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GUARDADOS PELO AFETO

Dra. Giovanna Back Franco


Professora universitária, advogada e mestre em Ciências Jurídicas

Nas alegorias carnavalescas, a dimensão da responsabilidade deve ser


considerada. Não à toa, inúmeras são as campanhas de conscientização sobre
a péssima combinação entre álcool e direção ou sobre os efeitos deletérios que
podem advir da relação sexual irresponsável. A natalidade também é um
“efeito”, por assim dizer, comum, trazendo ao mundo um ser único e
inigualável. Ainda que não seja uma paternidade planejada deve ser
responsável; os pais detêm obrigações com relação aos filhos menores,
inclusive afetivas.
Nesse ínterim, cumpre aos genitores estabelecerem o exercício dessa
responsabilidade, hoje compartilhada entre ambos. Na sociedade fluída e
ausente de limites, inclusive no aspecto tecnológico, cumpre ao Estado, na
garantia dos direitos dos menores, definir o alcance do complexo de deveres e
obrigações inerentes à paternidade.
Como regra geral, o direito de convivência (ainda chamado de guarda –
trazendo conotação de posse) é compartilhado entre os genitores, tanto com
relação aos direitos quanto aos deveres. É possível, ainda, estender esse
instituto a outra pessoa que guarde afeto e responsabilidade com o menor,
afinal, a autoridade parental tem como finalidade a proteção integral da criança
e do adolescente.
Dizer que a “guarda” é compartilhada, não isenta ao pagamento das
prestações alimentares, tampouco determina que a criança migre de uma
residência para outra sem raízes. Em verdade, a guarda compartilhada diz
respeito à conjugação de responsabilidades, mas com previsibilidade ao
menor, enquanto alicerce psíquico. Portanto, haverá residência fixa, mas as
decisões sobre o menor deverão ser realizadas em consenso pelos genitores.
Além do mais, a obrigação alimentar permanece, pois, em realidade, o genitor
que permanece com a criança também tem gastos com moradia, alimentos,
vestuário, educação, dentre outros.
A depender da possibilidade de diálogo entre os pais, haverá maior ou
menor flexibilidade para a visitação. Destaque-se que, apesar do nome, pai não
deve ser visita na vida do filho, deve reconhecer sua pisque, suas
necessidades e aspectos volitivos. Assim, cumpre aos genitores, estabelecer a
divisão da companhia em datas comemorativas, levando em consideração o
interesse da criança e sua manifestação de vontade, quando em condições de
opinar. Embora não exista idade mínima para fixação da guarda compartilhada,
é imperioso considerar as necessidades de cada estágio de desenvolvimento,
para garantia da plenitude de direitos dos menores.
Vale ressaltar que o não cumprimento de determinação judicial sobre os
aspectos de guarda enseja sanções como multa ou busca e apreensão do
menor, além de suspensão do poder familiar, em casos mais graves. Afinal, a
convivência não é apenas obrigação, mas direito do menor, no
desenvolvimento dos vínculos relacionais, para além dos aspectos de sua
personalidade.
Filhos não são propriedades, são a possibilidade do novo em constante
desenvolvimento, rumo à eternização de memórias e afetos. Trazem consigo a
oportunidade de aperfeiçoamento pessoal, a fim de ser o melhor exemplo de
ser humano, devendo ser guardados e resguardados pelo afeto e pela
responsabilidade.

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