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Atualização de artigo anteriormente apresentado no congresso II SINDA – SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE DERECHO ACTUAL - SANTIAGO DE COMPOSTELA e
publicado na Revista O DIREITO ACTUAL E AS NOVAS FRONTEIRAS JURÍDICAS NO
LIMIAR DE UMA NOVA ERA (págs. 401 a 420), ISBN · 978-989-8835-33-8, Disponível em:
https://docs.wixstatic.com/ugd/94c3a3_c4e1a5edfd6b4de2a1fcae5ddafff1fd.pdf
109
THE SOCIO-AFFECTIVE PATERNITY AS A FOUNDATION AND
GUARANTEE OF HUMAN AND FUNDAMENTAL RIGHTS FOR THE
DEBUROCRATIZATION OF NATIONAL ADOPTION
Abstract: This article aims to analyze the importance of socio-affective paternity and
the adoption system in Brazil. The presumption is the defen se of human and
fundamental rights, in the full guarantee of the constitutional right to the dignity of
the human person, the right to affection and love, promoting the integration of the
child or adolescent into the family of the adopter. The research is descriptive, with
sources in the legislation, doctrine and jurisprudence pertinent to the theme with
reflections on its central aspects and the analysis of the vectors to facilitate the
facilitation and bureaucratization of the process, through the affective bond.
INTRODUÇÃO
2
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em 27/04/2017.
3
A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança – Carta
Magna para as crianças de todo o mundo – em 20 de novembro de 1989, e, no ano seguinte, o documento
foi oficializado como lei internacional. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm. Acesso em 11/5/2017.
111
A criança é produto do meio em que vive e toda criança dever ter um lar
estruturado. A família é a principal célula da sociedade e conforme prevê o art. 226
da CF: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
Como nos ensina Cleyson de Moraes Mello4, o amor é a fonte e o sentido das
relações familiares inseridas na pós-modernidade. Ainda que não tipificados na
Constituição Federal e no Código Civil, necessário reconhecer o princípio do afeto e
do amor como elementos constituidores dos modelos familiares.
Considera-se criança a pessoa de até doze anos incompletos e adolescente a
pessoa entre 12 e dezoito anos de idade, consoante o art. 2º do ECA.
Nos termos do artigo 6º do ECA, a interpretação da lei deve ser feita de acordo
com os fins sociais aos quais a lei se destina, as exigências do bem comum, aos
direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
É dever do Estado promover, com absoluta prioridade a proteção das crianças
e adolescentes. Fundamentada na Dignidade da Pessoa, a Constituição Federal de
1988 reconheceu a criança e o adolescente como sujeitos de direito, assim também
reconhecidos pelo art. 1º do ECA, garantindo a prioridade no atendimento de seus
direitos, por se tratarem de pessoas em desenvolvimento, assim estabelecendo a
Doutrina da Proteção Integral e o princípio do melhor interesse da criança, conduzindo
sua interpretação ao que mais atende o bem -estar da criança ou adolescente.
Acompanhando esta evolução, o instituto da adoção também foi completamente
reformulado no Brasil.
O princípio da paternidade responsável (art. 226, §7º da CF) e do Livre
Planejamento Familiar (art. 227, §§ 3º, 4º, 6º, CF) – conferem responsabilidade aos
genitores na condução do desenvolvimento de seus filhos, não podendo sofrer
intervenção direta do Estado, apenas para garantir e efetivar os direitos assegurados e
protegidos por lei.
O §6º do art. 227 da CF, assim como o art. 1596 do Código Civil proíbem
qualquer forma de discriminação ou tratamento diferenciado entre os filhos, sejam
eles decorrentes do casamento, de relações extramatrimoniais ou adoção. Pode-se, a
partir de então, afirmar que a filiação é jurídica, possuindo como espécies: a filiação
biológica, a filiação civil e a filiação socioafetiva.
4
MELLO, Cleyson de Moraes. Direito Civil: famílias. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, pp. 2 e 94.
112
2. ANÁLISE DOS ASPECTOS GERAIS DA ADOÇÃO
5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 10ª edição. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013, p. 476.
6
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Pai por que me abandonaste? In: PEREIRA, Tânia da Silva. (Coord.).
O melhor interesse da criança: um debate interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p.580.
7
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 280.
8
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Direito de Família atual. Por Tânia da
Silva Pereira. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v. V, p.447.
9
DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 483.
113
Para Pablo Stolze e Rodol fo Pamplona Filho o referido instituto é um “ato
jurídico em sentido estrito, de natureza complex a, excepcional, irrevogável e
personalíssimo, que firma a relação paterno ou materno-filial com o adotando, em
perspectiva constitucional isonômica em face da filiação biológica”.10
A lei 12010/09 fez várias alterações no ECA no que tange à adoção. Entre
estas alterações, podemos identificar os requ isitos para a adoção, que de acord o com
Carlos Roberto Gonçalves11, são:
Qualquer pessoa, desde que maior de dezoito anos, no pleno exercício de sua
capacidade física e mental, poderá adotar. Quanto ao estado civil, podem adotar as
pessoas solteiras sozinhas, ou conjuntamente se viverem em união estável,
comprovada a estabilidade familiar. Podem adotar as pessoas casadas conjuntamente.
Podem ainda adotar as pessoas divorciadas e judicialmente separadas, desde que já
iniciada à convivência com o adotando e que acordem sobre a guarda e o regime de
visitação.
Importante verificar a existência do motivo legítimo para a adoção,
principalmente, o “desejo de filiação, ou seja, a vontade de ter a pessoa em
desenvolvimento como filha”.12
Cabe também verificar reais vantagens para a pessoa que se quer ado tar,
requisito este que “traduz-se na possibilidade efetiva de convivência familiar e
10
GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILH O, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil. Direito de
Família – As famílias em perspectiva constitucional. 2. edição. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 6, p. 666-
667.
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p.95.
12
ROSSATO. Luciano Alves. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 56.
114
estabelecimento de vínculo adequado à formação e ao desenvolvimento da
personalidade do adotando”13
A tutela pre tendida deve ter o esco po de regula rizar a situ ação fática da
criança no caso d e já se encontrar sob a gu arda de fato dos adotantes há um tempo
considerável, de acordo com documentos comprobat órios pertinente ao alegado
13
Idem. Ibidem. p. 57.
115
como foto grafias, comprovantes de vacinação, documen tação de escolaridade,
atestados méd icos, entre o utros.
Ademais, a falta do reconhec imento jurídico à realidade f ática da
criança/adol escente pode cau sar sérios emb araços no coti diano da crianç a, uma vez
que, ausente o poder familiar ou mesmo a responsa bilidade pela sua gu arda, os
adotantes pode m encontrar algu ns entraves rel ativos às suas ativ idades acadêm icas,
contratação de plano médi co, obtenção de documento s, viagens, en tre outros.
Cumpre menciona r que o deferimento da con cessão da guarda prov isória na
Ação de Ad oção acarret a a expedi ção de Ter mo de Resp onsabilidade em favor dos
Requerentes, de acordo com o parágrafo único do art. 156 do ECA .
5. MODALIDADES DE ADOÇÃO
14
CARVALHO, Dimas Messias. ADOÇÃO E GUARDA. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 145.
116
Sobre o assunto, Ribeiro15 aduz que: “O devido processo legal será
exaustivamente fiscalizado nos processos de adoção, cabendo ao representante do
Ministério Público acompanhar toda a tramitação judicial, opinando e assegurando a
liberdade de manifestação do titu lar do poder familiar. Somente após o
convencimento da impossibilidade de a criança permanecer nessa família original,
seja natural ou extensa, é que prosseguirá o feito”.
O titular do poder fami liar pode e ntregar o fi lho em adoç ão para
determinada pessoa ou consentir n a adoçã o em casos em que a criança/ad olescente
já esteja sob a guard a fática dos adotant es manifestand o expressamente sua vontade
perante autor idade judiciá ria.
Neste caso , quando há concord ância dos pais bio lógicos no
encaminhament o do filho aos pais adotivo s, em família substituta, não há destituição
do poder famil iar (que config ura uma sanção ), mas a simples extinção do poder
familiar.
Importante que as pes soas tenham ciência d esta possibilidade de adoção
para qu e entr eguem e comp areçam à Vara da Infância e da Juventude competente
para r egularizar a situação da cri ança, e vitando irregularid ades ta nto em relação à
guarda de fat o, como també m em relação à denominad a adoção “à br asileira” 16.
A propósito, adoção “à brasileira” não d eve ser confundida com adoção
consentida. Nesta, há a entrega do filho pela mãe biológica à pessoa de sua confiança
e o consentimento na adoção, sendo dispensado, neste cas o, a inscrição d os
adotantes no cadastro nac ional de adoçã o.
De acordo com a jurisprudência do STJ, é desnecessária a prévia ação para
destituição do poder paterno.
“A criança é o objeto de proteção legal primário em processo de adoção,
sendo necessária a manutenção do núcleo familiar em que se encontra inserido o
menor, também detentor de direitos, haja vista a convivência por período
significativo”, afirmou Salomão, citando precedentes do STJ17. Para ele, a adoção do
15
RIBEIRO. Paulo Hermano Soares. NOVA LEI DA ADOÇÃO COMENTADA. Leme: Mizuno, 2009,
p. 86.
16
Adoção à brasileira ocorre quando uma pessoa registra como seu, filho de outrem, com declarações
falsas de ter gerado a criança e pelo simples comparecimento em cartório com duas testemunhas
afirmando que a criança nasceu em casa.
17
Informativo de Jurisprudência 508 do STJ. DIREITO CIVIL. ADOÇÃO. CADASTRO DE
ADOTANTES. ORDEM DE PREFERÊNCIA. OBSERVÂNCIA. EXCEÇÃO. MELHOR INTERESSE
DO MENOR. A observância, em processo de adoção, da ordem de preferência do cadastro de adotantes
deverá ser excepcionada em prol do casal que, embora habilitado em data posterior à de outros adotantes,
tenha exercido a guarda da criança pela maior parte da sua existência, ainda que a referida guarda tenha
sido interrompida e posteriormente retomada pelo mesmo casal. O cadastro de adotantes preconizado
pelo ECA visa à observância do interesse do menor, concedendo vantagens ao procedimento legal da
117
menor, que desde tenra idade tem salutar relação de afeto com o adotante, privilegia
o seu interesse.
Ressalte-se que al ém do consentimento do s pais ou representant es legais,
nos casos em que o menor adotando cont ar com 12 (d oze) anos de idade comple tos
deve expressa r seu livre c onsentimento com a pretens ão requerida.
adoção, uma comissão técnica multidisciplinar avalia previamente os pretensos adotantes, o que
minimiza consideravelmente a possibilidade de eventual tráfico de crianças ou mesmo a adoção por
intermédio de influências escusas, bem como propicia a igualdade de condições àqueles que pretendem
adotar. Entretanto, sabe-se que não é absoluta a observância da ordem de preferência das pessoas
cronologicamente cadastradas para adotar determinada criança. A regra legal deve ser excepcionada em
prol do princípio do melhor interesse da criança, base de todo o sistema de proteção ao menor, evidente,
por exemplo, diante da existência de vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção. Além disso,
recorde-se que o art. 197-E, § 1º, do ECA afirma expressamente que a ordem cronológica das habilitações
somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art.
50 daquela lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. Precedentes
citados: REsp 1.172.067-MG, DJe 14/4/2010, e REsp 837.324-RS, DJ 31/10/2007. REsp 1.347.228-SC,
Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/11/2012. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=INFJ&tipo=informativo&livre=@COD=%270508%27, p.
20. Acesso em 14/03/2017.
18
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 641.
118
5.3 Adoção unilateral – Vínculo de Socioafetividade com Padrasto ou
Madrasta
19
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Op. cit., p. 288.
119
apresentando-se em todos os momentos, inclusive naqueles em que se toma a lição de
casa e/ou verifica o boletim escolar. Enfim, é o pai das emoções, dos sentimentos...”20
Ressalte que, a despeito da ado ção unilateral, o art. 57, § 8º da Lei de
Registros Públicos (Lei 6015/73) autoriza a inclusão de nome de padrasto ou madrasta
por enteado na certidão de nascimento.
20
DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 405/406.
21
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/cadastro-nacional-de-adocao-cna. Acesso
em 22/04/2017.
22
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf. Acesso em 22/04/2017.
23
Durante a abertura do Fórum Nacional da Infância e Juventude (FONINJ), realizado por iniciativa da
presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Carmen Lúcia, no dia 06/04/2017 em
Brasília , o corregedor nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, afirmou que “O papel do
Cadastro Nacional de Adoção não é apenas estatístico, mas é um instrumento de gestão para que aquele
adolescente que não está encontrando uma família que possa ampará-lo em sua cidade possa encontrá-la
120
Para que haja o deferimento da inclusão no Cadastro Nacional de Adotantes,
deve haver o prévio deferimento da habilitação para adoção em que irá ser verificada
e atestada a idoneidade dos requerentes, circunstância obrigatória na ação de
habilitação.
Entretanto, caso o(s) requerente(s) não sejam cadastrados, ou não tenham
ajuizado a ação de hab ilitação à adoção, necessária a juntada de certidões relativas a
inexistência de condenações criminais ou civis da parte requerente.
De acordo com entendimento da 3ª Turma do STJ, sob a relatoria do Ministro
Sidnei Beneti, “A observância do cadastro de adotantes, não é absoluta. A regra legal
deve ser excepcionad a em prol do princípio do melhor interesse da criança, base de
todo o sistema de proteção ao menor. Tal hipótese configura-se, por exemplo, quando
existir vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção, ainda que este não se
encontre sequer cadastrado no referido registro”24
Ademais, a adoção é um instituto jurídico humanitário, destinado ao melhor
interesse da c riança, cuide-se entender por definitivo que, em razão de sua natureza
jurídica, não deve ser ela pautada em modelos fechados.
O Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) tem contribuído
consideravelmente para o aperfeiçoamento do Anteprojeto da Reforma da Adoção25,
sugerindo ajustes necessários, tais como simplificação e redução dos prazos
processuais e a suspensão do poder familiar, que deve ser feita tão logo constatada a
impossibilidade de permanência no núcleo familiar originário.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald afirmam que “a referida
norma pode ser afastada, por decisão judicial, casuisticamente, na defesa do m elhor
interesse da criança e do adolescente e de sua proteção integral, em especial quando
o pedido de adoção é antecedido de período razoável de convivência afetiva”.26
O melhor interesse da criança ou adolescente deve ser sopesado pelo juiz,
como intérprete da lei, com a decisão mais justa de acordo com cada caso concreto
que for levado à sua apreciação, mitigando o aspecto formal em prevalência do
aspecto material.
em outra”, considerando que a situação do menor no país está se agravando e os planos de ação devem
ser urgentes para minorar o sofrimento de tantas crianças e adolescentes do país. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84603. Acesso em 22/04/2017.
24
STJ - 3ª Turma, HC 294729, SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 07.08.2014.
25
Minuta do Anteprojeto de Lei. Disponível em http://pensando.mj.gov.br/adocao/texto-em-
debate/minuta-do-anteprojeto-de-lei/ (acesso em 22/04/2017).
26
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. cit., p. 1064.
121
7. ASPECTOS PROCESSUAIS DA ADOÇÃO
122
b) a manifestação do represen tante do Minis tério Público como fiscal d a
ordem jurídica, conforme art. 129, IX da Constituição Federal, art. 201, III do
Estatuto da C riança e do A dolescente e a rt. 178, II do Código de P rocesso Civil ;
c) a realização de estudo social e psicológico da criança/adolescente po r
profissionais que compõem o Juízo da Vara da Infância e da Juventude;
d) a designação de Audiência de Conciliação, Mediação e Instrução e
Julgamento para o depoimento pessoal dos Requerentes, da genitora da crian ça, da
própria criança e, se necessário for, a oitiva das testemunhas arroladas pelos
requerentes;
e) a procedên cia da açã o, para conceder ao(s) Requerente(s) a ADOÇÃO da
criança/adolescente, com a consequente extinção (ou destituição) do poder familiar
de sua mãe biológica, de mo do a reg ularizar a guarda de fato através de sentença
declaratória constitutiv a de filiação ;
f) a exped ição de man dado judicia l com toda s as prerrog ativas lega is
previstas pela Lei 8.069/90, ao Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais do em
que a criança/adolescente foi registrada, para as averbações necessárias,
determinando o cancelamen to da inscri ção no regist ro civil.
g) a expedi ção de manda do judicial, ao Cartório do Registro Civil do
município de residência dos adotantes para que o novo registro seja lavrado constando
o nome e a filiação d os adotantes com os elementos acima citados, conforme os
ditames do Art . 47 da L ei nº 8 .069/90, mantido o prenome da criança/adolescente,
com alteração do sobrenome dos pais ado tivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
123
A interpretação da lei deve ser extensiva, em atendimento aos fins sociais, aos
anseios e particularidades do caso concreto, mormente em relação à adoção da criança
por parte daqueles que lhe dão afeto, carinho, amor e cuidado, em contraposição à
preferência da adoção pela família extensa (daqueles com quem possui vínculo
biológico), com o escopo de consagrar o princípio constitucional do melhor interesse
e garantir que a “prioridade absoluta” dos direitos da criança e do adolescente,
assegurada no artigo 227 da Constituição Federal, seja efetivada e se torne realidade.
Que prevaleça a paternidade socioafetiva, geradora da filiação de fato, que pretende
ser, igualmente, de direito.
Necessária uma visão periférica da questão, por todos os operadores do
Direito, sejam magistrados, membros do Ministério Público, advogados, relativizando
a aplicação literal da lei, socializando e humanizando o Direito, através da análise d a
situação fática do caso concreto para que a finalidade do Direito seja alcançada, qual
seja, a verdadeira Justiça. Justiça, esta, baseada na Manifestação livre e consciente da
Vontade, no Afeto, no Amor e na Verdade.
A motivação da Adoção é a afetividade, o Amor, a compatibilidade pelo
encontro de almas. O ser humano é animal, corp o, mas também, primordialmente,
alma, espírito e intelecto. Mais importante que o vínculo genético e biológico é o
“DNA da alma”.27
Nos dizeres de Rodrigo da Cunha Pereira28, somente os pais adotivos podem
repetir aos seus filhos o que Cristo disse aos seus apóstolos: “Não fostes vós que me
escolhestes, mas fui eu quem vos escolhi a vós”.
REFERÊNCIAS
27
BITTENCOURT. Sávio. MANUAL DO PAI ADOTIVO. Rio de Janeiro: 2008, p.25.
28
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Artigo publicado no site do IBDFAM intitulado: Sistema de adoção no
Brasil é cruel com as crianças e os adolescentes. Data de publicação: 19/12/2016. Disponível em:
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124
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Corregedor: Teremos um Cadastro Nacional de Adoção de que a Justiça
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Tribunais, 2013.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito de Família. São
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Famílias. 5.ed., v.6.Salvador: Jus Podivm, 2013.
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