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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG

CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ANDRÉ FELIPE PEREIRA SODRÉ

HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL

Campina Grande - PB
2018
ANDRÉ FELIPE PEREIRA SODRÉ

HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL

Monografia apresentada como Trabalho de


Conclusão de Curso de graduação no Bacharelado
em Comunicação Social com linha de formação em
Educomunicação, da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social.

Orientadora: Profa. Drª Danielle Andrade Souza.

Campina Grande - PB
2018
ANDRÉ FELIPE PEREIRA SODRÉ

HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL

Monografia apresentada como Trabalho de


Conclusão de Curso de graduação no Bacharelado
em Comunicação Social com linha de formação em
Educomunicação, da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social.

Orientadora: Profa. Drª Danielle Andrade Souza

Aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Drª. Danielle Andrade Souza
Orientadora – UAAMI /CH / UFCG

_____________________________________________
Ms. Ângelo Giuseppe Xavier Lima
Membro 1 – CCBS / UFCG

______________________________________________
Ms. Jonara Medeiros Siqueira
Membro 2 – UAAMI /CH / UFCG
Dedico este trabalho exclusivamente a
Eliodara, grande rainha que sempre me
motivou, encorajou e iluminou minha
caminhada.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente às forças da natureza e aos ancestrais por me


darem forças para superar as dificuldades e constituírem o caminho para que eu
chegasse até aqui.
Ao Thiago Silva por todo apoio nos momentos que mais preciso! Pelos
conselhos, palavras e incentivo!
Ao Dr. Vitor Pordeus, Linda Marina e Everton Silva pelo apoio e disposição a
me ajudarem neste trabalho, por me proporcionarem novas perspectivas e visões de
mundo.
A minha orientadora Danielle Andrade pela paciência e incentivo que
tornaram possível a conclusão deste trabalho.
Aos meus pais por todo amor, compreensão e ensinamentos que me fazem
driblar as adversidades da vida.
Aos meus amigos André “Sansão” e Alisson Vilar, por “viajarem” comigo nas
maiores loucuras e utopias.
A todos que diretamente ou indiretamente fizeram parte da minha formação.
“Chegue mais perto ator, atriz, companheiro,
companheira dia-a-dia, venha logo homem
deixa de bobagem, a arte é nossa linguagem
de tecer cidadania”. (Ray Lima)
RESUMO

O Hotel e Spa da Loucura foi um projeto desenvolvido no Instituto Municipal Nise da


Silveira, no bairro do Engenho de Dentro - Rio de Janeiro, desenvolvido de 2012 a
2016. Surgiu como sede para abrigar médicos, artistas e pesquisadores
interessados em arte, cultura e saúde mental. Mas acabou se tornando um centro
artístico-cultural que através da arte e da comunicação desenvolveu um trabalho
significativo com pacientes com problemas de saúde mental. Dessa forma, o
objetivo geral deste trabalho é fazer articulações entre a área da Expressão
Comunicativa através das artes e suas contribuições para a reabilitação
psicossocial. Para tanto, foi necessário compreender as práticas realizadas no hotel,
identificar as ações que faziam uso de linguagens artísticas e levantar reflexões que
buscassem estabelecer relação entre os campos da Educomunicação e da saúde
mental. Realizou-se, então, um estudo de caso (GIL, 2002) que visa conhecer com
mais profundidade o hotel com uma abordagem qualitativa descritiva. Por se tratar
de um projeto que não existe mais, o levantamento de dados foi realizado a partir de
uma pesquisa bibliográfica e documental, recorrendo-se também ao uso da
entrevista como técnica de coleta de dados. De acordo com a investigação,
verificou-se que a Educomunicação, por seu caráter interdisciplinar, pode vir a ser
um meio eficaz no processo de promoção da saúde mental.
Palavras-chaves: Arte. Comunicação. Saúde Mental. Intervenção.Educomunicação.
ABSTRACT

The Hotel and Spa of Madness was a project developed at the Municipal Institute
Nise da Silveira, in the district of Engenho de Dentro - Rio de Janeiro, developed
from 2012 to 2016. It emerged as a venue to house doctors, artists and researchers
interested in art, culture and mental health. But it ended up becoming an artistic-
cultural center that through art and communication developed a significant work with
patients with psychic problems. Thus, the general objective of this work is to
articulate the area of Communicative Expression through the arts and its
contributions to psychosocial rehabilitation. Therefore, it was necessary to
understand the practices performed at the hotel, identify actions that used artistic
languages and raise reflections that sought to establish a relationship between the
fields of Educommunication and mental health. A case study (GIL, 2002) was then
carried out in order to get a better understanding of the hotel with a qualitative
descriptive approach. Because it is a project that no longer exists, the data collection
was performed based on a bibliographic and documentary research, also using the
interview as a data collection technique.According to the investigation, it was verified
that the Educommunication, by it‟s interdisciplinary character, can turn out to be an
effective means in the process of promotion of mental health.

Keywords: Art. Communication.Mental health.Intervention.Educommunication.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Hotel da Loucura na BBC ......................................................................... 30


Figura 2. NUVELA, trecho de apresentação peça teatral ....................................... 31
Figura 3. Pronunciamentos em apoio ao Hotel da Loucura e Vitor Pordeus .......... 34
Figura 4. Edições do Jornal ReorgaNise ................................................................. 41
Figura 5. Coluna Quando eu morrer quero virar estrela .......................................... 44
Figura 6. Entrevista com o Dr. Vitor Pordeus .......................................................... 50
Figura 7. Entrevista com Linda Marina .................................................................... 51
Figura 8. Entrevista com Everton ............................................................................ 51
LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1. Porta de entrada do Hotel da Loucura .............................................. 25


Fotografia 2. José Pacheco e Ray Lima com clientes do hotel .............................. 27
Fotografia 3. Teatro ritual no Hotel da Loucura ...................................................... 28
Fotografia 4. Mobilização de pacientes pedindo a reintegração de Vitor Pordeus . 33
Fotografia 5. Vitor Pordeus desenvolvendo atividades de teatro com os pacientes 40
Fotografia 6. Evento de lançamento da 1º ed do jornal .......................................... 43
LISTA DE SIGLAS

BBC British Broadcasting Corporation

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

ELAP Escola Livre de Artes Plásticas

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SOMA Sociedade Orgânica Múltiplos Amores

UPAC Universidade Popular de Arte e Ciência


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

Capítulo 1. Breves Olhares .................................................................................... 17

1.1 UM BREVE OLHAR SOBRE A ARTE ............................................................. 17

1.2 UM BREVE OLHAR SOBRE A LOUCURA ..................................................... 18

1.3 PIONEIROSMO DENTRO DA RELAÇÃO ARTE E LOUCURA NO BRASIL ... 19

1.3.1 Osório Thaumaturgo Cesar e a arte no Juquery ....................................... 19

1.3.2 Nise da Silveira: o afeto catalisador .......................................................... 20

Capítulo 2. O protagonismo de Vitor Pordeus ..................................................... 23

2.1 VITOR PORDEUS E O HOTEL SPA DA LOUCURA ...................................... 23

2.2 HOTEL E SPA DA LOUCURA ........................................................................ 24

Capítulo 3. Hotel da Loucura e Educomunicação: articulações ......................... 35

3.1 EDUCOMUNICAÇÃO ..................................................................................... 35

3.2 MÉTODO DE CURA, TEATRO, SAÚDE MENTAL E EDUCOMUNICAÇÃO ... 38

3.3 JORNAL REORGANISE ................................................................................. 41

Capítulo 4. Procedimentos metodológicos .......................................................... 46

4.1 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS ..................................................................... 46

4.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA .................................................................. 48

4.3 DESCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS .............................................................. 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 52

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 54

APÊNDICES ............................................................................................................ 58
13

INTRODUÇÃO

Compreendemos que a arte é um meio de comunicação e expressão, uma


forma de transmitir mensagens, valores culturais, sentimentos, ideias. Sendo assim,
um recorte do ser humano e do seu contexto social. A arte sempre esteve presente
na vida das pessoas, evoluindo e ocupando espaço na sociedade. Toda arte produz
algum efeito, seja no artista ou em quem a vê, cada expressão artística possui um
significado, emoção, cultura diferentes. Antes da escrita, o homem já registrava
passos da sua história através da arte, considerando que sempre houve a
necessidade de se comunicar/expressar. Para Metzker (2008):

Como a Educomunicação incentiva os indivíduos a se expressarem, esse


campo estabelece uma forte ligação com a arte, afinal, através do fazer
artístico as pessoas se expressam. Na prática, essa quarta área de
intervenção social da Educomunicação diz respeito a atividades geralmente
coordenadas por arte-educadores no sentido de garantir espaços de fala,
visibilidade e livre expressão dos sujeitos sociais. (METZKER, 2008, p.12).

Dessa maneira, este trabalho visa explorar a área de intervenção


educomunicativa denominada Expressão Comunicativa através das Artes,
procurando estabelecer a relação entre essa área de intervenção e sua contribuição
para a reabilitação psicossocial, destacando o papel da arte no tratamento de saúde
mental, de modo a auxiliar o paciente em sofrimento psíquico. Partimos da hipótese
que tal atividade funciona como um agente facilitador e estimulador de expressão e
comunicação, promovendo a integração social numa perspectiva mais criativa e
transformando os pacientes em protagonistas desse processo, pois, como
argumenta Tavares (2003, p. 36) “em sua dimensão social a arte possibilita
experiências socializadoras e compartilháveis”. A arte possibilita a inserção social de
pessoas com transtornos mentais.
Nesse sentido, uma ala do Instituto Municipal Nise da Silveira, antigo Centro
Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, recebeu
novos ares, tornando-se um espaço de intervenção artístico cultural e científica,
deixando para trás as marcas dos maus-tratos, barbaridades e exclusões contra
pessoas em sofrimento psíquico, metamorfoseando-se para um ambiente
aconchegante em que a criatividade, a expressão artística, o diálogo e o afeto
substituem e contrapõe os sistemas manicomiais. Surge então o Hotel da Loucura
inaugurado em 2012 pelo médico e ator Vitor Pordeus. O projeto fazia parte do
14

Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de


Janeiro e chegou ao fim em 2016 com a exoneração do seu idealizador. Durante seu
período de atividade, o Hotel da Loucura foi um espaço de construção conjunta, que
tinha como objetivo acolher as pessoas, permitindo a sua expressão, utilizando as
manifestações artísticas no cuidado em saúde mental.
Diversas experiências vêm sendo realizadas a partir do método desenvolvido
por Nise da Silveira, uma renomada psiquiatra que utilizou o afeto, a arte e o diálogo
no ato de cuidar, criando um canal de comunicação utilizado para auxiliar no
tratamento de graves problemas de saúde mental, a partir de práticas interventivas
que promovem transformações na realidade dos pacientes.
A escolha pelo tema surgiu a partir de experiências voluntárias em um Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS), em que foram realizadas atividades de arte-terapia
com pacientes que possuíam diferentes quadros de transtornos psicológicos. Uma
das oficinas tinha como objetivo a ressignificação da arte-terapia como um
dispositivo de cuidado para pessoas em sofrimento psíquico. O mediador
responsável utilizou a pintura como recurso para trabalhar a sensibilidade e
expressividade dos participantes, analisando a arte-terapia como ferramenta de
intervenção e reabilitação psicossocial. De acordo com Lugão (2009, p.29),“a função
social da arte fica nítida à medida que ela transforma e nos traz o conhecimento do
mundo, não um conhecimento abstrato, mas afetivo e real ”.
Essa experiência nos fez enxergar um campo imenso de possibilidades,
levando-nos a uma pesquisa interdisciplinar entre as áreas de comunicação e saúde
mental. Partindo de uma das áreas de intervenção da educomunicação, denominada
“Expressão Comunicativa através das Artes”, que tem como intuito levar os
participantes a se expressarem a partir do fazer artístico, de modo a romper
barreiras que impedem a comunicação. Nesse sentido, Tavares (2003, p.38)
menciona que “o valor da arte na reabilitação está na possibilidade do paciente,
como cidadão utilizar os aspectos sadios de sua personalidade para conquistar
espaços sociais”.
Partindo da relação entre arte, comunicação e saúde mental, esta pesquisa
busca, através de um estudo de caso, identificar bibliograficamente como a
Expressão Comunicativa através das Artes foi aplicada nas atividades realizadas no
Hotel e Spa da Loucura, localizado no Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio de
Janeiro. O estabelecimento em questão recebia diversos artistas e pesquisadores
15

interessados em contribuir com práticas interventivas de aproximação entre arte e


saúde. Também sediou a Universidade Popular de Arte e Ciência (UPAC), que
reúne agentes culturais e profissionais da área de saúde, artistas e estudantes das
diversas áreas do conhecimento em uma rede colaborativa de promoção da
cidadania, assim o hotel funcionou como uma alternativa às internações
psiquiátricas que encarceravam e excluíam seus pacientes da sociedade.
Com o uso de novos procedimentos que levam à inclusão e reinserção social,
surge a possibilidade do paciente receber um tratamento humanizado, para que
exerça a sua cidadania e tenha voz. Além disso, concebemos que outras áreas de
intervenção da Educomunicação se entrelaçam no desenvolvimento dessas
atividades, uma delas é a Gestão da Comunicação, como defende Almeida (2016):

Esta área de intervenção visa à implantação e manutenção de


ecossistemas comunicativos. Neles, uma vez que o direito à voz não deve
ser influenciado por estruturas hierárquicas ou interesses políticos e
econômicos, potencializa-se a aprendizagem e a construção de
conhecimento colaborativo e inovador. Procura-se implantar ambientes
democráticos, nos quais a comunicação flua entre todos os participantes,
que contam com igual oportunidade para se expressar (ALMEIDA, 2016,
p.31).

A gestão da comunicação é necessária em todo ambiente que busca uma


comunicação horizontal, de modo a garantir espaços de fala e expressividade,
fomentando caminhos para a interdisciplinaridade, de modo que as ações dos
mediadores sociais se desenvolvam a partir da coletividade, dando espaço para que
todos os envolvidos criem e executem juntos, promovendo um ambiente aberto e
participativo.

[...] a gestão comunicativa visa garantir, mediante o compromisso e a


criatividade de todos os envolvidos e sob a liderança de profissionais
qualificados, o uso adequado dos recursos tecnológicos e o exercício pleno
da comunicação entre pessoas que constituem a comunidade, assim como
entre esta e os demais setores da sociedade. (SOARES, 199, p.41)

Segundo Metzker (2008, p.5), “o objetivo principal das ações


educomunicativas é o crescimento da autoestima e da capacidade de expressão das
pessoas, tanto individualmente quanto em grupo”. Esse processo pode ser facilitado
a partir da pedagogia da comunicação, segundo ALMEIDA (2016, p.23) “o objetivo
da pedagogia da comunicação é criar condições para que o diálogo se estabeleça”.
Dessa forma, vemos que as áreas de intervenção da educomunicação se
16

completam, pois enquanto se trabalha expressão comunicativa através das artes


simultaneamente necessita-se de gestão comunicativa, que para ser eficiente
depende do conhecimento e ações de outras áreas de intervenção.
Dito isso, essa pesquisa propõe-se a responder o seguinte problema: até que
ponto as ações empreendidas (linguagens artísticas) no Hotel e Spa da Loucura
representam práticas educomunicativas? Para tanto, com esse trabalho, em última
instância, buscamos saber se a Educomunicação seria um meio eficaz de
contribuição na promoção de saúde mental?
17

Capítulo 1. Breves Olhares


1.1 UM BREVE OLHAR SOBRE A ARTE

Desde os tempos mais remotos, o homem já se expressava através das artes,


conforme coloca Fischer (1987, p.45) “Nos alvores da humanidade a arte pouco
tinha a ver com “beleza” e nada tinha a ver com a contemplação estética: era um
instrumento mágico, uma arma da coletividade humana em sua luta pela
sobrevivência.” A arte sempre foi um reflexo do contexto social. Da pré-história
encontraram figuras femininas esculpidas em pedras representando a fertilidade,
posteriormente a pintura foi utilizada como ritual de “magia”, representando a caça.
No Egito a arte era voltada para a religiosidade sempre representando divindades e
suas crenças pós-morte, o que pode ser confirmado na arquitetura, nos ritos funerais
e nas pinturas, compartilhando seus preceitos e crenças religiosas (PROENÇA,
2003, p.17). Já durante a idade média houve uma forte associação à filosofia cristã o
que pode ser comprovado com a arte gótica. As mudanças ocorridas no final da
idade média proporcionaram um avanço no campo das artes, havendo também uma
transformação no fazer artístico, no qual os artistas passaram a reproduzir formas
realistas submetidas à estética, destacando-se nomes como Leonardo da Vinci e
Michelangelo (PROENÇA, 2003). Desde então, enquanto o homem e a sociedade
se transformavam a arte também se modificava.
Seria a arte comunicação? A capacidade de comunicar conteúdos mais
profundos do inconsciente? Um reflexo de nossa sociedade? Descrever o real
significado não é algo fácil, pois muitas definições do que seria arte são divergentes
“no entanto, qualquer pessoa que tenha um mínimo de contato com a cultura é
capaz de reconhecer a arte, e citar alguns exemplos de obras de arte ou de artistas.”
(GOMES, 2005, p.26), ou seja, é mais fácil observar um produto e contemplar como
arte do que conceituar o que realmente seria a Arte.

Será possível então, dizer também, que a arte é a manifestação da


atividade humana diante das quais nossos sentimentos são admirativos.
Nossa cultura possui uma noção que denomina algumas de suas atividades
e as privilegia, como a „arte de pintar‟, a „arte de compor‟, a „arte de
escrever‟. Nesse caso se não somos capazes de definir arte, pelo menos
sabemos quais coisas correspondem a ela. (GOMES, 2005, p.26)
18

A arte e a cultura caminham juntas, a produção artística advém das crenças,


costumes, leis, ideias, que fazem parte do homem e da sociedade em que vive. A
manifestação dos sentimentos é resultado daquilo que é inerente a si mesmo e ao
contexto social. A produção artística permite exteriorizar o que é íntimo como uma
forma de transmitir ideias, de comunicar-se com o mundo. Conforme Verly (2016) “A
arte é o farol da história. É a gênese dos saberes humanos. Da astronomia,
mitologia, filosofia. Da arquitetura, arqueologia, antropologia, da política e
espiritualidade. Da cultura.” Esse breve olhar sobre a arte e a forma que ela se
modificou junto com a sociedade é importante para que possamos compreender
como viviam nossos antepassados e como vivemos hoje. A arte tem um poder
emancipador. Partindo dessa premissa pretendemos discursar sobre a aproximação
entre arte e loucura.

1.2 UM BREVE OLHAR SOBRE A LOUCURA

A loucura sempre esteve presente na humanidade, conforme Gomes (2005),


os primeiros indícios apareceram em tribos primitivas, nas quais acreditava-se que
os sintomas eram perturbações de espíritos malignos e as pessoas que
apresentavam sinais de loucura eram submetidas a rituais, nos quais muitos
morriam na tentativa de expulsar o espírito que ali aterrorizava. Já na Grécia antiga
era vista como manifestação divina. A forma que a loucura era compreendida foi se
modificando conforme a cultura e a sociedade de cada época.
Na idade média, durante o período da inquisição, a loucura continuava sendo
compreendida como algo sobrenatural, mas diferente da Grécia em que o “louco”
era um mensageiro dos deuses, a igreja católica relacionou os fenômenos como
obras demoníacas relacionadas à bruxaria, o que resultou na perseguição e
assassinato de muitas pessoas com transtornos psíquicos (GOMES, 2005).
Já no século XVII surgem as primeiras casas de internação que eram
verdadeiros cárceres, iniciando outro processo de exclusão. Nesses locais eram
internados todos aqueles que de alguma forma fugissem do controle social, a
exemplo velhos, doentes, mendigos, órfãos, deficientes, loucos, formando um
grande aglomerado de seres humanos onde não havia tratamento ou possibilidade
de reintegração. Somente com a revolução francesa e os ideais de “liberdade,
19

igualdade e fraternidade” se inicia um procedimento de reintegração dos excluídos, o


qual funcionou para os internos, exceto para os loucos, pois esses eram
considerados perigosos para a sociedade (CALDAS E NOBRE, 2012).
Segundo Gomes (2005, p.9) “só no final do século XVIII, em 1793, com a
nomeação de Pinel para a direção de Bicêtre (um hospital francês), é que a loucura
começou a ter a atenção da medicina”, passando a ser vista como doença mental,
mas ainda assim os métodos para tratamento da loucura eram desumanos e as
instituições psiquiátricas continuaram mantendo a prática do isolamento e outros
métodos cruéis.
Esse breve olhar sobre a loucura teve como objetivo fazer um pequeno
apanhado histórico sobre as condições as quais os loucos eram submetidos, os
resquícios dessas circunstâncias permanecem até os dias atuais. Muitos lutam com
o intuito de contrapor esse sistema manicomial desumano. A arte foi reconhecida
como um método eficaz no cuidado e promoção da saúde mental o que se pode
comprovar nas práticas empreendidas por pioneiros como Osório Cesar e Nise da
Silveira que foram médicos psiquiátricos e obtiveram grandes realizações e
resultados extraordinários na implantação do uso da arte em ambientes hospitalares
com pacientes psíquicos, deixando um grande legado de métodos a serem
praticados e estudados. O trabalho realizado por Nise da Silveira serviu de base
para projetos excepcionais como o Hotel e Spa da Loucura criado pelo médico
psiquiatra e ator Vitor Pordeus.

1.3 PIONEIROSMO DENTRO DA RELAÇÃO ARTE E LOUCURA NO BRASIL


1.3.1 Osório Thaumaturgo Cesar e a arte no Juquery

De acordo com o artigo “A psicologia da arte no olhar de Osório Cesar” de


Arley Andriolo, Osório Cesar foi um médico psiquiátrico brasileiro, nascido em 17 de
novembro de 1895, na cidade de João Pessoa-Paraíba. Em 1918 começou a
estudar medicina se formando em 1925 na Faculdade de Medicina da Praia
Vermelha no Rio de Janeiro. No mesmo ano começou a trabalhar no Hospital do
Juquery em São Paulo.
Osório Cesar foi pioneiro na pesquisa entre arte e loucura aqui no Brasil, de
acordo com (FIGUEIRA, AMARANTE, BELANCIERI, 2007, p.105) “Desde o início, já
tinha em mente a ideia de estudar a arte dos alienados, comparando-a com a arte
20

dos primitivos e das crianças.” Em 1929 ele lançou seu primeiro livro “A expressão
artística dos alienados.” Em 1934 escreveu o artigo “A arte nos loucos e
vanguardistas”. Além de estudar a arte desenvolvida por pacientes em sofrimento
psíquico, no ano de 1948 promoveu a primeira exposição de arte com as obras dos
pacientes do hospital do Juquery no Museu de Arte de São Paulo. Em 1949, a cargo
de Osório, foi criada a Seção de Artes Plásticas do Juquery, que posteriormente
resultou na fundação da Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery – ELAP. Osório
Cesar foi um inovador, desenvolveu métodos para analisar e incentivar a produção
artística dentro do cenário psiquiátrico.

1.3.2 Nise da Silveira: o afeto catalisador

A doutora Nise da Silveira é uma peça fundamental para o desenvolvimento


dessa pesquisa, o legado deixado por ela proporcionou um novo olhar sobre as
práticas artísticas utilizadas no tratamento da saúde mental. Embora antes dela
outros pesquisadores já tenham se empenhado em investigar essa linha tênue
existente entre arte e loucura, como o já mencionado Osório Cesar.
Gomes (2005, p.35) enfatiza que “Nise da Silveira desenvolveu um trabalho
com os esquizofrênicos no hospital do Engenho de Dentro, que foi pioneiro no
Brasil.” Suas práticas clínicas utilizavam as expressões espontâneas e artísticas dos
pacientes.
Conforme Câmara (2002) Nise nasceu em 15 de fevereiro de 1905 na cidade
de Maceió-Alagoas e se formou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1926,
sendo a única mulher em uma turma de 157 alunos. Em 1927 se mudou para o Rio
de Janeiro onde se inseriu no meio artístico e literário. Em 1933 ingressou no serviço
público, trabalhou no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental na
Praia Vermelha-RJ. No período da Intentona comunista, Nise foi denunciada por
uma enfermeira por ter livros marxistas e envolvimento com membros do partido
comunista, o que resultou em sua prisão no ano de 1936, no Presídio Frei Caneca,
sentenciada a uma pena de 15 meses. Ao sair da prisão, afastada do serviço
público, ela viveu clandestinamente temendo ser presa novamente.
Segundo Malgadi (2018, p.55) “Seria só em 1944, um ano antes da deposição
de Getúlio Vargas que, de volta ao Rio de Janeiro, Nise seria readmitida no serviço
público, desta vez no complexo psiquiátrico do Engenho de Dentro.” Ao retornar a
21

exercer suas atividades psiquiatras Nise se opôs aos métodos utilizados com os
pacientes os quais envolviam choques elétricos, isolamento e camisa de força. Em
consequência de sua postura frente às práticas realizadas, foi transferida para o
setor de terapia ocupacional. Foi nesse setor em que ela percebeu a arte como uma
forma de tratamento de graves problemas de saúde mental, o que resultou na
criação de um atelier de pintura naquele setor. Veloso (2017) destaca que “Nise
percebeu que as artes plásticas eram o canal de comunicação com os pacientes
esquizofrênicos graves, que até então não se comunicavam verbalmente”.
Percebemos no trabalho pioneiro de Nise da Silveira a arte como um agente
facilitador da expressão/comunicação, pois com a produção artística os pacientes
tiveram “voz” para expressar os seus conflitos internos.
Com o grande número de produções e o objetivo de preservar as obras, em
1952 foi fundando o Museu Imagens do Inconsciente dentro do Centro Psiquiátrico
Pedro II, que atualmente conta com mais de 350 mil obras, sendo as principais
tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Além
de ser um local para expor, armazenar e proteger as obras, o museu também é um
centro de estudo para interessados no campo de pesquisa.
Em seu livro “Imagens do Inconsciente” Silveira (1981, p.11) menciona:

Aconteceu que dirigi (1946-1974) a seção de terapêutica ocupacional no


Centro Psiquiátrico Pedro II, Rio de Janeiro. O exercício de múltiplas
atividades ocupacionais revelada, por inumeráveis indícios, que o mundo
interno do psicótico encerra insuspeitadas riquezas e as conserva mesmo
depois de longos anos de doença, contratriando conceitos estabelecidos. E
dentre as diversas atividades praticadas na nossa terapêutica ocupacional,
aquelas que permitiam menos difícil acesso aos enigmáticos fenômenos
internos eram desenho, pintura, modelagem, feitos livremente. Na escola
viva que eram os ateliers de pintura e modelagem, a escola que eu
frequentava cada dia, constantemente levantavam-se problemas.
Dificuldades que conduziam a estudos apaixonantes e muitas vezes
tornavam necessária a procura de ajuda fora do campo da psiquiatria – na
arte, nos mitos, religiões, literatura, onde sempre encontraram formas de
expressão as mais profundas emoções humanas. (SILVEIRA, 1981, p.11)

Nise foi uma mediadora desse processo, ela permitia que seus pacientes se
expressassem livremente, possibilitando uma comunicação mais profunda do
inconsciente com o mundo exterior. Aprendeu com Carl Jung a importância da
natureza simbólica, que a comunicação é governada pelos símbolos e desenvolveu
uma abordagem através da expressão artística para o doente mental grave,
esquizofrênico, psicótico crônico. Foi uma mulher que encontrou novas
possibilidades em uma época que, conforme ela mesma, “os psiquiatras em sua
22

grande maioria recusam a aceitação do valor artístico das pinturas e desenhos dos
doentes mentais” SILVEIRA (1981, p.14). Nise desenvolveu seu método baseado na
compreensão, no diálogo e no afeto, uma revolucionária que utilizou da criação
artística para fazer ciência. Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, aos 94 anos no
Rio de Janeiro.
23

Capítulo 2. O protagonismo de Vitor Pordeus


2.1 VITOR PORDEUS E O HOTEL SPA DA LOUCURA

O médico, ator, psiquiatra transcultural e educador popular Vitor Pordeus é o


responsável pelo surgimento do Hotel e Spa da Loucura, o que torna impossível
falar no Hotel sem se remeter a figura do seu idealizador. Este aspecto também é
comentado por Malgadi (2014, p.118).

O surgimento do Hotel da Loucura no Instituto Municipal Nise da Silveira


vincula-se à trajetória de seu próprio idealizador. Vitor Pordeus, nascido e
criado em Realengo, se graduou em Medicina pela Universidade Federal
Fluminense, com especialização em imunologia. Realizou residência no
Instituto Weizmann, da Universidad de TelAviv, em Israel. Em seguida,
chegou a ingressar no doutorado em Saúde Pública da Universidade de
São Paulo. Em entrevista conferida a um jornal, ele conta sobre sua ruptura
com o meio acadêmico: “Trabalhei um ano e meio e fui expulso da pós-
graduação, por uma discordância científica e filosófica. Eu adoeci por causa
disso” (Pordeus, 2015, s/p). A partir de então, após um período de crise,
concentrou suas atividades sobretudo no campo artístico, sobretudo a partir
de 2006, quando ingressou no grupo de teatro de rua Tá Na Rua,
coordenado por Amir Haddad. (MALGADI, 2018, p.119).

Em 2008 Vitor foi chamado para coordenar o Núcleo de Cultura, Saúde e


Ciência da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Segundo Malgadi
(2018) nesse período Vitor não tinha conhecimento sobre a Drª Nise da Silveira ou
do seu trabalho realizado no Engenho de Dentro. Malgadi (2018, p.119).

Incentivado por seus colegas de trabalho, começou a fazer suas primeiras


visitas à instituição que levava o nome da psiquiatra alagoana. A reação foi
impactante. "Eu cheguei lá e me apaixonei profundamente porque é uma
revolução realmente o que a Dra. Nise fez, que foi justamente explorar o
mundo interno dos ditos esquizofrênicos” (ibid.). Segundo Vitor, através do
método desenvolvido por Nise, seria possível descobrir imagens, mitos e
narrativas que são conteúdos do inconsciente coletivo, reveláveis através
de relações criativas e afetuosas, em qualquer lugar, com qualquer ser
humano. (MALGADI, 2018, p.119)

Em 2009 Vitor Pordeus assume seu cargo na coordenação do Núcleo de


Cultura, Saúde e Ciência, desenvolvendo seu trabalho com base no método de Nise
da Silveira, sendo o teatro um elemento crucial no trabalho desenvolvido. No artigo
“O médico e o teatro” publicado no blog Imanente Mente, ele explana seu olhar
sobre o teatro e a promoção de saúde mental. “Pode soar estranho dizer que me
sinto mais médico fazendo teatro que fazendo medicina clínica” (PORDEUS, 2009).
24

Por isso faço teatro, porque vejo possibilidade em travar um debate através
das idéias, colocar o conhecimento em movimento, discutir sobre a verdade
num ambiente que seja livre, aberto, público, popular. Para falar na língua
do povo, e quando falo na língua do povo - cantando, dançando, contando
histórias dizendo a elas que é totalmente possível conhecer, que 99% dos
nossos problemas de saúde pública já tem soluções conhecidas – sinto que
de alguma forma estou retornando à figura do médico medieval, do pajé, do
curandeiro, retornando à arte de curar tão antiga quanto à humanidade e
esquecida em nossa recente medicina tecnológica, tão fundamental ao ato
de cuidar. (PORDEUS, 2009)

Em 2010 fundou a Universidade Popular de Arte e Ciência – UPAC que


Malgadi (2018, p.120) define como um “coletivo destinado à militância na interseção
entre saúde, cultura e arte popular, formado por uma rede de artistas e profissionais
de todo o país”. O primeiro congresso aberto da UPAC aconteceu nos dias 7 e 8 de
julho de 2011 no Teatro Carlos Gomes - Rio de Janeiro, com 16 horas de
espetáculos, oficinas e debates. De acordo com a Revista do I Congresso Aberto da
Universidade Popular de Arte e Ciência estiveram presentes mais de 654
participantes, entre eles: Nelson Vaz, Amir Haddad, Vera Dantas, Ray Lima, Junior
Santos, Heloisa Helena Costa, José Pacheco, Sergio Besserman Vianna, Luiz
Roberto Londres, Francisco Gregório Filho, Mãe Tânia de Yemanjá, Cirandas da
Vida, Grupo Tam-Tam/Santos, Agentes Culturais de Saúde e Escolas Populares de
Saúde.
Em 2012 os membros da UPAC se reuniram para realizar um espetáculo
teatral no hospital do Engenho de Dentro, o “Auto da Paixão de Nise da Silveira”,
aconteceu o II Congresso da Universidade Popular de Arte e Ciência – Ocupa Nise.
O evento foi realizado no Instituto Municipal Nise da Silveira. Em virtude do evento
enfermarias desativadas do hospital foram ocupadas para hospedar todos os
pesquisadores e atores, transformando o local em um centro cultural livre, dando
origem ao o Hotel e Spa da Loucura, que se tornou sede desse movimento.
(PORDEUS, 2014)

2.2 HOTEL E SPA DA LOUCURA

O hotel da loucura foi um espaço de convivência, promoção de saúde mental,


criatividade, comunicação, arte, educação e ciência. Para sua criação uma
enfermaria desativada no terceiro andar de um dos prédios do Instituto Municipal
25

Nise da Silveira ganhou novas características, as paredes receberam imagens,


cores e frases dos pacientes-artistas. Segundo Malgadi (2018):

Foram abertos quartos ocupados com camas beliche, destinadas a receber


os participantes dos eventos e eventuais hóspedes. A estrutura contou
ainda com uma cozinha, uma biblioteca e um hall de entrada, principal lugar
de reuniões do coletivo. O projeto consolidou assim, sua espacialidade,
possibilitando o trânsito entre artistas, visitantes e pacientes internos e
externos no interior do hospital. (MALGADI, 2018, p.120)

Fotografia 1. Porta de entrada do Hotel da Loucura

Fonte: Facebook Vitor Pordeus

Para se hospedar não era necessário pagar nenhuma taxa, o pagamento era
realizado a partir de intervenções artísticas com os clientes (pacientes da instituição)
ou com a produção de algum conteúdo que contribuísse na divulgação das ações
realizadas no Hotel da Loucura. As atividades permitiam que os clientes tivessem
um tratamento que possibilitasse o convívio social, o direito de exercer a cidadania,
o contato com a cultura e, sobretudo, a expressão artística. De acordo com Vianna
(2016, p.01)
26

O método proposto e aplicado no Hotel da loucura (projeto realizado dentro


do Instituto Nise da Silveira, localizado no bairro Engenho de Dentro, no Rio
de Janeiro, capital) visa promover e despertar uma potência, em cada
pessoa, de transformação e (auto) empoderamento em relação ao mundo e
ao outro, tanto na direção da construção de uma noção de pessoa coletiva e
quanto da reconstrução de cada individualidade. Para isso é preciso que
outra socialidade se (re)estabeleça nesse agrupamento de individualidades,
ou seja, a socialidade coletiva. (VIANNA, 2016, p.01)

As ações empreendidas no Hotel da Loucura traziam uma forte referência de


princípios pedagógicos e filosóficos. No site da UPAC estão detalhados os conceitos
nos quais os arte-cientistas se referenciaram para desenvolver suas ações. Com
uma proposta pautada na vivência, na prática, na qual a experiência é a base da
construção do conhecimento tendo como referência Paulo Freire que apresenta uma
pedagogia da não dependência, indo de encontro com Nise da Silveira que ensinou
que o afeto é um caminho para o conhecimento, autoconhecimento e conhecimento
do próximo.
O cenopoeta Ray Lima foi uma das personalidades que estiveram presentes e
que contribuíram com esse projeto, e comentou sobre o Hotel da Loucura em um
artigo publicado na Rede Humaniza SUS durante o II Congresso da UPAC que
aconteceu entre os dias 09 e 31 de julho de 2012. Segundo Lima (2012).

Nunca vi, vivi tanta ciência, educação popular, arte, amorosidade,


humanização, produção de saúde, alegria, criatividade, fé, liberdade,
afetividade incondicional, espontaneidade, vontade coletiva, expressividade,
intuição, humanidade, etc. tudo isso junto e ao mesmo tempo. Uma polifonia
de existência, resistência e saber. (LIMA, 2012)

Percebemos que no hotel da loucura tudo acontecia a partir da coletividade.


As pessoas que se hospedavam tinham a oportunidade de conviver com os
pacientes e junto com eles participar das intervenções artísticas que lá eram
realizadas, como cineclubes, oficinas de expressão com teatro, dança, música,
cortejo na instituição e nas ruas do bairro.
27

Fotografia 2. José Pacheco e Ray Lima com clientes do hotel

Fonte: Facebook Vitor Pordeus

Durante o período de atividade do hotel, a arte e a inclusão estiveram


presentes em todas as práticas realizadas. As atividades não eram restritas apenas
aos pacientes e hóspedes, mas eram também abertas ao público de modo que
todos aqueles que tivessem interesse poderiam participar. No hotel todos eram
atores, mesmo aqueles que chegavam como pacientes/clientes eram convertidos a
atores. Essa posição de ator era aplicada a partir das ações empreendidas, pois o
idealizador do projeto encontrou no teatro o método de “cura”. Em um artigo
publicado no site da UPAC Vitor fala sobre a experiência com o teatro no hospital
psiquiátrico. Pordeus, (2015):

Acredito que nossa experiência com teatro e cinema no Hospital


Psiquiátrico do Engenho de Dentro, fundamentalmente inspirada pela Dra.
Nise da Silveira é bem sucedida por que não faz teatro para as pessoas, faz
teatro com as pessoas, distribui o que sabe, treina atores, forma cidadãos,
atua no território, na comunidade, dialoga com o espaço público e
fundamentalmente coopera. Não tem celebridade, tem humanidade.
(PORDEUS, V. 2015)

No Hotel da Loucura praticava-se uma comunicação horizontal, livre de


preconceitos, em que todos podiam exteriorizar a capacidade de se expressar,
28

canalizar a loucura a partir da criação de personagens, com rituais de cura que de


acordo com Vianna (2016, p.1):

Acontece em maior intensidade nos rituais feitos no Hotel, os quais


assumem a forma do teatro, da dança e da livre ação expressiva de cada
integrante. Esse teatro ritual é um conjunto de operações e de dispositivos
mentais e corporais no qual o “todo” fala pelas “partes”. Contudo, para
essas operações alcançarem sua potencialidade total é preciso que um dos
integrantes desse ritual direcione, oriente e catalise essas forças. Essa
dinâmica e essa forma de organização social pode ser encontrada nas mais
diversas culturas onde rituais são praticados. Nos teatros rituais que
acontecem no Hotel, quem assume essa posição catalisadora do coletivo é
o coordenador do Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde, o médico psiquiatra
Vitor Pordeus (VIANNA, 2016, p.1).

Fotografia 3. Teatro ritual no Hotel da Loucura

Fonte: Facebook Vitor Pordeus

Durante quatro anos o Hotel da Loucura esteve de portas abertas,


promovendo arte, cultura e saúde. Os resultados obtidos nesse período de atividade
foram documentados, resultando na produção de diversos artigos e documentários,
chegando a ganhar visibilidade internacional.
O primeiro filme registrado foi o curta-metragem “Clientes e Amigos”, 2012,
produzido pelo cineasta Luiz Santos. Conforme Pordeus, et al. (2017, p.14) “Nesse
29

filme está documentada a realização de oficinas de fundamentação de nosso


processo de trabalho no Instituto Municipal Nise da Silveira.”

Nesse filme, está registrada na cena final a importante evolução de uma


cliente-atriz, que ao longo de sua internação apresentava mutismo seletivo
e, em nossa oficina, verificou-se que ela cantava, falava e conversava. Ao
longo dos últimos cinco anos, ela participa regularmente de nossos cortejos,
apresentações e oficinas. (PORDEUS et al., 2017, p.14)

A segunda produção audiovisual foi o documentário “Hotel da Loucura -


Gênese” (2012-2013), produzido pelas cineastas Mariana Campos e Raquel Beatriz,
conforme Pordeus et al. (2017, p.16) o documentário foi produzido durante o II
Congresso da UPAC, no período de ocupação quando o Hotel da Loucura abriu
suas portas e começou a hospedar médicos, artistas e pesquisadores.

Trata-se de um dos mais importantes documentos de nossa história, com o


registro de muitas situações de cuidado em saúde mental mediada pelo
teatro, pela música, pela dança e pela poesia. A bem sucedida experiência
retratada no filme foi possível graças à oportunidade que tivemos de reunir
um time poderoso de mestres atores e curadores capazes de desenvolver
intensos diálogos com diferentes personagens presentes no território do
Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. (PORDEUS et al, 2017, p.17)

Diversas outras produções foram realizadas, como o curta “Hotel da Loucura”,


de 2013, produzido por João Pedro Gasparian, Antonio Porto Equi e Tomas
Camargo, responsáveis também pela produção do documentário “Afete-se” (2014),
gravado durante o IV Congresso da Universidade Popular de Arte e Ciência
sediado no Hotel e Spa da Loucura.
O curta metragem “Hamlet, loucura sim, mas tem seu método" (2014/2015),
produzido por Luis Eduardo Mafra e que chegou a ganhar destaque em festivais
nacionais e internacionais.
Em 12 de abril de 2015 a British Broadcasting Corporation - BBC publicou a
matéria “From Stratford to Rio: using Shakespeare to treat mental illness” (De
Stratford ao Rio: usando Shakespeare para tratar doenças mentais) produzida pelo
repórter Ben Tavener que documentou o ensaio e a apresentação da peça “Hamlet”.
Pordeus et al. (2017, p.24) relata que foi a matéria de maior repercussão na história
do Hotel da Loucura.
30

Figura 1. Hotel da Loucura na BBC

Fonte: Instagram Vitor Pordeus

Em 2016, o jornal O Globo publicou a matéria “O teatro como tratamento para


a loucura” comentando sobre a apresentação da peça “Deus e o Diabo na Terra de
Fausto”. Na matéria destacaram um caso de sucesso no uso da arte como meio de
reabilitação psicossocial. Globo (2016):

Entre tantas estrelas, Mirian Rodrigues é uma das atrizes do grupo. Artista e
empresária, como gosta de se apresentar, passou a sofrer com surtos de
agressividade após ser expulsa de casa e viver na rua. Ao chegar ao Hotel
da Loucura, em 2012, a atriz não se interessava muito pelo teatro mas, aos
poucos, começou a frequentar as oficinas e se livrou dos remédios.
Atualmente, Mirian mora sozinha, vende empadas e voltou a estudar, além
de se apresentar em diversas cidades do Brasil com o grupo de teatro.
(GLOBO, 2016)

Promover a saúde mental e compartilhar as experiências realizadas sempre


foi o objetivo do Hotel da Loucura e da Universidade Popular de Arte e Ciência.
Acessando o site da UPAC é possível acompanhar a NUVELA que é uma
compilação do repertório de registros audiovisuais produzidos durante todos esses
anos de atividades artísticos culturais de promoção da saúde, em forma de meta-
narrativa de comunicação. Trata-se de uma novela nuvem, desse modo o
31

expectador tem um acesso mais dinâmico e completo, os vídeos são executados de


maneira não linear. A NUVELA é resultado da execução de novas linguagens de
comunicação produzidas com a comunidade para a comunidade. As comprovações
das experiências realizadas no hotel estão evidenciadas e compartilhadas para toda
a sociedade nesse veículo de comunicação que é a NUVELA, promovendo a saúde
mental e provocando reflexões que abrangem o diálogo da área da saúde com
demais campos do saber a partir desses registros arte-científicos.

Figura 2. NUVELA, trecho de apresentação peça teatral

Fonte: Site da UPAC

Todas essas produções são evidências de uma metodologia aplicada e


comprovada de cura, empoderamento, comunicação e humanização. Mesmo com o
reconhecimento nacional e internacional do método utilizado no Hotel da Loucura,
em 2016 o hotel sofreu um “ataque” da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, o
que resultou no fim dessas práticas dentro do Instituto Municipal Nise da Silveira. No
vídeo “O hotel da loucura corre perigo entenda porquê” publicado em 17 de maio de
2016 no Youtube, Vitor Pordeus explicou a crise que ameaçou e encerrou os
trabalhos realizados no hotel, começando com a exoneração do seu cargo. Em 2015
ele recebeu um convite para fazer doutorado em psiquiatria sobre o Hotel da
Loucura no Canadá, tendo a oportunidade de levar seu trabalho a outro nível. Em
maio de 2015 chegou o momento de Vitor Pordeus ir para o Canadá. A respeito
disso Malgadi (2018, p.123) relata que:
32

Em meados de 2015, Vitor Pordeus deu início a um doutoramento no


departamento de Psiquiatria Cultural da McGillUniversity, em Montréal, no
Canadá, tendo que se ausentar do cotidiano do projeto para cumprir os
requisitos da pós-graduação. O acontecimento gerou uma reviravolta, a
começar pelos próprios participantes das oficinas, que se indagavam como
poderiam dar continuidade às atividades sem contar com a presença física
de seu grande agitador. Embora com os ânimos alterados, o Hotel da
Loucura seguiu funcionando por um período, desta vez com a missão de se
empenhar em suas propostas de maneira mais auto-gestiva. Vitor nunca
deixou de se comunicar com sua equipe, e continuou retornando com
regularidade ao Rio de Janeiro, onde passou a desenvolver um novo projeto
com uma peça baseada no Fausto, de Goethe. (MALGADI, 2018, p.123)

O projeto aqui no Brasil estava no seu ápice, com grande avanço dos
pacientes, funcionários, o instituto estava cada vez mais movimentado e o trabalho
da doutora Nise sendo divulgado. Mesmo em decorrência de todo o progresso
alcançado ocorreu que Vitor Pordeus foi exonerado do seu cargo acusado de não
cumprir sua carga horária, assim como relata Malgadi (2018, p.123).

Em maio de 2016, Vitor e toda a rede de colaboradores do Hotel da Loucura


foi pega de surpresa com a notícia da exoneração de seu cargo. A decisão
foi silenciosamente publicada no Diário Oficial da União, enquanto o médico
encontrava-se em Montréal. A aparente justificativa para tal ato, surgida nas
redes sociais, foi o descumprimento de sua carga horária e sua “ausência”
nas atividades do projeto. (MALGADI, 2018, p.123)

Em decorrência disso O Globo publicou um artigo escrito pela repórter Thalita


Pessoa sobre o fato ocorrido “A exoneração de Pordeus ocorreu sem anúncio prévio
e gerou comoção entre funcionários e, principalmente, entre os pacientes, levando
alguns a entrarem em quadro de perturbação mental” (PESSOA,2016). Para ocupar
o cargo na coordenação do Núcleo de Cultura, Saúde e Ciência foi nomeado o
fotógrafo Marcelo Gonçalves Moura Valle que não tinha noção das ações que eram
desenvolvidas no Hotel da Loucura. “O Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde continua
a existir. O Hotel da Loucura, sem um coordenador que o conheça suficientemente
para administrar o projeto, não.”, continua a repórter (2016). A exoneração de Vitor
Pordeus trouxe uma reviravolta entre os pacientes e as pessoas que conheciam e
participaram do projeto, uma petição foi encaminhada ao prefeito Eduardo Paes no
intuito que Vitor voltasse a assumir o cargo.
O antropólogo Luciano Von Der Goltz Vianna produziu um artigo intitulado
“Loucura tem método: Um ponto de vista antropológico sobre as práticas
terapêuticas utilizadas no Hotel da Loucura/RJ” em que ele apresenta um pouco da
sua pesquisa que é fundamentada na descrição dos princípios metodológicos, éticos
33

e científicos do Hotel da Loucura. Nesse texto o autor ressalta a importância de Vitor


Pordeus para a continuidade do projeto, explicando porquê ele não deveria ser
afastado do seu cargo e as implicações que isso traria. O autor relata que quando
Vitor foi para o Canadá fazer doutorado, ele não foi sozinho, pois junto com ele foi
todo o coletivo, o hotel foi tema de várias palestras e seu método e práticas foram
aplicadas e aprimoradas e essa formação complementar resultaria em grandes
avanços para o hotel. De acordo com (VIANNA,2016, p.8)

O cuidador principal desse coletivo é Vitor Pordeus, e ele é indispensável


para a continuidade e sustentabilidade da saúde desse coletivo ritual e do
projeto Hotel da Loucura e da UPAC. Retirar ele de seu cargo é deixar esse
coletivo ritual adoecer ou até talvez deixar de existir. (VIANNA, 2016, p.8)

Fotografia 4. Mobilização de pacientes pedindo a reintegração de Vitor Pordeus

Fonte: Facebook Vitor Pordeus

Em 2016 muitas pessoas se pronunciaram apoiando Vitor Pordeus, assinando


a petição, enviando mensagens de reconhecimento do trabalho, na internet vários
pedidos de reintegração sempre acompanhados das hashtags:
#SomosTodosPordeus, #FicaPorDeus, #Ocupanise e #SosHotelDaLoucura. Mas
essa mobilização não obteve resultados. No dia 8 de julho de 2016 Vitor Pordeus
publica em seu canal do youtube um vídeo anunciando a morte do Hotel da Loucura
e relata que o projeto que foi instalado em uma ala abandonada, local em que
ninguém queria estar se tornou objeto de cobiça da Secretaria de Saúde.
34

Figura 3. Pronunciamentos em apoio ao Hotel da Loucura e Vitor Pordeus

Fonte:Facebook

O hotel da loucura perdeu seu espaço dentro do Instituto Nise da Silveira,


mas seu método e a execução dos projetos continuaram a existir, como é o caso do
grupo do Teatro de Dyonises, formado por atores-cientistas da UPAC que atuavam
no hotel fazendo teatro com os pacientes, ocupando as praças com teatro. Segundo
Malgadi (2018, p.125) o “Teatro de Dyonises diminuído, mas resistente, passou a
realizar seus encontros fora do espaço hospitalar, na Praça Rio Grande do Norte, no
Engenho de Dentro, a poucos metros do Instituto Nise.”Na apresentação do Dr. Vitor
Pordeus sobre biologia, filosofia e psiquiatria cultural disponível no youtube com o
título “Restaurar a arte de curar: Loucura sim, mas tem seu método” ele anuncia que
o trabalho vai continuar nas praças, promovendo saúde através das artes e coloca
também que estão em busca de uma nova sede para acolher os processos e
memórias produzidos no Hotel da Loucura.
35

Capítulo 3. Hotel da Loucura e Educomunicação: articulações

Neste capítulo buscamos identificar nas práticas desenvolvidas no Hotel da


Loucura conexões com a Educomunicação, a partir das ações que foram
empreendidas no hotel. Para isso procurou-se detectar os elementos que intercalam
a comunicação com os processos de cuidado e promoção da saúde mental.
Percebemos que o uso da arte com pacientes em sofrimento psíquico proporcionou
o surgimento de novas atitudes e formas próprias de expressão. Para um melhor
entendimento é necessário compreender o que é Educomunicação e suas áreas de
intervenção.

3.1 EDUCOMUNICAÇÃO

A Educomunicação é um campo de inter-relações que dialoga entre duas


áreas do conhecimento, comunicação e educação com uma visão alternativa,
direcionada para a prática. Deste modo as ações empreendidas vêm trazendo
resultados tanto para a comunicação quanto para a educação. Um dos principais
objetivos é a transformação social, com a prática de uma comunicação para a
cidadania, sistematizando práticas comunicacionais existentes na sociedade,
atuando em ambientes de educação formal, não formal e informal. Ismar Soares
(2014) define Educomunicação como:

Conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação


de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer
“ecossistemas comunicativos”, qualificados como abertos e participativos,
garantidos por uma gestão democrática dos processos de comunicação nos
diferentes ambientes de relacionamento humano (envolvendo, no caso, em
igualdade de condições, a comunidade como um todo, seja ela educativa ou
comunicativa); ampliar o potencial comunicativo e as condições de
expressividade dos indivíduos e grupos humanos, mediante práticas
culturais e artísticas, assim como através do uso dos recursos
disponibilizados pela era da informação, tendo como meta prioritária o
reconhecimento do protagonismo infanto juvenil; favorecer referenciais e
metodologias que permitam às comunidades humanas relacionarem-se,
enquanto sujeitos sociais (SOARES, 2014, p. 17).

Assim como referencia Ismar Soares, a Educomunicação está diretamente


ligada a criar e gerir ecossistemas comunicativos, a partir das intervenções sociais
com o propósito de efetuar transformações que solucionem os “desafios
36

apresentados pela sociedade atual, mobilizada por graves questões relacionadas à


vida, à ética, ao planeta, ao trabalho, à convivência entre diferentes, à dignidade
humana, entre outros temas.”SOARES (2011, p.53). Isto vem ao encontro de
Almeida (2016, p.6) que concluiu que “As intervenções sociais se voltam para o
desenvolvimento pessoal, interessam-se pelo bem-estar coletivo dos sujeitos e
norteiam-se pela filosofia educomunicativa”.

Existem sete áreas de intervenções educomunicativas, são elas:


 Educação para a Comunicação: tem como objetivo a conscientização frente
aos meios de comunicação, possibilitando ao individuo adotar uma postura
crítica diante da mídia de modo a conscientizar e romper com a imagem do
receptor passivo, tornando-o consciente do seu direito à comunicação
levando-o a se comunicar de maneira autônoma.
 Mediação Tecnológica na Educação: levar os indivíduos a utilizarem a
tecnologia em seu processo de aprendizado. “Além disso, essas novas
formas de aprender mostram que o ensino não se restringe a sala de aula e
que os objetivos da educação devem ir além do conteúdo escolar,
contribuindo para o desenvolvimento humano.” (METZKER, 2008, p.9).
 Gestão da comunicação: buscar soluções para os problemas existentes nos
diferentes ecossistemas comunicativos visando uma melhor unidade
comunicativa na perspectiva dialógica. É uma área fundamental para a prática
educomunicativa.
 Expressão Comunicativa Através das Artes: levar os indivíduos a se
comunicar/expressar utilizando a linguagem artística. A arte para transmitir
ideias ou sentimentos, uma forma de criar relações e promover a inclusão,
rompendo com certas barreiras que impedem a comunicação.
 Pedagogia da Comunicação: Tem por finalidade levar os indivíduos a usar
técnicas da comunicação para melhorar as relações entre as pessoas
priorizando o diálogo.
 Produção Midiática: desenvolvimento de produtos midiáticos utilizando os
métodos educomunicativos.
 Epistemologia da Educomunicação: essa área “Volta-se a sistematização de
experiências e ao estudo do próprio fenômeno constituído pela inter-relação
37

entre educação e comunicação, mantendo atenção especial a coerência entre


teoria e pratica” (GOTTLIEB, 2010, p.112).

O mais comum no campo da Educomunicação são pesquisas e práticas


direcionadas aos ambientes de educação formal, mas em qualquer local que exista
comunicação pode ter uma intervenção educomunicativa. As áreas de intervenção
favorecem a criação de ecossistemas comunicativos dialógicos. O profissional
responsável por coordenar as práticas utilizando as áreas de intervenção é o
educomunicador. Conforme Schaun (2002, p.84)

Os educomunicadores são agentes de transformação na medida em que


aceitam desafios e buscam, inspirando-se no cotidiano e nas referencias
locais, mudar a realidade com projetos criativos e inovadores, sempre
privilegiando o convívio e o desenvolvimento de ecossistemas
comunicativos.(SCHAUN, 2002, p.84)

Após a compreensão do conceito de Educomunicação, pensando em uma


comunicação comunitária e cultural que não está relacionada à mídia de massa, e
sim na conscientização, e transformação social partimos inicialmente da área
educomunicativa da “Expressão Comunicativa Através das Artes” nos propondo a
averiguar tendências para a educomunicação na área da saúde de modo a pensar a
promoção de saúde mental não apenas de forma a compartilhar informações e sim
visando uma atuação prática, interventiva, na qual se torne possível fomentar a ideia
de prevenção. Para isso nos referenciamos nos princípios e métodos utilizados pelo
Dr. Vitor Pordeus no Hotel da Loucura. De acordo com Pordeus et al (2017,p.13) “A
psiquiatria transcultural, que assume a história, a cultura, a linguagem, as imagens e
a arte, e da qual a experiência de Nise é um dos exemplos mais brilhantes e
significativos, estuda também a história dos traumas.” A partir da pesquisa histórica,
cultural e social é possível identificar e entender a causa de perturbações mentais.
Na intervenção artística, no resgate da memória, da ancestralidade, Vitor Pordeus
encontrou caminhos para cuidar de pessoas com diferentes estados psíquicos e
promover a saúde mental.
38

3.2 MÉTODO DE CURA, TEATRO, SAÚDE MENTAL E EDUCOMUNICAÇÃO

O hotel desenvolveu um grande número de atividades de cunho artístico,


cultural e educacional que tinham como objetivo o desenvolvimento da autonomia
intelectual dos pacientes e dos demais participantes das atividades que lá foram
realizadas, sendo assim torna-se possível aproximar o método aplicado no hotel
com a área da Expressão Comunicativa Através das Artes. De acordo com Metzker
(2008, p. 11) “Essa é a área mais recente da Educomunicação e ainda pouco
pesquisada”. Ao referir-se a essa área de intervenção Souza & Costa (2011, p.5) diz
que:
Quando nos lançamos à compreensão do campo educomunicativo de
atuação, a partir da perspectiva do ambiente de produção artística, nos
deparamos com a expressão comunicativa através das artes, a qual leva
em conta programas e projetos que se aproximam das artes enquanto
recursos facilitadores da expressão individual e coletiva. (SOUZA& COSTA,
2011, p.5)

Para assimilar a relação desses conceitos com a saúde mental é preciso


entender o método de trabalho realizado por Vitor Pordeus, como ele enxerga a
comunicação e a relação da comunicação com a saúde. Em uma entrevista
realizada com o Dr. Vitor Pordeus ele esclareceu que as doenças psíquicas são
bloqueios de comunicação. Quando a comunicação é defectiva, o indivíduo perde o
contato com ele mesmo e com o outro, tornando impossível se conectar com as
próprias emoções. Surge uma negação do discurso e do afeto, é isso que se vê
dentro das clínicas psiquiátricas, o paciente não se comunica, a falta de
comunicação é o percussor dos transtornos mentais. Ele entende a comunicação
como uma ação eficiente que coloca a vida em movimento, como um processo de
construção social. Ele ressalta que esses princípios em relação à comunicação e
saúde são baseados nas referências científicas de Gregory Bateson, Humberto
Maturana e Carl Gustav Jung. Ele salienta que Jung pode ser um dos autores mais
importantes nessa relação por estudar a natureza simbólica dos processos de
comunicação, mostrando que através dos símbolos é possível identificar o estado
mental em que as pessoas se encontram.
Outro autor que o Vitor referencia é Paulo Freire que traz a ideia de
comunicação quanto à pedagogia, remetendo a existência de uma pedagogia da
dependência, que produz uma sociedade dependente, em que se perde a autonomia
intelectual e essa perda seria a base da psicose de massa. De acordo com Freire
39

(1987, p.33) “nesta destorcida visão da educação, não há transformação, não há


saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente
que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros”. Isso advém da
concepção da educação bancária em que os indivíduos são vistos como seres de
adequação (FREIRE, 1987, p.34). Ao se referir a busca por uma pedagogia
libertadora, o autor faz uma crítica à educação bancária, Freire (1987, p.38)

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos


homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A
libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa
que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É
práxis, que implica na ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para
transformá-lo. (FREIRE, 1987, p.38)

Na entrevista Vitor Pordeus explicou sobre o desafio de comunicação que


existe em relação à saúde, pois de acordo com ele “O médico tem que ser um bom
comunicador, ele precisa encontrar o bom discurso para o tipo certo de paciente, se
a comunicação acontece corretamente a pessoa cura, sai do estado de obscuridade
que é a doença”. Sócrates, nos textos de Platão, já dizia que a medicina é uma arte
retórica. E a cura deve existir tanto para o corpo como para a alma. Platão (2015,
p.257)

“Sócrates: A medicina tem, de certo modo, o mesmo caráter da retórica.


Fedro:Como?
Sócrates: Em ambas é necessário analisar uma natureza (physis): a do corpo
em uma, a da alma na outra, não somente como uma rotina e uma prática, mas
como uma técnica (tékné), para ministrar assim ao corpo remédios e alimentos e
produzir assim, nele, saúde e força; e para a alma, raciocínios (lógos) e
ocupações justas para lhe transmitir a convicção que queiras e a virtude que é
desejável”. Fedro (PLATÃO, 2015, p.257)

Vitor ainda relatou que o que ele realizou com o Hotel da Loucura foi a criação
de um espaço de comunicação, de diálogo, uma forma de romper com a
comunicação de monólogo que não permite que as pessoas falem. Existe no
paciente com problemas psíquicos a necessidade de comunicar-se e essa
comunicação tem que ser para a autonomia, para o desenvolvimento humano uma
comunicação para a saúde mental. E essa comunicação “há de ser uma
comunicação que busca a compreensão, como compreender o outro e ser
40

compreendido, isso exige uma imensa sensibilidade”. A arte e o teatro possibilitaram


essa comunicação com os seus pacientes.
No Hotel da Loucura Vitor Pordeus realizava oficinas de formação de atores
com os pacientes, nas quais ele entrava em cena, dançava, cantava junto com eles.
“No teatro as sombras aparecem como personagens, cada pessoa vai se atraindo
por um tipo certo de personagem, herói, vilão, donzela, bruxa”. Ele reforça que o
teatro e a distribuição dos personagens permitem acessar os traumas das pessoas,
de modo que os pacientes possam expressar conteúdos do inconsciente de uma
forma não violenta. Vitor Pordeus chamou isso de rituais de comunicação, que
exercem a função de recompor a memória, organizar, refazer nossas origens,
conhecer a nós mesmos e a nossa comunidade. Desta forma é possível encontrar a
origem do trauma, curar a psique e promover a autonomia. Ou seja, identificar os
bloqueios que impendem que a comunicação aconteça e possibilitar a expressão
dos indivíduos assim como propõe a Expressão Comunicativa Através das Artes. Ele
ainda destacou na entrevista que “Isso é cura, ganhar potencia para agir, passar de
um estado de dependência para autonomia. E o teatro e arte são ferramentas
poderosas para esse desenvolvimento”.

Fotografia 5. Vitor Pordeus desenvolvendo atividades de teatro com os pacientes

Fonte: Facebook Vitor Pordeus


41

3.3 JORNAL REORGANISE

O Hotel da Loucura contou com a participação e colaboração de diversos


coletivos, os quais podiam ocupar o espaço desde que lançassem uma proposta de
intervenção. O hotel era um lugar que proporcionava o encontro de diversas
pessoas com interesses em comum, o que resultava em identificações com várias
propostas e projetos que lá aconteciam. Entre uma diversidade de coletivos e ações
surgiu um jornal de militância com uma proposta pautada na luta antimanicomial. No
Hotel da Loucura nasceu o Jornal ReorgaNise que esteve presente de 2014 até o
fechamento do hotel em 2016 e contou com 3 edições publicadas.

Figura 4. Edições do Jornal ReorgaNise

Fonte: FanpageFacebook Jornal ReorgaNise

Everton Silva, co-fundador do jornal, nos relatou em uma entrevista que antes
de surgir o Jornal ReorgaNise já existia a ideia de produzir um jornal libertário, para
desenvolver trabalhos de militância através da comunicação que seria realizado em
São Paulo. Mas em 2014 conheceram o Hotel e Spa da Loucura e houve uma
identificação com as práticas que lá eram desenvolvidas, foi quando tiveram a ideia
de ocupar e propuseram a criação do jornal como proposta para ocupação. Ele nos
evidenciou que uma das primeiras pessoas que conheceram no hotel foi a paciente
Luciene Adão, ela possuía todo um histórico de internações psiquiátricas e mesmo
assim era capaz de comunicar coisas que aconteciam em diferentes lugares do
mundo, trazia reflexões e questionamentos de vários fatos sociais. Nela eles
identificaram uma vontade de se expressar de várias formas, para todo lugar que ela
42

ia carregava consigo alguns cadernos nos quais escrevia sobre questões pessoais,
políticas, desenhos e poesias. A descoberta desse material foi uma surpresa para
todos, sendo o encontro com essa paciente um fator primordial para o jornal. Antes
da escolha do nome do jornal eles já tinham algo determinado, criar uma coluna que
seria fixa para publicar os textos da Luciene, chamada “Quando eu morrer quero
virar estrela”, frase escrita pela paciente. A partir de então ela se tornou a espinha
dorsal desse projeto.
De acordo com Linda Marina, membro do jornal que também atuou como
mediadora de oficinas de ações expressivas no Hotel da Loucura, o ReorgaNise
surgiu do desejo de melhorar a comunicação no hotel e expor para o público externo
as ações que aconteciam dentro do Instituto Municipal Nise da Silveira.
Em volta da instituição existe uma pista de caminhada, várias pessoas
circulam por ali e não sabiam o que acontecia dentro daquele espaço. Era
necessário desenvolver um canal de comunicação produzido com os internos que
fosse capaz de levar a voz dos pacientes para além dos muros da instituição.
O jornal teve um caráter lúdico, mas também de contestação, possui cores,
desenhos e poesias, mas também levanta diversos questionamentos, partindo da
premissa que a luta antimanicomial abrange as demais lutas da sociedade. Segundo
Everton, dentro do manicômio a maioria das pessoas que estão internadas é
formada por negros, mulheres, pessoas que sofreram rejeição da família, racismo,
homofobia, drogas. Diante dessa situação o jornal se propôs a dialogar além do que
a mídia mostra para alcançar os mais diversos espaços e principalmente mostrar o
cotidiano dos internos.
Aproveitaram o trabalho desenvolvido por Vitor Pordeus e da UPAC que
permitiu que um espaço fosse a eles atribuído e construíram a redação do jornal. Os
integrantes desse coletivo chegaram a literalmente residir dentro do Hotel da
Loucura o que possibilitou uma convivência mais próxima com os internos do
Instituto Municipal Nise da Silveira. A maior parte da produção era realizada em
conjunto com os pacientes, exceto detalhes e a diagramação, mas tudo passava
pela aprovação deles. De acordo com Everton eles passaram o período de
aproximadamente um mês produzindo, mas sem externar conteúdo, decidiram então
lançar a primeira edição que foi publicada no dia 14 de dezembro de 2014 com um
número de 2000 exemplares que eram vendidos ao valor simbólico de um real e
43

muitos exemplares também foram distribuídos gratuitamente. O dinheiro arrecadado


com as vendas foi destinado à continuidade do projeto.
O coletivo do Jornal ReorgaNise realizava um série de ações com os
pacientes, desenvolvendo um trabalho que era produzido com os clientes do hotel
de ponto a ponto, um exemplo disso foi o lançamento da primeira edição do jornal no
dia do aniversário da colunista fixa do jornal Luciene Adão. Para tanto foi promovido
um evento no Hotel da Loucura, que teve a participação dos internos do Instituto
Municipal Nise da Silveira e de outros coletivos que faziam parte do hotel. O evento
contou com uma série de atividades, como exibição de conteúdos audiovisuais,
exposições de trabalhos artísticos e de militância e performance de dança.

Fotografia 6. Evento de lançamento da 1º ed do jornal

Fonte: FanpageFacebook Jornal ReorgaNise

A primeira edição do jornal (2014) é uma apresentação do Hotel da Loucura e


das ações que lá eram realizadas. O primeiro texto, “Arte do inconsciente”, fala
sobre Carl Gustav Jung e Nise da Silveira que foram referências no trabalho do
hotel. Em seguida o texto “Nós somos a UPAC” escrito por Vera Dantas, médica,
artista e cientista que apresenta a proposta educacional da Universidade Popular de
44

Arte e Ciência. O texto “Hotel da Loucura: a ocupação” relata o processo de


ocupação das enfermarias desativadas do Instituto Nise da Silveira em virtude do II
Congresso da UPAC e a transformação desse espaço em um centro cultural de
promoção de saúde, arte, cultura e afeto, citando também o Teatro de DyoNises e a
experiência dos atores/clientes. Chegando então na Coluna “Quando eu morrer
quero virar estrela” o espaço de expressão da Luciene e a característica principal do
Jornal.

Figura 5.Coluna Quando eu morrer quero virar estrela

Fonte: Jornal ReorgaNise, 1º ed (2014)

Uma particularidade dessa coluna é que os textos da Luciene foram


publicados na íntegra, de forma a garantir a autenticidade da autora, do jeito que era
escrito apenas eram digitados e publicados. Os membros do jornal informaram que
ela era a cliente mais ativa que participava do jornal, sempre estava produzindo.
A primeira edição (2014) foi finalizada apresentando uma ação que integrava
os artistas e clientes do hotel com a comunidade, trata-se da reciclagem de
45

alimentos, uma prática que proporcionava aos internos a oportunidade de aprender


sobre alimentação saudável, exercitando a autonomia no manuseio e preparo da
alimentação. A reciclagem de alimentos ocorria nas feiras que ficam no entorno da
instituição, os residentes do hotel e internos do hospital se organizavam em grupos e
recolhiam alimentos que ainda estavam próprios para o consumo e provavelmente
seriam descartados. Essa ação possibilitou uma aproximação entre os comerciantes
e as atividades que aconteciam no Hotel da Loucura, além de fomentar a proposta
do não desperdício de alimentos.
O ReorgaNise, além de ter sido um veiculo de comunicação também foi
responsável por diversas intervenções, as quais buscavam romper com o estigma
existente sobre as pessoas que estão em tratamento psíquico. Produzir com os
pacientes, levar atividades que os possibilitem interagir, refletir e se expressar,
realizar ações que vão além do que é habitual ao funcionamento de um hospital
psiquiátrico, contando com a realização de eventos que abordaram assuntos como
ocupações e moradia que foi tema da 2º edição (2015) e racismo, tema da 3º edição
(2015).
A relação entre o jornal e a Educomunicação se inicia a partir das ações
interventivas realizadas com os clientes do Hotel da Loucura, proporcionando
transformações na realidade dos participantes, trilhando caminhos que se
entrelaçam na interface da comunicação e educação, proporcionando conexões
internas e externas, criando ambientes estimuladores da autonomia e da criatividade
permitindo que a comunicação acontecesse por meio de ações práticas e dialógicas.

Didaticamente, ao pensar em intervenção, convenciona-se a existência de


dois polos: a equipe, que protagonizará a intervenção e os participantes,
que sofrerão a intervenção. Ressalta-se, contudo que as decisões sobre o
que fazer não podem ser unilaterais, os processos devem ser participativos,
dialógicos, envolvendo todos: os interventores e os participantes.
(ALMEIDA, 2016, p.14)

Identificamos nos processos realizados pelo coletivo do jornal similaridades


com algumas áreas de intervenção educomunicativas, assim a área da Pedagogia
da Comunicação se fez presente, considerando que utilizaram recursos da
comunicação para estimular o diálogo, tanto internamente quanto externamente,
possibilitando também que os pacientes se comunicassem a partir de um veículo de
comunicação.
46

Capítulo 4. Procedimentos metodológicos

Essa pesquisa é direcionada por uma abordagem qualitativa, em que se


investigam relações humanas e sociais promovidas a partir das ações realizadas no
Hotel da Loucura. O ambiente em questão trabalhava com intervenções que lidam
com um conjunto de significados e atitudes dos participantes. Conforme Prodanov e
Freitas (2013 p. 70) na pesquisa qualitativa “há uma relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números”. Quanto à
natureza, é uma pesquisa aplicada de acordo com Silveira e Gerhardt (2009, p.35),
pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de
problemas específicos” tendo em vista que o conhecimento pode e deve ser utilizado
no desenvolvimento e aplicação de métodos que proporcionam transformações
sociais.
Do ponto de vista dos objetivos esta pesquisa é descritiva segundo Prodanov
e Freitas (2013, p.52) “o pesquisador apenas registra e descreve os fatos
observados sem interferir neles” apresentando o objeto de estudo, evidenciando o
que ele é, onde se localiza. Prodanov e Freitas (2013, p.52)

Nas pesquisas descritivas, os fatos são observados, registrados,


analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira
sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano são
estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador. Incluem-se, entre
as pesquisas descritivas, a maioria daquelas desenvolvidas nas ciências
humanas e sociais, como as pesquisas de opinião, mercadológicas, os
levantamentos socioeconômicos e psicossociais. (PRODANOV e FREITAS,
2013, p.52)

Buscamos descrever as características do Hotel da Loucura e estabelecer


relações entre as seguintes variáveis: arte, comunicação e saúde mental.

4.1 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Em relação aos procedimentos técnicos, a presente pesquisa é caracterizada


como um estudo de caso, de acordo com Gil (2002, p.54) “Consiste no estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e
detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros
47

delineamentos já considerados”. A utilização do estudo de caso pode seguir


diferentes propósitos. Gil (2002, p.54)

a) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente


definidos; b) preservar o caráter unitário do objeto estudado;
c) descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada
investigação; d) formular hipóteses ou desenvolver teorias; e e) explicar as
variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas
que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. (GIL,
2002, p.54)

Sendo assim, o Hotel da Loucura foi uma entidade instalada dentro de uma
instituição psiquiátrica, por isso procuramos desenvolver uma perspectiva
interpretativa, compreendendo o que foi o hotel e fazendo articulações das práticas
artísticas e comunicacionais que lá foram desenvolvidas com as áreas de atuação
da Educomunicação.
O levantamento dessas informações se constituiu a partir da pesquisa
bibliográfica e documental. Recorremos a autores que estudaram mais a fundo os
temas aqui abordados a partir de livros, artigos e publicações acadêmicas
relacionadas ao Hotel da Loucura, a arte, comunicação, promoção de saúde mental
e Educomunicação. O que tornou possível obter um referencial teórico significativo
para responder às questões da pesquisa. Fonseca (2002, p.32)

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências


teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como
livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico
inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas
científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,
procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher
informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual
se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

Por se tratar do estudo de uma entidade que não existe mais, foi necessário
recorrer a conteúdos produzidos no hotel. Para compreender a dinâmica dos
processos interventivos que lá eram realizados foram consultados registros
audiovisuais, fotográficos e mídias impressas. Em especial o jornal ReorgaNise
serviu como fonte de levantamento de dados. Fonseca (2002, p.32)

A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa


bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica
utiliza fontes constituídas por material já elaborado, constituído basicamente
por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas. A pesquisa
documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem
48

tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas,


relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas,
tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.
(FONSECA, 2002, p. 32).

Considerando a Educomunicação como uma ciência interdisciplinar


presumindo as relações entre as áreas de intervenção e as ações empreendidas no
hotel, foram selecionados alguns sujeitos para a pesquisa e instrumentos de coleta
de informações.

4.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Com o intuito de compreender especificidades relacionadas às práticas do


Hotel da Loucura foram realizadas três entrevistas que resultaram em contribuições
significativas para a pesquisa. Ao referir-se a entrevista, Rodrigues (2007, p.133) diz
que “é uma técnica de coleta de informações de uso universal em ciências sociais,
isto é psicólogos, sociólogos, pedagogos, antropólogos, historiadores, enfim, todos
os ramos da pesquisa social fazem uso desta técnica.” Isto vem ao encontro de
Silveira e Gerhardt (2009, p.72) que define como “uma técnica de interação social,
uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a
outra se apresenta como fonte de informação”. Os meios de comunicação facilitam e
proporcionam que as entrevistas possam ser realizadas à distância. Conforme
Rodrigues (2007, p.133 apud APPOLINÁRIO, 2004, p.70)

Ocorre na presença física ou a distância do pesquisador e do sujeito


entrevistado. Envolve (...) quatro elementos: o entrevistador, o entrevistado,
o ambiente (natural ou controlado) e o meio (pessoal, por telefone etc.)
através do qual ocorre a entrevista. (RODRIGUES, 2007, p. 133 apud
APPOLINÁRIO, 2004, p. 70)

Os entrevistados selecionados para a pesquisa foram o Dr. Vitor Pordeus,


fundador da UPAC e criador do Hotel da Loucura, Linda Marina e Everton Silva,
participantes/idealizadores do Jornal ReorgaNise. As entrevistas foram feitas
individualmente e realizadas por intermédio do Skype, um software de comunicação
para chats e chamadas pela internet. Todas as entrevistas foram gravadas com o
consentimento dos entrevistados. As entrevistas desempenharam um papel
fundamental para o processo de articulação com as áreas da Educomunicação
possibilitando a compreensão das dinâmicas e métodos utilizados no Hotel.
49

As três entrevistas foram semiestruturadas, com tópicos selecionados para


serem abordados, mas pelo fato dos entrevistados possuírem um grande domínio do
assunto foi permitido que eles discorressem livremente, o que possibilitou uma visão
geral e também desdobramentos do tema principal possibilitando um maior
aprofundamento da temática investigada.
Ao ter conhecimento sobre o Hotel e decidido utilizá-lo como objeto de
estudo, a primeira ação foi descobrir quem o criou. Com essa descoberta e a
motivação de conhecer mais sobre o local, buscamos algumas maneiras de contatar
o Dr. Vitor Pordeus inicialmente a partir das redes sociais. Foi realizada uma busca
no Facebook e encontramos o seu perfil, imediatamente foi enviado uma solicitação
e uma mensagem explicando a proposta da pesquisa e expressando curiosidade em
relação às práticas desenvolvidas. Recebemos a resposta e indicações de
referencial teórico e registro audiovisual para conhecer o projeto. Com o objetivo de
explanar um pouco mais sobre o assunto solicitamos uma entrevista e rapidamente
obtivemos a resposta e conseguimos marcar uma data para a realização. A
entrevista foi realizada via Skype em consequência da distância geográfica, pois ele
se encontrava em Montreal – Canadá.

4.3 DESCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS

A entrevista foi realizada no dia 02 de maio de 2018 às 17 horas e teve


duração de 1h20min. Nesse tempo buscamos conhecer questões relacionadas à
promoção de saúde mental e seu método de trabalho em psiquiatria transcultural, o
desafio da comunicação em saúde mental, o uso da arte e a importância do teatro
ritual com pacientes em sofrimento psíquico, e o que era o Hotel da Loucura. Essa
entrevista trouxe, a partir da fala do entrevistado, grandes reflexões sociais e
filosóficas. Ele ainda falou sobre formas de utilizar a comunicação e a arte como
métodos de prevenção e promoção da saúde mental.
50

Figura 6. Entrevista com o Dr. Vitor Pordeus

Fonte: André Felipe

Durante o processo de pesquisa sobre o Hotel da Loucura, nos deparamos


com o coletivo que foi responsável pela implantação do jornal impresso no hotel no
qual a colunista era uma paciente do Instituto Municipal Nise da Silveira e também
cliente/artista no Hotel da Loucura. O jornal ReorgaNise conta com três publicações
lançadas. Por se tratar de um veículo de comunicação criada dentro do hospício,
com a participação dos pacientes e principalmente por ser algo que fazia parte da
realidade do Hotel, logo de cara identificou-se práticas Educomunicativas o que
resultou na curiosidade em saber quem realizava essa ação e como era o processo
de criação.
O primeiro contato com os responsáveis pelo ReorgaNise se deu através das
redes sociais por intermédio da página do jornal no facebook. Entramos em contato
e rapidamente houve a resposta de Linda Marina que era encarregada do editorial
do jornal e concordou em ceder uma entrevista.
A entrevista foi realizada no dia 25 de junho de 2018 às 16 horas e teve
duração de 1h18min. Durante esse tempo ela descreveu o que foi o jornal, como
era desenvolver esse trabalho dentro do hospício, os objetivos do jornal, e a
experiência de serem um coletivo que literalmente residiram no Hotel da Loucura até
ele chegar ao fim. A Linda Marina, além de membro do ReorgaNise também
trabalhou no Hotel na execução de oficinas de ações expressivas, e toda essa
vivência foi compartilhada nos trazendo uma compreensão mais ampla das
intervenções que lá eram realizadas.
51

Figura 7. Entrevista com Linda Marina.

Fonte: André Felipe

Através da Linda tivemos contato com Everton da Silva Oliveira, coordenador


do projeto SOMA (Sociedade Orgânica Múltiplos Amores) em São Paulo e co-
fundador do Jornal ReorgaNise que também se disponibilizou a nos conceder uma
entrevista. Com o Everton a entrevista foi realizada no dia 27 de junho de 2018, às
09 horas e teve duração de 01h36min. Com ele obtivemos uma descrição mais
detalhada da história do jornal e o impacto que esse produto causou na realidade
dos internos da instituição, uma perspectiva maior das ações realizadas com os
pacientes, processos de intervenção que iam além de apenas exteriorizar o
cotidiano do Hotel da Loucura.

Figura 8. Entrevista com Everton

Fonte: André Felipe


52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retornando aos questionamentos iniciais, que despertaram nosso interesse


em investigar, buscando compreender até que ponto as ações empreendidas
(linguagens artísticas) no Hotel e Spa da Loucura representam práticas
educomunicativas. Ou mesmo, seria a Educomunicação um meio eficaz de
contribuição na promoção de saúde mental? Ao abordar o tema percebemos que foi
necessário levantar reflexões que se entrelaçam com várias áreas do conhecimento,
foi necessário utilizar uma diversidade de fontes, que produziram mais perguntas do
que respostas. Inicialmente parecia que seria fácil identificar ações aplicadas no
hotel e relacionar com a Educomunicação, mas para compreender as atividades que
lá aconteciam em primeiro lugar foi necessário compreender o que era o ambiente
em questão. Existem várias reportagens que retratam o Hotel da Loucura, mas
nenhuma expressa a complexidade daquele lugar. O que realmente pode
caracterizá-lo é o método que lá foi desenvolvido, além de científico é baseado no
afeto.
Esta pesquisa nos trouxe novas percepções sobre a comunicação. Quando
nos propomos a investigar se a Educomunicação seria eficaz na promoção de saúde
mental, pensávamos em ações interventivas realizadas por intermédio dos meios de
comunicação que fossem capazes de alcançar um determinado grupo e
conscientizá-los sobre assuntos relacionados ao bem-estar psíquico. Assim como
existem diversas campanhas que falam sobre depressão e suicídio. Mas
descobrimos que isso não é promover saúde mental, essas campanhas apenas
retratam patologias mentais que estão presentes na sociedade, patologias estas que
os meios de comunicação de massa são também responsáveis por promover.
A promoção de saúde mental acontece a partir de uma comunicação
“humana”, dialógica, baseada no respeito e na compreensão, que vise cooperar
invés de competir, que a partir de nossas ações e relação com o mundo possamos
promover a saúde, e não a doença. Com o Vitor Pordeus aprendemos que as
doenças mentais são bloqueios de comunicação, então se pensarmos em uma
comunicação que promova a autonomia, a arte e o diálogo estaremos em alguma
instância promovendo saúde mental. A Educomunicação se baseia em princípios
pedagógicos que levantam essas questões, que visam o desenvolvimento pessoal e
53

um diálogo horizontal. Através das intervenções educomunicativas é possível


desenvolver ações eficazes de promoção de saúde mental.
A relação das ações empreendidas no Hotel da Loucura com as práticas
educomunicativas ficou evidente desde o começo da investigação. O hotel surgiu
como sede para o II congresso da Universidade Popular de Arte e Ciência - UPAC, e
depois foi tomando proporções maiores. Vamos retomar aqui o que é essa
universidade. Malgadi (2018, p.120) define como um “coletivo destinado à militância
na interseção entre saúde, cultura e arte popular, formado por uma rede de artistas e
profissionais de todo o país” os princípios pedagógicos que norteiam a UPAC tem
como uma de suas referências o educador Paulo Freire que também é um teórico
importante no campo da Educomunicação.
A UPAC é composta por pesquisadores de diversas áreas, que realizam um
trabalho interdisciplinar em que a vivência e a prática são bases para a construção
do conhecimento. Por sua vez, a Educomunicação tem como base as áreas de
intervenções nas quais nos baseamos para realizar ações que possam solucionar os
desafios apresentados pela sociedade. No Hotel da Loucura buscava-se solucionar
os problemas de comunicação com os pacientes utilizando a arte como ferramenta
de transformação, essas ações se caracterizam como objeto de estudo do campo da
Educomunicação. Podemos afirmar a partir de um olhar de pesquisador e
educomunicador que todas as ações que encontramos através dessa pesquisa
representavam práticas que podem ser consideradas educomunicativas.
O tema desta pesquisa é muito abrangente, como dito anteriormente foi
necessário buscar uma diversidade de fontes, artigos acadêmicos de psicologia,
psiquiatria, antropologia, artes e Educomunicação. O maior obstáculo foi pensar a
Educomunicação numa perspectiva diferente dos ambientes de educação formal,
considerando que a maior parte da bibliografia publicada dessa área é referente aos
estudos de recepção e ao uso de novas tecnologias na educação. Mesmo com
todas as dificuldades, o percurso interdisciplinar que tentou se trilhar, gerou um
referencial teórico para novas reflexões e pesquisas no âmbito da comunicação,
cultura e saúde mental. Esperamos ainda que esta pesquisa sirva de referência para
pesquisadores que tenham interesse em produzir novas reflexões pautadas na área
da comunicação, arte e saúde mental.
54

REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

Apêndice A: Roteiro de perguntas da entrevista com Vitor Pordeus

1- O que foi o Hotel da Loucura?


2- Quais atividades artísticas eram realizadas no hotel?
3- Como a arte e a comunicação podem contribuir no processo de reabilitação
psicossocial?
4- Quais foram as referencias para o trabalho desenvolvido no hotel?
5- Como aconteciam os processos de comunicação na instituição?
6- De que forma essas ações eram articuladas?
7- Qual o desafio de comunicação existente em relação à saúde?
8- Como o teatro foi utilizado no cuidado em saúde mental?
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Apêndice B: Roteiro de perguntas das entrevistas com os membros do Jornal


Reorganise.

1- Como surgiu o Jornal Reorganise?


2- Qual a proposta do jornal?
3- Como foi o processo para ocupar um espaço no Hotel da Loucura?
4- De que forma acontecia a participação dos pacientes na produção do jornal?
5- Como ocorreu o encontro com a Luciene Adão, colunista do jornal?
6- Como foi desenvolver esse trabalho dentro de uma instituição psiquiátrica?
7- Como era o convívio com os pacientes?
8- Quais ações foram realizadas a partir do Jornal Reogarnise?

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