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CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL
Campina Grande - PB
2018
ANDRÉ FELIPE PEREIRA SODRÉ
HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL
Campina Grande - PB
2018
ANDRÉ FELIPE PEREIRA SODRÉ
HOTEL DA LOUCURA
UM ESTUDO DE CASO SOBRE ARTE, COMUNICAÇÃO E SAÚDE MENTAL
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Drª. Danielle Andrade Souza
Orientadora – UAAMI /CH / UFCG
_____________________________________________
Ms. Ângelo Giuseppe Xavier Lima
Membro 1 – CCBS / UFCG
______________________________________________
Ms. Jonara Medeiros Siqueira
Membro 2 – UAAMI /CH / UFCG
Dedico este trabalho exclusivamente a
Eliodara, grande rainha que sempre me
motivou, encorajou e iluminou minha
caminhada.
AGRADECIMENTOS
The Hotel and Spa of Madness was a project developed at the Municipal Institute
Nise da Silveira, in the district of Engenho de Dentro - Rio de Janeiro, developed
from 2012 to 2016. It emerged as a venue to house doctors, artists and researchers
interested in art, culture and mental health. But it ended up becoming an artistic-
cultural center that through art and communication developed a significant work with
patients with psychic problems. Thus, the general objective of this work is to
articulate the area of Communicative Expression through the arts and its
contributions to psychosocial rehabilitation. Therefore, it was necessary to
understand the practices performed at the hotel, identify actions that used artistic
languages and raise reflections that sought to establish a relationship between the
fields of Educommunication and mental health. A case study (GIL, 2002) was then
carried out in order to get a better understanding of the hotel with a qualitative
descriptive approach. Because it is a project that no longer exists, the data collection
was performed based on a bibliographic and documentary research, also using the
interview as a data collection technique.According to the investigation, it was verified
that the Educommunication, by it‟s interdisciplinary character, can turn out to be an
effective means in the process of promotion of mental health.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 54
APÊNDICES ............................................................................................................ 58
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INTRODUÇÃO
dos primitivos e das crianças.” Em 1929 ele lançou seu primeiro livro “A expressão
artística dos alienados.” Em 1934 escreveu o artigo “A arte nos loucos e
vanguardistas”. Além de estudar a arte desenvolvida por pacientes em sofrimento
psíquico, no ano de 1948 promoveu a primeira exposição de arte com as obras dos
pacientes do hospital do Juquery no Museu de Arte de São Paulo. Em 1949, a cargo
de Osório, foi criada a Seção de Artes Plásticas do Juquery, que posteriormente
resultou na fundação da Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery – ELAP. Osório
Cesar foi um inovador, desenvolveu métodos para analisar e incentivar a produção
artística dentro do cenário psiquiátrico.
exercer suas atividades psiquiatras Nise se opôs aos métodos utilizados com os
pacientes os quais envolviam choques elétricos, isolamento e camisa de força. Em
consequência de sua postura frente às práticas realizadas, foi transferida para o
setor de terapia ocupacional. Foi nesse setor em que ela percebeu a arte como uma
forma de tratamento de graves problemas de saúde mental, o que resultou na
criação de um atelier de pintura naquele setor. Veloso (2017) destaca que “Nise
percebeu que as artes plásticas eram o canal de comunicação com os pacientes
esquizofrênicos graves, que até então não se comunicavam verbalmente”.
Percebemos no trabalho pioneiro de Nise da Silveira a arte como um agente
facilitador da expressão/comunicação, pois com a produção artística os pacientes
tiveram “voz” para expressar os seus conflitos internos.
Com o grande número de produções e o objetivo de preservar as obras, em
1952 foi fundando o Museu Imagens do Inconsciente dentro do Centro Psiquiátrico
Pedro II, que atualmente conta com mais de 350 mil obras, sendo as principais
tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Além
de ser um local para expor, armazenar e proteger as obras, o museu também é um
centro de estudo para interessados no campo de pesquisa.
Em seu livro “Imagens do Inconsciente” Silveira (1981, p.11) menciona:
Nise foi uma mediadora desse processo, ela permitia que seus pacientes se
expressassem livremente, possibilitando uma comunicação mais profunda do
inconsciente com o mundo exterior. Aprendeu com Carl Jung a importância da
natureza simbólica, que a comunicação é governada pelos símbolos e desenvolveu
uma abordagem através da expressão artística para o doente mental grave,
esquizofrênico, psicótico crônico. Foi uma mulher que encontrou novas
possibilidades em uma época que, conforme ela mesma, “os psiquiatras em sua
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grande maioria recusam a aceitação do valor artístico das pinturas e desenhos dos
doentes mentais” SILVEIRA (1981, p.14). Nise desenvolveu seu método baseado na
compreensão, no diálogo e no afeto, uma revolucionária que utilizou da criação
artística para fazer ciência. Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, aos 94 anos no
Rio de Janeiro.
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Por isso faço teatro, porque vejo possibilidade em travar um debate através
das idéias, colocar o conhecimento em movimento, discutir sobre a verdade
num ambiente que seja livre, aberto, público, popular. Para falar na língua
do povo, e quando falo na língua do povo - cantando, dançando, contando
histórias dizendo a elas que é totalmente possível conhecer, que 99% dos
nossos problemas de saúde pública já tem soluções conhecidas – sinto que
de alguma forma estou retornando à figura do médico medieval, do pajé, do
curandeiro, retornando à arte de curar tão antiga quanto à humanidade e
esquecida em nossa recente medicina tecnológica, tão fundamental ao ato
de cuidar. (PORDEUS, 2009)
Para se hospedar não era necessário pagar nenhuma taxa, o pagamento era
realizado a partir de intervenções artísticas com os clientes (pacientes da instituição)
ou com a produção de algum conteúdo que contribuísse na divulgação das ações
realizadas no Hotel da Loucura. As atividades permitiam que os clientes tivessem
um tratamento que possibilitasse o convívio social, o direito de exercer a cidadania,
o contato com a cultura e, sobretudo, a expressão artística. De acordo com Vianna
(2016, p.01)
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Entre tantas estrelas, Mirian Rodrigues é uma das atrizes do grupo. Artista e
empresária, como gosta de se apresentar, passou a sofrer com surtos de
agressividade após ser expulsa de casa e viver na rua. Ao chegar ao Hotel
da Loucura, em 2012, a atriz não se interessava muito pelo teatro mas, aos
poucos, começou a frequentar as oficinas e se livrou dos remédios.
Atualmente, Mirian mora sozinha, vende empadas e voltou a estudar, além
de se apresentar em diversas cidades do Brasil com o grupo de teatro.
(GLOBO, 2016)
O projeto aqui no Brasil estava no seu ápice, com grande avanço dos
pacientes, funcionários, o instituto estava cada vez mais movimentado e o trabalho
da doutora Nise sendo divulgado. Mesmo em decorrência de todo o progresso
alcançado ocorreu que Vitor Pordeus foi exonerado do seu cargo acusado de não
cumprir sua carga horária, assim como relata Malgadi (2018, p.123).
Fonte:Facebook
3.1 EDUCOMUNICAÇÃO
Vitor ainda relatou que o que ele realizou com o Hotel da Loucura foi a criação
de um espaço de comunicação, de diálogo, uma forma de romper com a
comunicação de monólogo que não permite que as pessoas falem. Existe no
paciente com problemas psíquicos a necessidade de comunicar-se e essa
comunicação tem que ser para a autonomia, para o desenvolvimento humano uma
comunicação para a saúde mental. E essa comunicação “há de ser uma
comunicação que busca a compreensão, como compreender o outro e ser
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Everton Silva, co-fundador do jornal, nos relatou em uma entrevista que antes
de surgir o Jornal ReorgaNise já existia a ideia de produzir um jornal libertário, para
desenvolver trabalhos de militância através da comunicação que seria realizado em
São Paulo. Mas em 2014 conheceram o Hotel e Spa da Loucura e houve uma
identificação com as práticas que lá eram desenvolvidas, foi quando tiveram a ideia
de ocupar e propuseram a criação do jornal como proposta para ocupação. Ele nos
evidenciou que uma das primeiras pessoas que conheceram no hotel foi a paciente
Luciene Adão, ela possuía todo um histórico de internações psiquiátricas e mesmo
assim era capaz de comunicar coisas que aconteciam em diferentes lugares do
mundo, trazia reflexões e questionamentos de vários fatos sociais. Nela eles
identificaram uma vontade de se expressar de várias formas, para todo lugar que ela
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ia carregava consigo alguns cadernos nos quais escrevia sobre questões pessoais,
políticas, desenhos e poesias. A descoberta desse material foi uma surpresa para
todos, sendo o encontro com essa paciente um fator primordial para o jornal. Antes
da escolha do nome do jornal eles já tinham algo determinado, criar uma coluna que
seria fixa para publicar os textos da Luciene, chamada “Quando eu morrer quero
virar estrela”, frase escrita pela paciente. A partir de então ela se tornou a espinha
dorsal desse projeto.
De acordo com Linda Marina, membro do jornal que também atuou como
mediadora de oficinas de ações expressivas no Hotel da Loucura, o ReorgaNise
surgiu do desejo de melhorar a comunicação no hotel e expor para o público externo
as ações que aconteciam dentro do Instituto Municipal Nise da Silveira.
Em volta da instituição existe uma pista de caminhada, várias pessoas
circulam por ali e não sabiam o que acontecia dentro daquele espaço. Era
necessário desenvolver um canal de comunicação produzido com os internos que
fosse capaz de levar a voz dos pacientes para além dos muros da instituição.
O jornal teve um caráter lúdico, mas também de contestação, possui cores,
desenhos e poesias, mas também levanta diversos questionamentos, partindo da
premissa que a luta antimanicomial abrange as demais lutas da sociedade. Segundo
Everton, dentro do manicômio a maioria das pessoas que estão internadas é
formada por negros, mulheres, pessoas que sofreram rejeição da família, racismo,
homofobia, drogas. Diante dessa situação o jornal se propôs a dialogar além do que
a mídia mostra para alcançar os mais diversos espaços e principalmente mostrar o
cotidiano dos internos.
Aproveitaram o trabalho desenvolvido por Vitor Pordeus e da UPAC que
permitiu que um espaço fosse a eles atribuído e construíram a redação do jornal. Os
integrantes desse coletivo chegaram a literalmente residir dentro do Hotel da
Loucura o que possibilitou uma convivência mais próxima com os internos do
Instituto Municipal Nise da Silveira. A maior parte da produção era realizada em
conjunto com os pacientes, exceto detalhes e a diagramação, mas tudo passava
pela aprovação deles. De acordo com Everton eles passaram o período de
aproximadamente um mês produzindo, mas sem externar conteúdo, decidiram então
lançar a primeira edição que foi publicada no dia 14 de dezembro de 2014 com um
número de 2000 exemplares que eram vendidos ao valor simbólico de um real e
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Sendo assim, o Hotel da Loucura foi uma entidade instalada dentro de uma
instituição psiquiátrica, por isso procuramos desenvolver uma perspectiva
interpretativa, compreendendo o que foi o hotel e fazendo articulações das práticas
artísticas e comunicacionais que lá foram desenvolvidas com as áreas de atuação
da Educomunicação.
O levantamento dessas informações se constituiu a partir da pesquisa
bibliográfica e documental. Recorremos a autores que estudaram mais a fundo os
temas aqui abordados a partir de livros, artigos e publicações acadêmicas
relacionadas ao Hotel da Loucura, a arte, comunicação, promoção de saúde mental
e Educomunicação. O que tornou possível obter um referencial teórico significativo
para responder às questões da pesquisa. Fonseca (2002, p.32)
Por se tratar do estudo de uma entidade que não existe mais, foi necessário
recorrer a conteúdos produzidos no hotel. Para compreender a dinâmica dos
processos interventivos que lá eram realizados foram consultados registros
audiovisuais, fotográficos e mídias impressas. Em especial o jornal ReorgaNise
serviu como fonte de levantamento de dados. Fonseca (2002, p.32)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.17ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa . 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002..
PROENÇA, Graça. História da Arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003.
RODRIGUES, Rui Martinho. Pesquisa Acadêmica: Como Facilitar o Processo de
Preparação de suas Etapas. São Paulo: Atlas, 2007.
VIANNA, Luciano Von Der Goltz. Loucura tem método: Um ponto de vista
antropológico sobre as práticas terapêuticas utilizadas no Hotel da Loucura/RJ,
2016. Disponível em:
<https://www.academia.edu/25520033/_LOUCURA_TEM_M%C3%89TODO_Um_po
nto_de_vista_antropol%C3%B3gico_sobre_as_pr%C3%A1ticas_terap%C3%AAutica
s_utilizadas_no_Hotel_da_Loucura_RJ>. Acesso em: 05 jun. 2018.
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APÊNDICES