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A partir disso, surge a indagação: é possível fixar multa para que este genitor
cumpra com o regime de “visitas”?
Assim, a questão deve ser analisada pelo prisma não da vontade do genitor,
mas do melhor interesse do infante.
E, examinando a questão por este viés, não pode ser outra a conclusão senão a
de que há um direito da criança e do adolescente de manter próxima relação
com os seus pais, contando com estes para a sua educação e criação, e tendo-
os em sua companhia. Isso se afigura propício ao seu sadio desenvolvimento,
ofertando condições para uma adequada formação psicológica e inserção
social do infante.
[...] deixou o direito de convívio de ser um direito da mãe ou do pai de ter o filho
em sua companhia. É muito mais um direito do filho de conviver com o genitor
que não detém sua guarda. Assim, há uma obrigação – e não simples direito –
dos pais de cumprirem os horários de visitação. Trata-se de um dos deveres
inerentes ao poder familiar [...] O direito de convivência gera uma obrigação de
fazer infungível, obrigação personalíssima, que deve ser cumprida
pessoalmente. Nada impede que seja buscado o adimplemento, mediante a
aplicação da chamada astreinte: tutela inibitória, mediante a aplicação
de multa diária. Nada mais do que um gravame pecuniário imposto ao devedor
renitente para que honre o cumprimento de sua obrigação. Instrumento
de pressão psicológica, verdadeira sanção, destinada a desestimular a
resistência do obrigado, de modo que ele se sinta compelido a fazer o que está
obrigado”.
A ela é possível responder, no entanto, que não se impõe, com a multa, uma
obrigação de amar a prole, mas se exige um dever civil de cuidado, extraído da
normativa constitucional supracitada. Se trata de exteriorizar, em regra jurídica,
o sentimento de afeto, quer ele exista ou não, lançando mão dos meios
coercitivos para a observância dessa regra.
Por fim, resta, entretanto, um questionamento razoável a ser feito: exigir do
genitor não-guardião que esteja em companhia do filho será sempre benéfico a
este?
Adverte Carlos Roberto Gonçalves que, premido pela ameaça de multa, pode o
genitor irresponsável expor a criança ou adolescente a um abuso psicológico,
“como forma de provocar na parte adversa o desejo de vê-lo longe da prole”.