1- A Guarda da pessoa menor no contexto do direito das famílias.
1.1 Contextualização do direito das famílias e sua relação com a
guarda de pessoa menor.
O direito das famílias é um ramo do direito que trata das relações
jurídicas e dos direitos e deveres dos membros de uma família. Compreende um conjunto de normas e princípios que regulam questões relacionadas ao casamento, divórcio, filiação, adoção, alimentos, entre outros aspectos relevantes para a organização e proteção das relações familiares. No âmbito desse campo jurídico, um tema de extrema importância é a guarda da pessoa menor. A guarda diz respeito à responsabilidade de cuidar, proteger e tomar decisões em nome da criança ou adolescente quando os pais não vivem juntos ou não são capazes de exercer plenamente essa responsabilidade. A guarda é fundamental para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável, pois assegura a continuidade de cuidados adequados, a estabilidade emocional e a proteção dos direitos fundamentais dos menores. Ao mesmo tempo, ao instituir uma guarda se envolve uma série de questões legais, emocionais e sociais complexas que devem ser consideradas para uma decisão justa e equilibrada. Dentro do contexto do direito das famílias, a guarda da pessoa menor é um assunto que atrai considerável atenção e interesse tanto dos profissionais do direito quanto dos estudiosos e pesquisadores nessa área. As leis e regulamentos relacionados à guarda variam conforme os sistemas jurídicos de cada país, e é necessário compreender os fundamentos legais e as políticas públicas vigentes para uma análise abrangente do tema. O entendimento dos tipos de guarda, como a guarda alternada, a guarda unilateral e a guarda alternada, bem como os critérios utilizados pelos tribunais para determinar a guarda em casos de disputa, é essencial para uma análise aprofundada e crítica desse tema. Além disso, é importante abordar os aspectos práticos da guarda, como os direitos e deveres dos guardiões em relação às crianças, a regulação do tempo de convivência do genitor não guardião e a pensão alimentícia. Diante dos desafios e complexidades envolvidos na guarda da pessoa menor, surgem questões relevantes, como a necessidade de apoio e acompanhamento psicossocial às famílias envolvidas, a busca por alternativas de resolução de conflitos e mediação familiar, bem como a análise dos impactos da guarda na vida das crianças e dos genitores.
1.2 Importância e relevância da guarda de pessoa
A guarda da criança e do adolescente é um tema de extrema importância e relevância no contexto do direito das famílias. Refere-se à responsabilidade concedida a um ou ambos os genitores ou a um guardião legal para cuidar, proteger e tomar decisões em nome da criança ou adolescente. Em muitos sistemas jurídicos, o princípio orientador para a determinação da guarda é o interesse superior da criança. Isso significa que as decisões devem ser tomadas com base no que é considerado melhor para a criança, levando em consideração sua segurança, saúde, educação e desenvolvimento emocional. No âmbito legal, a guarda determina quem tem autoridade para tomar decisões importantes em nome do menor, como escolhas educacionais, religiosas e médicas. Também estabelece o poder de ter acesso e convivência com o menor, além de definir as responsabilidades financeiras dos pais ou responsáveis. Ser guardião de uma pessoa menor pode ser objeto de disputas e litígios, especialmente em casos de separação, divórcio ou quando há desacordo entre os seus genitores em relação às questões relacionadas à criança. Nesses casos, os tribunais buscam determinar o arranjo de guarda que melhor atenda aos interesses e necessidades do menor, considerando fatores como o vínculo afetivo, a capacidade dos pais de proporcionar um ambiente adequado e a disponibilidade para exercer a responsabilidade parental. A legislação relativa à guarda varia conforme o país e pode envolver diferentes tipos de guarda, como guarda unilateral, guarda alternada e guarda compartilhada. O objetivo principal é proteger o melhor interesse da criança, levando em consideração sua segurança, desenvolvimento emocional, relacionamento com os pais e estabilidade.
1.3 Fundamentos legais da guarda da pessoa menor.
A guarda da pessoa menor, no contexto do direito das famílias, é regulada por diversos fundamentos legais, que variam de acordo com a legislação de cada país. No Brasil a guarda está prevista no Código Civil, mais especificamente nos artigos 1.583 a 1.590. Conforme a legislação brasileira, a guarda é o direito e o dever de cuidar da pessoa menor, estabelecendo-se como uma das principais questões no contexto de divórcios, separações ou dissoluções de uniões estáveis. Os fundamentos legais relacionados à guarda de menores no Brasil são os seguintes: Interesse superior da criança: Esse é um princípio fundamental que coloca o interesse e o bem-estar da criança como a consideração primordial ao tomar decisões relacionadas à guarda. Os tribunais devem buscar a opção que melhor atenda às necessidades físicas, emocionais e desenvolvimentos da criança. Saúde e segurança da criança: A guarda é concedida levando em consideração a capacidade dos pais ou responsáveis de fornecer um ambiente seguro e saudável para a criança. Isso inclui garantir alimentação adequada, cuidados médicos, abrigo e proteção contra qualquer forma de abuso ou negligência. Relação afetiva com os pais: Os tribunais levam em consideração a dimensão da importância na relação afetiva entre a criança e seus pais ou responsáveis. A estabilidade de vínculos saudáveis e estáveis com ambos os genitores é considerada benéfica para o desenvolvimento da criança, a menos que haja circunstâncias que justifiquem restrições. Capacidade parental: Os tribunais avaliam a capacidade dos pais ou responsáveis de desempenhar suas funções parentais de maneira adequada. Isso pode incluir fatores como a disposição dos genitores cooperar entre si, habilidades de comunicação, capacidade de tomar decisões em benefício da criança e do adolescente com disponibilidade para fornecer cuidados adequados. Vontade da criança (dependendo da idade): Em alguns sistemas jurídicos, a opinião da criança pode ser levada em consideração, especialmente se ela for suficientemente madura para expressar seus desejos. Essa consideração geralmente aumenta com a idade da criança, levando em conta sua capacidade de compreensão e participação nas decisões relacionadas à guarda. Estabilidade e continuidade: Os tribunais tendem a favorecer a manutenção da estabilidade e continuidade na vida da pessoa menor. Isso pode incluir a consideração do ambiente escolar, a proximidade com amigos e familiares e a continuação de rotinas consistentes, a menos que haja razões válidas para uma mudança significativa. É importante ressaltar que esses são apenas exemplos gerais de fundamentos legais relacionados à guarda da pessoa menor. A legislação e as práticas específicas podem variar em diferentes sistemas jurídicos. É essencial consultar a legislação aplicável no país específico e obter orientação jurídica adequada para compreender plenamente os fundamentos legais da guarda de menores em um determinado contexto.
1.4 Legislação nacional sobre a guarda da criança e adolescente.
No contexto do direito das famílias, a guarda da criança e adolescente refere- se à atribuição de responsabilidade e cuidado a um ou ambos os genitores, ou a um terceiro designado pelo tribunal, quando há a dissolução de um casamento, separação legal ou outros casos em que a guarda da criança deve ser determinada. No Brasil, a legislação que trata da guarda de pessoa menor está estabelecida no Código Civil, na Constituição Federal e na Lei nº 13.058/2014. A guarda compartilhada é considerada a forma prioritária de guarda, de acordo com o artigo 1.584 do Código Civil, salvo nos casos em que haja a comprovação de algum fator que justifique a guarda unilateral, como situações de violência doméstica ou negligência, por exemplo. A guarda compartilhada visa garantir a participação igualitária dos pais na vida do filho, proporcionando o convívio cotidiano e a participação conjunta nas decisões importantes relacionadas à criação e educação da criança. A Lei nº 13.058/2014 trouxe algumas modificações importantes em relação à guarda compartilhada. Ela estabelece que a guarda compartilhada deve ser a regra, salvo nos casos em que um dos pais demonstre incapacidade ou falta de interesse para exercer a guarda conjunta. Além disso, a lei prevê que a residência fixa da criança pode ser estabelecida em apenas um dos lares, desde que isso seja mais benéfico para o bem-estar do menor. No que no que se refere à guarda de pessoa menor, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também é uma legislação importante no Brasil. O ECA estabelece que a guarda deve ser concedida levando-se em consideração o superior interesse da criança, garantindo seu desenvolvimento físico, emocional e social. O ECA também prevê o direito da criança de ter vivência familiar e comunitária saudável, bem como o direito à participação em decisões que afetem sua vida.
1.5 Convenções e tratados internacionais relacionados à guarda.
No contexto do direito das famílias, existem várias convenções e tratados internacionais que abordam a questão da guarda de crianças. Esses acordos visam estabelecer padrões e princípios para a proteção dos direitos e interesses das crianças em situações de separação ou divórcio dos pais. Alguns dos principais tratados e convenções internacionais relevantes para a guarda de menores são os seguintes: Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (CDC): Adotada em 1989, é o tratado mais abrangente sobre os direitos das crianças. Embora a CDC não trate especificamente da questão da guarda, ela estabelece princípios fundamentais relacionados ao bem-estar da criança, incluindo o direito à proteção e ao cuidado adequados. Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças: Esta convenção, adotada em 1980, visa proteger as crianças contra os efeitos prejudiciais do sequestro parental internacional. Ela estabelece procedimentos para a rápida devolução de crianças que foram ilicitamente transferidas ou retidas em um país estrangeiro, a fim de preservar o status quo e evitar disputas prolongadas sobre a guarda. Convenção de Haia sobre a Proteção das Crianças e a Cooperação em Matéria de Adoção Internacional: Essa convenção, adotada em 1993, visa proteger os interesses e o bem-estar das crianças envolvidas em adoção internacional. Ela estabelece padrões para garantir que as adoções sejam realizadas de maneira ética, legal e transparente, levando em consideração o melhor interesse da criança. Convenção de Haia sobre os Direitos do Menor: Esta convenção, adotada em 1996, tem como objetivo promover a proteção dos direitos fundamentais das crianças em várias áreas, incluindo a guarda e a proteção contra a exploração e o abuso. Ela enfatiza a importância do interesse superior da criança em relações as tomadas de decisões relacionadas a ela. Convenção Interamericana sobre o Tráfico Internacional de Menores: Esta convenção, adotada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1994, busca prevenir e combater o tráfico internacional de crianças, bem como proteger os direitos das vítimas desse crime. Ela estabelece medidas de cooperação entre os Estados para prevenir o sequestro, o tráfico e a venda de crianças. Esses são apenas alguns exemplos de tratados e convenções internacionais relacionados à guarda de menores. Cada país pode ter suas próprias leis e regulamentos que se alinham a esses acordos internacionais para garantir a proteção adequada das crianças no contexto do direito das famílias.
1.6 Evolução histórica da legislação e conceitos de guarda de pessoa
menor.
A evolução histórica da legislação e dos conceitos de guarda de pessoa menor
no contexto do direito das famílias é um tema complexo e variado, que tem sido moldado ao passar do tempo pelo desenvolvimento da sociedade e das visões sobre o papel dos pais e das famílias na criação e proteção dos filhos. Antes de abordar a evolução histórica, é importante ressaltar que a guarda de pessoa menor refere-se à responsabilidade de cuidar, educar e proteger um filho menor de idade. Ela pode ser concedida a um dos pais ou a ambos, dependendo das circunstâncias específicas de cada caso. No passado, em muitas sociedades, incluindo a maioria dos sistemas legais ocidentais, a guarda dos filhos era automaticamente concedida ao pai, principalmente devido a concepções patriarcais que consideravam o papel do pai como o provedor financeiro e o líder da família. A mãe, por sua vez, era frequentemente considerada como a responsável pelo cuidado doméstico e pela educação moral e religiosa das crianças. Período Antigo: Nas sociedades antigas, como a Roma Antiga, a guarda dos filhos era baseada em uma visão patriarcal, em que o pai tinha total autoridade e poder sobre os filhos. A mãe tinha um papel secundário na criação e educação das crianças. Idade Média: Durante a Idade Média, a Igreja Católica exerceu uma forte influência sobre a legislação e a organização familiar. A guarda dos filhos era geralmente atribuída ao pai, como chefe da família. As mulheres tinham um papel limitado na tomada de decisões em relação aos filhos. Era Moderna: Com o surgimento do movimento iluminista e a valorização dos direitos individuais, houve uma mudança gradual nas concepções sobre a guarda dos filhos. No século XVIII, o conceito de "melhor interesse da criança" começou a ser discutido, reconhecendo que as necessidades e os interesses das crianças deveriam ser considerados nas decisões sobre a guarda. Século XIX: O século XIX trouxe importantes avanços em relação à guarda da pessoa menor. O movimento feminista e as lutas pela igualdade de gênero contribuíram para a valorização do papel das mães na criação dos filhos. As legislações começaram a reconhecer o direito das mães à guarda dos filhos em casos de divórcio ou separação. Século XX: No século XX, as mudanças sociais, como o aumento do divórcio e da coabitação não matrimonial, levaram a transformações significativas na legislação sobre a guarda da pessoa menor. Muitos países adotaram legislações que buscavam promover a igualdade parental e considerar o melhor interesse da criança, buscando soluções de guarda compartilhada ou guarda conjunta. Atualidade: Nas últimas décadas, tem havido um maior reconhecimento da importância de considerar as necessidades e os desejos das crianças nas decisões sobre a guarda. O foco está no desenvolvimento saudável da criança, garantindo que ela tenha uma relação significativa com ambos os pais, desde que isso seja do seu melhor interesse. Além disso, as legislações estão progressivamente mais abertas a arranjos de guarda não tradicionais, levando em consideração a diversidade de estruturas familiares. Outro marco importante na evolução da legislação e dos conceitos de guarda de pessoa menor foi a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, adotada em 1989. Essa convenção estabelece os direitos fundamentais de todas as crianças e tem sido ratificada por quase todos os países do mundo. Um dos princípios fundamentais da convenção é o de que os interesses da criança devem ser uma consideração primordial as decisões relacionadas a ela, incluindo a guarda. Hoje em dia, muitos sistemas legais adotam a abordagem do "melhor interesse da criança" ao determinar sobre a guarda. Isso significa que o juiz considera uma série de fatores, como a capacidade dos pais de cuidar da criança, o relacionamento da criança com cada um dos genitores, a estabilidade e continuidade do ambiente em que a criança está inserida, entre outros, para determinar qual arranjo de guarda seria mais benéfico para a criança. Além disso, a legislação e as práticas relacionadas à guarda de criança e adolescente têm evoluído para reconhecer e proteger os direitos e as responsabilidades dos pais não biológicos, como padrastos, madrastas ou pais adotivos, que também podem obter a guarda legal da pessoa menor, desde que seja considerado no melhor interesse dela.
1.7 Critérios para definição da guarda de pessoa menor.
A guarda de uma pessoa menor no contexto do direito das famílias é
uma questão complexa que envolve diversos critérios e considerações. Embora os critérios possam variar de acordo com a jurisdição e a legislação local, existem alguns princípios gerais que são comumente considerados na definição da guarda de um menor. Aqui estão alguns critérios importantes: Melhor interesse da criança: O critério mais fundamental na determinação da guarda é o melhor interesse da criança. Esse critério considera o bem-estar físico, emocional e psicológico da criança como prioridade máxima. Os tribunais analisam vários fatores para determinar qual arranjo de guarda atenderá melhor aos interesses da criança. Capacidade dos pais: Os tribunais analisam a capacidade dos pais de cuidar da criança. Eles avaliam fatores como a estabilidade emocional e financeira dos pais, a disponibilidade de tempo para cuidar da criança, a capacidade de fornecer um ambiente seguro e saudável, e a disposição de incentivar um relacionamento saudável entre a criança e o outro genitor. Relação com os pais: A natureza e a qualidade da relação da criança com cada um dos genitores são consideradas. Os tribunais procuram determinar a extensão em que cada genitor desempenha um papel ativo na vida da criança, incentiva um relacionamento positivo com o outro genitor e demonstra a capacidade de atender às necessidades emocionais e afetivas da criança. Preferência da criança: Dependendo da idade e maturidade da criança, a opinião e a preferência da própria criança podem ser levadas em consideração. Os tribunais podem dar mais peso à opinião de crianças mais velhas e maduras, mas sempre em conjunto com outros fatores e considerando o melhor interesse da criança. Adaptação da criança: Os tribunais também levam em conta a estabilidade e a continuidade na vida da criança. Eles consideram fatores como a proximidade com a escola, vizinhança, amigos e membros da família estendida. A intenção é minimizar a interrupção e o impacto negativo na vida da criança. Histórico de abuso ou negligência: Se houver evidências de abuso ou negligência por parte de um dos pais, os tribunais levarão isso em consideração ao determinar a guarda. A segurança e o bem-estar da criança são prioritários, e um histórico de comportamento abusivo ou negligente pode influenciar significativamente a decisão do tribunal. É importante ressaltar que esses critérios são apenas uma orientação geral e a aplicação deles pode variar dependendo do contexto legal específico de cada jurisdição. Os tribunais sempre procuram tomar decisões que promovam o melhor interesse da criança e que sejam adaptadas às circunstâncias individuais de cada caso.