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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

MÁRCIA VALÉRIA D’ ALMEIDA SOUZA

IMPACTOS DO ESTIGMA E DO PRECONCEITO NA SAÚDE: UMA ANÁLISE A


PARTIR DO PROGRAMA MUNICIPAL IST/AIDS DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES/RJ

Campos dos Goytacazes - RJ


2019
MÁRCIA VALÉRIA D’ ALMEIDA SOUZA

IMPACTOS DO ESTIGMA E DO PRECONCEITO NA SAÚDE: UMA ANÁLISE A


PARTIR DO PROGRAMA MUNICIPAL IST/AIDS DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES/RJ

Trabalho Final de Curso apresentado ao


Departamento de Serviço Social de Campos
dos Goytacazes, do Instituto de Ciências da
Sociedade e Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Prof. Ms. Maria Clélia Pinto Coelho

Campos dos Goytacazes – RJ


2019
MÁRCIA VALÉRIA D’ ALMEIDA SOUZA

IMPACTOS DO ESTIGMA E DO PRECONCEITO NA SAÚDE: UMA ANÁLISE A


PARTIR DO PROGRAMA MUNICIPAL IST/AIDS DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES/RJ

Trabalho Final de Curso apresentado ao


Departamento de Serviço Social de Campos
dos Goytacazes, do Instituto de Ciências da
Sociedade e Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social.

Aprovado em ____ de __________ de _______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________
Prof. Ms. Maria Clélia Pinto Coelho – Orientador (a)
UFF – Universidade Federal Fluminense

__________________________________________________________________
Prof. Ms. Juliana Viana Ford
Doutoranda em Serviço Social pela UNESP - Universidade Estadual Paulista

__________________________________________________________________
Assistente Social Ms. Maria Helena Barros Barbosa
PMCG – SMS - Programa Municipal IST/AIDS de Campos
Dedico este trabalho a Deus e a minha família.

Sem vocês não chegaria ao término deste trabalho!


AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus pela força e coragem, sem ti nada tenho, nada
sou, em ti posso todas as coisas. Até aqui me ajudou, ó senhor! Quero agradecer meu esposo
Rômulo pela paciência, amor, cuidado, carinho, zelo e compreensão, em todos os momentos
dessa jornada.
A minha amada e querida filha Letícia, amiga de sempre que me incentivou e sempre
cooperou com meus estudos. Sempre me motivando com palavras de sabedoria e, nos
momentos de desânimo, ela estava sempre ali, dizendo, vai, você é capaz, você vai conseguir,
Deus é contigo! A meu pai que mesmo longe sempre estava bem perto e contribuindo direta e
indiretamente nessa conquista.
Agradeço a todos da minha Família.
Agradeço a toda equipe do Programa Municipal IST/AIDS e Hepatites Virais em
Campos dos Goytacazes, em especial, a minha supervisora de campo, Maria Helena, amiga e
um exemplo de profissional, que me deu a oportunidade e me auxiliou no meu
amadurecimento profissional. As Assistentes sociais Clícia e Claudinha, pela cooperação nos
momentos que me foi necessário, com total dedicação.
A todas/os professores da UFF, em especial, às minhas orientadoras Maria Clélia e
Juliana Ford que estiveram comigo, nesta caminhada de constantes lutas e desafios. Vocês
fazem parte dessa vitória, me ajudaram a superar os desafios e fazer dos obstáculos degraus
rumo à conquista.
Agradecimento as minhas amigas de fé, irmãs que cooperaram, diretamente e
indiretamente, com palavras de perseverança, nessa trajetória acadêmica. E, um
agradecimento mais que especial a você, “Angélica Lisboa” que me fez ver que desistir não
era a opção correta. Ainda que a distância nos separe, estamos cada vez mais juntas. É ao lado
dos verdadeiros amigos que vale a pena celebrar os momentos mais que especiais.
Às amigas de turma, agradeço a todas, principalmente a vocês, Lívia, Marlene e
Crislaine. Vocês ficaram para sempre na minha vida, perto ou longe, sempre estarão comigo.
Por fim, agradeço a todos que fizeram parte desse sonho, foram muitas as
dificuldades, mas também, muitas conquistas e vitórias. Agradeço a Banca Examinadora!
Aqui está toda a minha gratidão, a todos vocês!
O impossível
É pra quem não tem um sonho
E não crê que pela fé tudo é capaz
Inalcançável
É pra quem não tem o dom
De transformar desejos em pontes
pra chegar

Diga pra vida eu sou mais eu


Diga pro alvo aí vou eu
Flecha veloz nas mãos de Deus
Vá em frente o mundo é seu. [...]

Jamily Oliveira Sampaio


(A Fé Faz O Herói - 2007)
RESUMO

Este estudo, ora descrito, aborda os impactos do estigma e do preconceito na vida das pessoas
que vivem com HIV/AIDS, em Campos dos Goytacazes. O objetivo do estudo teve como
ponto de partida a análise do estigma e do preconceito, como uns dos determinantes sociais da
saúde, que nos permitiu compreendê-los para além dos aspectos biológicos.
Metodologicamente, optou-se pela pesquisa exploratória de base bibliográfica e documental,
através do acesso aos prontuários dos pacientes em tratamento no CDIP, bem como, de
referências teóricas que versam sobre o assunto em questão e diário de campo produzidos no
período de estágio curricular em Serviço Social. Neste estudo, verifica-se que a sociedade
vem reproduzindo, desde os primórdios da epidemia, até os dias atuais, atitudes hostis e
negativas acerca das pessoas vivendo com HIV. Reproduzir algo sem informação qualificada
tem fomentado, cada vez mais, o preconceito. Sendo assim, o desconhecimento das
informações corretas gera mitos, que aumentam ainda mais o processo discriminatório em
relação a população infectada. Constatamos que cabe aos Assistentes Sociais, como
profissionais da saúde, a responsabilidade de refletir, através de uma leitura crítica da
realidade, a necessidade de proteção social e o direito dos acometidos pelo vírus, promovendo
atividades articuladas às políticas sociais que fomente a inclusão social para essa população
estigmatizada. Devido aos sofrimentos e impactos causados pela revelação do diagnóstico do
HIV e, atitudes preconceituosas, na vida cotidiana dos mesmos, o Serviço Social atua nesses
espaços sócio ocupacionais, empreendendo ações diferenciadas, que possibilite a autoestima,
bem como, o resgate acerca dos direitos humanos, fortalecendo a compreensão destes sujeitos,
como cidadãos de direitos.

Palavras-Chave: HIV/AIDS, Determinantes Sociais, Estigma, Preconceito, Serviço


Social.
ABSTRACT

This study, described here, addresses the impacts of stigma and prejudice on the lives of
people living with HIV/AIDS in Campos dos Goytacazes. The aim of the study had as its
starting point the analysis of stigma and prejudice, as some of the social determinants of
health, which allowed us to understand them beyond biological aspects. Methodologically, we
opted for exploratory research of bibliographic and documentary basis, through access to the
medical records of patients undergoing treatment in the CDIP, as well as theoretical
references that deal with the subject in question and articles produced during the curricular
internship period in Social Work. In this study, it is verified that society has been reproducing,
from the beginning of the epidemic, to the present day, hostile and negative attitudes about
people living with HIV. Reproducing something without qualified information has
increasingly fostered prejudice. Thus, the lack of knowledge of the correct information
generates myths, which further increase the discriminatory process in relation to the infected
population. We note that it is up to social workers, as health professionals, the responsibility
to reflect, through a critical reading of reality, the need for social protection and the right of
those affected by the virus, promoting activities articulated to social policies that foster social
inclusion for this stigmatized population. Due to the sufferings and impacts caused by the
revelation of the diagnosis of HIV and, prejudiced attitudes, in their daily lives, Social Service
operates in these socio-occupational spaces, undertaking differentiated actions, which enables
self-esteem, as well as the rescue about human rights, strengthening the inclusion of these
subjects, as citizens of rights.

Keywords: HIV/AIDS, Social Determinants, Stigma, Prejudice, Social Work.


LISTA DE SIGLAS

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida


BPC - Benefício de Prestação Continuada
CDIP - Centro de Doença Infecciosas e Parasitárias
CNDSS - Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde
CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento
DSS - Determinantes Sociais da Saúde
HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana
OMS - Organização Mundial da Saúde
PVHIV – Pessoas que vivem com HIV
SAE – Serviço de Assistência Especializada
SUS - Sistema Único de Saúde
UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: Taxas de detecção de AIDS, AIDS em menores de cinco anos, infecção pelo
HIV em gestantes, coeficiente de mortalidade por AIDS e número de casos de HIV (BRASIL,
2007 A 2017).

GRÁFICO 2: Resultado da busca ativa de adolescentes em abandono de tratamento no CDIP


(2018)
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Taxa de detecção de AIDS e percentual de declínio ou incremento, segundo UF


de residência, por ano de diagnóstico (BRASIL, 2007/2017).

FIGURA 2: Mandala da Prevenção Combinada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017)

FIGURA 3: Determinantes Sociais da Saúde (MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD)


LISTA DE TABELA

TABELA 1: Distribuição proporcional dos casos de AIDS, identificados de 1980 até junho de
2018 (BRASIL, 1980-2018).
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................13

1. ESTIGMA E PRECONCEITO ENFRENTADOS POR PESSOAS QUE VIVEM


COM O VÍRUS HIV EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ.........................................17

1.1. HIV/AIDS no Brasil: avanços e desafios........................................................................18

1.2. Determinantes Sociais de Saúde – DSS e os impactos do estigma e do preconceito


nas pessoas que vivem com HIV: uma análise a partir do Programa Municipal
IST/AIDS e Hepatites Virais de Campos dos Goytacazes/RJ.............................................36

2. SERVIÇO SOCIAL E O ENFRENTAMENTO DO ESTIGMA E DO


PRECONCEITO CONTRA PESSOAS QUE VIVEM COM HIV....................................55

2.1. O Serviço Social na saúde e as especificidades do atendimento às pessoas que vivem


com HIV, no CDIP de Campos dos Goytacazes/RJ ............................................................58

2.2. Educação em saúde: estratégia para enfrentar os impactos do estigma e do


preconceito sobre o HIV.........................................................................................................64

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................74
13

INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico, intitulado “IMPACTOS DO ESTIGMA E DO


PRECONCEITO NA SAÚDE: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PROGRAMA
MUNICIPAL IST/AIDS DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ”, surgiu a partir das
inquietações produzidas durante o período de estágio curricular obrigatório em Serviço
Social, realizado no Programa Municipal IST/AIDS, no período de agosto de 2017 a
dezembro de 2018. Neste percurso, observarmos os embates e a difícil luta das pessoas que
vivem com HIV, atendidas na instituição, no enfrentamento do preconceito.
Diante das demandas apresentadas no cotidiano dos atendimentos, constatamos a
extrema importância de uma análise mais aprofundada acerca do preconceito e do estigma
enfrentados por essas pessoas. Pode-se observar que o estigma e o preconceito relatados
nos atendimentos realizados pelo Serviço Social no programa é um fator determinante para
a continuidade ou não do tratamento antirretroviral.
Desta forma, é crucial refletirmos a partir das experiências no campo de estágio,
bem como, dos relatos dos usuários na instituição, sobre a má aderência ao tratamento ou a
sua recusa, pelas pessoas soropositivas, muitas vezes, diretamente relacionadas ao
preconceito e ao estigma.
O presente estudo torna-se relevante no que tange à necessidade de trabalhar os
prejuízos no que se refere ao isolamento causado pelo estigma e preconceito, que os
sujeitos acometidos pelo HIV/AIDS vivenciam em seu cotidiano, os quais refletem na
adesão ao tratamento e na garantia da cidadania por essas pessoas. É observável que a falta
de debates acerca do tema proposto, vem reforçando os estigmas e os preconceitos,
dificultando o tratamento e cooperando para maior adoecimento das pessoas infectadas pelo
HIV. Para tanto, é necessário conhecer a questão, para podermos enfrentá-la, articulando
ações de prevenção contra os possíveis agravos causados por diversas dimensões, no que
tange os aspectos físico, social e psicológico desses indivíduos.
O Assistente Social atua respondendo a diversas demandas dos usuários dos
serviços no campo da saúde. Nessa lógica, o trabalho pretende identificar e compreender o
exercício profissional na área da saúde, tendo como orientação o Projeto Ético Político e os
parâmetros da atuação profissional do Assistente Social no atendimento ao público em
questão.
14

Sob essa ótica, é necessário pensar nas redes de apoio que cooperam, bem como, a
importância das políticas sociais no enfrentamento dos determinantes sociais da saúde,
especialmente, das pessoas soropositivas, tendo visto que a sorologia positiva tem sido
pensada como um fenômeno social que requer uma compreensão mais profunda, não
apenas para resolver as demandas apresentadas no cotidiano pelos indivíduos, mas,
pensando na responsabilidade dos governantes na implementação de políticas de
enfrentamento e combate à toda forma de injustiça social que se abarca no processo de
exclusão na vida dessas pessoas.
Diante desse processo de dor, medo, discriminação, preconceito, estigma e
isolamento social - que foram claramente observados no período de estágio curricular
obrigatório, realizado na instituição supracitada -, se estabelecem as intervenções dos
profissionais. Para tanto, cabe a discentes e profissionais, a responsabilidade de refletirmos
a questão, através de uma leitura crítica sobre a realidade, sobre a necessidade/demanda
social e sobre direitos das pessoas que vivem com HIV, articulando políticas sociais que
fomentem a cidadania da população estigmatizada pelos sofrimentos causados a partir dos
impactos do HIV na vida cotidiana.
A proposta metodológica para a construção deste trabalho monográfico consiste em
um trabalho fundamentado no método em Marx onde se entende que o indivíduo
transforma o mundo e é transformado por ele, constituindo, desta forma, categorias na vida
social dentro de um processo histórico. Segundo Netto (2011), “o objetivo da pesquisa
marxiana é, expressamente, conhecer [...] as categorias que constituem a articulação interna
da sociedade burguesa […]”. As categorias, diz o autor, "exprimem [...] formas de modo de
ser, determinações de existência, frequentemente aspectos isolados de uma sociedade
determinada […]”.
Metodologicamente, então, optou-se pela pesquisa qualitativa exploratória, de base
bibliográfica e documental, através da análise de prontuários, diários de campo, produzidos
durante o período de Estágio Supervisionado em Serviço Social, artigos, revistas e livros
que abordam a temática descrita. Sabe-se que a realidade não está acabada em si. Ela partiu
de um ponto, ou de vários, ao mesmo tempo, quer social, político, cultural ou econômico,
da vida dos sujeitos e segue, causando novas possibilidades (até repetição de velhas) na
atividade social. O olhar, no entanto, é voltado para os processos de adoecimento, no
entorno da realidade dos usuários.
15

Esse trabalho monográfico objetiva analisar as produções teóricas de autores do


Serviço Social e outras literaturas, a fim de discutir os impactos do estigma e do
preconceito na saúde e, para tanto, uma análise empírica será realizada a partir das
experiências e observações vivenciadas no Programa Municipal IST/AIDS.
Sendo assim, recorreu-se a bibliografias produzidas por Goffman (2004); Monteiro
e Villela (2003) e Parker (2003), trazendo um debate acerca do estigma, do preconceito e
da discriminação na saúde. Assim como, Kern (2005), Lima e Costa (1994) e Paes (1994),
abordando a trajetória do HIV/AIDS no Brasil. E, também, Nogueira (2010), Buss (2007),
discutindo Determinantes Sociais da Saúde – DSS, além de Faleiros (1997) e Iamamoto
(2011), que trazem importantes contribuições sobre a questão da efetividade do trabalho do
Serviço Social.
Diante disso, esse trabalho conta com dois capítulos. No primeiro capítulo, tendo
como título: “ESTIGMA E PRECONCEITO ENFRENTADOS POR PESSOAS QUE
CONVIVEM COM O VÍRUS HIV EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ”,
trazemos de forma breve, um resgate do contexto histórico do HIV/AIDS, a partir da
década de 1980, abarcando, assim, os enfrentamentos desse processo de avanços e desafios
da epidemia no Brasil. Analisamos alguns aspectos relevantes acerca dos Determinantes
Sociais da Saúde, bem como, o estigma e o preconceito e como tais determinantes
cooperam para o agravamento do processo de adoecimento das pessoas que convivem com
HIV/AIDS. Para tal embasamento, utilizamos um trabalho de pesquisa realizado pela
disciplina de Pesquisa em Serviço Social, bem como, um artigo construído na disciplina de
Estágio Supervisionado em Serviço Social, como resultado do Projeto de Intervenção,
implementado no Programa Municipal IST/AIDS - Centro de Doenças Infecciosas (CDIP),
de Campos dos Goytacazes – RJ.
No segundo capítulo: “SERVIÇO SOCIAL E O ENFRENTAMENTO DO
ESTIGMA E DO PRECONCEITO CONTRA PESSOAS QUE VIVEM COM HIV”,
buscamos refletir acerca da atuação do Assistente Social no campo da saúde, na cena do
cotidiano dos atendimentos das pessoas na condição de excluídas socialmente, decorrentes
dos agravos causados pelo estigma, preconceito e discriminação que, de certa forma,
afetam diretamente ou indiretamente a saúde dessa população. Nesse sentido, ressaltamos a
Educação em Saúde como importante mecanismo de estratégia de trabalho do Assistente
Social na saúde, na direção do enfrentamento desses processos sociais.
16

Encerramos assim, o referido trabalho, com a intenção de que as reflexões aqui


apresentadas sejam relevantes no contexto das relações sociais que permeiam o universo
das pessoas que vivem com HIV/AIDS e que possam promover, na prática profissional dos
Assistentes Sociais, um maior aprofundamento sobre as questões que circundam a temática
central, na perspectiva da construção de possíveis mediações, para o enfrentamento deste
problema, bem como, estratégias de intervenção, visando à superação do preconceito tanto
no âmbito local, quanto macrossocial.
17

1. ESTIGMA E PRECONCEITO ENFRENTADOS POR PESSOAS QUE


VIVEM COM O VÍRUS HIV EM CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ.

O contexto da síndrome do HIV é marcado pelo estigma e pelo preconceito desde os


primórdios da epidemia no Brasil. Para tanto, esse trabalho visa examinar questões ligadas
aos processos sociais envolvidos nesta temática, considerando seu caráter impactante no
que tange aos aspectos físico, social e cultural.
A história do HIV/AIDS no Brasil apresenta-se no cerne de muitos desafios,
considerando que o assunto ainda é encarado com um “tabu” na sociedade, mas, difundir e
enveredar nas tramas desse assunto, tornou-se urgente, devido ao alto índice da proliferação
da epidemia por diversas regiões brasileiras. Essa realidade provocou, então, algumas
medidas e estratégias por parte das estruturas governamentais, no contexto da saúde
pública, a fim de combater a doença e os agravos pertinentes à epidemia.
No início da década de 1960 foram realizadas as primeiras medidas públicas contra
o vírus HIV/AIDS e, esse momento ganha visibilidade no cume da ditadura militar, quando
começam a ser desenvolvidas às políticas voltadas para o enfrentamento da epidemia,
capitaneadas pelo Ministério da Saúde.
O primeiro caso de AIDS1 no Brasil identificado, aproximadamente, a partir dos
anos 70, no Estado de São Paulo e, em sequência, outros Estados revelaram notificações
acerca de novos casos. Nesse período, havia um grande índice de casos de óbitos,
notificados pelo Ministério da Saúde.
Nessa época se buscou respostas governamentais acerca do combate da epidemia,
bem como, o encorajamento da sociedade civil no que tange a prestação de solidariedade
com a população acometida pela sorologia do HIV, na luta contra o preconceito que,
possivelmente, recairia sobre esses grupos afetados pelo vírus.
Sob essa ótica, é possível subentender que mesmo na atualidade, a epidemia do HIV
no Brasil perpassa por fortes lutas no que tange aos direitos humanos. Pode-se inferir,
então, que essa batalha está amplamente voltada às questões ligadas à não discriminação e a

1
AIDS é uma definição epidemiológica baseada em sinais e sintomas clínicos. É causado pelo HIV, o vírus
da imunodeficiência humana. A AIDS não é simplesmente uma deficiência imunológica, representa a
presença de manifestação de doenças oportunistas. O HIV destrói a capacidade do organismo de combater
infecções e doenças, que podem levar à morte. A terapia antirretroviral diminui a replicação do vírus e pode
aumentar em muito a sobrevida e melhorar a qualidade de vida, mas, não elimina a infecção pelo HIV.
(UNAIDS, 2015, p. 29).
18

perspectiva de manter esses sujeitos, nos espaços sociais, sem que a heterossexualidade,
homossexualidade, preconceito moral, religioso e cultural sejam severos obstáculos e
empecilhos para o controle da epidemia no Brasil.

1.1. HIV/AIDS no Brasil: avanços e desafios.

A epidemia da AIDS deu-se no início dos anos de 19802 e tem gerado muitos
questionamentos éticos em diferentes ordens na sociedade. A AIDS - Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, é causada pelo vírus HIV, cuja infecção ocorre pela via sexual
e sanguínea, primordialmente.
Na década de 19803 o boletim epidemiológico apresenta o primeiro caso de óbito
acometido por pessoa do sexo masculino por meio de via sexual no Brasil. Novos casos da
síndrome foram identificados, dando origem a novos grupos: heterossexuais, usuários de
drogas e transmissão vertical (mãe-bebê).
O perfil do usuário,4 que no início da epidemia era em sua maioria, homossexuais,
pessoas de classe social mais elevada e usuários de drogas injetáveis, caracterizados como
“grupo de risco”, mudou drasticamente com o passar dos anos. Atualmente, a síndrome do
HIV se propaga mais em heterossexuais e pessoas de baixa renda, o que significa uma
mudança no perfil epidemiológico da epidemia.
Como bem nos assegura Parker (2001), a epidemia pode ser analisada sob três
óticas distintas: a primeira, retrata a epidemia do vírus HIV - a infecção que se incorpora de
forma silenciosa; a segunda, pela presença da AIDS - síndrome da doença infecciosa

2
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir
da identificação de um número elevado de pacientes adultos, do sexo masculino, homossexuais e moradores
de São Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia por Pneumocystis carinii e
comprometimento do sistema imune. Todos estes fatos convergem para a inferência de que se tratava de uma
nova doença, ainda não classificada, de etiologia provavelmente infecciosa e transmissível. Em 1983 o agente
etiológico foi identificado: tratava-se de um retrovírus humano, atualmente, denominado Vírus da
Imunodeficiência Humana, HIV-1, que anteriormente foi denominado LAV e HTLV-III. Em 1986 foi
identificado um segundo agente etiológico, também retrovírus, estreitamente relacionado ao HIV-1,
denominado HIV-2. Ver: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/origem-epidemia-hiv.htm
3
O primeiro caso de AIDS no Brasil foi relatado em 1982. A resposta do Brasil a Aids foi criada em 1985,
logo após o país ter retornado da ditadura militar à democracia, em um momento em que apenas 04 (quatro)
casos de Aids tinham sido registrados.
4
LIMA e COSTA, Maria Fernanda F.; SOUSA, Rômulo Paes. Qualidade de Vida: compromisso histórico
da epidemiologia. Belo Horizonte: COOPEMED / Rio de Janeiro: ABRASCO, 1994. Cad. Saúde
Pública, vol.11, no.1, Rio de Janeiro, Jan./Mar. 1995.
19

provocada pelo próprio HIV e pelas doenças oportunistas; e, a terceira, talvez a mais
desafiadora - a epidemia das “respostas sociais”, econômicas e culturas que se estabelece
nas construções coletivas e nas relações sociais, através de atitudes estigmatizantes,
discriminatórias e preconceituosas da sociedade.
Ao enfrentar uma epidemia de HIV/AIDS, na década de 1980, o Brasil reconheceu
ser necessário criar estratégias, que fomentam uma reorganização do Estado e da sociedade
civil, a fim de traçar respostas para o enfrentamento da mesma. Mas, se por um lado, ela
deixou marcas de pânico, anunciadas pelo medo devastador do HIV, no momento seguinte,
ela garantiu a emergência de movimentos que se propusessem a combater o estigma
produzido socialmente.
A epidemia no Brasil passou por muitas mudanças e, a partir de 1985, o Ministério
da Saúde, através da Portaria n.º 236, estabeleceu as diretrizes para o Programa de Controle
e Combate à Epidemia da AIDS, criando, em seguida, o Programa Nacional de
DST/AIDS5.

À medida que o Estado foi assumindo a responsabilidade com a


epidemia de AIDS no país, numa interlocução com a sociedade civil
organizada em torno da questão, com as ações concretas de controle da
doença, seja a partir da promulgação de leis no sentido de viabilizar o
enfrentamento da epidemia, seja com o investimento de altos recursos
financeiros num programa nacional de controle da doença, as ONGs,
sem abandonar a posição crítica em relação às políticas
governamentais de controle da AIDS, também mudaram a estratégia,
substituindo o confronto com o Estado por uma ação propositiva e
corresponsável com o Ministério da Saúde (BASTOS, 1993, p. 33).

Dessa forma, essas proposições vêm gerando avanços positivos acerca da doença,
tornando assim, um país de referência mundial no combate à epidemia. Essa conquista no
campo da saúde se deu com o apoio inicial de organizações não governamentais e
movimentos sociais da época. Isso fomentou a necessidade de ações públicas e políticas de

5
É válido salientar que através do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e
das Hepatites Virais, a nomenclatura “DST” (doenças sexualmente transmissíveis) é substituída por “IST”
(infecções sexualmente transmissíveis). A nova denominação é uma das atualizações da estrutura regimental
do Ministério da Saúde, por meio do Decreto nº 8.901/2016, publicada no Diário Oficial da União em
11.11.2016, Seção I, páginas 03 a 17. Segundo a diretora Adele Benzaken, “doenças” implica sintomas e
sinais visíveis no organismo, enquanto “infecções” refere-se a períodos sem sintomas e já é usado pela OMS.
Ver: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/departamento-passa-utilizar-nomenclatura-ist-no-lugar-de-dst.
20

tratamento que levou, progressivamente, à criação dos Programas Estaduais e Municipais


de DST/ AIDS, em âmbito nacional.
Transcorridas essas mudanças na vida das pessoas soropositivas e na sociedade, a
epidemia destaca, também, o caráter discriminatório e preconceituoso apresentados pela
sociedade em relação às pessoas soropositivas, desde os primórdios da síndrome do HIV.
“O indivíduo vê-se diante do enfrentamento do tabu da morte dada sua possível iminência
e, também, diante da possibilidade de contaminar outras pessoas” (AZEREDO, 2015, p.
46). Ou seja, situação que suplanta a sorologia como uma das contingências da vida.
Pesquisas feitas utilizando o Índice do Estigma das Pessoas Vivendo com HIV
indicam que é comum as pessoas que integram as populações chave6 estarem sujeitas
à reprovação, rejeição e serviços abaixo da qualidade. (UNAIDS, 2005, p. 12)
Em um misto de sentimentos elencados pela discriminação7 e preconceito, outras
reações psicossociais também se configuravam, como, a ansiedade, o medo, a perda da
esperança no que tange a vida social, física e emocional “negação, sensação de falta de
controle ou tentativa de racionalizar o controle das variáveis referentes ao tratamento,
depressão, entre tantos outros” (AZEREDO, 2015, p. 46). Essas dificuldades devem ser
respeitadas, entendendo a subjetividade de cada indivíduo.
Desta maneira, podemos entender que muitos foram os embates e avanços da década
de 80 até a atualidade acerca da doença, porém é válido salientar que mesmo diante de
progressos no que tange ao tratamento da doença, revelar o diagnóstico é vivenciar o medo
referente ao carácter discriminatório e preconceituoso que persiste até os dias atuais,
através da sociedade em relação às pessoas vivendo com HIV no Brasil.
É válido ressaltar que as pessoas que convivem com a sorologia devem poder

6
Essas populações, que no começo da epidemia foram definidas como grupos de risco, população-alvo e/ou
populações vulneráveis, hoje recebem essa denominação como forma de reduzir o estigma que essas
nomenclaturas provocam na sociedade. É preferível se referir-se a populações como sendo chave para a
epidemia e chave para a resposta ao HIV, considerando que a “linguagem molda as crenças e pode influenciar
comportamentos [...] a utilização ponderada de linguagem apropriada tem o poder de fortalecer a resposta
global à epidemia”. O UNAIDS considera que os gays e outros homens que fazem sexo com homens,
profissionais do sexo e seus clientes, pessoas trans e pessoas que usam drogas injetáveis são as quatro
principais populações-chaves em relação ao HIV. Muitas vezes, essas populações são sujeitas a leis punitivas
ou políticas estigmatizantes e têm mais probabilidade de exposição ao HIV. Seu envolvimento é crítico para
uma resposta exitosa ao HIV em qualquer lugar. Os países devem definir as populações específicas que são
chave para a epidemia e para a resposta com base nos contextos epidemiológico e social. Ver:
https://unaids.org.br/wpcontent/uploads/2017/10/WEB_2017_07_12_GuiaTerminologia_UNAIDS.pdf?=e7c8
b3c974.
7
O estigma e a discriminação, no contexto social mais amplo e, especialmente, em serviços de atenção
à saúde, são uma barreira para muitos integrantes das populações chave saberem seu estado sorológico
relativo ao HIV ou acessarem serviços de prevenção e tratamento que podem salvar vidas. (UNAIDS, 2005,
p. 12).
21

desfrutar de seus direitos em todos os âmbitos, incluindo o direito à educação, trabalho,


acesso à saúde e direitos sexuais e reprodutivos (UNAIDS, 2017, s/p).
Desde 1980 a epidemia vem erguendo sua história e deixando marcas. Os primeiros
casos foram desvendados através de diagnósticos de pneumocistose (pneumonia),
sobretudo em jovens saudáveis. Ou seja, essa doença oportunista estava fora do padrão,
pois o perfil esperado para acometimento dessa patologia era entre pessoas idosas.

As infecções oportunistas são provocadas por vários organismos,


muitos dos quais geralmente não causam doenças em pessoas com
sistemas imunológicos saudáveis. As pessoas vivendo com AIDS
podem ter infecções oportunistas dos pulmões, do cérebro, dos olhos e
de outros órgãos. Doenças oportunistas comuns em pessoas
diagnosticadas com AIDS incluem a pneumonia Pneumocystis
jirovecii, criptosporidiose, histoplasmose, infecções bacterianas, outras
infecções parasitárias, virais e fúngicas. Em muitos países, a
tuberculose é a principal infecção oportunista associada ao HIV.
(UNAIDS, 2017, p. 15).

Nessa época, a população mais atingida era denominada “grupo de risco”


conhecidos como homossexuais e usuários de drogas injetáveis. Essa perspectiva se tornou
negativa, pois, ao se focar em um determinado grupo, descaracterizava nos demais “alvos”
a possibilidade de contaminação. Isto evidenciava ainda mais o preconceito e fortalecia a
segurança dos demais grupos acerca da infecção do HIV.

[...] indicando feminização, interiorização e pauperização da epidemia


evidenciando para além do fator ‘comportamento de risco’ a categoria
de vulnerabilidade social. Desde seu descobrimento, acreditava-se que
a falta de prevenção estava relacionada à falta de conhecimento da
população sobre a doença e suas formas de transmissão. Entretanto,
hoje se percebe que a AIDS vai além deste dogma, envolvendo
questões pessoais, emocionais e sociais, não podendo sua prevenção
ser considerada uma responsabilidade individual. (LIMA, 2011, p.
131).

Novas conquistas em relação à síndrome do HIV/AIDS foram se verificando ao


longo da trajetória da epidemia, em todo o Brasil. Alguns marcos foram registrados como,
o Dia 1º de Dezembro - como o Dia Mundial da Luta contra a Aids, tendo como base o
tema inicial, “Junte-se ao esforço mundial”; a criação do Centro de Orientação e Apoio
22

Sorológico (COAS), atualmente, Centros de Testagem e Aconselhamento; a criação do


SAE – Serviço de Assistência Especializada e a criação de laboratórios regionais para
detecção precoce da infecção pelo HIV, entre outros marcos.

O Programa Brasileiro de AIDS está calcado nos princípios e diretrizes


proposta pela Constituição de 1988 e, posteriormente, pela Lei
8080/90 (LOS). Desta forma, os princípios gerais que orientam o
Programa são: descentralização, integralidade das ações,
universalidade de acesso aos bens e serviços de saúde e controle social.
E, estes, acrescentam-se as diretrizes que o norteiam: garantias da
cidadania e direitos humanos das pessoas com HIV/AIDS; garantia de
acesso a insumo de prevenção e assistência para toda a população;
direito de acesso ao diagnóstico para HIV/AIDS; direito ao acesso
universal e gratuito a todos os recursos disponíveis para o tratamento
da doença. (CORREIA; LIMA; SILVA, 2009, p. 131).

Nos anos 90, a revista Veja (1997), trouxe uma reportagem assustadora, intitulada
“O vírus avança”. O autor da matéria jornalística, sinalizava naquela época, que o HIV era
mais que um problema isolado de saúde, era um problema de conscientização, um
problema social. A reportagem reafirmava a perspectiva de Kern (2005) e, após quase 30
anos, não se pode ignorar os investimentos públicos e de organizações não governamentais
na direção da socialização das informações, por intermédio da mídia convencional
e/alternativa e de outras redes de informação, para difusão de campanhas de
esclarecimento, alertas, mensagens e afins. Contudo, os dados apontados no decorrer deste
tópico, nos sinalizam que o Brasil precisa ampliar suas metas para alcançar o que está
preconizado no protocolo 90-90-908.
A autora Kern (2005), destaca que as pessoas vivendo com HIV tem sido alvo de
grandes debates e estudos, desde seus primeiros casos, até os dias atuais, tendo em vista que
essa epidemia já matou muitas pessoas e, mesmo diante dos avanços das propostas e ações
de prevenção, muitos casos são identificados diariamente. “[...] Mesmo na atualidade a luta

8
O protocolo 90-90-90, corresponde às novas metas estabelecidas pelo UNAIDS, para intensificar o
tratamento do HIV, depois de 2015. Trata-se de um compromisso e de um movimento forte de construção de
uma nova narrativa sobre o tratamento do HIV e de uma nova meta, definitiva e ambiciosa, porém alcançável.
O protocolo 90-90-90, estabelece que até 2020, 90% de todas as pessoas vivendo com HIV saberão que têm
o vírus; que até 2020, 90% de todas as pessoas com infecção pelo HIV diagnosticada, receberão terapia
antirretroviral ininterruptamente e, que até 2020, 90% das as pessoas, recebendo terapia antirretroviral, terão
supressão viral.
Ver:https://unaids.org.br/content/uploads/2015/11/2015_11_20_UNAIDS_TRATAMENTO_META_PT_v4_G
B.pdf.
23

contra o HIV configura-se como uma batalha pelos Direitos Humanos” (KERN, 2005,18).

A abordagem de direitos humanos para saúde define o enfoque nos


princípios básicos dos direitos humanos, tais como, a não
discriminação, a participação, a transparência, a responsabilidade e a
independência. Os documentos internacionais de direitos humanos
oferecem um quadro de trabalho de longo prazo necessário para
análise e a ação. Os direitos humanos definem claramente cada
indivíduo na sociedade, como o titular do direito, enquanto o Estado
tem a obrigação de respeitar, proteger e satisfazer os direitos dos seus
cidadãos. (MONTEIRO, 2013, p. 38).

No Brasil, a mobilização política das pessoas com HIV tem sido notável, através de
organizações contra o preconceito e a discriminação e tem se constituído como um dos
aspectos políticos mais radicais da história do HIV (KERN, 2005, p. 18). Esta mobilização
foi intensificada a partir de 1989, através da Fundação dos Grupos pela VIDDA -
Valorização e Integração e Dignidade do Doente de AIDS, no Rio de Janeiro e em São
Paulo, por Herbert Daniel9 (KERN, 2005, p. 18). A partir dos anos 90 a epidemia passou a
ser vista como um fenômeno político social no embate contra o HIV.
Vale registrar que, no período de 1980 a 1990, o Brasil ficou conhecido como um
dos países com maior índice de casos de infecção pelo HIV. Nesta época, o público
atingido era prioritariamente homossexual, como falado anteriormente, que já sofrem
duplamente o estigma. Essa visão sombria vem de uma sociedade discriminadora, arraigada
de comportamentos preconceituosos que, mesmo ao longo dos anos, se perpetua.
A partir da década de 90 há uma maior socialização das pessoas vivendo com HIV,
por meio das organizações que atuam no sentido de trazer para os mesmos, uma nova
perspectiva de vida.

Uma vez que estes não sejam mais vistos como “Aidéticos”,
subjugados a toda sorte de preconceito e estigma, violação e outros

9
Herbert Daniel (1946-1992) foi um personagem ímpar na história republicana brasileira. Mineiro de Belo
Horizonte, Daniel foi estudante de medicina, crítico de cinema no rádio, autor de teatro estudantil e jornalista.
Durante a ditadura militar, participou de grupos da luta armada no país. Viveu na clandestinidade durante seis
anos, sem nunca ser preso. No interior dessas organizações, a questão da sexualidade ainda era um tabu.
Daniel, homossexual, acabou tendo que reprimir a sua sexualidade por vários anos. Depois da ditadura,
Daniel candidatou-se a deputado estadual pelo PT do Rio de Janeiro (mas não se elegeu), participou da
formação do Partido Verde, engajando-se na luta ambientalista, e teve uma atuação importante na luta pelos
direitos das mulheres, dos homossexuais, da população negra, indígena e pelo fim da discriminação contra
pessoas portadoras do vírus HIV. Daniel morreu em 1992, vítima de complicações causadas pela AIDS. Ver:
https://www.cafehistoria.com.br/biografia-herbert-daniel/.
24

contingentes, que os permeiam. [...] E sim, o trauma individual, a


consciência singularizada do problema. [...] Processualmente, aquele
trauma individual de tomada de consciência da própria morte pode ser
vivenciado de forma coletiva, participativa e solidária proporcionando
retorno à vida. (KERN, 2005, p. 18).

Em 2002/2003, aconteceram campanhas globais de combate à epidemia, lideradas


pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV (UNAIDS), que propôs o tema
estigma e discriminação, como lema, reconhecendo que esses determinantes representavam
os maiores agravos, naquele momento, para efetivação de uma resposta mais completa, no
que tange o enfrentamento da epidemia de HIV.

Ao denunciar a discriminação, a negação dos direitos destas pessoas,


entre eles o direito à saúde, o direito à vida, ao trabalho, à livre entrada
em países [...] violações que transformam as pessoas soropositivas ou
doentes de AIDS em uma espécie de morto social em vida.
(HERBERT, 1996 apud KERN, 2005, p. 18).

Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/AIDS10, do Ministério da Saúde, referente


ao período de julho de 2017 a junho de 2018 – dados mais recentes disponibilizados pelo
governo federal -, publicado no dia 27 de novembro de 2018, mesmo diante de grandes
avanços no tratamento e no combate a síndrome do HIV no Brasil, foram notificados entre
1980 e junho de 2018, 926.742 casos de Aids no Brasil11. Esses dados evidenciam a
necessidade cada vez maior de buscarmos respostas políticas concretas para a prevenção e
o enfrentamento da epidemia em todo país12. (UNAIDS, 2017, p. 10).
O enfrentamento da epidemia no Brasil criou fortes fundamentos acerca do Estado e
sociedade. No entanto desde os primórdios da epidemia as ações eram realizadas com a

10
O “Boletim Epidemiológico HIV/Aids”, do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das
Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em
Saúde, do Ministério da Saúde, publicado anualmente, apresenta informações sobre os casos de HIV e de
Aids no Brasil, regiões, estados e capitais, de acordo com as informações obtidas pelos sistemas de
informação usados para a sua elaboração. Ver: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2018/boletim-epidemiologico-
hivaids-2018.
11
Oportunamente, apresentaremos um panorama dos dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids - 2018.
12
No Brasil, as populações marginalizadas são as que têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde,
de assistência, à informação e à educação. Na maioria das vezes, essas pessoas estão à margem das políticas
públicas e isso dificulta as ações que visam à prevenção, o diagnóstico precoce e até mesmo à assistência. São
populações mais vulneráveis devido à exclusão social em que se encontram dentro da própria estrutura social,
enfim, essas pessoas são mais atingidas por doenças infecto-contagiosas, entre elas o HIV. (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1999, p. 8).
25

finalidade de trazer respostas à pressão social dos ativistas. De fato, esses aspectos definiam
estratégias de prevenção e assistência em conjunto com a sociedade.

Entretanto, mesmo diante dessas adversidades, obtivemos conquistas


nas políticas públicas relativas à epidemia de AIDS no Brasil.
Podemos enumerar algumas de maior destaque, como a adoção de um
referencial ético consensual: o acesso universal aos medicamentos
(Decreto Presidencial de 13/11/96); a criação de serviços específicos,
como Hospital Dia, Serviços de Assistência Especializada, Centros de
Testagem e Aconselhamento e Atendimento Domiciliar Terapêutico;
instrumentos legais de proteção aos direitos dos afetados, tais como, a
Lei nº 9.313/96 (distribuição gratuita de medicamentos aos portadores
de HIV e doentes de AIDS); um melhor controle da transmissão por
transfusão de sangue e hemoderivados; e a parceria com estados,
municípios e sociedade civil. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999, p. 9).

A implementação dessas ações se apresenta cada vez mais necessárias sob a


perspectiva de obter respostas através da prevenção e da assistência à população,
reforçando o tratamento e a ideia de que a pessoa pode viver e conviver bem e de forma
produtiva com o HIV e a AIDS, por muito tempo, desconstruindo o viés de descontrole
sobre a vida após a revelação do diagnóstico.
Há mais de três décadas, a síndrome do HIV/AIDS foi descoberta no Brasil (1980-
2019) e, diante desse fato podemos destacar que houve muitos avanços no que tange ao
campo científico, como o acesso às novas tecnologias, pesquisas e campanhas de prevenção
ao tratamento; aumento no acesso à terapia antirretroviral e redução de transmissão tanto
via sexual quanto vertical. Porém, ainda predomina o drama de viver o fantasma da não
descoberta da cura até os dias atuais. Isto corrobora para o medo do preconceito e fomenta
a discriminação.
Nessa lógica, não obstante aos avanços no que tange ao tratamento antirretroviral,
ao acesso ao programa de combate ao vírus, aos serviços de saúde implementados e uma
possível vida social, os acometidos pela síndrome do HIV ainda se silenciam sobre o
diagnóstico, até mesmo para seus familiares e os que estão em seu entorno, pois, mesmo
diante de muitos avanços a natureza do preconceito, o estigma e a discriminação se
apresenta desde os primórdios até a atualidade.
Como bem nos assegura Bastos (2013), o HIV não pode mais ser visto como um
simples fenômeno global, e sim na perspectiva de uma complexa gravidade inquestionável
em relação a seu progresso, em vários países, há praticamente três décadas. Entretanto, em
26

relação à saúde coletiva, vivemos na atualidade, um cenário bem distinto daquele presente
no início da epidemia, não só no que tange ao conceito da epidemiologia sobre o HIV,
quanto a grande mobilização de controle do contexto social.
Ainda de acordo com Bastos (2013), se perguntássemos, na atualidade, qual é a cara
do HIV, diríamos, com discernimento da resposta, que são todas ou nenhuma em particular,
as pessoas soropositivas são tão diversas como qualquer outra população heterogênea e
injustiçada.
Nota-se na contemporaneidade, avanços triunfantes em relação às intervenções
preventivas e biomédicas, em detrimento do início da epidemia. Podemos observar hoje um
viés mais macro em relação aos determinantes estruturais. Diante disso, cabe aos
profissionais da saúde desfazer as imagens destrutivas que perpetua e fomenta o
preconceito e a exclusão das pessoas vivendo com a sorologia, assim como, tantas outras
patologias que nos acomete diariamente. Portanto, faz-se necessário transformar essas
questões devastadoras em progressos (BASTOS, 2013, p. 100).
Neste sentido, enquanto as metas anteriores para a AIDS buscavam obter progresso
gradativo, o objetivo para a era pós 2015 é nada menos que o fim da epidemia de AIDS até
2030 (UNAIDS, 2005, p. 1).
Durante este longo percurso de lutas e desafios no combate ao vírus, fica claro que a
única forma de concernir às propostas ousadas de avanço, é por meio de estratégias
fundamentadas no tripé - direitos humanos, respeito mútuo e inclusão - da população
acometida pelas fraturas sociais. Entretanto, estratégias de prestação de serviços adaptadas
às necessidades e circunstâncias de cada população e contexto, também ajudarão
a incentivar a ampliação do tratamento e a retenção dos pacientes nos serviços13 (UNAIDS,
2015, p. 26).
Embora muitas estratégias ainda sejam necessárias para acabar com a epidemia,
uma coisa é certa: será impossível pôr fim à epidemia sem disponibilizar o tratamento do
HIV para todos que precisam (UNAIDS, 2015, p. 1).
Portanto, podemos observar que ao longo de aproximadamente três décadas
obtivemos, conforme apontado anteriormente, mudanças significativas no cerne da

13
Pôr fim à epidemia de AIDS é mais do que uma obrigação histórica para as 39 milhões de pessoas que
morreram da doença. Também representa uma oportunidade significativa para estabelecer os alicerces de um
mundo mais saudável, mais justo e mais equitativo para as gerações futuras. Pôr fim à epidemia de AIDS
inspirará esforços mais abrangentes na área da saúde global e do desenvolvimento internacional,
demonstrando o que pode ser alcançado por meio da solidariedade global, ações baseadas em evidências
e parcerias multissetoriais. (UNAIDS, 2015, p.1).
27

epidemia, referentes aos aspectos biológicos. Entretanto, as questões ligadas aos processos
sociais, velhos comportamentos preconceituosos e discriminatórios sobre as pessoas
vivendo com a sorologia, ainda se configuram arraigadas e, em muitos sentidos,
paralisadas, visto que, até os dias atuais, essas questões se estabelecem como um dos
maiores obstáculos no combate à epidemia do HIV/AIDS.
Sobre os avanços no campo biológico e da ciência, vale dar ênfase que ainda no
início da década de 1990, iniciava-se o processo de distribuição gratuita de antirretrovirais
– medicamentos que dificultam a multiplicação do HIV, aqui abreviados em ARVs –, a
partir da inclusão do tratamento no SUS (AZEREDO, 2015, p. 50). Esse avanço chegou em
um momento delicado, politicamente, tendo em vista que enfrentamos, no cerne da Política
de Saúde no Brasil, fortes mudanças no que se refere a esses dois grandes projetos: “o
Projeto da Reforma Sanitária14,construído na década de 1980, estabelecido numa
perspectiva de democracia de massas e consagrado, em parte, na Constituição Federal de
1988” (AZEREDO, 2015, p. 50) e o Projeto Privatista da Saúde, que ganhava fôlego e
apoios institucionais. Provavelmente, pela projeção nacional e mundial da Aids, as medidas
de enfrentamento da epidemia não foram, diretamente, afetadas pela disputa em questão,
mas sofrem como todos os campos da vida social, os rebatimentos dessa disputa.
Neste sentido, é inegável que com o passar dos anos, a política adotada pelo
Ministério da Saúde tem apresentado grandes resultados acerca da epidemia - mesmo com
as interrupções de curso e de estratégia, em alguns momentos -, diminuindo, por exemplo, a
mortalidade das pessoas que vivem com Aids. Mas, mesmo diante desses avanços, a luta
continua presente.
Ao problematizamos os avanços e os desafios da Aids no Brasil, não poderíamos
encerrar este trabalho monográfico sem apresentar, em números, essa complexa questão.
Sendo assim, os dados e gráficos abaixo, do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS – 201815,

14
O Projeto da Reforma Sanitária é o da civilização humana, é um projeto civilizatório, que para se organizar
precisa ter dentro dele princípios e valores que nós nunca devemos perder, para que a sociedade como um
todo possa um dia expressar esses valores, pois, o que queremos para a saúde é o que queremos para a
sociedade brasileira (AROUCA, 2001, p. 6).
15
Este Boletim, que é publicado anualmente, apresenta dados obtidas pelos sistemas de informação sobre o
HIV/Aids, que são: (1) as notificações compulsórias dos casos de HIV e de Aids no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN), (2) os óbitos notificados com causa básica por HIV/Aids (CID10: B20 a
B24) no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), (3) os registros do Sistema de Informação de
Exames Laboratoriais (SISCEL) e (4) os registros do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos
(SICLOM). Além das informações constantes neste Boletim, os dados específicos, para cada um dos 5.570
municípios brasileiros, podem ser visualizados por meio dos painéis de indicadores epidemiológicos
disponíveis on-line no endereço <http://www.aids.gov.br/indicadores>. Ver: http://www.aids.gov.br/pt-
br/pub/2018/boletim-epidemiologico-hivaids-2018.
28

da Secretaria de Vigilância em Saúde – MS, ilustram bem esse cenário.


De acordo com esse último Boletim Epidemiológico HIV/Aids, divulgado no final
do ano passado (2018), estima-se que 866 mil pessoas vivem com o HIV no Brasil. No
entanto, a epidemia no Brasil está estabilizada, com taxa de detecção de casos de Aids em
torno de 18,3 casos a cada 100 mil habitantes, em 2017. Isso representa 40,9 mil casos
novos, em média, nos últimos cinco anos.

GRÁFICO 1 - TAXAS DE DETECÇÃO DE AIDS, AIDS EM MENORES DE CINCO ANOS,


INFECÇÃO PELO HIV EM GESTANTES, COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR
AIDS E NÚMERO DE CASOS DE HIV.
(BRASIL, 2007 A 2017)

FONTE: Boletim Epidemiológico HIV/Aids – Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde


(2018)

Sobre a taxa de mortalidade, registra-se no Boletim, que nos últimos quatro anos, a
mesma reduziu, passando de 5,7 óbitos por 100 mil habitantes em 2014, para 4,8 óbitos por
100 mil habitantes em 2017. “A redução é resultado da garantia do ‘tratamento para todos’,
lançada em 2013, aliada à melhoria do diagnóstico, além da ampliação do acesso à
testagem e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento” (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2019).
29

O Boletim Epidemiológico HIV/Aids, lançado no final de 2018, aponta que em


2017 foram diagnosticados 42.420 novos casos de HIV e 37.791 novos casos de Aids,
notificados no SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Desde o ano de
2012, conforme o gráfico acima, observa-se uma diminuição na taxa de detecção de Aids
no Brasil, que passou de 21,7/100.000 habitantes (2012) para 18,3/100.000 habitantes em
2017, configurando um decréscimo de 15,7%.
Na figura abaixo, apresentamos um panorama da infecção no Brasil, com um
importante declínio na taxa de detecção de Aids entre os anos de 2007 e 2017.

FIGURA 1 - TAXA DE DETECÇÃO DE AIDS E PERCENTUAL DE DECLÍNIO OU


INCREMENTO, SEGUNDO UF DE RESIDÊNCIA, POR ANO DE DIAGNÓSTICO
(BRASIL, 2007/2017)

FONTE: Boletim Epidemiológico HIV/Aids – Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde


(2018)

A partir desta apresentação, podemos analisar várias situações sobre a taxa de


detecção de Aids no Brasil, por exemplo:
30

1ª - O declínio na taxa de detecção de Aids, em 10 (dez) Unidades Federativas, a


saber: Rio Grande do Sul (36,3%), São Paulo (24,9%), Distrito Federal (22,9%), Santa
Catarina (20,5%), Rio de Janeiro (20,3%), Minas Gerais (18,0%), Espírito Santo (15,9%),
Paraná (7,2%), Mato Grosso (3,4%) e Rondônia (0,7%).
2ª - Apesar deste cenário promissor, que estimula investir nas ações de
enfrentamento da epidemia no Brasil, registra-se, também, 17 (dezessete) outros Estados da
federação brasileira que, mesmo em queda, ainda apresentam taxas elevadas da infecção, o
que significa que é preciso aprimorar as políticas voltadas para essa grave questão de saúde
pública;
3ª – Essa queda na taxa de detecção da Aids, se manifestou assim: de 2013 para
2014, a taxa de detecção da Aids caiu 3,5%; de 2014 para 2015, a redução foi de 4,3%; de
2015 para 2016, de 4,6% e de 2016 para 2017 a queda foi de 3,4%.
4ª – Em termos de país, no período de 10 (dez) anos, a taxa de detecção apresentou
queda de 9,4%: em 2007, foi de 20,2 casos por 100 mil habitantes e, em 2017, de 18,3
casos a cada 100 mil habitantes.
5ª - As regiões Sudeste e Sul apresentaram tendência de queda nos últimos 10 (dez)
anos: em 2007, as taxas de detecção dessas regiões foram de 22,0 e 32,9, passando para
17,1 e 24,1 casos por 100 mil habitantes e, em 2017, registrou queda de 22,2% e 26,7%,
respectivamente.
6ª - As regiões Norte e Nordeste apresentaram tendência de crescimento na
detecção: em 2007 as taxas registradas dessas regiões foram de 16,4 (Norte) e 12,7
(Nordeste) casos por 100 mil habitantes, enquanto em 2017 foram de 23,6 (Norte) e 15,7
(Nordeste), representando aumentos de 44,2% (Norte) e 24,1% (Nordeste). O Estado de
Tocantins, por exemplo, apresentou um aumento de 142,6% na taxa de detecção de Aids,
no mesmo período;
7ª - A região Centro-Oeste apresenta taxas com comportamento mais linear,
observando-se variação de média (positiva ou negativa) de menos de 1% nos anos
analisados. (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO HIV/AIDS, 2018, p. 12 e 13).
Sobre a distribuição proporcional dos casos de Aids, identificados de 1980 até junho
de 2018, o Boletim Epidemiológico HIV/Aids (2018, p. 12), aponta uma concentração em
todas as regiões do país, com o seguinte panorama:
 Sudeste e Sul, correspondendo cada qual a 51,8% e 20,0% do total de casos;
31

 Nordeste, Norte e Centro-Oeste correspondem a 15,8%, 6,4% e 6,1% do total dos


casos, respectivamente.
 Sendo que, nos últimos cinco anos (2013 a 2017), a região Norte apresentou uma
média de 4,4 mil casos ao ano; a região Nordeste, 9,0 mil; a região Sudeste, 16,1
mil; a região Sul, 8,2 mil; e a região Centro-Oeste, 2,9 mil.
Destacamos assim, na tabela abaixo, retirada do Boletim Epidemiológico HIV/Aids
(2018), a ilustração deste cenário.

TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DOS CASOS DE AIDS,


IDENTIFICADOS DE 1980 ATÉ JUNHO DE 2018.
(BRASIL, 1980-2018)

FONTE: Boletim Epidemiológico HIV/Aids – Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde


(2018, p. 39)
32

Sobre os progressos elencados, podemos destacar também, além do combate à


epidemia, alguns aspectos valiosos como, por exemplo, a combinação de dois
antirretrovirais, no tratamento da infecção, especialmente, no início da epidemia, como o
DDC + AZT16, proposta terapêutica precursora do coquetel, bem como, a decisão do
Conselho Federal de Medicina (CFM - Resolução nº 1.665, de 7 de maio de 2003), em
vetar a realização compulsória de exames HIV e em proibir que o médico revele a sorologia
positiva do HIV, sem autorização prévia da pessoa acometida pela mesma, salvo algumas
exceções éticas (CFM - Resolução no 1.359, de 11 de novembro de 1992).
A ampliação do número de pessoas em tratamento, conforme o Relatório de
Monitoramento Clínico do HIV17 - publicado em dezembro de 2017 - demonstra o avanço
do país no alcance do protocolo/metas 90-90-90, no período de 2012 a 2016. A 1ª meta:
pessoas vivendo com HIV diagnosticadas, aumentou em 18%, passando de 71%, em 2012,
para 84%, em 2016. A 2ª meta: pessoas com infecção pelo HIV recebendo terapia
antirretroviral, o relatório aponta que, nos primeiros seis meses de 2017, quase 35 mil
pessoas iniciaram terapia antirretroviral (TARV). E a 3ª meta: pessoas recebendo terapia
antirretroviral terem supressão viral, 91% atingiram supressão viral (carga viral abaixo de
1.000 cópias/ml., indicando sucesso no tratamento), nos primeiros seis meses de 2017. Essa
proporção é 6% acima da observada em 2012 (85%) e aponta que o país ultrapassou a meta
estabelecida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Este relatório revela ainda que, no primeiro semestre de 2017, até 30 junho, o
número de pessoas em TARV – terapia antirretroviral, somava mais de 517 mil pessoas em
tratamento, ultrapassando o crescimento observado entre 2015-2016. Além deste aumento
no número de pessoas em TARV, verifica-se também uma diminuição expressiva no tempo
entre o diagnóstico e o início do tratamento, caindo de 161 dias para 42 dias, em menos de

16
A oferta de ARV não era uma proposta inicial e resultou da pressão dos movimentos sociais, mas também
do campo médico e da mídia. [...] a partir da articulação entre militantes da Reforma Sanitária, foi elaborado o
projeto de lei que proporcionou uma situação diferenciada de acesso a ARV, impôs importantes
transformações no Espaço Aids e sepultou a possibilidade de uma política de controle da Aids sem acesso ou
com acesso restrito a ARV. “A Lei nº 9.313/1996 garantiu o acesso universal a medicamentos para o
tratamento da Aids, sepultando a possibilidade de implementação de uma política de controle da Aids no
Brasil apoiada unicamente na prevenção, seguindo as recomendações das agências internacionais para países
em desenvolvimento àquela época” (BARROS, 2017, p. 126). Ver:
http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v41nspe3/0103-1104-sdeb-41-spe3-0114.pdf.
17
O documento Relatório de Monitoramento Clínico do HIV reúne e analisa as informações dos principais
indicadores de monitoramento clínico, entre 2012 e 2016, atualizados até 30 de junho de 2017. O relatório
avalia as metas 90-90-90, ou seja, 90% das pessoas vivendo com HIV (PVHIV) diagnosticadas; 90% das
PVHIV diagnosticadas em terapia antirretroviral (TARV); e 90% das PVHIV diagnosticadas em TARV
(terapia antirretroviral) com supressão viral, até o ano de 2020. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017)
33

quatro anos, de 2014 a junho de 2017, respectivamente18.


No entanto, existe um grande desafio a ser superado e este relaciona-se a
vulnerabilidade da infecção entre os jovens. Na análise das metas 90-90-90, o referido
relatório apresentou uma estimativa preocupante, ou seja, apenas 56% das PVHIV de 18 a
24 anos diagnosticadas estavam fazendo uso do TARV, e destes, menos da metade
apresentavam supressão viral (carga viral menor que 200 cópias/ml.).
Outro desafio a ser enfrentado refere-se a adesão à TARV. O relatório aponta que
70% das pessoas vivendo com HIV, apresentavam adesão suficiente, porém, a taxa de
abandono ou de interrupção do tratamento, que é de 9%, se mantém praticamente constante
desde 2013.

Estamos aprimorando as ações programáticas, buscando a aceleração e


a qualificação da resposta brasileira ao HIV, com vistas ao alcance das
metas estabelecidas no planejamento estratégico do Departamento de
IST, HIV e Aids e Hepatites Virais”, explica a Dra. Adele Benzaken19,
diretora do departamento. [...] a publicação do relatório reforça ‘o
compromisso de transparência com a população brasileira,
especialmente com as pessoas que vivem com HIV e com os grupos de
populações-chave e prioritárias que são mais afetadas pela epidemia’.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Vale registrar que quando a pessoa tem uma boa adesão ao tratamento, ela consegue
atingir níveis de carga viral tão baixos que é praticamente nula a chance de transmitir o
vírus para outras pessoas. Além disso, quem toma o medicamento corretamente tem mais
chances de não adoecer das doenças oportunistas (que acometem as pessoas com imunidade
baixa) e garantir, assim, uma melhor qualidade de vida.
Registra-se também que o financiamento de toda a terapia antirretroviral distribuída
pelo SUS no Brasil, é garantido com recursos exclusivamente nacionais. Em 2017 foi

18
Esses dados subsidiam a resposta ao HIV no Brasil e são reconhecidos por seu rigor, como fonte de
informação no âmbito internacional. [...] a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu na Conferência
Internacional de Aids (IAS, 2017, em Paris), durante o lançamento do “Consolidated Guidelines on Person -
Centred HIV Patient Monitoring and Case Surveillance” (Diretrizes consolidadas sobre monitoramento de
pacientes e vigilância de casos de HIV centrados nas pessoas), que o Brasil é um dos poucos países do mundo
que tem conseguido utilizar as informações geradas por seus sistemas nacionais de informação em saúde para
fazer diferença na resposta ao HIV. Nessa publicação, inclusive, o Brasil foi citado como exemplo a ser
seguido. Ver: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/brasil-aumenta-diagnostico-e-tratamento-para-o-hiv-0.
19
Adele Benzaken médica sanitarista, foi exonerada da direção do Departamento de Vigilância, Prevenção e
Controle das ISTs, do HIV e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A decisão foi tomada, apesar de
inúmeras manifestações pela permanência da médica no cargo. A exoneração ocorreu em janeiro de 2019,
pelo então Presidente da República, Jair Bolsonaro. Assumiu a diretoria, seu adjunto, Gerson Pereira.
34

investido R$ 1,1 bilhão para aquisição de 37 apresentações dos medicamentos, segundo o


Ministério da Saúde (2017).
Porém, mais um grande desafio precisa ser enfrentado na luta contra a epidemia, ou
seja, o desafio de implementar a “Prevenção Combinada”. Trata-se da associação de
diferentes métodos de prevenção ao HIV, às IST e às hepatites virais (ao mesmo tempo ou
em sequência), conforme as características e o momento de vida de cada pessoa. Segundo o
Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis,
do Ministério da Saúde (2017), entre os métodos que podem ser combinados, estão:
 a testagem regular para o HIV, que pode ser realizada gratuitamente no Sistema
Único de Saúde (SUS);
 a prevenção da transmissão vertical (quando o vírus é transmitido para o bebê
durante a gravidez);
 o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais;
 a imunização para as hepatites A e B;
 programas de redução de danos para usuários de álcool e outras substâncias;
 profilaxia pré-exposição (PrEP)20;
 profilaxia pós-exposição (PEP)21;
 e o tratamento de pessoas que já vivem com HIV.
O Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente
Transmissíveis, vinculado ao Programa Nacional de IST/Aids e Hepatites Virais, do

20
A PrEP - Profilaxia Pré-Exposição ao HIV é um método de prevenção à infecção pelo HIV. Consiste na
tomada diária de um comprimido que impede que o vírus causador da Aids infecta o organismo, antes de a
pessoa ter contato com o vírus. A PrEP é, portanto, a combinação de dois medicamentos (tenofovir +
emtricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar o organismo. [...] o tratamento
começa a fazer efeito após 7 dias de uso, no caso de exposição por relação anal e 20 dias de uso para relação
vaginal. Esta terapia não protege outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (tais como sífilis, clamídia e
gonorreia) e, portanto, deve ser combinada com outras formas de prevenção, como a camisinha. A PrEP não é
para todos, esta é indicada para pessoas que tenham maior chance de entrar em contato com o HIV, como, as
populações-chave: Gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH); Pessoas trans e
Trabalhadores(as) do sexo. Ver: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/profilaxia-
pre-exposicao-prep.
21
A PEP - Profilaxia Pós-Exposição de Risco é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV,
hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Consiste no uso de medicamentos para
reduzir o risco de adquirir essas infecções e deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de
contágio, tais como: Violência sexual; Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com
rompimento da camisinha); Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com
material biológico). A PEP é uma tecnologia inserida no conjunto de estratégias da Prevenção Combinada,
cujo principal objetivo é ampliar as formas de intervenção para atender às necessidades e possibilidades de
cada pessoa e evitar novas infecções pelo HIV, hepatites virais e outras IST. Trata-se de uma urgência
médica, que deve ser iniciada o mais rápido possível - preferencialmente nas primeiras duas horas após a
exposição e no máximo em até 72 horas. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada
pela equipe de saúde. Ver: http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/pep-profilaxia-
pos-exposicao-ao-hiv.
35

Ministério da Saúde, idealizou, em 2017, uma “mandala” com as formas de prevenção ao


HIV, às IST e às Hepatites Virais, para veiculação entre profissionais da área e gestores,
com o objetivo de “assimilar o conceito de Prevenção Combinada do HIV, entendendo sua
diversidade e as várias possibilidades trazidas por esse modelo de prevenção – sem, no
entanto, ter a pretensão de esgotar o tema” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
A expectativa do Departamento de Doenças Crônicas é que “a publicação ajude a
consolidar a ideia das populações-chave e prioritárias e a importância de que as ações de
prevenção do HIV sejam endereçadas aos seus diferentes riscos e vulnerabilidades”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

FIGURA 2 – MANDALA DA PREVENÇÃO COMBINADA


(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017)

FONTE: Ministério da Saúde (http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/previna-se), 2017.

Em meio a esses avanços e desafios, segundo Kern (2005), ainda há uma


significativa desinformação no que tange a infecção do HIV, principalmente, no que se
36

refere à população de baixa renda e baixa escolaridade. Kern (2005), afirma que este tem
sido um grande desafio para todos os países, em especial, para os menos desenvolvidos
economicamente, e que dispõem de menos recursos para o desenvolvimento de políticas
públicas e de pesquisa. “Por isso, o UNAIDS propõe que se intensifiquem as campanhas na
luta contra a epidemia” (KERN, 2005, p. 21).
Para iniciarmos o segundo tópico deste trabalho, registramos que os processos de
dor, de medo, de discriminação, de preconceito, de estigma e de isolamento social, que
foram claramente observados no período de estágio obrigatório curricular no Programa
Municipal IST/Aids de Campos dos Goytacazes, RJ, estabelecem os desafios profissionais
que precisamos enfrentar cotidianamente e nos sinalizam para a urgência da compreensão
acerca das lutas sociais, em todos os tempos e em todos os sentidos, bem como, das
relações sociais que se constroem neste percurso.
A implementação dos Programas Municipais de combate ao HIV/Aids, trouxeram
grandes avanços no enfrentamento da epidemia e, por isso, é fundamental salientarmos que
hoje não se pode mais relacionar a doença somente ao desconhecimento da população
sobre as formas de transmissão, mas também às questões ligadas a desigualdade e aos
determinantes sociais, tais como, falta de educação, de moradia, de saúde integral, de
distribuição de renda, de emprego, entre outros determinantes relacionados às estruturas de
poder e dominação.
Neste sentido, o debate a seguir irá tratar de alguns aspectos relevantes sobre o
contexto do HIV, para além da questão biológica, tendo, por exemplo, os determinantes
sociais da saúde como subsídios que podem determinar o adoecimento da população
acometida pela sorologia do HIV, bem como, os processos de estigma e preconceito,
enraizados na sociedade e que impactam, negativamente, no cotidiano das pessoas que
vivem com HIV/Aids, a partir das observações oriundas do estágio supervisionado em
Serviço Social, realizado no Programa Municipal IST/Aids, de Campos dos Goytacazes,
RJ.

1.2. Determinantes Sociais de Saúde – DSS e os impactos do estigma e do preconceito


nas pessoas que vivem com HIV: uma análise a partir do Programa Municipal
IST/AIDS de Campos dos Goytacazes/RJ.
37

A experiência do Estágio Curricular Obrigatório, vivenciada no Programa


Municipal IST/Aids, de Campos dos Goytacazes/ RJ, no período de 2017. a 2018, nos
proporcionou algumas reflexões acerca dos impactos do estigma e do preconceito na saúde
das pessoas vivendo com HIV/AIDS, como questões significativas, que se relacionam, e
muito, com os Determinantes Sociais de Saúde – DSS.
Neste sentido, a análise que ora iniciaremos, tem como pano de fundo, as
observações advindas da implementação do Projeto de Intervenção, que gerou um artigo
científico22,como resultado final do projeto, bem como, dos registros nos diários de campo
construídos ao longo nesse estágio, na referida instituição e também, das contribuições do
trabalho realizado na disciplina de Pesquisa em Serviço Social.
Antes de adentrarmos nas considerações sobre estigma, preconceito e seus
rebatimentos, abordaremos o contexto teórico dos determinantes sociais, como base para as
análises subsequentes.
A análise dos Determinantes Sociais de Saúde – DSS, nos permite a compreensão
da saúde para além da doença física e biológica, que contribuem na redução das iniquidades
e desigualdades e, promovem o avanço na direção de políticas de saúde com mais equidade.
Sendo assim, para além do conceito epidemiológico da saúde é necessário, ainda,
compreender a determinação social da saúde, como um conceito mais ampliado e
politicamente construído, que envolve, segundo Nogueira “[...] caracterização da saúde e da
doença mediante fenômenos que são próprios dos modos de convivência do homem, um
ente que trabalha e desfruta da vida compartilhada com os outros, um ente político”
(NOGUEIRA, 2010, p. 8).

Uma primeira aproximação, aparentemente consensual, conceitua os


DSS como as condições nas quais as pessoas completam o seu ciclo
vital, incluindo aqui o sistema de saúde, além de fatores econômicos,
culturais, étnicos, psicológicos e comportamentais que influenciam
situações de morbidade e fatores de risco para a população. Contém
uma dimensão objetiva – vinculada às condições materiais necessárias

22
O artigo intitulado “Percepção e resultados referentes à Busca Ativa dos adolescentes portadores de
HIV/AIDS em abandono de tratamento no CDIP”, aborda o estudo realizado pelas estagiárias de Serviço
Social Júlia Siqueira, Márcia V. D’Almeida e Nilene Souza, no Programa Municipal IST/Aids - CDIP, em
Campos dos Goytacazes, no segundo semestre do ano de 2018, como exigência da disciplina de Estágio
Supervisionado em Serviço Social VI, a partir dos resultados do Projeto de Intervenção, que teve como objeto
a busca ativa dos adolescentes, portadores de HIV/AIDS em abandono de tratamento. Por meio deste projeto,
composto por pesquisa documental, sistematização dos dados, atualização dos prontuários, contato com os
usuários e reuniões mensais, foi possível realizar uma análise, pautada na teoria apresentada em sala de aula,
sobre os possíveis motivos que levariam os adolescentes a abandonarem o tratamento e, a partir disso, criar
ações de prevenção.
38

à vida e uma dimensão subjetiva – referida à interpretação e à forma


como as pessoas vivem e significam estes processos (NOGUEIRA,
2011, p. 55).

O consenso referente aos determinantes sociais de saúde23 foi construído, ao longo


da história, diante dos agravos decorrentes do processo saúde-doença e, neste percurso,
observa-se um progresso no que tange o desenvolvimento das ações voltadas para a saúde
da população, considerando que a condição de saúde está vinculada diretamente com a
condição de vida da população.
De acordo com BUSS (2007) a saúde dos indivíduos configura-se através de uma
produção social, considerando a estrutura que cada um vive em sociedade. Para entender as
complexidades da saúde é necessário conhecer os fatores sociais e compreender que essa
implicação vai além do biológico.

Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais de Saúde


(CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-
raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência
de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A
comissão homônima da Organização Mundial da Saúde (OMS) adota
uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições
sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Nancy Krieger (2001)
introduz um elemento de intervenção, ao defini-los como os fatores e
mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e
que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em
informação. Tarlov (1996) propõe, finalmente, uma definição bastante
sintética, ao entendê-los como as características sociais dentro das
quais a vida transcorre. (BUSS, 2007, p. 78).

Diante disso, o foco desse tópico, é também, debater o adoecimento, enquanto


expressão dos determinantes sociais de saúde, e como esses determinantes corroboram para
os agravos da síndrome do HIV/AIDS, quando não são considerados numa perspectiva de
“saúde, dignidade e prevenção positivos”24. Podemos, assim, verificar nas revisões de

23
Os determinantes sociais de saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde como as condições em
que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. Essas circunstâncias (que incluem o
sistema de saúde) são moldadas pela distribuição de dinheiro, poder e recursos nos âmbitos global, nacional e
local e, por sua vez, esses fatores são influenciados pelas escolhas de políticas. (UNAIDS, 2017, p. 11)
24
O termo “saúde, dignidade e prevenção positivos” situa políticas e programas de HIV dentro de uma
perspectiva de direitos humanos na qual a prevenção da transmissão do HIV é vista como uma
responsabilidade compartilhada de todos os indivíduos, independentemente de sua sorologia para o HIV. O
termo foi cunhado em abril de 2009, durante uma reunião internacional organizada pela Global Network of
People Living with HIV/AIDS - GNP+ (Rede Global de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS) e o UNAIDS.
39

literatura, que o conflito entre saúde pública, saber médico e os enfoques biológicos e
sociais do processo saúde-doença sempre estiveram no centro do debate sobre a
configuração desse novo campo de conhecimento, de prática e de educação (BUSS, 2007,
p. 79).
Dessa forma, é fundamental compreendermos que cada indivíduo ou grupo
apresenta um estilo de vida peculiar ligados às origens biológicas, mas também, as
condições materiais sociais, que se constituem no universo das relações sociais. Diante
disso, é de suma importância entendermos que os agravos que permeiam a saúde e afetam
os indivíduos estão diretamente ligados aos determinantes sociais que são construídos
socialmente. Sendo assim, faz-se necessário identificá-los para traçar metas e ações de
intervenção mais apropriadas e resolutivas.
Pode-se constatar que o sistema de saúde no Brasil vem passando por constantes
mudanças ao longo dos anos. Fica claro, que o conhecimento e as práticas acerca da saúde
pública têm sido manifesta de forma mais consistente em épocas mais recentes. De fato, a
saúde é reconhecida com um campo de saberes cujos compromissos sociais são vistos a
partir das reais condições de saúde, evidenciadas através do adoecimento da população e
seus respectivos determinantes (BUSS, 2008, p. 33).
Como bem nos assegura Castellanos (1998), a saúde e a doença consistem em
processos inerentes à vida. Para tanto, observa-se que em cada momento histórico a
sociedade reflete um modo de vida correspondente, ou seja, isso é natural, todos os
processos que configuram a identidade das pessoas, perpassam pelos espaços da vida
cotidiana da sociedade. De forma sucinta, de acordo com BUSS (2007) determinantes
sociais de saúde (DSS) apresentam-se, com maior ou menor nível de detalhe nos dias atuais
e é visto, de forma hegemônica, que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de
grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde.
Apesar da facilidade da visualização gráfica dos DSS, na figura abaixo, e sua
distribuição em camadas, segundo seu nível de abrangência, o modelo não pretende
explicar com detalhes as relações e mediações entre os diversos níveis e a gênese das
iniquidades, mas ilustrar essas relações e mediações, para melhor percebê-las nos contextos
reais da vida em sociedade (BUSS, 2007, p. 83).

Objetiva substituir termos como “prevenção positiva” ou “prevenção por e para positivos”, a fim de evitar a
desumanização das pessoas por meio de rótulos. Englobando estratégias que visam proteger a saúde sexual e
reprodutiva e retardar a evolução da infecção pelo HIV, o termo inclui a promoção da saúde, acesso a serviços
de HIV e saúde sexual e reprodutiva, participação comunitária, advocacy e mudanças de políticas (UNAIDS,
2017, p. 21).
40

FIGURA 3 - DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE


(MODELO DE DAHLGREN E WHITEHEAD)

FONTE: BUSS; PELLEGRINI (2004, p. 83)

Como bem podemos observar na figura dos determinantes sociais, as pessoas estão
no centro do modelo, com suas particularidades de idade, sexo e fatores genéticos. Esses
fatores são condicionantes que influencia diretamente a saúde da população. Sob essa ótica
podemos observar a estreita relação entre a comunidade e a saúde.

Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os


estilos de vida individuais. Esta camada está situada no limiar entre os
fatores individuais e os DSS, já que os comportamentos, muitas vezes
entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes
de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas, na realidade podem
também ser considerados parte dos DSS, já que essas opções estão
fortemente condicionadas por determinantes sociais - como
informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a
alimentos saudáveis e espaços de lazer, etc. (BUSS, 2007, p. 83).

De maneira sucinta, a camada que destaca as condições socioeconômicas, culturais


e ambientais, expressa fortes aspectos ligados aos determinantes sociais da saúde,
reconhecendo que a saúde das pessoas está ligada diretamente às condições humanas de
41

vida, trabalho, entre outros contingentes. Nessa lógica, subentende-se que a herança
genética e a idade são permeadas por desigualdades toleráveis, ou seja, a saúde dos grupos
é distinta e nunca igual, exemplo disso, são as condições de saúde dos adolescentes que
diferem das condições de saúde dos adultos.
Outro aspecto importante a ser evidenciado são as condições de vida e trabalho
desses grupos. Ao passar dos anos podemos compreender que a saúde é determinada
socialmente. Isto nos remete que essas determinações são produtos das condições humana e
as condições de saúde não são iguais para todos, uns adoecem mais rápido e outros de
forma mais lenta.
Vale destacar também, de acordo com Buss (2007), que os DSS implicam em três
bases: a primeira é a intersetorialidade, considerando que a saúde está intimamente ligada
com as questões que envolvem a educação, a moradia, entres outros determinantes. A
segunda consiste na efetividade da participação social, no qual os indivíduos precisam
lutar pelos seus direitos, apoiando políticas que visam contribuir para mudanças nesse
cenário. A terceira é a informação sobre as redes de apoio, que são de suma importância,
pois é preciso conhecer a realidade da população para agir sobre os determinantes sociais
que a permeia.
Neste sentido, este tópico consiste em trazer, também, dados e informações do
trabalho realizado na disciplina de Pesquisa em Serviço Social e na experiência do Estágio
Supervisionado em Serviço Social. Para tanto, partiremos da discussão acerca da análise da
determinação social do “perfil dos usuários e suas patologias”, ressaltando as demandas
apresentadas pelos usuários, no Programa Municipal IST/AIDS, de Campos dos
Goytacazes, RJ - Centro de Doenças Infecciosas e Parasitárias (CDIP).
Ao analisarmos os dados do estudo, realizado através dos prontuários e do sumário
social25, identificamos que o CDIP atende mulheres e homens na mesma proporção e, na
faixa etária entre 30 a 40 anos.
O estudo apontou, também, um baixo nível de escolaridade, predominando o ensino
fundamental incompleto e, destes, 90% não realizaram nenhum curso profissionalizante e,
somente 10% dos usuários fizeram um curso profissionalizante.

25
Sumário Social é um resumo que abarca os aspectos da vida social e socioeconômica no que tange às
pessoas vivendo com HIV no CDIP. Esse documento foi elaborado pela equipe de Serviço Social do
Programa.
42

Este mostra ainda que, 80% dos usuários moram com os pais em domicílio próprio
e os 20% restante moram de aluguel. Suas necessidades básicas são supridas através do
Programa Bolsa Família e com ajuda de custo de seus familiares, amigos e igrejas.
A doença, por ser assintomática, até evoluir para AIDS, provoca a perda de peso,
sudorese noturna e infecções recorrentes, o que inviabiliza e fomenta a condição de
desemprego ou subemprego. O estudo realizado através dos prontuários mostra, ainda, que
100% dos usuários encontram-se desempregados.
Nessa conjuntura o desemprego associado a outros determinantes sociais também
afeta a saúde física e mental dos usuários. Dos prontuários analisados, observa-se que 90%
dos usuários do CDIP fazem tratamento com psicólogo por questões vinculadas ao
estigma, preconceito, ansiedade e depressão. A probabilidade de depressão em pessoas
infectadas é maior do que na população em geral, porém, lidar com o diagnóstico e com o
preconceito do HIV/AIDS não é uma tarefa fácil. Vivemos em um cenário que o desafio é
conviver com a doença. Por não conseguirem se inserir no mercado de trabalho, até mesmo
pelas doenças oportunistas, que aparecem em decorrência da infecção pelo vírus HIV, estes
se sentem fragilizados e excluídos socialmente.
Em uma realidade onde desigualdade social é estrutural, esses sujeitos não têm
conseguido garantir condições básicas de sobrevivência, como uma alimentação saudável,
moradia adequada, transporte, lazer, dentre outros.
Para Nogueira (2013), a perspectiva da determinação social da saúde sustenta-se nas
categorias trabalho e reprodução social da vida. As condições naturais, ambientais e
biológicas aparecem subordinadas a essas categorias, que fundam e estruturam as
necessidades em saúde. O pressuposto filosófico implícito é que as dimensões biológicas e
ambientais da vida humana estão “subsumidas” às características de cada sociedade, em seu
desenvolvimento histórico. A partir deste pensamento, compreende-se que as condições
sociais, viabilizadoras de saúde ou de doença, devem ser interpretadas, incorporando-se
numa multiplicidade de determinações – a síntese de múltiplas determinações, ou seja, “de
atribuições conceituais que, combinadas adequadamente, permitem transformar a ideia
abstrata da saúde em algo que expressa, antes de tudo, as condições concretas de trabalho e
de reprodução da vida” (CEBES, 2009, p. 58).
Esta acepção é central, pois afasta qualquer possibilidade de adesão às perspectivas
que abordam os DSS de forma abstrata, sem uma teoria explicativa acerca da sociedade e
43

sua forma de produção e reprodução social, adensando com formulações sobre relações
entre saúde, sociedade, economia, democracia e políticas públicas.
O estudo dos documentos, tais como, prontuários e sumário social do Programa
supracitado, mostra ainda que 100% dos usuários do CDIP já recorreram ao Benefício de
Prestação Continuada (BPC), porém, em alguns casos, estes foram negados. Esse benefício
representa a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa incapacitada para vida
independente e para o trabalho e independe de contribuições para a Previdência Social. Para
adquiri-lo, o usuário deve dirigir-se ao INSS - Perícia Médica do INSS - ou a equipe
multiprofissional do Sistema Único de Saúde - SUS, com o laudo do médico, descrevendo
a situação de saúde/doença.
O convívio com a dor (psíquica e social), além das sérias dificuldades financeiras
impostas pela incapacidade para o trabalho, pelo desemprego e pela dificuldade de acesso
aos benefícios previdenciários, mesmo quando se tem direito a estes, leva o indivíduo a
sentimentos de fracasso, irrealização, inutilidade e frustrações. Para tanto, no conjunto da
demanda para as políticas sociais públicas, sobretudo, para as que compõem a Seguridade
Social (Assistência Social, Previdência e Saúde), passam diariamente uma legião de
trabalhadores desempregados, subempregados e, em grande medida, esgotados na sua
capacidade para o trabalho. Eis aí um grande desafio para a luta coletiva dos/as Assistentes
Sociais e dos demais trabalhadores brasileiros.
O estudo mostra também, que além do HIV, o agravamento do processo de
adoecimento dos usuários é reflexo das expressões da questão social, que contribui e
coopera para o processo de deterioração da vida cotidiana dos pesquisados.
Os sintomas da infecção mais recorrentes provocados pelo vírus HIV variam em
suas formas, sendo de brandas a intensas tais como: febre, faringite manchas avermelhadas,
dores musculares, cefaleia, aumento de línguas, fadiga, insônia e diarreia. Esses sintomas
consistem na perda progressiva da função do sistema imune levando, no final, às infecções
oportunistas e às neoplasias. O HIV é o vírus e a AIDS é a doença. O tempo de progressão
da doença da infecção inicial ao desenvolvimento da AIDS é de aproximadamente 10 anos.
As principais infecções apresentadas nos prontuários analisados são denominadas
infecções oportunistas, onde 80% tiveram tuberculose e pneumonia; 20% candidíase e
10% herpes zoster, mesmo durante o tratamento. A tuberculose é certamente uma das
infecções mais comuns no curso da infecção pelo HIV.
44

De acordo com Hopewell (1995) as pneumonias bacterianas, principalmente, a


pneumocócica, são manifestações clínicas precoces em indivíduos com HIV. A tuberculose
quando presente em fases mais avançadas da infecção pelo HIV, frequentemente, é
disseminada e alguns pesquisadores reportaram uma clara associação entre baixas
contagens de CD4 e a elevada frequência de tuberculose extrapulmonar, que se apresentam
como linfadenites, meningites, abscessos, tuberculosas e ainda, tuberculose gástrica,
peritonite e de outras localizações. “O herpes simples e o herpes zoster são as mais
frequentes. Molusco contagioso e verrugas venéreas são comuns e severos quando as
contagens de CD4 são inferiores a 250 celsa/mm3” (COCKRELL E FRIEDMAN-KIEN,
1994 apud DHALIA, 1998, p. 33).
De acordo com Saag (1994):

[...] Observa-se, contudo, uma grande variabilidade nessa evolução que


depende tanto de fatores virais quanto de fatores ligados ao
hospedeiro, sendo significativamente alterada por intervenções
terapêuticas e profiláticas. Por isso, é difícil predizer qual será o curso
clínico de um paciente, embora o risco relativo de desenvolvimento de
doenças oportunistas possa ser estimado baseado nas contagens de
CD4. (SAAG, 1994 apud DHALIA, 1998, p. 26)

Para Carpenter (1996), os mais recentes avanços no conhecimento da infecção pelo


HIV e seu tratamento vêm garantindo uma sobrevida maior e com maior qualidade para os
indivíduos infectados. Esses avanços repousam em quatro bases principais: maior
conhecimento sobre a replicação do HIV nos diferentes estágios da doença;
desenvolvimento de testes para determinar a carga viral; disponibilidade de inúmeras novas
drogas efetivas e a demonstração de que combinações terapêuticas são mais efetivas do que
a monoterapia (uso de uma só orientação terapêutica).
Através da contextualização apresentada neste trabalho, podemos verificar que os
sujeitos acometidos pelo HIV e em tratamento no CDIP, por exemplo, enfrentam processos
agudizados de adoecimento, pelos determinantes sociais ausentes, fomentando, assim, o
agravamento do estado de saúde. Ou seja, compreendemos que o cotidiano e as condições
de vida cooperam e influenciam na determinação da saúde dos indivíduos.
Percebemos, portanto, que as condições de vida, tais como, trabalho, educação e
habitação possuem grande influência na qualidade de vida dos sujeitos e que, na sua
ausência, cooperam para o agravamento do processo de adoecimento dos indivíduos. Além
45

dessas questões objetivas, é importante destacar que estes enfrentam outros desafios
subjetivos como, vencer o estigma, o preconceito e o medo, provocados pela doença, na
perspectiva de superar as limitações apresentadas pelo vírus HIV, respeitando o tempo do
tratamento para alcançarem uma vida de qualidade.
Diante disso, falar de determinante social da saúde remete-nos a refletir sobre esses
determinantes, como expressões da questão social, tendo em vista que os mesmos
encontram-se no campo das questões sociais e políticas contemporâneas. É imprescindível
ressaltar as expressões da questão social, como objeto de trabalho do Assistente Social e,
compreender, o preconceito, o medo, a rejeição e a discriminação contra as pessoas que
vivem com HIV -, como um determinante social da saúde que precisa ser enfrentado,
considerando que a atuação profissional consiste em práticas interventivas que tenham
como finalidade a defesa dos direitos humanos.

Os determinantes sociais de saúde são responsáveis principalmente por


iniquidades de saúde, as diferenças injustas e evitáveis nas condições
de saúde vistas dentro (e entre) os países. É uma prática comum na
saúde pública utilizar este termo como um conceito guarda-chuva que
incorpora não somente fatores sociais que influenciam a saúde, como
também fatores econômicos, culturais ou ambientais (incluindo
aqueles codificados na forma de leis e políticas) bem como aqueles
operando por meio de normas comunitárias. (UNAIDS, 2017, p. 11).

A contribuição do discurso atual, acerca dos determinantes sociais da saúde,


envereda-se na profissão, a partir de sua relação com as três dimensões do Serviço Social,
ou seja, a dimensão teórico-metodológica, a ético-política e a técnico-operativa
(NOGUEIRA, 2011, p. 62). Para tanto, cabe aos acadêmicos e profissionais de Serviço
Social, a responsabilidade de refletir, a partir de uma leitura crítica da realidade, sobre a
necessidade social das pessoas que vivem com HIV/Aids, articulando, sempre que possível,
políticas sociais que fomentem a inclusão social dessa população estigmatizada.
Neste sentido, não podemos negar a importância de problematizarmos o estigma e o
preconceito como determinantes sociais da saúde, tendo em vista que esses podem “matar”
mais que a própria doença. Segundo o UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS) o estigma26, o preconceito e a discriminação, são vistos como um dos

26
O termo estigma vem da palavra grega que significa marca ou mancha, e se refere a crenças e/ou atitudes.
O estigma pode ser descrito como um processo dinâmico de desvalorização que deprecia significativamente
46

principais desafios da prevenção e dos demais cuidados em relação ao tratamento e


enfrentamento da epidemia do HIV.
De acordo com Monteiro (2013), o estigma consiste em uma condição negativa sob
a ótica de um viés depreciativo, deixando os sujeitos vulneráveis ao sentimento de
inferioridade. Desta forma, o estigma é visto como mola precursora que vêm, cada vez
mais, restringindo o acesso às políticas que visam garantir os direitos no que se refere à
cidadania das pessoas acometidas pelo HIV.
Kern (2005) enfatiza que é preciso ter um olhar mais humanizado em defesa da
pessoa fragilizada, que perscruta sua subjetividade, buscando no seu íntimo, sentimentos de
medo, discriminação, medo e culpabilização por estar acometido pelo vírus ou pelo próprio
sentimento de estigma, por pensar que não é mais como as outras pessoas consideradas
“normais” pela sociedade. Desta forma, a pessoa nesta situação, perde a autoestima por
sofrer o estigma da síndrome.

O estigmatizado e o normal são parte um do outro; se alguém pode se


mostrar vulnerável, outros também o podem. Porque ao imputar
identidades aos indivíduos, desacreditáveis ou não, o conjunto social
mais amplo e seus habitantes, de certa forma, se comprometeram,
mostrando-se como tolos. (GOFFMAN, 2004, p. 115).

Essa realidade continua fortemente internalizada e presente no conviver das pessoas


acometidas pela sorologia. Sob essa ótica, não se pode negar a importância de
problematizar o conceito “estigma” e discutir suas consequências na vida das pessoas que
vivem com HIV/Aids. Torna-se pertinente a urgência e a compreensão desse debate, a fim
de promover ações propositivas e articular alternativas, tendo como mola precursora, no
Serviço Social, o Código de Ética que enfatiza o “empenho na eliminação de todas as
formas de preconceito e discriminação, incentivando o respeito à diversidade, a
participação de grupos socialmente discriminados e a discussão das diferenças”
(CFESS,2012, p.23).
Segundo Kern (2005) o preconceito e a desinformação tem sido mola precursora
para o avanço do isolamento social dos acometidos pela sorologia. Para tanto, faz-se

um indivíduo na opinião de outros. Por exemplo, dentro de determinadas culturas ou contextos, certos
atributos são definidos por outrem como sendo vergonhosos ou impróprios. Quando o estigma é colocado em
prática, o resultado é a discriminação. A discriminação é qualquer tipo de distinção, exclusão ou restrição
arbitrária que afeta uma pessoa, geralmente (mas não exclusivamente) em virtude de uma característica
pessoal. (UNAIDS, 2015, s/p.)
47

necessário a presença do Estado, no que tange o desenvolvimento de garantias de direitos


da população fragilizada pela epidemia. Diante dessas questões cabe ressaltar a importância
da implementação de políticas públicas e ações eficazes, em conjunto com redes de apoio, a
fim de garantir os direitos sociais, promovendo estratégias de educação em saúde voltadas,
por exemplo, para a importância do tratamento, bem como, para a reinserção dessas pessoas
nas dimensões da vida social.
Segundo o UNAIDS a “discriminação é qualquer tipo de distinção, exclusão ou
restrição arbitrária que afeta uma pessoa, geralmente, mas não exclusivamente, em virtude
de uma característica pessoal” (UNAIDS, 2017, p. 14).
O estigma e a discriminação tem sido alvo de estudos e pesquisas há décadas, pois a
sua natureza tem se apresentado crescente ao longo dos anos. Esses determinantes
reconhecidos como processos sociais, têm corroborado para agravos relacionados à saúde
das pessoas vivendo com HIV.
Nesse sentido, é pertinente, de acordo com a observação e participação dos
atendimentos no CDIP, ressaltar o que o autor Monteiro (2013, p. 26) afirma sobre a
necessidade de avançar nessa batalha a partir de um novo viés conceitual que fomente as
ações e implementações de novas atividades destinadas a uma maior mobilização social e,
que promova resiliência não somente individual, mas coletiva, acerca do estigma e o
preconceito.
Em meio a tantos relatos de medo, de preconceito e de sofrimento, elencados nos
atendimentos no CDIP, podemos observar que estes são vistos como pontos chave no que
se remete aos agravos da saúde. Em Priori, por exemplo, no contexto da saúde emocional,
pode-se constatar a presença de determinantes sociais que assolam os pacientes e
familiares, deixando-os em um estado de fragilidade e, sob essa ótica, podemos
compreender que medo, estigma, preconceito e discriminação causam danos, não apenas
por seus efeitos, mas como parte do processo de exclusão social que fomenta a negação ao
acesso à saúde e coopera para os demais agravos a saúde dos mesmos.
Segundo Monteiro (2013) dar ênfase e se aprofundar nessas questões acerca do
estigma e do preconceito exige do indivíduo um posicionamento político, o que muitas
vezes remete a uma ameaça aos preceitos científicos, pois, em alguns aspectos, a
perspectiva do sofrimento é mais aceita do que o próprio fenômeno da sorologia.
Portanto, o desafio profissional, tanto para o Assistente Social, como para os demais
profissionais que lidam com essa temática, está em estabelecer a relação teoria-prática,
48

enfrentando os embates que poderão transformar esses processos que produzem estigma e
preconceito e que se colocam como um dos maiores inimigos da saúde das pessoas que são
acometidas pela sorologia do HIV na contemporaneidade.
No processo de compreender e reconhecer os impactos do estigma e preconceito na
vida das pessoas vivendo com HIV/AIDS, no CDIP de Campos dos Goytacazes, traremos
também, nossas análises a partir dos resultados do Projeto de Intervenção, como
mencionado anteriormente, na perspectiva de uma percepção sobre o abandono de
tratamento dos adolescentes portadores de HIV/AIDS nesta instituição.
Essa atividade se deu por meio de pesquisa documental, sistematização dos dados,
atualização dos prontuários, contato com os usuários, busca ativa e reuniões mensais, de
agosto a novembro de 2018, sendo possível realizar uma análise sobre os possíveis motivos
que levariam o adolescente a abandonar o tratamento, apesar das intervenções profissionais
de vários saberes para evitar esse processo.
Iniciamos a implementação do Projeto de Intervenção com a “busca ativa” dos
usuários jovens do CDIP, com o objetivo de se alcançar uma melhor adesão, dos mesmos,
ao tratamento. Primeiramente, foi organizada uma planilha com as etapas necessárias a
serem cumpridas no projeto, na qual, foi estabelecido, previamente, quando seriam feitas as
ligações e as reuniões do Grupo Jovem Protagonista27.
A busca ativa, foi realizada pelas estagiárias anteriormente supracitada em
consonância com as Assistentes Sociais e supervisores de campo, do CDIP, no sentido, não
só de programar a implementação do projeto na instituição, como também, de buscar
soluções para questões que porventura se apresentassem ao longo do planejamento e
execução do mesmo. Vale ressaltar que o estágio se constituiu em um importante
canalizador de conhecimento e de integração do aluno com a realidade social dos sujeitos
acompanhados no CDIP.
Para atender as necessidades do projeto, foram feitos levantamentos nos prontuários
dos pacientes, dentro da faixa etária estabelecida, de 14 a 21 anos, no total de 78
prontuários. A partir desses levantamentos, construímos uma lista com os nomes dos
usuários jovens, faltosos ao tratamento, juntamente com o telefone correspondente, para
estabelecer contato com o usuário. Nessa coleta de dados, o objetivo foi anotar o número de
prontuário de cada usuário, seu nome e telefone de contato, além de consultar as

27
Grupo Jovem Protagonista é um grupo de jovens e adolescente que tem como finalidade manter diálogo de
forma clara e educativa promovendo aos mesmos, momentos propícios para troca de experiências, bem como,
contribuir para melhor adesão do tratamento.
49

informações sobre sua situação social e econômica e a frequência na instituição no período


de 2017, como também, realizar uma análise sobre a entrada no CDIP, além de verificar
como se desenvolveu o tratamento e como está a situação sorológica atual, dando atenção
para àqueles que apresentassem problemas de adesão. Foram realizadas as ligações para os
adolescentes ou seus responsáveis e os encontros foram realizados uma vez a cada mês,
durante três meses.
Criamos um cartaz com informações sobre as datas das reuniões, marcadas para
cada mês, para ser espalhado na instituição em três pontos estratégicos: na sala do Serviço
Social e nas duas salas de espera. Além disso, foram produzidos panfletos informativos
sobre o grupo para que fossem distribuídos aos usuários pelas estagiárias de Serviço Social
e pela recepção. Para tanto, solicitamos na farmácia do CDIP, a listagem de retirada de
medicamentos no último mês de referência no projeto, ou seja, em novembro e, a partir
dessa lista, realizamos um levantamento sobre a quantidade de pacientes que foram retirar
os remédios e os que estavam em abandono, dando atenção para sua faixa etária.
A partir do levantamento dos dados obtidos através de prontuários, nos propusemos,
com a busca ativa, localizar os 21 (vinte um) usuários, como demonstra o gráfico abaixo.

GRÁFICO 2 - RESULTADO DA BUSCA ATIVA DE ADOLESCENTES EM


ABANDONO DE TRATAMENTO NO CDIP (2018)

FONTE: Da autora (2018).


50

Conseguimos contato com os adolescentes de 14 anos a 17 anos, porém, não


obtivemos muito êxito no processo de retorno ao CDIP. Já os jovens de 19 anos a 21 anos,
verificamos que alguns se encontravam casados e os parceiros não aceitavam a
continuidade do tratamento, por temerem o preconceito e a discriminação de amigos,
familiares e outros. Esses nomes foram encaminhados para a Assistente Social da
instituição, para realização de visitas domiciliares, com o objetivo de reverter a situação
posta. Não foi possível acompanhar as visitas, em virtude do término do estágio
supervisionado no CDIP.
No estudo de Kourrouski e Lima (2009), grande parte das dificuldades de adesão ao
tratamento antirretroviral entre adolescente e jovem está relacionada à experiência de
estigma e preconceito no contexto do tratamento.
Frente aos objetivos propostos no Projeto de Intervenção, no que tange a busca ativa
e ao reinício do Grupo Jovens Protagonistas, para a adesão ao tratamento, percebemos que
os objetivos sobre a busca ativa foram alcançados. Porém, no que se refere ao grupo
supracitado, os objetivos propostos não obtiveram tanto êxito. Um número de adolescente,
bem reduzido, aderiram à participação aos encontros do grupo. As técnicas utilizadas nos
encontros tais como: observação, histórias de vida, diálogo, debates, a partir das dinâmicas,
dentre outras, foram, sem dúvida, muito importantes para a resistência coletiva.
Alguns ajustes foram discutidos com o supervisor de campo, quanto ao horário da
realização do Grupo, devido à pouca flexibilidade no que tange aos horários dos pais para
conduzi-los ao programa, devido, geralmente, as atividades laborais destes, questões que
foram colocadas no contato com os responsáveis.
No que se refere às estratégias alcançadas na implementação do Projeto de
Intervenção, podemos destacar que a elaboração dos convites, a realização de oficinas, os
folhetos espalhados em pontos estratégicos no CDIP, serviram para promover junto aos
adolescentes um diálogo aberto, de forma clara e pedagógica, tendo como finalidade, nesse
espaço, propiciar a troca de experiências e as informações acerca da saúde, bem como,
fomentar, consequentemente, a melhora da adesão ao tratamento.
E, sobre as estratégias não alcançadas, podemos destacar o número reduzido que
ainda perpassa esse grupo de apoio, tendo em vista que esses adolescentes têm uma imensa
dificuldade de socialização, nesse espaço, o que dificultou as realizações de algumas
atividades que tínhamos elaborado. No entanto, é válido ressaltar que é nesse espaço de
51

diálogo que conhecermos, um pouco mais, as necessidades individuais e coletivas desses


adolescentes.
Observamos neste período de implementação do Projeto de Intervenção que, mesmo
reconhecendo que esses adolescentes convivem diariamente em diferentes grupos e espaços
coletivos, os mesmos apresentam grandes dificuldades de socialização, por medo do
preconceito, da vergonha do diagnóstico de HIV, da timidez característica da idade, do
medo de rejeição e, preferem ficar afastados desse espaço que traz à sua memória, a
reafirmação do diagnóstico, do processo difícil e doloroso revelado a partir dos quatorze
anos, por exemplo, pela equipe de psicólogos do programa e, muitas vezes, não aceito por
muitos deles.
Sobre essa ótica, estar nesses espaços para eles é a reafirmação de tensões e
mudanças frente a uma realidade a qual ainda há muita visibilidade no que tange ao
preconceito da sociedade sobre a temática do HIV, nos espaços coletivos.
Acreditamos, assim, que o maior desafio é trabalhar na socialização dos
adolescentes nos espaços de reafirmação do diagnóstico. Observamos, sobretudo, pouca
motivação e participação dos responsáveis, no que tange ao processo de socialização, visto
que faz se necessário uma maior intervenção dos pais. Ficou evidente, a necessidade de um
trabalho com esses familiares, mostrando a importância do grupo como um processo de
socialização de pais e filhos.
É de primordial importância também, pensarmos nas possibilidades de integração
desses adolescentes e jovens como protagonistas desse grupo, no que tange às
oportunidades de conhecimento dos seus respectivos direitos, das trocas de ideias, bem
como, a efetivação da eficácia do tratamento, trazendo para os mesmos, a visibilidade do
grupo ou, até mesmo, a criação de uma nova identidade para o grupo, a partir da sugestão
deles.
Para que a atuação do Assistente Social seja realizada em sua totalidade verificamos
ao longo desse projeto o quanto se faz importante a articulação com os outros profissionais
da instituição. Este profissional sozinho não é capaz de atuar frente a complexidade da
questão e da sua rotina de trabalho, que não lhe permite o tempo necessário para a prática
de suas ações na totalidade.
O trabalho em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da atenção em saúde
nesses espaços, contribui para que a prática profissional alcance a completude das
52

demandas trazidas pelos usuários para decifrar as particularidades da questão social, uma
vez que dentro desses espaços cada profissional não atua de forma isolada.
Neste sentido, esse trabalho foi feito em conjunto com os diferentes setores do
CDIP, da equipe técnica até a recepção, nos auxiliando na busca ativa e entregando
convites aos responsáveis dos adolescentes. Nos dias de encontros, solicitamos a
participação da médica responsável, durante as consultas, convidando os adolescentes para
as reuniões do Grupo.
Reconhecemos, no entanto, que para a continuidade do Projeto, será necessário
ainda mais estreitamento de laços com a equipe técnica e com a Coordenação do Programa,
para que, em conjunto, tendo conhecimento da importância dessa intervenção, possamos
alcançar mais adolescentes inseridos e não aderidos ao tratamento.
Reuniões mensais entre as Assistentes Sociais e a equipe técnica é um passo que se
faz necessário na instituição, para não somente reafirmar a importância do Serviço Social
nesse contexto, mas para se fazer perceber, pela equipe, que as questões de saúde versus
doença vão além da relação médico e paciente.
É notório que a síndrome do HIV põe em fragilidade os indivíduos e, por isso,
certamente os apavora causando o isolamento e a exclusão. Os depoimentos nos
atendimentos no CDIP, nos mostraram que os mesmos têm vivido a constante luta pela
superação do preconceito. As experiências discriminatórias podem afetar a saúde por meio
de três mecanismos:
1. Em primeiro lugar, as experiências discriminatórias podem ter efeito direto sobre a
saúde, ocasionando a manifestação de condições de saúde mental adversa como, por
exemplo, sintomas depressivos, ansiedade e diminuição de bem-estar subjetivo,
entre outras. Os estados de saúde mental negativos constituem por si só, desfechos
adversos de saúde, que também podem contribuir para piores condições físicas de
saúde;
2. Além disso, os efeitos patológicos da discriminação podem ser igualmente
mediados por alterações psicofisiológicas que provocam, entre as quais, a
manifestação de estado emocional negativo, aumento e maior variabilidade da
frequência cardíaca e a produção crônica de hormônio envolvido na resposta ao
estresse;
3. Finalmente, as experiências discriminatórias podem influenciar os comportamentos
relacionados à saúde. Neste caso, a discriminação faz com que os indivíduos adotem
53

comportamentos não saudáveis ou reduzem sua participação em atividades que


geram comportamentos benefícios para a saúde. (MONTEIRO, 2013, p. 120).
No caso do segundo mecanismo enunciado, o estresse provocado pelas experiências
discriminatórias poderia resultar em envelhecimento celular precoce, contribuindo para o
desgaste físico do corpo e do sistema biológico (WILLIAMS MOHAMMED, 2009).
Com relação ao terceiro mecanismo, os comportamentos adversos para a saúde
poderiam ser manifestos como estratégia de enfrentamento das experiências
discriminatórias, segundo Monteiro (2013). As experiências discriminatórias têm sido
compreendidas como fatores que aumentam a sobrecarga do organismo humano, tendo em
vista que configuram eventos estressores de caráter repetitivo ou crônico (GREEN,
DARITY, 2010).
Portanto, para enfrentar os efeitos adversos relacionados às experiências trilhadas
por estigma, preconceito e discriminação é necessário apoio social, diálogo com a família e
amigos para minimizar esses efeitos.
Diante dos dados apresentados neste capítulo e, especialmente, neste subtópico,
conclui-se que os determinantes sociais da saúde retratam aspectos fundamentais que estão
interligados na forma como esses sujeitos vivem, se relacionam e se comportam na
sociedade. Nessa conjuntura, destacam-se as condições ambientais, sociais, econômicas e
culturais que também são expressões da questão social e que contribuem, diretamente, no
agravamento do processo saúde-doença desse usuário acometido pelo vírus HIV.
A saúde é um direito fundamental garantido por lei e, neste contexto, concluímos
também, que o trabalho realizado na disciplina de Pesquisa em Serviço Social - como
mencionado anteriormente -, bem como as análises advindas da implementação do Projeto
de Intervenção, nos trouxeram informações relevantes no que tange a vida e a saúde dos
usuários do Centro de Doenças Infecciosas e Parasitárias – CDIP, tornando-se possível
compreender as variáveis e complexas dificuldades enfrentadas pelos usuários, frente suas
limitações cotidianas.
O Assistente Social comprometido com o projeto hegemônico da profissão, deve
buscar a superação de práticas fragmentadas, fragilizadas e imediatistas, que rondam seu
cotidiano profissional e, diante disso, é imprescindível que os profissionais de Serviço
Social estejam preparados para lidar com os determinantes sociais da saúde e com as
demandas apresentadas no cerne do trabalho cotidiano.
54

Sendo assim, no próximo capítulo iremos salientar os desafios e os enfrentamentos


acerca dos processos sociais que envolvem o contexto do HIV/Aids e da luta na direção do
fortalecimento dos sujeitos envolvidos contra todas as formas de preconceito e em defesa
da cidadania.
55

2. SERVIÇO SOCIAL E O ENFRENTAMENTO DO ESTIGMA E DO


PRECONCEITO CONTRA PESSOAS QUE VIVEM COM HIV.

Dada a atual situação do país a partir da agenda neoliberal onde verificamos o


sucateamento do SUS e a desresponsabilização do Estado com as políticas públicas, em
especial a Saúde, a ação profissional nesses tempos de congelamentos dos gastos públicos,
ficou extremamente prejudicada e pudemos analisar que parte dos limites institucionais que
encontramos - como precariedade de recursos materiais e de atendimento às demandas
apresentadas pelos usuários -, são consequências dessa realidade contraditória e complexa,
que tende a limitar a ação profissional.
O assistente social trabalha no contexto de relações sociais e interesses antagônicos
e apesar de também vender sua força de trabalho transforma e intervém na realidade.
Partindo dessa premissa afirmamos que através da intervenção qualificada esse profissional
pode viabilizar o acesso dos usuários às políticas sociais.
O Serviço Social atua, no premente processo de fragilização causado pelos impactos
da HIV, o que requer uma proposta de enfrentamento em que o fortalecimento humano e
social passa ser a objetivação da ação (KERN, 2005, p. 63).
De acordo com KERN (2005) o enfrentamento da epidemia emerge cada vez mais a
necessidade das mediações em redes como estratégia metodológica do Serviço Social. Para
elencar a proposta deste trabalho, não poderíamos deixar de analisar o trabalho dos
Assistentes Sociais e seus embates nos enfrentamentos acerca dos determinantes da saúde,
bem como, do estigma e do preconceito, predominantemente arraigados na humanidade.
Discutir o assunto estigma e preconceito nos remete a pensar nas mediações e
estratégias metodológicas adotadas pelo Assistente Social no ambiente profissional.
“Tratar essa questão é reafirmar o compromisso ético político do assistente social de
articular e potencializar redes de apoio, serviços e políticas que viabilizem o
fortalecimento da cidadania e o acesso aos direitos” (KERN, 2005, p. 16).
Entender o Serviço social como uma profissão interventiva, nos possibilita pensar
nos enfrentamentos acerca dos desafios postos pela sociedade, a fim de compreender as
possíveis ações de intervenção frente a esses embates. Para tanto, faz-se necessário
refletirmos na atuação profissional, bem como, nas dimensões teórica, metodológica e
ético-política que tem como finalidade manter a qualificação do exercício profissional.
56

O Serviço Social intervém diretamente nas expressões da questão social em diversos


espaços ocupacionais, como, por exemplo, na área da saúde, na perspectiva do
enfrentamento das desigualdades sociais, da garantia de direitos e do acesso à cidadania.
Para tanto, entender a questão social como ferramenta de trabalho é fundamental para a
atuação profissional nos espaços públicos e privados.

O Serviço Social tem na “questão social” a base de sua fundação


enquanto especialização do trabalho. “Questão social” apreendida
enquanto o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade
capitalista que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais
social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada,
monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2004, p.
16)

Para tanto, é necessário ler a realidade social para além do imediato, com apoio de
certo arcabouço teórico-metodológico e ético-político, a fim de promover mediações e
estratégias de prevenção à saúde, minimizando os danos e riscos provocados pelos
impactos do estigma e preconceito na saúde dos indivíduos.

Pesquisar é conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de


trabalho, junto ao qual se pretende induzir ou impulsionar um processo
de mudanças. Nesta perspectiva, o conhecimento da realidade deixa de
ser um mero pano de fundo para o exercício profissional, tornando-se
condição do mesmo, do conhecimento do objeto junto ao qual incide a
ação transformadora. (IAMAMOTO, 2000, p. 62).

Trabalhar a temática HIV consiste em refletir acerca das diversas demandas que são
apresentadas no exercício profissional do Assistente Social, frente aos desafios propostos
no cotidiano da profissão no campo da saúde. Para tanto, é necessário conhecer os
determinantes sociais para enfrentá-los, articulando ações de prevenção contra os possíveis
agravos causados por diversas dimensões no que tange aos aspectos físico, social e
psicológico desses acometidos. Nessa lógica, é necessário compreender o exercício
profissional no cerne desses embates, tendo como orientação o Projeto Ético-Político e os
parâmetros da atuação profissional do Assistente Social no campo da saúde.
57

Ao realizar suas ações profissionais no campo da saúde, o assistente


social depara-se com um conjunto complexo de situações que exigem
conhecimentos próprios não só da área sanitária como de outras áreas
do conhecimento, os quais devem ser apropriados e ressignificado para
a sua ação cotidiana, abarcando o campo teórico, ético, político e
operativo. Assim, pode-se ter como suposto que a ação profissional em
saúde se assenta em três pilares que permitem o trânsito dos teórico-
metodológicos e dos princípios ético-políticos à concretude da
intervenção: o direito à saúde; as necessidades sociais em saúde; e a
produção da saúde. (NOGUEIRA, 2011, p. 51).

Para tanto, cabe aos Assistentes Sociais a responsabilidade de refletir através de


uma leitura crítica da realidade, a necessidade social e o direito desses acometidos
promovendo atividades articuladas às políticas sociais que fomentem a inclusão social
dessa população fragilizada pelo sofrimento do impacto da revelação do diagnóstico do
HIV.

Os assistentes sociais realizam assim uma ação de cunho


socioeducativo na prestação de serviços sociais, viabilizando o acesso
aos direitos e aos meios de exercê-los, contribuindo para que
necessidades e interesses dos sujeitos sociais adquiram visibilidade na
cena pública e possam ser reconhecidos, estimulando a organização
dos diferentes segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliação dos
seus direitos, especialmente os direitos sociais. Afirma o compromisso
com os direitos e interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos
serviços sociais. (MARTINELLE, 1999, p. 6).

O autor Faleiros (1997) traz uma contribuição acerca da eficácia do trabalho do


Serviço Social, quando discute os fundamentos e as estratégias que cooperam e evidenciam
o desempenho no processo de trabalho com os sujeitos fragilizados, objetivando agir por
meio de ações articuladas e, buscando nesse cenário de contradições, o fortalecimento dos
sujeitos sociais.
A elaboração reflexiva das demandas que se apresentam à ação profissional do
Assistente Social em suas mediações ontológicas constitui condição para a ultrapassagem
dos fatos em sua imediaticidade. O objeto de intervenção profissional como demanda
exclusivamente institucional restringe-se ao ângulo da singularidade. A aproximação com
as dimensões universais da realidade e com a sua legalidade social é necessária para
apreender como se constitui o campo das mediações da intervenção profissional (CEOLIN,
2004, p. 258).
58

Neste sentido, no que se se refere a identidade dos soropositivos, estes sofrem


impactos bem significativos no que tange os comportamentos e hábitos construídos,
historicamente, por pessoas consideradas “sadias”. As mesmas evitam abraços, apertos de
mãos e tantas outras formas de contatos afetivos, muitos, por desinformação e atitudes
estigmatizantes e discriminatórias. Essas atitudes arraigadas de preconceito, repercute
diretamente na vida das pessoas vivendo com HIV, trazendo a negação na socialização e
causando o isolamento social dos mesmos, no âmbito das relações sociais.
Outra questão a destacar para o Serviço Social são os desafios relacionados aos
impactos da revelação do diagnóstico da infecção pelo HIV. São os Assistente Sociais que,
por meio de sua formação, estão preparados para orientar sobre as estratégias e as ações
propositivas que auxiliam os sujeitos sociais, na busca por uma melhor qualidade de vida,
diante do misto de sentimentos que permeiam os pensamentos na hora da descoberta da
infecção, causando medo, dor e um universo de incertezas, pois, este profissional
compreende que, diante de uma doença, existe um sujeito que sofre.
Sob essa ótica, na maioria das vezes, o preconceito contra as pessoas soropositivas é
tão expressivo, que gera mais medo, pois a sociedade, mesmo diante de tantos avanços
sociais e científicos, ainda retrocede no que tange a pensamentos discriminatórios
evidenciados nos casos de HIV.
Ao se pensarmos na prática realizada na instituição CDIP, percebemos claramente a
necessidade da intervenção do Serviço Social que realiza um importante papel no que diz
respeito à humanização, trabalhando no sentido de garantir a integralidade do atendimento
dos pacientes e reconhecendo os determinantes e condicionantes sociais no que tange a
saúde dos mesmos. É de suma importância que o Assistente Social reflita sobre suas
atribuições na instituição, bem como, o seu lugar de atuação, reconhecendo que, mesmo
diante de uma autonomia relativa, é possível estabelecer intervenções propositivas e de
alcance social na direção da garantia dos direitos das pessoas que vivem com HIV.
Neste sentido, apresentaremos no próximo tópico, o enfrentamento do Serviço
Social nesse contexto adverso e suas especificidades, diante das contradições que permeiam
o exercício profissional.

2.1. O Serviço Social na saúde e as especificidades do atendimento às pessoas que


vivem com HIV, no CDIP de Campos dos Goytacazes/RJ.
59

Segundo a autora Bravo (1996), “[...] para a análise do Serviço Social e Saúde na
atualidade é necessário recuperar os avanços e lacunas ocorridos na profissão a partir dos
anos de 1980”, considerando que nesse período há uma reviravolta na questão da prática
profissional sobre a nova perspectiva de saúde, que visa atingir uma maturidade, rompendo
com os paradigmas estabelecidos e objetivando uma nova direção social baseado na
interlocução marxista. No entanto, os avanços conquistados, a partir dos anos 90, são
considerados insatisfatórios, com uma incipiente alteração do trabalho institucional e com a
categoria ainda desarticulada do Movimento da Reforma Sanitária. (CEFSS, 2010, p. 25).

Entretanto, o projeto da reforma sanitária vem apresentando como


demandas que o assistente social trabalhe as seguintes questões:
democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde;
estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade;
trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso
democrático às informações e estímulo à participação popular (CEFSS,
2010, p. 26).

Sobre essa lógica, cabe salientar que o Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta-se
na Constituição Federal de 1988 como um forte marco no que tange a saúde no Brasil.
Esse momento traz muitos avanços, pois elenca novas perspectivas de saúde tal como se
destaca na afirmação da saúde como política social - Saúde direito de todos e dever do
Estado -, bem como, a relação saúde-doença para além dos aspectos biopsicossociais, mas
como um processo socialmente construído. A Constituição de 1988 elenca avanços
significativos por promover mais cidadania, democracia e garantia de direitos, como
padrão central que promoveram leis de amparo as políticas e programas para toda
população.
Nesse sentido, os Assistentes Sociais que trabalham em um cenário de tensões e
contradições, necessitam atuar no aprofundamento da realidade, sob um viés mais
macrossocial, fundamentado em uma lógica crítica das relações sociais que os permeiam
e, de acordo com Osvaldo (2015), a especificidade do Serviço Social no âmbito da saúde
consiste em sua premente competência de intervir no cerne dos fenômenos sociais,
culturais e econômicos, apresentados no cotidiano do exercício profissional, nesses
espaços sócios ocupacionais que diminuem a recuperação na saúde dos indivíduos.
Na década de 1990, o Serviço Social emerge na perspectiva da defesa em relação
aos direitos humanos, pois a prática profissional revela diversas demandas no que tange aos
60

aspectos relacionados à relação de poder e saber, buscando manter no cotidiano um viés


crítico acerca do contexto social e das mudanças na vida dos sujeitos sociais. Tal evidência
aponta a relevância do Serviço Social na luta da defesa dos direitos, bem como, no
enfrentamento de toda e qualquer forma de violação de direitos.
Afirma assim, Azeredo (2015), que “[...] o conhecimento sobre essa realidade torna-
se fundamental para situar o Serviço Social no contexto da política social de saúde,
especialmente nesse campo de atenção à pessoa vivendo com HIV/AIDS” e, para isso, é
imprescindível conhecer a conjuntura nos âmbitos de formação social, econômica e
cultural, para que possamos entender a saúde para além dos aspectos biológicos. A
estrutura da saúde pública é vista como o campo do saber e da atuação profissional e, nesse
sentido, cabe aos Assistentes Sociais, no seu exercício profissional:

[...] a formulação, planejamento e execução de políticas sociais, na


perspectiva da defesa e ampliação dos direitos da população usuária
dos serviços, a partir de ações predominantemente socioeducativas,
com forte ocupação no Estado no âmbito das políticas públicas
(AZEREDO, 2015, p. 52).

Segundo Azeredo (2015) “[...] o universo de atuação profissional é visto sobre


funções distintas, relações sociais particulares e sujeitos sociais diferentes”, no entanto,
conforme Azeredo (2015) apud Iamamoto (2009, p. 19), “[...] as incidências do trabalho
profissional na sociedade não dependem apenas da atuação isolada do assistente social, mas
do conjunto das relações e condições sociais por meio das quais ele se realiza”.
Os serviços de saúde, ao longo dos anos, passaram por fortes mudanças no que
tange a equipe de saúde e, vale salientar dentre elas, a incorporação do Assistente Social, do
psicólogo, do nutricionista, entres outros profissionais, sob uma nova ótica de trabalho
interdisciplinar e, este trabalho remete para a necessidade de manter um diálogo entre os
envolvidos.
Sobre a ótica representativa da nova configuração no âmbito da saúde, podemos
perceber diversos desafios para Serviço Social, principalmente, no que tange a formação e
sua relação com as outras profissões no cotidiano institucional. No entanto, é de suma
importância que o Assistente Social não se distancie da sua orientação profissional,
permeada por constantes desafios no que tange o enfrentamento das demandas apresentados
pelos determinantes sociais que afetam a vida e a saúde dos usuários desses serviços.
61

O assistente social tem tido, muitas vezes, dificuldades de


compreensão por parte da equipe de saúde das suas atribuições e
competências face à dinâmica de trabalho imposta nas unidades de
saúde determinadas pelas pressões com relação à demanda e à
fragmentação do trabalho ainda existente. Entretanto, essas
dificuldades devem impulsionar a realização de reuniões e debates
entre os diversos profissionais para o esclarecimento de suas ações e
estabelecimento de rotinas e planos de trabalho. (CEFSS, 2010, p. 47).

Diante dessas mudanças no âmbito da saúde, podemos observar que, historicamente,


o Serviço Social atua com uma linguagem sob a ótica humanizada e totalizante, a fim de
compreender as diversas expressões apresentadas no cotidiano da população. Nesse
contexto, pensar a humanização na saúde nos remete a ideia de acolhimento, cuidado,
respeito, cidadania e responsabilidade (NASCIMENTO, 2012, apud BRASIL, 2004, p. 8).
Na política de enfrentamento da epidemia de HIV/AIDS, o Serviço Social apresenta
uma proposta de trabalho voltada para a abordagem socioeducativa, [...] e de prevenção,
contribuindo para a melhoria do acesso ao serviço de saúde na luta pela garantia dos
direitos dos pacientes (AZEREDO, 2015, p. 52).
No contexto histórico da epidemia observamos, cada vez mais acentuada, as
condições de vulnerabilidade dos acometidos pela sorologia. Não obstante, a síndrome
carrega, desde seus primórdios, um excessivo viés preconceituoso e discriminatório,
fortemente presente nos dias atuais. Essas questões elencadas causam restrições no que
tange a sociabilidade dos mesmos, bem como, um enorme isolamento diminuindo os
vínculos sociais.
O trabalho dos Assistentes Sociais na instituição CDIP de Campos dos Goytacazes,
consiste em atendimentos individuais, em grupo, ou através da visita domiciliar. Além
disso, oferece aos usuários orientações sociais e preventivas, tais como, direitos
fundamentais, por exemplo, acesso a prioridade em processos judiciais, isenção no imposto
de renda e sigilo no que tange aos aspectos que envolvem o trabalho desse paciente, pois,
toda pessoa que vive com o HIV tem o direito de manter o sigilo da sua condição
sorológica no seu ambiente de trabalho, bem como, viabilizar estratégias de acesso ao
auxílio doença, ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a aposentadoria por
invalidez, se necessário. Todo portador do HIV/AIDS tem direito a assistência e ao
tratamento, sem qualquer restrição, garantindo sua melhor qualidade de vida.
Dentre as atribuições dos profissionais do Serviço Social na saúde e também no
CDIP, podemos elencar, a prestação de assessoria na elaboração de planos, programas e
62

projetos, tanto junto ao seu superior hierárquico, quanto à equipe multidisciplinar e à


população usuária e também, a realização de pesquisa social, que na instituição acontece
prioritariamente através do levantamento de dados para o planejamento de ações e
intervenções. Entende-se que a atuação profissional é desafiadora, pois a análise do
modelo biomédico vê a saúde a partir da cura da doença. Já a atuação profissional trabalha
na ampliação dos direitos e no fortalecimento dos vínculos, buscando estratégias no
cotidiano profissional, para enfrentar esses desafios.

As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social,


sejam aquelas realizadas na saúde ou em outro espaço sócio
ocupacional, são orientadas e norteadas por direitos e deveres
constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de
Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados,
tanto pelos profissionais quanto pelas instituições empregadoras
(CEFSS, 2010, p. 33).

De acordo com Kern (2005) atuar nessa temática e nos processos interventivos no
que tange a sorologia do HIV, consiste em estabelecer uma luta severa, por se tratar de
demandas que requerem conhecimento e comprometimento profissional. Nessa lógica, faz
necessário munir-se de informações acerca das demandas cotidianas para trabalhar com as
diversas situações de fragilidade, que se apresentam no cotidiano do trabalho. Portanto, é
válido ressaltar que a constituição do Serviço Social enquanto profissão está diretamente
vinculada às demandas oriundas das contradições produzidas pelo conjunto das relações
sociais de produção e reprodução da sociedade capitalista, especificamente, em sua fase
monopolista.
Como bem nos assegura Ceolin (2004), é nesse movimento processual de
desenvolvimento da sociedade capitalista, paralelo ao agravamento das contradições e
tensões a ela inerentes, materializada e expressa na questão social, que a prática do Serviço
Social se institucionaliza.
Desta forma, o desafio do Serviço Social consiste em enfrentar os grandes embates
que permeiam a epidemia no cerne do cotidiano profissional. Desse modo, sobretudo, ter
uma escuta sensível, buscando entender a totalidade das demandas apresentadas pela
questão social, indo além do pragmatismo e do imediatismo cotidiano, muitas vezes, postos
através das muitas implicações no que tange às precarizações do trabalho nas instituições.
63

A identificação entre projeto profissional e político de saúde


potencializa alternativas de práticas de saúde comprometida com a
defesa da vida (individual e coletiva e voltada para a construção de
uma consciência sanitária da população). A característica identitária
contribui com elementos que reafirma o projeto profissional e o SUS,
nesse sentido da promoção de uma cultura democrática e cidadania.
(ZUCCO, 2012, p. 114).

As solicitações requisitadas pelas pessoas vivendo com HIV se tornam cada vez
mais desafiadoras. Para tanto, é fundamental a sintonia do Assistente Social com a
formação continuada, bem como, uma postura alinhada com a materialização do Projeto
Ético-político, com a regulamentação da profissão (Lei 8662/93) e com o Código de Ética
da profissão.
As questões prementes no que tange a síndrome do HIV nos remete a tarefa de
repensar a prática enquanto profissão na atualidade, bem como, as especificidades da
profissão. De acordo com Martinelle (1999) as particularidades do fazer profissional, não
devem ser pensadas como exclusividade, mas, através de uma peculiar aproximação com a
realidade a fim de construir ações e estratégias de mediações. (KERN, 2005, p. 75).
A partir dessas concepções elencadas podemos entender que a prática dos
Assistentes Sociais consiste em captar o que há de social, relacionado a questão da saúde,
buscando um reexame dos valores éticos e políticos, quanto ao modo de pensar e agir das
pessoas soropositivas.
Para KENR (2005) existe certa especificidade referente à prática profissional do
Serviço Social, no sentido de mergulhar-se na vida das pessoas, diferentes das demais
profissões. O Assistente Social se aprofunda em conhecer o que está por “trás das cortinas”,
reconhecendo a subjetividade dos sujeitos e o enfrentamento das suas perdas materiais, bem
como, da desvinculação das suas relações sociais.
Diante disso, à luz do Código de Ética do/a Assistente Social, que tem como um dos
seus princípios, o “compromisso com a qualidade dos serviços”, cabe ao Assistente Social
trabalhar com a realidade concreta, tentando compreender o que a determina essa realidade
e, assim, traçar estratégias para o seu enfrentamento. Entende-se nessa lógica, que o
Assistente Social comprometido com o projeto hegemônico da profissão, deve buscar a
superação de práticas fragmentadas, fragilizada e imediatistas que rondam seu cotidiano.
Deste modo, é necessário a intervenção do Serviço Social, juntamente com a equipe
multidisciplinar do CDIP de Campos dos Goytacazes, para que,
64

identificando potenciais obstáculos à adesão, se realize um trabalho qualificado que só é


possível, por meio da aproximação com os agentes envolvidos e, a partir de uma relação de
confiança entre os mesmos, para assim, romper ou reduzir essa crescente evasão,
beneficiando não só ao usuários desse serviço, como também, suas famílias.
Diante dos agravamentos causados pelo estigma e pela discriminação, relatados nos
atendimentos pelas pessoas vivendo com HIV, no CDIP, retornaremos ao ponto de partida
desse trabalho, trazendo no próximo tópico, a Educação em Saúde como estratégia
fundamental para o fortalecimento desse sujeito nas relações sociais, pois, entendemos que
quanto maior a desinformação maior a discriminação e o preconceito.

2.2. Educação em Saúde como estratégia para enfrentar os impactos do estigma e do


preconceito sobre o HIV.

Segundo Boletim do Instituto de Saúde (2004, p. 3), “[...] a Educação em Saúde é


compreendida como processo de transformação que desenvolve a consciência crítica das
pessoas a respeito de seus problemas de saúde e estimula a busca de soluções coletivas para
resolvê-los”.28 “Como demonstra sua trajetória histórica, a Educação em Saúde assume
concepções diversas em diferentes contextos sociais, concepções essas que incidem na
forma de agir e implementar ações socioeducativas.” (ALVES e CASTRO, 2017, p. 442).

A Educação em Saúde, que aponta o diálogo como eixo central do


processo educativo, inscreve a educação popular em saúde como
instrumento de gestão participativa da ação social. Surge como
processo inovador de práticas educativas que tende a romper com o
modelo tradicional (ALVES e CASTRO, 2017, p. 443).

De acordo com Lima e Mioto (2011) a partir do modelo de reconceituação do


Serviço Social no Brasil, tais as ações socioeducativas29 são enfatizadas com base no

28
BIS - Boletim do Instituto de Saúde, nº 34, de dezembro de 2004. Ver:
http://www.saude.sp.gov.br/resources/instituto-de-saude/homepage/bis/pdfs/bis_n34.pdf.
29
As ações socioeducativas e/ou educação em saúde não devem pautar-se pelo fornecimento de informações
e/ou esclarecimentos que levem a simples adesão do usuário, reforçando a perspectiva de subalternização e
65

reconhecimento de fomentar o fortalecimento dos processos emancipatórios. Estes visam


rever as ações tradicionais de intervenção, objetivando novas perspectivas no que se refere
ao modelo teórico metodológico, questionando os métodos tradicionais da profissão.

Com ela [a ênfase nas ações socioeducativas] espera-se contribuir para


a formação de uma consciência crítica entre sujeitos, através da
apreensão e vivência da realidade, para a construção de processos
democráticos, enquanto espaços de garantia de Direitos, mediante a
experiência de relações horizontais entre profissionais e usuários.
Nesse processo educativo, projeta-se a emancipação e a transformação
social. (KATAL, 2017 apud LIMA; MIOTO, 2011, p. 217).

As autoras acima advertem que é preciso estar alerta às ciladas, pois, é bem comum
na prática dos Assistentes Sociais, acreditar que as mudanças no que tange aos princípios
de autonomia, emancipação e participação, sejam condições suficientes para que o Projeto
Ético-Político da profissão se efetive nas práticas socioeducativas.

Nesse contexto é importante o trabalho profissional do assistente social


no que tange à Educação em Saúde, entendendo-o enquanto um
profissional da saúde que atua nas relações sociais entre os sujeitos e
no seu cotidiano, através de uma ação socioeducativa que objetiva
desenvolver educação permanente em saúde, a fim de socializar e
democratizar informações. Vasconcelos (2006) registra que uma
proposta socioeducativa do profissional de Serviço Social na saúde
politiza as demandas, enfatiza a participação social dos usuários,
produz o conhecimento crítico da realidade e aposta na constante busca
da autonomia dos sujeitos sociais. Por isso, reforça-se a ideia de que a
Educação em Saúde deve ser pensada como instrumento teórico-
metodológico e ético-político do exercício profissional, que pode
fomentar sua transformação qualitativa em direção aos interesses dos
usuários e à satisfação das necessidades dos segmentos menos
favorecidos (ALVES, CASTRO, 2017, p. 445).

controle dos mesmos. Devem ter como intencionalidade a dimensão da libertação na construção de uma nova
cultura e enfatizar a participação dos usuários no conhecimento crítico da sua realidade e potencializar os
sujeitos para a construção de estratégias coletivas. Dessa forma, tem-se por objetivo a consciência sanitária,
conceito fundamental da Reforma Sanitária. Para Berlinguer (1978, p. 5), consciência sanitária é concebida
como a tomada de consciência de que a saúde é um direito da pessoa e um direito da comunidade. Como esse
direito é sufocado e esse interesse descuidado, consciência sanitária é a ação individual e coletiva para
alcançar esse objetivo. As forças sindicais e políticas podem ter, dependendo da orientação e dos
instrumentos, um papel relevante na formação da consciência sanitária (LIMA e MIOTO, 2011).
66

Reconhecendo que a prática profissional dos Assistentes Sociais trabalha, também,


sob a dimensão socioeducativa, essas ações fomentam a materialização do Projeto Ético-
Político da profissão, bem como, corrobora para promover mudanças no cerne das relações
sociais dos usuários, que vai além das informações e objetiva a concretização da autonomia
dos indivíduos, visibilizando um processo de politização que propõe estabelecer análise da
realidade de forma crítica sob um viés democrático entre os usuários e profissionais.

O ato da Educação em Saúde pode contribuir para o profissional de


Serviço Social articular as diversas mediações e contradições que
surgem no cotidiano dos espaços sócio ocupacionais, potencializando
outras formas de condução das dimensões metodológicas e políticas
que transforme a realidade. Nesse sentido, o assistente social deve
conhecer a realidade do usuário e priorizar ações educativas coletivas
que apostem na emancipação humana. Evidencia-se, portanto, o caráter
essencialmente político do exercício profissional do Serviço Social.
Assinala-se a relevância do desenvolvimento de ações mediadoras
pedagógicas, ético-políticas que contribuam para formação da
sensibilidade crítica dos usuários. (ALVES, CASTRO, 2017, p. 445).

No que se refere às práticas socioeducativas, a socialização das informações é de


extrema importância no cotidiano profissional. Registrar os dados nos atendimentos
corrobora e fomenta a materialização do Projeto Ético-Político e contribui para maior
conhecimento acerca dos direitos sociais e políticos dos sujeitos envolvidos. No
desenvolvimento de ações socioeducativas pelos Assistentes Sociais, destacam-se as
seguintes atividades:
a) Sensibilizar os usuários acerca dos direitos sociais, princípios e diretrizes do SUS,
rotinas institucionais, promoção da saúde e prevenção de doenças por meio de
grupos socioeducativos;
b) Democratizar as informações da rede de atendimento e direitos sociais por meio de
ações de mobilização na comunidade;
c) Realizar debates e oficinas na área geográfica de abrangência da instituição;
d) Realizar atividades socioeducativas nas campanhas preventivas;
e) Democratizar as rotinas e o funcionamento da unidade por meio de ações coletivas
de orientação;
f) Socializar informações e potencializar as ações socioeducativas desenvolvendo
atividades nas salas de espera;
67

g) Elaborar e/ou divulgar materiais socioeducativos como folhetos, cartilhas, vídeos,


cartazes e outros que facilitem o conhecimento e o acesso dos usuários aos serviços
oferecidos pelas unidades de saúde e aos direitos sociais em geral;
h) Mobilizar e incentivar os usuários e suas famílias para participar no controle
democrático dos serviços prestados;
i) Realizar atividades em grupos com os usuários e suas famílias, abordando temas de
seu interesse. (CEFESS, 2010, p. 56).
Essas ações consistem em orientações reflexivas e socialização de informações
realizadas por meio de abordagens individuais, grupais ou coletivas ao usuário, família e
população de determinada área programática. (CEFESS, 2010, p. 54).

A socialização das informações referente aos direitos sociais é uma


ação profissional que fortalece o usuário no acesso e no processo de
mudança da realidade na qual se insere na direção da ampliação dos
direitos e efetivação da cidadania. Dessa forma, define-se como um
processo democrático e político pelo qual procura-se tornar
transparente para os usuários, o real significado das políticas sociais, a
lógica a partir da qual se originam e se estruturam na sociedade
capitalista, bem como os meios e condições de acessá-las. (LOPES,
2006, p. 114).

O exercício profissional na instituição busca viabilizar à população, o acesso às


políticas e serviços sociais que o usuário, como cidadão, tem direito. No atendimento das
demandas sociais que surgem no dia a dia do trabalho, normalmente, exige, a intervenção
profissional na viabilização do acesso a consultas, exames, tratamentos, encaminhamentos
a benefícios, por exemplo. No entanto, o trabalho do Assistente Social também abrange a
dimensão socioeducativa, sob os aspectos preventivos, informativos e de promoção da
saúde com vistas à efetivação da integralidade da atenção à saúde.
Refletir a atuação profissional no que tange às ações educativas consiste em pensar
nas dimensões que permeiam o exercício profissional, tais como: a dimensão teórico-
metodológica, ético-política e técnico-operativa que juntas caminham na direção da
efetivação do projeto da profissão. Para a eficácia da ação educativa, no cerne da prática
cotidiana, faz-se necessário a articulação dessas dimensões que visam uma prática crítica e
propositiva, almejando sair do pragmatismo e obter um fazer profissional mais reflexivo.
68

O exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha


competência para propor, para negociar com a instituição os seus
projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e
atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas institucionais para
buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e
possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo
profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho.
(IAMAMOTO, 2009, p. 12).

A educação em saúde como estratégia do Serviço Social no enfrentamento dos


impactos do estigma e preconceito contra as pessoas soropositivas, consiste em buscar
mecanismos que fomentem o conhecimento desses indivíduos, de forma mais dialógica, a
fim de promover para esses sujeitos, melhor qualidade de vida no que tange o processo
saúde, bem como, a participação consciente na totalidade da realidade social na qual o
mesmo está inserido.
Podemos assim, salientar a importância dos Assistentes Sociais em promover ações
socioeducativas no contexto do trabalho profissional, junto às pessoas que vivem com o
HIV, realizando um trabalho desprovido de valores pessoais e buscando a compreensão da
realidade, respeitando as particularidades de cada indivíduo e entendendo que cada sujeito
tem suas próprias histórias.

Os assistentes sociais realizam assim uma ação de cunho


socioeducativo na prestação de serviços sociais, viabilizando o acesso
aos direitos e aos meios de exercê-los, contribuindo para que
necessidades e interesses dos sujeitos sociais adquiram visibilidade na
cena pública e possam ser reconhecidos, estimulando a organização
dos diferentes segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliação dos
seus direitos, especialmente os direitos sociais. Afirma o compromisso
com os direitos e interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos
serviços sociais. (IAMAMOTO, 2009, p. 6).

Como bem assegura o Boletim Informativo em Saúde (2004) a “Educação em


Saúde” transmite a pluralidade de entendimentos e de concepções acerca do tema proposto
e promove através da relação dialógica, mudanças em relação ao comportamento dos
indivíduos. Toda prática educativa trabalha com a mobilização da consciência da realidade.
Assim sendo, os Assistentes Sociais nos espaços sócio ocupacionais desempenham
sua prática sob um viés pedagógico, desenvolvendo nesses espaços, práticas educativas
69

estabelecidas na intervenção profissional, a fim de promover mobilização social e


organização.

Historicamente, as práticas educativas desenvolvidas pelos assistentes


sociais vinculam-se, predominantemente, à necessidade de controle
exercido pelas classes dominantes, quanto à obtenção da adesão e do
consentimento do conjunto da sociedade aos processos de produção e
reprodução social consubstanciados na exploração econômica e na
dominação político-ideológica sobre o trabalho. Em contraposição a
essa tendência, evidencia-se, nas três últimas décadas, no
desenvolvimento profissional no contexto brasileiro, a construção de
práticas educativas consubstanciadas no estabelecimento de vínculos e
compromissos com a perspectiva societária das classes subalternas,
fundadas nas conquistas emancipatórias da classe trabalhadora e de
toda a humanidade – base do projeto ético-político profissional
alternativo do Serviço Social, consolidado, nos anos de 1980 e 1990.
(ABREU, 2009, p. 1).

É de suma importância a função pedagógica no exercício profissional nos espaços


sócios ocupacionais que consiste em realizar atividades educativas que evidencia uma nova
perspectiva no que tange o modo de agir e pensar fomentando a sociabilidade desses
sujeitos vivendo com HIV.

As ações a serem desenvolvidas pelos assistentes sociais devem


transpor o caráter emergencial e burocrático, bem como ter uma
direção socioeducativa por meio da reflexão com relação às condições
sócio históricas a que são submetidos os usuários e mobilização para a
participação nas lutas em defesa da garantia do direito à saúde.
(CEFSS, 2010, p. 43).

É através das práticas educativas desenvolvidas pelo Serviço Social nas instituições
que se fomenta, portanto, a socialização das pessoas vivendo com HIV, bem como, das
pessoas que convivem com os mesmos, já que estes se excluem por medo de revelar o
diagnóstico.
Quanto maior a informação menos se evidencia o estigma e o preconceito
arraigados na sociedade. A realização de grupos de apoio e/ou adesão, no contexto do
trabalho com a questão do HIV/Aids, bem como, da sala de espera, nesses espaços, são
práticas educativas que visam à socialização das informações acerca dos direitos, de melhor
70

qualidade de vida e, impulsiona o processo de transformação na vida cotidiana desses


sujeitos, nos aspectos físico e social.
É válido aqui salientar a importância das ações educativas que se estabelecem por
meio das práticas preventivas, prementes na instituição CDIP, através da distribuição de
camisinhas, por exemplo, para adolescentes, jovens, adultos, idosos e familiares, assim
como, os encontros entre jovens, realizados no espaço do trabalho, com o objetivo de
disseminar informações claras e objetivas sobre os direitos sociais e trabalhar a resiliência,
no que tange a superação das adversidades sociais.
Isso só será possível se buscarmos na prática profissional, uma postura
comprometida com a igualdade social, a fim de alcançar, na vida cotidiana, a inclusão das
pessoas que vivem com o HIV. Portanto, a desconstrução das ações estigmatizantes passa,
prioritariamente, por desnaturalizar as práticas discriminatórias e preconceituosas. (KERN,
2005, p. 96).
Para finalizarmos essa discussão é de extrema importância pensarmos sobre as
condições sociais das pessoas soropositivas, quanto às fragilidades relacionadas às
situações discriminatórias, vividas pela exclusão dos mesmos, nos espaços da vida
cotidiana. Sob essa ótica, pensar em propostas interventivas, que trabalhem sob um viés
educativo, objetivando o fortalecimento e a emancipação das pessoas vivendo com HIV, é
urgente e imprescindível, no trabalho desenvolvido pelo Assistente Social.
71

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há quase três décadas obtivemos significativos avanços no controle e enfrentamento


da epidemia do HIV/Aids, no Brasil, no que tange aos aspectos biomédico e preventivo. No
entanto, no campo das relações sociais, ainda precisamos avançar e superar os velhos
comportamentos preconceituosos e discriminatórios, que constituem obstáculos para o
controle da epidemia.
Embora tenhamos alcançado mudanças, ao longo dos anos, no campo conceitual,
institucional e político, sobre a síndrome, ainda enfrentamos engessamentos para a
efetivação dessas mudanças na prática cotidiana. Está posto, assim, que o estigma e o
preconceito têm causado reais impedimentos para o acesso à saúde, corroborando para a
exclusão social das pessoas que vivem com HIV/Aids.
De acordo com as reflexões elencadas neste trabalho, observamos que a exclusão
social, marcada pelo estigma, pelo preconceito e pelas atitudes discriminatórias, tem como
consequência, danos direto e/ou indireto à saúde das pessoas soropositivas, pois, os
mesmos perpassam pelo processo de marginalização social, que dificultam o processo de
prevenção, bem como, o cuidado com a saúde. Esse ciclo premente na vida cotidiana das
PVHIV reitera o estigma.
Um dos desafios da prática profissional do Assistente Social é, portanto, caminhar
na direção da relação cotidiana da teoria com a prática, planejando ações, desvelando o real
vivido, para não cair no pragmatismo, no “fazer pelo fazer”, significando e respeitando
cada sujeito na sua particularidade e singularidade. É fundamental que o Serviço Social não
olhe para os sujeitos, descolados dos significados da sua própria existência.
A luta dos Assistentes Sociais, nesses espaços sócio ocupacionais, deve pautar-se na
superação dos processos que produzem e reproduzem o estigma e o preconceito, a partir,
por exemplo, entre outras, da prática educativa/transformadora, buscando nesse cenário,
planejar ações que fomentem a socialização das informações e, promovendo à esses
indivíduos, uma compreensão de si mesmo, a partir de um diálogo franco e respeitoso. Isso
é um exercício político que contempla a dimensão competente e investigativa da profissão,
tendo como vertente, a releitura cotidiana da realidade.
No que se refere aos impactos do estigma e do preconceito, podemos compreender
que as pessoas, ao serem diagnosticadas com o vírus HIV, sofrem e se isolam por medo do
preconceito e da discriminação, ainda tão arraigados na sociedade. Esse medo as torna
72

fragilizadas e representa, literalmente, um grande inimigo no processo saúde-doença, pois


corroboram para a negação do acesso aos espaços de tratamento da síndrome do HIV, bem
como, afeta as relações sociais, dificultando essas pessoas a alcançarem seus direitos e
terem uma vida de qualidade.
Os indivíduos quando infectados pelo HIV se isolam sofrendo, muitas vezes, de
depressão pela rejeição e discriminação, por parte da família, de amigos, do trabalho e, por
isso, preferem negar o diagnóstico, mas, ao mesmo tempo, se afastam do ciclo social. Neste
sentido, é de suma importância o apoio dos profissionais da saúde, com destaque, neste
trabalho, para a ação profissional do Serviço Social que, através do acolhimento e de uma
análise adequada da realidade, pode imprimir uma intervenção propositiva e eficaz,
extraindo elementos capazes de contribuir para a intervenção necessária para o
enfrentamento de tal realidade.
Sobre essa ótica, compreendemos que o entendimento da saúde se faz também pelo
acesso a direitos como trabalho, alimentação, condições dignas de moradia, lazer, dentre
tantos outros, e que a desigualdade está diretamente ligada aos processos de adoecimento.
Por isso, essas questões requerem ampliação do debate nas instituições de saúde, no sentido
de esclarecer que a doença vai além dos fatores biológicos, entendendo assim, a
necessidade de desconstruir a naturalização desse processo de produção e reprodução do
estigma e do preconceito. Quanto mais informação qualificada proporcionamos, menor o
avanço do preconceito. Portanto, é preciso socializar as informações, deixando claro os
direitos das pessoas acometidas pelo HIV/Aids.
Historicamente, o preconceito se perpetua e parece não acabar, porém, são
necessárias ações para minimizá-lo, pois o mesmo gera adoecimento, exclusão social,
isolamento e depressão, que podem levar as pessoas à morte física e social, não pela
síndrome em si, mas por atitudes hostis e negativas reproduzida pela sociedade, que ainda
não consegue se abster desse comportamento. Dessa forma, quando se reproduz algo sem
buscar informações, a sociedade gera, automaticamente, atitudes preconceituosas e
estigmatizantes. O conhecimento nos liberta, no sentido das escolhas, pois, quanto mais
bem informados os indivíduos estiverem acerca dessa temática, menor serão as atitudes
preconceituosas reproduzidas no cerne da sociedade.
No que se refere aos determinantes sociais, podemos, a partir dessa reflexão,
compreender a saúde para além do aspecto biológico. Entendermos, assim, que o estigma e
o preconceito, visto como determinantes sociais, afetam mais a saúde do indivíduo, do que
73

a própria condição da sorologia, ou seja, observamos neste trabalho, que as condições de


desigualdade e desproteção refletem, negativamente, em seu processo de adoecimento.
Diante disso, é necessário que se pense políticas públicas por parte do Estado, que trabalhe
nos processos de educação em saúde, junto à população em geral, sobre temas tão
complexos e importantes como, por exemplo, estigma e preconceito contra as pessoas
vivendo com HIV.
Diante das questões elencadas, podemos concluir que a prática profissional dos
Assistentes Sociais que trabalham de forma propositiva, sob uma perspectiva dialética, nas
dimensões técnico-operativa, ético-política e teórico-metodológica, mantendo uma escuta
sensível, sendo criativo e dinâmico e utilizando a função pedagógica, no sentido de
promover atividades socioeducativas tais como, palestras, rodas de conversa, grupos de
apoio/adesão, sala de espera, construção de cartilhas informativas, acerca dos direitos
fundamentais e informações necessárias para amenizar as atitudes discriminatórias - já que
acabar com as mesmas, ainda parece algo improvável -, representa um avanço e também
um desafio, em conjunto com o processo de “descortinar” o real das pessoas que vivem
com o HIV.
Viver com a síndrome é possível, mas com o estigma e com o preconceito não!
74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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