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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

DAYANE DO NASCIMENTO CAETANO

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: Caminhos entre projetos de vida e a


realidade.

NATAL – RN
2017
DAYANE DO NASCIMENTO CAETANO

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: Caminhos entre projetos de vida e a


realidade.

Trabalho de conclusão de curso Apresentado


Ao Departamento de Serviço Social, do Curso
de Serviço Social, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte como requisito para
obtenção do Grau de bacharel em serviço
social. Sob orientação da Prof.ª Ms. Anna Luiza
Lopes Liberato A. Freire.

NATAL – RN
2017
Dedico este trabalho a minha mãe e minha

irmã, que sempre foram exemplo de força,

coragem, determinação e amor.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida, e por não me permitir fraquejar quando me
deparei com as adversidades que a vida nos impõe.

Aos meus professores no decorrer da graduação, que contribuíram para minha


formação. Em especial para professora Mônica Calixto que fez eu me
apaixonar pela temática da criança e adolescente. E a minha orientadora, Anna
Luiza Liberato, pelos conselhos, positividade e orientações.

A minha mãe. Pois sem sua garra, coragem, força, escolhas, determinação e
amor por mim e meus irmãos, o sonho de concluir essa graduação não seria
possível.

Aos meus irmãos que sempre foram exemplos de determinação. Em especial a


minha irmã, Daniele, que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos,
me apoiando de dando os melhores conselhos.

Aos minhas sobrinhas Maria Cecília, Sofia e Ana Helena e ao meu sobrinho
Heitor, pelos momentos de amor, brincadeiras e alegrias nas lutas diárias.

Ao meu noivo, Leandro, pelo amor, carinho, apoio, dedicação e por sua
compreensão em todo decorrer da minha graduação.

A minha tia Zefa, que sempre me apoiou e ajudou de todas as formas que
pôde, para que os meus objetivos fossem alcançados.

As adolescentes que dispuseram um pouco do seu tempo para participar dessa


pesquisa e que contribuíram para a construção dessa monografia.
O momento que vivemos é um momento pleno de
desafios. Mais do que nunca é preciso ter coragem,
é preciso ter esperanças para enfrentar o presente.
É preciso resistir e sonhar. É necessário alimentar os
sonhos e concretizá-los dia-a-dia no horizonte de
novos tempos mais humanos, mais justos, mais
solidários. (Marilda Iamamoto, 2012, p. 17)
Resumo
A gravidez na adolescência se caracteriza como uma questão de suma
importância, tanto no âmbito da saúde pública, como no campo político e
social. Tendo em vista que, é crescente o número de adolescentes que estão
tendo esse momento de suas vidas “roubadas”, assumindo responsabilidades
de uma vida adulta, ao ser constatada uma gravidez precoce e não planejada.
A pesquisa em questão teve como objetivo geral investigar as situações que
estão relacionadas à gravidez na adolescência e suas implicações na vida das
adolescentes, a partir do olhar/ perspectiva e experiência desses sujeitos. Os
objetivos específicos se constituíram por: construir o perfil socioeconômico das
adolescentes que tiveram seus filhos na maternidade do Hospital Geral Dr.
José Pedro Bezerra; evidenciar as políticas públicas voltadas para
adolescência, particularizando as voltadas para as adolescentes grávidas; e
compreender de que forma as expressões da questão social se apresentam na
vida dessas adolescentes. Para o alcance dos objetivos supracitados, se
utilizou como metodologia a pesquisa bibliográfica, buscando o diálogo com
autores que debatem as categorias presentes nessa pesquisa; pesquisa
documental, através do acesso aos documentos do serviço social do Hospital
Geral Dr. José Pedro Bezerra, no qual foi realizado o estágio curricular
obrigatório em serviço social; e por fim foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com as adolescentes que tiveram seus filhos na maternidade
da instituição supracitada no período de julho a dezembro de 2016. A pesquisa
pôde constatar a gravidez como uma das diversas faces da questão social,
quando vivenciadas em determinada situação socioeconômica.
Palavras-chave: Gravidez na adolescência; Adolescência; Questão social;
políticas públicas, Serviço Social.
Abstract
Adolescent pregnancy is characterized as a matter of paramount importance,
both in public health and in the political and social field. In view of the growing
number of adolescents who are having this moment of their lives "stolen",
assuming responsibilities of an adult life, when an early and unplanned
pregnancy is observed. The research in question had as general objective the
investigation of the situations that are related to the pregnancy in the
adolescence and its implications in the life of the adolescents, from the look /
perspective and experience of these subjects. The specific objectives were: to
build the socioeconomic profile of the adolescents who had their children in the
maternity of the General Hospital Dr. José Pedro Bezerra; To highlight the
public policies focused on adolescence, particularizing those focused on
pregnant adolescents; and the understanding of how the expressions of the
social question present themselves in the life of these adolescents. In order to
reach the objectives mentioned above, a bibliographical research methodology
was used as a methodology, seeking the dialogue with authors who debate the
categories present in this research; documentary research, through access to
documents of the social service of the General Hospital Dr. José Pedro
Bezerra, in which the compulsory curricular internship in social service was
carried out; finally, semi-structured interviews were carried out with the
adolescents who had their children in the maternity hospital of the
aforementioned institution from July to December 2016. The research was able
to verify pregnancy as one of the several faces of the social question, when
experienced in a certain socioeconomic situation.

Keywords: Adolescent pregnancy; Adolescence; Social issues; Public policies,


social work.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Total de adolescentes por região.....................................................51

Gráfico 2 – Total de adolescente por mês.........................................................52

Gráfico 3 – Número de adolescentes por localidade e Mês..............................53

Gráfico 4 – Total de adolescentes gestantes por idade.....................................54

Gráfico 5 – Ocupação atual das adolescentes..................................................55

Gráfico 6 – Posição familiar...............................................................................56

Gráfico 7 – Escolaridade X Posição familiar......................................................57

Gráfico 8 – Escolaridade....................................................................................58

Gráfico 9 – Renda..............................................................................................59
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO................................................................................................12

2.GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: Uma análise acerca de adolescência,


direitos humanos e políticas públicas................................................................15

2.1Adolescência e família: Concepções sócio-históricas..................................15

2.2Direitos humanos da Criança e do Adolescente: um processo histórico de


lutas...................................................................................................................23

2.3Gravidez na adolescência: Até onde vai o alcance das políticas


públicas?............................................................................................................34

SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL E GRAVIDEZ NA


ADOLESCÊNCIA..............................................................................................43

3.1“No começo foi um choque, mas depois fui me acostumando”....................43

3.2Gravidez na adolescência: Uma das faces da questão social? ...................47

3.3 Serviço Social e Direitos humanos: Contribuições do/a assistente social na


defesa dos direitos humanos da criança e do
adolescente........................................................................................................60

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................68

REFERÊNCIAS.................................................................................................71

ANEXOS............................................................................................................76

APÊNDICES......................................................................................................82
12

1. INTRODUÇÃO

A motivação em realizar esta pesquisa se deu a partir da experiência de


estágio curricular obrigatório em serviço social pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte – UFRN, realizado no Hospital Geral Dr. Pedro Bezerra.
O Hospital Dr. José Pedro Bezerra – HJPB, localizado na zona norte de
Natal e considerando o segundo maior da capital, é um hospital público com
atendimento de urgência nas especialidades de clínica médica, neonatologia,
cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, sendo umas das maternidades da
capital referência em partos de alto risco.
Nesse sentido, pude conhecer algumas das dificuldades enfrentadas
pela instituição, usuários e servidores. Dentre elas, pode-se destacar a
superlotação na maternidade e no setor de emergência adulto, como também a
precariedade no atendimento aos usuários e nas condições de trabalho e
segurança dos servidores.
Esse espaço, me provocou a desvelar as causas por trás da gravidez na
adolescência, pois esta se mostrou recorrente e inquietante no decorrer do
processo de estágio, me levando a questionar de que forma as adolescentes
compreendem esse momento e os rebatimentos que isso terá em suas vidas.
Diante disso, a pesquisa em questão se dispôs a trabalhar a temática da
gravidez na adolescência, a partir da percepção da adolescente sobre essa
gravidez precoce e momento tão particular em suas vidas.
A pesquisa se realizara em todo o seu processo a partir da perspectiva
do método dialético, tendo em vista que, de acordo com Lima e Mioto (2007),
este método implica sempre em uma reflexão critica e totalizante porque
submete a analise toda interpretação pré- existente sobre o objeto estudado.
O estudo em questão teve abordagem de cunho qualitativo, pois de
acordo com Martinelli apud Prates (2007), esta busca conhecer as trajetórias
de vida, experiências sociais dos sujeitos, o que pressupõe uma disponibilidade
e real interesse de parte do pesquisador em vivenciar o interesse da pesquisa.
Foram utilizadas três técnicas de pesquisa: a bibliográfica, documental e
entrevistas. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir do dialogo com
autores e textos que discutem as categorias centrais que envolvam essa
13

temática, como adolescência, gravidez na adolescência, questão social,


pobreza, direitos sociais humanos e das crianças e adolescentes, entre outros
Para isso, se recorreu a autores como Iamamoto (2013), A Lei federal nº 8069,
de 13 de julho de 1990, Constituição de 1988, Barroco (2012), Ariès (1981),
Netto (2011), Mioto (2010), entre outros.
A pesquisa documental se deu a partir do acesso aos documentos
utilizados no fazer profissional dos (as) assistentes sociais do Hospital Dr. José
Pedro Bezerra – HJPB, a entrevista social. Essa se mostrou de suma
importância para o alcance dos objetivos elencados nessa pesquisa, pois
possibilitou a construção do perfil das adolescentes, como também a situação
socioeconômica na qual estas e suas famílias estão inseridas.
Por fim, foi realizada uma entrevista semiestruturada com as
adolescentes, com objetivo de ter uma visão geral e aproximativa da realidade
desses sujeitos. Devido à inviabilidade de ser trabalhado o total de
adolescentes que dão entrada na maternidade do Hospital Dr. José Pedro
Bezerra e as dificuldades de acesso a esses sujeitos a entrevista foi realizada
com três adolescentes na faixa etária de 16, 17 e 18 anos e que deram entrada
na maternidade, dos meses de fevereiro a julho de 2016.
Diante disso, a monografia, a partir do seu segundo capitulo aborda a
discussão acerca da família e adolescência, e seus desdobramentos no âmbito
da sociedade capitalista. Aborda também o surgimento dos direitos humanos,
particularizando os direitos humanos da criança e do adolescente; e promover
o debate de até que ponto vai o alcance das politicas públicas quando referente
à gravidez na adolescência.
O terceiro capitulo se centralizou no debate de que forma as expressões
da questão social se expressam na vida das adolescentes que tiveram seu
parto na maternidade do HJPB. Isso se realizou a partir da construção do perfil
socioeconômico dessas adolescentes e do debate da questão social através de
autores que discutem essa categoria teórica. Buscar-se-á ainda, de que forma
o/a assistente social pode contribuir na defesa dos direitos humanos da criança
e do adolescente, enquanto profissional que atua na defasa intransigente dos
direitos humanos.
Assim, essa pesquisa se mostrou necessária para compreensão das
situações que estão relacionadas à gravidez na adolescência e a percepção
14

que esses sujeitos têm desse momento particular em suas vidas. Sendo
relevante social e academicamente à medida que, contribui para o debate e
apreensão da temática a partir do entendimento da adolescente e na produção
de novos conhecimentos sobre a temática.
15

2 Gravidez na adolescência: Uma análise acerca da adolescência,


direitos humanos e politicas públicas.

O segundo capítulo irá abordar o contexto sócio-historico em que se


constituiu a família na sociedade e como a criança e o adolescente tem papel
fundamental nessa construção. Apresentando assim, as mudanças da família
no seio da sociedade, como estas ao decorrer das décadas passam a se
enxergar e enxergar as crianças e adolescentes, como também de que forma a
criança e o adolescentes hoje são visto no âmbito da sociedade capitalista.
Além disso, se propõe a debater sobre a construção histórica e filosófica
dos direitos humanos, e como se deu a o terreno para a consolidação dos
direitos humanos da criança e do adolescente. E provocando também o
questionamento de, até que ponto vai o alcance das politicas públicas
direcionadas aos adolescentes, tendo como foco as politicas públicas
destinadas as adolescentes gravidas, se de fato estas atingem o âmbito da sua
realidade social.

2.1 Adolescência e família: Concepções sócio-históricas.

A família no século X, caracterizado como período da idade média, não


possuía significativas expressões no âmbito da sociedade. De acordo com
Ariés (1973), essas mudanças no contexto da família se darão com a
dissolução do estado Franco e em contrapartida a emersão da solidariedade da
linhagem e a indivisão do patrimônio da família.
Depois dos anos mil, a nova distribuição dos poderes de
comando obrigou os homens a se agruparem mais
estritamente. O estreitamento dos laços de sangue que então
se produziu correspondia a uma necessidade de proteção.
(ARIÈS, 1973, p. 211)

É apenas no século XV que começam a emergir mudanças significativas


no contexto da família, pois as crianças, especificamente os homens brancos,
passam a frequentar escolas. Isso se difere da educação dada às crianças na
idade média, que, de acordo com Ariès (1973), sua educação era garantida
pela aprendizagem junto aos adultos. Ainda de acordo com o autor, essa
substituição na forma de aprendizagem das crianças, possibilitou uma
16

aproximação da família e crianças, como também do sentimento de família e


infância.
O objetivo principal dessa mudança de atitude com relação à
aprendizagem das crianças, era garantir que os conhecimentos adquiridos
pelos homens pudessem passar para as gerações posteriores, dentro de uma
mesma família.
Os séculos XIV ao XVII são marcados por mudanças significativas na
configuração das famílias, que até então eram consideradas medievais. Entre
essas se destacam a perda expressiva dos direitos das mulheres e em
contrapartida a isso, a soberania do homem sobre a mulher.
De acordo com Gueiros (2002), a legislação reforça o poder do marido e
dos homens em geral, estabelecendo a desigualdade entre o homem e a
mulher. Para ele a expressão disso é o fato de a escolaridade passar a fazer
parte da vida dos meninos ainda no século XV, enquanto que as meninas só
terão acesso a isso no final do século XVIII e inicio do XIX.
Nesse sentido, é no século XVIII que as características da família
medieval, baseada na solidariedade da linhagem, indivisão do patrimônio e
autoridade patriarcal, vão perdendo força, dando espaço para a família
moderna. Essa tem como características a separação do publico e do privado e
a individualização no seio da própria família.
Vale ressaltar que, essa passagem da família medieval para a moderna
se deu a principio nas classes mais abastadas, para depois se estender as
famílias das classes subalternas ainda no final do mesmo século. Se
propagando assim para todas as classes sociais.
Na segunda metade do século XIX, a partir do processo de
industrialização e movimento feminista, se constatou novas configurações na
concepção da família e do modelo patriarcal vigente. Conforme Gueiros (2002)
é quando começa a se desenvolver a família conjugal moderna, na qual a
escolha dos parceiros é baseada no amor romântico, e tem como perspectiva a
superação da dicotomia entre amor e sexo, deveres e criação de novos papeis
do homem e da mulher no casamento.
Porém, apesar das mudanças advindas no decorrer dos séculos, elas
não aconteceram de forma horizontal entre as classes sociais, tendo em vista
que, as classes subalternas ainda permaneciam arraigadas às pratica e
17

costumes medievais. Pois, para Ariès (1973), essa evolução da família


medieval pra a moderna durante o século XVII e para a família moderna
durante muito tempo, se limitou aos nobres, aos burgueses, aos artesões e aos
lavradores ricos.
Diante do exposto até aqui, se observa que os valores até então eram
entendidos como medievais, começam a se diluir e desaparecer. Em
contrapartida a isso, surge uma necessidade de intimidade e identidade no seio
da família e seus membros.
Sendo assim, as mudanças ocorridas no âmbito da família serão mais
significativas e sentidas por seus membros entre os séculos XVIII e XIX,
trazendo novas concepções de relações familiares, sociedade e Estado. Nesse
sentido, nessa perspectiva de desenvolvimento e progresso dos sujeitos,
sociedade e Estado é que no século XX, teremos a promulgação da
Constituição de Federal de 1988 – CF88, considerada um marco legal no
Brasil, em termos de redemocratização, pois o Brasil acabará de sair de uma
ditadura militar. E no que diz respeito às direitos humanos fundamentais,
sociais, políticos e econômicos.
Nesse sentido, é a partir da Constituição de 1988 que a família ganhará
mais destaque no âmbito do Estado. Além disso, a CF de 88 trará em seu
capitulo VII, que diz respeito à família, à criança, ao adolescente, ao jovem e ao
idoso, a família como base da sociedade, trazendo novas concepções de
família e igualdade entre os gêneros. Isso fica exposto em seu artigo 266, em
seus incisos 3º, 4º e 5º:

§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união


estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade


formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

§5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são


exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
(Constituição Federal, 1988)
Essas mudanças ocorridas nos modelos de família se darão
principalmente, devido ao crescimento de divórcios, a diminuição no número de
casamentos e a diminuição do número de filhos e o desejo das mulheres de tê-
los. Além disso, as mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas,
18

também possibilitaram essas transformações no âmbito da família, haja vista


que essas incidem diretamente na realidade dos sujeitos.
Isso fica evidente ao analisarmos os dados do IBGE – Instituto Brasileiro
De Geografia e Estatística. No ano de 2003 foi registrado o total de 959. 901
casamentos civis e nesse mesmo ano os números de divórcios foram de 37.
703, significando que 4% do total de casamentos desse ano terminaram em
divórcio. Já no ano de 2015, doze anos depois, o número de casamentos foi de
1 137 321 e o de divórcio foi de 328 960, ou seja, 30% dos casamentos no ano
de 2015 culminaram em divórcio. Esses dados demonstram um grande
crescimento na taxa de divórcios no Brasil.
Com relação à diminuição do número de filhos, segundo o IBGE (2017),
tamanho da família brasileira diminuiu em todas as regiões, passando de 4,3
pessoas por família em 1981 e chegando a 3,3 pessoas em 2001. Sendo o
número médio de filhos por família de 1,6 filhos. Já nos anos de 2003, o
número médio de filhos apresentou uma diferença mínima em relação do ano
anterior, de 1,6 para 1,5 filhos por família.
Dentre as mudanças ocorridas no âmbito da família está à composição
familiar. Esta, segundo Kaslow (2001:37) apud Szymanski (2002: 10), possui
nove categorias, podendo estas ser consideradas famílias. Elas são:

1) Família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos


biológicos;
2) Famílias extensas1 incluindo três ou quatro gerações;
3) Famílias adotivas temporárias;
4) Famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou
multiculturais;
5) Casais;
6) Famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe;
7) Casais homossexuais, com ou sem crianças;
8) Famílias reconstituídas depois do divórcio;
9) Varias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas
com forte compromisso mútuo.

Essas novas configurações nos trazem novas concepções no que diz


respeito à família, e consequentemente na forma como seus membros se
relacionam entre si e com a sociedade. Pois, é na família que os sujeitos

1
De acordo com o Estatuto da Criança e do adolescente (1990), entende-se por família
extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou unidade do
casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou o adolescente convive e
mantém vínculos de afinidade e afetividade.
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constroem formas para se relacionar em sociedade. Porém, segundo


Szymanski (2002), o modo de ser e agir desses sujeitos vão estar associados à
história e a sociedade na qual estão inseridos.
Partindo dessa perspectiva, as relações familiares e sociais, não se
davam da mesma maneira em uma pequena comunidade rural e uma grande
metrópole, tendo em vista que, seus valores e forma de socialização são
distintos. Nas grandes cidades a ideologia capitalista é mais arraigada, tendo
mais força entre os sujeitos.
Isso também é sentido no âmbito das famílias das classes subalternas,
haja vista que, a forma como esses sujeitos se relacionam entre si e em
sociedade, é determinada a partir de sua construção histórica, a cultura no seio
familiar e a classe social a qual os sujeitos pertencem. A respeito dessa
categoria, a autora afirma:

Portanto, é um dos elementos definidores dos modos de


relacionamento interpessoal, por seus membros carregarem
culturas próprias, por compartilharem uma história, pelas
experiências vividas, pelas oportunidades educacionais que
receberam e pelas condições de vida que experimentaram.
(Szymanski, 2002, p. 17)

As transformações vividas no campo econômico, social e politico, irão


interferir na forma como as famílias se configuram e relacionam entre si e com
a sociedade. Ou seja, o modo de produção vigente em uma sociedade incidi
direta e/ou indiretamente na forma como a se desenha e relaciona as famílias e
seus sujeitos. Nesse sentido, as famílias e seus membros têm sofrido em seu
cotidiano os rebatimentos advindos do modo de produção capitalista, vigente
na sociedade atual.
O capitalismo irá se expandir no século XIX, com o processo de
industrialização. Vale lembrar que a expansão do capitalismo se dá no mesmo
período que a família conjugal moderna está se desenvolvendo. Este sistema
tem como principais características a propriedade privada dos meios de
produção e as relações assalariadas, sendo baseado na relação capital x
trabalho.
Nesse sistema há a prevalência de duas classes sociais antagônicas: a
classe trabalhadora e a burguesia, na qual uma detentora apenas de sua força
de trabalho para vender em troca de salário, e a outra é detentora dos meios
20

de produção.
O modo de produção capitalista possui um alto nível de desenvolvimento
das forças produtivas e de riqueza, porém, essa riqueza é concentrada nas
mãos de poucos e seu desenvolvimento gera exploração, pobreza,
desigualdades e exclusões sociais.

Nas sociedades anteriores a ordem burguesa, as


desigualdades, as privações e etc, decorriam de uma escassez
que o baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas
não podia suprir (e a que era correlatado um componente ideal
que legitimava as desigualdades, as privações, etc.); na ordem
burguesa constituída, decorrem de uma escassez produzida
socialmente, de uma escassez que resulta necessariamente da
contradição entre as forças produtivas (crescentemente
socializadas) e as relações de produção (que garantem a
apropriação privada do excedente e a decisão privada da sua
distinção). (Netto, 2001, p. 46)

É nesse contexto que uma grande parcela da sociedade está inserida,


em um cenário de grandes desigualdades e exclusões sociais, tendo seus
direito diariamente violados e/ou negados, por um sistema que oprime e exclui
seus sujeitos.
Diante disso, é em meio a esse cenário, de desigualdades e exclusões,
que as famílias e seus membros estão inseridos, e consequentemente as
crianças e adolescentes. Sendo inseridos, se desenvolvendo e se reproduzindo
socialmente em uma conjuntura cercada e pobreza, desigualdade, exploração
e exclusão social. Passando por essa fase tendo muitas vezes seus direitos
negados ou negligenciados, ou até mesmo sendo “empurrados” para a vida
adulta mais cedo.
Segundo o estatuto da criança e do adolescente, Lei 8.069 de 13 de
julho de 1990, considerada criança pessoas com até 12 anos de idade
incompletos, e adolescentes todo aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.
Estes gozam de todos os direitos fundamentais da pessoa humana, devendo-
lhes ser assegurado por lei todos os direitos, oportunidades e facilitações para
o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual e social. De acordo com o
ministério da saúde (2007), a adolescência é uma etapa da vida compreendida
entre a infância e a vida adulta, marcada por um processo de crescimento e
desenvolvimento biopsicossocial.
É nessa fase que ocorrem grandes mudanças físicas e mentais nos
21

sujeitos. Sendo a adolescência um fenômeno universal, esta irá se apresentar


na vida de todos os sujeitos, porém, de formas diferentes, sendo exposta de
acordo com seus costumes, histórias e classes sociais.

Nas camadas mais altas ela é entendida como um período de


experimentação sem maiores consequências emocionais,
econômicas e sociais, enquanto nas classes populares não há
possibilidade de ter este caráter, em função do ingresso
precoce no mercado de trabalho. Os riscos do experimentar,
tentar, viver novas experiências são maiores, sendo mais difícil
arcar com as consequências econômicas e afetivas. (Kahhale,
2003, p. 92)

Diante dessa afirmação, é de suma importância ressaltar que, os


processos no âmbito social, econômico e político, farão com que cada
adolescente atravesse essa fase de maneira diferenciada.
Na sociedade capitalista, essa adolescência irá se apresentar de formas
diferenciadas nas classes abastadas e subalternas. O adolescente da classe
burguesa conseguirá mais tempo e recursos para atravessar essa fase com
tranquilidade, tendo em vista que estes irão dispor de menos responsabilidades
e maiores incentivos para seus estudos e profissionalização.
Enquanto que, para um adolescente advindo da classe trabalhadora as
exclusões, desigualdades e violação de direitos que assolam cotidianamente a
vida dessa classe, irão incidir de forma negativa na vida destes, os empurrando
precocemente para a vida adulta.

O jovem de classe mais pobre já chega à adolescência com


grandes desvantagens: atravessa-a com muitas dificuldades,
frequentemente sem poder nem sequer pensar em conflitos
familiares, sexuais ou mudanças no corpo, pois tem
necessidades básicas prementes a serem resolvidas, como
conseguir roupa, comida; e suas perspectivas e opções para o
futuro são limitadas. (Becker, 2003, p. 59)

O sistema capitalista nos apresenta a adolescência como uma fase


cheia de conflitos e crises, sendo considerados adultos aqueles que são
“engolidos pelo sistema”, ou seja, que conseguem se encaixar e incorporar os
padrões e ideologia dominante.

Afinal de contas, o novo, o questionamento e o conflito que


muitas vezes explodem no adolescente são muito perigosos...
então, nada melhor que enclausurar todas as ameaças de um
período da vida do individuo, aplicar-lhes um rótulo de “crise
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normal” e definir a adaptação às regras vigentes como “cura”


ou “resolução” da crise. (Becker, 2003, p. 9)

A ideologia dominante é posta cotidianamente na vida dos sujeitos,


através da propagação e manutenção da ideologia capitalista, baseada no
individualismo, lógica de consumo e acumulação de riquezas. O adolescente,
diferente das pessoas na fase adulta, está em um momento de duvidas e
questionamentos, que podem levar (ou não) a contestação do modo de
produção vigente.

Ora, o adolescente ainda está em geral menos “enfeitiçado”


pelo sistema ideológico. Já a maioria dos adultos está por
demais envolvidas pela ideologia que lhes orienta o
pensamento e ação, de tal forma que seus valores lhes
parecem absolutamente verdadeiros, lógicos e inquestionáveis.
Assim, muitas vezes, é o adolescente quem vai assumir o
papel da critica, da transformação. Mas esses papéis não são
predeterminados ou estanques: a maioria dos jovens tem como
projetos de vida a reprodução dos valores e padrões culturais
dos seus pais e da sociedade. (Becker, 2003, p. 68)

Diante disso, o adolescente terá papel fundamental na sociedade de


classes, à medida que questiona os padrões e ideologia da sociedade
capitalista e o papel do Estado nesse contexto. É no seio da família, aqui é
entendida como um espaço complexo e não estático que sofre modificações a
partir das transformações sociais, politicas e econômicas, que a criança e o
adolescente irá se desenvolver e aprender a socializar em sociedade.
As famílias inseridas nas classes subalternas, além de experimentar as
transformações supracitadas, são acometidas pela pobreza, exploração,
desigualdades e exclusões sociais inerentes ao modo de produção capitalista,
e os adolescentes são os sujeitos mais atingidos pelas contradições presentes
nesse sistema.
A criança e o adolescente enquanto sujeitos de direitos, e sendo mais
vulneráveis as contradições presentes no sistema capitalista deveriam ter uma
atenção e intervenção mais eficiente e eficaz do Estado, como prevê o Estatuto
da Criança e do Adolescente em seu art. 4º e 5º.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em


geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
23

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à


liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais. (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).

Por fim, apesar de atualmente existir legislações que garantam o pleno


desenvolvimento biológico, mental e social das crianças e adolescentes, a
realidade desses sujeitos que se encontram nas classes pobres é bem
diferente. Estes têm seus direitos previstos por lei, porém eles não conseguem
atingi-los, tendo muitas vezes seus direitos negligenciados, negados e violados
cotidianamente.
É preciso pensar de que forma a adolescência está sendo concebida e
atendida pela sociedade e pelo Estado. Até que ponto o modo de produção
capitalista impede o pleno desenvolvimento desses sujeitos, principalmente os
adolescentes que se encontram a margem desse sistema. Nesse sentido, é
necessária a luta constante na defesa dos direitos humanos da criança e do
adolescente, para que estes não sejam negligenciados.

2.2 Os Direitos humanos da criança e do adolescente: um processo histórico


de lutas.

Para nos debruçarmos sobre a discussão dos direitos humanos da


criança e do adolescente, é necessário trazer o debate histórico e filosófico no
qual se solidifica o surgimento dos direitos humanos, como também a critica de
Marx a este.
Segundo Bussinger (1997), os direitos fundamentais da pessoa humana
tem seu movimento de ideias intrinsecamente ligados à formação do Estado
moderno. Sendo a secularização da politica um fator determinante para esse
processo, pois isso possibilitou o rompimento com a ideia de que a lei humana
e os seus poderes políticos estavam subjugados ao direito divino, no qual Deus
expressa suas vontades a partir de um soberano.
O contexto econômico, político, cultural e social do século XVI ocorridos
na Europa culminaram para que o poder do soberano fosse contestado, o que
resultou num novo olhar sob a relação soberano/ súdito. O que de acordo com
Bobbio (1992), citado por Bussinger (1997), passou a ser uma relação marcada
24

pelo ponto de vista dos direitos do cidadão, não mais como súdito e não mais
pelo ponto de vista dos direitos do soberano.
Um dos fatos marcantes na construção histórica dos direitos humanos é
o movimento iluminista, no século XVIII, que contribuiu para a mudança de
ideias e culturas da época, pois se partia da perspectiva da razão humana.
Nesse sentido, o debate dos direitos do homem a partir da razão, possibilitou a
ideia de respeito por parte das autoridades para aquilo que seria os direitos
naturais do homem, ou seja, direitos inatos a estes.
O processo de independência dos Estados Unidos da América - EUA e a
revolução francesa são episódios históricos que também irão dar subsídios
para as ideias de direitos humanos. Os EUA, porque em sua declaração de
independência manifesta a defesa de princípios pautados da liberdade dos
direitos naturais ao homem. Enquanto a França, em sua declaração dos
direitos do homem e do cidadão afirma a fraternidade, liberdade e igualdade
como princípios que devem nortear as ações e condutas dos homens.
A ideia de direitos naturais do homem deu subsidio para o emergir das
ideias iluministas, o qual afirma Bussinger (1997), na sua essência está à
defesa da emancipação do individuo de tudo aquilo que impede sua expansão
e a expansão de suas atividades.

A liberdade tem, para os liberais, um valor moral que deve


materializar-se no alargamento da esfera da liberdade do
individuo diante da autoridade pública. A liberdade aí significa
que o individuo tem poder de agir segundo a sua razão em
todos os domínios onde sua conservação e sua felicidade está
em jogo: vida, saúde, felicidade, propriedade, ou, em outras
palavras, o individuo precisa ter liberdade para seguir sua
própria vontade em tudo quanto à regra não prescreve.
(BUSSINGER, p. 28, 1997)

Diante disso, os direitos humanos, foi objeto de luta da burguesia


ascendente XVIII e XIX, que tinham em suas bases filosóficas as ideias
iluministas e lutavam contra as arbitrariedades do Estado absolutista até então
vigente. Para Bussinger (1997), essa luta deu origem ao que se pode chamar
de primeira geração dos direitos humanos.
Estes apresentavam duas ordens de direitos: os direitos políticos e os
direitos civis. Os direitos políticos ganham força no século XIX e estão ligados,
segundo Bussinger (1997) à formação do Estado democrático representativo e
25

implicam uma liberdade ativa, uma participação dos cidadãos na determinação


dos objetos políticos do Estado. Enquanto os direitos civis são aqueles que
dizem respeito ao pensamento, liberdade. Eles dependem apenas da vontade
dos sujeitos, desde que não interfira no direito do outro e esteja em
conformidade com as leis.
Todavia, essa perspectiva liberal dos direito humanos foi bastante
questionada em dois pontos: o primeiro está no fato de que os direitos
humanos não atingiam os trabalhadores, tendo ainda presente um enorme
abismo social na sociedade vigente, o segundo está no fundamento desses
direitos, que partem da premissa dos direitos inerentes ao homem que surgem
como expressões da vida desses sujeitos.
Diante disso, de acordo com Bussinger (1997), a demanda em torno da
satisfação de novos carecimentos materiais e morais, como decorrência da
questão social, deram um tom a luta do movimento operário europeu as
opressões e condições de vida e trabalho.
Essa organização e movimento da classe trabalhadora foram
direcionados ao Estado, onde pleiteavam melhores condições de vida e de
trabalho, como também maior intervenção estatal nas esferas econômica e
social, a fim de melhorar os níveis de vida dos operários e suas famílias.
Em meio a esse contexto o pensamento socialista europeu do século
XIX, enxergava a necessidade de ampliação dos direitos humanos, tendo em
vista que estes não alcançavam a grande massa da sociedade. Pois, as
condições de vida e trabalho dos sujeitos só pioravam com o agravamento da
questão social, o que consequentemente fazia crescer o nível de desigualdade
e pobreza entre os sujeitos.
A consolidação do Estado liberal e a revolução industrial trouxeram
bruscas mudanças no campo social, econômico e politico, o que tornou ainda
mais expressiva as desigualdades sociais entre as classes dentro de uma
mesma sociedade. As liberdades defendidas pelas ideias liberais, não
condiziam com a realidade da classe trabalhadora, pois apesar de
juridicamente ter seus direitos iguais ao da classe burguesa, eles, na pratica,
eram explorados e precisavam vender sua força de trabalho em troca de
salario para garantir sua sobrevivência.
A questão social irá surgir em decorrência da pauperização da classe
26

trabalhadora. E de acordo com Netto (2001), pela primeira vez na história


registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade
social em que se produziam riquezas. Tanto mais a sociedade se revelava
capaz de progressivamente produzir mais bens e serviços, tanto mais
aumentava o contingente de seus membros que, além de não ter acesso
efetivo a tais bens e serviços, viam-se despossuídos das condições materiais
de vida de que dispunham anteriormente.
Diante disso, Marx irá apontar a fragilidade dos direitos do homem, como
também dos direito humanos. Segundo Bussinger (1997), para Marx a
declaração de independência dos EUA e a declaração francesa não passavam
de ilusão. E os direitos humanos, enquanto produto de enunciados formais de
caráter liberal e individualista, ao dirigir-se a todos os seres humanos e ao
pretender ter um caráter universal, são, na realidade, expressões dos anseios e
interesses da classe burguesa que conseguiram, em sua luta contra o
absolutismo feudal, traduzir em um único projeto os sentimentos da ampla
maioria do povo.
Nessa perspectiva, os direitos naturais do homem vai se dar a partir de
uma concepção individualista, de interesses particulares e privados, que para
Bussinger (1997), se por um lado tem como mérito promover a emancipação
do homem, por outro, tornou natural e deu legitimidade ao fundamento da
desigualdade social entre os homens: a propriedade privada.
Então, para que se alcance de fato a emancipação do homem, é
necessário não apenas uma emancipação politica, mas também social. Pois
para Marx (1975), citado por Bussinger (1997), o fator decisivo para que tenha
inicio uma nova época para a convivência para o homem, fundada na
superação da propriedade privada dos meios de produção e na abolição das
diferenças sociais entre proprietários e não proprietários, de cuja distinção se
nutre a divisão da sociedade em classes sociais.
Os direitos humanos no século XX, se dará fundamentado as ideias
humanistas e a partir da interpretação dos anseios e reivindicação da
sociedade que se desenvolvia, sendo este baseado na tutela dos indivíduos.
No âmbito internacional, o marco legal no que diz respeito aos direitos
humanos é a declaração universal dos direitos do homem, em 1948. Em seus
27

artigos ela prega, mais uma vez, a igualdade e a liberdade entre os sujeitos,
destacados em seus artigos 1, 2 e 7, porém dessa vez em âmbito nacional.

Art. 1 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em


dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.

Art. 2

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e


as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na


condição política, jurídica ou internacional do país ou território a
que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a
qualquer outra limitação de soberania.

Art. 7 Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem


qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a
igual proteção contra qualquer discriminação que viole a
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
discriminação

No Brasil, o marco legal que sustentará os direitos humanos se dará


com a promulgação da CF de 1988. Esta trará os direitos humanos a partir de
uma ótica de direitos e garantias fundamentais dos sujeitos em seu titulo II,
dando destaque os capítulos II, referente aos direitos sociais, que nos diz:

Art. 6 São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.
Art. 7 São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social.

Como também no titulo VIII, que diz respeito à ordem social, em seu
capitulo VIII, no que diz respeito à família, a criança, o adolescente e o idoso:

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
28

colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,


exploração, violência, crueldade e opressão.

A década de 1980, período de promulgação da constituição federal, foi


marcada por diversas lutas e mudanças no cenário politico e social, a fim de
que houvesse uma regulamentação de um Estado democrático de direito. Além
desse contexto nacional da década de 1980, no âmbito internacional as nações
unidas em 1979 aprovaram a Convenção Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente que instituiu a cidadania infanto juvenil, e consequentemente os
direitos desse segmento.
Foi nesse contexto, em um movimento dialético internacional e nacional
que surgiram as primeiras lutas no campo da infância e adolescência no Brasil,
almejando a defesa dos direitos da criança e do adolescente e mudanças na
Politica Nacional de Bem-Estar ao Menor – PNBM e no código de menores.
O primeiro código de menores surgiu em 1927, e segundo Bidarra e
Oliveira (2007), esta foi à primeira legislação voltada para “questão do menor” 2
no Brasil e na América Latina. Ainda de acordo com as autoras, irão se
desenvolver formas de assistência e de proteção a partir de um viés
discriminatório, assim constituindo uma visão estigmatizada da infância pobre
que, classificada como “situação irregular”, subsidiava a tese (elitista) da
“indissociável e natural” relação entre pobreza e criminalidade.
Em 1946 foi criada a Organização Das Noções Unidas (ONU), e uma
das suas primeiras ações foi à construção do Fundo Das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF), o que segundo as autoras é um dos mais importantes
organismos de defesa e proteção da criança e adolescentes do mundo.
Ainda de acordo com as autoras, devido às praticas narcisistas e
segregação étnico-racial da época e seus efeitos na vida das crianças e
adolescentes, esses sujeitos voltaram a ser tema preocupante a ser debatido.
Isso fica exposto com a Declaração Universal Dos Direitos Humanos, que traz
o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
humana, sendo seus direitos iguais e inalienáveis. Pregando ainda a liberdade,
justiça e paz no mundo.

2
Segundo Bidarra e Oliveira (2007), o terno “menor”, somente era utilizado para aqueles que
se encontrava em situação irregular, sendo considerado irregular, segundo o código de
menores de 1927, os menores que abandonados e delinquentes.
29

A ONU aprovou em 1959 a declaração dos direitos da criança e do


adolescente, e de acordo com Bobbio (1992) apud Bidarra e Oliveira (2007), o
conteúdo dessa declaração refletiu um verdadeiro desenvolvimento e gradual
amadurecimento da declaração universal, tendo em vista que nela se
apresentou a questão da criança como uma especificação da solução dada aos
direitos do homem, pois devido à imaturidade física e intelectual desses
sujeitos estes necessitam de proteção e cuidados especiais.
No Brasil, nesse mesmo período da década de 1950, surgiram muitas
ideias e discussões sobre a questão do menor, se propondo até uma
reformulação do código de menores de 1927. Porém, esses debates foram
cessados com o golpe militar de 1964, que foi marcado por violência e
repressão.
Segundo Bidarra e Oliveira (2007), as tentativas de revisão do código de
menores continuaram nos anos de 1970, o que propiciou promulgação da Lei
nº 6.697, que instituiu o novo código de menores. Vale ressaltar que, segundo
as autoras, essa legislação introduziu o conceito de “menor em situação
irregular”.
O novo código de menores surgiu em 1979, respaldado pela Politica
Nacional de Bem-Estar ao Menor - PNBM e de acordo com Silva (2005)
representavam os ideais militares que já estavam em crise. Não correspondia
aos interesses das forças politicas e da sociedade civil e nem representava os
interesses das crianças e dos adolescentes, os quais permaneciam confinados
nas instituições totais e submetidos ao poder discriminatório do juiz de
menores.
Diante desse contexto, era cada vez mais perceptível para a sociedade
civil, governo e movimentos sociais que o código de menores e a PNBM eram
insustentável, existindo dois fatos considerados importantes a cerca desse
quadro. O primeiro diz respeito à forma como chamavam as crianças e
adolescentes, denominados “menor”, por não possuírem condições para sua
subsistência e representarem um perigo moral a sociedade, fazendo com que
estes fossem punidos severamente por sua situação socioeconômica, a qual
não tinha culpa.
E a segunda é a forma como tratavam as crianças e adolescentes que
eram apreendidos por suspeita de ato infracional, sendo privados de sua
30

liberdade mesmo sem ser averiguado se de fato ocorreu o ato infracional, não
possibilitando defesa a esses sujeitos.
É a partir do cenário de 1980, tomado pelas lutas em prol da
democracia, principalmente os setores que lutavam pelos direitos da criança e
do adolescente, que, de acordo com Bidarra e Oliveira (2007), as denuncias ao
falho sistema de intervenção aplicado pelo Estado movimentaram os vários
setores da sociedade, empenhados em consolidar uma nova politica baseada
na esfera da garantia de direitos para esse segmento populacional.
É nesse contexto de falência do código de menor e esgotamento
histórico e jurídico que emerge o Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual
estabelece a proteção integral da criança e do adolescente e reafirma o já dito
constitucionalmente, que esses indivíduos são sujeitos de direitos e estão em
situação de desenvolvimento.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade.

Segundo Neto (2011), o Estatuto da Criança e do Adolescente


estabelece um sistema de promoção (ou defesa) desses direitos fundamentais,
através de medidas administrativas e jurídicas. Norteando a efetivação desse
sistema jurídico de garantias de prioridades de direitos, temos os seguintes
princípios:

a) Prioridade absoluta para o atendimento direto da criança


e adolescentes;
b) Prevalência do melhor interesse da infância e da
adolescente;
c) Descentralização politico-administrativa do atendimento;
d) Participação popular partidária na gestão pública;
e) Manutenção de fundos públicos especiais;
f) Integração operacional, em casos específicos de
atendimento inicial (adolescente infrator, p.ex.);
g) Mobilização social.

O ECA nos apresenta a criança e o adolescente como responsabilidade


do Estado, família e sociedade, chamando estes para o cuidado com a criança
e o adolescente, enquanto sujeitos em desenvolvimento biológico, mental e
31

social. Proporcionando espaços de desenvolvimento saudável para estes


sujeitos.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em


geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Mesmo o ECA sendo um marco legal no que diz respeito aos direitos
das crianças e adolescentes e representando grandes vitorias para esses
segmento, segundo Silva (2005) ele foi uma conquista obtida tardiamente nos
marcos do neoliberalismo, nos quais os direitos estão ameaçados,
precarizados e reduzidos, criando um impasse na “cidadania de crianças”, no
sentido de tê-las conquistado formalmente, mas não existir condições reais
para ser efetiva e usufruída.

Autores como Costa e Farjado qualificam o ECA a partir de três


adjetivos: “inovador”, “garantista” e “participativo”. Inovador
frente ao conservadorismo do código de menores (1972 e
1979), na medida em que regulamentou a “cidadania” infanto-
juvenil. Garantista, em razão de ter introduzido o sistema das
garantias de constitucionais, negado pelo código. Participativo,
pela maciça, expressiva e legitima participação popular durante
o processo de elaboração, que não se esgotou na participação
ativa dos militantes, sendo instituída formalmente a
participação da sociedade enquanto instrumento deliberativo,
operativo, fiscalizador e controlador das ações. (SILVA, 2005)

O ECA foi à primeira lei nacional que possibilitou juridicamente


mudanças no código de menores, como também trouxe a perspectiva de
proteção integral das crianças e adolescentes e controle por parte da
sociedade civil em relação às ações do Estado designadas a esses sujeitos.

Nesse sentido, no campo da gestão desse instrumento normativo de


participação, teremos o conselho nacional dos direitos da criança e do
adolescente – CONANDA e os Conselhos Tutelares. O CONANDA é um órgão
colegiado de caráter deliberativo e composição partidária, previsto no artigo 88
do ECA. Este órgão integra a estrutura básica da secretaria de direitos
humanos da presidência da republica, e tem como principais pautas:
32

• O combate à violência e exploração sexual praticada


contra crianças e adolescentes;
• A prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção
do trabalhador adolescente;
• A promoção e a defesa dos direitos de crianças e
adolescentes indígenas, quilombolas, crianças e adolescentes
com deficiência;
• Criação de parâmetros de funcionamento e ação para as
diversas partes integrantes do sistema de garantia de direitos;
e
• O acompanhamento de projetos de lei em tramitação no
CN referentes aos direitos de crianças e adolescentes.

Os conselhos tutelares são uma ferramenta fundamental na garantia dos


direitos da criança e do adolescente, e tem como dever zelar pelo direito
desses sujeitos e reprimir qualquer tipo de violência, exploração e negligencias
que possam acometer a vida das crianças e adolescentes. Entre suas
atribuições está:

• Atender as crianças e adolescentes nas hipóteses


previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no
art. 101, I a VII;
• Atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando
as medidas previstas no art. 129, I a VII;
• Promover a execução de suas decisões, podendo para
tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,


serviço social, previdência, trabalho e segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de


descumprimento injustificado de suas deliberações.

• Encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que


constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da
criança ou adolescente;
• Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
proposta orçamentária para planos e programas de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
• Promover e incentivar, na comunidade e nos grupos
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
adolescentes. (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).

Diante disso, o Estatuto da criança e do adolescente elenca em seu


fundamento o discurso de democratização, descentralização politica e
administrativa, com o objetivo de dividir a responsabilidade do
33

desenvolvimento, proteção e execução das politicas publicas voltada para as


crianças e adolescentes com a sociedade, ou seja, com o terceiro setor, como
nos apresenta em seu artigo 86.

A política de atendimento dos direitos da criança e do


adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de
ações governamentais e não governamentais, da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios. (BRASIL, lei
nº8. 069, de 13 de julho de 1990).

Este reforçara os direitos fundamentais já previstos na constituição de 1988,


porém, trará um olhar a partir das particularidades da criança e o adolescente.
Em seus direitos fundamentais destacam-se o direito a vida, saúde, liberdade,
respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária, entre outros.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes,
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade. (BRASIL, lei nº8. 069, de 13 de julho de
1990).

O Estatuto da Criança e do Adolescente mesmo sendo considerado um


marco legal, histórico, político e social na perspectiva dos direitos da criança e
do adolescente, ainda é considerado por autores como Silva e Neto, através de
seu arcabouço legal e burocrático, uma forma de operalização e reprodução o
discurso dominante inerente ao modo de produção capitalista.
Nesse sentindo, de acordo com Neto (2005), é necessário trabalhar as
lacunas do discurso e da prática ideológica, produzidos pelo poder politico e
econômico, dominantes, hegemônicos, por força do atual processo de
mundialização do mercado e de reforço do modelo cultural vigente. É preciso
ainda, ter cuidado para que determinado tipo de discurso jurídico não seja
produtor de um direito positivo, o qual venha normalizar as relações de
geração, a partir da ótica daqueles a quem interessa manter a situação de
dominação do mundo adulto sobre o mundo infanto-juvenil.
Diante do que foi exposto, concluísse que os direitos humanos supõem a
universalidade, democracia e cidadania em suas ações, porém, esbarra na
estrutura dominante da sociedade capitalista. Ou seja, esbarra nos limites
34

econômicos, políticos e sociais, de uma sociedade a qual precisa gerar


desigualdades e exclusões sociais para se manter.
Assim, quando falamos nos direitos humanos da criança e do
adolescente, estes também esbarram nos limites estruturais da sociedade
capitalista. Tendo em vista que, a construção do Estatuto da Criança e do
Adolescente não consegue abarcar a realidade social dos sujeitos e suas
necessidades socioeconômicas, a partir de uma perspectiva regional.
Isso fica evidente, de acordo com dados do IBGE (2001) que diz respeito
à renda per capita dos adolescentes e suas famílias. De acordo com o órgão,
no nordeste cerca de 60,1% das famílias com adolescentes de até 14 anos,
vivem com ½ salário mínimo. Enquanto que no sudeste esse número cai para
26.2 % das famílias.
Assim, é necessário politicas que de fato alcancem os direitos
fundamentais dessas crianças e adolescentes, como previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Que os conselhos tutelares da criança e do
adolescente, atuem de forma a interferir, de forma mais eficaz, na realidade
desses sujeitos, garantindo seus direitos humanos.

2.3 Gravidez na adolescência: até onde vai o alcance das politicas públicas?

A maternidade na adolescência, até o fim da primeira metade do século


XX, era considerada um destino natural e desejável para a sociedade e
adolescentes da época. Segundo Cavasin e Arruda (1999), no Brasil no século
passado, a faixa etária entre 12 e 18 anos não eram entendidas como uma
passagem da infância para a vida adulta. Assim meninas de 12 e 14 anos
estavam aptas para o casamento, e se não se casassem, nessa idade, seria
problemático para os pais, uma vez que, após os 14 anos, começavam a
tornam-se velhas para a procriação.
Na atualidade a discussão de gravidez na adolescência possui outra
dimensão, tendo em vista que a adolescência será vista como uma fase de
desenvolvimento psicológico, biológico e social desses sujeitos. Como sinaliza
o Ministério da Saúde:

A adolescência, faixa etária entre 10 e 19 anos, é o período da


vida caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento,
que se manifesta por transformações anatômicas, fisiológicas,
35

psicológicas e sociais. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE,


1996).

Segundo Cavasin e Arruda (1999), isso se dá porque atualmente a


sociedade atribui a faixa etária de 12 aos 20 anos à atividade escolar e a
preparação profissional dos adolescentes e jovens. Diante disso, são impostos
novos projetos de vida aos adolescentes, e consequentemente a ideia de
maternidade como natural na adolescência será rompida, emergindo como um
problema social e de saúde publica ser enfrentado.

Inscreve-se nas entrelinhas a norma de que é preciso atingir a


maioridade, terminar os estudos, ter melhor trabalho e melhor
salário, para então estabelecer uma relação amorosa
duradoura; de que a responsabilidade pelos/as filhos/as, além
de ser atribuída à idade adulta, fica restrita ao âmbito da
família. (CAVASIN E ARRUDA, 1999).

Diante disso, de acordo com Nunes (2012, apud Silva 2012), a gravidez
na adolescência começa a ser debatida no âmbito da saúde pública, a partir da
preocupação com o aumento do número de partos realizados em hospitais
públicos em adolescentes com menos de 20 anos, que se intensificou ao longo
das duas últimas décadas.
Tendo em vista que, de acordo com Pereira (2000, apud Mioto 2005), de
acordo com dados do ministério da saúde, mais de 50% das adolescentes
brasileiras de 15 a 19 anos, com baixa escolaridade, tem pelo menos um filho,
sendo que em 1993 e 1998 houve um aumento de 31% nos partos de meninas
de 10 a catorze anos.
No que diz respeito ao contexto socioeconômico, segundo Mioto (2005),
as taxas de fecundidade nos grupos de crianças e adolescentes entre 10 e 14
anos e 15 e 19 anos aumentaram no Brasil entre os anos de 1980 e 1995,
sobretudo entre jovens de nível sócio econômico inferior, em contraste com a
redução expressiva nas demais faixas etárias.

De acordo com os dados, no grupo de adolescentes (quinze-


dezenove anos) mais pobres, a taxa de fecundidade é de 128
por 1000, quase dez vezes maior que entre aquelas de renda
mais elevada. As informações sobre o grau de escolaridade e o
tipo de maternidade utilizada (pública ou privada) permitem
também inferir que a gestação é claramente diferenciada pelo
nível social. (GAMA, 2001 apud MIOTO, p. 132, 2015).
36

Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência se caracteriza como um


fenômeno que sofre com os rebatimentos econômicos, políticos e sociais, que
irão impactar a realidade social dos adolescentes e suas famílias no Brasil.

Assim, segundo Mioto (2005), os riscos associados à gravidez na


adolescência estão muito mais relacionados aos problemas de acesso aos
serviços de saúde, ausência de rede de proteção, situações de pobreza das
mães, que as condições fisiológicas e psicossociais próprias da adolescência.
Diante disso, enxerga-se a necessidade de um suporte socioassistencial e
familiar no contexto da gravidez na adolescência, em uma perspectiva de
atenção integral a esses sujeitos, tanto no momento da gestação quanto
posterior a este.
No âmbito das políticas públicas voltadas para criança e adolescente
têm a Constituição Federal de 1988, que se propõem garantir a proteção
integral a esses sujeitos. Isso é exposto na seção IV referente à assistência
social, em seu artigo 203, incisos I e II, quando nos diz:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela


necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social, e tem por objetivos:

I – A proteção à família, à maternidade, à infância, à


adolescência e à velhice;

II – o amparo às crianças e adolescentes carentes.

Como também em seu capitulo VII, artigo 227, quando nos diz:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do estado


assegurar a criança, ao adolescente e ao jovem, como
absoluta prioridade, o direito a vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária,
além de coloca-los a salvo de toda forma de negligencia,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A constituição também assegura a saúde como um direito de todos e


dever do Estado, devendo ser garantida por este através de politicas sociais e
econômicas.
O ECA, lei 8.069 de 13 de julho de 1990, o qual dispõe sobre os direitos
fundamentais da criança e do adolescente, em seu artigo 4º irá reforçar como
já previsto na Constituição Federal de 1988, a responsabilidade do Estado,
37

família e sociedade ao desenvolvimento biopsicossocial das crianças e


adolescentes. Reconhecendo assim, a criança e o adolescente como sujeitos
de direitos, reconhecendo suas particularidades como sujeitos em
desenvolvimento.

Art. 6º Na interpretação dessa lei levar-se-ão em conta os fins


sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os
direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar
da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento. (BRASIL, lei nº8. 069, de 13 de julho de
1990).

No âmbito da saúde – a qual é entendida no ECA como um direito


fundamental da criança e do adolescente - o Estatuto a garante como um
direito que deve ser garantido mediante as politicas publicas que promovam o
desenvolvimento saudável desses sujeitos.

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e


à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.

No que concerne às políticas públicas voltadas para adolescentes


gestantes, não foi possível encontrar nada específico a esse segmento no
Estatuto da Criança e do Adolescente, lei que garante a promoção e proteção
dos direitos humanos desses sujeitos.
Neste é possível encontrar, em seu corpo legislativo, artigos
direcionados as gestantes, independente de faixa etária de idade. Pois, a
preocupação é com o desenvolvimento da criança que está sendo gerada,
visando o desenvolvimento saudável da mãe desde o pré-natal ao puerpério,
objetivando consequentemente, o desenvolvimento saudável da criança.

Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos


programas e às políticas de saúde da mulher e de
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito
do Sistema Único de Saúde.

§ 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante


garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
direito de opção da mulher.
§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta
38

hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primária,


bem como o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à
amamentação.
§ 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências
do estado puerperal.
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável
durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras
intervenções cirúrgicas por motivos médicos
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-
natal, bem como da puérpera que não comparecer às
consultas pós-parto.

Nesse sentido, é possível encontrar apenas algumas normas,


legislações e cartilhas que trazem o debate da gravidez na adolescência,
porém em uma perspectiva de prevenção desta. Essas se caracterizam como
ações dos governos com o objetivo de atingir as adolescentes e a
conscientizarem a evitar uma possível gravidez. Assim a gravidez na
adolescência é problematizada em um enfoque de prevenção e não abordando
dos direitos dessas adolescentes e futurais mães.
Existem alguns programas, projetos, legislações, cartilhas e campanhas
publicitárias que propõem a discussão da gravidez na adolescência. Vale
ressaltar que, quando são procuradas leis que visem algum tipo de amparo e
atenção a adolescentes gestantes, existe grande dificuldade para encontrar. O
que acaba se tornando uma dificuldade para os profissionais que atuam com
esses sujeitos, como também para as produções acadêmicas.
Dentre esses, destaco aqui o PROSAD (Programa Saúde do
Adolescente); Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de
Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde;
Caderneta da saúde do Adolescente (menina); Apostila Pai e Mãe. Casal na
Adolescência. E agora?; Cartilha Primeira Infância e Gravidez na Adolescência.
Para melhor compreensão desses documentos, será feita uma breve
apresentação desses, com objetivo de melhor conhecer esses programas e
compreender de que forma eles irão trazer o contexto da gravidez na
adolescência.
O PROSAD é um programa criado pelo Ministério da Saúde, através da
portaria nº 980/GM, de 21 de dezembro de 1989, e tem como publico alvo
39

indivíduos entre 10 e 19 anos de idade. Sua política de promoção à saúde e


baseada na identificação de grupos de riscos, como também de agravos para
realização de tratamento adequado e reabilitação dos sujeitos, norteados pelos
princípios da universalidade, equidade e integralidade das ações, respeitando
as diretrizes do SUS (Sistema Único De Saúde), Previstas Na Constituição De
19988.

Para o alcance de suas diretrizes, têm como objetivos:

• Promover a saúde integral do adolescente favorecendo o processo geral


de seu crescimento e desenvolvimento, buscando reduzir a morbi-
mortalidade e os desajustes individuais e sociais;
• Normatizar as ações nas áreas prioritárias do Programa;
• Estimular e apoiar a implantação e/ou implementação dos programas
estaduais e municipais, na perspectiva de assegurar ao adolescente um
atendimento adequado às suas características respeitando as
particularidades regionais e a realidade local;
• Promover e apoiar estudos e pesquisas multicêntricas relativas à
adolescência;
• Estimular a criação de um sistema de informação e documentação
dentro de um sistema nacional de saúde, na perspectiva da organização
de um centro produtor, coletor e distribuidor de informações sobre a
população adolescente;
• Contribuir com as atividades intra e interinstitucionais nos âmbitos
governamentais e não-governamentais, visando à formulação de uma
política nacional para a adolescência e juventude, a ser desenvolvida
nos níveis federal, estadual e municipal, norteadas pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Ao abordar a gravidez na adolescência, ela é apresentada a partir da


perspectiva da saúde reprodutiva, destacando a importância da disseminação
de informações sobre métodos contraceptivos e educação sexual e reprodutiva
desse segmento.
Já o documento “Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde
de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde”,
40

busca trazer uma reflexão sobre a necessidade de um modelo de atenção a


saúde dos adolescentes e jovens, integrado e que englobe as particularidades
de cada região, para que assim possa responder as necessidades no âmbito
da saúde dos adolescentes e jovens.
Estas diretrizes têm como objetivo sensibilizar e mobilizar os gestores e
profissionais da saúde, na perspectiva de integrar suas ações, programas e
politicas do SUS e nas politicas do governo, a fim de viabilizar estratégias
interfederativas e intersetoriais para que de fato essas politicas caminhem na
direção do atendimento integral à saúde da criança e adolescente. No que
concerne à gravidez na adolescência, as diretrizes abordam como algo
indesejado, incentivando apenas a prevenção, abordando os direitos dos
adolescentes e jovens de forma breve.
A Caderneta da saúde do Adolescente (menina) é lançada pelo
Ministério Da Saúde no ano de 2009, e tem por objetivo ajudar a adolescente a
acompanhar seu desenvolvimento biológico e informar sobre seus direitos
enquanto adolescente. Irá abordar também a sexualidade desses sujeitos, pois
segundo este documento, é na adolescência que se inicia o interesse pelas
relações afetivas e sexuais.
Ela nos apresenta a gravidez na adolescência de forma breve, expondo
apenas como proceder em caso de desconfiança de uma suposta gravidez;
seus direitos enquanto mãe, estabelecidos pelo ECA – como já supracitado,
numa perspectiva de desenvolvimento saudável do bebê; a importância do
aleitamento materno; e para adolescentes que ainda estudam, as escolas
através da lei nº 6202/75, tem deveres com esta nos período do pré e pós-
parto.

Art. 1º. A partir do oitavo mês de gestação e durante três


meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo
regime de exercício domiciliares instituídos pelo decreto-lei nº
1.044.21 de outubro de 1969

Paragrafo único. O inicio e o fim do período em que é permitido


o afastamento serão determinados por atestado médico a ser
apresentado à direção da escola

Art. 2º. Em casos excepcionais devidamente comprovados


mediante atestado médico, poderá ser aumentado o período de
repouso, antes e depois do parto.
41

Paragrafo único. Em qualquer caso, é assegurado às


estudantes em estado de gravidez o direito à prestação dos
exames finais.

A “Apostila Pai e Mãe. Casal na Adolescência. E agora?” se caracteriza


como um projeto de intenção com casais de pais adolescentes, de 2007. Teve
como objetivo desenvolver, implementar e avaliar programas direcionados a
casais que tiveram tido filhos na adolescência e desenvolver e avaliar
programas de capacitação aos profissionais da rede municipal de saúde, para
o atendimento eficaz aos pais e mães adolescentes.
Ao trazer o debate da gravidez na adolescência, nos apresenta esta
como um tema preocupante associada a vários fatores de risco e sendo
considerado um problema de saúde pública no Brasil e em outros países. Além
disso, destaca os fatores médico, sociais e psicológicos que possivelmente irão
acometer as adolescentes que engravidam precocemente.
Esta apostila traz um debate mais rico com relação à gravidez na
adolescência, trazendo os reflexos desse acontecimento na vida dos
adolescentes - mãe e pai -, ao mesmo tempo em que proporciona aos
profissionais de que forma atuarem com esses sujeitos, numa perspectiva de
atendimento integral as mães adolescentes e seus bebês no pré e pós-parto.
Além de abordar os dilemas e insatisfações que os adolescentes poderão
encontrar nesse processo.
Por fim, a Cartilha Primeira Infância e Gravidez na Adolescência é um
documento feito pela Rede Nacional da Primeira Infância (RNPI), fruto da
sistematização das apresentações do “Colóquio Primeira Infância e Gravidez
Na Adolescência – Desafios e Repercussões Clinicas, Psicossociais e Politicas
Públicas”, que foi realizado em novembro de 2013.
Foi realizado sob a coordenação do Grupo de Trabalho de Saúde da
Rede Nacional da Primeira Infância (RNPI), composto pelas organizações
Visão Mundial, Plan Internacional, Centro de Estudos Integrados Infância e
Instituto da Infância (IFAN). Contou com apoio da Organização Panameri -
cana de Saúde, Plan Internacional, Ministério da Saúde, UNICEF, Secretaria
da Saúde do Estado do Ceará e Visão Mundial.
Apresenta a gravidez na adolescência como um problema de saúde
pública, a partir da taxa de nascidos vivos e mortalidade infantil, apresentado
42

no documento por idade das mães e régios. Além disso, ressalta a importância
do atendimento e cuidados diferenciados que os profissionais da saúde devem
ter com adolescentes gestantes, do pré-natal ao puerpério, destacando a
importância de acompanhamento nutricional, do desenvolvimento e
crescimento infantil, como também o momento do parto.
Destaco nesse documento o debate sobre as consequências no campo
social, e a importância do acompanhamento assistencial para adolescentes em
situação de risco e vulnerabilidade social, numa perspectiva de promoção
desses sujeitos.
Diante do exposto até aqui, fica evidente a falta de uma legislação
específica que ampare as adolescentes gestantes, possibilitando um cuidado
desde o inicio da gestação, ao acompanhamento do desenvolvimento social
dessa adolescente e seu filho.
O que se pôde enxergar foram campanhas e documentos focalizados
que visam e prevenção de uma gravidez precoce e como os profissionais da
saúde deveriam atuar e o cuidado que devem ter com esse publico. Numa
perspectiva de desenvolvimento biológico e psicossocial desses sujeitos.
Não existindo uma preocupação em se enxergar as causas que estão
relacionadas ao grande numero de adolescentes que estão engravidando
precocemente. Como também, a inexistência de uma assistência prestada a
essas adolescentes que agora se tornaram mães, e estão tendo que lidar com
muitas transformações em suas vidas.
Nesse sentido, destaco a relevância de um acompanhamento biológico,
psicológico e social. A prevenção é um passo importante para intervir no
“problema”, porém não alcança todos os setores da sociedade, muito menos
entende as particularidades regionais e sociais do país. É preciso políticas
públicas que consigam alcançar essas adolescentes nas suas mais diversas
classes sociais, no sentido de orientar quanto seus direitos humanos, sexuais e
reprodutivos, enquanto mulher, adolescente e mãe.
43

3. Serviço social, questão social e gravidez na adolescência.

O capitulo em questão se dispõe a debater a questão social e suas


expressões em dois aspectos: O primeiro diz respeito ao surgimento da
questão social e sua relação com o modo de produção capitalista; o segundo
aborda de que forma as expressões da questão social reflete na vida das
adolescentes gestantes que tiveram seus bebês na maternidade do Hospital
Geral Dr. José Pedro Bezerra, e como a gravidez na adolescência protagoniza
uma das mais diversas faces da questão social.
Isso se dará a partir da construção do perfil socioeconômico dessas
adolescentes, o que possibilitará a compreensão de que forma as expressões
da questão social se apresentam na vida dessas adolescentes e suas famílias.
Além disso, se dispõe a expor a gravidez na adolescência a partir do
olhar das adolescentes, e trazer a discussão do assistente social como
defensor dos direitos humanos da criança e do adolescente.

3.1 “No começo foi um choque, mas depois fui me acostumando...”.

A gravidez na adolescência é uma problemática que, no decorrer dos


anos tem crescido no país. Segundo dados do IBGE no ano de 2012, cerca de
22. 768 adolescentes com menos de 15 anos tiveram filhos em todo país. Três
anos depois, no ano de 2015, esse numero cresceu para 23.187. Diante desse
dado a gravidez na adolescência se caracteriza como uma problemática
preocupante e nos leva a questionar até que ponto essas adolescentes
compreende os rebatimentos de uma gestação precoce trará para suas vidas.
Nesse sentido, essa pesquisa se propôs, por meio de entrevista
semiestruturada com as adolescentes que realizaram seus partos na
maternidade do HJPB, no segundo semestre de 2016, período da realização do
estágio obrigatório em serviço social.
A pesquisa teve como meta entrevistar 10% do total de adolescentes
que utilizaram os serviços da maternidade do HJPB e que residiam na zona
norte de Natal. Esse valor representa o total de 8 adolescentes com faixa etária
de idade de 13 a 18 anos. Todavia, foram encontradas algumas dificuldades
que inviabilizaram a realização das entrevistas com os 10% das adolescentes.
Dentre as dificuldades encontradas, destaco o fato de, algumas
44

adolescentes não possuírem mais o convívio com a mãe ou familiares que


tinham seus telefones como referência na entrevista social; outras não
possuíam celulares, apenas o contato do companheiro que em algum dos
casos não passaram o recado, ou quando tinham telefone, precisavam na
autorização dos companheiros para participar da entrevista; e algumas não
tinham com quem deixar seus filhos, o que as impossibilitava de sair de casa.
Diante de todas as particularidades supracitadas, a entrevista foi
realizada com três adolescentes com faixa etária de idade de 16, 17 e 18 anos.
A entrevista teve como norte a concepção dessas adolescentes sobre as
mudanças trazidas com a gravidez precoce. Seus planos antes e depois da
gravidez, e a sua reação, do seu companheiro e família.
Ao analisar o perfil das três adolescentes entrevistadas, apenas uma
delas possui o ensino médio completo, estava trabalhando no período de
realização da entrevista, morava com seus pais e não possuía mais um
relacionamento amoroso com o pai de seu filho.
No entanto, as outras duas adolescentes não possuíam o ensino
fundamental completo, no momento de realização da entrevista não possuíam
ocupação, considerando-se “do lar”, e moravam com seus companheiros. Vale
ressaltar que estas adolescentes vivem com seus companheiros há pelo
menos dois anos antes de engravidarem.

Foi por que eu tava pagando só duas matérias, que já era pra
eu ter ido pra o primeiro, eu tava fazendo o 9°, ai eu peguei e
desisti. Ai eu descobri minha gravidez ai também nem fui mais
pra escola. (ANASTÁCIA3, 2017)

Ao serem questionadas sobre as mudanças trazidas pela gravidez


precoce, se percebe em todos os discursos o adiamento dos seus planos e
sonhos.

Trouxe mudança. O filho ele muda vida demais, o filho é pra


sempre. Ele mudou muito a minha vida, muitas coisas mudou.
Muitos sonhos, muitos planos, mudou tudo. [...] Não, por que
assim, eu tenho a vida toda pela frente, eu sou nova. Mas
assim, muitas coisas mudou. Não é como eu e o pai, só nós
dois. Mas eu tenho a minha vida pela frente, eu sei que eu
consigo, eu chego lá. Eu tenho a minha vida toda pra fazer, pra

3
Foram usados nomes fictícios para as adolescentes entrevistadas, a fim de resguardar suas
identidades dos sujeitos.
45

realizar muitos sonhos, muitas coisas pra fazer ainda.


(DANDARA, 2017)

Além disso, fica evidente em suas falas o questionamento delas de que,


sua realidade poderia ser diferente da qual estão vivendo. Como também, a
responsabilidade e prioridade do sustento de seu filho, renunciando muitas
vezes aos seus projetos futuros.

Mulher porque assim... Querendo ou não, retarda, num é?!


Pronto, hoje eu poderia tá fazendo minha faculdade, mas eu
não tô por causa de quê? Porque eu tenho que dá prioridade a
ele, porque ele é bebê ainda, ai vem plano, vem fralda, vem
leite, vem tudo. Então, tô priorizando ele. (ALMERINDA, 2017)

O planejamento da gravidez, em nenhum dos três casos foi planejada,


pelo contrário, todas afirmaram ficarem surpresas ao receber a noticia de que
estavam gravidas. Reconhecem sua pouca idade no momento, e no primeiro
momento não aceitaram o fato de estar grávida.

No começo foi um choque, mas depois eu fui me acostumando.


E hoje foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida, ter meu
filho. E por que foi um choque no começo? Por que assim, sei
lá ser mãe tão nova, mas nunca esperava ser mãe assim,
mas... Não queria ser mãe? Não, no começo não. Não quis
aceitar, acho que não tava preparada ainda, mas depois foi
tudo tranquilo. (ANASTÁCIA, 2017)

O apoio da família e companheiro se caracterizou como algo muito


importante para essas adolescentes nesse momento de suas vidas. Acredita-
se que esse apoio se torna importante para esses sujeitos, tendo em vista a
pouca idade das adolescentes e as responsabilidades da vida adulta que lhe
são impostas pela família, companheiro e sociedade, a partir do momento da
descoberta da gravidez. Isso fica presente ao serem perguntadas sobre o apoio
que receberam do seu companheiro e família nesse momento.

Deram total apoio. Tenho, demais. Se não fosse a minha mãe,


minha família assim, eu não teria como trabalhar. Porque é ela
que fica com ele. (ALMERINDA, 2017)

Porém, das três entrevistadas, duas delas receberam o apoio da família


e companheiro. Pois uma delas já morava com seu companheiro e sogra há
algum tempo, o que reduziu seu contato com sua família, tendo em vista que
seus pais moram longe.
46

Eu não tive apoio da minha por que tavam distantes de mim e


eu não tinha como vê-lo. Mas assim, o apoio que eu tive foi do
meu esposo, que ele teve ao meu lado, ele não me deixou só.
Ele decidiu. Ele me apoiou, apoiou a gravidez, passou a
gravidez todinha comigo, e até hoje, dando tudo pra ele. [...]
Eles moram longe, não moram perto, eles não pode vir. Moram
muito longe, não pôde estar. Mas eu mandei foto, mais foto,
vídeo, eles viram ele. Só tive apoio do meu companheiro.
(DANDARA, 2017)

É relevante ressaltar que, dentre as adolescentes entrevistadas,


Dandara é a que vive em maior risco e vulnerabilidade social, haja vista que,
ela vive com uma renda mensal menos que um salário mínimo, seu vínculo
com sua família se mostra extremamente frágil, sua baixa escolaridade e sua
pouca idade no momento da gestação, 16 anos.
Assim, se constata que, é de fundamental importância o apoio da família
e do companheiro nesse momento da vida dessas adolescentes, possibilitando
assim, maior segurança e “tranquilidade” para que estas percorram esse
caminho seguras.
Por fim, quando questionadas sobre seus planos para o futuro, as
adolescentes demonstram interesse em concluir seus estudos, fazer graduação
e procurar mudar sua realidade.
Vou fazer minha faculdade, se Deus quiser o próximo ano e
cuidar dele. É meio complicado a pessoa ter filho assim nova, é
por isso que eu não queria ter agora, mas veio né?!
(ALMERINDA, 2017)
Todavia, antes de concretizarem seus planos, colocam a
responsabilidade sobre a vida e educação de seus filhos em primeiro lugar.
O que eu penso, não pra o meu futuro, tudo que eu penso eu
penso pra ele. Assim, no futuro dele eu penso num estudo,
numa faculdade. Não penso mais em mim, mas tudo que eu
faço eu faço pensando nele. Assim, de mim, de mim, de eu
voltar como minha adolescência, só eu e meu esposo eu não
penso não. Mas tudo que eu penso eu penso pra ele. Pra ele
eu penso um estudo, uma faculdade, um emprego. Que ele
venha a ser um rapaz inteligente lá na frente, venha ter seu
próprio negócio... É o que eu penso. (DANDARA, 2017)

Diante do exposto, a gravidez na adolescência impõe as adolescentes


responsabilidades que são associadas à vida adulta, como trabalhar,
sustentar seu filho e cuida-lo. Além disso, muitas dessas adolescentes abrem
mão dos seus estudos ou adiando-o devido à gravidez precoce, o que
consequentemente faz com que estas adiem seus planos futuros.
47

Vale ressaltar que, as condições socioeconômicas e a realidade social


na qual essas adolescentes estão inseridas, determinam de que forma estas
irão atravessar esse momento. Tendo em vista que esses sujeitos já possuem
seus direitos sociais e humanos diariamente violados, desde o acesso a saúde,
a educação, a habitação, a cultura, ao lazer, dentre outros direitos que
permitam um pleno desenvolvimento biológico, psicológico e social desses
sujeitos.
Assim, é necessário um olhar mais critico e atencioso dos profissionais
que irão atuar com essas adolescentes gestantes, seja da saúde, da educação
ou da assistência, como também do Estado e da sociedade civil, para os
motivos que levaram essas adolescentes a serem mães tão prematuramente.
Como também, observar de que forma esses sujeitos estão passando pela fase
da adolescência, social e economicamente, tendo cotidianamente seus direitos
violados e sua adolescência roubada.

3.2 Gravidez na adolescência: uma das faces da questão social?

Para Netto (2001), a expressão questão social surgiu para dar conta do
fenômeno mais evidente da história da Europa Ocidental, que experimentava
impactos da onda industrializante que se iniciou na Inglaterra no ultimo quartel
do século XVIII: trata-se do fenômeno do pauperismo.
Com a propagação do modo de produção capitalista, a pauperização foi
à primeira consequência que foi sentida pela grande massa da classe
trabalhadora, se espalhando por toda sociedade.
Nesse sentido, à medida que o contexto de industrialização trazia
avanços tecnológicos e riquezas, estas eram centralizadas nas mãos de
apenas um aparcela da população, a classe burguesa. O que gerou
desigualdades sem procedentes na sociedade.

Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na


razão direta em que aumentava a capacidade social de
produzir riquezas. Tanto mais a sociedade se revelava capaz
de progressivamente produzir mais bens e serviços, tanto mais
aumentava o contingente de seus membros que, além de não
ter acesso efetivo a tais bens e serviços, viam-se despossuídos
das condições materiais de vida que dispunham anteriormente.
(NETTO, p.42, 2011)
48

Para Netto (2011), nas sociedades anteriores a ordem burguesa, as


desigualdades, as privações, etc, decorrem de uma escassez que o baixo nível
de desenvolvimento das forças produtivas não poderiam suprir. Na ordem
burguesa constituída, decorre de uma escassez que resulta necessariamente
da contradição entre as forças produtivas e as ralações de produção.
A resposta da classe trabalhadora a pauperização acentuada em que
estavam vivendo foi à organização e o protesto, o que para o autor se
configurou como um ameaça as instituições sociais existentes, fazendo com
que a burguesia intervisse de alguma forma em tal realidade.
Tal intervenção partiu de um viés conservado, partindo de uma reforma
moral dos homens, ou seja, as expressões da questão social que atingiam a
classe trabalhadora eram vistas como um problema individual dos sujeitos.
Vale ressaltar que, para Netto (2011), o enfrentamento de suas manifestações
deveria preservar antes de tudo a propriedade privada dos meios de produção.
Ou seja, se deveriam enfrentar as expressões da questão social sem modificar
os princípios burgueses.
Diante disso, de acordo com Iamamoto (2001) a questão social tem a
ver com a emergência da classe operária e seu ingresso no cenário politico,
por meio de lutas desencadeadas em prol dos direitos inerentes ao trabalho,
exigindo seu reconhecimento como classe pelo bloco do poder, e, em especial
pelo Estado.
Nesse sentido, a questão social é historicamente determinada pela
relação capital x trabalho, relação essa que é baseada na exploração e
desigualdade entre as classes sociais fundantes da sociedade capitalista:
burguesia e proletariado.
No âmbito do Brasil, a questão social e suas manifestações se darão de
forma particular, tendo em vista o processo de constituição do modo de
produção capitalista no país, em comparação a sua consolidação e um
contexto mundial.
Para Santos (2012), os elementos da formação social brasileira remetem
a construção ideopolítica e cultural de suas classes sociais, bem como o
sistema politico nacional. Essas são características que particularizam a
inserção periférica e tardia do capitalismo brasileiro.
O processo de industrialização brasileiro acorreu nas décadas de 1940-
49

1950. Vale lembrar que, nesse momento histórico da sociedade brasileira,


predominavam relações sociais arcaicas. Para a autora, a “industrialização
restringida” consolida as relações de trabalho da época sob bases
corporativistas, e atrai uma parcela dos trabalhadores rurais para os centros
urbanos.
Diante de tal realidade, o processo de organização da classe
trabalhadora não possuía força. Segundo Santos (2012), o processo de
organização dos trabalhadores brasileiros foi impactado pela longa tradição
escravista do país, e pela ausência de antecedentes organizativos de homens
livres. Nesse sentido, compreende-se que essas características sócio-
históricas representam a dificuldade de organização da classe trabalhadora.
Nessa perspectiva, para Iamamoto (2011), com a expansão do
capitalismo monopolista se aprofunda as disparidades econômicas, sociais e
regionais, na medida em que favorece a concentração social, regional e racial
de renda, prestigio e poder.
Assim, o Nordeste vai sofrer os impactos dessa industrialização de
forma negativa, pois de acordo com Santos (2012), se antes essa região
protagonizou o desenvolvimento nacional, agora se torna mero coadjuvante, e
o sudeste assume posição privilegiada, à medida que sua função agora é
absorver a matéria-prima nordestina e processa-la em suas indústrias.

A região que, contraditoriamente, já ocupou a posição central


na economia brasileira, ao final do período colonial havia
perdido esse status para a região sudeste, que assumiu, desde
então, a condição de vanguarda econômica, reproduzindo,
internamente, a principal particularidade da formação social
brasileira, a heteronomia. No caso regional, a relação centro-
periférica estabelece-se entre o Nordeste, subordinado e
dependente, e o sudeste, industrializado e desenvolvido.
(SANTOS, p. 258, 2012)

Ainda para a autora, a desigualdade social e a concentração de renda


são características que exacerbam no Nordeste brasileiro, existindo para ela
um acirramento alarmante das expressões da questão social nessa região.
Diante disso, a questão social para Iamamoto (2011), expressa,
portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais,
mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-
raciais e formações regionais.
50

Assim, a questão social se expressará na vida dos sujeitos nas suas


mais diversas formas. Quando são atingidos pela pobreza, exclusão social, a
violência, o desemprego, a desigualdade social, entre tantas outras mazelas
sociais inerentes ao modo de produção capitalista, que incide sobre a vida das
classes subalternas.
Diante do exposto, a gravidez na adolescência, quando ocorre no âmbito
das classes mais empobrecidas, cujas condições socioeconômicas e ao
acesso aos bens e consumos produzidos são precários, se caracteriza como
uma das faces da expressão social, haja vista as violações de direitos a qual
essa classe está submetida.
Isso fica evidente quando partimos para a construção e analise do perfil
socioeconômico das adolescentes que residem na zona norte de Natal e
tiveram seus filhos na maternidade do HJPB.
Assim, foi realizado três recortes para a elaboração desse perfil. O
primeiro se refere ao setor no qual essas adolescentes ficavam internadas, o
alojamento conjunto; o segundo recorte foi temporal, a partir do qual nos
apropriamos dos dados empíricos contidos nas entrevistas sociais do setor de
serviços social.
Vale ressaltar que, foram às entrevistas sociais utilizadas para a
construção desse perfil, são referentes ao setor do alojamento conjunto, no
qual as adolescentes que estiveram internadas, do período de julho a
dezembro de 2016, período do meu estágio obrigatório em serviço social.
O terceiro recorte se relaciona ao local no qual residem essas
adolescentes. A maternidade do HJPB recebe um fluxo muito intenso de
gestantes, tanto advindas da Zona Norte da capital do Estado, como dos
municípios circunvizinhos localizados na região norte do Estado. Nesse
sentido, foram coletados os dados das adolescentes que residem na Zona
Norte de Natal, devido à proximidade para a realização das entrevistas.
Foram pensadas outras categorias que possibilitaram a composição do
referido perfil, tais como: A idade, local de moradia, escolaridade, ocupação
atual, composição familiar, com a finalidade de saber se ainda moram com os
pais ou companheiros, se possuem filhos, situação habitacional e a renda da
família.
Diante do exposto, no segundo semestre do ano de 2016, de julho a
51

dezembro, deram entrada na maternidade do HJPB, no setor do alojamento


conjunto o total de 529 adolescentes, na faixa etária de 13 a 18 anos, dos
municípios circunvizinhos do litoral Norte do Estado e da Zona Norte de Natal.
O gráfico a seguir, nos mostra o total de adolescentes que deram
entrada na maternidade do HJPB de julho a dezembro de 2016, comparando
esse total com o de adolescentes que residem na zona norte de Natal e as
adolescentes que residem nos municípios circunvizinhos.

Gráfico 1 – Total de adolescentes por região.

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

O gráfico deixa evidente o grande número de adolescentes que residem


nos municípios vizinhos e recorre à maternidade do HJPB para realização do
seu parto. Do total de adolescentes que deram entrada na maternidade, 444
são de municípios circunvizinhos de Natal, sendo apenas 80 adolescentes que
residem na zona norte de Natal. Isso se dá devido ao sucateamento dos
serviços públicos de saúde, o que gera uma falta de investimentos em
maternidades e hospitais nos municípios circunvizinhos de Natal.
52

Gráfico 2 – Total de adolescente por mês.

120

100
Julho
80
Agosto

60 Setembro
Outubro
40
Novembro
20 Dezembro

0
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

No mês de julho, como mostra o gráfico, foi o mês com o maior número
de adolescentes gravidas que deram entrada na maternidade da instituição,
chegando a 111 adolescentes. Em contrapartida, o mês seguinte teve o menor
número, chegando ao total de 67 adolescentes, como nos presenta o gráfico.
Isso representa uma superlotação na maternidade do hospital e
sobrecarga nos profissionais, e consequentemente isso irá refletir no
atendimento a essas gestantes, que acabam não sendo muitas vezes o
esperado. Tendo em vistas que, essas mulheres e adolescentes se encontram
em um momento particular de suas vidas.
Foi possível observar, a partir da experiência de estágio curricular
obrigatório, que a maternidade do HJPB não possui estrutura física e nem
condições objetivas para atender a demanda que lhe é imposta. Isso acaba
refletindo no atendimento dessas gestantes, principalmente as adolescentes,
que necessitam de um cuidado especial, além de mulheres em trabalho de
parto, são adolescentes. Pois devido à superlotação e consequentemente
sobrecarga imposta aos profissionais da maternidade, muitas vezes fica
inviável um atendimento mais atencioso a essas adolescentes.
Diante disso, vemos que é expressivo o número de adolescentes que
estão sendo mães prematuramente. Esses números ficam ainda mais
expressivos quando separamos essas adolescentes por local onde residem, ou
seja, zona norte do Estado e municípios circunvizinhos.
53

Gráfico 3 – Número de adolescentes por localidade e Mês.

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

Nesse sentido, é de suma importância compreendera situação


socioeconômica na qual essas adolescentes estão inseridas, a idade na qual
esse fenômeno é predominante, como também algumas particularidades da
vida desses sujeitos, com base na entrevista social realizada no HJPB e nas
falas dessas adolescentes.

Eu também tive dificuldade na alimentação. O meu esposo


também tava muito dificultoso no começo, ele não tinha um
trabalho, ele tava desempregado eu também tava
desempregada. E no começo minha alimentação, os dejejum
que eu tinha não se realizava, porque era uma coisa muito
dificultoso, ele tava muito apertado, com muita coisa. Ele não
tinha um trabalho, eu também não tinha um trabalho. Uma
coisa muito dificultoso. A mãe dele virou as costas, logo virou
as costas. Eu passei um processo muito grande só, sofri muito
lá dentro, eu fui morar com ela e ela nunca gostou de mim,
nunca simpatizou. E fez eu... Fez eu sofrer demais.
(DANDARA, 2017)

A predominância na idade das adolescentes que residem na Zona Norte


de Natal e deram entrada na maternidade do HJPB está na faixa etária entre
16 e 18 anos. Essas, no segundo semestre do ano de 2016, chegam a
representar 50% do total de adolescentes que dão entrada na instituição.
Em contrapartida a isso, as adolescentes que se encontram na faixa
54

etária de 17 e 15 anos representam nesse total 18,75% respectivamente, as de


14 anos representam 10% e as de 13 anos 5% nesse total.

Gráfico 4 – Total de adolescentes gestantes por idade.

600

Total de adolescentes segundo


500 semestre de 2016
18 anos

400
17 anos

300 16 anos

15 anos
200

14 anos
100
13 anos
0
Total 18 anos 17 anos 16 anos 15 anos 14 anos 13 anos

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

As adolescentes que residem na zona norte do município, um dos


aspectos importantes a serem discutidos quando falamos de gravidez na
adolescência é a escolaridade dessas adolescentes. Para Barker e Castro (?),
muitas adolescentes que engravidam já o fazem dentro dos setores sociais
cujas condições econômicas, nutricionais e de saúde são precárias, e muitas
delas já se encontram fora da escola antes mesmo de engravidarem.
Isso fica evidente ao observamos o perfil das adolescentes da zona
norte de Natal que tiveram seus bebês na maternidade do HJPB, tendo em
vista que 55% delas tinham como ocupação “do lar”, no momento em que
deram entrada na maternidade. Enquanto 43,75% eram estudantes e 1,25%
tinham como ocupação no momento estar inserida no programa jovem
aprendiz.
Vale ressaltar que, a predominância da ocupação “do lar” está entre as
adolescentes de 18 anos, e que apenas 2,5% dessas adolescentes tinha
concluído o ensino médio no momento em que deram entrada na maternidade,
55

pois muitas possuem apenas o ensino fundamental ou médio incompleto. Isso


evidencia o baixo grau de escolaridade dessas adolescentes, e nos leva a
questionar os motivos por trás de tamanha evasão escolar.

Gráfico 5 – Ocupação atual das adolescentes.

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

Diante disso, de acordo com a cartilha da primeira infância (2013), a


educação está diretamente relacionada à taxa de fecundidade, que quer dizer,
quanto menor o grau de instrução maior o numero de filhos por mulher, e em
mulheres com nível superior esse número é bem menor. Essa afirmação fica
evidente ao observamos o baixo nível de escolarização dessas adolescentes,
tendo em vista que, 9% desse total deu entrada na maternidade do HJPB para
dar a luz ao seu segundo filho, ainda adolescente.
Essa realidade irá se divergir ao que está previsto no Estatuo da Criança
e do Adolescente, quando este coloca a educação como um direito,
objetivando o pleno desenvolvimento social e profissional das crianças e
adolescentes. Como também, assegura-lhes a igualdade de condições para
acesso e permanência desses sujeitos. É necessário pensar de que forma a
escola, e consequentemente Estado, estão fazendo e que tipo de suporte está
dando para garantir a permanência dessas adolescentes na escola.
56

Foi por que eu tava pagando só duas matérias, que já era pra
eu ter ido pra o primeiro, eu tava fazendo o 9°, ai eu peguei e
desisti. Ai eu descobri minha gravidez, ai também nem fui mais
pra escola. Mas eu pretendo voltar, só quando ele tiver
maiorzinho por que ele só mama, só quer tá nos peito.
(ANASTÁCIA, 2017)

Outra particularidade encontrada no perfil dessas adolescentes é a


posição familiar dessas adolescentes. Como mostra o gráfico a baixo, 54%
delas ainda moram com os pais, e 46% como os companheiros e/ou com seus
companheiros e sogra.

Gráfico 6 – Posição familiar.

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

É de suma importância destacar que, se fizermos uma relação do


numero de adolescentes que moram com seus pais e não estudam X e o
número de adolescentes que moram com o companheiro e não estudam, se
observa a predominância do abandono dos estudos, mediante a realidade que
vivenciam, naquelas que se relacionam e/ou passam a morar com seus
companheiros. Isso fica evidente na fala de uma das adolescentes
entrevistadas:
Foi porque no começo a minha, assim, como eu posso dizer,
meu entrosamento com meu esposo, namorei ai fui logo me
ajuntando com ele, e fui desistindo do estudo. Mas ele
completou o estudo. Terminou completo. (DANDARA, 2017)
57

No gráfico a seguir, fica exposta a predominância das adolescentes que


vivem com os seus companheiros e pararam seus estudos, sendo bem
expressivo ao compararmos as adolescentes que desistiram dos estudos e
ainda moram com os pais.

Gráfico 7 – Escolaridade X Posição familiar.

30

25
Mora com os
companheiros e
20 estudam
Mora com os
15 companheiros e não
estudam
Mora com os pais e
10 estudam

5 Moram com os pais e


não estudam

0
Mora com os Mora com os Mora com os Moram com os
companheiros e companheiros e pais e estudam pais e não
estudam não estudam estudam
Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB/2017

É de suma importância destacar que, a maiorias dessas adolescentes


não possuem o ensino fundamental completo, como também o ensino médio.
Isso se caracteriza como algo preocupante na vida desses sujeitos, tendo
consequências principalmente na sua inserção destes no mundo do trabalho.
O mundo do trabalho tem exigido cada vez mais dos sujeitos, e os que
não conseguem alcançar a esses “requisitos” acabam sendo inseridos muitas
vezes em formas de trabalho informal, de forma precária, e consequentemente
são submetidos a diversas formas de exploração do trabalho.

Não com carteira assinada, mas eu já tive já, de muitas coisas.


De lanche, assim, vendendo, assim, na rua mesmo. Trabalhei
em loja de roupa. Tive muitas experiências, não de carteira
assinada. Assim, como bico, só bico. (DANDARA, 2017)

É possível constatar, a partir da fala de umas das adolescentes


entrevistadas que não possui o ensino fundamental completo, que sua inserção
58

ao mercado de trabalho se deu de forma precária, através de “bicos”, sem


garantias dos seus direitos trabalhistas.

Gráfico 8 – Escolaridade

60

50
Ensino fundamental
incompleto
40
Ensino Médio incompleto

30
Ensino médio completo

20
Ensino fundamental completo

10

Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB

Isso mostra a realidade na qual essas adolescentes estão inseridas, a


qual a condicionam a uma vida cheia de restrições quanto aos seus planos e
projetos de vida. Tendo em vista que estas adquirem agora outras
responsabilidades, como cuidar do lar, do companheiro e filho/a, além da
necessidade de trabalhar, o que leva a uma mudança de responsabilidades,
trazendo mudanças significativas para sua vida.
Além disso, é perceptível nessa realidade a forma como os papeis de
gêneros são definidos, os quais são construídos socialmente. Tendo em vista
que, enquanto os seus companheiros terminaram o ensino médio e saem para
trabalhar e ganhar o sustento da casa cabe à mulher/adolescentes a
responsabilidades da casa e filhos.
A sociedade investe muito na naturalização deste processo.
Isto e, tenta fazer crer que a atribuição do espaço domestico a
mulher decorre de sua capacidade de ser mãe. De acordo com
este pensamento, e natural que a mulher se dedique aos
afazeres domésticos, ai compreendida a socialização dos
filhos, como e natural sua capacidade de conceber e dar a luz.
(SAFFIOTI, 1987)

Essa é uma ideia já naturalizada socialmente, o que se torna ainda mais


preocupante, à medida que vemos adolescentes em fase de pleno
59

desenvolvimento, adiando ou muitas vezes desistindo dos seus projetos de


vida. Isso nos faz questionar os papeis de gêneros, o sistema machista e
patriarcal impostos na sociedade vigente, e de que forma ele atinge a vida das
mulheres, sejam elas crianças, adolescentes, jovens, adultas ou idosas.
Quando partimos para analisar a situação socioeconômica dessas
adolescentes se observa que nem todas as famílias nas quais essas
adolescentes estão inseridas possuem uma renda fixa ou formal. Além disso,
um número muito pequeno delas vive com mais de um salário mínimo, que
atualmente seu valor é de R$ 937,00 reais.

Gráfico 9 – Renda

25 Formal, até 1 salário

Formal, de 2 à 3 Salários
20
Informal, até 1 salário

15 Fornal/Informal, até 1
salário
Formal e informal, 2 à 3
salários
10 Formal e informal, 4 à 5
slários
Ajuda de terceiros
5
Sem renda fixa

0
Fonte: entrevista social do serviço social – HJPB

Quando nos debruçamos sob a situação habitacional dessas


adolescentes, percebemos que sua grande maioria reside em casa própria, não
precisando retirar de sua renda mensal o valor do aluguel da casa em que
residem, como é o caso de um significativo número delas.
Porém, se pode destacar que, praticamente todos os bairros em que
essas adolescentes e suas famílias residem não possuem saneamento básico
de qualidade. Haja vista, que essas adolescentes possuem no local onde
reside abastecimento de água e coleta de lixo regular, porém, 96,25% delas
ainda possuem o sistema de fossa como forma de eliminar seus dejetos.
Nessa perspectiva, o ministério da saúde aponta que, os problemas de
60

saneamento estão relacionados aos problemas sociais, e destaque que as


regiões onde são encontrados os piores índices de saneamento também são
aquelas nas quais outros direitos fundamentais são precários.
Assim, diante do exposto até aqui, a pobreza, uma das faces da questão
social, se apresenta na vida desses sujeitos de diversas maneiras, seja na
renda, na falta de escolaridade, ou até mesmo a falta de saneamento básico.
Pois para Rocha (2006), a pobreza é um fenômeno complexo, que pode ser
definido de forma genérica como a situação na qual as necessidades não são
atendidas de forma adequada. Ou seja, quando as diferentes necessidades
desses sujeitos não são atendidas em sua integralidade.
Em suma, se constata que, as expressões da questão social atravessam
o cotidiano de vida dessas adolescentes e suas famílias nas mais diversas
formas. Isso acontece por que vivemos em um sistema onde há preservação
de Estado mínimo para o social, que não garante por meio de politicas publicas
a viabilização de melhores condições de vida para essas adolescentes e suas
famílias, como também os seus direitos humanos enquanto adolescente.
Sendo assim, é necessária uma constante luta da sociedade civil e
categorias profissionais na defesa dos direitos humanos da criança e do
adolescente, buscando respostas e posição do Estado frente à violação e/ou
negação dos direitos humanos que as crianças e adolescentes da classe
trabalhadora vivenciam.

3.3 Serviço Social e direitos humanos: contribuições do assistente social na


defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente.

Antes de proporcionar o debate do serviço social e direitos humanos, é


preciso compreender o terreno sócio-historico no qual o serviço social galgou
no âmbito do modo de produção capitalista, para se constituir enquanto
profissão inserida na divisão sócio técnica do trabalho.
Nesse sentido, de acordo com Iamamoto (2013), as origens do Serviço
Social no Brasil estão intimamente vinculadas às iniciativas da igreja, como
parte de uma estratégia de qualificação do laicato, especificamente de sua
parcela feminina, vinculada predominantemente aos setores abastados na
sociedade, para dinamizar sua missão politica de postulado social junto ás
classes subalternas, particularmente junto à família operária.
61

Assim, em seus primórdios, a profissão tinha sua ideologia atrelada aos


ideais da igreja católica, e seus agentes eram mulheres pertencentes às
classes abastardas da sociedade, tinha um caráter missionário, baseado no
assistencialismo e caridade. Ainda segundo a autora sua atuação baseada no
assistencialismo tinha efeitos essencialmente políticos: o enquadramento das
populações pobres e carentes, o que engloba o conjunto das classes
exploradas.

O discurso dessas pioneiras demonstra a certeza de estarem


investidas de uma missão de apostolado, decorrente não só de
adesão aos princípios católicos, como de sua origem de classe.
Elementos que legitimam sua autoridade num empreendimento
de levantamento moral de uma população que vegeta no
pauperismo e no rebaixamento moral. (IAMAMOTO, 2013)

Nesse sentido, as formas de intervenção dos assistentes sociais da


época tinham uma característica de educação familiar, religiosa e moral dos
trabalhadores e suas famílias, como forma de adequá-los aos princípios
burgueses inerentes a sociedade capitalista.
O assistente social irá passar a receber ordem diretamente das classes
dominantes, de como deveria atuar junto à classe trabalhadora, como forma de
manter a ordem social vigente e manter o controle sobre a classe trabalhadora.
Dessa forma, as demandas que surgiam não partiam do publico com o qual o
profissional trabalhava, mas sim das classes abastardas.

A demanda da sua atuação não deriva daqueles que são o alvo


de seus serviços profissionais – os trabalhadores – mas do
patronato, que é quem diretamente o remunera, para atuar,
segundo metas estabelecidas por estes, junto aos setores
dominados. (IAMAMOTO, 2013)

Assim, as demandas que se darão no cotidiano profissional do


assistente social, terá um nítido caráter de classe, o que para a autora fornece,
por sua aproximação com o Estado, um certo caráter “oficial” ao mandato
recebido por este.
Nessa perspectiva, o serviço social até o final década de 1960 e
entrando pela década de 1970 tinha em seu viés um tradicionalismo e
conservadorismo profissional. Para Netto (2011) no que diz respeito a pratica
dos profissionais, o processo de “modernização conservadora”, tomado
62

globalmente, engendrou um mercado nacional de trabalho, macroscópico e


consolidado para o assistente social.
Tendo em vista que, o mercado de trabalho do assistente social surge
na década de 1940 com a industrialização pesada no país, e se expande nas
décadas de 1950 – 1960, sendo assim um mercado de trabalho que ainda se
se encontrava em processo de consolidação.
Para Netto (2011), a consolidação do mercado nacional de trabalho pra
os assistentes sociais não derivou apenas da reorganização do Estado, mas
também da necessidade das médias e pequenas empresas desse profissional.

O espaço empresarial não se abra para o serviço social apenas


em razão ao crescimento industrial, mas determinado também
pelo pano de fundo sociopolítico em que ele ocorre e que
instaura necessidades peculiares de vigilância e controle da
força de trabalho no território de produção. (NETTO, 2011)

Nesse sentido, o mercado de trabalho trouxe novas exigências para o


profissional de serviço social. Essas exigências possibilitaram a defasagem do
serviço social tradicional, exigindo novas práticas e mudança do perfil desse
profissional.

As referidas condições novas reclamavam uma inteira


funcionalização das agências de formação dos assistentes
sociais, apta a romper de vez com o confessionalismo, o
paroquialismo e provincianismo que historicamente vincaram o
surgimento e o evolver imediato do ensino do serviço social no
Brasil. (NETTO, 2011).

Assim, o processo de autocracia burguesa abriu espaço para a


consolidação de um espaço profissional, como também a necessidade de
novas práticas e atuações profissionais e um esforço para validação teórica da
profissão, para responder as demandas que lhe eram impostas no cotidiano
profissional, caracterizando assim um processo de renovação do serviço social.
Nesse sentido, a autocracia burguesa irá possibilitar a erosão do serviço
social tradicional, tendo em vista as novas circunstâncias sociopolíticas
impostas pelo regime militar, que exigiam novas formas de atuação do
profissional. Esse processo de renovação do serviço social se caracteriza em
três momentos: a perspectiva modernizadora, a reatualização do
conservadorismo e a intenção de ruptura.
A perspectiva modernizadora era, segundo Netto (2011) um esforço para
63

no sentido de adequar o serviço social, enquanto instrumento de intervenção


inserida no arsenal de técnicas sociais a ser operacionalizado no marco de
estratégias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos
processos sociopolíticos no pós-64.
Já a reatualização do conservadorismo, pra o autor, o serviço social é
posto como uma intervenção que se inscreve rigorosamente nas fronteiras da
ajuda psicossocial, sendo sua metodologia é pensada a partir da ajuda
psicossocial.
Enquanto que, o processo de intenção de ruptura, segundo o autor
emerge no quadro da estrutura universitária, e permanecerá como marginal até
o fim da década de 1970. Esta confronta a autocracia burguesa no plano
teórico-cultural, no plano profissional e no plano político. Tendo sempre um
caráter de oposição a autocracia burguesa.
Vale ressaltar que, a pesar dos avanços trazidos para o âmbito do
serviço social com a intenção de ruptura, o serviço social não rompeu
totalmente com linhas conservadoras inerentes a profissão.
Nessa perspectiva, é a partir do método de BH que se tem, segundo
Netto (2011), a construção de uma nova alternativa global ao tradicionalismo
profissional, pois ele possibilitou o desenho de um inteiro projeto profissional,
abrangente, oferecendo uma pauta paradigmática dedicada a dar conta do
conjunto de suportes acadêmicos para formação e para a intervenção do
serviço social.
É importante destacar que o método de BH teve algumas dificuldades. O
autor destaca duas delas, de caráter puramente metodológico. A primeira
estava na defasagem entre os referencias teóricos e as condições particulares
em que se contextualizava sua intervenção; e a segunda está no fato das
ideias marxistas não vierem direto da fonte, sendo estas enviesadas.
Diante disso, é perceptível que o serviço social se constituiu a partir de
um processo de avanços e retrocesso. O que lhe permitiu a construção de um
projeto ético-político com fortes princípios humanos, que tem como defesa a
liberdade como valor ético central.
Assim, para Iamamoto (2012), a consolidação do projeto ético-politico
profissional que vem sendo construído requer remar na contracorrente, andar
64

no contravento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos


ventos e das marés na vida em sociedade.

É nessa perspectiva que se dará a atuação do assistente social, em uma


sociedade composta de desafios experimentados pelas classes subalternas, da
qual se origina as demandas impostas no cotidiano profissional.

Os assistentes sociais encontram-se em contato direto e


cotidiano com as questões de saúde pública, da criança e do
adolescente, da terceira idade, da violência, da habitação, da
educação etc., acompanhando as diferentes maneiras como as
questões são experimentadas pelos sujeitos. (IAMAMOTO,
2012)

Desse modo, é através desse contato direto com os sujeitos que


assistente social atuará, embasado em seu código de ética e tendo como norte
o projeto político profissional. Atuando sempre na perspectiva da viabilização
dos direitos da população, que historicamente vem sendo negligenciados,
sendo um defensor intransigente dos direitos humanos.
Diante disso, e como já exposto no capitulo anterior, os direitos humanos
nascem historicamente das lutas de grupos sociais que buscavam melhores
condições de vida dentro das desigualdades impostas pelo modo de produção
capitalista. Para Barroco (2008), a noção de direitos humanos é inseparável
da ideia de que a sociedade é capaz de garantir justiça através das leis, do
Estado, e dos princípios que lhe dão sustentação filosófica e política.
Essa concepção se caracteriza como moderna, e está ancorada nos
princípios da liberdade, universalidade e o direito natural do homem a vida e ao
pensamento. Para a autora essa noção de direitos humanos foi fundamental
para firmar os direitos humanos no campo da iminência, do social e da politica.
A autora ainda destaca que, apesar dos avanços trazidos com a
consolidação dos direitos humanos, na sociedade moderna esses ainda
apresentam algumas contradições. Nesse sentido, a autora destaca três
contradições: a primeira diz respeito à universalidade dos direitos humanos; o
segundo é que os direitos humanos supõem cidadania e democracia; e a
terceira tem relação com a ideia do direito a propriedade como direito universal
do homem, e o Estado e as leis como foro universal.
Todas as contradições supracitadas esbarram nos limites políticos,
econômicos e sociais vigentes no modo de produção capitalista, no qual
65

predomina a desigualdade, exclusão social e econômica dos sujeitos e o


antagonismo de classes.
É nesse contexto de desigualdades e exclusões sociais que os
profissionais de serviço social irão se inserir e atuar. Pois segundo Martinelli
(2011), seu fundamento é a própria realidade social e sua matéria-prima de
trabalho são as múltiplas expressões da questão social, o que lhe confere uma
forma peculiar de inserção na divisão social e técnica do trabalho.
Nesse sentido, a profissão sai em defesa da igualdade e justiça social,
objetivando a superação do modo de produção capitalista. Sua defesa fica
clara no código de ética do/a assistente social de 1993, pois este tem em seus
princípios a defesa da liberdade e direitos humanos.

I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e


das demandas políticas a ela inerentes - autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;
II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do
arbítrio e do autoritarismo;
III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada
tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos
direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;
IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto
socialização da participação política e da riqueza socialmente
produzida; V. Posicionamento em favor da equidade e justiça
social, que assegure universalidade de acesso aos bens e
serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como
sua gestão democrática; (Código de Ética do/a Assistente
social, 2012).

Assim, o assistente social, enquanto defensor intransigente dos direitos


humanos, que tem a liberdade como valor ético central e defensor da
democracia e justiça social, é consequentemente um defensor dos direitos
humanos da criança e do adolescente, que estão previstos na lei nº8. 069, de
julho de 1990.
Tendo em vista que, o Estatuto da Criança e do Adolescente tem em seu
corpo a defesa dos direitos humanos desses sujeitos, como o direito a vida, a
saúde, a liberdade, a dignidade, a educação, como sujeitos sociais que estão
em desenvolvimento.
Nessa perspectiva, o/a assistente social irá contribuir na realidade
desses sujeitos não apenas na defesa dos seus direitos humanos, mas
também por meio de sua pratica profissional, através de suas dimensões ético-
politica, teórico-metodológica e técnico-operativa.
66

X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à


população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva
da competência profissional. (Código de Ética do/a Assistente
social comentado, p. 130, 2012).

Sendo assim, o/a assistente social deve estar sempre buscando a


educação continuada, na perspectiva de aprimoramento intelectual e se
atualizar a cerca dos debates que estão acontecendo no âmbito da categoria
profissional e no âmbito social, político e econômico.

O momento presente desafia os assistentes sociais a se


qualificarem para acompanhar, atualizar e explicar as
particularidades da questão social nos níveis nacional, regional
e municipal, diante das estratégias de descentralização das
políticas públicas. (IAMAMOTO, p. 41, 2012)

O profissional de serviço social poderá também contribuir através de


estudo que se proponham o debate do tema da acriança e adolescentes a
partir da realidade desses sujeitos, haja vista que esse profissional atua
diretamente com os usuários dos serviços.

Art. 5º São deveres do/a assistente social nas suas relações


com os/as usuários/as:

d- devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas


aos/às usuários/as, no sentido de que estes possam usá-los
para o fortalecimento dos seus interesses; (Código de Ética
do/a Assistente social, 2012).

Nesse sentido, o código de ética profissional e seu projeto profissional


que visam à liberdade, justiça social e uma nova sociabilidade na qual não haja
a exploração do homem pelo homem, faz alusão a uma constante luta pela
democracia, cidadania e pelo fim da sociedade de classes.
Assim, é necessário que a atuação profissional esteja comprometida
com a defesa dos direitos humanos e justiça social, visando à emancipação e
autonomia das crianças e adolescentes como sujeitos sociais. Sendo sua
atuação sempre embasada em seu código de ética profissional e tendo como
norte o projeto ético politico da profissão.
Quando partimos para analisar a atuação profissional, a partir da
experiência do estágio na maternidade do HJPB, podemos enxergar o
comprometimento dos profissionais com os serviços prestados a população,
mas em contrapartida existe uma sobrecarga de trabalho imposta a esses
profissionais, além de um cotidiano desafiador. Tendo em vista que, grande
67

parte das demandas vivenciadas em todo hospital passa pelas mãos dos
assistentes socias da instituição, sendo que algumas dessas não se
caracterizam como atribuição do profissional.
Essa sobrecarga profissional aliada aos limites institucionais e a grande
demanda do hospital, muitas vezes acabam dificultando que esses
profissionais possam desenvolver atividades com os usuários do serviço.
Destaco aqui as adolescentes que têm seus partos na maternidade da
instituição.
Existe um trabalho desenvolvido com as mães da casa da mãe cidadã, a
qual é um espaço destinado para as mães que tiveram alta, mas seus filhos
encontram-se internados para atingir peso ideal para receber alta. Esse
trabalho é desenvolvido pelo serviço social, psicologia e um profissional
ginecologista, sendo destinado a todas as mães no geral, não tendo nada
destinado especificamente para as adolescentes gestantes.
Diante disso, é necessário que se desenvolva trabalhos junto as
adolescentes, que possam proporcionar o reconhecimento dessas
adolescentes como sujeitos de direitos, enquanto mulher, adolescente e agora
mãe. Sendo necessário acompanhar de que forma essas adolescentes estão
compreendendo esse momento tão particular em suas vidas e de que forma
podem planejar e evitar uma possível gravidez.
Além disso, é preciso trabalhar a construção do sendo critico das
crianças e adolescentes, tendo em vista que estes se encontram em
desenvolvimento. Isso pode se dar, através da realização de trabalho
pedagógico, executado por profissionais que atuem diretamente com as
crianças e adolescentes.
Nesse sentido, é preciso uma atuação do serviço social junto a uma
equipe multiprofissional, como também maior diálogo entre as diversas áreas
profissionais dentro da instituição, para que se possibilite um atendimento e
intervenção mais integral e articulada, de forma a atender às necessidades
desses sujeitos, haja vista que, estes se são considerados sujeitos peculiares
em desenvolvimento.
68

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo partiu da inquietação que surgiu no campo de estágio


obrigatório em serviço social, onde pude presenciar o grande número de
adolescentes que davam entrada na maternidade do Hospital Geral Dr. José
Pedro Bezerra. Esse momento de estágio, além de apresentar o fazer
profissional do assistente social e possibilitar conhecer os desafios enfrentados
pelos profissionais, nos provoca uma aproximação com a realidade social, nos
possibilitando observa-la através de uma perspectiva critica.
Nesse sentido, o grande número de adolescentes que davam entrada na
instituição me causou grande inquietação, levando-me a questionar os motivos
que estavam relacionados à gravidez na adolescência, de que forma as
expressões questão social se expressava na vida daquelas adolescentes e se
a gravidez se caracterizava como uma das faces da questão social.
Diante disso, o debate em torno da gravidez na adolescência se torna
relevante, tendo em vista o aumento do número de adolescentes que estão se
tornando mães cada vez mais jovens. Sendo necessária a compreensão dos
reflexos de uma gravidez precoce na vida desses sujeitos e as situações que
envolvem tal problemática.
Nessa perspectiva, o estudo possibilitou a compreensão das
transformações sócio-histórica da família e da criança e adolescente, e seus
desdobramentos no âmbito da sociedade capitalista. Pois, o modo de produção
capitalista, propaga a ideia de que a adolescência se caracteriza como uma
fase da vida cheia de conflitos, além de, fazer com que esses sujeitos dentro
de uma mesma sociedade percebam a adolescência de formas diferentes.
Além de proporcionar o debate de até que ponto os direitos humanos da
criança e do adolescente e as políticas públicas voltadas para esse segmento
de fato o alcançam no âmbito da sua realidade social. E por fim, trazendo de
que forma as expressões da questão social se apresentaram na vida dessas
adolescentes e como uma gravidez precoce traz mudanças para os projetos de
vida desses sujeitos.
O presente estudo constatou que a gravidez na adolescência de fato se
caracteriza como uma das faces da questão social quando vivida em
69

determinada situação socioeconômica. Como também que a gravidez precoce


traz mudanças na realidade dessas adolescentes, fazendo com que essas
sejam empurradas mais cedo para a vida adulta e tenham que assumir
responsabilidades de uma vida adulta. Isso fica evidente a partir da construção
do perfil dessas adolescentes e as entrevistas realizadas com essas.
Revelou-se também que a gravidez precoce, além de empurrar essas
adolescentes para uma vida adulta, cheia de responsabilidades, faz com que
essas adiem ou até mesmo anulem seus projetos de vida, em prol dos
cuidados com casa, filho/a e companheiros. Vale ressaltar que estes projetos
estão que muitas vezes relacionados a seus estudos e carreira profissional.
A pesquisa revelou uma questão preocupante, através do perfil dessas
adolescentes. Existe um grande número de adolescentes que não estudam
mais e não possuem o ensino fundamental completo. É necessário
compreender os motivos que está levando a tamanha evasão escolar dessas
adolescentes. E o que a escola e Estado estão atuando e intervindo nessa
problemática.
Outro aspecto observado é o fato das adolescentes estarem saindo cada
vez mais cedo da casa de seus pais para construir uma vida com os seus
companheiros. Isso fica exposto a partir da construção do perfil apresentada no
gráfico 6, que diz respeito à posição familiar dessas adolescentes. Revelou-se
um grande número de adolescentes que já vivem com os seus companheiros,
morando apenas o casal, ou até mesmo com a família do companheiro.
Observou-se também, que a adolescente gestante não possui uma
legislação especifica que dê conta de suas particularidades enquanto mãe
adolescente. Tendo em vista que, as apostilas, campanhas e legislações
encontradas, atuam mais em uma perspectiva de prevenção da gravidez na
adolescência. E o Estatuto da Criança e do Adolescente, quando trata da
maternidade ressalta o cuidado com a mãe, mas tendo o foco no bebê.
Assim, essas campanhas e documentos que abordam a gravidez na
adolescência, focam apenas na prevenção do problema, e não aborda toda a
complexidade por traz deste, nem a realidade socioeconômica na qual essas
adolescentes estão inseridas, assim acaba não atingindo de fato esses
sujeitos.
Diante do exposto, é necessária uma atuação mais efetiva do Estado na
70

questão da criança e do adolescente, como também, na particularidade das


adolescentes gestantes. Garantindo seus diretos previstos na Lei nº 8.069, de
1990, possibilitando um desenvolvimento saudável desses sujeitos.
Isso só será possível, a partir de uma constante luta da sociedade civil e
categorias profissionais na defesa dos direitos da criança e adolescentes, para
que estes te fato se concretizem na vida desses a partir da realidade social na
qual estão inseridos, para assim possibilitar um desenvolvimento biológico,
psicológico e social em sua plenitude.
Como também, que as proposta, programas e projetos que são
direcionadas para a problemática da gravidez na adolescência não atuem
apenas em uma linha de prevenção. A prevenção se caracteriza como um
momento importante, mas é preciso ir além. Sendo necessária uma legislação
que garanta maior suporte e acompanhamento dessas adolescentes, tendo em
vista os reflexos de uma gravidez precoce na vida desses sujeitos.
Assim, é de suma importância que a academia e sociedade se
debrucem sobre o tema da gravidez na adolescência, não mais apenas por um
viés biológico, mas também social, tendo em vista a grande dificuldade de
encontrar pesquisas sobre a temática da gravidez na adolescência a partir de
um viés social. Buscando assim, desvelar os reflexos e impactos do modo de
produção capitalista, e consequentemente, das expressões da questão social
na vida dessas adolescentes.
Além disso, é necessário investigar até que ponto o grande número de
evasão escolar entre está relacionada com sua gravidez precoce, haja vista
que algumas adolescentes teriam parada de estudar antes mesmo de descobrir
sua gestação ou a partir do momento em que começam a se relacionar
amorosamente com seus companheiros.
71

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76

ANEXOS

ANEXOS A (Entrevista social do Hospital Geral Dr. José Pedro Bezerra)


77

ANEXOS B (PROSAD - Programa Saúde do Adolescente)


78

ANEXOS C (Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de


Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde).
79

ANEXOS D (Caderneta da saúde do Adolescente - menina)


80

ANEXOS E (Apostila Pai e Mãe. Casal na Adolescência. E agora?).


81

ANEXOS F (Cartilha Primeira Infância e Gravidez na Adolescência)


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APÊNDICE
Instrumento utilizado objetivando a compreensão da gravidez na adolescência
sobre a ótica das adolescentes e sua realidade antes e depois da gestação.

ENTREVISTA

1. Idade?
2. Com quantos anos teve o bebê?
3. Qual a sua ocupação atual?
4. Ainda mora com seus pais? Se não, com quem mora atualmente?
5. Ainda estuda?
6. Parou ao descobrir a gestação ou continuou os estudos até o momento
do parto?
7. Se parou antes de engravidar, qual foi o motivo? Em que ano?
8. Se parou no decorrer da gestação, o que te levou a isso?
9. A escola te deu algum suporte? (para não atrasar seus estudos)
10. É o primeiro filho?
11. A gravidez foi planejada?
12. Você fez pré-natal? Se não, por quê?
13. E no pós-parto, teve acompanhamento no posto de saúde?
14. Recebeu algum tipo de apoio? (grupos de apoio psicossocial para passar
por essa fase)
15. Qual foi a sua reação ao descobrir a gestação? E da sua família e do
companheiro?
16. Você teve apoio da sua família e companheiro ao descobrir a gestação?
E hoje, ainda tem esse apoio?
17. Você acredita que a gravidez e o nascimento do seu filho trouxeram
mudanças quanto ao seu projeto de vida ou futuro? Quais mudanças?
Por quê?
18. Você já teve alguma experiência profissional/ de trabalho formal ou
outra? Qual?
19. Qual a sua renda mensal?
20. Você contribui com essa renda? De que forma?
21. Quais os seus planos agora?
22. Mas os seus planos antes de engravidar, eram o que?

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