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NATAL
2023
RICARDO RUBENS MORAIS NUNES
NATAL
2023
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -
CCHLA
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Janaine Sibelle Freires Aires
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Orientadora
__________________________________________
Profª. Drª. Maria Angela Pavan
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Membro interno
__________________________________________
Profª. Drª. Sandra Mara de Oliveira Souza
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Membro interno
A realização desse estudo e de todos os
outros êxitos alcançados em minha vida
só foi possível por contar com a
presença, o apoio e o amor daqueles que
às vezes chamo de meus maiores fãs,
mas que na verdade são meus maiores
ídolos. Obrigado por mais do que tudo,
Ailma e Robério, ou melhor, mainha e
painho.
AGRADECIMENTOS
À minha tia Lucy e ao meu tio Carinhos por sempre me oferecerem morada desde
que passei a viver aqui em Natal.
Aos que foram meus professores durante esses anos na UFRN, principalmente
Angela, Cida, Mirian, Ruy, Rodrigo e Carlos, os quais tive a oportunidade de conviver
e aprender para muito além do conhecimento dentro de sala de aula.
À minha orientadora Janaine, peça fundamental na edificação de todo esse trabalho
e da minha jornada na UFRN.
Àqueles que foram parceiros desde os primeiros dias da graduação, compartilhando
ânsias, frustrações e sonhos, Mariana, Livia, Emanuela, Gabriel Greiner e Gabriel
Florentino. Também a Leônidas e Max, que me acompanharam nesses últimos meses
compartilhando seus processos de seu TCC junto comigo, e a Jaime, que me auxiliou
na reta final.
À Gorete, André, Babi, Vitória, Sandra, Andressa e Álvaro, que me deram
oportunidade de levar o conhecimento teórico para a prática no mercado de trabalho
dentro e fora da universidade.
Aos amigos apresentados pela vida Marcelo, Railson e Thiago, que me acompanham
há anos e sempre me dão forças para seguir em busca dos meus sonhos.
E, claro, aos meus pais, Ailma e Robério, a quem dedico este trabalho e mais uma
vez agradeço pelo amor incondicional dado ao longo de toda minha vida.
RESUMO
This study approaches the Show da História TV show format, seeking to analise the
alternatives in how to convey educational content about brazilian history to both
television and internet at the same, maintaining the purpose of targeting a young
audience. For these means it was necessary to understand the show's substance,
what took us to decompound it through who created it, the structural elements of the
show and the differences between the two seasons aired in 2017 and 2019. All these
points were analised through the observation of the show's 52 episodes, available on
the internet, and through an interview with its co-creator, director and writer Tom
Hamburguer. We reach the end of the research comprehending that the format of the
Show da História reaches its own uniqueness in proposition for use of a combined
language between television classics and the internet present form to bring knowledge
about Brazil's formation not only by a informative way, but also suggesting questions
with the revision of historical facts and about the people who participated in every
moment to then, show how much volatile is our history.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
2 O FORMATO DO SHOW DA HISTÓRIA ......................................................................... 18
3 A TRAJETÓRIA DOS CRIADORES: CAO E TOM HAMBURGER ................................... 32
4 ELEMENTOS DO SHOW DA HISTÓRIA ......................................................................... 36
4.1 ENREDO ................................................................................................................... 36
4.2 ROTEIRO .................................................................................................................. 38
4.3 MEDIAÇÃO ............................................................................................................... 40
4.4 DIREÇÃO DE ARTE, DE FOTOGRAFIA E MONTAGEM .......................................... 41
5 ANÁLISE DAS DUAS TEMPORADAS ............................................................................. 44
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 53
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 55
APÊNDICE - ENTREVISTA COM TOM HAMBURGER ...................................................... 56
11
1 INTRODUÇÃO
decidem criar um canal para internet com intuito de expor esses encontros com
personalidades, afinal, ambos piram na história do Brasil, como diz a narração, ou
melhor, a própria máquina do tempo.
O espaço onde tudo isso acontece é o quarto de Clara, que conta com a
presença há a presença de um sofá e de uma poltrona, remetendo à ideia tradicional
do cenário de um talk show, um programa de conversas no qual um apresentador
recebe convidados para falar sobre sua vida e determinados assuntos. Exatamente
como é feito pela dupla desse programa.
No ambiente, com estantes repletas de livros e objetos, uma sirene sempre
ligada ao fundo e luminárias espalhadas, Clara e Neto mediam uma espécie de ficção
sobre a realidade. Embora a intenção seja falar da história do Brasil, o programa
segue um roteiro com estruturas determinantes de cada acontecimento interpretado
pelos atores e atrizes em cena. É assim que outra parte do elenco faz participações,
embora não estejam em todos os episódios.
Um desses exemplos é Flora, a irmã mais nova de Clara, representada por
Iara Almeida, com presença apenas na primeira temporada. A menina tem aparência
13
gótica e expressões pouco convidativas, sendo, a princípio, uma figura temida por
todos, principalmente por suas conversas ameaçadoras.
Outro exemplo é a argentina Consuelo, interpretada por Livia La Gatto, sempre
acompanhada de um sotaque misturando português e espanhol, e com presença nas
duas temporadas. Ela é prima de Clara e tem uma postura que se assemelha a de
uma professora, embora não seja anunciada como uma. Suas aparições acontecem
através de seu quadro próprio e estão sempre ligadas a momentos específicos do
contexto abordado nos episódios, se aprofundando nos assuntos ou em momentos.
O apresentador Neto também tem um próprio quadro, chamado de Neto
Explica, com função parecida ao de Consuelo. Essa intenção, por sinal, é dominante
de boa parte dos quadros do programa, que nutrem constantemente a necessidade
de detalhar, de forma rápida e direta, algum aspecto abordado ao longo do episódio.
Entre todos os quadros, podemos citar um como o mais frequente, trata-se do
História Acelerada, usado para trazer um breve apanhado do contexto do tema
abordado em questão. Diferentemente dos outros já exemplificados, esse é realizado
através do uso de técnicas de animação, acompanhado de uma narração de Clara ou
Neto explicando o assunto.
Para além dos quadros, os episódios também seguem momentos criados
especificamente para a personalidade convidada, em uma intenção de fazer essas
pessoas, dotadas de costumes de tempos passados, viverem um contato com
artifícios da atualidade. A exemplo, podemos citar um momento envolvendo Dom
Pedro I, no episódio 6 da primeira temporada, quando ele é convocado a usar um
aplicativo para smartphone, assemelhado aos de busca por relacionamentos
amorosos. Outra citação possível de ser feita é de quando essas pessoas participam
de game shows, usados frequentemente, mas com adaptações decorrentes dos
convidados e normalmente envolvendo contexto da época a qual viveram.
Para todos esses pontos andarem em conjunto, o formato do Show da História
estudado aqui surgiu a partir da mente dos criadores Tom Hamburger e Ricardo
Inhan, os quais se inspiraram em um projeto de mesmo nome feito através das mãos
de Cao Hamburger, Paulinho Caruso e Teo Poppovic. E, além de ser cocriador, ficou
também a cargo de Tom Hamburger a direção geral e os roteiros de alguns episódios.
A sua realização ocorreu através da recém-criada produtora Caos e Tons
Produções, comandada por Cao e Tom Hamburger, que são pai e filho. Cao
Hamburger, produtor do Show da História, tem feito história ao longo de sua carreira
14
Neto aparece com uma cobra de pelúcia Clara e Neto estão em uma fogueira
enrolada no pescoço, anuncia o fictícia, com marshmallow e falam sobre
02 02
convidado, mas Clara diz que na verdade os indígenas antes da chegada dos
decidiu chamar outra pessoa. portugueses.
Neto lê para Clara parte de um livro que
Clara e Neto fazem uma saudação a
03 03 tem falas de um negociador de pessoas
Palmares.
escravizadas.
Clara e Neto discutem sobre quem faz a Neto está com um guarda-sol, anunciando
melhor ilustração de Tiradentes, mas como um vendedor de praia, e Clara
04 04
Flora portando uma aparece e eles a mostra um quadro do que seria uma
escolhem. praia.
Clara e Neto falam sobre quem pode ser
05 essa ser a primeira convidada mulher do 05 A máquina do tempo entrando em ação.
programa.
Neto está empenhado em receber o
A máquina do tempo faz uma
06 convidado à altura e discute com Clara, 06
apresentação sobre Neto e Clara.
que não concorda com esse empenho.
Clara está com um vestido do século XIX
Narrador fala sobre a situação do Brasil
e tenta escrever uma carta com uma
07 no século XIX, enquanto Clara e Neto 07
pena, mas é interrompida por Neto e os
encenam.
dois falam sobre a convidada.
Neto quer assumir o lugar de Clara para Neto e Clara tentam preparar um
08 chamar o convidado, para isso, a dupla 08 chimarrão vendo uma receita pelo
disputa um jogo e ele perde. computador.
Flora celebra o casamento de amizade
Neto e Clara tentam ler textos árabes
09 entre Clara e Neto, a dupla aperta o botão 09
escritos em papéis antigos.
do fax juntos.
Pequenas falas de cada um dos Clara e Neto anunciam o tema do
10 10
convidados anteriores. episódio como vendedores.
Encenação de Clara como Marianne,
símbolo da república francesa, e Neto A máquina do tempo entrando em
11 11
como um rei sem cabeça; com funcionamento.
participação do narrador.
Neto está fazendo selfies e Clara faz Neto está fazendo um discurso, se
12 provocações sobre quem ele estaria 12 preparando para o convidado, mas Clara
interessado. o interrompe.
Clara e Neto cantam o Hino da
Neto tenta encenar uma performance,
13 Proclamação com uma câmera na mão e 13
mas Clara o corrige.
fazem questionamentos sobre a letra.
Como em um protesto, com cartaz e Enquanto confeccionam um chapéu de
megafone, Neto reivindica o direito de couro com estrelas, Clara e Neto falam
14 14
usar o controle e acaba convencendo sobre convocar a banda Os Fita K7 para
Clara, mas ele não sabe quem convidar. introduzir a convidada, mas não dá certo.
Clara publica um meme de expectativa e
Clara diz a Neto sobre como será o
15 realidade com foto de Neto, ele não gosta 15
episódio e ele se anima.
e a dupla fala sobre fake news.
16 Clara e Neto analisam cartazes dos 16 A máquina do tempo parece não
23
assumir as frentes das câmeras com uma rápida biografia contada pela narração da
máquina do tempo, interpretada por Cássio Inácio, que junto aos dois protagonistas,
formam as três presenças contínuas em todos os episódios da série.
Quando está junto aos apresentadores, a personalidade é utilizada como
gatilho para um desencadeamento de assuntos contundentes da história do Brasil,
tendo um enfoque preciso na época a qual viveu. Para essa narrativa ser contada de
forma clara, a condução do programa acontece através de quadros com um propósito
comum, apesar de se diferenciar nas suas maneiras de exposição. Sobre isso, Tom
Hamburger (2023, on-line) declarou em entrevista usar essa alternativa “para ser
dinâmico, para não parar de acontecer coisa, para gente ficar envolvido”.
Em busca dessa velocidade, os quadros se dividem em inspirações em
junções de possibilidades da internet, de clássicos programas televisivos, de memes
e até de situações comuns do dia a dia. Ficcionalmente dentro do espectro da série,
essas alternativas para além da entrevista acontecem quando Clara e Neto sentem a
necessidade de um aprofundamento maior no assunto comentado em certos
momentos, com ela acionando o controle para a máquina do tempo promover a
exibição, sendo sempre acompanhado por sua vinheta correspondente.
Dessa forma, a argentina Consuelo, encenada por Livia La Gatto, é uma mulher adulta
e aparece em seu próprio quadro, chamado de Argentina Consuelo, O Lado B da
História do Brasil, na primeira temporada, e só Consuelo, na segunda temporada.
Fonte: Printscreen, quadro Argentina Consuelo, O Lado B da História do Brasil, Episódio 12,
Temporada 01 - Disponível em <https://youtu.be/EDOFk8PdGNI> Acessado em 16/06/2023.
programa, não se repete em todos os episódios, mas neste caso, podemos considerar
sua frequência parecida com a do Neto Explica ou História Acelerada.
Isso faz Os Fita K7 ser um marco para quem assiste a segunda temporada,
pois, além de suas constantes aparições, o grupo faz paródias de músicas de
sucesso, inserindo-as dentro do contexto histórico representado no episódio em
questão. Para formar essa banda, além de Livia La Gatto, Letícia Fagnani e Felipe
Frazão, atriz e ator de Clara e Neto, também entram como parceiros musicais para
compor a cena tocando instrumentos, dançando e até cantando.
TEMPORADA 01 TEMPORADA 02
19 Era Vargas
26 Making of
Fonte: Episódios do Show da História - Disponíveis em
<https://www.youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq46AWUKK4TsO7u--eUM19XS e
https://youtube.com/playlist?list=PLNM2T4DNzmq6udmrJrmH9GDibOu54StUL> Acessado
em 16/06/2023.
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Para ter um embasamento maior em nossa pesquisa, foi preciso voltar atrás e
ter conhecimento de quem trouxe o programa à tona, sendo assim, procuramos nos
aprofundar nas trajetórias de Cao Hamburger e Tom Hamburger. O primeiro é parte
fundamental desse estudo, pois criou o formato original e tem em sua carreira grandes
contribuições em torno da linguagem de produções para televisão. Já o segundo, é
quem deu vida ao formato analisado aqui e tem construído uma carreira de grande
relevância para realização de conteúdos na TV e no streaming.
Ao tomar frente do projeto como diretor geral e cocriador, Tom Hamburger se
inspirou em um outro de mesmo título, desenvolvido por seu pai, junto a Paulinho
Caruso e Teo Poppovic. Tal inspiração é nitidamente esclarecida quando o programa
é assistido, afinal, através dos temas abordados, dos quadros desenvolvidos, dos
condutores das ações, do visual e do próprio formato, é possível notar semelhanças
a identidade de outras obras desenvolvidas por Cao Hamburger e sua equipe desde
os anos 1990.
Foi nessa última década do século XXI que Cao Hamburger estreou com
programas na televisão e construiu uma carreira marcante e de forte influência em
formatos ao misturar o entretenimento com a riqueza de conteúdos. Até o início dos
anos 2000, o criador colecionava sucessos como a série Castelo Rá-Tim-Bum (1994),
que contou com um longa-metragem baseado em sua história também com direção
do mesmo, e o programa Disney Club (1997).
Após conquistar forte apelo com o público infanto-juvenil, Hamburger passou
por um amadurecimento de temas abordados, fazendo parte do grupo de diretores do
seriado Cidade dos Homens (2004) e mais tarde realizando um novo longa-
metragem, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). Na década de 2010,
ele volta para o cinema com mais um filme, Xingu (2011), dessa vez falando sobre os
irmãos Villas-Bôas na Expedição Roncador-Xingu, durante os anos 1940.
Ainda entre as décadas de 2000 e 2010, Cao Hamburger voltou a produzir
séries voltadas para o público mais jovem, como a adaptação para TV de Um Menino
Muito Maluquinho (2006), Pedro & Bianca (2012) e Que Monstro te Mordeu? (2014).
Com resultados bem-sucedidos, foi possível ser reforçado seu fascino pela produção
audiovisual, o que também lhe rendeu uma série, intitulada No Estranho Planeta dos
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direta, proporcionada da maneira como era possível nos meados dos anos 2000.
Apesar de já inovador naquela época, o projeto não se tornou real, mas ficou
guardado ao longo desses anos.
Quando finalmente aconteceu, já em 2017, o formato foi repaginado. A ideia
de Ricardo Inhan e Tom Hamburger foi criar um vlog com dois adolescentes
conduzindo conversas através da influência de suas linguagens, usando memes e
piadas comuns no âmbito da internet (HAMBURGER, 2023, on-line). Dessa forma,
manteve-se no programa as mesmas intenções de promover o estudo sobre a história
do Brasil de uma maneira que normalmente não é contada.
Ao assistir ao Show da História, é possível perceber como as novidades
apresentadas se mostraram necessárias, afinal, os jovens de agora não são mais os
mesmos e a forma de se comunicar também já havia passado por grandes
transformações. E todas essas mudanças fazem parte da intenção do próprio
programa de mostrar como a vida segue um constante movimento, com histórias
revistas, recontadas, repensadas e questionadas.
Para a produção do programa acontecer, a Caos & Tons Produções foi criada
em 2017, contendo pai e filho como sócios-administradores. Anteriormente, Cao
Hamburger realizava suas obras, desde as televisivas até as cinematográficas, por
intermédio da Caos Produções, fundada ainda nos anos 1990, que tinha em sua
essência exatamente a intenção de abranger uma diversidade de formatos, mas
sempre mantendo a ideia de produções com alta qualidade técnica.
4.1 ENREDO
também resultante da criação do programa, que é ter em suas posses uma máquina
do tempo.
4.2 ROTEIRO
Podemos considerar, até então, essa parte como a única fixa dentro do formato
do roteiro do O Show da História. É essa exibição inicial, recorrente da
contextualização, acompanhada da abertura e da introdução da personalidade, que
compõe a grande maioria dos episódios. No decorrer, acompanhamos o programa
com quadros e interações entre Clara, Neto e o convidado, no entanto, já não há a
presença das mesmas situações, uma escolha visando dar dinâmica para a série,
mesclando o bate-papo, conforme Tom Hamburguer destaca no trecho abaixo:
4.3 MEDIAÇÃO
acontece em meio a entrevistas, com esses móveis sendo substituídos por um sofá e
uma poltrona, dando o sentido ideal de um talk show.
por HAMBURGER (2023, on-line), quando ele diz que “filmou 26 episódios de uma
vez, só que a gente quebrou isso em dois, como se fossem duas (temporadas)”.
Já ao final da primeira temporada, foi exibido o Grande Prêmio do Canal da
História, um momento onde Clara e Neto novamente revisitaram os episódios
anteriores, mas sem a intenção didática direta de estudá-los detalhadamente outra
vez. A ideia agora era celebrar o programa, fazendo uma premiação dos melhores
momentos exibidos. Após isso, o último episódio finalizou a temporada com a exibição
dos bastidores da produção, sendo esse uma especial fonte de pesquisa para
entendimento do trabalho de cada setor dentro do Canal da História.
Quando partimos para a segunda temporada, observamos a ideia de episódios
especiais fortalecida e posta de uma maneira diferente. No segundo ano, não houve
mais uma revisão no meio dos 26 episódios ou uma premiação, agora os momentos
de revisitação aconteceram de acordo com os assuntos abordados.
Para tudo isso decorrer, foi preciso dividir a temporada em Brasil Colônia,
Império, República Velha, Era Vargas e Ditadura Militar, existindo ainda mais um
episódio adicional sobre revisão, sendo esse focado somente sobre a história da
população negra brasileira. E, para fechar a temporada novamente, um especial
sobre os bastidores mostrou como tudo aconteceu a produção e, principalmente, as
diferenças entre este ano e o anterior.
Ainda sobre os episódios especiais da segunda temporada, notamos como
esses estavam distribuídos seguindo a cronologia da história. Dessa forma, os
episódios começaram falando sobre os primeiros habitantes do Brasil, seguindo com
a chegada dos portugueses e indo até a escravidão, tendo esse arco fechado com o
episódio sobre o Brasil Colônia. Seguindo o ritmo, Clara e Neto receberam a
Imperatriz Leopoldina, Anita Garibaldi e Dandará, finalizando esse momento com o
episódio sobre o Império.
Para continuar em ordem, os convidados agora foram dois militares, uma
artista e uma militante que viveram a virada do século XIX para o XX, marcando a
República Velha. Entrando em um Brasil mais profundo e percorrendo seu interior, o
Show da História falou principalmente sobre os movimentos políticos substitutos da
era anterior, abordando a Era Vargas. A temporada vai chegando próximo do seu fim
mostrando como o movimento opressor dos militares destruíram vidas e impediram a
liberdade de muita gente ao longo dos 20 anos da Ditadura Militar. O final acontece
quando Clara e Neto falam sobre a perspectiva de pessoas negras na história
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Esse efeito foi ao ar, quando pudemos acompanhar novos pontos de vistas à
nomes já demasiadamente conhecidos. A exemplo, a Imperatriz Leopoldina,
repetidamente tratada e resumida a uma mulher traída e de vida infeliz em terras
brasileiras. No entanto, ao recebê-la como convidada nesta temporada, Clara e Neto
descobriram o quão pouco é falado sobre ela no decorrer de nossa história. A dupla
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tons azuis em um modo futurista, Show agora vem acompanhado de cinza espelhado
e brilhante, reluzindo as luzes intergalácticos das viagens no tempo. Essas mudanças
no grafismo se espalham em outros detalhes, como quando a cada início de episódio
Clara e Neto têm seus nomes exibidos na parte de baixo do vídeo. Na primeira
temporada, permeia-se a ideia de um triângulo em neon emoldurando os nomes,
enquanto na segunda, os nomes de cada um surgem através de uma animação em
stop motion, a técnica de animação escolha para ser usada nas vinhetas dos variados
quadros do programa.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 REFERÊNCIAS
MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2000.
Realizada em 11/06/2023
Eu queria saber mais sobre o primeiro formato, porque eu dei uma pesquisada,
mas não encontrava nada. A única coisa que encontrei foi essa sua entrevista.
Mas, então, ele tinha a mesma essência, né?! Entrevistas, máquina do tempo,
personagens históricos…
Sim. E de humor e de tratar com… é… o que a gente colocou era bem isso, né?! Na
época não era tanto… ainda tava chegando essa… não sei muito como falar, mas
você vai entender. Tipo, a gente não tava tão, acho que em 2008, 2009, não tinha
chegado tão forte essa onda da gente falar das pessoas que foram apagadas da
história, que não tinha chegado na televisão ainda, né?! Isso em 2009. Então, quando
a gente começou a adaptar e já tava com isso na cabeça. Já foi pra esse caminho
mais rápido, assim.. contar com personagens…
10 anos atrás a gente não pensava tanto nesses personagens que estavam à
margem da história, mas que eram tão importantes quanto quem protagonizou,
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Então veio como desafio a internet. Ela veio através do Futura ou foi de você e
do Ricardo?
Foi minha e do Ricardo, a gente que pensou muito rápido, na primeira reunião a gente
já teve essa ideia.
Acho que esse foi o grande estalo pra essa nova versão, né? Repensar o Show
da História.
Foi, foi super. Possibilitou… foi justamente encontrar esse formato que possibilitou a
gente produzir que, é… do ponto de vista da produção a gente consegue… porque
só tem um cenário, né, dois protagonistas, tem a irmãzinha… mas o que acontece é
que a gente consegue filmar muito episódio, a gente consegue filmar um episódio por
dia. Porque ele é simples e ágil, né, então, nesse cenário a gente fez de um jeito que
a gente podia… tem lá o set principal, do formato de entrevista, claro, né, que ia o
entrevistado… mas a gente podia ir pra aquela parede e faz um quadro ali. E foi isso
que possibilitou a produção e fazer tantos episódios.
Eles foram muito bons e muito inteligentes porque eles entendiam muito rápido o que
estavam lendo, o que estavam falando.
Dá pra perceber que eles são muito espontâneos. Eles tinham muita liberdade
para improvisar na hora?
Muito, muito. Era bem divertido, assim… é… porque a gente escrevia o texto e às
vezes não cabe na boca e como foi tudo muito rápido, a produção e também os
roteiros, então às vezes chegava o texto com erro de pontuação, faltava vírgula, então
às vezes tinha… a frase tava muito grande, sabe?! Não tinha… acho que é um pouco
normal, um tempinho pra revisar. Então a gente sentava e falava “isso tá ruim, isso tá
ruim, vamos lá, como você vai falar isso”. Eles trouxeram muito, assim, se divertiam
fazendo. Era bem… porque a gente tinha uma pesquisa da produtora, um
pesquisador da produtora, e o Canal Futura tinha um pesquisador que revisava tudo,
né, desde os roteiros até os episódios editados, né. Então tinha essa parte de passar
a história do Brasil de uma forma consistente, né, então a gente fez pesquisa, tinha
um texto certo pra dar, né, uma… dados, informações e opiniões muito bem
pensadas, assim, né. Tinha uma coisa por trás, então tinha essa coisa de fazer o texto
certo, mas a gente podia sempre… mas se a gente mantém o sentido, fala a mesma
coisa só que de outro jeito, tudo bem, né?! Se tem uma piada ali que aparece, que é
legal e pode… então vamo nessa. Às vezes a gente gravava, vamos garantir o texto,
e aí brincava em cima. Mas foi muito… foi bem junto. Eu gosto de trabalhar assim,
porque trás muito o ator pra dentro, sabe, ele podendo participar e criar e tal… no
geral, assim, com a equipe também. Eles ficaram livres… dentro das limitações.
que a gente consegue economizar. Assim, esse é o ponto de vista de produção, mas
na série funciona também criativamente, porque a gente tem um episódio que amarra
tudo, depois um grande prêmio… eu acho que é um pouco juntar uma necessidade
de produção com estabelecer uma dinâmica. Então é um jeito de conseguir entregar
26 episódios, pra conseguir caber no tempo.
Mas aí tinham os episódios especiais, né, que eram sobre cada era da nossa
história…
Sim, tinham. Fica divertido, né?! Foi uma boa sacada.
Na minha visão sobre o programa, eu achei ele muito com essa cara da
transmídia, juntando a televisão e a internet. É um programa feito para internet,
mas que é para televisão.
Sim, total, que mistura a linguagem do talk show, da entrevista, da televisão, com
aquela coisa da televisão.
A produção vacilou, porque quando você registra um título, você faz uma pesquisa
por direitos autorais, pra ver se esse título pode, se já pertence a alguém e tal… então,
a primeira temporada a gente gravou tudo, lançou, e só depois a gente ficou sabendo
que o título foi debatido, algo assim, foi questionado depois, pelo History Channel. E
aí… porque no português de Portugal fica Canal da História e aí, eles… eles… não
foi nem uma coisa direta com eles, não chega neles, sabe?! Meio jurídico… mas aí a
gente optou, achou mais fácil mudar do que, ah, sei lá, tentar conversar com eles,
sabe, foi uma coisa bem pragmática, assim…
Não parece!
Ficou boa a segunda, né? Cresceu… foi porque a equipe foi a mesma e a gente tava
já muito azeitado, sabe, já sabia tudo e entrou uma diretora nova, a Olívia, que
também veio com pé na porta, assim, vamos embora e foi legal. Mas acho que tem a
ver com a gente ter feito a primeira, ter aprendido a fazer e aí querer fazer melhor,
mesmo com problema de dinheiro. Não é que a gente não tinha dinheiro… a gente
tinha, na verdade, o mesmo dinheiro, só que a gente pagou muito pouco para as
pessoas… ah, eu tô abrindo meu coração aqui. A gente não pagou muito pouco, mas
pagou abaixo do piso. Então, a segunda, a gente não queria pedir pra equipe fazer o
mesmo esforço, porque foi puxado… não tinha dinheiro pra filmar em estúdio e a
gente alugar uma casa meio abandonada, sei lá. Então a gente decidiu reduzir a
filmagem pra pagar as pessoas um pouco melhor, tirar alguns custos e ir direto no
que a gente achava que funcionava. São decisões que vêm da produção, mas que
acho que a gente conseguiu bem criativamente, assim, porque ficou legal. Contente
com a segunda temporada.