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DIREITO E PSICOLOGIA: GUARDA COMPARTILHADA E

ALIENAÇÃO PARENTAL

Renata Farche Alves56


Rafael Ribeiro57
Lauriane Madeira58
Marcelo Campos Machado59
Michelem Matilde Ribeiro60

Resumo: O presente artigo cientifico foi desenvolvido a partir de um


levantamento bibliográfico caracterizando-se como um estudo das
contribuições do direito e da psicologia em contexto jurídico no trato relativo
as premissas sobre guarda compartilhada e alienação parental. Nesta
direção apresenta pressupostos legislativos e teóricos como parâmetro
para continuidade de pesquisas de cunho jurídico e psicossocial.
Considera-se tratar-se de temática de relevância para a sociedade uma vez
que expressa demanda de direitos fundamentais previsto em legislação.
Destaca-se portanto, a consciência prioritária de que ciências isoladas são
insuficientes para análise e tomadas de decisões o mais justas e humanas
possíveis.

Palavras chaves: Direito. Psicologia. Guarda compartilhada.


Alienação Parental.

INTRODUÇÃO

O presente artigo cientifico é resultado de um levantamento


bibliográfico sobre a temática guarda compartilhada e alienação parental
observando-se aspectos jurídicos e psicológicos desta demanda de análise
e intervenção social. Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica

56
. Professora de Psicologia Jurídica no curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais
- UEMG/Unidade Passos.
57
Acadêmico do curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG/Unidade
Passos.
58
Acadêmica do curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG/Unidade
Passos.
59
Acadêmico do curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG/Unidade
Passos.
60
Acadêmica do curso de Direito da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG/Unidade
Passos.

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em fontes de livros e artigos científicos. Fundamenta-se que “a pesquisa
bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 44).
A partir deste desenvolvimento o intento cientifico para
continuidade do estudo sobre guarda compartilhada e alienação parental,
desenvolver-se-á a elaboração de uma entrevista semiestruturada de
perspectiva metodológica qualitativa para a realização de uma coleta de
informações/dados, junto a operadores do direito, a fim de ampliar-se os
subsídios de discussão do tema de estudo, de modo teórico prático, a ser
fomentada na disciplina psicologia jurídica ministrada no curso de direito da
Universidade Estadual de Minas Gerais – unidade Passos/MG.
A motivação atrelada ao tema principal que será discorrido é
decorrente de considerações sobre mudanças nos paradigmas de
organização da sociedade devido ao surgimento de novas dinâmicas
familiares menos duradouras e permanentes. Esta realidade, impôs ao
Supremo Tribunal Federal a modificar a forma como a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 reconhece diferentes
configurações de famílias existentes no Brasil. O objetivo principal desse
reconhecimento é garantir direitos civis aos componentes desses “núcleos”
cada vez mais diversos.
A Constituição Federal de 1988 revela-se como o mais importante
documento da atualidade. Nela é dado um tratamento liberal à família,
desvinculando-a do casamento como modelo único e legítimo, socializando
o seu conceito e caminhando para transpor preconceitos contra aqueles
que não se enquadravam na forma instituída pelo casamento civil
conservador, igualando os direitos e deveres conjugais e dos filhos de
qualquer natureza e proibindo a discriminação contra estes.
Embora a família tenha uma proteção especial do Estado, a
Constituição Federal não a conceitua em seu texto, mas sua estrutura,
Carlos Roberto Gonçalves aponta:

Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas


por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco
ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela

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adoção. Compreende os cônjuges e companheiros, os parentes
e os afins. (GONÇALVES, 2017, p. 16).

As mudanças estruturais, além de promover um maior pluralismo,


também significa que os filhos não representam mais um impedimento para
se desfazer uma relação conjugal, do ponto de vista de amparo de direitos
das partes envolvidas. A partir de então, a sociedade tem reconhecida
variadas configurações: monoparentais (um dos pais criando o filho
sozinho), homoparental (casal de homossexuais, gays ou lésbicas criando
filhos de um ou de ambos, adotados ou resultantes de inseminação
homóloga ou heteróloga), recomposta (filhos de vários casamentos
convivendo com pais recasados.
Insere-se a visão do Direito de Família, sustentada pelos artigos
226 a 230 da Constituição Cidadã de 1988, bem como pelos princípios
destes decorrentes: da pluralidade de núcleos familiares; da igualdade
entre homem e mulher, conferindo direitos e deveres para ambos; da
igualdade entre filhos; da facilitação da dissolução do casamento; da
paternidade responsável e planejamento familiar – todos derivados do
princípio máximo da Dignidade da Pessoa Humana que define condições
de famílias relacionada ao casamento, valorizando a cooperação, a
solidariedade e o afeto.
Embora o ordenamento jurídico tenha facilitado o divórcio
matrimonial, relações jurídicas ainda permanecem, sobretudo, quando o
casal possui filhos. Fato esse, que institui deveres dos ex-cônjuges para
com os filhos. Não obstante, foi necessário atualizar o conjunto normativo
do direito de família, determinando que, após o divórcio pais e mães
tenham o mesmo grau de responsabilidade seja em guarda unilateral ou
compartilhada.
Fazenda (1995, p.15) expõem o pensar interdisciplinar e afirma que
nenhuma forma de conhecimento é, em si mesma exaustiva. Reflete-se
assim, a respeito do diálogo com outras fontes do saber. Na seara da
psicologia jurídica tem-se visto muitas situações dolorosas, sendo esta

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ciência uma fundamental aliada para análise e intervenções no contexto do
Direito de Família.
Destaca-se que o Poder Judiciário deve ser assessorado
tecnicamente por especialistas de outras áreas, segundo um marco ético-
político que serve de crítica e orientação em relação às diferentes situações
na prática jurídica. Confirma-se, desse modo, uma luta permanente pela
cidadania, um processo de articulação de saberes e prática que serve à
prestação e garantia dos direitos do cidadão.

GUARDA COMPARTILHADA E UNILATERAL


Com o estabelecimento da Lei nº 13.058/14, a forma de guarda
compartilhada, modalidade jurídica de responsabilidade dos pais para com
seus filhos passou a ser regra, dando-se preferência a esta, mesmo em
casos que não há consenso entre os genitores. Antes das alterações na
legislação, o regime de guarda unilateral era a regra, ou seja, a mais
aplicada pelo judiciário brasileiro.
A guarda compartilhada foi introduzida no ordenamento jurídico
brasileiro com a Lei nº 11.698, de 13 de julho de 2008, e modificou o artigo
1583, parágrafo primeiro do Código Civil, dando-lhe a seguinte preceito:
Art. 1583. A guarda será unilateral ou compartilhada. [...] § 2.º Na guarda
compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de
forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as
condições fáticas e interesses dos filhos.

Entende-se por guarda unilateral que em casos de separação


conjugal os filhos permanecem sob responsabilidade de um dos pais,
mantendo-se o direito as visitas regulamentadas judicialmente. Atualmente
é aplicada em situações excepcionais, sendo que a “compartilhada” deve
ser descartada quando for verificado que um dos genitores abre mão da
guarda ou que não estejam aptos para cuidar do filho, gerando riscos para
criança.
A nova lei aplica-se também aos casos em que já foram julgados.
Desta maneira, caso o pai ou mãe quiserem mudar o regime de guarda

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unilateral para compartilhada, basta ingressar com uma nova ação e pedir
a revisão com base na Lei n. 13.058/2014.
Maria Berenice Dias afirma descreve “a lei priorizara guarda
compartilhada e impõe a igualdade parental. O juiz tem o dever de informar
aos pais o seu significado” (DIAS, 2016).

Além do aspecto jurídico, legal, trata-se de aspectos psicológicos


envolvidos bem como um estímulo para que os genitores participem
igualmente da vida dos filhos.

[...] a guarda conjunta resguarda igualitariamente direitos de


convivência, da educação e da responsabilidade pela prole. Deve ser
compreendida como aquela forma de custódia em que as crianças têm
uma residência principal e que define ambos os genitores do ponto de
vista legal como detentores do mesmo dever de guardar seus filhos.
(MOTTA, 1996, p.9).

A legislação é clara: pai ou mãe tem o dever parental de visitar o


filho. Em decorrência, “ao menor assiste direito de dupla natureza: de
personalidade - ser visitado por qualquer pessoa que lhe tenha afeto e, - o
direito correlato do dever parental de ser visitado pelo pai que não tem a
guarda” (BAPTISTA, 2000, p.295)
Logo, por ser muito utilizada em processos de separação familiar
em situações de conflito, a guarda compartilhada viabiliza a divisão de
forma igualitária da autoridade parental, tornando-a mais propícia à prole,
uma vez que proporciona uma participação mais efetiva dos pais na vida
dos seus filhos, devido ao exercício em conjunto da autoridade parental:

Esta modalidade de guarda mantém, apesar da ruptura do casal, o


exercício em comum da autoridade parental em sua totalidade. A
noção de guarda compartilhada consiste no exercício em comum,
pelos pais, de um certo número de prerrogativas relativas e
necessárias à pessoa da criança, fazendo os pais adaptarem-se a
novas posições e/ou situações, até então não acordadas previamente.
(SALLES, 2002, p.97).

É de suma importância que haja harmonia entre os genitores tanto


no momento da aplicação da guarda como após. Quando aplicada entre
genitores que não estão de acordo, novos conflitos podem surgir nessa
nova forma de convivência, não sendo benéfico para a criança ou
adolescente.

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A guarda compartilhada, que foi implementada em 2008 no Brasil,
e obrigada em 2014, é uma modalidade ainda pouco usual no ordenamento
jurídico, pode apresentar alguns obstáculos em suas vivências, tais como
a confusão que pais fazem com a guarda compartilhada com guarda
alternada, mas a guarda ideal que busca atender o melhor interesse dos
filhos é a guarda compartilhada. Esta modalidade veio para solucionar a
possível ausência paterna e ou materna, diante de uma separação
conjugal. Possibilita a continuidade da convivência dos filhos com os pais
numa dissolução conjugal.
Pela Lei n° 8.069, ECA, especificamente no Art. 33 define: “a
guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à
criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a
terceiros, inclusive aos pais”. Este princípio, é uma questão de grande
importância para o Direito de Família pois visa a proteção de crianças e
adolescentes que podem ser afetados por decisões de separação conjugal,
o que significa saber, a prioridade de atenção assistida pela justiça voltada
para os que não respondem ainda por si mesmos.

A visitação não é somente um direito assegurado ao pai ou à mãe – é


um direito do próprio filho de com eles conviver, o que reforça os
vínculos paterno e materno – filial. Talvez o certo fosse falar em direito
a visita. Ou, quem sabe, melhor seria o uso da expressão direito de
convivência, pois é isso que deve ser preservado mesmo quando pais
e filhos não vivem sob o mesmo teto. Olvidou-se o legislador de
atender às necessidades psíquicas do filho de pais separados. (DIAS,
2016, p.398).

Entretanto, soma-se a ciência da psicologia, especialmente da


psicologia jurídica, que vem problematizar questões de ordem subjetivas
trazendo-as como elementos de análise e decisão para o judiciário.
Enfatiza-se que esta competência somada, amplia sobremaneira o olhar
para com as dinâmicas familiares, visto que dispõem dos recursos
investigativos que qualificam pareceres.
Nesse sentido, o direito de visitas constitui um direito-dever, que
tem por finalidade a não satisfação dos desejos, interesses, ou direitos dos
genitores, mas da defesa dos interesses e necessidades dos menores, em

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busca da não exposição do menor ao conflito parental de modo a expô-lo
em uma disputa de poder e não de conscientização de papéis.
Ao tratar da formação da criança, o psicanalista Winnicott,
contribui:

[...] do lado psicológico, um bebê privado de algumas coisas correntes,


mas necessárias, como um contato afetivo, está voltado, até certo
ponto, a perturbações no seu desenvolvimento emocional que se
revelarão através de dificuldades pessoais, à medida que crescer. Em
outras palavras, a medida que a criança cresce e transita de fase para
fase do complexo de desenvolvimento interno, até seguir finalmente
uma capacidade de relacionação, os pais poderão verificar que a sua
boa assistência constitui um ingrediente essencial. (WINNICOTT,
1971, p.95)

Com base nas pontuações até então discorridas, releva-se que a


temática se constitui por uma complexa teia de estrutura jurídica e
psicológica, elevando-a a uma posição de atenção psicossocial por tratar-
se da formação e organização de indivíduos em sociedade. Ademais,
seguir-se-á com considerações acerca de parâmetros legais e psíquicos
que podem decorrer de definições sobre a responsabilização dos pais para
com os filhos, independente de manterem-se juntos ou de optarem pela
separação.

ALIENAÇÃO PARENTAL
Em 1985, o psiquiatra Richard Gardner deliberou a Síndrome da
Alienação Parental (SAP), como o distúrbio acarretado pela Alienação
Parental dos entes para com a criança ou adolescente, que provoca
consequências irreversíveis, e fomenta danos psicológicos à vítima.
No ano de 1988 foi mencionada por Jacobs, e em 1989 por
Wallerstein, uma síndrome (A Medea Syndrome), na qual esses autores
estudaram a tipologia dos genitores que empreendiam falsas acusações de
abuso sexual de um dos genitores para com os filhos e perceberam
características comuns com a personagem Medeia. Nessa síndrome,
conforme os autores, a mãe perceberia os filhos como uma extensão dela
própria, e assim, eles serviriam ao seu propósito de vingança. (SOUZA,
2010, p. 101)

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Considera-se que o fim de uma relação nem sempre ocorre de
forma pacífica e amigável, o que acaba compondo conflitos que, às vezes,
perduram até mesmo após a separação. Desavenças que surgem, não
para proteger os interesses das crianças e adolescentes, mas pela disputa
de poder familiar.
O art. 2º da Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, traz o conceito
da alienação parental:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na


formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança
ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que
repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este. (SOUZA, 2010, p. 55).

A alienação parental acontece de forma mais contundente quando


o rompimento da relação conjugal opera-se de modo traumático e
desencadeia intensos e sentimento de vingança contra o outro cônjuge.
Os incisos do parágrafo único do art. 2º dispõem de formas
hipotéticas de prática da alienação parental como:
Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor; dificultar
o exercício da alienação parental; dificultar o contato; dificultar o
exercício regulamentado de convivência familiar; omitir informações
pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente; apresentar falsas
denúncias também de familiares ou avós; mudar para um domicílio
distante, sem justificativa com o objetivo de dificultar a convivência com
o genitor ou familiares deste. (SOUZA, 2010, p. 57).

Quando as discordâncias entre os genitores atingem proporções de


natureza acima mencionada, em regra, a situação chega ao poder
judiciário, pois como estabelece o art. 3º da lei, a alienação parental fere o
direito fundamental da criança ou adolescente a uma convivência familiar
saudável, constituindo uma forma de abuso moral e descumprimento dos
deveres inerentes ao responsável pela guarda ou tutela.
De acordo com alguns autores, em algumas situações, o
comportamento do genitor alienador faz parte de sua estrutura psíquica:

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[...] entendemos que são comportamentos que remetem da estrutura
psíquica já constituída, manifestando-se de forma patológica quando
algo sai do controle. São pais instáveis, controladores, ansiosos,
agressivos, com traços paranóicos, ou, em muitos casos, de uma
estrutura perversa. (SILVA; RESENDE 2007 apud SOUZA, 2010,
p.30).

Conforme descrito no art. 4º, da Lei n.º 12.318/2010, Lei da


Alienação Parental, em qualquer momento processual, em ação autônoma
ou acidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, assim como no
sentido da guarda compartilhada, esta pode ser modificada de acordo com
as circunstâncias fáticas de cada caso concreto, resultando em decisões
que proporcione benefícios para toda família, contemplando tanto os
interesses dos filhos como também dos pais que como mencionado na
citação acima, necessitam também de atenção as suas condições de saúde
mental manifesta.
Silva (2011), psicóloga e advogada paulista, agrega:

A Alienação Parental (AP) caracteriza o ato de induzir a criança a


rejeitar o pai/mãe- alvo (com esquivas, mensagens difamatórias, até o
ódio ou acusações de abuso sexual. A Síndrome de Alienação Parental
(SAP) é o conjunto de sintomas que a criança pode vir ou não a
apresentar, decorrente dos atos da Alienação Parental”. (SILVA, 2011,
p.208).

Vê-se desta maneira a alienação parental como um processo


primário, que pode levar à SAP, no entanto, nos dias de hoje, é pensamento
corrente que não existe a SAP, pois como síndrome, não figura em
nenhuma classificação médica, sendo o bastante considerar apenas
Alienação Parental, com todos os danos capaz de causar. É oportuno
lembrar que não apenas os pais são alienadores, nesse rol podem ser
incluídos avós, tios e pessoas do convívio doméstico, próximas à criança
ou adolescente.
Retoma-se que o direito é um ato tipificado pela Lei Nº 12.318/10,
como uma interferência na formação psicológica da criança ou adolescente
para que repudie um dos genitores que provoque prejuízo no
estabelecimento ou na manutenção dos vínculos.

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Silva (2001) adverte sobre um mecanismo frequentemente
utilizado por genitores que se separam:

Quando a desvinculação afetiva dos pais em relação aos filhos é tão


grande a ponto de não buscarem nenhum contato, é muito provável
que o vínculo jamais tenha realmente existido, ou era muito tênue.
Então, quando alguém reclama esse direito, há de ser verificado,
também, se está baseado apenas na lei (muitas vezes é usado para
controlar e perturbar a vida do ex cônjuge) ou no real interesse pelo
filho. (SILVA, 2001, p.120)

Destaca-se que a Constituição da República Federativa do Brasil,


de 1988, em seus artigos 205 e 226, dispõe sobre a importância da família
na sociedade e o papel do Estado para com as crianças e os adolescentes.
As medidas podem ser desde uma simples advertência ao genitor até a
ampliação do regime de convivência em favor do genitor alienado,
estipulação de multa ao alienador, determinação de acompanhamento
psicológico, alteração da guarda e suspensão da autoridade parental (art.
164- A com ECA).
Dispõem-se que a equipe multidisciplinar tem o prazo de 90 dias
para apresentar um laudo com relação à ocorrência de alienação, sendo
constatada a prática. O processo passa a ter tramitação prioritária e o juiz
determinará com urgência as medidas provisórias visando à preservação
da integridade psicológica da criança ou adolescente (art. 4° caput da lei
12.318/2010), que inclui determinações como convivência com o genitor e
a reaproximação de ambos.

[...] que seja aplicada adequadamente aos casos concretos, para


desfazer os graves prejuízos psicológicos que as crianças filhas de
pais separados atualmente atravessam: ser “órfãos de pais vivos”,
isto é, terem os vínculos com os pais que não guardiões
irremediavelmente destruídos pela SAP, a partir da sensação de
abandono e desapego ao genitor ausente, e que apresenta sintomas
psicossomáticos e/ou psicológicos decorrentes dessa perda de
vínculos como o genitor ausente e não com o contexto da separação
em si (Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental.
(SILVA, et al 2007, p. 54)

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Observa-se assim que a guarda compartilhada tem um caráter de
prevenção, ou seja, que pode prevenir a alienação parental. Silva (2007)
expressa:

Como na guarda compartilhada a vivência cotidiana é mais fácil de


ser exercitada, fator que proporciona à criança, maior segurança dos
seus sentimentos, diminuindo, por consequência, a possibilidade de
sofrerem as influências negativas e de serem manipuladas e, ainda,
pelo fato de que nenhum dos genitores poderá utilizar-se do
argumento de que em razão da guarda estar consigo poderá agir com
exclusividade sobre a criança, como um importante instrumento para
amenizar a ocorrência da Síndrome da Alienação Parental ( SILVA,
et al 2007, p. 101).

Devido a Lei da Alienação Parental tratar-se de um dispositivo novo


no Ordenamento Jurídico brasileiro, ainda não dispõe de subsídios
suficientes para ser avaliada de forma correta pelos operadores do direito,
uma vez que os efeitos positivos e negativos de uma nova Lei somente
devem ser avaliados ao longo de sua aplicação. Reflete-se:

Os filhos da alienação não percebem a trama e sutilmente vão sendo


envolvidos pelas mentiras do alienador [...]. A manipulação é falseada
pela indução de fantasmas criados, como ódios que vão sendo
introduzidos dentro do mundo infantil. (BARRETO, 2008, p. 178)

.
Reflete-se que o tempo e a assimilação pela sociedade irão indicar
se esta nova norma será eficiente, eficaz e condizente com os interesses
dos filhos e seus respectivos pais, tendo como finalidade máxima a defesa
do melhor interesse das crianças e dos adolescentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo sobre a modalidade de guarda compartilhada e da


problemática alienação parental que pode decorrer de separação conjugal
dos genitores, que traz como consequência uma nova forma de convivência
com os filhos, enriquece sobremaneira conhecimentos voltados para o
Direito de Família e para a Psicologia Jurídica.

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Constata-se a complexidade que envolve a elaboração de leis e
pressupostos teóricos advindos para a melhor normatização possível da
relação parental que comporta direitos e deveres assegurados como
também afetos contidos.
Observou-se que conceituações e apontamentos vem sendo feito por
diversos autores que colaboram com a construção de saberes desta
natureza como também o quanto ainda há para se contribuir para com a
literatura e a sociedade que se beneficia de fomentações cientificas em seu
desfecho de práticas jurídicas e psicossociais.
Destaca-se portanto, a fundamental consciência de que ciências isoladas
são insuficientes para análise e tomadas de decisões o mais justas e
humanas possíveis. Neste artigo cientifico buscou-se o desenvolvimento
das óticas do Direito e da Psicologia, que somadas apontam questões
multifatoriais para serem objeto de estudos contínuos.
Desta maneira, pretende-se a partir deste levantamento bibliográfico
apresentado, desenvolver um instrumento de investigação/pesquisa de
campo, por meio da elaboração de uma entrevista semiestruturada a ser
aplicada junto aos operadores do direito como advogados, juízes,
psicólogos e assistentes sociais; com a pretensão de agregar olhares
diretamente envolvidos nas mediações e definições de medidas cabíveis.

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