunizou que
eu fizesse todas essas tatuagens. E a minha futura profissão também não exige que
eu não tenha tatuagem, inclusive a maioria dos designers de moda são bem
tatuados. Tenho tatuagens de moda, de bichos do mar que eu sempre gostei, até
porque eu surfava também, então acho que as minhas tatuagens todas elas tem
alguma coisa a ver com os meus gostos, com aquilo que me interessa e com a
minha profissão.

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Eu acho que não tem nenhuma limitação assim, no meu ponto de vista pessoas de
tudo que é jeito e diferentes estilos são tatuadas, mas existe uma visão dos outros
para uma pessoa tatuada que é tipo “ah, uma pessoa tatuada é mais rock and roll, é
73

mais alternativa, é mais não sei o que”. Eu não vejo o estereótipo de uma pessoa
tatuada, qualquer um pode ter ou pode ser tatuado também.

- Como tu acha que pessoas tatuadas são vistas perante a sociedade?


Eu tenho 32 tatuagens, é um monte, mas a maioria das minhas são pequenas. Só
que eu já vi na rua pessoas me olhando com uma cara meio estranha tipo “ai essa
guria é cheia de tatuagem”. Até no ônibus, teve uma ocasião que uma senhora
deixou de sentar do meu lado porque eu tava com o braço que é mais tatuado
exposto. Ela estava indo sentar e olhou e mudou de banco. Antigamente tatuado era
cadeieiro e maloqueiro, hoje em dia não é mais assim, até pelo contrário. Mas acho
que ficou um preconceito ainda, principalmente para o pessoal mais velho, a
respeito de pessoas tatuadas.

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Sim, eu acho que até quando envolve assim, no meu caso, eu tenho uma tatuagem
que eu fiz agora há pouco até, com os desenhos da moda, agulha, linha e essas
coisas, todo mundo que vê a minha tatuagem sabe que eu faço moda. Acho que
entra um pouco no estilo da pessoa, o que ela for tatuar acaba compondo todo o
estilo dela também.

- Como tu enxerga a profissão do tatuador?


Eu acho muito legal. Eu tiro o chapéu pra tatuador porque eu fico imaginando como
deve ser difícil e complicado, inclusive até pra quem está começando, porque é uma
responsabilidade muito grande. É uma coisa que tu vai fazer e vai ficar para o resto
da vida na pessoa, então tem que ser muito bem feito, tem que ser um profissional
com um traço firme, tem que saber desenhar. Enfim, tatuar é uma arte.

- O que te faz escolher um tatuador?


Todas as minhas foi com o mesmo tatuador, sou apaixonada por ele, não troco,
inclusive vou fazer todas as minhas outras com ele também porque eu me sinto
segura. Eu não tenho medo dele errar ou de fazer uma coisa que eu não quero. Tem
vezes que eu estou na dúvida e ele vai lá e me dá uma luz, sugere uma coisa
diferente pra mim, me ajuda a mudar uma coisa que eu já tinha. Então, basicamente,
é segurança e confiança.
74

- Quando falamos em tatuador, o que vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Confiança. Confio de olhos fechados nele.

- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Sim, acho que sim. Tem vários tatuadores bem conhecidos assim, que tem gente
até que consegue, eu não conseguiria diferenciar, mas tem gente que vê uma
tatuagem e tu sabe que é do Heráclito, porque o traço dele já é uma marca
registrada, não deixa de ser uma marca do tatuador.

- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Talvez, talvez sim. Até o meu tatuador, no início, eu vejo que ele mudou o traço dele
desde que eu comecei. Não sei se é pelas minhas tatuagens terem sido bem
diferentes uma da outra, ou porque o estilo dele acabou mudando. Talvez até, acho
que mais por parte do desenho mesmo.

- O que essa marca representa para ti?


Se falando no caso do meu tatuador que eu tenho plena confiança, que não
pretendo mudar nunca, eu tenho até orgulho porque ele é um baita profissional, eu
sei que ele faz com carinho, ele faz com amor. Eu pelo menos, e imagino que todos
os clientes também tenham, carrego com orgulho a marca dele no meu corpo.

- Quais são os atributos dessa marca?


Eu diria que é diferente, até porque eu tenho colegas na faculdade que são todos
tatuados, uma é tatuada da cabeça aos pés, e ela é apaixonada pelas minhas. Ela
tem o tatuador dela de anos também, mas é apaixonada pelas minhas. Eu acho que
quem se tatua, quem conhece, já olha e vê uma diferença. Eu gosto dos traços, das
cores que ele usa, da atenção que ele dá pros desenhos. Muitas vezes eu chego lá
perdida e ele me dá a luz no fim do túnel e fica perfeito.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Todo mundo me pergunta como vai ser quando eu ficar velha, e eu respondo que eu
vou ser uma velha tatuada. Eu tenho consciência de que eu vou ficar tatuada pro
resto de vida e eu quero que fiquem marcadas, não queria que fosse uma coisa
75

passageira como tatuagem de henna. São coisas que marcaram a minha vida e que
eu não mudaria de opinião daqui alguns anos. Acho que, cada vez mais, está todo
mundo se tatuando mais. Tem gente que faz a primeira tatuagem já velha, vovózona
assim. Espero também que deixe de existir o preconceito com as pessoas que tem
tatuagem, acho que tem só a crescer, cada vez mais.
76

APÊNDICE D - ENTREVISTA C.S.

C. S, 21 anos. Sou redatora publicitária.

- Quantas tatuagens tu tem?


Uma, por enquanto.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


Faz pouco mais de um mês.

- Por que começou a se tatuar?


Muito por... vários motivos, na verdade. Eu acho bonito, faz um tempão que eu
queria colocar no meu corpo algo que tenha significado, seja bonito e represente
algo especial pra mim, e também por influência de amigas. Acho que os principais
motivos são esses.

- Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?


Uma coisa que eu pesquisei nas celebridades é sobre trabalho mesmo, se os atores
conseguem trabalhar com tatuagens. E vários atores conceituados têm tatuagens,
isso foi um dos motivos que me influenciou também, e eu só não tinha feito antes
porque achava que isso poderia me prejudicar profissionalmente. Eu pesquisei
principalmente a Angelina Jolie, que tem várias tatuagens, e eles maquiam às vezes.

- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


Numa escala de 1 a 10 acho que 7. Por que é uma marca, mas é algo físico, aquilo
já está em mim. A tatuagem é só para comprovar mesmo.

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Acho que tem alguns perfis diferentes. Tem pessoas que querem se afirmar, e na
verdade não tem princípios específicos, e outras se tatuam por desapego mesmo,
desapego ao corpo, desapego ao material e usam o corpo como um lugar para
expressar as suas convicções.
77

- Como tu acha que pessoas tatuadas são vistas perante a sociedade?


Perante os moralistas ainda é “oh, tatuado” ou “ah, jovem”. Mas os jovens, dentro da
nossa geração, são bem vistos porque tatuagem é uma coisa cada vez mais
comum, e também o preconceito no trabalho com as tatuagens está diminuindo.

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Com certeza, porque tu nasce de um jeito. Tu não pediu para nascer com aquelas
características, eu não escolhi nascer com a cor do meu cabelo assim, isso me
define, mas não é algo que eu escolhi. Agora, a tatuagem é algo que eu tive total
influência sobre. É algo que eu escolhi o desenho, eu coloquei me mim e escolhi o
lugar do corpo. Eu enxergo a tatuagem assim como os acessórios, as roupas que tu
usa e a cor que tu pinta o teu cabelo.

- Como tu enxerga a profissão do tatuador?


Eu acho muito foda, acho uma arte muito legal mesmo. Acho que é um desafio muito
grande que se repete todos os dias.

- O que te faz escolher um tatuador?


Acho que competência e talento mesmo, porque tem que ver a habilidade do cara.
Não adianta fazer com um cara que é super barato e não ter um trabalho legal. Tem
que dar uma olhada no trabalho dele antes.

- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Sim, o Carlos! Que fez a minha tatuagem. E ele vai ser o meu próximo também, na
próxima que em breve virá.

- Costuma acompanhar os trabalhos dele? Se sim, de que forma?


No corpo da minha amiga. Tenho uma amiga que sempre se tatua com ele.

- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Acho que sim, acho que se o cara for muito foda sim. Os estúdios já são uma marca,
tem lá o Verani, o Heráclito, o Vertigem, mas o estúdio do Heráclito é porque o
Heráclito é muito foda, é muito bom, e conseguiu dar o nome dele para o estúdio.
Quando o profissional é muito competente, as pessoas procuram por ele e não pelo
78

estúdio. Esse foi o caso do Carlos, que saiu do Mantra e conseguiu criar sua marca
própria. Isso é um baita passo, porque significa que ele já transcendeu a principal
etapa.

- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Sim, com certeza. O portfólio dele é a pele das pessoas.

- O que essa marca representa para ti?


Acho que representa uma troca entre ele fazer algo muito legal no meu corpo, sobre
algo que eu estava querendo muito.

- Quais são os atributos dessa marca?


Eu acho que dedicação, paixão e interesse pelo assunto.

- O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?
Representa uma escolha, uma escolha minha que eu vou levar para o resto da
minha vida. Está no meu corpo aquela escolha.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Eu acho que ela vai ser cada vez mais aceita, cada vez mais comum. Vão existir
ainda várias tecnologias de tintas, de agulhas. Acho que vão existir até tatuagens
que serão temporárias, inclusive técnicas de remoção mais fáceis e mais indolores.
Imagino que vai ser mais utilizado pelas pessoas, vai ser discriminalizado, é um
processo que está acontecendo.

- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Acho que agora tem essa coisa de “ah, todo mundo tem tatuagem, eu não tenho, eu
sou diferente”. Mas não acho que chega a ser uma moda não ser tatuado, é mais
uma birra das pessoas mesmo.
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APÊNDICE E - ENTREVISTA S.P.

S. P, 50 anos. Sou auxiliar contábil.

- Quantas tatuagens tu tem?


São seis.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


Faz uns 12 anos.

- Por que começou a se tatuar?


Por que eu sempre achei muito legal, muito bonito, mas eu tinha um certo receio, um
medo em relação a trabalho e essas coisas. Mas eu achei que deveria ser colocado
em primeiro lugar aquilo que eu admirava tanto, e tatuagem é uma arte. É uma arte
que tu deixa estampado no teu corpo para sempre.

- Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?


Não, celebridade não. O meu primo tatuador foi uma influência, porque como era
uma coisa que eu sempre gostei, vendo ele fazer me ajudou a criar coragem e fazer
a minha primeira.

- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


É bem grande, diria que uns 80%.

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Ela é uma pessoa livre, principalmente de preconceito. Ela é uma pessoa autêntica,
uma pessoa que curte e que gosta de beleza, mas principalmente é uma pessoa
livre. Eu vejo uma pessoa tatuada e eu vejo uma pessoa livre, é sinônimo de
liberdade. É alguém totalmente desprendido de tudo.

- Como tu acha que pessoas tatuadas são vistas perante a sociedade?


Hoje, graças a Deus, elas são vistas dessa forma: como pessoas que cultuam a
beleza. Ainda bem, porque até pouco tempo atrás não era assim.
80

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Acredito que sim, porque a partir do momento que tu resolve fazer uma tatuagem -
as pessoas conscientes, porque é dessas que a gente tá falando. Quando tu decide
fazer uma tatuagem não é “ah, vou desenhar um periquito” ou “ah, que lindo aquele
sol, vou desenhar”. Tu busca coisas que tenham a tua identidade, que se
identifiquem contigo, então aquilo ali passa a ser a tua marca. Tu vê as tatuagens, tu
enxerga a pessoa.

- Como tu enxerga a profissão do tatuador?


Maravilhosa, gostaria de ter esse dom. Não acho que as pessoas enxergam o
tatuador como profissão como deveriam, porque é um profissional e, na maioria das
vezes, pessoas fora do meio da tatuagem, que não sejam as que se tatuam e vivem
disso, nem encaram o tatuador como profissional. O que eu acho muito errado,
porque é um puta profissional.

- O que te faz escolher um tatuador?


Conhecer o trabalho dele, ver se ele é um profissional sério e saber se ele trabalha
com todos os cuidados necessários com os materiais.

- Em caso de mais de uma tatuagem, costuma fazer todas com o mesmo tatuador?
Por quê?
Sim, por acreditar no trabalho, saber que é um trabalho bom e lealdade. Lealdade a
uma pessoa que faz em mim uma coisa que vai ser permanente, com dedicação e
profissionalismo, uma coisa bem feita. Acho que tatuador nunca pode ser traído.
Namorado sim, tatuador não.

- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Verani, porque ele é um mito na tatuagem. Aqui na cidade, no Estado, acredito que
Região Sul e talvez até mais do que isso.

- Costuma acompanhar os trabalhos dele? Se sim, de que forma?


Sim, sempre. Pelo Facebook.
81

- Em geral, tu acredita que um tatuador pode ser considerado uma marca? Por quê?
Acredito que sim, eu acho que pode pela dedicação que ele dá ao trabalho que ele
faz, a divulgação desse trabalho, como ela é feita. Se for um trabalho bem feito
nesse sentido pode sim associar muito o tatuador a uma marca, como é feito com o
Verani, por exemplo.

- Tu enxerga as tatuagens feitas por ele como parte dessa marca? Por quê?
Algumas sim, a maioria. Claro, o tatuador é um profissional, chega lá uma pessoa e
quer tatuar ele vai fazer e não pode simplesmente fazer só o que transmite ele, a
personalidade dele. Muitas vezes sim. Deve ter algumas que é 100% o gosto da
pessoa, o que ela quer, mas na maioria dos casos transmite muito o que tatuador
quer, o que ele é. Por que tem uma sequência, a partir do momento que tu gosta de
tatuagens, tu consegue identificar traços, cores, o modo que aquele profissional
trabalha e acho que dá pra identificar sim.

- O que essa marca representa para ti?


Eu associo muito a uma batalha constante, um trabalho constante. Eu acho que, não
sei se é devido a sequência, a tu fazer sempre com aquela pessoa, que tu acaba
associando não só o artístico, mas a parte emocional também, o profissional, o que
a pessoa é. E assim como tem o supermercado Zaffari, qualidade é o que importa,
preço não, tudo tu vai associando. E no caso do tatuador, o Carlos que é o tatuador
que eu fiz quase todas as minhas tatuagens, foi sempre fazendo com ele, com ele, é
uma batalha, é um dia a dia e um crescimento que tu acompanha.

- Quais são os atributos dessa marca?


Perfeição, tem carinho naquilo. Eu consigo enxergar isso pelo menos, o trabalho e a
marca dele eu vejo como uma coisa perfeita, onde existe dedicação, e muita
qualidade.

- O que acrescenta na tua vida trazer a marca desse(s) tatuador(es) no teu corpo?
Orgulho, eu gosto. Eu acho muito legal mostrar e dizer “olha, essa aqui foi o Carlos
que fez. Eu fiz em tal época, por tal motivo, queria fazer tal coisa e ele me sugeriu
fazer assim e assado”. Até porque, querendo ou não querendo, quando tu faz muitas
tatuagens e faz muitas com a mesma pessoa, tu acaba criando um vínculo de
82

amizade. E eu acho isso super importante, super bonito, tu mostrar uma arte. Eu me
sinto muito orgulhosa em dizer foi tal pessoa que fez. Isso é importante pra mim, eu
poder mostrar, através do meu corpo, toda a capacidade que aquela pessoa tem. É
como se eu fizesse parte de um grupo seleto de pessoas.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Eu acho que está crescendo muito rápido, e acho ótimo tudo isso. E também ao fato
das pessoas serem mais descoladas hoje, pensarem mais, não serem bitoladas
como eram antigamente eu acho que só tende a crescer.

- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Eu acho que não. Talvez, claro, que vá existir essas pessoas que acompanham
somente a moda, provavelmente façam uma tatuagem hoje e daqui há 10 anos vão
estar profundamente arrependidos. Mas aqueles que, talvez seja meio forte usar
esse termo, os adoradores de tatuagem, eles não estão nem aí para a moda, eles
fazem aquilo porque é uma coisa que eles acreditam, que eles gostam, que tem um
sentido para eles fazer aquilo ali, não tem nada a ver com moda.
83

APÊNDICE F - ENTREVISTA C.R.

C. R, 28 anos e tatuador.

- Quantas tatuagens tu tem?


A última vez que eu parei pra contar eu devia ter umas 25, 26.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


Eu comecei a me tatuar um pouco velho vamos dizer. Eu entrei no mundo quando
eu tinha 14 anos e tatuar profissionalmente foi a partir dos 19.

- Por que começou a se tatuar?


Olha, é uma pergunta interessante. Eu acho que está muito na essência da pessoa,
querer ser diferente, querer mostrar o que realmente está dentro de você. É mostrar
de uma forma mais visual, mais agressiva e eu acho que a própria tattoo te põe isso,
te dá a opção de fazer isso. Mas o porque eu fui me tatuar, acho que foi mais pela
rebeldia, por ser revolucionário assim. Eu tinha 14 anos, estava no auge da rebeldia,
então foi isso que me fez a ir tatuar, me deu esse impulso de querer me tatuar.

- Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?


Foi mais da minha cabeça, nunca tive influência de celebridade nenhuma. Óbvio que
a gente sempre tem referências visuais, tipo “olha que massa o desenho daquele
cara”, mas partiu mais de mim mesmo.

- E sobre tatuar outras pessoas, começou há quanto tempo?


A partir dos 19 foi mais profissional, antes disso era muito meia boca. Um amigo
aqui, um amigo ali.

- Sempre encarou isso como profissão ou começou como um hobby?


A partir dos meus 19 anos eu virei e falei “bá, eu vou tatuar profissionalmente”.
Comecei a tatuar em Minas Gerais e depois vim para Porto Alegre.
84

- O que te levou a se tornar um tatuador?


De uma certa forma, além de ter esse impacto de rebeldia, eu acho que é uma forma
de arte muito natural, muito linda assim. É uma coisa que você carrega para sua
vida inteira aquela essência e aquela rebeldia. Por mais que você vá ficar velho é a
mesma essência, é a mesma rebeldia e a vontade de ser livre e fazer o que bem
entende. Acho que de todo o nível de arte foi a que me chamou mais atenção. É
mais por ser uma arte mais livre, mais urbana, demarcação de território mesmo.
Acho que o que me levou a ter vontade de seguir essa carreira de tatuador é poder
ver as pessoas tendo a mesma sensação que eu tive quando eu fiz a minha primeira
tattoo.

- Existe alguma referência que te levou a essa profissão?


Eu tive vários, não vou negar. O Zé, cara que me tatuou pela primeira vez, quando
eu entrei no estúdio dele eu pensei “meu Deus do céu, isso aqui é um mundo
paralelo. Eu tenho que viver isso, eu quero viver isso”. Depois do Zé teve o Leandro,
que foi um cara que me deu bastante força. Por mais que ele não era uma referência
em trabalho, porque o trabalho dele era bem fraco, mas em referência a incentivo foi
quem me influenciou bastante. Isso influencia bastante no cara que vai trabalhar
com tatuagem. Você tem que ter uma referência profissional e estética, mas também
precisa de uma referência que te apóie porque, querendo ou não, é um trabalho
muito discriminado. Muita gente ainda olha o tatuador como um marginal e, hoje em
dia, não está sendo isso, está sendo bem mais profissional. Mas tive essa referência
de apoio, de dizer “cara, corre atrás que você tem talento e vai conseguir”. E visual
mesmo, foi mais o Zé minha grande referência.

- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


É minha vida, 100%. Eu vivo disso, eu respiro isso, eu pago minhas contas a partir
disso. Então o nível de importância sou eu. Eu sou a tattoo e a tattoo sou eu, me
completa assim. Acho que sem isso eu não viveria completo, não saberia o que
fazer. Eu não me imagino fazendo outra coisa, então acho que o nível da tattoo na
minha vida é 100%. Espero que vá mais, mais de 100 até o infinito.
85

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Essa é uma pergunta bem difícil porque depende muito de cada pessoa e de cada
situação. Hoje em dia tem o tatuado e o modista. Geralmente o modista vem até
uma parte, ele nem tem a essência de quem quer se tatuar “ah, eu quero ter uma
tattoo porque eu vi isso, eu vivi isso”. Ele vem porque tem uma referência de algum
artista, de alguém, alguma coisa, algum amigo, um famoso, alguma coisa do tipo
que deu a vontade de fazer. Isso pra mim, eu classifico como modista. E o resto que
vem contando uma história, tendo a sua própria vontade de ter aquele trabalho
exclusivo ou copiando de alguém, esse cara eu classifico como o tatuado, como o
cara que cultua a tatuagem. Em relação de gênero financeiro são todos, não separo
ninguém. Acho que todo mundo tem a sua vontade de tatuar, tanto sendo modista
como o tatuado, cultuador da tattoo. Acho que não tem uma classificação, não tem
como definir “ah, cada cliente é assim”. Eu posso tentar definir cada pessoa, mas
generalizar é muito difícil e, eu acho que isso acontece com vários profissionais.
Generalizar o seu grau de clientes não tem como. Querendo ou não, você tem que
focar em todo mundo, em todo estilo. Se você escolher um só não tem como
trabalhar. Se você conseguir focar todos os níveis, tanto as classes mais altas
quanto as mais baixas, do modista para o cultuador é meio difícil determinar.

- Como tu acha que os tatuadores são vistos perante a sociedade?


A tatuagem está evoluindo bastante. Hoje em dia dá até vontade e fascínio de
estudar e ler sobre a tatuagem, os tatuados, ou histórias das pessoas sobre
tatuagens. Tem gente que te conta histórias que tu fica “meu Deus!”. É uma
evolução a pessoa estar se assumindo com aquilo. É uma evolução mais foda você
vir com uma ideia e gravar aquilo no seu corpo. Tanto para a tatuagem em meios
mais profissionais, tanto no meio do público em si.

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Se você souber construir a sua ideia ajuda a construir bastante. Você é o que está
gravado, a sua emoção que está ali. Então você pode contar toda a sua história de
vida com um só desenho, é como se as tatuagens falassem por ti. Hoje em dia ela é
considerada uma identificação, tanto na parte criminal, ela é um símbolo de
identificação. A pessoa que é presa, além de ser presa, tem a sua tatuagem
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fotografada. Os policiais estudam o significado das tatuagens, até para identificar


gangues. É uma identidade, uma identidade muito forte.

- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Regional, no Rio Grande do Sul, o Verani. Mundial, são muitos, é muito foda. Mas
mundial, para mim, uma grande referência que eu tive é o Joe Capobianco. Ele
trabalha muito com cartunismo e o cara é muito foda. No Brasil eu fico com o meu
amigo Abel Rodrigues, que para mim é um artista completo. O cara faz desde
escultura a gesso a esculturas de plástico, ele é o verdadeiro artista. Do zero ao
limite assim. Tem muita gente, se eu for te falar, te falo um livro porque vai um pra
cada estilo. Por que, querendo ou não, a tatuagem se ramifica em vários estilos.
Tem o cara que tem o seu próprio estilo, tem o que melhora um estilo que já existe e
se sobressai. Tem o estilo em preto e branco, o colorido, o comics. É muito difícil. Se
for por estilo, tem um para cada, sempre. Mas generalizando é o Joe Capobianco.

- Se tu tivesse que se definir em um estilo de tatuagem, em qual seria?


Eu curto muito o Old, mas não me adaptei ao Old tradicional. Gosto do Old mais
New assim, e esse é um que eu me identifico mais, que é o New Old, que eu tenho
mais prazer em fazer. É meio foda, porque o oriental também é um estilo que eu
adoro fazer, mas também não curto fazer muito o tradicional. Não me encaixaria no
tradicional. Trabalho com o que exija mais criação, posso até pegar referências do
Old, que é o mais tradicional, mas quero botar sempre algo diferente em cima. Uma
cor, um efeito, um fundo, uma expressão, um traço, tudo isso identifica até o
tatuador. Você pode ver que cada tatuador exerce uma linha de trabalho. As minhas
tatuagens são todas igual, mesmo que os desenhos sempre mudem, a essência, o
traço vão ser sempre os mesmos.

- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Se ele tiver boa vontade ele se transforma numa marca, o ser, pessoa se transforma
nessa merca.

- Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
Tanto na parte de aplicação, de posição, as tatuagens identificam e se tornam uma
marca. É o que eu quero fazer para a Don Carlitos, é o que o Verani fez para ele.
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- O que essa marca representa para ti?


Eu, minha essência, minha vontade, minhas conquistas. A minha marca me
representa, sou eu. É a minha índole que está ali, é o meu caráter que está na
marca. Ao mesmo tempo que ela possa te passar confiança por ser uma marca
forte, ela me define.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Eu enxergo um futuro bem respeitado e até meio empresarial, que a tatuagem vá
acabar virando um lance meio empresarial e vá dar esse retorno. O Governo hoje
em dia já está dando cursos no Senai de tatuagens, então vai chegar um pouco que
ela vai virar profissão e vai ser reconhecida. Bem mais do que ela é.

- Hoje tem o modismo de uma galera que faz tatuagens porque todo mundo tem. Tu
acredita que um dia vá ser moda não ter tatuagens?
Acredito que sim. Está tendo essa evolução, isso eu noto aqui na minha loja. Então
por mais que o cara tenha a ideia da moda, a ideia de ser modista porque viu um
amigo com a mesma tatuagem ele está com vontade de ter a ideia dele e também
acho que depende muito do profissional estimular a vontade dele. Eu sempre
procuro falar “cara, para que fazer algo igual se a gente pode fazer diferente, coloca
a sua ideia e a sua vontade real”. Não é porque viu um surfista que tinha uma carpa,
que tu é um surfista e curte carpa que tem que fazer exatamente a mesma coisa.
Acho que a evolução está ajudando até nisso. Acho que vão ter pessoas que não
vão copiar e acho que vão ter pessoas que acabarão com essa grande onda da
tatuagem. Acho que na próxima geração vai ter uma galera que vai curtir não ter
tatuagem, vai ser um outro nível assim, vai ter seus altos e baixos. Em relação a
ideia, acho que ninguém vai querer copiar mais de ninguém, todo mundo vai querer
colocar a sua própria essência.

- E o futuro da tua marca?


Eu enxergo ela muito nas alturas, sem demagogia nem nada. Óbvio que eu não
quero que ela vire uma coisa que eu não possa trabalhar mais, mas quero que ela
me dê muita estabilidade, é assim que eu vejo o futuro dela e estou correndo atrás
dela para isso. Dentro de dois anos eu quero sair dessa sala menor e ir para uma
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maior, com mais profissionais trabalhando comigo. De dois em dois anos eu quero
mostrar a evolução dela e eu luto para isso. Eu vejo o futuro, sem abandonar meus
clientes e minha essência, porque o principal é manter o seu carisma, a sua
essência e a sua humildade, isso eu quero manter sempre. Mas a loja eu quero ver
bombar, me fazendo muito feliz, mais do que eu já sou.
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APÊNDICE G - ENTREVISTA R.D.

R. D, 23 anos. Eu sou artista, trabalho com publicidade, ilustração e tatuagem.

- Quantas tatuagens tu tem?


Ao total eu tenho sete, mas são várias regiões do meu corpo que são fechadas,
como o braço e a canela.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


Faz uns sete, oito anos.

- Por que começou a se tatuar?


Expressão de ideia e por trabalhar com isso, e também pelo desenho. Quando eu fui
fazer, eu escolhi o desenho junto. Nunca pensei no que vai significar isso, se eu ia
me arrepender quando ficar mais velho. Sempre fui puramente pela arte, pelo
desenho.

- Teve alguma pessoa ou celebridade que te influenciou a isso? Qual?


Celebridades não, amigos só.

- E sobre tatuar outras pessoas, começou há quanto tempo?


Faz um mês e meio, dois meses. O primeiro trampo foi na minha namorada e já foi
um resultado bem bacana. Nunca fiz outros testes assim, tem gente que faz na
melancia, no melão, no pé de porco, eu fiz direto na pele e curti o resultado, gostei
da experiência de poder fazer uma arte permanente. Outra eu fiz no meu amigo e
estou indo fazer a terceira agora.

- É a tua única profissão ou leva isso paralelo a outra?


Eu trabalho como publicitário também, bastante gerenciamento de empresa em
questão de marketing e trabalho com recursos de ilustração e desenho.

- Como tu enxerga a profissão do tatuador?


No momento em ascensão. Ela está em ascensão, está sendo mais reconhecida
hoje, tanto financeiramente quanto esteticamente. A sociedade aceita mais as
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tatuagens e, consequentemente, os tatuadores, é uma tendência também da mídia.


Não só da mídia, como de figuras públicas também. Podemos chamar de moda,
mas é uma tendência só para um nicho de pessoas. Para o grupo de pessoas que
vive isso, que trabalha com isso, eu falo por mim, eu tenho quase certeza que isso é
perpétuo. Vai passar de tendência para quem tem tatuagem, para quem é tatuador,
apesar de estar na mídia isso.

- O que te levou a se tornar um tatuador?


É o desafio de fazer a tatuagem mesmo. Eu sempre trabalhei com desenho e,
quando tu é artista, tu quer explorar várias modalidades de desenho, várias
vertentes. Quer fazer com tinta, quer fazer na parede, quer fazer um quadro, quer
fazer uma tatuagem. A tatuagem é uma responsabilidade grande, um desafio de
expansão da tua habilidade, porque fazendo tatuagem eu evoluí todos os meus
traços.

- Existe alguma referência que te levou a essa profissão?


Tatuador não, artista. Muitas referências de artistas que trabalham para coleções de
marca. O Carlos trabalha com tatuagem todos os dias, eu idealizo que a minha
tatuagem seja mais, assim, não tão contínua. Seja mais personalizada, um pedido
seja mais singular. Algumas tatuagens eu não faço, umas coisas cotidianas assim,
penso em trazer a minha tatuagem para o mercado como algo diferenciado, algo
personalizado, para poucas pessoas, sendo mais artístico. A tatuagem é uma
consequência dos outros trabalhos que eu faço. Eu posso até virar a ser tatuador,
mas com desenhos próprios assim. Se tu fizer uma pesquisa com a questão do
arrependimento, acredito que muitas pessoas tem uma tatuagem que se arrepende.
E a maioria são estrelas, são pássaros, são coisas que não passam daquela
tendência. Então meu objetivo é esse, trazer desenhos que as pessoas não se
arrependam, que seja único como elas. As pessoas não vão me procurar com um
desenho pronto e nem vão me ver como um tatuador, elas vão me procurar como
um artista mesmo.
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- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


Hoje é bem grande no sentido de expansão da profissão. Ativamente ela é baixa
porque eu não tenho tanta demanda de pessoas para tatuar, mais amigos e tal. Mas
pessoalmente é bem grande, está lá no topo das prioridades aperfeiçoar isso.

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Acho que são pessoas mais livres de paradigmas e estereótipos no sentido de “ah
não vou conseguir emprego ou vou sofrer preconceito”. São pessoas que, de
alguma maneira, consciente ou inconsciente, prezam pela arte. Acredito também
que essas pessoas tenham algum outro envolvimento com a arte, seja com música
ou com a sua profissão. Claro que existem pessoas todas tatuadas que tem a sua
vida normal, e vida normal dentro dos padrões da sociedade, mas dentro do meu
grupo de convívio a maioria dessas pessoas tem um contato maior artístico. A
tatuagem é uma maneira de expressar essa arte e é também um culto ao corpo,
uma maneira de expressar que se cultiva muito o corpo, que trata o seu corpo como
um templo.

- Como tu acha que os tatuadores são vistos perante a sociedade?


Hoje em dia está passando por uma transição, diminuiu muito o preconceito. Existe
sim, mas é bem menor e acho que notavelmente, não só com jovens, mas com
pessoas mais velhas também, está tendo essa aceitação. As próximas gerações é
que vão nos comprovar isso, elas vão estar mais habituadas ainda.

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Totalmente, hoje sim. A mídia está impulsionando bastante isso, acho que traz um
diferencial. Apesar de ter muita gente tatuada, ainda é uma coisa diferente, então
com certeza ajuda a construir uma marca.

- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Sailor Jerry, que é o cara que criou o Old School. Ele tem uma história bem legal.
Old School é um tipo de tatuagem bem difícil assim de fazer, e ele foi o precursor, o
pioneiro. É o primeiro nome que me vem.
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- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Acho que na maioria dos casos sim, porque a ferramenta que faz isso não é o
estúdio dele, não são as máquinas dele, é o próprio tatuador.

- Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca?


Sim, totalmente. Acho que 100%.

- O que essa marca representa para ti?


A minha marca é contemporânea, é singular, ela busca um pensamento mais
próprio. Ela segue alguns padrões, mas tenta se afastar de muitos padrões. É uma
marca singular, alternativa, moderna, jovem. Até então, é irreverência e inovação,
misturar muitas culturas de artes.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Acredito que essa ascensão vai continuar por um bom tempo. Para quem vive
tatuagem essa tendência não vai passar, para quem vai pela mídia pode ser que
venham outras tendências e as pessoas vão atrás delas. Para quem vive a tatuagem
ela vai permanecer por muito tempo porque, cada vez mais, a gente tem liberdade
de expressão e menos barreiras uma pessoa enfrenta ao se tatuar, seja com a
família, com o trabalho ou com qualquer coisa.

- E o futuro da tua marca?


Eu idealizo uma expansão, um reconhecimento como artista, um serviço agregando
valor a outro trabalho. Se eu tatuo bem, um cara que vá precisar de uma
publicidade, uma arte, vai agregar valor com essa tatuagem. Por mais que o cara
não queira uma tatuagem ele vai ver que eu faço tatuagem, que eu faço quadro e
que eu tenho todas essas vertentes de trabalho. A estratégia é essa, é me
diferenciar por uma coisa completar a outra, ser um artista completo, que nem é o
Vik Muniz. Tu entra na exposição do cara e começa com umas esculturas, tu já está
satisfeito com aquelas esculturas e começam os quadros com pinturas, com recorte,
com fotografia. Ele não tem limites. É um exemplo de artista que expande demais os
materiais e tudo que ele faz.
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APÊNDICE H - ENTREVISTA V.F.

V. F, 41 anos. Sou tatuador.

- Quantas tatuagens tu tem?


Depende, eu fiz várias coberturas. Eu fiz uma tatuagem, aí eu cobri ela e aí eu cobri
de novo. Eu tenho mais uma relativamente média na perna. Hoje em dia é mais fácil
dizer qual espaço o cara tem tatuado do que quantas ele tem, porque pode ser
várias pequenas ou uma grande. Eu tenho uma média e uma grande.

- Há quanto tempo começou a se tatuar?


A primeira tatuagem que eu fiz foi em 1989 mais ou menos, eu montei uma
maquininha com motor de ferrorama e fiz uma tatuagem no meu irmão e ele fez uma
em mim.

- Por que começou a se tatuar? Teve alguma pessoa ou celebridade que te


influenciou a isso? Qual?
Não, na época não tinha ninguém que se tatuava. Era difícil de tu alugar material
para montar uma loja e até para fazer a própria tatuagem. Tu era tipo, mal visto.
Minha mãe não se importava muito, mas na família o pessoal não gostava. Eu
comecei também a fazer tatuagem porque vários amigos meus, na época, estavam
se tatuando e aí eles me explicaram como funcionava uma máquina, que era muito
cara. Na época existiam poucos tatuadores, em Porto Alegre tinham uns seis eu
acho. Meus amigos me explicaram como funcionava uma máquina, eu mesmo
montei a minha e me tatuei.

- E sobre tatuar outras pessoas, começou há quanto tempo?


Faz 26 anos que eu sou tatuador.

- Sempre encarou isso como profissão ou começou como um hobby?


Antes de tatuar eu já desenhava com canetinha de nanquim na galera do colégio. E
ai, depois quando a gente montou essas maquininhas a gente mais brincava de
tatuar na casa de um camarada nosso do que ser algo profissional. Nunca chegou
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ao ponto de pensar que poderia virar algo mais sério e que, muito menos, viraria
algo desse tamanho.

- Como tu enxerga a profissão do tatuador?


Hoje, até na real, ainda não considero a gente como uma profissão. Hoje em dia a
gente paga impostos, é legalizado o nosso material na vigilância sanitária, tem que
ter alvará para ter o teu estabelecimento, mas ainda não somos como se fosse uma
profissão. Claro que, hoje em dia, no Brasil tem várias profissões que o negócio vem
muito rápido. E até a tatuagem, hoje em dia jogador de futebol, cantor de música
sertaneja tem tatuagem. Talvez, daqui um tempo, pode ser que o pessoal olhe pra
gente, mas hoje não somos considerados uma profissão. Foi feito um levantamento
há pouco tempo atrás e existe, no mínimo 400 mil tatuadores no país, que vivem,
tem família e vivem disso. Fora os empregos que giram em torno disso. Então é uma
profissão, mas que não foi legalizada ainda.

- Qual o nível de importância da tatuagem na tua vida?


Hoje me dia eu respiro tattoo. Se eu tiver que tirar férias, que é o caso, a gente vai
tirar férias para ir numa convenção para dar uma descansada lá, ou vai pra casa de
um amigo em Santa Catarina que tem estúdio lá. Então está sempre voltado em
torno disso, viagem para dentro do país e fora do país é sempre para tatuagem, não
tem tempo para outra coisa porque é um negócio viciante. A gente vive numa rotina
que não tem como sair, ainda mais quem tem loja, que precisa estar sempre em
cima, é uma coisa que a gente está sempre em torno disso.

- Quais as principais características de alguém que se tatua?


Isso é muito relativo. Na real todas as tatuagens que tu faz, para pessoa, tem algum
sentido. E não é só um tipo de pessoa que vem, todos os tipos de pessoa se tatuam.
Eu já tatuei desde jogador de futebol, a roqueiro, ao quarto carinha da Honda no
Brasil, cara japonês, é outro patamar. Hoje em dia todos os níveis da sociedade se
tatuam, desde o mais rico ao mais pobre. Não tem essa tribo, existe cada desenho
para uma pessoa. Até pelo fato de ter programas de televisão falando sobre tattoo,
mostrando estúdios e funcionamento de uma loja, que deu uma evolução para a
gente. Cada pessoa vem procurando o seu trabalho, querem trabalhos exclusivos.
Antigamente tu chegava no estúdio de tattoo, escolhia o desenho, eu quero esse
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aqui, decalcava, desenhava, sombreava e era isso. Hoje em dia a pessoa vem com
uma história de tattoo. Ainda, boa parte das tatuagens são feitas para fins estéticos,
mas mesmo assim, mesmo para esse fim quer ter algo exclusivo. Existem vários
tipos de pessoas e isso não tem como dizer. Isso seria uma coisa muito boa para
estudar, sobre psicologia. Deveria ter um estudo disso nos estúdios porque, não só
nos clientes como nos próprios tatuadores, varia muito de pessoa para pessoa.

- Como tu acha que os tatuadores são vistos perante a sociedade?


A sociedade em si é muito hipócrita, porque até então enquanto tu não mostra uma
coisa não é aceito. Um jogador de futebol é um cara que tem dinheiro, ele pode
fechar o braço, não tem problema nenhum. Agora digamos um carinha que quer ser
policial da PM não pode ter no antebraço porque ele não vai conseguir engajar. Essa
hipocrisia é o quanto tu tem, o quanto tu vale. Não importa, tu pode ter uma
tatuagem no rosto e ser milionário, tanto faz quanto tanto fez. Se tu for pegar hoje,
quem mais rouba no país é quem usa um terno e gravata, mas se tu for de terno e
gravata em um lugar tu vai ser bem tratado. É a mesma coisa. Até, hoje em dia, o
pessoal vê o tatuador, vou dizer assim, boa parte dos tatuadores ganham mais do
que a maioria do povo brasileiro. É um negócio próprio, é algo que tu não faz
faculdade e não tem um aprimoramento maior em outras áreas e, basicamente, tu
ganha tanto ou mais quanto alguém que fez faculdade. Então assim, hoje em dia, tu
chega num lugar e as pessoas sabem que tu é tatuador, eles te tratam bem.
Digamos que tu consegue serviço fácil fora do país. E até é status tu ser tatuador,
hoje é status. O pessoal ganha mais, tem condição de ter um carro, de ter uma casa,
de levar uma vida melhor do que a maioria da população brasileira.

- Acredita que as tatuagens ajudam a construir uma marca pessoal?


Se não ajuda a construir pode destruir também, na real é tudo uma questão de
estética. A tatuagem não é um saco de bolacha que tu vai comprar no Zaffari e no
Nacional que vai ser a mesma coisa, que vai ser o mesmo produto. Então eu acho
que se a pessoa tem uma tatuagem bonita, que gosta de mostrar, obviamente isso
vai elevar o ego da pessoa. Agora se tu tem uma tatuagem que tu não gosta, que
acha feia, que as pessoas acham feia a tendência é a tua baixa estima vir à tona. Eu
sei do caso de muita gente que tem depressão por ter uma tatuagem feia. Então,
boa parte dos estúdios de tatuadores que são bons, que as pessoas veem os
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trabalhos, porque hoje existe uma coisa que não tinha em outra época, que é a
internet e as redes sociais, isso alavancou de uma maneira que, qualquer um que
tenha um trabalho bom, se sobressai. Então a maioria dos tatuadores que tem um
trabalho de nível superior fica a maior parte do tempo cobrindo ou refazendo essas
tatuagens mal feitas e tentando ajudar essas pessoas que se tatuaram com pessoas
que não tinham aptidão pra isso. É uma coisa que tem em qualquer profissão, mas
nesse ramo é mais evidente. Ninguém quer ficar com uma tatuagem mal feita, e tem
certas coisas que não tem como melhorar. São peles que ficam com manchas para
o resto da vida. Tatuagem seria mais qualidade do que preço, mas tem gente que
primeiro vai no mais barato, que sai ganhando em cima e que, se mesmo assim não
ficar bom, vai lá e faz de novo e ainda continua no “lucro”. É uma coisa que é normal
do povo.

- Quando falamos em tatuador, que nome vem de imediato na tua cabeça? Por quê?
Na época que eu comecei, tinha o tatuador Mauricio. Não só no Brasil, mas ele
inspirava gente no mundo inteiro, na época que tatuagem era uma coisa difícil de
conseguir material, era difícil de conseguir acesso a outras mídias, e eu tinha um
certo contato com ele, que é o Mauricio Teodoro, de São Paulo. Hoje em dia tem
muita gente que o cara se inspira, não só como artista, mas como pessoa, o
Mauricio foi o cara que mudou a cara da tatuagem no Brasil. Acho que hoje ele é
muito respeitado por isso, mesmo que não esteja mais em mídia e não se exponha
tanto, ele é conhecido por ensinar muita gente. Atualmente se tu vai para fora do
país, o Brasil é reconhecido e bem quisto no meio da tattoo. Mesmo as pessoas que
não conhecem ele pessoalmente, perguntam se conhecem ou não, porque ele é
muito bem visto lá fora.

- Em geral, tu acredita que ser um tatuador é sinônimo de ser uma marca? Por quê?
Acho que sim, hoje sim. Tudo depende de como tu vai trabalhar isso. Tu lida com
pessoas o dia inteiro, tu atende uma média de três a quatro pessoas por dia, tu fica
conversando com essas pessoas. Sailor Jerry era um tatuador da década de 1920, e
inspirou muita gente a ter até sua própria marca de roupa. Lá fora isso é bem
comum, aqui no Brasil é meio que tipo, controverso, porque a gente gosta muito do
que é fabricado lá fora e não dá valor pra gente mesmo, mas tem muito tatuador
aqui que teria condição de fazer isso. Acho que é só questão de tempo, de começar
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a rolar mais isso. Hoje em dia se vê muito mais gente com roupas de desenhos de
tatuagem e antigamente não se via isso. Tu vai para uma convenção e consegue
comprar muitas camisetas legais de marcas de tatuador, lá tem várias marcas que
são baseadas nisso. E claro, não só digamos eles ocupam a mídia com nome de
tatuadores famosos, mas eles também oferecem produtos de marcas para
tatuadores reconhecidos. É uma mídia. Aqui no Brasil existem muitos tatuadores,
mas a maior base de tudo ainda é os Estados Unidos. O Brasil deve estar em
terceiro lugar.

- Tu enxerga as tatuagens que tu faz como parte dessa marca? Por quê?
Não digo que fazem parte da minha marca, mas eles fazem parte de mim. A
tendência de tu ver um trabalho teu é tu reconhecer ele, não que isso seja uma
regra, mas é uma coisa tua que está rolando. É como se fosse uma pintura tua que
tu vai ver daqui há 10, 15 anos. A tatuagem é tanto do tatuado quanto do tatuador,
eu posso dizer que eu tenho mais tatuagem que os outros, só que não está em mim.

- Como tu enxerga o futuro da tatuagem?


Eu espero que não seja um futuro como o do piercing, que é uma coisa que teve o
seu boom e antigamente era extremamente caro e depois decaiu. Por que assim,
geralmente o pessoal que tem uma condição financeira melhor, se começa a ver
pessoas que tem um nível social mais baixo, a tendência é as pessoas não usarem.
Mas, até mesmo por fabricação de piercings. Antes, a fabricação era de piercings
ingleses e não era muito barato, depois a China entrou no mercado. Não é pela
baixa qualidade, mas facilitou para a classe mais baixa e o pessoal de alta classe
não usou mais. E quando o pessoal de alta classe não usa, o baixa classe, que se
inspira nele, também não faz. Agora, tatuagem tem uma vantagem. Quando tu faz, é
para a vida toda. Muitas vezes ela grava um tempo da tua vida, tem épocas que tu
vai querer que fique marcado e tu não vai ter como tirar isso. Claro, tu pode cobrir,
mas a maioria do pessoal que curte só refaz a tatuagem. No caso dessas pessoas
que, digamos, não vai ser no mesmo sentido que o piercing. Talvez lá uma geração
que outra vai ter porque “ah, meu pai é tatuado, não vou seguir meu pai” ou “se meu
pai é tatuado, não vou fazer para seguir meu pai”, mas acho que não vai rolar. Muita
criança já começa gostando de desenho, e tem tudo a ver. É muito mais fácil uma
criança gostar de uma tatuagem do que não gostar, começa de berço. O desenho
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que a pessoa vai usar na pele é diferente do piercing que outro vai estar usando o
mesmo. Tatuagem é sempre novidade, a gente está sempre indo em conveções e
vendo coisas novas. Tatuagem tem uma coisa de evolução, até nas competições,
que toda hora muda uma regra aqui ou ali, ou começa a surgir um estilo novo. É um
leque de escolhas que as pessoas podem fazer, então é muito mais complexo do
que, propriamente, um piercing. Eu acho que vai ser muito duradouro o esquema, ou
com o tempo, vão surgindo profissionais melhores no mercado, ocorreu isso. Numa
revista internacional de tatuagem tu vê que a nossa mente foi abrindo, a gente
começou a ver arte em vários estilos, gostando deles ou não, como o Old, o oriental,
New School, existe muita ramificação nisso aí. E cada vez vai surgindo mais coisas
novas, o pessoal mais novo vai sempre criar novidades então acho que vai ser
bastante duradouro. Além, é claro, de cada vez mais gente fechando o corpo. Na
época que eu comecei, tatuagens pequenas era o que o pessoal fazia. Por isso que
começam a cobrir esses trabalhos, porque jogadores de futebol, atores e cantores
começaram a fazer tatuagens grandes. Isso facilita o nosso trabalho, porque quando
tu faz uma linha e a linha é muito pequena, a tatuagem escorre. Então ela vai durar
um ano, dois anos e, em 15 anos, a gente percebe que se perdia essas tatuagens.
Fazer coisas maiores é uma tendência de durar muito mais, e é também uma
evolução, porque a gente não sabia o que ocorreria com a tatuagem 20 anos depois,
hoje a gente já sabe e passa isso para o nosso cliente. E a tendência de alguém que
tem uma parte do corpo fechada é sempre fechar outra também. Se uma pessoa faz
uma tatuagem e ela já não gosta, dificilmente vai fazer uma segunda tatuagem. A
gente ocupa basicamente o nosso tempo fazendo fechamento, dificilmente é uma
tatuagem pequena.

- E o futuro da tua marca?


Eu espero estar no mercado por bastante tempo. Eu não estou no mercado pelo
dinheiro, mesmo que eu não precisasse, como hoje eu talvez não precisasse tatuar,
eu tatuo porque eu gosto. Enquanto eu tiver olhos e tiver força eu vou continuar
tatuando, e mesmo que um dia eu não precise tatuar, eu vou fazer isso para os
meus amigos que gostam. A marca em si vai permanecer. Pode ser que, com o
tempo, eu não tenha o mesmo pique que eu tenho hoje, mas quero ficar um velhinho
tatuando.
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- Ao longo dos teus 26 anos como profissional, qual foi a mudança no segmento ou
o fato que mais te marcou?
Não é nem questão de marcar, mas a gente notou uma nítida diferença quando
surgiram as primeiras revistas de tatuagens e teve uma revolução na tatuagem na
década de 2000, que teve uma procura muito maior do que a oferta. Era muita gente
querendo se tatuar e pouco tatuador e, a partir disso, muita gente entrou no mercado
e virou tatuador. Nessa época também apareceram as mídias sociais, várias
plataformas que podia se divulgar e se alastrou. Antigamente tinham sete tatuadores
em Porto Alegre com 2 milhões de habitantes e um que outro no interior do estado.
Hoje em dia, se a cidade tiver 2 mil habitantes, vai ter um que é tatuador. Então
todas as cidades do país tem tatuadores, com certeza, inclusive no Nordeste. Tatuei
uma menina de Alagoas, que morava no interior e na cidade dela tinham três
tatuadores. Tu vai encontrar tatuador em todos os níveis, altos e baixos, em
qualquer lugar.

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