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NATAL- RN
2022
KAREN BEATRIZ OLIVEIRA CRUZ
NATAL-
RN2022
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema
de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Aprovado em / / 2022
BANCA EXAMINADORA
Agradeço, primeiramente, a Deus e aos meus guias espirituais, por estarem sempre
comigo e terem me dado a sabedoria necessária para enfrentar meusmaiores desafios.
Agradeço à minha família por me incentivar e me apoiar na busca pelos meus
objetivos.
Agradeço a Igor Tinoco por ter me ouvido com paciência, sempre me apoiando e
ajudando nesse processo.
Agradeço à minha orientadora Ana Karoline de Souza, por ter me ajudado e
orientado da melhor forma possível e não ter me deixado desistir quando achei que não
conseguiria.
Agradeço ao grupo PET, direito à cidade, que foi fundamental nesse processo de
formação acadêmica e pessoal.
A todas as minhas amigas e parceiras a quem tive o prazer de compartilhar os
maiores medos e aflições, obrigada por tudo.
Por fim, sou imensamente grata, a mim, pela minha força e determinação, que não
me deixaram desistir, apenas continuar, sem parar.
“Todas as vitórias ocultam uma abdicação”. (Simone deBeauvoir)
RESUMO
The general objective of this research is to analyze the deepening of poverty and
social inequality from the 2016 coup to the COVID-19 pandemic, so that the assumption that
guides this research is based on the premise that the advance of neoliberalism with the coup of
2016, acted as a direct determinant for the return of the growth of poverty and social
inequality in Brazilian society. With that, the advance of the conservative right after the coup
represented an offensive for the working class and for the social policies of law, which was
completely threatened in the face of the cuts and reforms carried out by the neoliberal State.
Thus, in order to achieve the proposed objectives, this research was based on historical-
dialectical materialism, with a quantitative and qualitative approach based on a
bibliographical and documental survey. For the analysis of the object in question, data from
Oxfam Brazil, the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), the Institute of
Applied Economic Research (IPEA) and others were used. In addition, the use of secondary
sources, such as scientific articles from SciELO; subjects and reports, coming from CNN
Brasil, BBC News Brasil and G1; and scientific journals from temporalis and boitempo
editorial also for the basis of the study.
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 11
ELEMENTOS PARA A COMPREENSÃO DA POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL:
NEOLIBERALISMO, GOVERNO LULA E A CRISE DE 2008 ........................................................ 14
A emergência neoliberal no cenário brasileiro ...................................................................................... 18
A consumação do golpe de 2016 e seus rebatimentos na sociedade brasileira ...................................... 23
1 AS IMPLICAÇÕES DO PROJETO NEOLIBERAL NOS GOVERNOS TEMER E
BOLSONARO....................................................................................................................................... 28
1.1 O desemprego e seus rebatimentos nos índices de pobreza e desigualdade social ........................ 30
1.2 O Projeto Bolsonarista e sua devastadora política neoliberal ........................................................ 34
1.3 A pandemia do covid-19 como vetor de aprofundamento da crise................................................ 38
2 POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL: CATEGORIAS EM ANÁLISE .............................. 44
2.1 As diferentes concepções teóricas da pobreza e da desigualdade social........................................ 47
2.2 determinantes socioeconômicos da pobreza no Brasil................................................................... 51
2.3 Estratégias de enfrentamento a pobreza e a desigualdade social ................................................... 54
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 58
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 60
11
INTRODUÇÃO
1
Teoria criada por Adam Smith, que defendia a não intervenção do Estado na economia, uma vez que o
mercado teria a capacidade de se autorregular pelas leis da concorrência e da oferta e da procura. (SMITH,
2017)
2
A teoria Keynesiana, foi formulada por John Keynes, a partir do seu livro “Teoria Geral do Emprego, do
Juro e da Moeda”, publicado em 1936, ganhando legitimidade após a grande depressão de 1929. Seus
principais ideais eram: uma maior intervenção do Estado na economia, uma política de pleno emprego e um
Estado de bem estar social. (KEYNES, 2017)
3
O Estado de bem estar Social é um modelo de organização pautado na intervenção do Estado na economia,
regulando os salários e os direitos dos trabalhadores, por meio de uma política de amparo social. (KEYNES,
2017)
4
O modelo fordista se baseia no modo produção em massa, criado por Henry Ford, em 1914.
(CLARK,1991)
5
Modelo de produção pautado na fabricação por demanda, em que se busca eliminar o desperdício e evitar a
acumulação de mercadorias. (CLARK, 1991).
15
denominada por Netto, como crise sistêmica do capital, isso porque as repercussõesdessa
crise, apresentou particularidades específicas no novo mundo globalizado,
Assim, o autor aponta que a crise de 1970 é uma crise de natureza sistêmica, assim
como as ocorridas em 1873, que durou 23 anos, e a de 1929, que resultou numa profunda
depressão por mais de 15 anos. Embora as crises tenham distintos detonadores, as
consequências recaem, sobretudo, sobre os mais pobres, que sofrem com o aumento do
desemprego, da pobreza e da desigualdade social.
Nessa lógica, a crise global dos anos 1970 pode ser considerada, portanto, o pontapé
inicial para uma série de transformações no mundo, ela sinalizou o refluxo das conquistas
sociais, com o fim do Estado de bem estar social e suas políticas de proteção, segurança e
amparo, pois para o neoliberalismo os movimentos sociais e, sobretudo, os sindicatos haviam
“corroído as bases de acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os
salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos
sociais” (ANDERSON,1995, p.1).
Sobre essa afirmativa as bases para implementação do neoliberalismo estavam dadas,
a conjuntura econômica do capitalismo exigia transformações na organização do Estado e na
condução da economia que pudesse garantir a recuperação das taxas de lucro e buscasse
diminuir os impactos da crise.
Nessa perspectiva, o fundamento central da política neoliberal está alicerçado na
teoria do livre mercado e uma concepção de Estado mínimo, isto é, um Estado não
intervencionista voltado para o equilíbrio da sua receita e do controle dos gastos públicos,
sobretudo, na área social. Para isso era necessário “manter um Estado forte, sim, em sua
capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos
os gastos sociais e nas intervenções econômicas” (ANDERSON,1995, p.1)
Logo, a reconfiguração no papel do Estado se tornou um objetivo necessário para a
legitimação do modelo neoliberal, pois era preciso um respaldo político e jurídico para a
implementação dos objetivos que se pretendiam alcançar. Segundo
17
Anderson (1995), as medidas estavam assentadas na contenção máxima dos gastos sociais, por
parte do Estado, realizações de reformas fiscais, redução de impostos sobre os rendimentos
mais altos e da elevação das taxas de juros.
Os mecanismos utilizados pela lógica capitalista com o intuito de acelerar o processo
de retomada econômica, se tornam cada vez mais sofisticados a cada novo ciclo, de modo
que o neoliberalismo está, como aponta Netto (2012), alicerçado sobre um novo e deletério
tripé de transformações ameaçadoras, que se concretizam com a legitimação do Estado
burguês.
A primeira, se baseia na flexibilização das relações de trabalho e na crescente
precarização das condições da classe trabalhadora, com a retirada de incontáveis direitos. A
Segunda, por uma agenda de privatizações, que entrega importantes patrimônios públicos nas
mãos do mercado financeiro. E terceira, pela desregulamentação das relações comerciais,
tendo a globalização, como fenômeno, que intensificou ainda mais o processo de integração
entre as nações dando ao capital financeiro ainda mais poder e liberdade para concentrar e
centralizar mais capital.
O papel do Estado frente a esse contexto de mudanças torna-se ainda mais claro
dentro dos moldes do modelo neoliberal, de modo que não resta dúvida das suas reais
atribuições. O que a ideologia neoliberal busca tornar verdade no âmbito das relações
societárias é que o poder público deva se limitar a garantir apenas os mínimos sociais, isto é,
prestar assistência aos pobres dos mais pobres.
A retórica da doutrina neoliberal [...] advoga que cabe ao Estado garantir os direitos
básicos dos indivíduos, a liberdade de ação dos agentes econômicos e o
fornecimento de bens públicos e serviços estatais necessários à manutenção da
ordem, tais como defesa, segurança, justiça e serviços sociais. Para além destas
funções, o Estado extrapolaria suas funções vitais, cerceando o livre
desenvolvimento dos mercados e das iniciativas privadas, supostamente
prejudicando a produção de riquezas e o bem-estar gera (CASTELO, 2013, p.221).
Sobre essa ótica, a doutrina neoliberal passa a ser incorporada e seus princípios
adotados em diversos países. Nas economias de capitalismo central, o primeiro governo a se
inspirar nos princípios do neoliberalismo dos países centrais foi o de Margaret Thatcher na
Inglaterra, em 1979. A primeira-ministra do Reino Unido, conhecida também como “Dama de
Ferro”, surpreendeu pela radicalidade das medidas implementadas durante o período que
esteve no poder. A partir disso
18
outros países passaram a romper com socialdemocracia e realizar um pacto com o projeto
burguês em curso, com destaque para Ronald Reagan (1980) nos Estados Unidos e Helmut
Kohl (1982), na Alemanha. Nos países de capitalismo periférico, o neoliberalismo foi
implantado primeiro no Chile, com o governo autoritário do ditador Augusto Pinochet, em
1973, e seguiu, com Menem na Argentina, Fujimori no Peru e Salinas no México.
6
Questão social é o conjunto das expressões que definem a desigualdade social, como a pobreza,violência,
desemprego, desigualdade de gênero e raça e etc. Elas são resultado da contradição entre proletariado e
burguesia e da constituição da sociedade de classes a partir do capitalismo. (IAMAMOTO, 2008)
7
O Consenso de Washington é um conjunto de medidas elaboradas a partir de uma reunião formada por
instituições financeiras e economistas no ano de 1989, com intuito de criar estratégias contra a crise
econômica de 1970. (BATISTA, 1994).
20
Logo, o governo Lula avançou na tentativa de realizar uma conciliação entre capital e
trabalho, isto é, estabelecendo aliança com os setores da burguesia e criando uma rede de
proteção social capaz de reduzir os índices de pobreza e extrema pobreza. O “Programa Fome
Zero” do Governo Federal, que buscava garantir segurança alimentar contribuiu, em conjunto
com as outras políticas, para que o Brasil saísse do Mapa da Fome, em 2014, segundo o
relatório da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU).
Portanto, o contexto de crescimento econômico se deu, sobretudo, por uma
conjuntura internacional favorável, que permitiu a ampliação das ofertas de emprego e
possibilitou o aumento da renda da população mais pobre, como afirma Cobo (2012). Além
disso, a autora ainda coloca que o aumento do salário mínimo acima dos índices inflacionários
e o aumento da oferta dos PTR contribuíram significativamente para redução da pobreza e
desigualdade social.
um programa de curto prazo esse demonstrou ter alcançado seu objetivo, como épossível
observar de acordo com os dados abaixo.
Embora, o governo Lula tenha buscado equalizar o fosso entre as classes sociais no
Brasil e de diminuir os impactos da desigualdade social, por meio das políticas de distribuição
de renda e de outras ações de combate à extrema pobreza e as desigualdades de gênero e raça
é conveniente considerar, que a política reformista de Lula não foi capaz de romper de fato
com a modelo hegemônico neoliberal, mas na verdade deu continuidade de forma mais sutil,
as reformas liberais,
Prova disso foi a postura adotada pelo governo brasileiro após mais uma crise cíclica
da capital. A crise de 2008, iniciou nos Estados Unidos e abalou o mercado financeiro de todo
o mundo, em virtude de uma especulação imobiliária ocasionada pela oferta excessiva de
crédito. O mercado imobiliário dos EUA entrou em colapso quando houve um aumento
abusivo nos preços dos imóveis e os cidadãos americanos não foram capazes de arcar com
os custos da elevação da taxa de juros. A bolha imobiliária estourou em 15 de setembro de
2008, com a quebra de um dos bancos mais tradicionais do país, o banco Lehman Brothers,
fundado em 1950. Logo,
Essa instabilidade do mercado internacional deu vazão para que vários países
restringissem a oferta de crédito, diminuindo, portanto, o poder de investimento das empresas.
Com isso, as ações da bolsa de valores despencaram, gerando a desvalorização dos títulos de
crédito e gerando um colapso no sistema financeiro. O crack de 2008 implicou sérios
rebatimentos para a economia global e a crise financeira iniciada nos Estados Unidos
repercutiu em todo o mundo.
Assim, para conter o avanço da crise, foi necessário a implementação de políticas de
proteção, não para a sociedade que sofria com o aumento da inflação e do desemprego, mas
sim para o capital, que tinha seu fluxo de acumulação ameaçado, com isso
A resposta dos países dominantes a essa crise foi a estatização das dívidas para
salvar os bancos e seus executivos, assim como a ênfase em políticas neoliberais e o
reforço na financeirização da economia, ampliando as críticas e os combates contra
as políticas universais e o Welfare State. (TEIXEIRA, 2018, p.12).
Neste capítulo iremos discorrer sobre o golpe de 2016 e dos fatores que repercutiram
no avanço do neoliberalismo na sociedade de classes. De acordo com Braga (2016), o golpe
contra Dilma, em 2016, pode ser localizado dentro de um amplo contexto de derrocada
democrática, em quase toda a América Latina, com a destituição de uma série de presidentes
da esquerda. Segundo o autor, essa nova
24
estratégia denominada, como prática do golpe legal utilizado em vários países, como meio de
recuperação do poder oligárquico tradicional fez com que a retomada do neoliberalismo se
demonstrasse ainda mais radical e impiedosa.
No Brasil, o realinhamento de posturas compatíveis com a hegemonia neoliberal se
tornou necessária a partir do aprofundamento da crise internacional, de 2008 e com a
percepção dos seus efeitos a partir de 2011. De certo modo, a exigência de um neoliberalismo
puro e cru pressionou o modelo neodesenvolvimentista dos governos do PT, de modo que
vale destacar que as forças golpistas derrubaram o governo não pelo que Dilma
Rousseff concedeu aos setores populares, mas por aquilo que ela não foi capaz de
entregar aos empresários: um ajuste fiscal ainda mais radical, que exigiria alterar a
Constituição Federal, uma reforma previdenciária regressiva e o fim da proteção
trabalhista. (BRAGA, 2016, p.53).
Três acontecimentos maiores são responsáveis pela caminhada até aqui vitoriosa da
grande ofensiva neoliberal restauradora. Primeiro, o ingresso da alta classe média
como força social ativa e militante no processo político, por intermédio das grandes
manifestações de rua. Segundo, [...]a gradativa deserção da grande burguesia interna
da frente neodesenvolvimentista. Ao longo do ano de 2015, diversas associações
empresariais que apoiavam os governos do PT foram, segundo levantamento que
estamos realizando, passando para o campo neoliberal ortodoxo. [...] Terceiro, o
recuo passivo do governo Dilma diante da ofensiva restauradora. (SINGER, 2016,
p.27).
8
As jornadas de junho de 2013 se constituíram, como uma onda de mobilizações ocorridas em uma série de
cidades brasileiras. Inicialmente, as mobilizações tinham como pauta a luta contra o aumento da tarifa dos
transportes públicos, mas posteriormente evoluiu para uma insatisfação com a classe política brasileira, que
culminou na radicalização da direita e foi determinante para a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.
ODILLA, FERNANDA. 5 anos depois, o que aconteceu com as reivindicações dos protestos quepararam o
Brasil em junho de 2013?. BBC NEWS, 2018. Disponível em:
29
político, não representou os novos ideais defendidos pelas frações de classe, incluindo a
“classe média” 9 brasileira, na verdade caminhou na contramão daquilo que se buscou
alcançar com a saída de Dilma.
O segundo fator, é que a cadeira da presidência tenha sido ocupada por um
representante político disposto a retomar uma agenda neoliberal, que atacava direitos
historicamente conquistados. Assim, Temer e seu partido, encontraram no golpe de 2016 a
oportunidade perfeita para implementar uma destrutiva política neoliberal e cumprir, sem
questionamentos, as exigências impostas pelo capital financeiro, logo,
Temer usa a rejeição dos brasileiros à política para implementar uma agenda que
jamais passaria pelo crivo das urnas e que nem o PSDB teve coragem de expor em
seu programa de governo. É como se as medidas de austeridade, que envolvem
cortes em programas sociais e a desvinculação constitucional de gastos mínimos
com saúde e educação, estivessem acima da política, como o mal necessário da tal
“ponte para o futuro” (SINGER, 2016, p.39)
“o governo reajusta as despesas de forma rasa, com redução das despesas sociais, por ser este
o setor mais maleável para cortes de gastos públicos, tornando ainda piores e precários os
serviços prestados pelo governo a população” (NUNES, 2019, p.3).
Somado a isso, a aprovação das reformas trabalhistas e previdenciária, atuaram como
determinantes para a precarização das condições de trabalho e, consequentemente, da vida dos
trabalhadores. Além de terem trazido consequências imensuráveis para o mundo do trabalho,
com o processo de intensificação da exploração e com o aprofundamento do desemprego
estrutural. Exemplo disso, é a Lei Nº 13.429/2017, conhecida como Lei da Terceirização, que
contribuiu para a flexibilização dos contratos de trabalho temporários e representou o fim da
estabilidade e da ascensão salarial.
10
SIMÃO, Edna; PUPO, Fábio. Reforma trabalhista vai gerar 6 milhões de empregos, diz
Meirelles.valor.globo,2017.Disponível em
https://valor.globo.com/politica/noticia/2017/10/30/reforma-trabalhista-vai-gerar-6-milhoes-de-
emprego s-diz-meirelles.ghtml . Acessado:19/11/2022
11
BIANCHINI, Lia. Após dois anos do golpe, Temer deixa um Brasil destroçado. Brasil de Fato,2018.
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/12/28/apos-dois-anos-do-golpe-temer-deixa- um-
brasil-destrocad o. Acessado:10 de set.2022
31
12
SILVEIRA, Daniel. Crise levou 4,5 milhões a mais à extrema pobreza e fez desigualdade atingir nível
recorde no Brasil, diz IBGE, 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/11/06/crise-levou-45-milhoes-a-mais-a-extrema- pobreza-e -
fez-desigualdade-atingir-nivel-recorde-no-brasil-diz-ibge.ghtml Acessado: 12/11/2022
32
13
De acordo com Castro (2019), o ultra neoliberalismo é uma espécie de fase superior do neoliberalismo, em
que as medidas implementadas são ainda mais radicais em virtude da intensificação das crises do
capitalismo, que se apresentam de forma cada vez mais permanente e continuada.
CASTRO, del pedro. Pedro. Ultraliberalismo, fase superior do neoliberalismo.Fundação Perseu
Abramo,2019. Disponível em: https://fpabramo.org.br/2019/02/07/ultraliberalismo-fase-superior-do-
neoliberalismo/. Acessado: 20 de set.2022
14
MUNIZ, Marize. Com Temer, pobreza cresce e atinge mais de 54 milhões de pessoas, diz IBGE. Central
Única dos Trabalhadores, 2018. Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/com-temer-pobreza-cresce-
e-atinge-mais-de-54-milhoes-de-pessoas-diz-ibge-cd46
34
15
BRASIL.Planalto,Gov.br.Disponível em:https://www.gov.br/planalto/pt-br/conheca-a-
presidencia/biografia-do-presidente. Acessado: 19 de nov de 2022.
35
Assim, o aprofundamento da crise econômica sucedeu, numa crise política, que deu
vazão para a ascensão do bolsonarismo enquanto fenômeno político de forte ofensiva
neofacista apoiado, sobretudo, pelo movimento das massas, como aponta Boito (2020, p.8)
Com isso, a imagem vendida por Bolsonaro nas eleições de 2018, como candidato
patriota e preocupado em defender os interesses da família, fez com que esse se tornasse uma
figura popular, em que por meio da propagação de discursos de ódio direcionado às minorias,
conquistasse não apenas a atenção da grande burguesia, mas despertou também a
representatividade de grupos tradicionais, conservadores e fundamentalistas, assim, [...] quem,
fez, de fato, a diferença a favor de Bolsonaro em números absolutos foram os evangélicos.
(ALMEIDA, 2019, p.22).
O presidente eleito, logo, se encarregou de formar uma equipe composta, sobretudo,
por militares, em que o processo de militarização dos ministérios do governo expôs os limites
da capacidade técnica de gestão das forças armadas, de modo que, “calcula-se que nove mil
oficiais das Forças Armadas ocupam cargos de primeiro e de segundo escalão no Governo
Bolsonaro” (BOITO, 2020, p.3).
Portanto, a tentativa de Bolsonaro de centralizar o poder a partir da homogeneização
de grupos historicamente favorecidos evidencia uma crise da democracia Brasileira. Os
militares passam, portanto, a ganhar protagonismo em importantes instâncias do poder, com a
crise do sistema político e com o levante de ideais conservadores, com exemplo do lema
positivista “ordem e progresso".
Desse modo, com sua equipe formada o presidente avançou com o projeto neoliberal
e passou a editar uma série de Medidas Provisórias (MPs), que impactaram diretamente sobre
as leis que regem o trabalho e que contribuíram ainda mais para o aprofundamento do
desemprego. Entre elas, como aponta Rocha (2020), estão a MP 870/19, que extingue o
Ministério do Trabalho e que resulta no
36
16
ROCHA, Rosely. Bolsonaro apresenta 7 MPs de retirada de direitos em um ano de governo.
Central única do Trabalhadores, 2020. Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/bolsonaro-
apresenta-7-mps-de-retirada-de-direitos-em-um-ano-de-gov erno-6c84 . Acessado: 25 set.2022.
37
17
FERNANDES, Daniela. 4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo,
segundo relatório, 2021. BBC News Brasil, 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
59557761#:~:text=Os%2050%25%20mais%20pobres%20ganham,10%25%20mais%20ricos%20n
o%20Brasil.
38
18
SENRA, Ricardo. Como o mesmo Brasil que alimenta 1 bilhão ultrapassou 10 milhões de famintos 'dentro de
casa'?. BBC NEWS, 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
54288952#:~:text=Diferentemente%20do%20que%20o%20pr
esidente,da%20China%20e%20dos%20EUA https://adufs.org.br/conteudo/1883/coronavirus-e-a-crise-do-
capital-entrevista-com-virginia-fontes. Acessado: 01 de out.2022
19
SCHROEDER, Lucas.INOUE, Giovanna. Insegurança alimentar grave afeta 15,4 milhões de brasileiros.
CNN, Brasil,2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/inseguranca- alimentar-grave-
afeta-154-milhoes-de-
brasileiros/#:~:text=O%20relat%C3%B3rio%20tamb%C3%A9m%20aponta%20que,pessoas%20(1
8%2C3%25). Acesso em: 30 de set de 2022
39
saúde, mas representou também repercussões na esfera social, política, econômica, cultural e
ambiental. Assim, a pandemia do coronavírus evidenciou uma crise que já estava em curso
em todo mundo, isto é, a crise do capital, que se aprofundou ainda mais nesse contexto.
Desse modo, no dia 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS),
declarou uma pandemia global, provocada por uma nova variante do coronavírus (SARS-
CoV-2). A doença, se trata de uma infecção respiratória aguda e os primeiros registros
ocorreram na cidade de Wuhan, na China. O vírus foi considerado pela OMS, como uma
emergência de saúde pública internacional em decorrência do seu elevado nível de
transmissibilidade e letalidade. O primeiro caso confirmado do novo coronavírus foi
registrado no Brasil em 26 de fevereiro de 2020 e a partir disso a exigência de novas medidas
de segurança sanitária precisaram ser tomadas para controlar o número de mortes.
O colapso da saúde pública exigiu, portanto, a adoção de medidas capazes de frear o
avanço do coronavírus, entre as recomendações da OMS, esteve o protocolo do lockdown,
estratégia utilizada por muitos países com objetivo de desacelerar a propagação da doença. O
lockdown é o bloqueio absoluto e obrigatório da circulação de pessoas em espaços públicos e
do funcionamento do comércio e serviço.
Apesar de se tratar de uma medida mais radical, do que o isolamento e a quarentena,
por exemplo, no Brasil, o decreto de Lockdown ficou sobre competência dos Estados e
municípios, cabendo a eles a responsabilidade de aplicar a medida restritiva. Embora, as
recomendações dos organismos internacionais fossem de manter o distanciamento social e o
uso obrigatório de máscaras. Durante a pandemia, Bolsonaro não só contrariou as
recomendações de isolamento social, como também incentivou a realização de manifestações
contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Além disso, o presidente discursava tanto nas ruas, como nas redes sociais sobre a
ineficácia das medidas e criticou em diversas ocasiões o uso de máscara, de modo que a
“pandemia da Covid-19 não desmobilizou os grupos de extrema direita. Eram donos das ruas
e Bolsonaro discursava para seus apoiadores de modo cada vez mais ameaçador.” (BOITO,
2020, p.19).
Bolsonaro e seus seguidores não se sensibilizaram com o aumento do número de
mortes e foram em diversas ocasiões protestar contra as medidas de
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segurança sanitária, que tinham como objetivo a defesa e preservação da vida de milhares de
pessoas. Enquanto o mundo trabalhava em busca de respostas, o Brasil se destacou
negativamente no contexto internacional como mostra relatório publicado pela Oxfam (2021).
O país caminhou, portanto, na contramão das recomendações internacionais e a postura do
governo federal frente a pandemia se confirmou por meio das seguintes condutas:
Estima-se que cerca de 120 mil mortes ocorridas no primeiro ano da pandemia (de
março de 2020 a março de 2021) poderiam ter sido evitadasse o Brasil tivesse
adotado medidas preventivas como distanciamento sociale restrições a
aglomerações. Como nada foi feito, verificou-se 305 mil mortes acima do esperado
no período. (OXFAM,2021, s/p)
Após intensa pressão política, foi criado um auxílio emergencial para trabalhadores
informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados no valor de
R$ 600,00, salvo no caso de mulher responsável por prover financeiramente a casa,
que faz jus ao valor de R$ 1.200,00 (DUTRA; LIMA, 2020)
Isso porque segundo economistas entrevistados pela BBC News20, a ausência de renda
poderia não só aprofundar a situação de pobreza nos primeiros meses da pandemia, mas
também poderia aumentar o risco de mortes e a possibilidade de uma recuperação econômica
mais rápida no futuro.
Nesse sentido, essa mesma gestão que resistiu em conceder amparo social em meio a
uma calamidade pública e defendeu a manutenção da classe trabalhadora nas ruas, foi a
mesma que não hesitou em aprovar um orçamento de guerra (EC 106/2020), que permitia a
flexibilização de regras fiscais, administrativas e financeira, conferindo ao Banco central
privilégios nunca antes vistos. Além disso, as medidas provisórias lançadas pelo governo,
referente às regras e condições de trabalho no período pandêmico foram responsáveis por
arrastar ainda mais brasileiros para o desemprego.
Entre as medidas econômicas podemos citar a Medida Provisória n. 936/2020
(convertida na Lei n. 14.020/2020), que dava liberdade para o empregador reduzir a jornada
de trabalho e/ou salário, ou ainda suspender temporariamente os contratos de trabalho. Bem
como,
Renovou uma série de medidas que poderiam ser adotadas pelos empregadores
durante a pandemia, já vistas na MP 927: teletrabalho, antecipação de férias
individuais, concessão de férias coletivas, aproveitamento e antecipação de feriados
(inclusive religiosos), banco de horas, suspensão de exigências administrativas em
segurança e saúde no trabalho e diferimento do recolhimento do FGTS
(DUTRA,2022, p.14, APUD, BRASIL, 2021b).
20
GUIMARÃES, LIGIA.Governo acerta na direção, mas atraso nas medidas contra coronavírus aumenta
riscos, dizem economistas,2020. BBC News. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
52130314. Acessado: 20 nov. 2022.
43
21
BOITEMPO,TV .Crise do coronavírus ou crise do capitalismo?. YouTube,2020. Disponível em:Crise do
coronavírus ou crise do capitalismo? | VIRGÍNIA FONTES . Acesso em: 15 out.2022
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Então, como aponta Netto (2001), é por meio da lei geral da acumulação capitalista
que podemos compreender a essência da questão social, inclusive da pobreza, pois as
respostas para o acirramento das desigualdades estão no processo de desenvolvimento das
forças produtivas. Comecemos, então, dizendo, que o capitalismo se reproduz via
acumulação, concentração e centralização23 de riqueza e que “vender suas mercadorias e
reconverta em capital a maior parte do dinheiro assim obtido. Em seguida, pressupõe-se que o
capital percorra seu processo de circulação de modo normal” (MARX, 2013, p. 779).
Isso corresponde dizer, que na medida que o capital investe em mercadoria, ele
espera alcançar um valor superior ao que foi investido, ou seja, a essência do
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Segundo Marx, trabalho excedente ou mais- trabalho é aquele em que o trabalhador trabalha alémdos limites
do trabalho necessário (trabalho necessário: tempo de trabalho necessário para garantir apenas os meios de
sobrevivência dos que vendem sua força de trabalho, os assalariados). Logo, é por meio do trabalho
excedente que se gera valor e dinheiro para os possuidores dos meios de produção. (MARTINS, 2013).
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De acordo com Netto & Braz, a acumulação de capital está relacionada ao processo de obtenção de mais-valia,
por meio da exploração do trabalho, sendo denominado como o objetivo primeiro do capitalismo. A
concentração de capital por sua vez está associada à capacidade dos capitalistas acumularem massas de
capital cada vez maiores . E a centralização representa a fusão do capital, isto é, da união de capitais já
existentes. (NETTO; BRAZ, 2021).
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capitalismo é a perseguição ao lucro, como aponta Netto e Braz (2021, p.127) “o capitalismo
visa, com a produção de mercadorias, à mais valia e seu objetivo permanente é obtê-la em
proporções cada vez maiores [...] importa assinalar, antes de mais, que a acumulação de
capital depende da exploração da força de trabalho.”
Nessa lógica, a dinâmica de exploração e expropriação do trabalho só é possível a
partir da existência da geração de excedente, de modo que “à força de trabalho não pode ser
descartada, pois é fonte de valor”. (SIQUEIRA; ALVES,2018, p.8). A exploração do trabalho
é, portanto, a fonte de onde jorra a riqueza dos detentores dos meios produtivos, mas ela é
também a mesma que produz níveis cada vez mais elevados de pobreza, pois como aponta
ainda Siqueira e Alves, o valor total da riqueza produzida pelo trabalhador é apropriado em
níveis cada vez mais elevados pelos capitalistas.
Conclui-se, então, que a lógica desse sistema se nutre via exploração da força de
trabalho tendo como, aponta Martins (2013), a garantia do salário como mercadoria de troca
para a manutenção e sobrevivência da classe trabalhadora dentro da sua condição de classe
assalariada, isto é, de proletariado.
Sabe-se que desde os primórdios do capitalismo a exploração de uma classe sobre a
outra se constitui como a base de reprodução desse sistema, pois na medida que a burguesia se
consolidava e ganhava hegemonia, por meio da produção constante e incessante de mais
valia24, os trabalhadores lutavam por melhores condições de trabalho, de salário e de vida.
Nesse sentido, no MPC a pobreza é resultado da acumulação privada de capital e esse
fato não pode ser analisado separadamente do avanço das forças produtivas. Isso porque não
se pode compreender a pobreza como um fenômeno novo criado pelo capitalismo, mas seu
avanço na sociedade de classe admite novos contornos de modo que “[...] nas sociedades pré-
capitalistas a pobreza era resultado da escassez de produção e não haviam forças produtivas
suficientemente desenvolvidas para produzir os bens necessários de forma excedente”
(MORAIS; RUFINO, 2019. p.3).
Então, isso significa dizer que o capitalismo produz um novo tipo de pobreza,
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Teoria da Mais-valia ou mais-valor foi um termo criado por Karl Marx, para explicar a diferença entre o
salário pago ao trabalhador e o valor total produzido pelo trabalho deste, de modo que quanto maior a
riqueza socialmente produzida, via exploração do trabalho, maior é a capacidade de extração e apropriação
dessa mais-valia. Portanto, é da exploração da mais-valia, que provéma capacidade de reprodução do
sistema capitalista. (MARX,2015)
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pois se nas sociedades pré-capitalista ela era resultado da incapacidade produtiva do sistema
econômico, na ordem vigente o movimento é justamente o oposto, na medida que se acumula
riqueza e se aumenta a capacidade produtiva, maior é a pobreza gerada a partir disso, “Assim,
a pobreza não é um aspecto residual, transitório do capitalismo, é estrutural e resultado do seu
próprio desenvolvimento. O capitalismo gera acumulação, por um lado, e pobreza por outro;
jamais eliminaria nem um nem outro.” (SIQUEIRA; ALVES, 2018, p.8).
Como dito, a pobreza no capitalismo não é um fenômeno natural, mas uma condição
necessária à sua reprodução. Segundo Yazbek (2012), a pobreza pode ser compreendida como
uma manifestação da questão social, sendo ela apenas uma das expressões desse conjunto de
desigualdades, que se produz na sociedade de classes. Essa pobreza se apresenta em níveis
mais ou menos elevados a depender da constituição do capitalismo em determinado país.
Então, em países de capitalismo periférico a pobreza assume uma forma ainda mais
perversa, pois o desenvolvimento tardio das forças produtivas, foi capaz de gerar uma espécie
de economia dependente, subordinada aos interesses das economias de capitalismo central,
que determinam e controlam as regras do mercado mundial e se beneficiam historicamente da
riqueza produzida por países deeconomia de base primária.
Nessa lógica, os países da América Latina são comumente marcados por um
histórico de exploração e expropriação das suas riquezas, são nesses países que estão
concentrados o maior número de empresas multinacionais e transnacionais, que se instalam
com o objetivo de explorar mão de obra barata e de conseguir incentivos e benefícios dos
governos locais. Com todas as facilidades oferecidas pelas economias dependentes, as
multinacionais, além de reduzirem os custos do processo produtivo, acabam por levar de volta
a seus países de origem uma margem de lucro muito superior do que se essas mesmas
empresas estivessem instaladas em seus países.
Desse modo, podemos entender a pobreza como parte constitutiva do capitalismo e a
desigualdade social como processo que gera diferenças segregativas entre as classes sociais.
O que cabe ressaltar é que pobreza e desigualdade, apesar de estarem inter-relacionadas não
são a mesma coisa, pois
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Nessa lógica, os níveis de desigualdade social de um país podem ter relação direta
com os índices de pobreza, haja vista que a depender do quadro de deficiências a qual certos
grupos estão inseridos, como a desigualdade de renda, gênero e raça, elas podem vir a gerar
privações e carências, de modo que “quanto mais desigual for uma sociedade, menor êxito
terá na redução da pobreza, enfrentará menor crescimento econômico e maior chance de
instabilidade política”. (QUINZANI, 2020. p.2).
Esse cenário de pobreza e desigualdade social, marca a formação sócio histórica de
vários países da América Latina, de modo ainda mais expressivo, inclusive do Brasil. Como
veremos adiante o entendimento da pobreza como fenômeno proveniente das expressões da
questão social sofre com o capitalismo diversas interpretações e direcionamentos dificultando
ainda mais a eliminação da extrema pobreza e a minimização dos impactos da desigualdade
social.
Nessa lógica, o que se observa a partir disso é que a concepção teórica de abordagem
liberal/ neoliberal possui um direcionamento político burguês, em que se busca garantir a
proteção à propriedade privada para que os detentores dos meios produtivos possam explorar
com ainda mais liberdade a força de trabalho geradora de suas riquezas. Na mesma direção,
exigem também um Estado subserviente, isto é, um Estado burguês, que possa atuar como
extensão dos seus interesses dentro da máquina pública.
É preciso ter, portanto, clareza de que a compreensão da pobreza sobre o espectro do
conservadorismo atua como uma ferramenta ideológica poderosa, isso porque o pensamento
hegemônico burguês influencia na forma como a sociedade passa a conceber os fenômenos da
realidade. A definição da pobreza sobre uma perspectiva conservadora se subscreve em
“Análises ortodoxas que definem como pobreza uma pessoa que dispõe de renda insuficiente
para efetuar os investimentos em capital humano necessários a uma inserção normal nos
equipamentos coletivos'' (SILVA, 2010, p.43).
O reducionismo, que perpassa a análise da pobreza a partir dos indicadores de renda
e consumo, colocam em evidência uma questão: "estes indicadores de pobreza e indigência
não consideram as causas da pobreza, nem a relação
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Logo, a visão da burguesia em relação aos mais pobres está alicerçada na teoria do
darwinismo social25, isto é, a ideia que prega que os pobres se encontram em situação de
pobreza, pois não foram capazes de evoluir o suficiente, por isso, necessitam na benemerência
dos mais ricos, de modo que “tem-se o enfrentamento da pobreza pela ação voluntária e
solidária da sociedade civil” (SIQUEIRA, 2016, p.180) Assim, a caridade e a filantropia
passam a ocupar grande importância na sociedade capitalista, pois essas ações se
complementam com a pífia intervenção estatal.
Na contramão da perspectiva conservadora, o segundo eixo de análise a qual se
pretende discutir é o debate da pobreza sobre o enfoque estrutural, isto é, a partir de uma
perspectiva crítica, que busca compreender os determinantes centrais dessa categoria e da
totalidade da dinâmica social, por meio dos elementos históricos que perpassam a vida social.
De acordo com Siqueira (2016) a compreensão da pobreza no Marxismo não pode
ser analisada separadamente das determinações históricas que fundam a sociedade capitalista.
Isso porque como já dito o capitalismo gesta uma nova
25
Darwinismo social, é o fenômeno que trata a pobreza como uma condição natural e inevitável. Esta
concepção entende a pobreza como resultado de uma seleção natural, em que os mais fortes sobressaem e
superam a situação de pobreza. (SIQUEIRA, 2016)
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Logo, a concepção da pobreza no método crítico dialético exige uma leitura profunda
dos fenômenos sociais, isto é, para que se compreenda a pobreza em sua essência é preciso
uma análise crítica, que identifique as determinações históricas, que atravessam sua
existência, assim, “A investigação marxista caracteriza-se, assim, por não deixar enganar por
aspectos e semelhanças superficiais presentes
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O desenvolvimento das forças produtivas fez nascer com o capitalismo duas classes
antagônicas, o proletariado e a burguesia. O proletariado, que vende sua força de trabalho
passou a sentir os efeitos negativos dessa dinâmica e se organizou com o objetivo de lutar
pelos seus direitos, isto é, de alcançar melhores condições de vida. Foi nesse processo, de luta
de classe, que se observou o surgimento das primeiras iniciativas com o intuito de minimizar
os impactos do agravamento da pobreza.
A partir disso começaram a surgir legislações e estatutos que se assemelhavam a um
modelo de assistencialismo, com o intuito de remediar as mazelas produzidas pelo MPC e
frear o avanço das greves e revoltas produzidas pelo avanço da luta de classes. Na verdade,
essas medidas se constituíram como uma forma de controlar e diminuir o impacto das ondas
grevistas produzidas pela classe trabalhadora, que afetam diretamente o processo de
acumulação capitalista. A Lei dos pobres, de 1834, ficou conhecida em toda Europa, pela
rigidez dos seus critérios, ela era direcionada a pessoas em condição de extrema
vulnerabilidade social e tinha um caráter extremamente punitivo, pois
de classes, fazendo com que essa disputa ficasse cada vez mais acirrada. A ofensiva do
conservadorismo levou o movimento o operário a se organizar e “A mobilização e a
organização da classe trabalhadora foram determinantes para a mudança da natureza do
Estado liberal no final do século XIX e início do século XX” (BEHRING, 2017, p.64).
Nesse sentido, a partir do reconhecimento da questão social, pelo o Estado é que se
observa o avanço das políticas sociais. A primeira expressão desse movimento se deu a partir
da implementação do modelo bismarckiano, que se orientava pela lógica do seguro social,
criado na Alemanha, em 1883.
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BRASIL. Ministério da cidadania.Gov.br,2019. Disponível em: https://www.gov.br/cidadania/pt-
br/acoes-e-programas/assistencia-social Acesso em: 11 nov. 2022.
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Ainda de acordo com o Governo Federal (2019), a assistência social oferece apoio a
indivíduos, famílias e à comunidade no enfrentamento de suas dificuldades, por meio de
serviços, benefícios, programas e projetos. Apesar da abrangência da política de assistência
ser muito mais ampla, do que a oferta de benefícios de transferência de renda, esses se
constituem como um importante instrumento no alívio da pobreza.
Embora se constituam como um avanço no campo da política de assistência e no
acesso ao direito, sua oferta tem se tornado cada vez mais centralizada e focalizada a grupos
em condição de extrema pobreza. Assim, os PTR assumem, portanto, dupla função a primeira
de garantir condições mínimas de sobrevivência aos grupos mais vulnerabilizados, e a
segunda, de servir como um mecanismo funcional a reprodução do capitalismo a partir da
concessão de renda e da possibilidade de acessar bens de consumo
Fonte: OXFAM
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Fonte: Economia G1
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
estudado (2016-2020), e repercutiu na vida dos brasileiros mais pobres, com sua deletéria
política alinhada aos interesses da burguesia.
No entanto, cabe ressaltar que esse trabalho não esgotou as possibilidades de análise
e de estudo mais elaborados da temática, haja vista que os recentes acontecimentos no cenário
econômico, social e político colocam em evidência a necessidade do aprofundamento dessa
discussão.
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REFERÊNCIAS
BRAGA,Ruy. O fim do Lulismo. In: SINGER, André et al. Por que gritamos golpe? para
entender o impeachment e a crise política no Brasil. Boitempo Editorial, 2016.
BRASIL,CasaCivil,Gov.br,2014. https://www.gov.br/casacivil/pt-
br/assuntos/noticias/2014/setembro/relatorio-indica-que-brasil-saiu-do mapa-
mundial-da-fome-em-2014 .Acessado: 02 de set.2022
CAVALCANTI, Bernardo Margulies; VENERIO, Carlos Magno Spricigo. Uma ponte para
o futuro? Reflexões sobre a plataforma política do governo Temer. Revista de Informação
Legislativa, v. 54, n. 215, p. 139-162, 2017.
GOMES, Claudia Maria Costa; DE SOUZA, Ana Karolina Nogueira; DA SILVA GIAMBIAGI,
Fabio; VILLELA, André Arruda. Economia brasileira contemporânea.Elsevier Brasil, 2005.
KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. SaraivaEducação SA,
2017.
LOWY,Michael.Da tragédia à farsa: o golpe de 2016 no Brasil. In: SINGER, André et al. Por
que gritamos golpe? para entender o impeachment e a crise política no Brasil.Boitempo
Editorial, 2016.
MARTINS, Ives Gandra da Silva; NASCIMENTO, Carlos Valder do. O Capital: Críticada
Economia Política, livro I: O processo de produção do capital. Boitempo Editorial, 2013.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2547757/mod_resource/content/1/MARX%2
C%20Karl.%20O %20Capital.%20vol%20I.%20Boitempo..pdf. Acesso: 30 de set.2022.
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica.Cortez
Editora, 2021.
SINGER, André et al. Por que gritamos golpe? para entender o impeachment e acrise
política no Brasil. Boitempo Editorial, 2016.
TEIXEIRA, Carmen Fontes de Souza; PAIM, Jairnilson Silva. A crise mundial de 2008 e o
golpe do capital na política de saúde no Brasil. Saúde em Debate, v. 42, p.11-21, 2018.