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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - AUDIOVISUAL

RICARDO RUBENS MORAIS NUNES

SHOW DA HISTÓRIA: ANÁLISE DO FORMATO DE UM PROGRAMA


EDUCATIVO

NATAL
2023
RICARDO RUBENS MORAIS NUNES

SHOW DA HISTÓRIA: ANÁLISE DO FORMATO DE UM PROGRAMA


EDUCATIVO

Monografia apresentada ao Departamento


de Comunicação Social, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Comunicação Social -
Audiovisual.

Orientadora: Profª. Dra. Janaine Sibelle


Freire Aires.

NATAL
2023
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -
CCHLA

Nunes, Ricardo Rubens Morais.


Show da História: análise do formato de um programa educativo
/ Ricardo Rubens Morais Nunes. - 2023.
60f.: il.

Monografia (graduação) - Centro de Ciências Humanas, Letras e


Artes, Comunicação Social - Audiovisual, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2023.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Janaine Sibelle Freire Aires.

1. Canal Futura (Canal de televisão). 2. Show da História


(Programa de televisão) - Formato. 3. História do Brasil. 4.
Hamburger, Tom, 1953. 5. Youtube (Recurso eletrônico). I. Aires,
Janaine Sibelle Freire. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 654.19:37

Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748


RICARDO RUBENS MORAIS NUNES

SHOW DA HISTÓRIA: ANÁLISE DO FORMATO DE UM PROGRAMA


EDUCATIVO

Monografia apresentada ao Departamento


de Comunicação Social, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Comunicação Social -
Audiovisual.

Aprovado em: ______/______/______.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Profª. Drª. Janaine Sibelle Freires Aires
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Orientadora

__________________________________________
Profª. Drª. Maria Angela Pavan
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Membro interno

__________________________________________
Profª. Drª. Sandra Mara de Oliveira Souza
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Membro interno
A realização desse estudo e de todos os
outros êxitos alcançados em minha vida
só foi possível por contar com a
presença, o apoio e o amor daqueles que
às vezes chamo de meus maiores fãs,
mas que na verdade são meus maiores
ídolos. Obrigado por mais do que tudo,
Ailma e Robério, ou melhor, mainha e
painho.
AGRADECIMENTOS

À minha tia Lucy e ao meu tio Carinhos por sempre me oferecerem morada desde
que passei a viver aqui em Natal.
Aos que foram meus professores durante esses anos na UFRN, principalmente
Angela, Cida, Mirian, Ruy, Rodrigo e Carlos, os quais tive a oportunidade de conviver
e aprender para muito além do conhecimento dentro de sala de aula.
À minha orientadora Janaine, peça fundamental na edificação de todo esse trabalho
e da minha jornada na UFRN.
Àqueles que foram parceiros desde os primeiros dias da graduação, compartilhando
ânsias, frustrações e sonhos, Mariana, Livia, Emanuela, Gabriel Greiner e Gabriel
Florentino. Também a Leônidas e Max, que me acompanharam nesses últimos meses
compartilhando seus processos de seu TCC junto comigo, e a Jaime, que me auxiliou
na reta final.
À Gorete, André, Babi, Vitória, Sandra, Andressa e Álvaro, que me deram
oportunidade de levar o conhecimento teórico para a prática no mercado de trabalho
dentro e fora da universidade.
Aos amigos apresentados pela vida Marcelo, Railson e Thiago, que me acompanham
há anos e sempre me dão forças para seguir em busca dos meus sonhos.
E, claro, aos meus pais, Ailma e Robério, a quem dedico este trabalho e mais uma
vez agradeço pelo amor incondicional dado ao longo de toda minha vida.
RESUMO

Este estudo aborda o formato do programa Show da História, buscando analisar as


alternativas de como levar um conteúdo educacional sobre a história do Brasil para
televisão e internet ao mesmo tempo, mantendo o intuito de atingir o público jovem.
Para isso, foi necessário entender a essência do programa, o que nos levou a
decompô-lo através de quem o criou, dos elementos que o estruturam e das
diferenças apontadas nas duas temporadas que foram ao ar entre 2017 e 2019.
Todos esses pontos foram analisados por meio da observação dos 52 episódios da
série, disponibilizados na internet, e de uma entrevista com seu cocriador, diretor
geral e roteirista Tom Hamburger. Chegamos ao final da pesquisa entendendo que o
formato do Show da História atinge sua unicidade na proposição do uso de uma
linguagem combinada entre o clássico da televisão e a atualidade da internet para
trazer conhecimentos sobre a formação do Brasil não somente de um modo
informativo, mas também sugerindo questionamentos, com revisões dos
acontecimentos e de quem fez parte de cada momento, para então mostrar o quanto
a nossa história é volátil.

Palavras-chave: Canal Futura; formato; história do Brasil; Tom Hamburger;


YouTube.
ABSTRACT

This study approaches the Show da História TV show format, seeking to analise the
alternatives in how to convey educational content about brazilian history to both
television and internet at the same, maintaining the purpose of targeting a young
audience. For these means it was necessary to understand the show's substance,
what took us to decompound it through who created it, the structural elements of the
show and the differences between the two seasons aired in 2017 and 2019. All these
points were analised through the observation of the show's 52 episodes, available on
the internet, and through an interview with its co-creator, director and writer Tom
Hamburguer. We reach the end of the research comprehending that the format of the
Show da História reaches its own uniqueness in proposition for use of a combined
language between television classics and the internet present form to bring knowledge
about Brazil's formation not only by a informative way, but also suggesting questions
with the revision of historical facts and about the people who participated in every
moment to then, show how much volatile is our history.

Keywords: Canal Futura; format; history of Brazil; Tom Hamburger; YouTube.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Clara e Neto no cenário do programa (2017) ................................................... 12


FIGURA 2 - Abertura, Temporada 02 (2018) ...................................................................... 19
FIGURA 3 - Quadro História Acelerada, Temporada 01 (2017) .......................................... 24
FIGURA 4 - Aviso Importante, Temporada 01 (2017).......................................................... 26
FIGURA 5 - Quadro Argentina Consuelo, O Lado B da História do Brasil, Temporada 01
(2017) ................................................................................................................................. 27
FIGURA 6 - Quadro Os Fita K7, Temporada 02 (2018) ....................................................... 28
FIGURA 7 - Personagem Flora, Temporada 01 (2017) ....................................................... 29
FIGURA 8 - Clara e Neto em uma peça de divulgação, Temporada 01 (2017) ................... 37
FIGURA 9 - O cenário, Temporada 02 (2018) ..................................................................... 42
FIGURA 10 - Logomarca do Canal da História (2017) ........................................................ 48
FIGURA 11 - Logomarca do Show da História (2018) ......................................................... 48
FIGURA 12 - Clara e Neto, Temporada 02 (2018) .............................................................. 49
FIGURA 13 - Quadro História Acelerada, Temporada 02 (2018)......................................... 49
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Pessoas convidadas pelo programa .............................................................. 20


QUADRO 2 - Introduções dos episódios ............................................................................. 21
QUADRO 3 - Episódios especiais ....................................................................................... 30
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
2 O FORMATO DO SHOW DA HISTÓRIA ......................................................................... 18
3 A TRAJETÓRIA DOS CRIADORES: CAO E TOM HAMBURGER ................................... 32
4 ELEMENTOS DO SHOW DA HISTÓRIA ......................................................................... 36
4.1 ENREDO ................................................................................................................... 36
4.2 ROTEIRO .................................................................................................................. 38
4.3 MEDIAÇÃO ............................................................................................................... 40
4.4 DIREÇÃO DE ARTE, DE FOTOGRAFIA E MONTAGEM .......................................... 41
5 ANÁLISE DAS DUAS TEMPORADAS ............................................................................. 44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 53
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 55
APÊNDICE - ENTREVISTA COM TOM HAMBURGER ...................................................... 56
11

1 INTRODUÇÃO

A junção entre produção de conteúdo educacional para televisão e para


internet concebeu a possibilidade de existência do, hora programa televisivo e hora
conteúdo digital, Show da História, uma atração feita para exibição entre esses dois
âmbitos, unindo suas referências e criando um produto para além do funcional, mas
também inclusivo. Dentro de sua essência, surge um destaque na exploração de
diferentes formatos e direcionamentos, concebendo-se numa ideia com potencial
transmidiático. Para entender a formação dessas possibilidades de narrativas,
observamos o trecho a seguir:

A narrativa transmídia é considerada o resultado da articulação das


distintas partes de uma grande narrativa, todas elas complementares
e ligadas a esta. Cada uma está veiculada pela plataforma que melhor
potencialize suas características expressivas. (PORTO-RENÓ,
VERSUTI, MORAES-GONÇALVES, GOSCIOLA, 2011, p. 209)

É assim que podemos ter noção de que para compor a possibilidade de


contemplar ambos os espaços, é preciso se debruçar através da convergência de
suas esferas. A partir dessa formação, percebe-se, então, um lugar de colaborações,
onde uma soma à capacidade da outra, formando o valor para ser transmidiático, um
potencial encontrado no formato do Show da História, mesmo não sendo de fato
executado, embora existam os indícios prontos para tal exploração.
No programa, tudo começa quando, depois de dias monótonos, em tardes
onde pouco ou nada acontece, Clara e Neto encontram um fax, mas logo descobrem
que esse é, na verdade, uma máquina do tempo capaz de trazer de volta à vida
pessoas do passado por um breve momento. Eles entendem que para isso acontecer
basta colocar uma ilustração de alguém no aparelho e acionar um botão. A partir daí,
tendo em vista a admiração da dupla pela história do Brasil, eles decidem receber
personalidades históricas para conversar sobre suas vidas e, assim, se aprofundar
no contexto da época pela qual viveram, a fim de entender suas importâncias na
nossa formação.
No primeiro episódio, Clara, interpretada por Letícia Fagnani, é descrita como
destemida em saber tudo que pode ser dito, além de bastante inteligente e
provocadora. Já Neto, encenado por Felipe Frazão, é apresentado como o favorito
dos professores de história do Brasil e também bastante inteligente. Juntos, os dois
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decidem criar um canal para internet com intuito de expor esses encontros com
personalidades, afinal, ambos piram na história do Brasil, como diz a narração, ou
melhor, a própria máquina do tempo.

FIGURA 1 - Clara e Neto no cenário do programa (2017)

Fonte: Printscreen, Episódio 03, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/xOPXXxmFHqw> Acessado em 17/06/2023.

O espaço onde tudo isso acontece é o quarto de Clara, que conta com a
presença há a presença de um sofá e de uma poltrona, remetendo à ideia tradicional
do cenário de um talk show, um programa de conversas no qual um apresentador
recebe convidados para falar sobre sua vida e determinados assuntos. Exatamente
como é feito pela dupla desse programa.
No ambiente, com estantes repletas de livros e objetos, uma sirene sempre
ligada ao fundo e luminárias espalhadas, Clara e Neto mediam uma espécie de ficção
sobre a realidade. Embora a intenção seja falar da história do Brasil, o programa
segue um roteiro com estruturas determinantes de cada acontecimento interpretado
pelos atores e atrizes em cena. É assim que outra parte do elenco faz participações,
embora não estejam em todos os episódios.
Um desses exemplos é Flora, a irmã mais nova de Clara, representada por
Iara Almeida, com presença apenas na primeira temporada. A menina tem aparência
13

gótica e expressões pouco convidativas, sendo, a princípio, uma figura temida por
todos, principalmente por suas conversas ameaçadoras.
Outro exemplo é a argentina Consuelo, interpretada por Livia La Gatto, sempre
acompanhada de um sotaque misturando português e espanhol, e com presença nas
duas temporadas. Ela é prima de Clara e tem uma postura que se assemelha a de
uma professora, embora não seja anunciada como uma. Suas aparições acontecem
através de seu quadro próprio e estão sempre ligadas a momentos específicos do
contexto abordado nos episódios, se aprofundando nos assuntos ou em momentos.
O apresentador Neto também tem um próprio quadro, chamado de Neto
Explica, com função parecida ao de Consuelo. Essa intenção, por sinal, é dominante
de boa parte dos quadros do programa, que nutrem constantemente a necessidade
de detalhar, de forma rápida e direta, algum aspecto abordado ao longo do episódio.
Entre todos os quadros, podemos citar um como o mais frequente, trata-se do
História Acelerada, usado para trazer um breve apanhado do contexto do tema
abordado em questão. Diferentemente dos outros já exemplificados, esse é realizado
através do uso de técnicas de animação, acompanhado de uma narração de Clara ou
Neto explicando o assunto.
Para além dos quadros, os episódios também seguem momentos criados
especificamente para a personalidade convidada, em uma intenção de fazer essas
pessoas, dotadas de costumes de tempos passados, viverem um contato com
artifícios da atualidade. A exemplo, podemos citar um momento envolvendo Dom
Pedro I, no episódio 6 da primeira temporada, quando ele é convocado a usar um
aplicativo para smartphone, assemelhado aos de busca por relacionamentos
amorosos. Outra citação possível de ser feita é de quando essas pessoas participam
de game shows, usados frequentemente, mas com adaptações decorrentes dos
convidados e normalmente envolvendo contexto da época a qual viveram.
Para todos esses pontos andarem em conjunto, o formato do Show da História
estudado aqui surgiu a partir da mente dos criadores Tom Hamburger e Ricardo
Inhan, os quais se inspiraram em um projeto de mesmo nome feito através das mãos
de Cao Hamburger, Paulinho Caruso e Teo Poppovic. E, além de ser cocriador, ficou
também a cargo de Tom Hamburger a direção geral e os roteiros de alguns episódios.
A sua realização ocorreu através da recém-criada produtora Caos e Tons
Produções, comandada por Cao e Tom Hamburger, que são pai e filho. Cao
Hamburger, produtor do Show da História, tem feito história ao longo de sua carreira
14

na televisão e no cinema, com obras consagradas e marcadas pela genialidade na


execução de elementos contribuintes para um entendimento desses meios
comunicacionais aos quais fazem parte.
Foi assim que trabalhos como Castelo Rá-Tim-Bum (1994), No Estranho
Planeta dos Seres Audiovisuais (2008) e Disney Club (1997) marcaram a televisão
brasileira com sua exaltação dos valores artísticos muito além dos já explorados
anteriormente. Seja falando sobre a história do audiovisual e questionando tudo à sua
volta ou fazendo um programa infanto-juvenil que invade o sinal de um canal de
televisão, independente do objetivo, propagar conhecimento através de alternativas
inteligentes foi sempre sua marca.
Para o Show da História ter seu espaço na televisão, o Canal Futura,
pertencente à Fundação Roberto Marinho, parte do Grupo Globo, foi quem assumiu
a responsabilidade. A existência dessa emissora permeia-se como uma alternativa
de levar conteúdos educativos para a população, fazendo uso de abordagens de
ordem prática e complementares do cotidiano, o que a fez tornar-se ao longo do
tempo uma referência de educação na TV aberta, principalmente para jovens que
viveram a infância entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Quando Foresti (2001, p. 20) aponta estudar o Futura como um desafio através
das iniciativas propostas pelo canal e dos mecanismos utilizados para submeter-se à
educação, vemos essa porta de entrada para o conhecimento em uma abrangência
de diferentes caminhos. Isso porque a educação se mostra um espaço de variadas
possibilidades entre as suas formas, mesmo quando a realidade é pertencente a um
lugar, que neste caso é a televisão. Assim, encontramos a teleducação, definida como
uma “integração dos termos tele-educação. Os nomes sugerem uma realidade de
Educação que acontece a distância. Na Teleducação, predomina o ambiente de
ensino” (FORESTI, 2001, p. 29). Isso proporciona a prática do ensino em um modo
de criação de visões dentro das suas diferentes alternativas, como podemos ver
explicado abaixo:

Esses tipos de práticas, que a televisão torna possível pelo alcance e


escopo, estão diretamente relacionados a alguns dos métodos mais
encorajadores no âmbito do próprio ensino formal: os de tentar
experimentar um processo, em vez de ser ensinado “sobre” ele. Esses
programas não substituem os outros tipos de educação, mas
acrescenta e, em alguns casos, mudam-nos qualitativamente, de um
modo claramente inovador. (WILLIAMS, 2016, p. 84)
15

Essa definição de Educação pela visão é onde Williams expõe as variantes


apresentadas pelas formas da televisão em sugerir a condução de conhecimento.
Assim, somos proporcionados a um meio por seus diferentes cenários, o que ao
passar dos anos conseguiu ser potencializado a diversificadas obras, como o Show
da História. No nosso estudo, encontramos como esse formato pode se adequar a
tais determinações, mas obtendo um adicional de sua forma estar presente em
conjunto com outro meio midiático, no caso, a internet representada pelo YouTube, o
qual é determinado por Burgess e Green (2009, p. 112) como:

Um site potencial para a cidadania cultural cosmopolita - um espaço


no qual indivíduos podem representar suas identidades e
perspectivas, envolver-se com as representações pessoais de outros
e encontrar diferenças culturais. (BURGESS GREEN, 2009, p. 112)

Tomando por base a originalidade do programa estudado, nos aprofundamos


através de quem o criou, de seus elementos e da comparação entre as duas
temporadas. Assim, buscamos entender sua contribuição na criação de novas
linguagens e na possibilidade do crescimento das alternativas de como a educação
pode tomar os espaços, sendo colocada não somente como uma via de
conhecimento, mas também como um entretenimento.
O nosso objetivo geral foi analisar o formato do Show da História observando
os detalhes desde a criação, até a condução do programa, buscando entender como
seu conteúdo educacional é aplicado através das narrativas para televisão e para
internet. Como objetivos específicos, determinamos: 1) Discorrer sobre o todo o
formato da obra audiovisual Show da História a partir de uma análise geral de sua
execução; 2) Aplicar o conceito e a relação deste produto com a trajetória de um dos
criadores do projeto, Tom Hamburger, e também na de quem o inspirou, Cao
Hamburger; 3) Detalhar elementos compositores de um formato audiovisual,
aplicando-os nessa realização desse programa, considerando as seguintes
categorias: enredo, roteiro, mediação e direção de arte, fotografia e montagem; 4)
Comparar as duas temporadas do projeto audiovisual analisado com o intuito de
investigar as adaptações promovidas.
Dessa forma, nos propomos a estudar a relevância do comportamento da
formatação do Show da História, uma vez que sua intercalação de linguagens gera
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um conteúdo superior às barreiras do que poderia caracterizá-lo apenas como um


programa televisivo ou um conteúdo para mídias digitais. Foi necessário, então, tomar
como base as possibilidades compositoras desses dois âmbitos para que, com esse
conhecimento, explorássemos a relação conjunta estabelecida.
Para instituir tais ações, partimos do ponto do exame de um produto televisivo
atentado às diferentes linguagens responsáveis pela sua expressão e à forma como
elas se articulam (DUARTE, 2004). Nos dedicamos às possibilidades existentes de
um gênero de programa televisivo na sua formação, investigando seus variados
pontos constituintes para descrição, mas sem buscar uma determinação onde poderia
ser encaixado, e sim visando seus pontos cruciais.
Com base nessas determinações, a análise feita ocorreu a partir da
observação de todos os seus 52 episódios disponíveis no perfil do Canal Futura em
sua página no YouTube e na plataforma de streaming Globoplay. Esse exame teve a
chance de ser ainda mais acrescido pela entrevista realizada com o cocriador, diretor
geral e roteirista Tom Hamburger, através de uma videoconferência no dia 11 de junho
de 2023.
Esses dois métodos realizados para o entendimento do formato estudado
exigiram que fossemos além da percepção de apenas um programa de televisão.
Entendo a proposta do programa por meio de um caminho híbrido das mídias
comunicacionais, foi preciso ter noção de como a plataforma de vídeo YouTube
exerce sua influência na determinação do consumo audiovisual.

No YouTube, os usuários têm controle sobre o ritmo da apresentação,


podendo parar, retroceder e avançar o vídeo. Um recurso interessante
é o deep linking: você pode determinar o ponto do vídeo que deseja
que as pessoas acessem. Além disso, no Youtube é possível construir
ambientes pessoais de aprendizagem com favoritos, listas de
reprodução, inscrições, amigos etc. (MATTAR, 2009, p. 05)

Na análise dos episódios das duas temporadas, é possível notar como as


dinâmicas determinadas através das possibilidades do YouTube exercem em torno
da linguagem proposta no formato do Show da História. Somando a isso, somos
apresentados a um programa dinâmico em seus acontecimentos e passagens, onde
o tempo de arte é aproveitado com uma transmissão da educação por meio da
apropriação de suas alternativas, determinadas com a influência dessa plataforma de
vídeos online.
17

Para buscar uma compreensão acerca de como o conteúdo da história do


Brasil é cometido dentro da série, procuramos enxergar o seu caráter de
desenvolvimento através da exposição do quanto suas interpretações se mostram
voláteis. Identificamos, por exemplo, como o conjunto estrutural do país atualmente
gera novas discussões em torno da chegada dos portugueses, proporcionando um
olhar diferenciado para uma história já contada em outros momentos.
Assim, Clara e Neto passeiam por diferentes períodos históricos do Brasil e
buscam os novos significados para pensamentos já formados sobre quais são as
figuras reflexos de quem somos hoje. E esse paralelo sobre repensar as ideias se
encaixa como uma problemática dentro do próprio programa. Para elucidar isso,
podemos citar o episódio de abertura da primeira temporada, que conta a participação
de Pedro Álvares Cabral e fala sobre a chegada dos portugueses ao país. Para dar
ênfase à evolução de como a história é contada, no segundo ano, a primeira pessoa
resgatada é Luzia, o fóssil mais antigo encontrado na América Latina, para falar sobre
a vida pré-histórica no nosso país.
O caráter evolutivo é uma ferramenta colaborativa nesta obra de Tom
Hamburger e mostra como todos nós estamos em constante mudança, da mesma
forma como os meios comunicacionais também estão. A partir disso, esse estudo
busca uma noção de como acontece a exploração das potencialidades existentes nas
mídias, seja na TV ou na internet, para tomar como posse os conceitos e os espaços
dessas alternativas no intuito de gerar uma conjunção de fatores intensificadores na
propagação da educação, sendo eficaz em diferentes âmbitos e firmando sua
relevância para além dessas janelas de exibição.
18

2 O FORMATO DO SHOW DA HISTÓRIA

Para estudar o formato do Show da História, buscamos primeiramente


entender como um programa televisivo pode ser conceitualizado, pois sua primeira
janela de exibição foi nesse espaço. Para isso, compreendemos Machado (2005, p.
27): “programa é qualquer série sintagmática que possa ser tomada como uma
singularidade distintiva, com relação às outras séries sintagmáticas da televisão”.
Essa colocação nos leva à complexidade exposta pelo autor, afinal, mesmo
investigando as possíveis definições de programas, encontramos constantemente
uma pluralidade dentro das determinações de seus formatos, criando possibilidades
híbridas desses produtos em suas idealizações e execuções, algo sempre atrelado à
televisão.
Na tentativa de construir esse estudo, optamos, então, por acompanhar as
duas temporadas do produto final, visitando seus 52 episódios em variados
momentos. Nos concentramos na possibilidade de ter um domínio de sua essência
por meio da compreensão de seus detalhes compositores para, então, mostrar a
relevância diante do âmbito educacional dentro da comunicação.
O ponto decisivo da série parte da internet e de como esse é hoje um espaço
habitado por cada vez mais pessoas, mostrando-se de suma importância para a vida
dos tempos atuais. Isso é possível de ser enxergado quando temos acesso e nos
deparamos diante das suas inúmeras alternativas de consumo, conglomerando desde
o resgate de conteúdos antigos de diferentes meios midiáticos, até o enfrentamento
das novas maneiras da criação de conexões na humanidade.
É exatamente na ligação desses dois pontos, entre o antigo e novo, procurando
o domínio de suas características e aproveitando o melhor em cada um, que o formato
do Show da História existe. Em um aprofundamento, é possível encontrar sua
formação se estabelecendo através da junção de atributos televisivos dentro do meio
comunicacional da internet, com a mediação de adolescentes e destinadas também
a esse mesmo público, levando-o a uma linguagem informal, embora seja precisa,
direta e eficaz em sua proposta.
Isso acontece através do que é chamado de vlog, um espaço na internet onde
as pessoas criam canais de comunicação por meio de vídeos. A partir disso, muitos
expõem suas vidas, preferências e assuntos os quais tenham alguma intimidade,
visando a criação de espaços e redes de trocas de conhecimento e experiências. No
19

caso desse programa, os adolescentes Clara e Neto encontraram um fax, que na


verdade é uma máquina do tempo, e, por serem fissurados na história do Brasil,
decidem criar e apresentar o vlog Show da História.
Por mais controverso e inexplicável possa ser esperar de um fax a
possibilidade de ser uma máquina do tempo passível de trazer pessoas do passado
para o presente por alguns instantes, essa dupla se apropria da descoberta em uma
intenção de se destacar. Para isso acontecer, eles percebem que basta criar uma
ilustração da pessoa em questão, inseri-la dentro da máquina e acionar o botão,
gerando, então, uma instantânea viagem no tempo. Com esse grande diferencial em
mãos, Clara e Neto acreditam ter a chance de ajudar outros vários pessoas de seu
país e do mundo com os estudos sobre a formação do Brasil.
E é justamente estabelecendo uma viagem no tempo que a abertura do
programa foi criada. Como ficou conhecido por meio de obras clássicas que falam
sobre o assunto, como no longa-metragem De Volta para o Futuro (1985), a vinheta
do Show da História começa a partir da abertura de uma espécie de buraco negro no
espaço, proporcionando um passeio alucinante através da velocidade da luz.

FIGURA 2 - Abertura, Temporada 02 (2018)

Fonte: Printscreen, abertura, Episódio 05, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/0SDYyuktOCw> Acessado em 12/06/2023.
20

Todo esse movimento é protagonizado pelo fax, a máquina do tempo, sendo


complementado por elementos remetentes a diferentes épocas. Entre esses
elementos estão caravelas, uma bicicleta, uma armadura, um gramofone, um
aparelho de rádio, um satélite, duas espadas e um controle de videogame. Tudo isso
acontece para que, ao final, surja o título do programa em uma tipografia que mescla
diferentes formas, acompanhado do fax com um papel envelhecido.
Com a chance de receber essas personalidades, ao longo dos 52 episódios
das duas temporadas os apresentadores contam com 41 convidados, indo desde
Pedro Álvares Cabral, o primeiro da série, até Darcy Penteado, o último resgatado.
Cada uma dessas pessoas que faz a viagem no tempo é designada a falar sobre
assuntos pelos quais vivenciou, trazendo sua importância histórica para a formação
do Brasil ao longo desses diferentes períodos. Para isso, temáticas como povos
originários, chegada dos portugueses, escravidão, processo de independência,
empoderamento feminino, manifestações culturais e entre outras, são exploradas no
programa. Tudo acontece por um passeio pelas eras vividas no país desde 1500,
contendo somente um adendo sobre a pré-história brasileira, quando Luzia, o fóssil
mais antigo encontrado na América do Sul, é a convidada.

QUADRO 1 - Pessoas convidadas pelo programa


TEMPORADA 01 TEMPORADA 02
Episó Episó
Pessoa convidada Gênero Pessoa convidada Gênero
dio dio
Pedro Álvares Cabral e João
01 Masculino 01 Luzia Feminino
Ramalho
02 Martim Tibiriçá Masculino 02 Yaci Feminino
03 Zumbi dos Palmares Masculino 03 Lopes Masculino
04 Tiradentes Masculino 04 Maurício de Nassau Masculino
05 Carlota Joaquina Feminino 05 Chico Rei Masculino

06 Dom Pedro I Masculino 07 Imperatriz Leopoldina Feminino

07 Dom Pedro II Masculino 08 Anita Garibaldi Feminino


08 Duque de Caxias Masculino 09 Dandará Masculino
09 Luís Gama Masculino 11 Marechal Rondon Masculino

11 Floriano Peixoto Masculino 12 Rui Barbosa Masculino

12 Antônio Conselheiro Masculino 13 Tarsila do Amaral Feminino


13 Tia Ciata Feminino 14 Maria Bonita Feminina
21

14 Nina Feminino 16 Luís Carlos Prestes Masculino


15 Antonieta de Barros Feminino 17 Luiz Gonzaga Masculino
16 Domingos Jorge Velho Masculino 18 João Goulart Masculino
17 Carmen Miranda Feminino 20 Carlos Marighella Masculino
18 Getúlio Vargas Masculino 21 Chico Mendes Masculino
19 Barbosa Masculino 22 Carolina de Jesus Feminino
20 Carlos Lacerda Masculino 23 Darcy Penteado Masculino
21 Jânio Quadros Masculino
22 Leila Diniz Feminino
23 João Saldanha Masculino
24 Mário Juruna Masculino
Fonte: Episódios do Show da História - Disponíveis em
<https://www.youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq46AWUKK4TsO7u--eUM19XS e
https://youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq6udmrJrmH9GDibOu54StUL> Acessado
em 16/06/2023.

Como podemos observar pelo quadro, em ambas temporadas houve um


movimento, que embora cada uma tenha em sua totalidade 26 episódios, esse não é
o número exato de convidados recebidos. Isso é determinado por em alguns
momentos o programa pror recapitulações do assunto, seja através de revisões ou
de episódios com temáticas que trazem uma visão também sobre sua própria jornada.
Para receber esses nomes, Clara e Neto fazem no início de cada episódio uma
introdução através de alusões que remetem ao convidado e mesclam referências da
época de sua existência. Dessa forma, todos episódios começam apresentando
alternativas variadas para indicar quem será a personalidade a viajar no tempo no
tempo e qual assunto será discutido. Abaixo, temos uma tabela com as descrições
das introduções de cada episódio.

QUADRO 2 - Introduções dos episódios


TEMPORADA 01 TEMPORADA 02
Episó Episó
Introdução Introdução
dio dio
Clara e Neto falam de suas expectativas O narrador é interrompido por Clara e
sobre o programa e Neto tenta introduzir o Neto, que falam novidades da temporada
01 01
convidado usando o termo “descobridor”, e anunciam que esse episódio será sobre
mas Clara o corrige. polêmicas.
22

Neto aparece com uma cobra de pelúcia Clara e Neto estão em uma fogueira
enrolada no pescoço, anuncia o fictícia, com marshmallow e falam sobre
02 02
convidado, mas Clara diz que na verdade os indígenas antes da chegada dos
decidiu chamar outra pessoa. portugueses.
Neto lê para Clara parte de um livro que
Clara e Neto fazem uma saudação a
03 03 tem falas de um negociador de pessoas
Palmares.
escravizadas.
Clara e Neto discutem sobre quem faz a Neto está com um guarda-sol, anunciando
melhor ilustração de Tiradentes, mas como um vendedor de praia, e Clara
04 04
Flora portando uma aparece e eles a mostra um quadro do que seria uma
escolhem. praia.
Clara e Neto falam sobre quem pode ser
05 essa ser a primeira convidada mulher do 05 A máquina do tempo entrando em ação.
programa.
Neto está empenhado em receber o
A máquina do tempo faz uma
06 convidado à altura e discute com Clara, 06
apresentação sobre Neto e Clara.
que não concorda com esse empenho.
Clara está com um vestido do século XIX
Narrador fala sobre a situação do Brasil
e tenta escrever uma carta com uma
07 no século XIX, enquanto Clara e Neto 07
pena, mas é interrompida por Neto e os
encenam.
dois falam sobre a convidada.
Neto quer assumir o lugar de Clara para Neto e Clara tentam preparar um
08 chamar o convidado, para isso, a dupla 08 chimarrão vendo uma receita pelo
disputa um jogo e ele perde. computador.
Flora celebra o casamento de amizade
Neto e Clara tentam ler textos árabes
09 entre Clara e Neto, a dupla aperta o botão 09
escritos em papéis antigos.
do fax juntos.
Pequenas falas de cada um dos Clara e Neto anunciam o tema do
10 10
convidados anteriores. episódio como vendedores.
Encenação de Clara como Marianne,
símbolo da república francesa, e Neto A máquina do tempo entrando em
11 11
como um rei sem cabeça; com funcionamento.
participação do narrador.
Neto está fazendo selfies e Clara faz Neto está fazendo um discurso, se
12 provocações sobre quem ele estaria 12 preparando para o convidado, mas Clara
interessado. o interrompe.
Clara e Neto cantam o Hino da
Neto tenta encenar uma performance,
13 Proclamação com uma câmera na mão e 13
mas Clara o corrige.
fazem questionamentos sobre a letra.
Como em um protesto, com cartaz e Enquanto confeccionam um chapéu de
megafone, Neto reivindica o direito de couro com estrelas, Clara e Neto falam
14 14
usar o controle e acaba convencendo sobre convocar a banda Os Fita K7 para
Clara, mas ele não sabe quem convidar. introduzir a convidada, mas não dá certo.
Clara publica um meme de expectativa e
Clara diz a Neto sobre como será o
15 realidade com foto de Neto, ele não gosta 15
episódio e ele se anima.
e a dupla fala sobre fake news.
16 Clara e Neto analisam cartazes dos 16 A máquina do tempo parece não
23

Bandeirantes em protesto contra Getúlio funcionar e Clara e Neto choram


Vargas. desesperados.
Clara e Neto usam um microfone antigo e,
quando ela fala em inglês, diz que a Clara e Neto declamam poesia que traz
17 17
"americanização" tem a ver com a características do convidado.
convidada do episódio.
Neto vê Clara estudando no notebook e
Clara está angustiada por conta do
18 18 diz que o convidado pode ajudar com o
convidado e Neto tenta acalmá-la.
conteúdo.
Neto está treinando futebol de botão e
Clara e Neto anunciam para o público
19 começa a falar sobre o convidado e a 19
sobre o que será o episódio.
Copa do Mundo de 1950.
Quando Neto vai colocar a ilustração, Clara está deitada no sofá e Neto entra
Clara insinua dúvidas e se contradiz, falando sobre algo que o convidado gosta,
20 20
alegando que o convidado também é mas Clara o contraria com outro gosto do
assim. convidado.
Clara e Neto estão rodeados de plantas,
Neto está com um bigode igual ao do mas ainda no quarto, e agem como
21 convidado, Clara faz questionamentos e 21 exploradores da floresta, Amazônia e sua
dá dicas da moda. importância, fazendo um paralelo com o
convidado.
Com uma câmera na mão, Neto e Clara Neto está tentando escrever um poema
22 tomam como base o Cinema Novo, para 22 para a convidada e Clara entra para
chamar a convidada. chamá-la.
Clara se mostra indisposta por motivos
Neto declama um poema e o digita no fúteis, mas Neto começa a falar sobre
23 computador, preparando textos para 23 dificuldades e introduz o convidado,
mostrar ao convidado. mesmo com Clara ainda fazendo
reclamações de futilidades.
Clara e Neto falam em um tom mais sério
Neto e Clara falam para a câmara sobre
24 24 e com um cenário contendo baixa
indígenas.
iluminação.
O episódio começa com Os Fita K7
Clara diz que Neto está atrasado e
cantando a paródia da música “This Is
25 questiona a roupa dele, ambos estão com 25
America” e várias imagens dos episódios
ternos.
sobre convidados negros.
Gravação do episódio 17, mesclando a 7 diferentes inícios do programa em
26 cena que foi ao ar com gravações 26 outros episódios com Clara e Neto
mostrando a equipe de produção. falando com o público.
Fonte: Episódios do Show da História - Disponíveis em
<https://www.youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq46AWUKK4TsO7u--eUM19XS e
https://youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq6udmrJrmH9GDibOu54StUL> Acessado
em 16/06/2023.

Essas breves introduções contemplam uma forma de começar o episódio já


com a dinamicidade, fazendo alusões entre diferentes épocas e costumes, uma
marca recorrente do programa. Passado o momento, é a vez da personalidade
24

assumir as frentes das câmeras com uma rápida biografia contada pela narração da
máquina do tempo, interpretada por Cássio Inácio, que junto aos dois protagonistas,
formam as três presenças contínuas em todos os episódios da série.
Quando está junto aos apresentadores, a personalidade é utilizada como
gatilho para um desencadeamento de assuntos contundentes da história do Brasil,
tendo um enfoque preciso na época a qual viveu. Para essa narrativa ser contada de
forma clara, a condução do programa acontece através de quadros com um propósito
comum, apesar de se diferenciar nas suas maneiras de exposição. Sobre isso, Tom
Hamburger (2023, on-line) declarou em entrevista usar essa alternativa “para ser
dinâmico, para não parar de acontecer coisa, para gente ficar envolvido”.
Em busca dessa velocidade, os quadros se dividem em inspirações em
junções de possibilidades da internet, de clássicos programas televisivos, de memes
e até de situações comuns do dia a dia. Ficcionalmente dentro do espectro da série,
essas alternativas para além da entrevista acontecem quando Clara e Neto sentem a
necessidade de um aprofundamento maior no assunto comentado em certos
momentos, com ela acionando o controle para a máquina do tempo promover a
exibição, sendo sempre acompanhado por sua vinheta correspondente.

FIGURA 3 - Quadro História Acelerada, Temporada 01 (2017)

Fonte: Printscreen, quadro História Acelerada, Episódio 09, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/Vd75RjrzxnU> Acessado em 16/06/2023.
25

Embora exista uma grande variedade de quadros no Show da História,


normalmente criados para cada episódio e levando em consideração o contexto em
questão, alguns são recorrentes ao longo das duas temporadas. É o caso do História
Acelerada, ilustrado acima, ou do Neto Explica. Mesmo assim, ambos não estão
presentes em todos os episódios da série, sendo comumente acionados para trazer
explicações concisas ao público.
No História Acelerada, o uso de ilustrações animadas é conduzido pela
narração de Neto ou Clara, variando em alguns os episódios, e juntos em outros.
Nesse momento, a intenção é trazer uma noção ao espectador do assunto abordado,
para tanto, normalmente sua exibição acontece ainda nos minutos iniciais, no entanto
isso não se torna uma regra ao longo das temporadas, sendo possível também
encontra-lo no meio ou próximo do fim dos episódios.
Assumindo um posto parecido com o quadro citado anteriormente, o Neto
Explica também tem o poder contextualizar o tema, mas seu foco maior é propor uma
compreensão clara e rápida com a apresentação de Neto à frente da câmera, falando
diretamente para o público. E, por mais que esse seja um quadro do personagem
Neto, como o título já mostra, também há momentos em que Clara assume o posto,
com uma ideia de variação de posições de ambos.
Esses mudanças em determinações previamente feitas são frequentes e
expõe como tudo pode sofrer mutações mediante às adequações necessárias, sendo
uma forma prática de expor suas possibilidades. Podemos considera-las, então, como
uma das razões pela qual o Show da História guia sua própria existência, com a
intenção de se encaixar na visão das novas alternativas e meios para falar da
formação do Brasil e como tudo isso é espelhado nos mais diferentes povos
habitantes dessas terras.
Para isso, as discussões entre Neto e Clara permeiam situações que vão
desde o cotidiano, até formas de tratamento a serem dispostas aos convidados.
Apesar de serem jovens, ambos se comportam como pessoas conscientes e
ressaltam a todo momento o fato de estarem recebendo personalidades de séculos
passados, portadoras de costumes diferentes, mas repletas de conteúdos
interessantes.
Entendendo as questões de relacionamento, é preciso também fazer a
audiência compreender como o conteúdo exibido é baseado em fatos históricos
permeados em tempos passados, podendo, muitas vezes, resultar em expressões e
26

colocações já em desuso, assim como também situações fictícias, criadas para o


programa, podem causar certa confusão. Dessa forma, o Aviso Importante é uma
inserção com a funcionalidade de levar explicações para fazer o público ter
conhecimento desses pequenos detalhes. Em um momento, por exemplo, seu uso
para comunicar que, ao voltar para o ano ao qual pertencem, os convidados
esquecerão de tudo vivenciado no programa.

FIGURA 4 - Aviso Importante, Temporada 01 (2017)

Fonte: Printscreen, Aviso Importante, Episódio 05, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/1nZmYHxTLrM> Acessado em 12/06/2023.

É possível notar como esse aviso toma por inspiração as clássicas


recomendações de uso de medicamentos, normalmente expostas sempre ao fim de
um vídeo de uma propaganda exibida em intervalos comerciais dos canais de
televisão, quando normalmente acontecem em uma tela azul, com muitas letras e
acompanhado de uma narração acelerada, para tudo se encaixar em um pequeno
espaço de tempo e ainda ter o poder de transmitir sua mensagem. Não é exatamente
assim que acontece no Show da História, mas há uma nítida referência nesse formato
para transmissão de detalhes fundamentais sobre os recorrentes acontecimentos no
quarto de Clara.
Entre os mais diferentes elementos inspiradores do Show da História, para
além da televisão e da internet, também há uma visão sobre o papel dos professores.
27

Dessa forma, a argentina Consuelo, encenada por Livia La Gatto, é uma mulher adulta
e aparece em seu próprio quadro, chamado de Argentina Consuelo, O Lado B da
História do Brasil, na primeira temporada, e só Consuelo, na segunda temporada.

FIGURA 5 - Quadro Argentina Consuelo, O Lado B da História do Brasil, Temporada


01 (2017)

Fonte: Printscreen, quadro Argentina Consuelo, O Lado B da História do Brasil, Episódio 12,
Temporada 01 - Disponível em <https://youtu.be/EDOFk8PdGNI> Acessado em 16/06/2023.

Suas entradas acontecem como todos os outros quadros, através do


acionamento de um botão na máquina do tempo, mostrando-a sozinha em um
ambiente completamente diferente do quadro de Clara. Consuelo aparece em uma
espécie de escritório, com uma mesa, onde se apoia para falar com a câmera, e
rodeada de prateleiras com livros e decorações. Neste espaço, a personagem faz
rápidas explicações sobre algum momento da história, normalmente, antecipado por
Clara, Neto e o convidado, que a convocam para falar com mais especificidades,
dando uma ideia de contextualização, como acontece na maioria dos outros quadros.
A atriz Livia La Gatto reaparece na série interpretando Carlota Joaquina em
um episódio sobre o Brasil Império da primeira temporada e também se torna fixa em
um outro quadro, com uma personagem sem nome. Trata-se do Os Fita K7, um grupo
musical recorrente na segunda temporada, embora, como os outros quadros do
28

programa, não se repete em todos os episódios, mas neste caso, podemos considerar
sua frequência parecida com a do Neto Explica ou História Acelerada.
Isso faz Os Fita K7 ser um marco para quem assiste a segunda temporada,
pois, além de suas constantes aparições, o grupo faz paródias de músicas de
sucesso, inserindo-as dentro do contexto histórico representado no episódio em
questão. Para formar essa banda, além de Livia La Gatto, Letícia Fagnani e Felipe
Frazão, atriz e ator de Clara e Neto, também entram como parceiros musicais para
compor a cena tocando instrumentos, dançando e até cantando.

FIGURA 6 - Quadro Os Fita K7, Temporada 02 (2018)

Fonte: Printscreen, quadro Os Fita K7, Episódio 04, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/szH0Mu6umzk> Acessado em 16/06/2023.

Dentro desse quadro é possível perceber semelhanças com programas de


exibição de videoclipes musicais para televisão, como quando são mostradas
informações referentes ao título da paródia, o artista (Os Fita K7), o álbum (History
Hits) e a gravadora (Claro e Neta). Tudo acontece em um cenário que imita um estúdio
de gravação, com acústica, cortinas e luzes, trazendo o elenco usando acessórios
variantes de acordo com o gênero musical e o assunto do episódio.
Isso é só uma parte enfática da importância musical dentro do Show da
História, que tem a trilha sonora como uma forte aliada para compor o tom dado à
série. Entre piadas, quadros e informações trocadas, há sempre a presença de
29

inserções de fragmentos musicais ajudando a proporcionar o bom humor, seja


trazendo a leveza ou a densidade necessária ao momento específico.
Para tudo isso acontecer, a trilha sonora sofre influência de diferentes épocas
e gêneros musicais, mais uma alternativa para mostrar a diversidade presente nas
abordagens dos temas pilares da existência do Brasil. Dessa forma, encontramos o
uso de instrumentos clássicos, como piano, mas também de elementos
característicos da cultura brasileira, como o pandeiro e o triângulo. Toda esse cuidado
na produção musical percorre um caminho de proporcionar ainda mais a riqueza na
experiência do público nos pequenos detalhes da produção.
Outra participação constante é a de Flora, a irmã mais nova de Clara. Seu
visual é gótico, sempre com roupas e maquiagens escuras, e sua feição é
intimidadora, passando uma sensação de medo para os dois apresentadores e, em
alguns momentos, para os próprios convidados. No entanto, esse sentimento não se
concretiza ao decorrer de todas as suas participações no programa, pois, ao mesmo
tempo, Flora se mostra uma pessoa também bastante interessada em aprender,
assim como sua irmã e o melhor amigo dela.

FIGURA 7 - Personagem Flora, Temporada 01 (2017)

Fonte: Printscreen, personagem Flora, Episódio 01, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/e5v165OBRLY> Acessado em 16/06/2023.
30

Sua presença se torna uma marca significativa ao estabelecer suas


participações sempre circulando em determinados momentos dos episódios. Flora
surge para criar situações contribuintes ao tema em questão e contribui
dramaturgicamente ao conteúdo da série. Seja celebrando um fictício casamento,
conversando sobre relacionamentos amorosos com convidados ou até contrariando
Clara e Neto ao inserir uma ilustração feita pela mesma na máquina do tempo. As
participações de Flora têm um teor narrativo, com propósito de expor os personagens
a momentos rotineiros do dia a dia, contribuindo em um aprofundamento da relação
público e produto ao longo dos episódios.
O Show da História demonstra ainda mais sua gama de possibilidades através
de episódios que abandonam o seu formato original de contar com um convidado para
falar sobre um assunto. Assim, podemos considerar esses como os episódios
especiais, uma vez que a exploração de seu conteúdo tem um enfoque na volta dos
assuntos já percorridos, numa intenção de revisita-los para reformá-los junto ao
público. Para além da revisão do público, esses momentos reforçam ainda mais a
intenção do programa numa busca por homenagens a estruturas clássicas da
televisão, como acontece no Grande Prêmio do Canal da História, quando Clara e
Neto relembram toda a primeira temporada através de uma cerimônia com variadas
categorias, anúncios de prêmios e discursos.

QUADRO 3 - Episódios especiais

TEMPORADA 01 TEMPORADA 02

Episódio Título do episódio Episódio Título do episódio

10 A História da Primeira Temporada 06 Especial Brasil Colônia

25 Grande Prêmio do Canal da História 10 Especial Império

26 Making of do Canal da História 15 República Velha

19 Era Vargas

24 Especial 20 anos de Ditadura Militar

25 História Negra do Brasil

26 Making of
Fonte: Episódios do Show da História - Disponíveis em
<https://www.youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq46AWUKK4TsO7u--eUM19XS e
https://youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq6udmrJrmH9GDibOu54StUL> Acessado
em 16/06/2023.
31

E, ainda entre os programas especiais, é possível perceber o cuidado que a


produção tem ao fim de todas as temporadas ao trazer no último episódio uma
exploração dos bastidores. Neste caso, os especiais não são mais comandados por
Clara e Neto, embora os dois estejam presentes através de seus intérpretes expondo
suas experiências ao longo de todo o processo de gravação das duas temporadas.
Agora, não há mais personagens e sim toda a equipe por trás da produção, além de
pessoas envolvidas com a gestão do Canal Futura, onde cada um explica suas
funções e motivações para expor a importância e essência da existência do Show da
História.
O programa se estabelece, em ambas as temporadas, dentro de episódios com
durações por volta de 12 minutos, contendo uma diferenciação no segundo ano,
quando em alguns esse tempo é excedido, chegando até a 14 minutos de arte. Esses
poucos minutos são fundamentais para uma exploração veloz e eficaz do conteúdo,
assim como exige a internet, com sua multiplicidade de opções de consumo,
mostrando como os momentos fundamentais da nossa história também podem ser
visitados com um novo olhar, trazendo perspectivas pouco conhecidas e servindo
como um estímulo para o público procurar um aprofundamento maior sobre os
assuntos.
Finalizando todos esses episódios, podemos entender como o formato do
Show da História se propõe em ser uma base de questionamento da história do Brasil.
Através de dois adolescentes e seus convidados, não somente estudamos
acontecimentos e épocas marcantes do nosso país, mas também somos
apresentados a narrativas pouco conhecidas e, junto ao bom humor da dupla
protagonista, vemos como o resgaste de tudo isso pode se encaixar nos momentos
atuais. Toda essa composição, influenciada por características da internet e da
televisão, formam uma linguagem singular em sua essência, fazendo esse formato se
destacar entre as possibilidades existentes de ocupação da educação em todos os
espaços, mostrando o quanto o seu potencial pode ser transformador.
32

A TRAJETÓRIA DOS CRIADORES: CAO E TOM HAMBURGER

Para ter um embasamento maior em nossa pesquisa, foi preciso voltar atrás e
ter conhecimento de quem trouxe o programa à tona, sendo assim, procuramos nos
aprofundar nas trajetórias de Cao Hamburger e Tom Hamburger. O primeiro é parte
fundamental desse estudo, pois criou o formato original e tem em sua carreira grandes
contribuições em torno da linguagem de produções para televisão. Já o segundo, é
quem deu vida ao formato analisado aqui e tem construído uma carreira de grande
relevância para realização de conteúdos na TV e no streaming.
Ao tomar frente do projeto como diretor geral e cocriador, Tom Hamburger se
inspirou em um outro de mesmo título, desenvolvido por seu pai, junto a Paulinho
Caruso e Teo Poppovic. Tal inspiração é nitidamente esclarecida quando o programa
é assistido, afinal, através dos temas abordados, dos quadros desenvolvidos, dos
condutores das ações, do visual e do próprio formato, é possível notar semelhanças
a identidade de outras obras desenvolvidas por Cao Hamburger e sua equipe desde
os anos 1990.
Foi nessa última década do século XXI que Cao Hamburger estreou com
programas na televisão e construiu uma carreira marcante e de forte influência em
formatos ao misturar o entretenimento com a riqueza de conteúdos. Até o início dos
anos 2000, o criador colecionava sucessos como a série Castelo Rá-Tim-Bum (1994),
que contou com um longa-metragem baseado em sua história também com direção
do mesmo, e o programa Disney Club (1997).
Após conquistar forte apelo com o público infanto-juvenil, Hamburger passou
por um amadurecimento de temas abordados, fazendo parte do grupo de diretores do
seriado Cidade dos Homens (2004) e mais tarde realizando um novo longa-
metragem, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). Na década de 2010,
ele volta para o cinema com mais um filme, Xingu (2011), dessa vez falando sobre os
irmãos Villas-Bôas na Expedição Roncador-Xingu, durante os anos 1940.
Ainda entre as décadas de 2000 e 2010, Cao Hamburger voltou a produzir
séries voltadas para o público mais jovem, como a adaptação para TV de Um Menino
Muito Maluquinho (2006), Pedro & Bianca (2012) e Que Monstro te Mordeu? (2014).
Com resultados bem-sucedidos, foi possível ser reforçado seu fascino pela produção
audiovisual, o que também lhe rendeu uma série, intitulada No Estranho Planeta dos
33

Seres Audiovisuais (2008), falando sobre toda a trajetória do uso de imagens em


movimento para comunicação.
Mais recentemente, desde 2017, trabalha em torno do universo de uma
temporada do seriado de televisão Malhação. Levando o subtítulo Viva a Diferença
(2017), o autor trouxe temas pertinentes em uma linguagem acessível que cativou o
público e rendeu uma das maiores audiências recentes entre as suas mais de 27
temporadas, além de uma repercussão ímpar, gerando o spin-off As Five (2020), o
qual aborda a vida das cinco protagonistas da história, com duas temporadas
disponibilizadas no Globoplay e com uma terceira já gravada, mas ainda sem data de
estreia.
Filho de Cao, Tom Hamburger segue passos parecidos com os do pai, em uma
constante contribuição na formação de programas de televisão que façam do
entretenimento uma fonte de conhecimento. Desde o início de sua carreira, Tom tem
passeado entre a ficção e o documental, como a websérie Os Filhos dos Outros
(2017), que documenta a vida de menores infratores em situação de reinserção social.
Logo, ele também passou a fazer parte de produções maiores, integrando à equipe
de diretores do seriado da Netflix Irmandade (2019).
Mas, antes disso acontecer, Tom, junto com Ricardo Inhan, conseguiram tirar
do papel a sua primeira criação para televisão, o Canal da História, que
posteriormente foi intitulado de Show da História em sua segunda temporada. Os dois
criadores, ao saberem da procura do Canal Futura por um programa sobre história do
Brasil, viram potencial no antigo projeto de Cao Hamburger, que foi remodelado e
tornou-se o objeto de estudo dessa pesquisa. Sobre a primeira versão, Hamburger
(2023, on-line) declarou em entrevista: “Era um programa de entrevistas, só que de
auditório, então vinham os personagens da história do Brasil, que davam entrevista
também, só que nesse contexto um pouco maior”.
Essa primeira ideia surgiu entre 2006 e 2007, quando o mundo convivia com a
internet de uma forma ainda não tão necessária como hoje e canais digitais ainda
estavam em estágios iniciais, como o YouTube, uma peça fundamental do formato
realizado em 2017. Neste momento, o Show da História era um programa de auditório,
onde a interação de apresentadores e convidados aconteceria com o contato pessoal
do público (HAMBURGER, 2022).
A máquina do tempo já era planejada e a viagem dos convidados aconteceria
da mesma maneira, no entanto, a proximidade entre o produto e seu público seria
34

direta, proporcionada da maneira como era possível nos meados dos anos 2000.
Apesar de já inovador naquela época, o projeto não se tornou real, mas ficou
guardado ao longo desses anos.
Quando finalmente aconteceu, já em 2017, o formato foi repaginado. A ideia
de Ricardo Inhan e Tom Hamburger foi criar um vlog com dois adolescentes
conduzindo conversas através da influência de suas linguagens, usando memes e
piadas comuns no âmbito da internet (HAMBURGER, 2023, on-line). Dessa forma,
manteve-se no programa as mesmas intenções de promover o estudo sobre a história
do Brasil de uma maneira que normalmente não é contada.
Ao assistir ao Show da História, é possível perceber como as novidades
apresentadas se mostraram necessárias, afinal, os jovens de agora não são mais os
mesmos e a forma de se comunicar também já havia passado por grandes
transformações. E todas essas mudanças fazem parte da intenção do próprio
programa de mostrar como a vida segue um constante movimento, com histórias
revistas, recontadas, repensadas e questionadas.
Para a produção do programa acontecer, a Caos & Tons Produções foi criada
em 2017, contendo pai e filho como sócios-administradores. Anteriormente, Cao
Hamburger realizava suas obras, desde as televisivas até as cinematográficas, por
intermédio da Caos Produções, fundada ainda nos anos 1990, que tinha em sua
essência exatamente a intenção de abranger uma diversidade de formatos, mas
sempre mantendo a ideia de produções com alta qualidade técnica.

Os objetivos da Caos Produções coincidem com sua história. Sempre


focada na criação e no desenvolvimento de conteúdo audiovisual de
alta qualidade, ela tem nesse propósito sua marca. Importantes
projetos que aliam criatividade, rigor ético e artístico nasceram e se
desenvolveram na produtora. (BRAVI, Brasil Audiovisual
Independente, 2023, on-line)

Esse mesmo princípio manteve-se na nova produtora, sendo a Caos e Tons


Produções a responsável por realizar trabalhos de Tom Hamburger. Além do Show
da História, o criador trouxe ao ar a série, A Caverna de Petra (2021), que explora
questões sociais e de identificação através das vivências de crianças e conta com
atualmente duas temporadas disponibilizadas pelo Canal Futura e no Globoplay.
É enxergando essas possibilidades que podemos notar como as carreiras de
pai e filho, embora separadas por um período, apresentam uma conexão para além
35

da relação familiar. Ao se assumirem como criadores de formatos, Cao e Tom


Hamburger mostram, a partir dos anos de atuação no mercado, como seus olhares
independentes fazem suas perspectivas assumirem caminhos em diferentes
espaços, embora exista sempre em comum a necessidade de promover produções
com poder de superação das barreiras do entretenimento e se mostrando relevantes
socialmente e culturalmente.
Escolhas, como as feitas por esses dois artistas, precisam de uma
determinação segura, pois para realização de trabalhos independentes no Brasil
acontecer, há sempre uma provável incerteza. Ao mesmo tempo em que é dada a
cada um a chance de fazer algo original, partindo de seus próprios olhares, é também
sabido que nem sempre aquele projeto poderá se tornar realidade.
Para tanto, da mesma forma como foi possível enxergar o quanto Cao
Hamburger construiu ao longo dos anos uma carreira consolidada, atravessando
diferentes espaços do audiovisual e tendo suas obras em variados canais de
comunicação, dá para ver como seu filho se movimenta para seguir uma trajetória
parecida, mas com seus próprios desígnios. Tom Hamburger estabelece em seus
trabalhos a criação de formatos com conteúdos enriquecedores para a vida,
contribuindo principalmente na formação de um pensamento crítico e promissor para
a juventude. É, portanto, por meio desse caminho e entre essas diferentes gerações,
mas com propósitos parecidos, que a nossa pesquisa se firma para mergulhar nos
elementos corroborantes na formação e no desenvolvimento do formato do Show da
História ao longo de suas duas temporadas.
36

4 ELEMENTOS DO SHOW DA HISTÓRIA

No estudo sobre a construção do Show da História, foi pertinente entender


como todo o formato é composto por diferentes partes em suas independências
exercendo, em conjunto, um impacto na realização do produto final. Buscamos, então,
fazer uma análise através dos elementos fundamentais do programa, assim,
dividindo-os em Enredo, Roteiro, Mediação e Direção de Arte, de Fotografia e
Montagem, se aprofundando em como se deu cada execução.
Nos estudos de De Souza (2004) o formato de um programa de televisão é
colocado dentro do círculo do gênero, que por sua vez é posto dentro de uma
amplitude de categorias, as quais podem definir essas produções. Assim, ele afirma
como o formato age de maneira combinada aos elementos dos gêneros em uma
formação do que vemos no ar.
Dessa forma, procuramos determinar os pontos contemplados nas
fundamentações para estruturação de um formato. No enredo, há a circunstância
dramática por trás da construção do que leva, de forma ficcional, Clara e Neto a
tomarem a atitude de receber pessoas de outras épocas em um quarto e documentar
tudo na internet. Para o roteiro, nosso estudo direciona-se nas dimensões realizadas
dentro do formato, fazendo uma decodificação de diálogos e de acontecimentos, se
atentando às suas ordens e determinando os detalhes e as características comuns
entre todos os episódios.
Na mediação, nos aprofundamos na linguagem potencializada através dos dois
protagonistas, analisando suas atitudes e comportamentos na condução do
programa, para determinar quem são os guias do conteúdo assistido. Com a direção
de arte, de fotografia e montagem, a procura é em entender quais são os elementos
e as escolhas realizadas para levar a ideia do papel ao vídeo, tomando o ponto de
como tudo exerce uma unidade contribuinte, fazendo sentido e sendo mais uma
maneira de sua efetivação.

4.1 ENREDO

Antes mesmo da estreia do programa, ainda entre as peças de divulgação, é


possível perceber como Clara e Neto são dois adolescentes consideravelmente
comuns. A diferenciação da maioria acontece por meio de um fator primordial, e
37

também resultante da criação do programa, que é ter em suas posses uma máquina
do tempo.

FIGURA 8 - Clara e Neto em uma peça de divulgação, Temporada 01 (2017)

Fonte: Printscreen, Clara e Neto em uma peça de divulgação, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/NUf7uScnWZo> Acessado em 16/06/2023.

Esse enredo por trás do Show da História é essencial na contribuição do


entendimento de onde a série se passa e no seu comprometimento de transmissão.
Tendo isso em mente, entre os primeiros minutos do episódio inicial da série, já
podemos assistir ao momento da descoberta desse objeto, quando, dentro do quarto
de Clara, Neto e sua amiga escutam um barulho estranho e juntos começam a
procurar de onde o som é emitido. Ambos encontram o fax, ou melhor, a máquina do
tempo, entre livros, dentro de uma caixa e, mesmo aparentemente esquecida por ali,
ainda funcionando. Como pessoas ávidas por conhecimento, a dupla começa a
explorar esse objeto, tentando não somente entender do que se trata, mas também
buscando meios de conseguir colocá-lo em ação.
Ao saberem dos poderes da máquina, Clara e Neto decidem tomar uma atitude
para fazê-la útil, criando, então, um canal na internet. Percebemos isso acontecendo
diante dias tediosos, pelos quais os dois têm passado juntos nos últimos tempos, da
mesma forma como ambos também buscam substituir isso por algo útil não somente
para experiências, vivências e conhecimentos deles, mas também promovendo o
38

mesmo para o público, dando a oportunidade de outras pessoas entenderem detalhes


muitas vezes escondidos sobre a história do Brasil.
Por esse meio, ambos percebem a oportunidade de juntos fazer dos estudos
sobre o Brasil serem mais descontraídos, acessíveis e únicos, utilizando suas
alternativas para fazer tudo acontecer. Clara e Neto expõe essas figuras a variadas
situações, e a partir da espontaneidade de cada um, as relacionam à época de onde
vieram com a atualidade e mostrando os avanços da humanidade.
Com essa intenção em mente, os dois adolescentes apostam no estudo da
história provendo de diferentes visões, não poupando críticas ou elogios a quem
acham que merecem. Eles entendem a não necessidade da história ser somente
celebrada, afinal, percebem como essa construção também foi pautada por
determinações não mais bem vistas hoje. Clara e Neto se mostram pessoas atuais,
com pensamentos críticos e preparados para revisitar os momentos passados com a
intenção de promulgar os questionamentos e não somente transmitir os
acontecimentos.

4.2 ROTEIRO

Na estrutura do roteiro do Show da História, observamos como há uma


correspondente variedade de abordagens, embora mantenham-se recorrentemente
em uma unidade de sua intenção. E, mesmo com o formato sofrendo alterações em
alguns episódios, existem detalhes fundamentais presentes em ambas temporadas.
Percebemos isso no início de cada episódio, quando somos apresentados a
uma interação, normalmente protagonizada por Clara e Neto, com o intuito de
relacionar o assunto do programa à personalidade convidada. Em alguns momentos,
isso acontece de forma diferente, com uso de outras alternativas, decorrentes de uma
terceira presença em cena, como o narrador, Flora ou até já o convidado. Em
continuidade, a ilustração é colocada na máquina, que entra em funcionamento,
levando-nos para a exibição da abertura, contextualizada com a máquina do tempo
em uma viagem intergaláctica, como na velocidade da luz, passando por planetas e
elementos de diferentes épocas da humanidade. A partir daí, assistimos a uma
introdução da pessoa convocada, sozinha, com um conjunto de cenas de
gesticulações em um único espaço, utilizado em ambas as temporadas, com o
narrador falando uma breve biografia de sua vida.
39

Podemos considerar, até então, essa parte como a única fixa dentro do formato
do roteiro do O Show da História. É essa exibição inicial, recorrente da
contextualização, acompanhada da abertura e da introdução da personalidade, que
compõe a grande maioria dos episódios. No decorrer, acompanhamos o programa
com quadros e interações entre Clara, Neto e o convidado, no entanto, já não há a
presença das mesmas situações, uma escolha visando dar dinâmica para a série,
mesclando o bate-papo, conforme Tom Hamburguer destaca no trecho abaixo:

Tem a entrevista, que é legal, mas se fosse 12 minutos de entrevista


(...) talvez não fosse tão dinâmico, tão rápido. Fica melhor de assistir.
E os quadros, (...) era um pouco pra isso, pra acontecer coisa, pra
gente mudar, pra gente ir pra um lugar diferente. (HAMBURGER,
2023, on-line)

O que ocorre é a convocação para exibição de quadros acontecendo da forma


mais cabível para o momento. A exemplo, no começo da primeira temporada, o
História Acelerada costumava acontecer ainda nos minutos iniciais, mas isso mudou
quando o quadro não marcou presença no episódio 5, vindo aparecer em outros ao
longo da temporada, no entanto, variando com um que também tinha uma proposta
bastante parecida, o Neto Explica. E assim o História Acelerada começou a aparecer
em momentos variados do episódio, podendo ser na metade ou até próximo do fim.
Para além dos quadros, como um auxílio na transparência das informações
compartilhadas, o roteiro também se encontra em possibilidades de explicações
através do uso de texto para compreensão de termos. Evitando o uso repetitivo de
quadros para falar sobre uma palavra específica, ou mesmo traduzindo uma
pronúncia esquisita de algum participante, o Show da História exibe um gerador de
caracteres. Sempre na cor branca em ambas as temporadas, observamos essa
escolha rápida, prática e até interativa, pois tem não somente o intuito de trazer
alguma explicação, mas também enfatizar momentos específicos, como quando
surge com o auxílio por meio de artifícios para trazer ainda mais a similaridade com o
conteúdo digital.
Essa dinamicidade dos quadros do Show da História mostra o quanto o
programa é volátil em sua concepção. Uma vez que dois adolescentes criam um canal
para a internet onde recebem personalidades de épocas passadas, a fixação por um
formato de roteiro definido para todos os episódios não caberia neste sentido. Isso se
aprofunda na essência de fazer um programa não somente retratando com fidelidade
40

aquelas pessoas, mas também possuindo a potência de atingir um público-alvo como


os apresentadores também são.

4.3 MEDIAÇÃO

A presença de Clara e Neto como condutores dessa narrativa faz a idealização


do programa permanecer na proposição de uma interação combinando quem assiste
com ao conteúdo exibido. Dessa forma, procura-se causar identificação, fazendo do
conhecimento uma ideia possível para todos, criando proximidade e interesse sobre
a história do Brasil, além de levar o público a questionamentos ativos em suas vidas.
Isso acontece com o uso de dois protagonistas que trabalham essa ligação
diretamente através da construção de suas personalidades. Em Clara, percebemos
uma jovem entusiasta, para cima, exagerada e com visões destinadas a um futuro de
sucesso com a abertura do canal na internet. Já Neto, é uma pessoa mais contida, o
que o faz ser mais centrado, costumando trazer Clara para realidade em alguns
momentos. No entanto, embora ambos tenham seus traços bem desenhados,
também é comum ver situações em que suas personalidades são invertidas,
mostrando como nessa fase da vida as pessoas estão em constantes mudanças de
suas percepções, algo recorrente com os dois protagonistas, afinal, eles também
estão descobrindo mais sobre si mesmo ao mesmo tempo em que conhecem a
história do Brasil.
Entendendo quem são esses dois, partimos para compreensão da presença
de ambos do meio digital, pois esse é o escolhido para ser o espaço onde eles criaram
conexão com o público. Podemos perceber essa decisão como uma percepção da
possibilidade da internet de agir como um lugar de fácil acesso não somente para o
público, mas também para a dupla, sendo uma janela de divulgação pública, onde
todos podem ser criadores, embora nem sempre tenham uma garantia da audiência
desejada. No entanto, é visando isso que Clara e Neto desenvolvem suas conversas
com os convidados trazendo ligações e propondo reflexões próximas entre todos, de
uma forma a fazer o público interligar séculos passados com a atualidade da vida,
fazendo as informações não serem apenas explanadas, mas também
contextualizadas e introduzidas em costumes comuns.
Isso acontece com um cuidado na linguagem desses mediadores, entendendo
a posição de ambos não somente de levar conhecimento, mas de também de
41

descobridores. As dúvidas e as curiosidades são motores do programa,


principalmente por Clara e Neto assumirem a postura de entrevistadores, levando seu
público a ideia de uma das inspirações televisivas do Show da História, o formato de
talk show.
Para tudo isso acontecer, os dois apresentadores têm em suas potencialidades
o ato de se comunicar de forma contundente, principalmente com as pessoas de suas
idades, sendo por meio dessa linguagem jovial que eles estipulam expressões e
ressaltam a forma carinhosa de se manifestar com o seus espectadores, chamando-
o por nomes com uma intenção de demonstração de afeto. É assim que eles se
referem ao público por diferentes apelidos, como: historimigos; historimigas;
historimanos; historimanas; historicrushes; historimatches; historiamados;
historilindos; historilindas; historilovers; historiblackers; historipanters;
historitxutxucões; historimores; historimozões; historimigles; historiangels;
historipapis.
Com essas escolhas, fica estabelecida não somente a proximidade e
intimidade, mas também o laço da ligação entre a linguagem da audiência. Tais
atitude destaca como Clara e Neto estão dispostos a estabelecer uma comunicação
de igual para igual, onde o aprendizado aconteça para todos.

4.4 DIREÇÃO DE ARTE, DE FOTOGRAFIA E MONTAGEM

O cenário de um programa de televisão tem função fundamental na sua


intenção, pois é a partir dos seus detalhes que o público pode enxergar pontos visuais
possíveis de uma maior atração pela produção. No caso do Show da História, foi
pensado em um espaço natural de Clara, um lugar confortável, onde a garota, junto
a seu melhor amigo Neto, passariam tempo juntos. Ainda no estudo sobre a escolha
mais adequada para ambientar a série, houve uma dúvida sobre qual poderia ser o
melhor espaço, sendo posto em questão uma garagem ou um quarto, mas a segunda
opção a escolhida (SALVONI, 2018, on-line).
Com essa decisão em mãos, a produção criou um ambiente propondo uma
intimidade do público com os apresentadores, ressaltando ainda mais a identificação
e o sentido de troca nessa relação. Para isso, vemos como o cenário realmente
parece um quarto, no entanto, é possível notar a falta de objetos corriqueiros desses
espaços, como cama ou guarda-roupas, o que é compreensível, afinal, o programa
42

acontece em meio a entrevistas, com esses móveis sendo substituídos por um sofá e
uma poltrona, dando o sentido ideal de um talk show.

FIGURA 9 - O cenário, Temporada 02 (2018)

Fonte: Printscreen, Episódio 26, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/97uBSo2uVU4> Acessado em 16/06/2023.

Na composição do cenário, é possível notar que a arte e a fotografia andam


em conjunto com o uso de luminárias, contendo pequenas luzes espalhadas, junto
com uma sirene sempre ligada. Essa composição de luzes contribui para a
possibilidade de enxergar o espaço habitado por Clara e Neto com um ar de fantasia,
fundamental para entrarmos na proposta da série. Além disso, o cenário também tem
livros e objetos espalhados que acabam ganhando sentido para cada episódio, como
é o caso de um pequeno quadro negro localizado na porta, usado para trazer escritas
ou ilustrações sobre assuntos abordados.
Esse conjunto visual é um ponto a mais para contar todas as histórias ao redor
do programa, com tudo acontecendo através de escolhas contribuintes para a
transmissão de sentido dos momentos. A contribuição da direção de fotografia nesse
processo conseguiu fazer com que as intenções pudessem ser ainda mais claras, por
exemplo, através de planos que na maioria das vezes exploram a linguagem de vlog,
escolhida para ser a base do programa.
43

E, embora o Show da História retrate momentos passados do Brasil, havia


também a necessidade de fazer tudo ser interessante no presente, principalmente
para os jovens da atualidade. Tudo isso foi capaz através das conexões criadas
também com a ajuda da montagem das cenas, sendo possível, assim, caminhar entre
momentos de maior seriedade no tratamento das ações, mas que eram
acompanhados de cenas trazendo o oposto disso. Dessa forma, pudemos notar como
o bom humor era um fator essencial para realização da série, sendo não somente
uma alternativa para atração do público, mas também exercendo a força de dosagem
dentro das abordagens.
Entre reproduções de épocas distantes, composições de cenas criativas e
soluções assertivas, o programa conseguiu, mesmo dentro de sua simplicidade e
limitações de produção, trazer à tona a história do Brasil de uma forma nunca vista
antes. Seja reconstruindo fatos históricos ou expondo essas pessoas às
possibilidades do século XXI, em cada uma dessas escolhas pudemos ver como,
mesmo mantendo a fidelidade histórica, existiu sempre uma intenção de dar a
assinatura própria do Show da História em cada momento, complementando ainda
mais a unicidade em seu formato.
44

5 ANÁLISE DAS DUAS TEMPORADAS

Para um estudo completo do formato do Show da História, buscamos entender


como todos os seus 52 episódios se comportam em uma unidade. Dessa forma,
conseguimos ter noção da produção de um modo geral, no entanto, ainda nesse
estudo, percebemos como a realização do programa passou por mudanças entre as
duas temporadas. Para avaliar melhor as questões determinantes dessas alterações,
analisamos os detalhes variantes de cada uma dessas para entender o
comportamento de suas diferenças.
De caráter inicial, ressaltamos a intenção da existência do programa com o uso
da linguagem e das possibilidades do mundo jovem e digital para transportar
informações sobre a história do Brasil. É assim que Clara e Neto se apropriam da
oportunidade de ter uma máquina do tempo para discutir o sentido do qual faz todos
estarem presentes neste país, analisando questões construtoras e sempre exercendo
o poder de se aprofundar nesses assuntos.
Para isso acontecer, é essencial um pensamento analítico sobre a história
brasileira, algo recorrente durante as duas temporadas do programa. Houve, a todo o
momento, uma necessidade de estudar a história trazendo à tona o que por muito
tempo foi apagado. A exemplo disso, no primeiro episódio da temporada 1, Clara e
Neto recebem Pedro Álvares Cabral, no entanto, chocados ao saber da curta
passagem de do convidado pelo Brasil, trocaram-no por João Ramalho, um
explorador e colonizador que viveu em terras brasileiras após a chegada dos
portugueses. Nesse momento, os mediadores não veem no navegador o potencial
para falar sobre o Brasil encontrado pelos portugueses e seus primeiros contatos com
as populações indígenas. Esse tom crítico permeia-se ao longo das duas temporadas
e é exatamente uma das características formadoras do Show da História.
Embora os pontos principais estejam em ambas as temporadas, foi perceptível
um movimento diferenciado de destaque dentro da primeira, quando o programa
ainda era batizado de Canal da História. Com esse título, foram exibidos os primeiros
nove episódios e, ao chegar no décimo, aconteceu algo diferente dos anteriores.
Levando o título de A História da Primeira Temporada, esse episódio fez uma revisão
dos assuntos abordados anteriormente, dando a entender que essa parte colocaria
um fim neste momento. No entanto, no episódio seguinte, o formato comum volta
recebendo convidados através da máquina do tempo. Isso foi explicado na entrevista
45

por HAMBURGER (2023, on-line), quando ele diz que “filmou 26 episódios de uma
vez, só que a gente quebrou isso em dois, como se fossem duas (temporadas)”.
Já ao final da primeira temporada, foi exibido o Grande Prêmio do Canal da
História, um momento onde Clara e Neto novamente revisitaram os episódios
anteriores, mas sem a intenção didática direta de estudá-los detalhadamente outra
vez. A ideia agora era celebrar o programa, fazendo uma premiação dos melhores
momentos exibidos. Após isso, o último episódio finalizou a temporada com a exibição
dos bastidores da produção, sendo esse uma especial fonte de pesquisa para
entendimento do trabalho de cada setor dentro do Canal da História.
Quando partimos para a segunda temporada, observamos a ideia de episódios
especiais fortalecida e posta de uma maneira diferente. No segundo ano, não houve
mais uma revisão no meio dos 26 episódios ou uma premiação, agora os momentos
de revisitação aconteceram de acordo com os assuntos abordados.
Para tudo isso decorrer, foi preciso dividir a temporada em Brasil Colônia,
Império, República Velha, Era Vargas e Ditadura Militar, existindo ainda mais um
episódio adicional sobre revisão, sendo esse focado somente sobre a história da
população negra brasileira. E, para fechar a temporada novamente, um especial
sobre os bastidores mostrou como tudo aconteceu a produção e, principalmente, as
diferenças entre este ano e o anterior.
Ainda sobre os episódios especiais da segunda temporada, notamos como
esses estavam distribuídos seguindo a cronologia da história. Dessa forma, os
episódios começaram falando sobre os primeiros habitantes do Brasil, seguindo com
a chegada dos portugueses e indo até a escravidão, tendo esse arco fechado com o
episódio sobre o Brasil Colônia. Seguindo o ritmo, Clara e Neto receberam a
Imperatriz Leopoldina, Anita Garibaldi e Dandará, finalizando esse momento com o
episódio sobre o Império.
Para continuar em ordem, os convidados agora foram dois militares, uma
artista e uma militante que viveram a virada do século XIX para o XX, marcando a
República Velha. Entrando em um Brasil mais profundo e percorrendo seu interior, o
Show da História falou principalmente sobre os movimentos políticos substitutos da
era anterior, abordando a Era Vargas. A temporada vai chegando próximo do seu fim
mostrando como o movimento opressor dos militares destruíram vidas e impediram a
liberdade de muita gente ao longo dos 20 anos da Ditadura Militar. O final acontece
quando Clara e Neto falam sobre a perspectiva de pessoas negras na história
46

brasileira, dessa vez, trazendo um apanhado de participações que envolvem


convidados de todas temporadas.
Um ponto de destaque de todos esses episódios de revisão é a presença não
somente das personalidades resgatadas pela máquina do tempo para esse segundo
ano do programa. Para embasar ainda mais, há também a participação de convidados
da primeira temporada, afinal, a intenção nesse momento é falar sobre o assunto da
maneira mais contundente possível e, para isso, é preciso contar também com
algumas pessoas marcantes da temporada anterior.
Trazendo esses eventos de revisão, há então uma diferença na quantidade de
convidados presentes em ambas as temporadas. Na primeira, são recebidas 23
pessoas, sendo 6 do gênero feminino e 17 do masculino, contendo ainda três
episódios especiais, completando os 26 totais. Já a segunda, conta com 19
convidados, entre eles, 12 do gênero masculino e 7 do feminino, dispostos ao longo
da temporada, que, junto com os 6 momentos de revisão e o de bastidores, fecham
os 26 episódios.
Embora exista uma disparidade entre a quantidade de homens e mulheres em
ambas as temporadas, essa também era uma questão retratada no programa como
uma decorrência da formação histórica. É possível enxergar como a intenção não é
somente resgatar os assuntos, mas dar visibilidade ao máximo possível à pessoas
que não tiveram a devida oportunidade para aparecer, ter sua voz ouvida e, enfim,
ser reconhecida. Dessa forma, foi fundamental encontrar alternativas para fazer os
episódios conterem convidados com mais diversidade de temas e abordagens. Para
determinar essas escolhas, a gerente de conteúdo do Canal Futura, Débora Garcia,
comentou:

Nessa segunda temporada a gente deu uma enfatizada em dois


aspectos. A gente fez uma aposta muito grande em mostrar o papel
da mulher na história do Brasil. (...) E a perspectiva do negro e do
índio no Brasil foi muito destacada nessa série. Isso é uma
intencionalidade do Futura. (GARCIA, 2019, on-line)

Esse efeito foi ao ar, quando pudemos acompanhar novos pontos de vistas à
nomes já demasiadamente conhecidos. A exemplo, a Imperatriz Leopoldina,
repetidamente tratada e resumida a uma mulher traída e de vida infeliz em terras
brasileiras. No entanto, ao recebê-la como convidada nesta temporada, Clara e Neto
descobriram o quão pouco é falado sobre ela no decorrer de nossa história. A dupla
47

fica sabendo de sua participação na Proclamação da Independência do Brasil, além


de costumes e desconstrução de estereótipos, como quando ela corrige os dois por
usarem roupas tentando retratar o fim do século XIX, mas que já eram ultrapassadas.
Leopoldina foi só um exemplo de como agora a intenção era voltar a assuntos
da primeira temporada, mas dando oportunidade de a história ser recontada e
questionada por meio de outros personagens e suas perspectivas. No caso das
mulheres, percebemos a existência de uma intenção de receber convidadas de forte
personalidade, de grande influência na nossa história e detentoras de uma noção do
quanto foram significativas.
Os questionamentos permeiam-se também quando entramos em assuntos
abordando o impacto das populações indígenas e negras no desenvolvimento da
nossa nação, sendo ainda mais presentes nesta temporada, a ponto de contar com
um episódio dedicado somente à importância da história negra do Brasil, como já foi
dito anteriormente. Desde Luzia, a primeira convidada e o fóssil mais antigo
encontrado no país, até Carolina de Jesus, uma das mais importantes escritoras
brasileiras.
Todas essas modificações se estabelecem, principalmente, em uma mais
notória, destacada a um primeiro olhar para ambas temporadas, que é o título. Se na
primeira conhecemos o programa como Canal da História, para esse novo ano ele é
chamado de Show da História. Essa substituição não tem nenhuma explicação em
matérias publicadas na época de seu lançamento ou tampouco no episódio dos
bastidores da produção. No entanto, em entrevista com Tom Hamburger (2023, on-
line), o cocriador afirmou que esse impasse aconteceu por decorrência de uma falha
de produção. Após criada, gravada e divulgada com o título Canal da História, a
equipe percebeu a possível existência uma margem para contestação, pois o canal
de televisão dos Estados Unidos History, em Portugal, tem sua marca cadastrada
como Canal História. Ao notarem isso, quando realizaram os novos episódios, a troca
do título foi decidida para evitar futuros problemas.
48

FIGURA 10 - Logomarca do Canal da História (2017)

Fonte: Printscreen, Episódio 01, Temporada 01 - Disponível em


<https://youtu.be/e5v165OBRLY> Acessado em 06/06/2023.

FIGURA 11 - Logomarca do Show da História (2018)

Fonte: Printscreen, Episódio 01, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/mDR6dtcoRVc> Acessado em 06/06/2023.

Acompanhando a mudança de título, há também um novo grafismo,


contribuindo em sutis mudanças na identidade visual. Se Canal antes era escrito com
49

tons azuis em um modo futurista, Show agora vem acompanhado de cinza espelhado
e brilhante, reluzindo as luzes intergalácticos das viagens no tempo. Essas mudanças
no grafismo se espalham em outros detalhes, como quando a cada início de episódio
Clara e Neto têm seus nomes exibidos na parte de baixo do vídeo. Na primeira
temporada, permeia-se a ideia de um triângulo em neon emoldurando os nomes,
enquanto na segunda, os nomes de cada um surgem através de uma animação em
stop motion, a técnica de animação escolha para ser usada nas vinhetas dos variados
quadros do programa.

FIGURA 12 - Clara e Neto, Temporada 02 (2018)

Fonte: Printscreen, Episódio 21, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/hU_P5Pq7SHQ> Acessado em 17/06/2023.
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FIGURA 13 - Quadro História Acelerada, Temporada 02 (2018)

Fonte: Printscreen, quadro História Acelerada, Episódio 21, Temporada 02 - Disponível em


<https://youtu.be/hU_P5Pq7SHQ> Acessado em 17/06/2023.

Se antes, ao acionar a máquina do tempo para a entrada do História Acelerada


ou qualquer outro quadro, a vinheta não tinha uma identidade visual única, agora isso
existe na segunda temporada. Para isso, foi feita a escolha de trabalhar com a técnica
de stop motion, com todos os vídeos de introdução para qualquer quadro contarem
com essa mistura de papéis e colagens. Esse movimento é presente também em
outra diferenciação desse segundo ano da série, que é o uso de uma roleta que conta
com os títulos dos quadros. Portanto, quando o botão é acionado para levar algum
desses ao ar, somos direcionados à vinheta com a roleta, a qual indica o que iremos
assistir.
Essa técnica é um perceptível destaque na temporada, pois sua exibição
permeia repetidas vezes em cada episódio. Podemos perceber, assim, a intenção de
trazer a diversidade para além dos assuntos e convidados do programa, afinal, é
notável a intenção de trazer mais cores e fazer o vídeo transmitir suas variedades
também nessas possibilidades. Para além das vinhetas, o colorido se transporta
juntamente nas transições de cenas, que acontecem com o uso das passagens de
papéis na tela em tons variando entre o amarelo, o rosa, o azul, entre outros, quando
na primeira temporada isso normalmente acontecia com a passagem da máquina do
tempo pela tela.
51

Na exibição dos quadros, observamos a continuidade em suas intenções,


ainda promovendo um aprofundamento nos assuntos colocados em pauta, seja para
trazer um apanhado geral, conflitar os convidados ou explicar detalhes de forma mais
precisa. A única alteração ocorrida, além da estética das vinhetas, se resume ao título
do quadro da argentina Consuelo. Se antes era chamado de O Lado B da História do
Brasil, agora conta com apenas o nome da personagem aparecendo na tela.
E se Consuelo era uma personagem frequente na primeira temporada,
continua sendo no segundo ano, mas isso não foi o mesmo que aconteceu com Flora,
a irmã mais nova de Clara. A garota, que ao longo do Canal da História foi mostrando
diferentes nuances e desconstruindo a ideia inicial sobre sua personalidade, não
participou de nenhum episódio do segundo ano, assim como também não ganhou
citações e nem foi explicado a razão pela qual culminou na falta de presença. No
entanto, durante a entrevista com Tom Hamburger (2023, on-line), ele explicou que a
decisão aconteceu unicamente por questões orçamentárias da produção, fato
provedor de escolhas para fazer ser possível a realização de uma nova temporada
mantendo ou superando o alto nível da anterior.
Seguindo um movimento não exatamente de substituição, mas de
preenchimento da lacuna, percebemos a formação de um novo quadro, o qual se
permeou ao longo de diferentes episódios. Falo novamente do grupo musical Os Fita
K7, sendo esse, o grande destaque em relação às diferenças sobre a produção
musical da trilha sonora do Show da História. Como o próprio programa tem em sua
essência a possibilidade de recontar a história e buscar novas maneiras para isso
acontecer, as paródias da banda formada pelos atores Felipe Frazão, Letícia Fagnani
e Livia La Gatto tinham uma proposta não de trazer novas informações ou
conhecimentos sobre o assunto, mas de mostrar o quanto é possível transmitir
pensamentos de uma maneira inusitada, referenciando músicas pertencentes à
história do Brasil e do mundo.
Seja pelas diferenças encontradas nos quadros, na estética ou nas escolhas
necessárias para realização, foi possível perceber como essas mudanças fizeram
parte da construção do que essas temporadas são em sua unicidade. Se cada uma
tem traços de sua identidade, mesmo mantendo características gerais e uma intenção
principal, vemos como ainda é possível apontar as potencialidades individuais do
primeiro e do segundo ano da série. E cada um desses movimentos impostos, sejam
os vistos ao acompanhar os episódios ou os expostos na conversa com o criador,
52

foram fundamentais na busca pela compreensão do formato do Show da História,


contribuindo com uma profundidade e embasamento aos detalhes do nosso estudo.
53

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na busca pela compreensão da história do Brasil, passamos por diversos


momentos em uma convergência de episódios desde felizes a lamentáveis, mas
sendo, ao fim, corroborantes na formação do que cada um de nós representamos e
somos hoje. A partir dessa ideia, é possível ter em mente que um estudo desses mais
de 500 anos de existência precisa estar proposto às suas divergências e
contradições, enquanto revelam o quão importante é saber de cada um desses
fragmentos.
Tendo em vista essa ideia, assistir ao, hora programa de televisão e hora vlog
para a internet, Show da História é se aprofundar nesses caminhos provenientes da
nossa história. Se apropriando de potencialidades de dois diferentes meios de
comunicação, seu formato apresenta uma proposição híbrida, onde a concepção
permeia-se através do encaixe em uma linguagem acessível e atrativa, passível de
chegar até as pessoas, sugerir questionamentos e fazer o conhecimento ser passado
não apenas como acontecimentos, mas como um conteúdo volátil e transformador.
A atratividade emancipada através das escolhas dessa obra faz surgir formas
de como nosso olhar pode ser direcionado pelas mudanças, nos eximindo de ser
apenas pessoas detentoras de informações, mas pensadores de todas as
engrenagens motivadoras da existência de cada um. Com essa força, o formato do
Show da História se estabelece em sua unicidade, se destacando por escolhas para
transportar os momentos edificadores de toda uma nação.
A partir desse potencial, podemos chegar à resolução de sua importância para
a contribuição da criação de narrativas com a capacidade de retratar o Brasil, tendo
por posse os meios midiáticos para tal realização. Essas novas formas de pensar
como levar conteúdo até a grande massa populacional através de um meio popular,
como a televisão, traz a possibilidade de fazer desses ambientes espaços de riqueza
criativa, mesmo isso tendo sido negado em detrimento de uma visualização que não
lhe atribuía esse valor, seja pelo seu ritmo de produção ou de sua intenção na
conquista por audiência.
Felizmente, hoje já é de uma noção geral desse equívoco que é determinar a
existência apenas de banalidades na televisão, pois as coisas não são muito
diferentes fora dela (MACHADO, 2000, p. 9). Tendo em posse esse conhecimento,
observamos como é importante a criação de produtos cada vez mais construtivos
54

para a essência de cada pessoa em meios de comunicação de massa. Assim,


podemos considerar o movimento de levar a história brasileira através de dois
adolescentes para ajudar outros na busca pelo conhecimento, munidos de artifícios
ficcionais (a máquina do tempo) e reais (a internet), faz o processo de aprendizado
atingir novos passos como uma imposição necessariamente democrática.
Por fim, ressaltamos o quanto o formato do Show da História cria espaços
propícios para além dos ensinamentos educacionais sobre o Brasil. Com o estudo de
suas estruturas, encontramos a significância também no aprimoramento das
maneiras de desenvolvimento de linguagens nos meios comunicacionais. E é a partir
da criação desses ambientes híbridos, onde podemos ver a oportunidade das mídias
se transportarem através de suas capacidades variantes e fazendo uso de seus
pontos mais virtuosos, que chegamos ao resultado propositor de sua riqueza.
55

7 REFERÊNCIAS

BRAVI, Brasil Audiovisual Independente. Caos Produções. Disponível em:


<https://bravi.tv/associados/caos/> Acessado em 07 de abril de 2023.

BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a revolução digital. São Paulo:


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DE SOUZA, José Carlos Aronchi. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São


Paulo: Summus, 2004.

DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: ensaios metodológicos. Porto Alegre: Editora


Meridional, 2004.

FORESTI, Joadir Antônio. A complexidade da teleducação no Canal Futura. Porto


Alegre: Edipucrs, 2001.

GARCIA, Débora. Making Off | Show da História. YouTube. Canal Futura, 13 de


maio de 2019. Disponível em: <https://youtu.be/97uBSo2uVU4> Acessado em 12 de
junho de 2023.

HAMBURGUER, Tom. Histórias da história - Entrevista: Futura 25 anos. YouTube.


Canal Futura, 1 de outubro de 2022. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=UbMUZ5c_8Kk> Acessado em 06 de junho de
2023.

HAMBURGUER, Tom. Entrevista com o autor em 11 de junho de 2023. On-line

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2000.

MATTAR, João. YouTube na educação: o uso de vídeos em EaD. São Paulo:


Universidade Anhembi Morumbi, 2009.

PORTO-RENÓ, Denis et al; VERSUTI, Andréa Cristina; MORAES-GONÇALVEZ,


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WILLIAMS, Raymond. Televisão: tecnologia e forma cultural. Londres e Nova


Iorque: Boitempo Editorial, 2016.
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APÊNDICE - ENTREVISTA COM TOM HAMBURGER

Realizada em 11/06/2023

O projeto do Show da História é inspirado em outro Show da História, né?!


Como foi ter esse “start” de novo e pegar uma ideia de 10 anos atrás e trazer
ela de volta?
Foi… Teve a ver com o projeto não ter saído 10 anos atrás, teve a ver com o formato
que era antes, era um formato caro. Em 2008, 2009 não tinha Youtube ainda, então,
o que tava, não na moda, mas falando bastante, era aqueles programas de auditório,
tipo Márcia Goldschmidt, sabe, de entrevista… de família, com humor… *pausa por
causa da conexão ruim*. Então, era um programa, esse primeiro projeto, era um
programa de entrevistas, só que de auditório, então, vinham os personagens da
história do Brasil, que davam entrevista também, só que nesse contexto um pouco…
maior. E tinha algumas coisas que filmava fora, né, cenas que iam pra praia, eu não
lembro muito bem, porque faz muito tempo. Mas, naquele momento, o Futura não
conseguiu fazer, não pegou, a produtora avaliou que talvez tenha sido por causa de
orçamento, que era um projeto mais caro. E aí seis anos depois, aí sim tinha Youtube,
aí tava super, né… tava chegando… não sei se já tinha Winderson. E aí o Futura tava
procurando projeto que tratava de história do Brasil, lembrou desse e aí meu trabalho,
junto com outro roteirista, que se chama Ricardo Inhan, foi adaptar, falar “esse projeto
aqui não foi, tá caro, o que a gente pode fazer pra tornar possível?”. E aí foi muito
rápido, sentou eu e o Ricardo, a gente se olhou e falou “cara, é um canal de Youtube
que a gente tem que fazer nesse formato”. Mantivemos a máquina do tempo e tal e
foi um pouco isso, a gente achou esse jeito que era mais contemporâneo da época,
acho que era muito mais legal do que um programa de auditório, mais pra molecada,
né… mais dinâmico, de ter mais possibilidade de humor, um humor mais… mais.. sei
lá, pra cima, assim, né?! Pra brincar bastante.

Eu queria saber mais sobre o primeiro formato, porque eu dei uma pesquisada,
mas não encontrava nada. A única coisa que encontrei foi essa sua entrevista.
Mas, então, ele tinha a mesma essência, né?! Entrevistas, máquina do tempo,
personagens históricos…
Sim. E de humor e de tratar com… é… o que a gente colocou era bem isso, né?! Na
época não era tanto… ainda tava chegando essa… não sei muito como falar, mas
você vai entender. Tipo, a gente não tava tão, acho que em 2008, 2009, não tinha
chegado tão forte essa onda da gente falar das pessoas que foram apagadas da
história, que não tinha chegado na televisão ainda, né?! Isso em 2009. Então, quando
a gente começou a adaptar e já tava com isso na cabeça. Já foi pra esse caminho
mais rápido, assim.. contar com personagens…

10 anos atrás a gente não pensava tanto nesses personagens que estavam à
margem da história, mas que eram tão importantes quanto quem protagonizou,
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de certa forma. E aí, talvez, em um programa nessa primeira versão, digamos,


ele poderia envelhecer mais rápido, que talvez não recebesse essas mesmas
pessoas que vocês trouxeram nessa versão que foi ao ar. Ou eu tô enganado,
talvez já fosse uma ideia essa?
É… eu não lembro direito, mas eu sei… mudou muito. A gente chegou com muito
mais… mas é que é isso, né, também, quando eu pesquisei a primeira temporada,
que eu fiz a pesquisa, também você já vê que tem muita gente fazendo isso, os
historiadores, né… já tem muito essa preocupação, já tem há muitos anos. E eu acho
que o que mudou principalmente deve ser isso de chegar na televisão, né, de chegar,
talvez, no mundo da… não sei. Mas eu acho que sim. O próprio Canal Futura tava
procurando isso, foi uma parceria muito boa com o canal, porque era isso que eles
queriam, já contar essa história do Brasil por outro ponto de vista, mais democrático,
mais inclusivo, né, desafiar um pouco a historiografia tradicional dos homens brancos
europeus e tal. Então o Futura tava super com a gente e tal.

Nessa primeira versão, você já tava envolvido com ela?


Não, não tava. Eu li depois, quando fui adaptar.

Então veio como desafio a internet. Ela veio através do Futura ou foi de você e
do Ricardo?
Foi minha e do Ricardo, a gente que pensou muito rápido, na primeira reunião a gente
já teve essa ideia.

Acho que esse foi o grande estalo pra essa nova versão, né? Repensar o Show
da História.
Foi, foi super. Possibilitou… foi justamente encontrar esse formato que possibilitou a
gente produzir que, é… do ponto de vista da produção a gente consegue… porque
só tem um cenário, né, dois protagonistas, tem a irmãzinha… mas o que acontece é
que a gente consegue filmar muito episódio, a gente consegue filmar um episódio por
dia. Porque ele é simples e ágil, né, então, nesse cenário a gente fez de um jeito que
a gente podia… tem lá o set principal, do formato de entrevista, claro, né, que ia o
entrevistado… mas a gente podia ir pra aquela parede e faz um quadro ali. E foi isso
que possibilitou a produção e fazer tantos episódios.

Tem aquela parede de acústica que vocês fazem cada introdução de


personagem, que o narrador faz, e gravava também Os Fita K7, né?!
É, exatamente! Era uma parede que ficava… O cenário tava aqui (gesticulando), né,
o quarto tava aqui, a gente via assim e essa parede tava aqui. Então a gente botava
a câmera aqui, fazia a parede e já botava a câmera aqui e já ia pro quarto… paleura
total. Os atores, foi muito… depois que eu percebi, depois de outros trabalho foi que
eu percebi, caramba, os caras seguraram muito texto, eles decoravam textos na hora,
que eram episódios curtos, mas tem muito texto, né?! Principalmente nos quadros
que eles têm que olhar pra câmera e falar, né, e falar história do Brasil e dar o texto
com entonação, que a gente inventava coisa na hora, a gente fazia piada na hora.
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Eles foram muito bons e muito inteligentes porque eles entendiam muito rápido o que
estavam lendo, o que estavam falando.

Dá pra perceber que eles são muito espontâneos. Eles tinham muita liberdade
para improvisar na hora?
Muito, muito. Era bem divertido, assim… é… porque a gente escrevia o texto e às
vezes não cabe na boca e como foi tudo muito rápido, a produção e também os
roteiros, então às vezes chegava o texto com erro de pontuação, faltava vírgula, então
às vezes tinha… a frase tava muito grande, sabe?! Não tinha… acho que é um pouco
normal, um tempinho pra revisar. Então a gente sentava e falava “isso tá ruim, isso tá
ruim, vamos lá, como você vai falar isso”. Eles trouxeram muito, assim, se divertiam
fazendo. Era bem… porque a gente tinha uma pesquisa da produtora, um
pesquisador da produtora, e o Canal Futura tinha um pesquisador que revisava tudo,
né, desde os roteiros até os episódios editados, né. Então tinha essa parte de passar
a história do Brasil de uma forma consistente, né, então a gente fez pesquisa, tinha
um texto certo pra dar, né, uma… dados, informações e opiniões muito bem
pensadas, assim, né. Tinha uma coisa por trás, então tinha essa coisa de fazer o texto
certo, mas a gente podia sempre… mas se a gente mantém o sentido, fala a mesma
coisa só que de outro jeito, tudo bem, né?! Se tem uma piada ali que aparece, que é
legal e pode… então vamo nessa. Às vezes a gente gravava, vamos garantir o texto,
e aí brincava em cima. Mas foi muito… foi bem junto. Eu gosto de trabalhar assim,
porque trás muito o ator pra dentro, sabe, ele podendo participar e criar e tal… no
geral, assim, com a equipe também. Eles ficaram livres… dentro das limitações.

Vocês fizeram em quanto tempo essa primeira temporada?


A gente filmou… era um por dia, eram 24 dias de filmagem. Era um por dia.

O décimo episódio da primeira temporada é “A História da Primeira


Temporada”. Quando vocês fizeram esse episódio a intenção era fazer um
resumo ou vinha uma próxima temporada?
É, eu acho que ficou um pouco confuso, né, porque a gente filmou 26 episódios de
uma vez, só que a gente quebrou isso em dois como se fossem duas. Por um
momento a gente pensou que a gente tava gravando duas temporadas direto, né. E
eu acho que o décimo episódio é meio que um compilado dos outros episódios. Ele
também foi porque tem 26 episódios, um é making of e tem esse, que é a
recapitulação. Ah e teve o Grande Prêmio. Eles foram, como são episódios, eles
foram criados… é… junto com o making of. São três episódios que são diferentes e
que… é pra… não sei se falar assim, mas é uma realidade de produção, né, a gente
tem que pensar em soluções para caber no orçamento. Então, esses três episódios
são mais simples de filmar, porque eles usam imagens dos outros, esses dois
episódios. Então, provavelmente a gente filmou em meia diária, então teve alguns
dias de filmagem que a gente filmou, é, esse episódio inteiro, sabe?! Então a gente
economiza um episódio, que ia ser uma diária, a gente filma dois episódios. Em vez
de uma diária, a gente filma em uma. E o making of é um jeito de fazer um episódio
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que a gente consegue economizar. Assim, esse é o ponto de vista de produção, mas
na série funciona também criativamente, porque a gente tem um episódio que amarra
tudo, depois um grande prêmio… eu acho que é um pouco juntar uma necessidade
de produção com estabelecer uma dinâmica. Então é um jeito de conseguir entregar
26 episódios, pra conseguir caber no tempo.

Então esse “A História da Primeira Temporada” vocês pretendiam meio que


gravar duas temporadas mesmo?
É. Mas na segunda a gente filmou como se fosse uma temporada só de 26.

Mas aí tinham os episódios especiais, né, que eram sobre cada era da nossa
história…
Sim, tinham. Fica divertido, né?! Foi uma boa sacada.

E principalmente porque também traz cenas da primeira temporada.


Sim, sim.

Também tem muita referência da televisão, né?! No programa…


Sim. Da entrevista, dos quadros.

Na minha visão sobre o programa, eu achei ele muito com essa cara da
transmídia, juntando a televisão e a internet. É um programa feito para internet,
mas que é para televisão.
Sim, total, que mistura a linguagem do talk show, da entrevista, da televisão, com
aquela coisa da televisão.

Cada programa tem quadros diferentes, embora tenham a intenção parecida de


trazer uma explicação, contextualizar… como era esse desafio? Por que essa
escolha de fazer quadros diferentes?
Eu acho que é pra ser dinâmico, para não parar de acontecer coisa, pra gente ficar
envolvido. Porque tem a entrevista, que é legal, mas se fosse 12 minutos de
entrevista, ia ser, né, talvez não fosse tão… tão... dinâmico, tão rápido. Fica melhor
de assistir. E os quadros eu acho que era um pouco pra isso, pra acontecer coisa, pra
gente mudar, pra gente ir pra um lugar diferente… e o que dá mais possibilidade…
tem pouca ficção, mas tem uma ficção ali, dá mais possibilidade pra gente brincar
com o que Clara e Neto estão sentindo, né, quando a gente vai pra um quadro com
eles… Acho que amplia, né, as possibilidades, as brincadeiras, né, deixa mais… e
era pra ter humor, assim, né, a coisa da internet. Mas não foi sempre com quadro!
Começou com a entrevista, tinha alguma música, um quadro de música, mas esse
formato super rápido apareceu no roteiro mesmo. Ali que a gente entrou… tem três
páginas de entrevista, tem que ter um quadro, sabe?! Começou assim, dividindo bem
pra ir dois a três… começa a ver como a gente vai fazer.

Por que o título mudou na segunda temporada?


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A produção vacilou, porque quando você registra um título, você faz uma pesquisa
por direitos autorais, pra ver se esse título pode, se já pertence a alguém e tal… então,
a primeira temporada a gente gravou tudo, lançou, e só depois a gente ficou sabendo
que o título foi debatido, algo assim, foi questionado depois, pelo History Channel. E
aí… porque no português de Portugal fica Canal da História e aí, eles… eles… não
foi nem uma coisa direta com eles, não chega neles, sabe?! Meio jurídico… mas aí a
gente optou, achou mais fácil mudar do que, ah, sei lá, tentar conversar com eles,
sabe, foi uma coisa bem pragmática, assim…

Por que a Flora não aparece na segunda temporada?


É… foi um jeito de a gente… porque… é tudo produção, cara… a gente tinha menos
dinheiro do que na outra, então a gente teve que reduzir algumas coisas.

Não parece!
Ficou boa a segunda, né? Cresceu… foi porque a equipe foi a mesma e a gente tava
já muito azeitado, sabe, já sabia tudo e entrou uma diretora nova, a Olívia, que
também veio com pé na porta, assim, vamos embora e foi legal. Mas acho que tem a
ver com a gente ter feito a primeira, ter aprendido a fazer e aí querer fazer melhor,
mesmo com problema de dinheiro. Não é que a gente não tinha dinheiro… a gente
tinha, na verdade, o mesmo dinheiro, só que a gente pagou muito pouco para as
pessoas… ah, eu tô abrindo meu coração aqui. A gente não pagou muito pouco, mas
pagou abaixo do piso. Então, a segunda, a gente não queria pedir pra equipe fazer o
mesmo esforço, porque foi puxado… não tinha dinheiro pra filmar em estúdio e a
gente alugar uma casa meio abandonada, sei lá. Então a gente decidiu reduzir a
filmagem pra pagar as pessoas um pouco melhor, tirar alguns custos e ir direto no
que a gente achava que funcionava. São decisões que vêm da produção, mas que
acho que a gente conseguiu bem criativamente, assim, porque ficou legal. Contente
com a segunda temporada.

Existe alguma possibilidade de voltar com uma nova temporada ou acabou de


vez?
Por mim existe… eu tenho um projeto de telefilme, onde seria da Clara e o Neto de
fato voltarem no tempo. E aí a equipe de filmagem vai com eles voltar no tempo e
viver algum evento da história. Eu tinha escrito pra um edital na independência, assim,
bem comédia, meio como se fosse The Office… uma aventura que a gente vai
entrevistando eles… eu queria fazer, mas ainda não consegui.

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