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ALIENAÇÃO PARENTAL1
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar as medidas adotadas na guarda compartilhada
para efetivo combate a alienação parental, a fim de chegar à conclusão se esta modalidade
contribui ou não com a redução de casos de alienação parental. Foram utilizadas doutrinas,
verificando-as para compreender como a família é conceituada, suas nuances e
particularidades, com o intuito de compreender também as razões do aumento das ações de
divórcios. Por fim, a alienação parental foi estudada de forma critica para que, ao estudar as
modalidades de guarda, fosse possível atestar se a modalidade compartilhada seria mais
adequada para combater os malefícios da alienação parental. Como metodologia foi adotada a
pesquisa bibliográfica, sendo realizada a leitura de obras, artigos e leis sobre o tema.
ABSTRACT
This article aims to analyze the measures adopted in the shared custody to effectively combat
parental alienation, in order to conclude whether or not this modality contributes to the
reduction of cases of parental alienation. Doctrines were used, verifying them to understand
how the family is conceptualized, its nuances and particularities, in order to understand also
the reasons for the increase of divorce actions. Finally, parental alienation was critically
studied so that, by studying guarding modalities, it was possible to attest whether the shared
modality would be more appropriate to combat the ills of parental alienation. As methodology
was adopted the bibliographic research, being the reading of works, articles and laws on the
subject.
INTRODUÇÃO
1
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro Universitário UNA de
Uberlândia, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
2
Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário UNA de Uberlândia. E-mail:
kenedy_kun@hotmail.com
3
Professora do Curso de Direito do Centro Universitário UNA de Uberlândia. E-mail: laura.ricardo@una.br
O presente artigo visa analisar se a lei 11.698, de 13 de junho de 2008, que regula a
guarda compartilhada no nosso ordenamento jurídico pátrio, é um instrumento eficaz no
combate a alienação parental. Para que isso seja realizado parte-se do seguinte problema de
pesquisa: com a entrada em vigor da lei 11.698, de 13 de junho de 2008, ela de fato é uma
solução para o combate a alienação parental?
Deduz-se que na modalidade de guarda compartilhada, onde a criança tem um contato
maior ou uniforme com ambos os pais, acaba por afastar ou diminuir a possibilidade da
incidência da alienação parental em comparação com a guarda unilateral onde a criança passa
a maior parte do tempo com um dos pais.
O objetivo da pesquisa é realizar uma analisar das modalidades de guarda vigentes em
nosso país e sopesa-las para averiguar em qual delas a ocorrência da alienação parental se
torna menos presente na vida do menor. Será abordada a evolução histórica da família, a fim
de identificar a atual conjuntura desta instituição e seus pontos fracos no que tange aos
relacionamentos. Constate-se um grande número de divórcios, que está diretamente ligado a
uma crescente demanda no poder judiciário no tocante a ocorrência da alienação parental,
bem como a falta de estrutura no seio familiar, colaborando com o caos instaurado na vida do
menor.
A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica sendo realizada a leitura de
doutrinas e obras ligadas ao assunto do tema, além da leitura de livros, artigos e leis que
abordam o objeto de pesquisa. O método a ser utilizado é o dedutivo por meio de uma análise
dos aspectos gerais ligados a guarda, para analisar em específico a guarda compartilhada e se
esta é um meio preventivo a alienação parental.
A família é a base do indivíduo, pois é nela que ele terá convívio, a partir do
nascimento, e formará sua personalidade, onde são herdados os costumes e crenças que o
sujeito levará em sua vida, ainda que se torne adulto e independente do vínculo original, e são
desses valores compostos de cada família é que se forma a sociedade como um todo. Partindo
desta premissa, faz-se necessário a presença do Estado a fim de proteger este instituto, pois,
quanto mais estruturada a família for, melhor será a formação de cada indivíduo e toda
comunidade se beneficiará disso.
Embora não haja um conceito definido sobre família no ordenamento jurídico
brasileiro, Maria Helena Diniz (2008) considera que se exprimem da palavra três sentidos, são
eles amplíssimo, lato e acepção restrita
Para Maria Helena Diniz, família no sentido amplíssimo os componentes da família
estão ligados pelo vínculo consanguíneo ou também pela afinidade. Já o lato envolve não
apenas os cônjuges ou companheiros e seus filhos ou os parentes de linha reta ou colateral,
envolve também os afins, ou seja, os parentes do outro cônjuge ou companheiro. E por último,
porém não menos importante o sentido estrito, formado pelos pais e filiação. (DINIZ, 2008)
Nosso ordenamento jurídico traz em seu bojo os três sentidos da palavra família,
conforme supracitado, e cada qual é direcionado levando em consideração as peculiaridades e
os aspectos das relações familiares.
O renomado doutrinador Paulo Gomes traz em sua obra a seguinte definição de
família “O grupo fechado de pessoas, composto dos genitores e filhos, e para limitados
efeitos, outros parentes, unificados pela convivência e comunhão de afetos, em uma só e
mesma economia, sob a mesma direção.” (GOMES, 1998, p. 33).
Já para Paulo Nader (2016) não há uma definição completa para bem expressar o
sentido de família, pois há constantes mudanças dos costumes tornando complexo o intuito de
defini-la, porém considera que um grupo composto por duas ou mais pessoas, solidárias entre
si que contribuem para seu desenvolvimento pode ser considerada uma família, bem como as
pessoas que descendem uma das outras ou de um tronco comum.
A partir destes conceitos extraímos que o vínculo familiar é dado não só pela
consanguinidade, mas também pela afinidade e adoção, tornando claro que não há apenas um
vínculo existente e sim podendo ocorrer de várias formas.
Assim como no mundo todo, o Brasil evoluiu na matéria família, criando leis mais
sóbrias e coerentes acompanhando a expressiva mudança no comportamento das famílias e
suas mudanças conceituais, o marco desta evolução veio com a Constituição Federal de 1988
que por sua vez promoveu o estado democrático de direito bem como atenção ao princípio da
dignidade da pessoa humana.
Para Dias (2009), a família sempre foi vista de um modo geral como sendo o centro da
sociedade, e vem desenvolvendo suas funções de acordo com a realidade de cada período.
Como já citado, a Constituição Federal de 1988, trouxe as principais mudanças no tocante a
ideia do conceito de família concebido em nosso ordenamento jurídico.
Sobre estas alterações, que são consideradas alicerces da sociedade, Faro diz que:
A obra de Clóvis Beviláqua foi, é importante observar, alterada pelo legislador, nos
seus mais de 80 anos de vigência, atendendo as exigências do tempo, por leis que
deram significativa melhora para a figura e posição da mulher casada (Lei nº
4.121/62), instituiu o divórcio (Emenda nº 09/77 e Lei nº 6.515/77), culminando a
Constituição da República do Brasil, promulgada em 1988 que trouxe inovações
com relação à conceituação e à proteção jurídica da família, imprimindo mudanças
nas relações íntimas, com a evolução dos costumes, mas, ainda assim, era preciso
incluir num só diploma todas as matérias pertinentes a vida privada. (2002, p. 1)
Talvez seja por isso que, em vez de relatar suas experiências e expectativas
utilizando termos como “relacionar-se” e “relacionamentos” as pessoas falem cada
vez mais (auxiliadas e conduzidas pelos doutos especialistas) em conexões, ou
“conectar-se” e “ser conectado”. Em vez de parceiros, preferem falar em “redes”.
Quais são os méritos da linguagem da “conectividade” que estariam ausentes da
linguagem dos “relacionamentos”? (BAUMAN, 2004, p. 12).
No Brasil, esse problema, que é enfrentado por muitas famílias, era tratado como uma
doença, denominada Síndrome da Alienação Parental, a qual era regulada, inicialmente, pela
Convenção sobre os Direitos das Crianças de 1989 mas não foi reconhecida pelo Poder
Judiciário, devido à incidência desse fenômeno nas lides familiares, como uma patologia.
Assim, para analisar de forma aprofundada esses casos, o Judiciário passou a se utilizar de
profissionais como psicólogos e assistentes sociais, para a possível identificação do transtorno
em crianças.
Porém, somente em 2010 foi criada a Lei nº 12.318/2010 que trata especificamente do
assunto. Maria Berenice Dias relata que:
Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, se um dos cônjuges não consegue
elaborar adequadamente o luto da separação, como sentimento da rejeição, ou a
raiva pela traição, surge o desejo da vingança que desencadeia um processo de
destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Sentir-se vencido,
rejeitado, preterido, desqualificado como objeto de amor, pode fazer emergir
impulsos destrutivos que ensejam desejo de vingança, dinâmica que faz com que
muitos pais se utilizem de seus filhos para o acerto de contas do débito conjugal.
(DIAS, 2016, p. 907).
O objetivo da referida lei é fazer uma alerta, criando uma conscientização aos pais a
fim de coibir a prática da alienação parental, o objetivo maior é a proteção do menor e
garantir-lhe que o mesmo possa exercer o direito basilar que é a convivência familiar
harmoniosa.
Identificado a ocorrência de alienação parental, o magistrado poderá tomar algumas
medidas, elas estão previstas nos incisos do artigo 6º da Lei de Alienação Parental.
Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII - declarar a suspensão da autoridade parental. (BRASIL, 2010).
Salvo Venosa (2017) afirma que o artigo 2º, é exemplificativo e que o juiz poderá
verificar qual a medida mais adequada a ser aplicada no caso, além de a possibilidade de tais
medidas serem aplicadas de maneira cumulativa, podendo até mesmo aplicar uma simples
advertência já seria o suficiente e, em outros casos, se faz necessário medidas mais severas.
3 DA GUARDA
Miguel Reale (2003), defende que o Estado é responsável por estabelecer limites ao
poder de atuação dos titulares do poder familiar, situação esta que até então não era prevista
no Código Civil de 1916. A ideia predominante é de que o poder deixou de ser somente dos
pais e passou a ser também do Estado, como uma fixação jurídica do interesse dos filhos.
Este entendimento também é reconhecido por Maria Berenice Dias para a renomada
autora o Estado tem o dever de agir de forma subsidiária na autonomia familiar:
A autonomia da família não é absoluta, sendo cabível, e vez por outra salutar, a
intervenção subsidiária do Estado. O grande desafio é encontrar o ponto de
equilíbrio entre as duas situações opostas; a supremacia do Estado nos domínios da
família e a onipotência daqueles que assume o poder de direção da família. (DIAS,
2016, p. 783).
Quanto à guarda, ela advém do poder familiar onde há direitos e deveres a serem
cumpridos pelos pais em relação às crianças e adolescentes, sendo dever prestar-lhes
assistência. Com isso a separação dos pais não configura a extinção do poder familiar, não
extingue os deveres e direitos em relação aos filhos menores, permanecendo ainda o direito de
convivência e de exercer a guarda dos menores.
Neste sentido podemos afirmar que a guarda dos filhos na constância da relação é
conjunta, a guarda passa a ser individualizada no momento da ruptura do relacionamento dos
genitores seja pela separação de fato ou de direito.
Com a separação, os pais vivendo em tetos diferentes, havendo conflito quanto a quem
irá deter a guarda, e se posteriormente esse conflito se tornar um litigio no âmbito jurídico, o
juiz decidirá sempre com base no melhor interesse do menor. Decidido isso, no
estabelecimento e na regularização da visitação pelo genitor que não detém a guarda,
prevalecerá a princípio o que for acordado entre os pais.
Para Carlos Roberto Gonçalves a guarda unilateral é a mais comum, porém não é a
mais adequada para uma relação harmoniosa no âmbito familiar, dentre os tipos de guarda.
Essa tem sido a forma mais comum: um dos cônjuges, ou alguém que o substitua,
tem a guarda, enquanto o outro tem, a seu favor, a regulamentação de visitas. Tal
modalidade apresenta o inconveniente de privar o menor da convivência diária e
contínua de um dos genitores. (GONÇALVES, 2017, p. 367).
Ainda que a criança ou adolescente esteja sob a guarda de apenas um dos genitores,
não desobriga o outro genitor a manter os cuidados que deve dispensar aos filhos, sendo a ele
obrigado a exercer seu papel e prover a educação e a saúde e física ou psicológica destes,
conforme previsão do § 5° do artigo 1.583 do Código Civil.
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os
interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores
sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas,
objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem
a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos. (BRASIL, 2002)
A guarda compartilhada está presente em nosso ordenamento jurídico por meio da lei
n° 11.698, de 13 de julho de 2008 e está entre as modalidades mais completas de guarda dos
filhos, por este motivo acabou por se tornar a modalidade de guarda predominante em relação
às outras, posteriormente dando sentido a ela foi elaborada a Lei n. 13.058/2014.
Para Paulo Lôbo,
A guarda compartilhada pode ser requerida ao juiz por ambos os pais, em comum
acordo, ou por um deles nas ações litigiosas de divórcio, dissolução de união estável,
ou, ainda, em medida cautelar de separação de corpos preparatória de uma dessas
ações. Durante o curso de uma dessas ações, ao juiz foi atribuída a faculdade de
decretar a guarda compartilhada, ainda que não tenha sido requerida por qualquer
um dos pais, quando constatar que ela se impõe para atender às necessidades
específicas do filho, por não ser conveniente que aguarde o desenlace da ação. A
formação e o desenvolvimento do filho não podem esperar o tempo do processo,
pois o seu tempo é vida que flui.
Também pode ser requerida a guarda compartilhada, conforme decisão do STJ,
pelos parentes com os quais viva a criança ou o adolescente. No caso, tratava-se de
adolescente que vivia com a avó e um tio, há doze anos, desde os quatros meses de
vida. Os parentes pediram a guarda compartilhada para regularizar uma situação de
fato, para o bem-estar e o benefício da menor e para poder incluí-la como
dependente de ambos. O TJSP (tribunal de origem), ainda que reconhecesse a
possibilidade da guarda compartilhada, julgou por sua inconveniência porque a
família substituta deveria ser formada a partir do referencial “casal” – marido ou
mulher que se assemelhe.
A guarda compartilhada é exercida em conjunto pelos pais separados, de modo a
assegurar aos filhos a convivência e o aceso livres a ambos. Nessa modalidade, a
guarda é substituída pelo direito à convivência dos filhos em relação aos pais. Ainda
que separados, os pais exercem em plenitude o poder familiar. Consequentemente
tornam-se desnecessários a guarda exclusiva e o direito de visita, geradores de “pais-
de-fins-de-semana” ou de “mães-de-feriados”, que privam os filhos de suas
presenças cotidianas. (LÔBO, 2011, p. 199).
Assim sendo, a guarda unilateral passará a ser exceção, em vez de ser a principal
opção de guarda em resolução de conflitos, que tendem a existir em relação à guarda, com
relação a principal modalidade preleciona César Fiuza,
Cabe ressaltar ainda que, segundo o parágrafo primeiro do artigo 1.583 do Código
Civil, a responsabilidade dos pais pelos filhos será conjunta na guarda
“compartilhada”, seja ela conjunta, alternada ou uniparental. A se entender
literalmente o dispositivo, isso equivale a dizer que, causando o filho um dano a
terceiro, este deverá acionar ambos os genitores em conjunto. Não se trata, pois, de
responsabilidade solidária, e nem subsidiária; é conjunta mesmo. Na guarda
unilateral pura, só o genitor que a detém é responsável pelos danos causados pelo
filho menor, a não ser que o eventus damni tenha ocorrido, estando o menor na
companhia do outro genitor. (FIUZA, 2012, p.1088)
A guarda compartilhada é uma medida eficiente, pois os filhos terão o conforto de ser
protegido por ambos os genitores e ambos os pais exercerão plenamente o poder familiar.
A Lei nº 13.058/14, que trata especificamente da guarda compartilhada foi
amplamente difundida tanto pela doutrina quanto pela legislação brasileira, como o principal
tipo de guarda conquistando o seu lugar de destaque. No que consta a guarda dos filhos
menores, ocorreram as seguintes alterações do artigo 1.634 do Código Civil, agora
modificado pela Lei 13.058 de 2014:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art.
1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência
permanente para outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais
não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade
e condição (BRASIL, 2002).
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