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INTRODUÇÃO
1.1 Introdução do Tema
O presente trabalho tem como objecto de estudo fuga à paternidade no ordenamento jurídico
angolano, sendo a família o núcleo fundamental da sociedade, tem um papel imprescindível
para garantir o desenvolvimento físico, emocional e social da criança, sem a observância de
violência como a fuga a paternidade.
Por outro lado, a prestação de alimentos deve ser baseado nos critérios ocupados pela
necessidade dos menores, passando assim a ideia de uma certa obrigação da outra parte criar
mecanismo para dar resposta a esta necessidade, sem que necessariamente se chega ao
extremo.
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há concreta necessidade e que o menor não obtém outro meio hábil para buscar os alimentos,
intervém através dos órgãos judiciais.
No país, não deve caber apenas ao Estado à resolução de problemas que, pela sua natureza,
extensão e complexidade, devem merecer também o concurso de membros da sociedade, quer
de forma isolada, quer integrados em associações.
O presente trabalho está estruturado pela introdução da pesquisa que apresenta a delimitação
do tema, justificação do tema, formulação do problema, hipóteses, e objectivos. A seguir o
capitulo da fundamentação teórica. No terceiro capítulo apresenta-se a caracterização da área
de estudo, já no quarto capítulo a metodologia utilizada para realização da pesquisa. No final
as conclusões, recomendações e bibliografia.
Delimitação do tema
Este tema teve uma motivação pessoal porque, como professora, tive a ocasião de observar,
conversar e conviver com menores vítimas da fuga a paternidade, por sua vez desprovidas e
carenciadas de meios de sobrevivência.
Por sua vez, teve relevância jurídico-social, uma vez que fuga à paternidade é um fenómeno
que enferma a sociedade e algumas famílias e deve ser combatida para impedir que as vítimas
de hoje não se tornem, amanhã, agressores, transgressores e promotores, conscientes ou
inconscientes, de um mal que a todos nós enferma. Todavia, a falta de conhecimento jurídico
que ainda se verifica por grande parte da nossa sociedade, o que muitas vezes impossibilita o
agente que possui a guarda do menor de perceber os mecanismos que pode utilizar para fazer
valer o direito do menor.
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1.3. Formulação de hipóteses
H2: O extremo nível de pobreza das famílias contribui no fenómeno da fuga a paternidade no
ordenamento jurídico Angolano.
H3: A degradação dos valores morais e cívicos influencia o fenómeno da fuga a paternidade
no ordenamento jurídico Angolano.
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral
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II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Conceitos
2.1.1. Família
Neste sentido, percebe-se que, segundo autor, a família é um grupo que não se restringe ao
laço material e biológico, mas, inclui também, o laço social e afectivo através de uma
interação e colaboração mútua entre os membros. Sequencialmente, em conformidade com a
Jacquiline (2012), “a família é o ventre ou o berço dos valores da espécie humana, tais como:
valores culturais, religiosos, deveres e responsabilidade”. Assim, percebe-se que é na família
onde o homem e a mulher recebem as primeiras orientações de vida.
Sob o mesmo ponto de vista, Trapp e Andrad (2017, p. 75), “concebem a família como agente
socializadora da espécie humana, ou seja, é na família que se inicia a primeira socialização, a
primeira interação social, a primeira relação humana, que garante um desenvolvimento dos
seus integrantes”.
No entanto, concorda-se com Cunico e Arpim (2013) “quando contemplam a família como
um sistema complexo, directamente ligado a uma contínua transformação histórica, social e
cultural”. Dito de outro modo, a família acompanha a dinâmica do tempo, conhecendo assim
mudanças a nível afectivo, reprodutivo, valorativo, emocional e relacional. Neste sentido, é
importante salientar que as famílias estão em constantes mudanças e variam de sociedade para
sociedade, desde a estrutura, a formação, constituição e a relação entre os membros. De certo,
nesta pesquisa cabe pensar a família como lugar onde se fortalece os laços afectivos e a base
da nossa personalidade.
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2.1.2. Filiação
Segundo Medina (2013, p. 99), filiação pode ser entendida como “a relação jurídica que se
estabelece entre cada pessoa e os seus progenitores. Como os demais direitos familiares, é de
natureza intercorrente e recíproca e estabelece-se entre alguém e aquele homem e aquela
mulher que o concelebram”.
Filiação é a relação jurídica que se estabelece entre cada filhos e os seus progenitores. Como
os demais direitos familiares, é de natureza intercorrente e recíproca e estabelece-se entre
alguém e aquele homem e aquela mulher que o conceberam. A filiação constitui por isso, o
primeiro elo, certamente o mais profundo, entre todos os que constituem as relações de
parentesco. O vínculo de parentesco é, aliás, o resultado de um encadeado mais ou menos
alargado de sucessivas filiações.
2.1.3. Paternidade
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conceito de pai tem outra dimensão, associada a um novo movimento masculino que pretende
incluí-lo como individuo e como “agente activo” na relação com os filhos. Em função da
definição apresentada é compreensível que ser o progenitor de uma criança não garante o
vínculo afectivo significativo entre ambos. Deve-se entender por pai, aquela figura masculina
que em seu constante intermédio com a criança (num espaço de tempo determinado) escolhe
construir junto do filho laços afectivos, sendo assim, escolhidos e reconhecidos pelo menor
como pai.
2.1.4. Maternidade
De acordo Borges (2011), é de frisar que, a maternidade é um dos principais papéis que a
sociedade requer da mulher. Diante dessa premissa a mulher já carrega em si a
responsabilidade e obrigação de procriar. A maternidade é alvo de investigações, ensaios e
dissertações realizadas pelas diferentes áreas que se interessam pelo estudo do homem;
antropologia, história, sociologia, psicanálise e psicologia são alguns exemplos. Nenhuma
delas fornece um quadro completo de respostas. A mesma surge-nos como um fenómeno
demasiado complexo para que qualquer uma das referidas áreas citadas possa fornecer
elementos explicativos para toda a sua dinâmica. É necessário recorrer aos contributos que
cada uma nos pode dar para se atingir um mais completo entendimento do fenómeno.
Ter um filho é considerado em cada civilização de um modo diferente; ser mãe pode ser visto
como uma experiência perigosa, dolorosa, interessante, satisfatória ou importante, numa
determinada mulher, numa determinada civilização. A forma de a vivenciar associa-se quer às
suas características individuais quer à atmosfera cultural que a circunda.
a) Condicionalidade
Assim, a obrigação apenas tem a sua gênese na efectiva situação de necessidade de quem os
reclame, subentendida na hipótese da inexistência de bens suficientes, ou na impossibilidade
do exercício de ocupação profissional de onde viesse a extrair meios para o seu sustento, tudo
isso sem prejuízo de aquele instado a assumir o encargo possa fazê-lo sem dano à sua própria
subsistência.
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alimentícia desde que sua capacidade financeira permita, sem desfalque do
necessário a seu próprio sustento e manutenção.
Vale acrescentar que dentro dessa óptica, a característica sob enfoque também exige que tais
condições se mantenham, pois de outro modo a superveniência de qualquer factor capaz de
extingui-las gera a inexorável extinção do vínculo.
b) Variabilidade
A relação obrigacional derivada da lei se aplica no tempo, permanecendo todo interregno no
qual se der necessidade do alimentando, sendo absolutamente previsível a possibilidade de
alteração das circunstâncias econômico-patrimoniais do alimentante ou do alimentando.
Destarte, se presente e importante fará incidir a regra do antes aludido art.º 258.º al. c) do CF.
Assim, se pode entender a luz do conteúdo legal estabelecido na alínea c) do art.º 58.º do CF
que a lei estabelece o princípio da proporcionalidade ao estabelecer que a fixação de
alimentos deve atender às necessidades de quem os reclama e as possibilidades da pessoa
obrigada a presta-los. A exigência da obediência desse parâmetro permite a revisão ou
exoneração do encargo.
c) Reciprocidade
Falar da reciprocidade, ela se liga ao facto de que os sujeitos da relação obrigacional não
ocupam posição fixa na relação, podendo alternar a condição com que nela ingressem, ora
sendo sujeito passivo, e portanto devedor de alimentos quando a sua situação económica lhe
permita, ora passando à situação de credor, alimentando, na hipótese de já não mais poder
prover por si suas necessidades fundamentas. Por relevante, anota-se o carácter apenas
acidental dessa característica da relação obrigacional legal, pois, como afirma Gomes (2001,
p. 414):
A reciprocidade não é característica fundamental e natural da obrigação alimentar,
mas simples elemento acidental, que se apresenta em algumas situações. As
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obrigações de elementos originários de outras fontes não são recíprocas, senão
somente a que deriva da lei com fundamento na existência do laço familiar.
Desta maneira, importa realçar que outras características marcam também a relação
obrigacional alimentar sob estudo, dentre elas se destacando:
a) Incompensabilidade;
b) Impenhorabilidade.
d) Actualidade
Neste sentido, por via de seu entendimento predominante, tem mesmo acentuado o
desaparecimento do carácter alimentar daquelas prestações vencidas que o credor adormecido
deixou de executar a tempo e a hora, caso em que resulta completamente interditada a vereda
da execução com vias constritivas mais rígidas.
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e) Irrepetibilidade
As prestações alimentícias devidamente entregues pelo devedor não podem ser restituídas,
como, aliás, consensualmente a doutrina admite. Fala-se, a propósito do fundamento dessa
característica, repousando para alguns no dever moral, para outros a quantia despendida a esse
título seria naturalmente irrestituível. Nesta medida, o incontestável, no entanto, é que essa
característica deriva do facto de se tratar a prestação alimentar de um bem consumível, sendo
então naturalmente inviável sua restituição.
Nesse caminho, aliás, faz boa anotação Dantas (1991, p. 338) quando fundamenta o seguinte:
Desde o momento em que o juiz reconheceu os alimentos contra determinada pessoa,
passam a ser devidos, e pode acontecer que posteriormente, por qualquer outro meio
de impugnação legal, o alimentante demonstre que não devia os alimentos, que já os
pagou, e pede então que os alimentos lhes sejam restituídos. Deve-se ou não atender?
A primeira regra é que o alimentando não deverá restituição alguma de alimentos, a
não ser que tenha já obtido a prestação de alimentos de outra pessoa, porque se tomou
os alimentos e os consumiu não se pode pretender tenha enriquecido a custa alheia, e,
por conseguinte, não está em condições de enriquecimento ilícito, que criaria a
obrigação de restituir o consumido.
f) Transmissibilidade
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responder pelas prestações vencidas e por se vencer após a morte do alimentante conforme o
plasmado nos termos do art.º 258.º al. a) do CF.
g) Divisibilidade
Quanto a esta característica, realça o dispositivo do art.º 253.º nº 1 e 2 do CF, veio consagrar
posição já assentada no sentido de se configurar a obrigação alimentar como divisível,
podendo ser imposta a diversos co-devedores, responsabilizados nesse caso cada qual por uma
específica quota-parte, proporcional à sua condição económica. Pois, o legislador traz a
seguinte redacção “. Quando a obrigação de alimentos recaia sobre mais do que uma pessoa, a
prestação de cada uma delas será proporcional à respectiva capacidade económica”. Para tal a
nossa legislação chama a essa generalidade de sujeitos prestadores de pluralidade de
obrigados.
Sendo assim, vale a pena assinalar que apenas duas questões ainda comportam alguma
discussão, a primeira sobre a possibilidade de chamada dos co-responsáveis ou pluralidade de
obrigados a prestarem alimentos para a composição da lide, aspecto sobre qual, ao menos pela
norma, é possível enxergar hipótese de litisconsórcio passivo facultativo, sem definição exata
do modelo de intervenção de terceiros, dada que sui generis.
h) Impenhorabilidade
A destinação do crédito alimentar, realmente, o lança para fora do círculo dos bens
alcançáveis por virtuais credores do alimentando, naturalmente ficando ele inserido no
contexto do patrimônio mínimo, indispensável à guarnição de suas necessidades
fundamentais. De resto, há de ser lembrada, para finalizar, outra característica.
Dentre as várias implicações, a fuga à paternidade é uma das causas do elevado número de
casos de crianças fora do sistema de ensino, ou seja, inclusive muitas crianças chegam à idade
escolar, sem documentos de identificação, uma vez que, os pais se recusaram ou
negligenciaram-se proceder ao registo das mesmas, crianças de rua, elevado número de
crianças nos centros de acolhimento, delinquência juvenil e o consumo de drogas por parte de
menores. A dificuldade de integração dessas crianças, radica no facto de serem oriundas de
famílias monoparentais, e muito vivem com os respectivos parentes, tratando-se da família
alargada, como tios, primos, avós, tias ou outros membros da família, que na pior das
situações exercem a autoridade paternal.
A família é o grupo social no qual os membros coabitam unidos por uma complexidade de
relações interpessoais, com uma residência comum, colaboração económica, e no âmbito
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deste grupo existe a função da reprodução biológica e social. Segundo esta visão, a família é
considerada como sendo o primeiro grupo humano organizado, e como célula básica da
sociedade. Daí a importância que no passado e no presente se tem dado à família, e as
mudanças que caracterizam a sua estrutura, nas relações dentro e fora dela, com influências
recíprocas na mudança. Leandro (2021), realça que a noção da família, sendo
etimologicamente de origem latina, do vocábulo famulus cujo significado é servidor, só no
século XVII aparece com uma definição restrita, isto é, próxima aos nossos dias, o
equivalente a família firmada pelos pais e os seus respectivos filhos.
Entendemos, abandono parental como conduta, acto ou omissão de natureza criminal e social,
reiterada ou não de recusa de paternidade pelos pais biológicos ou adoptivos, que priva a
criança de condições indispensáveis ao seu desenvolvimento integral. A primeira entende-se o
acto em que os pais se recusam a estabelecer vinculo de filiação com a criança, do ponto de
vista legal e afectivo, ao passo que a segunda tem a ver com os casos em que os pais,
efectivamente estabelecem o vinculo de filiação com a criança, mas não exercem
adequadamente à paternidade.
Segundo Moreira (2009, p.74) “o conceito de fuga a paternidade contém sim um sentido de
exclusividade em relação ao pai que se recusa a assumir o filho, preferimos designá-lo de
abandono parental que é extensivo aos pais que abandonam os filhos, independentemente do
sexo”. O conceito de abandono parental é abrangente e adequado a tipologia dos casos
verificados em Angola, em que existem igualmente casos de mães que abandonam os filhos.
Se por um lado, consideramos a família como uma instituição social extremamente importante
para a socialização do individuo, por outro, devemos admitir que é uma instituição em que os
seus membros estão propensos à violência física, e profundamente a violência, é difícil de ser
identificada e principais alvos as mulheres e as crianças pela condição peculiar da sua
dependência psicológica e económica. A violência a que nos referimos é sinónimo de
violência psicológica, como refere o art.º 3.º alínea c), da Lei Contra a Violência Doméstica:
“A violência psicológica é toda conduta que causa dano emocional, diminuição de auto-
estima ou que prejudica e perturba o pleno desenvolvimento psicossocial”. A fuga à
paternidade é uma forma de exercício da violência simbólica porque expõe a criança a
situações que atentam a sua integridade física e moral.
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2.5. Abandono parental como forma de violência económica
A fuga a paternidade é a forma de violência económica porque implica também, a herança e
outras questões patrimoniais. É um fenómeno que exige uma reflexão profunda no sentido de
apelar à consciência dos pais, que as crianças não pediram para vir ao mundo, muitas vieram
de forma voluntária e outras, se calhar, não, em todo caso, são seres humanos, têm a sua
dignidade e direito à vida e merecem ser tratados como tal, nos termos dos artigos 30.º, 31.º e
32.º da CRA, conjugado com os artigos 3.º e 25.º da Lei Contra a Violência Doméstica.
Por forma, a guarda fica com os progenitores e o outro tem a obrigação de o sustenta. A
pensão de alimentos contempla todas despesas relacionadas com o menor: habitação,
alimentação, vestuário, saúde, transportes, calçado, etc. na falta de acordo dos pais, cabe ao
tribunal fixar o seu montante, segundo critérios de equidade e, apesar de não existir nenhuma
fórmula para o valor, os dois devem contribuir de igual forma.
Entretanto, os danos decorrentes do abandono familiar das crianças são irreparáveis para todo
seu desenvolvimento, incluindo aquelas transgeracionais que podem desencadear uma
perpetuação de acto semelhantes, aquando do exercício da função paternal, ou seja, um
individuo que não tenha sido educado pelos seus pais, tendem a reproduzir a mesma situação
nos seus descendentes.
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Deve-se desvincular a figura do pai da ideia do progenitor, ainda que o vínculo apareça como
desejo, e sem dúvida nenhuma como ideal, para muitos. As relações são determinadas pela
convivência permanente com a criança, a forma como as crianças se sentem queridas,
aconchegadas e amadas pelos pais define o respeito e admiração que têm pelos mesmos.
Trazer ao mundo um ser inocente exige de cada um de nós responsabilidade e maturidade.
Parafraseando Durkheim (2010, p. 27), podemos considerar que a responsabilidade paternal é
um facto social, abarcando todos dos pais são determinados socialmente e sendo independente
da vontade dos indivíduos.
Não nascemos pais, mas nos tornamos tais figuras mediante uma construção social baseando
no que a família, a sociedade e as pautas culturais vão depositando nas nossas histórias
pessoais, quer dizer, no processo de apreensão da cultura. Mais ainda, os filhos constituem um
guia orientador de tal construção, visto que as condutas e afectos podem nos afirmar ou não
ao vínculo parental que estabelecemos.
Mas não basta que a gestante seja bem tratada pelo pai da pessoa que vai nascer, também
necessário é que, depois do parto, a mãe continue a receber boas energias por parte do pai da
criança assim como do meio familiar e social que a rodeiam. Pois são essas boas energia e a
estabilidade emocional da mãe que serão sentidas pela criança durante a amamentação, o
banho, a estabilidade emocional da mãe e demais actividades da rotina diária. Só assim haverá
a transmissão de segurança, sossego e bem-estar para a criança. Quer dizer, o afecto recebido
pela mãe é transmitido também no leite com que se amamenta a criança como oferta divina,
no suspiro agradável da mãe e do pai quando os três olhares se cruzam numa cumplicidade
misteriosa, isto é, o bebé aprende sensorialmente esta triangulação afectiva. O seu inocente
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olhar que ainda pouco se fixa nos pormenores da realidade envolvente, aprende o olhar
sorridente de uma mãe amada e logicamente um olhar seguro de um pai assumido.
O facto é observado no sorriso da mãe e do pai, por estarem satisfeitos e, logicamente, alegres
com o nascimento de seu filho. Enfim, tudo o respira afecto e amor traduz-se um milagre
indescritível. Aliás, as primeiras tentativas do bebé de se sentar, de andar, de correr, de
balbuciar as primeiras palavras, as primeiras tentativas de levar a comida à boca de forma
mais autónoma, com as suas pequenas bonitas e mãos-inocentes e ainda isentas de qualquer
maldade, é de facto tudo mistério e beleza.
Todo o bebé de forma serena e segura se tiver como apoio uma plataforma familiar estável,
saudável. É de facto tudo bem bonito como se poderia com a vida de uma borboleta que poisa
sobre uma flor desabrochada, sobre o qual se deleita. Só assim poderia narrar o ministério que
encerra o lado da afectividade humana, sobretudo transmitindo como energia que se acumula
e se alicerça nos patamares da construção da personalidade em desenvolvimento desse
pequeno ser, que amanhã será grande homem, uma grande mulher por força e graça a essa
energia maravilhosa: o amor.
Por outro lado, expressões menos agradáveis: não volte mais; és parvo; és pacóvio; tu não
prestas para nada; tu não vales nada; tu és medíocre e odeio-te; esse aí não dá para nada; ele é
feio. Todas essas palavras expressam atitudes que foram assimiladas pelo individuo no seu
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processo de socialização. Ora bem, ninguém dá o que não recebeu ou seja expressa essas
palavras em momento de alegria, regozijo ou bem-estar emocional se nunca lhe haviam sido
dirigidas em circunstâncias semelhantes. De igual forma ninguém expressa rancor, raiva, ódio
se em toda a sua vida nunca terá observado ou vivenciado em sua interação com os seus
congéneres hostilidade ou nunca alguém se lhe tenha dirigido ou manifestado essas emoções
negativas. Por tanto, ninguém dá o que não recebeu.
Segundo Melo (2010, p.97) “a pensão de alimentos tem sido o grande “calcanhar de Aquiles”,
no que tange à fuga a paternidade”. Nos últimos tempos as famílias, os tribunais e a igreja
debatem-se muito com esta temática. Todos podemos concordar com o facto de que ninguém
pode sobreviver sem comer. No entanto, quando se toca nesta matéria tende-se a generalizar a
questão e alguns, poucos muito poucos indivíduos, sobretudo os pais, quando pressionados
pelas instituições já referidas acima, apressam-se a colocar nos bancos alguma quantiazinha
de dinheiro para calar a boca da mãe das crianças. Há pouco falávamos de poucos homens.
Sim, poucos homens porque no universo de pais que abandonam os seus filhos menores, os
que ainda acedem doar alguma propina (mesmo que pequena), seja por terem sido
pressionados pelas autoridades ou por “autoconsciência”, são de facto uma gota de água no
oceano, dentro deste pacote do problema da fuga a paternidade.
De acordo Oliveira (2006, p. 65)
Uns alegam que não podem voltar a ver os filhos porque ela não deixa, e no
entanto não se dirige ás autoridades para recuperar o seu direito à
paternidade. Outros dizem que não podem dar dinheiro aos filhos baseando-
se no facto da mãe já terá arranjado marido e que, por causo disso, não
podem lá ir levar o dinheiro ás crianças, nem tão pouco falar com ela. Tudo
isso como se não existissem tribunais para se reivindicar o direito à
paternidade. Alguns outros alegam que não dão a pensão de alimentos porque
o que ganham também mal chega para si.
Há uns que dizem que não podem dar a pensão de alimentos porque “eu não trabalho,
portanto, não posso roubar para sustentar filhos. Ela é que quis sair de casa. Ela que aguente.
Eu não tenho nada haver com isso”. Outros prófugos-progenitores, alegam não dar a pensão
de alimentos porque: “mudei de província pelo que nunca mais os vi. Nem a mãe nem os
filhos”.
Há aqueles, ainda que alegam “os pais não permitem que eu vá lá ver os filhos”. Certos
prófugos-progenitores mal terminaram a relação com a ex-mulher (mãe antigos filhos), já
estão envolvidos com outra ou outras mulheres que tomam as rédeas do poder, deixando-os
tão fragilizados em matéria de apoio aos filhos, que os vão fazendo afastar paulatinamente dos
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mesmos em favor dessa nova mulher e novos filhos. Assim, alegam o seguinte: “a minha
mulher actual não permite que eu vá ver os meus antigos filhos para não me envolver outra
vez com a sua mãe. Eu não quero problema com a minha nova esposa”. Assim, começa uma
nova vida, novas esposas e novos filhos.
Como é possível que uma criança tenha um bom rendimento escolar sem se alimentar em
condições? Como é possível uma mãe dar o sustento aos seus filhos sem a ajuda financeira do
pai dessas mesmas crianças? Quanto mais dar-lhes instruções e formação para o futuro? Criar
filhos e instruí-los para os validar para um futuro mais risonho quer esforço dos dois
progenitores: presença assídua, patrocínio financeiro e cooperação entre os dois!
Contudo, tendo em conta a afirmação ora citada, nem sempre o filho desejado, amado e
acarinhado torna-se uma pessoa generosa com a sua comunidade. Em Angola, na província de
Luanda, já se constatou muitas crianças nascidas no berço de ouro, ou seja, lar bem
constituído, que tornaram-se adultos egocêntricos, marginais, fora da lei e não comprometidos
com o bem. Com isso, há necessidade de não se desenhar um quadro necessariamente
negativo com relacção às crianças que não crescem junto de uma família constituída. A
desconstrução da figura paterna começa quando desvincula-se a paternidade da ideia ou
princípio biológico. Certamente, é importante realçar, gerar o filho não garante a relação
afetiva com o mesmo, pois a constituição do laço afectivo não é algo que acontece de forma
automática, é necessários o empenho e a conquista.
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O pai é aquele que constrói com o filho laços afetivos duradouros. A figura
paterna não pode ser contemplada como construção biológica determinada,
porém construção social. Ademais, veja-se que “pai é aquele que desempenha
o papel de protector, educador e provedor e o progenitor é aquele que
simplesmente gera”.
Nesta óptica, o autor faz perceber a diferença entre pai e progenitor. Portanto, mostra também
o autor a necessidade de desconstruir o conceito tradicional que se tem de paternidade. Desta
forma, nesta pesquisa, cabe a proposta da desconstrução da figura paterna, pensar a
paternidade de uma outra visão, diferente da construída através de diversas narrativas. De
facto, levanta-se a questão: Na ausência do pai, qualquer outro membro da família, ou seja,
mãe, tio, tia, avô e outro, pode desempenhar o papel de pai? já que muitos progenitores não
conseguem dar conta da responsabilidade e peso que a função de pai carrega. És a questão a
ser analisada durante a pesquisa.
Neste sentido, é possível realçar que, além de ser uma problemática local, isto é, no bairro da
Estalagem, ela transpassa município, província e se estende, um pouco, por todo o país. São
visíveis os numerosos casos discutidos em tribunais e as leis criadas em torno deste fenómeno
e da criança como a principal vítima. Existem factores que, de certo modo, têm grande
impacto no aparecimento deste fenómeno, dentre eles, a violência doméstica, divórcio,
bruxaria (feitiçaria) e a colonização.
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2.7.6. Violência doméstica em Angola
De acordo com Pedro (2014) em princípio, cada família é única na sua forma, representação e
especificidade, embora esteja intrinsecamente ligada a qualquer que seja a sociedade. Por
conseguinte, reconhece-se que cada família tem os seus mecanismos ou métodos de resolução
de conflitos ou desentendimento. Porém, em Angola, sobretudo, na província de Luanda, um
fenômeno tem preocupado, nos últimos anos, várias instituições, este fenômeno é a violência
doméstica que afecta várias famílias e a sociedade em geral. Adianta-se que, violência
doméstica pode ser toda violência que ocorre no seio do lar ou da família. Em Luanda, os
números de casos têm crescido.
Na optica de Reis (2009) entende por violência doméstica, toda a acção ou omissão que cause
lesão ou deformação física e dano psicológico temporário ou permanente que atente contra a
pessoa humana, nos termos do artigo 3.º da Lei Contra a Violência Doméstica. O fenómeno
pode resultar de um desentendimento na família, tendo o confronto físico ou verbal como
forma de resolução do conflito. De certo, quando há conflito entre o casal, vezes sem conta,
ocorre violência entre eles que pode levar à separação parcial, divórcio, prisão do/a agressor/a
ou ainda à morte. Diante disto, o filho sofre as variadas consequências da situação. Outrossim,
pode ocorrer violência doméstica em direcção à criança, quando esta passa por maus-tratos,
ofensas físicas ou verbais. Como consequência muitas crianças fogem como tentativa de
livrar-se da violência no lar, por não aguentar tanta violência e, assim, tornam-se crianças
moradoras da rua, distantes do amor dos pais, da assistência afectiva e financeira, e ainda,
passam a viver em lares ou instituições acolhedoras.
Diante deste facto, é sabível afirmar que o Ministério da Família e Promoção da Mulher assim
como outras instituições voltadas à questão da família e da criança, em Angola, sobretudo, em
Luanda, tem-se empenhado na busca de soluções para o fenómeno. Actualmente, a violência
doméstica constitui crime, além disso, percebe-se que o governo angolano preocupado em
defender a criança e, neste sentido, tem buscado promover acções que permitam o seu
desenvolvimento harmonioso.
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2.7.7. Divórcio no meio familiar
Feitiçaria
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Concebe-se na cultura bantu a feitiçaria como uma manifestação, uma realidade e acção
credível, pois interfere nas relacções pessoais. O fenomeno é tida, na visão de mundo bantu,
como manipulação de forças advindas do outro mundo para fins individualistas. Certamente,
muitas vezes, os fins individualistas, para os quais se usa a manipulação das forças, estão
ligados às atitudes nocivas a outrem, ou seja, a feitiçaria pode ter um cunho maléfico.
Decerto, para responder hipoteticamente a esta pergunta, é fundamental trazer duas formas
pelas quais a feitiçaria ou bruxaria pode ser factor que influencia a fuga a paternidade, em
Angola, na província de Luanda. Em primeiro lugar, “crianças que são acusadas de feitiçaria”
e, em segundo lugar, “pais que por obra da feitiçaria”, seja feita pelo parente ou outra pessoa
(amante, esposa,) abandonam o(a) filho(a) sem dar qualquer satisfação. Sobre as crianças
acusadas de feitiçaria, o autor diz que estas acusações:
[...] acontecem dentro das famílias ou entre os vizinhos. Elas são acusadas de
manipular forças advindas do mundo noturno, ocasionando infortúnios dentro
das famílias como doenças, mortes, abortos e fracassos econômico dos
membros da família. As crianças acusadas situam-se na faixa etária entre 8 a
13 anos. (PEDRO, 2014, p. 87).
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Em conformidade com Pintinho (2014, p.33):
Instituições como, por exemplo, o INAC e a UNICEF têm envidado esforços para garantir o
combate a este fenómeno, principalmente, através de um estudo realizado como parte do
Programa Nascer com Registo, citado pelo página - unicef.org/angola.
Outrossim, quanto a feitiçaria como possível causa do abandono afetivo ou fuga à paternidade
em Angola, na província de Luanda, em um segundo momento, pretende-se refletir sobre o
caso dos pais que, por obra da feitiçaria, abandonam os filhos. Dito de outro modo, segundo
várias explicações (populares), muitos são os pais que abandonam o filho independentemente
de suas vontades, pois forças que foram manipuladas atuam sobre eles, fazendo-os afastar-se
parcial ou totalmente da criança.
É importante realçar que, na perspectiva daqueles que recorrem à feitiçaria para justificar a
fuga à paternidade, o pai abandona o filho involuntariamente, independentemente do seu
querer, pois há uma justificativa de manipulação de forças ou substâncias ocultas, através de
rituais, cerimónias e sacrifícios de animais ou pessoas para que a suposta mulher feiticeira
consiga alcançar os seus objetivos. Nota-se que, nesta perspectiva, o homem é
desresponsabilizado de sua decisão de deixar a família e, concomitantemente, a mulher
feiticeira é, por este olhar social, culpabilizada. Assim, a culpa pelo abandono familiar,
justifica-se por via da feitiçaria, que passa do homem que deixou a família para a mulher que
o desejaria. De facto, é curioso notar como a posição da mulher é pouco problematizada pelos
autores que consideram a feitiçaria um factor que causa a fuga à paternidade.
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Segundo a realidade ds centros de acolhimento os mesmos têm recebido muitas crianças em
diferentes condições, crianças abandonadas cujos familiares não tem condições para sustento,
outras são acusadas de “feiticeiras” e também existem as que fogem de casa por maus-tratos a
que são vítimas. Quando é feito o acompanhamento das crianças junto das respectivas
famílias, descobre-se que as leva a desistirem dos menores sob a sua tutela. Reconhece-se o
quanto é complexo esmiuçar sobre este fenômeno que é visto por muitos autores e pela
sociedade como influente na fuga à paternidade em Angola. Entretanto, o certo é que esta é
uma realidade visível na sociedade e que tem chamado a atenção do governo angolano, da
mídia e de muitos(as) pesquisadores (as) sociais.
Segundo Cardoso (2008, p.45), entende-se “abandono afectivo ou fuga à paternidade como a
negligência de suportes emocionais e afectivos necessários ao desenvolvimento infantil por
parte de pais”. Diante desta citação, pode se considerar que toda irresponsabilidade, falta de
cuidado, falta de filiação, falta de assistência (material ou afectiva), todo dever não cumprido
do pai para com o filho é abandono afectivo ou uma fuga a paternidade. Assim:
Deste modo, é possível dizer que a ausência do pai pode interferir diretamente no
desenvolvimento do filho. Inegavelmente, a fuga à paternidade pode gerar várias
consequências, dentre elas, na vida do pai que foge, da mãe que sente a fuga e, sobretudo, na
criança que é abandonada.
Segundo Trapp e Andrad (2017), sem a figura paterna, o filho pode conhecer várias
consequências, tais como: perca de equilíbrio e uma série de conflitos psíquicos, no seu
desenvolvimento, fruto da ausência paterna. Vale pensar que, estas e muitas outras
consequências podem não ser imperativas, mesmo que a presença da figura paterna seja
importante para a vida da criança e futuro adulto.
Diante destas ideias acima destacadas pelos autores sobre as consequências da fuga à
paternidade, é importante não se generalizar os casos, pois nem todas as crianças abandonadas
pelo pai desenvolvem tais comportamentos. De facto, cabe pensar nesta pesquisa, como
25
muitas crianças conseguem, com a ajuda ou auxílio de outra figura familiar superar a ausência
do pai?
Outrossim, será que relação mãe-filho pode superar a ausência do pai, seja qual for o motivo
desta ausência? São questões a se levar em conta quando se fala das consequências.
Por outro lado, a ideia de que as crianças abandonadas pelos pais, em Angola, tendem ao
desvio de comportamento está muito ligada a um modelo ocidental de comportamento que
norteia a psicologia do desenvolvimento da criança no campo cognitivo, sexual e social.
Assim sendo, todo comportamento fora de uma conduta socialmente pré-estabelecida como
normal é considerado desvio. Por outra:
É importante destacar que a ausência paterna decorrente de falecimento do pai
desperta sentimentos diferentes nos filhos em comparação aos casos em que a
ausência é motivada por uma separação conjugal e/ou divórcio. Enquanto no primeiro
caso os sentimentos dos filhos estão ligados à sensação de perda e tristeza, no segundo
têm-se também sentimento de revolta e indignação, já que estes entendem que o pai
poderia reverter tal situação, caso quisesse, o que é inviável no primeiro caso.
SGANZERLA; LEVANDOWSKI (2010) apud CUNICO;ARPIN (2013, p. 36).
Apresentaremos alguns factores que contribuem para aumento de casos a fuga à paternidade
em Angola, podendo existir outros que eventualmente não tenham sido referenciados neste
trabalho, porém acreditamos que abordagem servirá de paradigma na descoberta de outras
variáveis que influenciam o comportamento dos pais que se recusam assumir à paternidade.
De acordo Reis (2009, p.76) “após três décadas de guerra e de privações, no decurso das quais
morreu um grande número de pessoas, as condições de sobrevivência e de saúde em Angola,
tornaram-se precárias”. A guerra e o colapso dos serviços sociais, exercem efeitos nefastos no
26
que diz respeito ao bem-estar das crianças, directamente a sua sobrevivência e a saúde; o
perfil é demasiado sombrio, marcado por altas taxas de mortalidade infantil, baixa esperança
de vida e exposição das pessoas a doença que podem ser evitadas.
Aliada à crise política, registou-se êxodo rural ou deslocamento das populações em direcção
aos principais centros urbanos, com particular destaque em Luanda e arredores, como
consequência aumento do índice de pobreza e de desemprego. Devido a estas circunstâncias,
os cidadãos viram-se esforçados a engendrar em fontes de rendimentos alternativos (comércio
informal) até meios menos dignos como a criminalidade e prostituição. A guerra que assolou
o país, além de devasta-lo em sentido material, quebrou o sentido de pertença a uma
instituição familiar, degradação de valores morais e aos laços afectivos que norteiam a
convivência no seio familiar.
Este progressivo movimento migratório aumentou a procura de emprego nas áreas urbanas.
Apesar de mais seguras as cidades ainda assim, não abandonavam empregos, abrindo-se deste
modo o caminho ao enorme desenvolvimento do mercado informal. No campo a
responsabilidade de cuidar dos filhos é da mulher por meio de cultivo da terra, da busca por
água e por lenha. Na cidade a mulher continuou com estas responsabilidades confiando-se ao
trabalho doméstico e comércio informal. Com níveis muito baixos de escolaridade, sem
disporem de um capital para iniciarem uma actividade legal e, por vezes, utilizando-se da
experiência adquirida no pequeno comércio agrícola. O mercado informal foi a alternativa
encontrada pela mulher angolana para sobreviver na cidade e contribuir para o sustento da
família.
27
relacção aos 16 anteriores anos de guerra, afectando pela primeira vez de forma directa os
centros das cidades e estendendo-se à quase totalidade do território. As zonas rurais foram
intensamente minadas, sendo as mulheres e crianças as principais vítimas destes engenhos
explosivos; as mulheres em virtudes de trabalharem nas lavras e as crianças por
acompanharem as mães. Em consequência do aumento da violência dos confrontos, da
insegurança e da instabilidade, o fluxo migratório em direcção às cidades, aumentou, sendo
que à medida que o controlo destas era retomado pelas forças governamentais. As cidades
mais visadas pelas novas vagas migratórias eram as cidades litorais e em especial a cidade
capital, Luanda.
A falta de emprego nas áreas urbanas e o aumento da procura por trabalho causado por todas
as vagas de migração, continuou a afectar as camadas mais vulneráveis, fundamentalmente as
mulheres, que constituem a maioria da população angolana e exercem um importante papel na
economia nacional, e muitos agregados familiares são chefiados por mulheres (na maioria dos
casos viúvas da guerra civil e mulheres divorciadas). O comércio informal e prostituição são
prova evidente da feminiza da pobreza. Ser zungueira, é uma alternativa para comaltar à fome
num país de poucos empregos e de desigualdade sociais. A protecção das crianças no contexto
da pobreza é insignificante. A luta diária pela sobrevivência negou a muitas crianças o direito
de serem tratadas com dignidade; muitas crianças são forçadas a trabalhar desde tenra idade,
enquanto outras enfrentam o problema de abandono parental.
Muitos pais por razões de vária ordem, não dispõe de recursos para sustentar os filhos. Alguns
não cresceram com os seus pais biológicos; deste modo não foram educados em ambientes
familiares alternativos, e esta situação tende a reproduzir-se nos seus descendentes, uma vez
que não foram educados num ambiente familiar, que lhes permitisse perceber o significado da
existência de um pai ou de uma mãe da vida dos filho. Como vimos, têm sido apontadas
diversas causas para a pobreza em Angola dentre as quais destacamos os seguintes factores:
políticos, históricos, demográfico, administrativos e os socioeconómicos. O êxodo rural
constitui uma das principais causas do elevado número de desempregado. Durante e após o
fim do conflito armado houve a imigração de cidadãos das demais províncias do país para
Luanda à procura de melhores condições sociais.
28
2.8.2. Educação sexual
A educação sexual é um assunto presente na vida do ser humano, e constitui o tema central de
diversas manifestações artístico-culturais, tais como músicas, filmes, poemas e romances
entre outros. O amor é algo que permite o levantamento de inúmeras questões, a começar pela
sua própria definição. A sexualidade é a energia que nos leva a procurar afecto, contacto,
prazer, ternura e intimidade. A sexualidade influência os nossos pensamentos, sentimentos e a
saúde física e mental. A orientação sexual ocorre de um processo sistemático nas escolas, nos
hospitais ou outras instituições especializadas em transmitir informações sobre o uso
adequado dos métodos contraceptivos, anatomia do corpo, aborto e consequência em gerar
uma vida. Enquanto que a educação sexual resulta de informações obtidas nas intervenções
sociais relacionadas ao sexo.
Em nosso quotidiano, quase que freneticamente, procura-se cada vez mais o amor. Na
verdade, na vivência e sua busca tendem a perdurar indeterminadamente, não se restingindo a
uma fase ou século. Braz (2006, p. 68), refere que o “amor é a condição fundamental para o
nascimento ontogenético da pessoa”. Ele participa activamente da evolução e estruturação da
personalidade, dado que é capaz de aproximar a pessoa de sua essência e proporciona o
desenvolvimento de relações sociais.
No entanto, vivemos numa sociedade que tende a banalizar este nobre sentimento. Tratamos
do amor como algo transitório, supérfluo, sem importantes repercussões na construção de
relacionamentos e da vida. Banalizar os sentimentos que são a essência de uma relacção
sólida, fazendo com que, paulatinamente, ele perca o sentido de sustentáculo na construção de
uma família equilibrada. Essa é, indubitavelmente, uma séria ameaça que paira sobre os seres
humanos ao vulgarizar o amor, reduzindo-o a efémeros prazeres que conduzem a uma
satisfação mais egoísta do que altruísta, comprometendo a vida dos filhos que resultam desta
relacção.
Muitos pais são exemplo negativo de falta de moral para os filhos. Para combater o ciclo de
abandono familiar, é necessário estudar o meio onde as crianças estão inseridas, pois, tem
uma importância decisiva, porque as crianças são o produto de meio, os pais que as geraram
são resultado desta influência, ou seja, produtos desta socialização. Para moldar essas atitudes
na criança, precisamos fazer um corte, introduzir valores e apelar a responsabilidade dos seus
progenitores, para que possam ter boas referências paternais.
Na óptica de Sá (2005) a curiosidade sexual, está ao alcance dos olhos de qualquer um por
toda a parte: na internet, na televisão, no cinema, nas revistas e nos outdoors espalhados pelas
ruas. Diante desta realidade, estamos perante alienação das relacções sexuais, instrumento
facilitador para quase todas as evoluções do mundo moderno, a internet contribui para
vulgarizar o sexo. Sites de sexo explicito abundam em toda a rede, enquanto os blogues e as
novelas atiçam a ansiedade sexual.
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contrair doença sexualmente transmissível, gravidez precoce e indesejada. Na cultura Bantu,
os jovens durante a circuncisão recebem preparação específica a vida adulta:
O termo valor deriva do latim valere, que significa “ser forte.” Assim, o termo pode ser
compreendido como a qualidade e importância que reconhecemos na realidade. Uma vez
definidos, os valores justificam as nossas escolhas e acções, “Os valores são modos de ser e
agir que uma pessoa ou grupo reconhece como ideal e que faz com que as condutas às quais
ele é atribuído sejam desejáveis” (MIRANDA, 2010, p.45). As dimensões valorativas são
várias: podemos falar de valores a honestidade; temos valores religiosos, relacionados com a
ligação do homem com o outro (o transcendente), por exemplo, a santidade e os valores éticos
e morais. Diante destas indagações, podemos considerar a fuga à paternidade como um contra
valor, é uma conduta socialmente inaceitável. A família tem um papel crucial na organização,
transmissão e uma afronta as regras de convivência social.
A palavra moral tem origem latina, “mor, mores” cujo significado é costume, carácter ou
forma habitual de agir. Assim, a moral pode ser compreendida como as regras de conduta
humana que radicam da sua capacidade em distinguir o bem do mal. O papel da educação em
relação aos valores morais é anterior ao de resgate. A educação tem um papel basilar. A
31
educação, enquanto processo humanizante e socializante, desperta o homem para os valores
morais. É a mesma educação que é chamada a entrar em acção quando os valores morais são
julgados perdidos. Neste âmbito, o processo de educação aparece como o recuperador de
valores perdidos.
A transmissão dos valores morais e a cívicos sempre foi uma preocupação do povo angolano.
No entanto, a nossa própria história é testemunha do quanto a educação moral foi degradada
na família, onde a negação contínua e a superação constante são uma realidade, como nível do
processo histórico pelo qual Angola passou e que desestruturou muitas famílias. A luta
armada, e as suas consequências, são prova da nossa imperfeição no exercício da educação
moral, alicerçada na desestruturação das famílias comprometendo a sã convivência entre
membros no seio familiar.
Em Angola, podemos situar a crise de valores morais e cívicos dentro da grande dinâmica de
reconstrução nacional. A reconstrução da razão em nós alicerçada pelos factores supracitados.
Muito tem sido feito pelas instituições do Estado e os seus parceiros sociais, no sentido de
resgate dos valores morais e cívicos. O curriculum educativo, no seu todo revela, um esforço
no sentido de resgate dos valores morais. Com efeito a população mais jovem, e não só, é
constituída do que chamaríamos de “ignorante cívicos”, ou seja, indivíduos que têm pouca
informação e compreendem muito menos, sobre os conteúdos dos direitos e deveres dos
cidadãos, da economia, da cultura e política; são indivíduos alheios a realidade social e física
envolvente. A ignorância a que nos referimos tem a ver com o elevado índice de
32
analfabetismo falta de hábitos de leitura, que impede os jovens de obterem informações sobre
vários temas que afectam nossa a pessoa humana.
Constatamos esse interesse e empenho nas celebrações, nas pregações, na criação de cursos de
educação moral e cívica, etc. No entanto, reconhece-se que a crise também pode afectar as
igreja e urge criamos mecanismo de recuperação dos valores religiosos fundamentais.
A questão da crise dos valores morais está presente em quase todos os dominios da sociedade,
como é do conhecimento público, em matéria de corrupção nem as melhores leis são
suficientes. Há todo um “modus operandi” das instituições públicas, que é preciso rever, para
evitar a impunidade dos pais que se furtam assumir à paternidade para este atoleiro da
corrupção, “tráfico de criança” e do compadrio (nepotismo), pessoa, a fim, de ser atacado e
comece a ser destruído de uma vez por todas. O que é grave na corrupção, não é o funcionário
que se deixa “subornar” para perdoar uma multa, atenuar um pai ou uma mãe que abandonou
o filho. A corrupção é problema sério, repercute-se na descrença nos órgãos competentes para
punir os infractores que se recusam a assumir os filhos.
A sociedade funciona como um todo, ou seja, cabe a família o papel de projectar a mudança e
criar um novo espaço para os seus membros; isto porque elementos da sociedade produziram
e continuaram a produzir as suas consequências, trazendo mudanças profundas na família,
segundo o tipo de organização estrutural da sociedade. A família resulta, assim, de um
33
conjunto dinâmico e complexo de variáveis estruturais intrafamiliares (dentro da família), mas
também de realidades extrafamiliares. Assim, a família, nas suas relacções com o contexto
sócio-cultural, passa pela evolução que caracteriza de modo significativo o mundo de hoje.
Portanto, não pode ser vista fora deste contexto e desta realidade social.
No caso do cônjuge daquele que faz uso excessivo, como pai ou mãe, como marido ou mulher
ou ainda como provedor da casa. Em muitos casos, o consumo de álcool se dá fora do
ambiente familiar e faz com que o tempo e o dinheiro gasto com prática desfalquem a família
em suas necessidades básicas.
Abordar sobre álcool e do seu consumo, implica distinguir entre o consumo moderado e o
consumo excessivo. Ao contrário de outras substâncias tóxicas, como heroína e a cocaína, o
álcool é uma substância em que se aceita um consumo moderado, em adultos saudáveis. A
maior parte das famílias angolanas lidam com esta substância de forma descontrolada, sofrem
os malefícios de uma substância que se assume como droga quando é consumida em excesso.
O abuso é hoje um padrão de consumo frequente nos adolescentes e jovens adultos, que se
caracteriza pelo beber com intenção de ficar intoxicado e com alterações de comportamento.
A instabilidade, a insegurança, o ambiente tenso, são características frequentes no ambiente
familiar do indivíduo que consome de forma excessiva o álcool e que têm repercussões
negativas ao nível do relacionamento com os filhos. Quando os pais são alcoólatras, estão
comprometidas em termos, materiais e mentais, as relacções com os filhos com esta figura de
referência. São frequentes situações de carência de afecto e de cuidados, negligência e
abandono, nas famílias em que um dos progenitores é toxicodependente.
34
álcool durante a gravidez) e que podem levar a aborto espontâneo,
nascimento de criança morta, parto prematuro, má formações que podem
constituir o síndroma fetal alcoólica. Por outro lado, temos as acções pós-
nascimento (ingestão de álcool durante a amamentação e a sua influência),
que provoca atraso no desenvolvimento geral, falta de cuidados necessários
ao seu desenvolvimento e a predisposição ao consumo de bebidas alcoólicas
pelos filhos pela imitação.
2.8.5. Prostituição
De acordo Pimenta (2021, p. 85) “ considera a prostituição como uma da mais antigas práticas
no mundo, por outra temos que admitir, que actualmente algumas jovens enveredam pela
prostituição como meio de sobrevivência”. As praticantes da prostituição afirmam que aquilo
que as motiva é a falta de emprego e a difícil situação financeira em que se encontram; fazem-
no em zonas mais distantes da residência. Muitas das jovens não têm formação académica que
lhes permita conseguir um emprego com condigno, e encaram a prostituição como estratégia
de sobrevivência.
Nota-se que as mulheres que recorrem a prostituição exigem dos clientes o uso do
preservativo, apesar disso, há indivíduos que se predispõem a pagar mais para fazer sexo sem
preservativo e algumas jovens acabam aceitando, apesar de consciência que desta relação
pode resultar doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejáveis. Como vimos, os
jovens evolvem-se em relações sexuais desprovidos de afecto, em muitos casos praticados sob
efeitos de álcool, e naturalmente que os filhos resultantes destes relacionamentos, são
vulneráveis a fuga a paternidade.
A prostituição proliferou em circunstâncias de extrema pobreza. Assim muitas jovens
separaram-se das famílias e procuraram formas alternativas de sobrevivência, diferentes das
dos seus pais, devido a escassez de emprego; algumas enveredaram pela prostituição em
tempo integral, outras em tempo parcial conciliando com actividade mal remunerada. Além
35
de exploradas pela entidade patronal pelos baixos salários que auferem, são igualmente
abusadas sexualmente pelos seus eventuais clientes, por exemplo, clientes dos restaurantes
onde trabalham e que vulgarmente chamam de “tio”, em certos casos, nem a casa dos mesmos
conhecem. Desses relacionamentos têm resultado, gravidez indesejáveis e por uma questão de
ocultar a desonra, deixam de frequentar os respectivos locais e consequentemente fogem à
paternidade.
Quadro legal
Para elaboração do presente trabalho, consultamos os seguintes artigos:
Constituição da República de Angola. Promulgada aos 5 de Fevereiro de 2010.
Lei n.º 25/11, de 14 de Julho. Aprova a Lei contra a Violência Doméstica.
Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro. Aprova o Código da Família.
Lei n.º 38/20, de 11 de Novembro. Aprova o Código Penal Angolano.
36
III. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A actual República de Angola, foi também conhecida até o ano de 1975 como província
ultramarina portuguesa, é um país da costa ocidental da África, cujo território principal é
limitado a norte e a nordeste pela República Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia, a sul
pela Namíbia e a oeste pelo Oceano Atlântico. Inclui também o enclave de Cabinda, através
do qual faz fronteira com a República do Congo, a norte. Para além dos vizinhos já
mencionados, Angola é o país mais próximo da colónia britânica de Santa Helena.
A independência do domínio português foi alcançada em 1975, depois de uma longa guerra de
libertação pelos movimentos de libertação nacional (FNLA, UNITA e MPLA). O país tem
vastos recursos naturais, como grandes reservas de minerais e de petróleo e, desde 1990, sua
economia tem apresentado taxas de crescimento que estão entre as maiores do mundo,
especialmente depois do fim da guerra civil.
3.1.1. Clima
A República de Angola, localizar-se numa zona tropical, tem um clima que não é
caracterizado para essa região, devido à confluência de três factores:
A Corrente de Benguela, fria, ao longo da parte sul da costa;
O relevo no interior;
Influência do deserto do Namibe, a sudoeste.
Portanto, o clima de Angola é caracterizado por duas estações que são:
Chuvas, que ocorre de Outubro a Abril
Seca, conhecida por cacimbo, esta que ocorre de Maio a Agosto, mais seca, como o
nome indica e com temperaturas mais baixas.
3.1.2. Demografia
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A população de Angola em 2014, depois do primeiro censo pós-independência e dos
resultados definitivos do Recenseamento Geral da População e Habitação 2014, é de 25 789
024, 00 habitantes, sendo 52 % da população angolana do género feminino. Nos dias de hoje,
fruto das migrações e das taxas de natalidade e mortalidade, estima-se em aproximadamente
30.000.000, 00 de habitantes.
3.1.3. Línguas
O português é a língua oficial da República de Angola. De entre as línguas africanas faladas
no país, algumas têm o estatuto de língua nacional. Estas assim como as outras línguas
africanas são faladas pelas respectivas etnias e têm dialectos correspondentes aos subgrupos
étnicos. A língua étnica com mais falantes em Angola é o umbundo, falado pelos ovimbundu
na região centro-sul de Angola e em muitos meios urbanos. É língua materna de cerca de um
terço dos angolanos.
O kimbundu (ou quimbundo) é a segunda língua étnica mais falada - por cerca da quarta parte
da população, os ambundu que vivem na zona centro-norte, no eixo Luanda-Malanje.
Entre os aspectos que merecem uma atenção especial estão os decorrentes das políticas
chamadas de descentralização e desconcentração, adoptadas nos últimos anos, e que remetem
para a necessidade de analisar a realidade política a nível regional (sobretudo provincial) e
local. Por outro lado, começa a fazer sentir-se certo peso internacional de Angola,
particularmente a nível regional, devido à sua força económica e ao seu poderio militar.
3.3. Cultura
A cultura Angolana é por um lado tributária das etnias que se constituíram no país há séculos,
principalmente os ovimbundu, ambundu, bakongo, côkwe e ovambo. Por outro lado, Portugal
esteve presente na região de Luanda e mais tarde também em Benguela a partir dos séculos
XVI, ocupando o território correspondente à Angola de hoje durante o século XIX e
mantendo o controlo da região até 1975.
Esta presença redundou em fortes influências culturais, a começar pela introdução da língua
portuguesa e do cristianismo. Esta influência nota-se particularmente nas cidades onde hoje
vive mais de metade da população. No lento processo de formação uma sociedade abrangente
e coesa em Angola, que continua até hoje, registam-se por tudo isto "ingredientes" culturais
muito diversos, em constelações que variam de região para região.
39
IV. METODOLOGIA
4.1. Tipo de estudo
Para realização deste trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica, considerando o objectivo
Explicativo/analítico, com abordagem qualitativa.
4.2. Métodos utilizados
Na elaboração deste trabalho utilizou-se os métodos dedutivo e indutivo, no suporte da
aplicação zelosa, na abordagem do método histórico.
O estudo dirigiu-se com base a uma compilação de livros, monografias, teses de mestrado,
artigos informáticos, relatórios e revistas científicas.
Os dados foram processados e redigidos a partir do programa Microsoft office vulgo Word,
pois e o programa recomendado para elaboração de trabalho científico conforme a norma
científica utilizada pela Universidade de Belas.
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V. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fuga à paternidade está a preocupar a sociedade e é preciso sensibilizar os pais para
assumirem as sua responsabilidades, enquanto educadores, sendo esta uma das problematicas
que hoje enfreta a sociedade angolana.
A infância determina toda a vida do ser humano e por isso deve ser bem instruida e
encaminhada pelo pais. Ser pai ou mãe não significa apenas gerar filhos, mas é saber instruir,
educar, garantir saúde, habitação e alimentação aos menores até atingirem pelo menos a
maioridade, ou seja os 18 anos de idade.
Um pai responsável faz-se presente na vida do menor, paciente e carinhoso. Ele efectua o
registo civil do menor e participa do seu desenvolvimento, ou seja, acompanha a criança no
momento das vacinas, nas tarefas da escola, educa com paciência e participa dos momentos
de lazer.
Entres as causas da fuga à paternidade no nosso ordenamento juridico estão a pobreza das
familias, degradação dos valores morais e civicos, consumo excessivo de bebidas alcoólicas
falta de sustento da familia, a prostituição que conduz a negação da responsabilidade paternal,
a infidelidade conjugal, dentre outras.
O Estado deve apoiar as familias, mas estas também têm a sua responsabiliadde que devem
assumir por inteiro. O desemprego, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e os conflitos
familiares, constituem de igual modo factores nan base dos casos de fuga a paternidad e o não
pagamento da pensão de alimentos. Actos de infracção à Lei Contra a Violência Doméstica.
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Em Angola, a fuga à paternidade constitui crime de violência doméstica. A Lei n.º 25/11, de
14 de Julho (Lei Contra a Violência Doméstica) considera a fuga à paternidade como o
abondono familiar, nos termos da alínea f) do artigo 3.º. Portanto, a falta reiterada de
prestação de alimentos: educação, vestuário, registo civil, protecção, saude à criança e
assistencia à mulher grávida, constitui crime, punida com a pena de prisão. E de acordo ao
diploma referenciado o infractor é obrigado a indemnizar os alimentos (filhos ou mulher
grávida).
Muitos pais, mesmo tendo recursos financeiros, abandonam os seus filhos, situação que tem
provocado o desvio comportamental dos crianças durante o seu crescimento. Uma crianca que
convive com falta de responsabilidade dos pais é propensa a tornar-se num indivíduo em
conflito com a lei.
A fuga à paternidade tem penalizado muitas crianças, sobretudo no acesso ao registo civil, o
que provoca atraso a entrada de muitas no sistema normal de ensino. Hoje existe a
necessidade de sensibiliar os pais, permitindo que se quebre o silêncio, fazendo com que as
pessoas tenham a cultura e o espírito de denunciar, sem medo de sofreram represálias.
A falta de emprego nas áreas urbanas e o aumento da procura por trabalho causado por todas
as vagas de migração, continuou a afectar a camada mais vulneráveis, fundamentalmente as
mulheres, que constituem a maioria da população angolana e exercem um importante papel na
economia nacional, e muitos agregados familiares são chefiados por mulheres (na maioria dos
casos viúvas da guerra civil e mulheres divorciadas).
Outrossim, é notório a não aplicabilidade com rigor dos 11 compromissos com a criança
angolana, visto que, as acusações de feitiçaria às crianças e adolescentes têm sido recorrente
na sociedade angolana, por ser um fenómeno presente em todas as dimensões da vida, no
trabalho, nas crenças, maneiras de pensar, estar, na visão sobre o mundo.
42
Os órgãos de direitos devem gizar acções para que os direitos das crianças não sejam lesados,
porquanto dificultam o seu crescimento saudável, psicológico e social.
Campanhas de sensibilizacão permitiriam a chamada de atencão da sociedade, de que a fuga à
paternidade deve ser banida nos lares acometidos com este fenómeno.
43
VI. CONCLUSÕES
As reclamações das mulheres sobre a atitude negativa dos homens (maridos, pais), que as
engravidam e abandonam sem assumir o fruto de suas relações e decisões comum, no
momento do acto sexual. A Lei angolana impõe ao pai que não coabita com a mãe do filho, a
prestar-lhe alimentos, quando ela (mulher grávida) deles (alimento) careça, nos termos do
artigo 264.º do Código da Família.
Os filhos são iguais, têm direitos à educação, alimento, protecção, registo, entre outros
direitos, como clarificam os n.s 5.º e 6.º do artigo 35.º da Constituição da República de
Angola, conjugando com os artigos 120.º, 127.º, 128.º e 131.º, ambos do Código da Família.
A perda de valores morais por parte de certos progenitores, tem sido a causa de muitos casos
de fuga à paternidade registrados em Angola. Em suma, a falta de valores morais, éticos,
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culturais e sociais, isto é: a pobreza nas famílias (falta de emprego), crianças acusadas de
feitiçarias, a infidelidade conjugal, são as principais causas de fuga à paternidade, que se
regista nos últimos tempos em Angola. A falta de um dos elementos da família,
particularmente o pai, causa à criança um desvio de conduta, criando nela um sentimento de
rejeição por todos que o rodeiam. Além disso, provoca-lhe traumas e reduza-lhe a autoestima,
deixando-a vulnerável a várias situações. A infância, determina toda a vida do ser humano e
por isso, deve ser bem instruída e encaminhada pelos pais, para o bem comum.
Ora, em Angola, a fuga à paternidade constitui crime de nos termos do artigo 247.º da Lei n.º
38/20, de 11 de Novembro, que aprova o Código Penal Angolano, conjugado com o artigo 3.º
da Lei n.º 25/11, de 14 de Julho, que aprova a Lei Contra a Violência Doméstica. Portanto, a
falta reiterada de prestação de alimentos: Educação, vestuário, registo, protecção, saúde, etc, à
criança e a assistência a mulher grávida, constitui crime e punido com pena de dois à oito
anos de prisão maior, nos termos dos números 2 e 3 do artigo 25.º da mesma Lei. E, à luz da
mesma Lei, o infractor também é obrigado a “indemnizar” os filhos ou mulher grávida com os
alimentos.
45
VII. RECOMENDAÇÕES
Após análises referentes à factores que estão na base da fuga a paternidade. Recomenda-
se:
Aos progenitores e encarregados de educação assumirem a sua verdadeira
responsabilidade para com os os seus filhos;
Aos educadores sociais (professores, órgãos de comunicação e líderes religiosos) que
enfatizam desde cedo a importância da família e conservação dos valores morais;
As mulheres devem ser firmes e denunciar actos do género;
Aos progenitores que têm estes comportamentos que abandonem tais práticas erradas e
constituam familias estáveis e hamoniosas.
46
VIII. BIBLIOGRAFIA
BOLIEIRO, Helena. A Criança e a Família- Uma Questão de Direito(s), 2.ª ed. (2014).
BORGES, Beatriz Marques. Protecção de crianças e jovens em perigo. 2.ª ed. Almedina,
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