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Artigo 51

A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA COMO FUNDAMENTO E


GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS
PARA A DESBUROCRATIZAÇÃO DA ADOÇÃO NACIONAL

Ana Cristina Augusto Pinheiro


Helena do Passo Neves

Sumário: Introdução. 1. O direito da criança e do adolescente como prioridade e


garantia fundamental. 2. Análise dos aspectos gerais da adoção 2.1. Requisitos para
a adoção. 3. Conceitos legais de família natural, extensa ou ampliada e substituta
conclusão. 4. A possibilidade do pedido de guarda provisória na ação de adoção. 5.
Modalidades de adoção. 5.1 Adoção consentida ou intuitu persona e. 5.2 Adoção
bilateral. 5.3 Adoção unilateral – Vínculo de Socioafetividade com Padrasto ou
Madrasta. 6. Do cadastro nacional de adoção. 7. Aspectos processuais da adoção.
Considerações finais.

Resumo: Este artigo tem o objetivo de analisar a importância da paternidade


socioafetiva e o sistema de adoção no Brasil. O pressuposto é a defesa dos direitos
humanos e fundamentais, na garantia plena do direito constitucional à dignidade da
pessoa humana, do direito ao afeto e ao amor, promovendo a integração da criança ou
do adolescente na família do adotante. A pesquisa é descritiva, com fontes na
legislação, doutrina e jurisprudência pertinentes ao tema com reflexões sobre seus
aspectos centrais e a análise dos vetores para propiciar a facilitação e
desburocratização do processo, através do vínculo afetivo.

Palavras-chave: Paternidade socioafetiva, adoção, dignidade, família.

1
Atualização de artigo anteriormente apresentado no congresso II SINDA – SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE DERECHO ACTUAL - SANTIAGO DE COMPOSTELA e
publicado na Revista O DIREITO ACTUAL E AS NOVAS FRONTEIRAS JURÍDICAS NO
LIMIAR DE UMA NOVA ERA (págs. 401 a 420), ISBN · 978-989-8835-33-8, Disponível em:
https://docs.wixstatic.com/ugd/94c3a3_c4e1a5edfd6b4de2a1fcae5ddafff1fd.pdf

109
THE SOCIO-AFFECTIVE PATERNITY AS A FOUNDATION AND
GUARANTEE OF HUMAN AND FUNDAMENTAL RIGHTS FOR THE
DEBUROCRATIZATION OF NATIONAL ADOPTION

Abstract: This article aims to analyze the importance of socio-affective paternity and
the adoption system in Brazil. The presumption is the defen se of human and
fundamental rights, in the full guarantee of the constitutional right to the dignity of
the human person, the right to affection and love, promoting the integration of the
child or adolescent into the family of the adopter. The research is descriptive, with
sources in the legislation, doctrine and jurisprudence pertinent to the theme with
reflections on its central aspects and the analysis of the vectors to facilitate the
facilitation and bureaucratization of the process, through the affective bond.

Keywords: Socio-affective paternity, adoption, dignity, family.

INTRODUÇÃO

A relação afetiva entre pais e filhos suplanta a questão biológica. O víncu lo


da parentalidade, quando permeado de amor, de afeto e de carinh o, deve ser
prestigiado em detrimento da consanguinidade, porque é esta relação que consolida a
estrutura emocional do ser humano para crescer e amadurecer em plenitude de vida.
Desta forma, o direito fundamental ao a feto, implícito no princípio da
dignidade da pessoa humana e na prioridade absoluta dos direitos da criança e do
adolescente, assegurado na Constituição da República Federativa do Brasil, deve
garantir a regulamentação da adoção desses indivíduos que estão em convivência
familiar socioafetiva.
A proposta é de desburocratização do processo de adoção e de análise da
possibilidade de facilitação no trâmite da ação para solidificar a família, já estruturada
pelo vínculo afetivo. O vínculo jurídico da adoção deve ser facilitado porque a forma
legal é a única que proporcionará a segurança para dar legitimidade para um ato tão
significativo que é a ado ção, através da interferência estatal, desde que respeitada as
normas, os requisitos e a autonomia privada de cada um dos envolvidos.
A análise metodológica da pesquisa legislativa doutrinária e jurisprudencial
remete à renovação e atualização do instituto da adoção e a celeridade na tramitação
da ação, com vistas a tornar possível a facilitação da conversão da relação afetiva
criada e formada entre os interessados na solidificação da família.
110
O artigo contempla ainda a abordagem do direito da criança e do adolescente
como prioridade e garantia fundamental, com análise dos princípios constitucionais,
dos aspectos gerais, do conceito, dos requisitos, das modalidades, dos entendimentos
jurídicos e jurisprudenciais e do aspecto processual inerentes ao instituto.
O Estado, a sociedade civil e as autoridades competentes estão se
empenhando na busca de ampliar as alternativas que permitam soluções práticas,
cabíveis no sentido de dar uma resposta célere às famílias com vínculo socioafetivo,
no sentido de desburocratizar e tornar mais efetiva a prestação jurisdi cional que
satisfaça aos interessados uma forma de serem amparadas.
Na presente pesquisa, busca-se enfrentar o problema, tomando como alicerce
os princípios constitucionais que dão suporte à efetivação do direito fundamental ao
afeto. O que se deseja é propiciar subsídios que garantam às crianças e adolescentes
em situação de paternidade de fato, que se torne de direito e de justiça.
Cumpre ao Estado agilizar essas demandas tendo o afeto como fundamento,
considerando, também a defesa dos direitos humanos e fundamentais como pontos
basilares para garantir a democracia e a cidadania através da atualização e expansão
desses direitos na sociedade.

1. O DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COMO


PRIORIDADE E GARANTIA FUNDAMENTAL

O art. 227 da atual Constituição Federal Brasileira configura uma cláusula


geral de proteção da criança e do adolescente e o prevê como prioridade, bem como
os art. 1º e seguintes do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90)2.
A contextualização do ECA com a CF prevê várias diretrizes adotadas pel a
Convenção Internacional dos Direitos da Criança3, ratificada pelo Brasil através do
Decreto n. 99.710/90, dentre elas a doutrina do Melhor Interesse da Criança e da
Proteção integral, previstas nos artigos 226 e 227 da Lei Maior, garantindo o pleno
desenvolvimento físico e psíquico e a tendendo às suas necessidades básicas e
primordiais.

2
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em 27/04/2017.
3
A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança – Carta
Magna para as crianças de todo o mundo – em 20 de novembro de 1989, e, no ano seguinte, o documento
foi oficializado como lei internacional. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm. Acesso em 11/5/2017.

111
A criança é produto do meio em que vive e toda criança dever ter um lar
estruturado. A família é a principal célula da sociedade e conforme prevê o art. 226
da CF: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
Como nos ensina Cleyson de Moraes Mello4, o amor é a fonte e o sentido das
relações familiares inseridas na pós-modernidade. Ainda que não tipificados na
Constituição Federal e no Código Civil, necessário reconhecer o princípio do afeto e
do amor como elementos constituidores dos modelos familiares.
Considera-se criança a pessoa de até doze anos incompletos e adolescente a
pessoa entre 12 e dezoito anos de idade, consoante o art. 2º do ECA.
Nos termos do artigo 6º do ECA, a interpretação da lei deve ser feita de acordo
com os fins sociais aos quais a lei se destina, as exigências do bem comum, aos
direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
É dever do Estado promover, com absoluta prioridade a proteção das crianças
e adolescentes. Fundamentada na Dignidade da Pessoa, a Constituição Federal de
1988 reconheceu a criança e o adolescente como sujeitos de direito, assim também
reconhecidos pelo art. 1º do ECA, garantindo a prioridade no atendimento de seus
direitos, por se tratarem de pessoas em desenvolvimento, assim estabelecendo a
Doutrina da Proteção Integral e o princípio do melhor interesse da criança, conduzindo
sua interpretação ao que mais atende o bem -estar da criança ou adolescente.
Acompanhando esta evolução, o instituto da adoção também foi completamente
reformulado no Brasil.
O princípio da paternidade responsável (art. 226, §7º da CF) e do Livre
Planejamento Familiar (art. 227, §§ 3º, 4º, 6º, CF) – conferem responsabilidade aos
genitores na condução do desenvolvimento de seus filhos, não podendo sofrer
intervenção direta do Estado, apenas para garantir e efetivar os direitos assegurados e
protegidos por lei.
O §6º do art. 227 da CF, assim como o art. 1596 do Código Civil proíbem
qualquer forma de discriminação ou tratamento diferenciado entre os filhos, sejam
eles decorrentes do casamento, de relações extramatrimoniais ou adoção. Pode-se, a
partir de então, afirmar que a filiação é jurídica, possuindo como espécies: a filiação
biológica, a filiação civil e a filiação socioafetiva.

4
MELLO, Cleyson de Moraes. Direito Civil: famílias. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, pp. 2 e 94.
112
2. ANÁLISE DOS ASPECTOS GERAIS DA ADOÇÃO

A vida é o direito fundamental por excelência e o direito à família deve ser


uma extensão a esse direito, porque é na famíli a que se constrói a base da vida, o
fundamento, os valores morais e éticos para moldar o caráter e a conduta de uma
pessoa na sociedade.
Maria Berenice Dias afirm a que: “depois do direito à vida, talvez nada seja
mais importante do que o direito à família, lugar idealizado onde é possível, a cada
um, integrar sentimentos, esperanças e valores para a realização do projeto pessoal de
felicidade”.5
A adoção é um ato de amor, de afeto, de acolhimento, de cuidado, de escolha,
de sentimento que surge inexplicavelmente entre crianças e adultos com uma
vinculação forte e estreita, independentemente de laços sanguíneos.
Triste e lamentável é ser órfão de pais vivos. Rodrigo da Cunha Pereira em
uma de suas brilhantes obras afirma que “um pai, mesmo biológico, se não adotar seu
filho, jamais será o pai. Por isso podemos dizer que a verdadeira paternidade é adotiva
e está ligada à função, escolha, enfim, ao desejo”.6
Na concepção de Lôbo7, “a filiação não é um dado da natureza, e sim uma
construção cultural, fortificada na convivência, no entrelaçamento dos afetos, pouco
importando sua origem. Nesse sentido, o filho biológico é também adotado pelos pais,
no cotidiano de suas vidas.”
A adoção é um ato jurídico voluntário (depende da capacidade volitiva,
consensual) formal (depende de forma prescrita em lei), solene (intervenção do Estado
através da prestação jurisdicional) e irrevogável, assim como o é o reconhecimento de
paternidade (art. 39, §1º da Lei 8069/90 e art. 1609 do Código Civil).
Caio Mário da Silva Pereira a conceitua como “um ato jurídico pelo qual uma
pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer
relação de parentesco consanguíneo ou afim”.8
Na concepção de Maria Berenice Dias, a “adoção decorre de um parentesco
eletivo, pois decorre exclusivamente de um ato de vontade”, de forma que a
“verdadeira paternidade funda-se no desejo de amar e ser amado”9

5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 10ª edição. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013, p. 476.
6
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Pai por que me abandonaste? In: PEREIRA, Tânia da Silva. (Coord.).
O melhor interesse da criança: um debate interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p.580.
7
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 280.
8
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Direito de Família atual. Por Tânia da
Silva Pereira. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v. V, p.447.
9
DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 483.
113
Para Pablo Stolze e Rodol fo Pamplona Filho o referido instituto é um “ato
jurídico em sentido estrito, de natureza complex a, excepcional, irrevogável e
personalíssimo, que firma a relação paterno ou materno-filial com o adotando, em
perspectiva constitucional isonômica em face da filiação biológica”.10

2.1 Requisitos para a Adoção

A lei 12010/09 fez várias alterações no ECA no que tange à adoção. Entre
estas alterações, podemos identificar os requ isitos para a adoção, que de acord o com
Carlos Roberto Gonçalves11, são:

“1- idade mínima de 18 anos do adotante (comentada no art.


42, caput);
2- diferença de idade de, no mínimo, dezesseis anos entre o
adotante e o adotado (também comentado no art. 42, §3º);
3- consentimento dos pais ou representantes legais de quem se
deseja adotar;
4- concordância do adotado quando tiver idade igual ou
superior a 12 anos, consoante preconiza o art. 28, §2º;
5- processo judicial (art. 47, caput); e efetivo benefício para o
adotando, fundado no Princípio do Superior ou Melhor
Interesse para a Criança ou Adolescente (art. 43).”

Qualquer pessoa, desde que maior de dezoito anos, no pleno exercício de sua
capacidade física e mental, poderá adotar. Quanto ao estado civil, podem adotar as
pessoas solteiras sozinhas, ou conjuntamente se viverem em união estável,
comprovada a estabilidade familiar. Podem adotar as pessoas casadas conjuntamente.
Podem ainda adotar as pessoas divorciadas e judicialmente separadas, desde que já
iniciada à convivência com o adotando e que acordem sobre a guarda e o regime de
visitação.
Importante verificar a existência do motivo legítimo para a adoção,
principalmente, o “desejo de filiação, ou seja, a vontade de ter a pessoa em
desenvolvimento como filha”.12
Cabe também verificar reais vantagens para a pessoa que se quer ado tar,
requisito este que “traduz-se na possibilidade efetiva de convivência familiar e

10
GAGLIANO, Pablo Stolze.; PAMPLONA FILH O, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil. Direito de
Família – As famílias em perspectiva constitucional. 2. edição. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 6, p. 666-
667.
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p.95.
12
ROSSATO. Luciano Alves. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 56.
114
estabelecimento de vínculo adequado à formação e ao desenvolvimento da
personalidade do adotando”13

3. CONCEITOS LEGAIS DE FAMÍLIA NATURAL, EXTENSA OU


AMPLIADA E SUBSTITUTA

A família é a base da sociedade e pode ser formada por algumas maneiras,


assim conceituadas e delimitadas pela Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), conforme a seguir:

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada


pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada
aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais
a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de
afinidade e afetividade.

4. A POSSIBILIDADE DO P EDIDO DE GUARDA PROVISÓRIA NA


AÇÃO DE ADOÇÃ O

Dispõe o E statuto da Criança e do Adolesc ente, n o § 1º d e seu Art. 33, que


a guarda destina- se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida lim inarmente
nos pedidos d e adoção:

“Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistênc ia material,


moral e educacional à criança ou adolescen te, conferindo a
seu detentor o direito de opor-se a terceiro s, inclusive aos
pais.
§ 1º A guarda desti na-se a regulari zar a posse de fato,
podendo se r deferid a, limi nar ou incidentalmente, nos
procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
estrangeiros.”

A tutela pre tendida deve ter o esco po de regula rizar a situ ação fática da
criança no caso d e já se encontrar sob a gu arda de fato dos adotantes há um tempo
considerável, de acordo com documentos comprobat órios pertinente ao alegado

13
Idem. Ibidem. p. 57.
115
como foto grafias, comprovantes de vacinação, documen tação de escolaridade,
atestados méd icos, entre o utros.
Ademais, a falta do reconhec imento jurídico à realidade f ática da
criança/adol escente pode cau sar sérios emb araços no coti diano da crianç a, uma vez
que, ausente o poder familiar ou mesmo a responsa bilidade pela sua gu arda, os
adotantes pode m encontrar algu ns entraves rel ativos às suas ativ idades acadêm icas,
contratação de plano médi co, obtenção de documento s, viagens, en tre outros.
Cumpre menciona r que o deferimento da con cessão da guarda prov isória na
Ação de Ad oção acarret a a expedi ção de Ter mo de Resp onsabilidade em favor dos
Requerentes, de acordo com o parágrafo único do art. 156 do ECA .

5. MODALIDADES DE ADOÇÃO

As modalidades de adoção são: a tradicional, a consentida ou intuitu persona e


(quando o adotando não passa pela fila de adoção, pois os pais biológicos indicam os
futuros pais adotivos), bilateral (efetivada pelo casal que possui vínculo de casamento
ou união estável), a unilateral (quan do o cônjuge ou companheiro adota o filho do
outro) e a póstuma (quando o adotante morre no curso do processo, já tendo iniciado a
convivência com o adotando e já tendo manifestado a inequívoca vontade de adotar.
Serão analisadas a adoção con sentida ou intuitu per sonae, a adoção bilateral
ou unilateral, considerando o objeto do artigo.

5.1 Adoção consentida ou intuitu personae

Para o defe rimento de pedido de adoçã o de menor cuja parentalid ade


biológica s eja conhecid a, a lei e xige o exp resso consen timento dest es, conforme se
depreende do Art. 45 do ECA:“Art. 45. A a doção d epende do consentimento dos
pais ou do rep resent ante le gal do adota ndo.”
Conforme afirma Carv alho, “O consentimento é requisito essencial, pois a
adoção importará extinção do vínculo biológico, devendo ser expressado de forma
inequívoca perante o juiz e somente será válido após o nascimento da criança (art.
166. §§ 4º e 6º, ECA), não podendo ser admitido presumidamente, como
equivocadamente defendem alguns, com mera citação dos pais biológicos. Não se
admite, da mesma forma, seja suprimido judicialmente. Dispensa-se o consentimento
dos pais apenas se foram desconhecidos ou destituídos do poder familiar.”14

14
CARVALHO, Dimas Messias. ADOÇÃO E GUARDA. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 145.
116
Sobre o assunto, Ribeiro15 aduz que: “O devido processo legal será
exaustivamente fiscalizado nos processos de adoção, cabendo ao representante do
Ministério Público acompanhar toda a tramitação judicial, opinando e assegurando a
liberdade de manifestação do titu lar do poder familiar. Somente após o
convencimento da impossibilidade de a criança permanecer nessa família original,
seja natural ou extensa, é que prosseguirá o feito”.
O titular do poder fami liar pode e ntregar o fi lho em adoç ão para
determinada pessoa ou consentir n a adoçã o em casos em que a criança/ad olescente
já esteja sob a guard a fática dos adotant es manifestand o expressamente sua vontade
perante autor idade judiciá ria.
Neste caso , quando há concord ância dos pais bio lógicos no
encaminhament o do filho aos pais adotivo s, em família substituta, não há destituição
do poder famil iar (que config ura uma sanção ), mas a simples extinção do poder
familiar.
Importante que as pes soas tenham ciência d esta possibilidade de adoção
para qu e entr eguem e comp areçam à Vara da Infância e da Juventude competente
para r egularizar a situação da cri ança, e vitando irregularid ades ta nto em relação à
guarda de fat o, como també m em relação à denominad a adoção “à br asileira” 16.
A propósito, adoção “à brasileira” não d eve ser confundida com adoção
consentida. Nesta, há a entrega do filho pela mãe biológica à pessoa de sua confiança
e o consentimento na adoção, sendo dispensado, neste cas o, a inscrição d os
adotantes no cadastro nac ional de adoçã o.
De acordo com a jurisprudência do STJ, é desnecessária a prévia ação para
destituição do poder paterno.
“A criança é o objeto de proteção legal primário em processo de adoção,
sendo necessária a manutenção do núcleo familiar em que se encontra inserido o
menor, também detentor de direitos, haja vista a convivência por período
significativo”, afirmou Salomão, citando precedentes do STJ17. Para ele, a adoção do

15
RIBEIRO. Paulo Hermano Soares. NOVA LEI DA ADOÇÃO COMENTADA. Leme: Mizuno, 2009,
p. 86.
16
Adoção à brasileira ocorre quando uma pessoa registra como seu, filho de outrem, com declarações
falsas de ter gerado a criança e pelo simples comparecimento em cartório com duas testemunhas
afirmando que a criança nasceu em casa.
17
Informativo de Jurisprudência 508 do STJ. DIREITO CIVIL. ADOÇÃO. CADASTRO DE
ADOTANTES. ORDEM DE PREFERÊNCIA. OBSERVÂNCIA. EXCEÇÃO. MELHOR INTERESSE
DO MENOR. A observância, em processo de adoção, da ordem de preferência do cadastro de adotantes
deverá ser excepcionada em prol do casal que, embora habilitado em data posterior à de outros adotantes,
tenha exercido a guarda da criança pela maior parte da sua existência, ainda que a referida guarda tenha
sido interrompida e posteriormente retomada pelo mesmo casal. O cadastro de adotantes preconizado
pelo ECA visa à observância do interesse do menor, concedendo vantagens ao procedimento legal da
117
menor, que desde tenra idade tem salutar relação de afeto com o adotante, privilegia
o seu interesse.
Ressalte-se que al ém do consentimento do s pais ou representant es legais,
nos casos em que o menor adotando cont ar com 12 (d oze) anos de idade comple tos
deve expressa r seu livre c onsentimento com a pretens ão requerida.

“Art. 45. § 2º. Em se tratando de adotando maior de doze


anos de idade, será também necessário o seu
consentimento.”

5.2 Adoção bilateral

O n úcleo familiar sólido do s a dotantes, decorrente d o enlace matrimonial


ou uni ão est ável q ue pe rdura p or alg uns an os, in clusive quando desta união tenha
resultado nascimento de filhos naturais de ambos fortifica o direito pretendido,
provando estrutur a familiar robusta e a saudável convivência familiar, é
indispensável à transmissão dos valores e princípios pela família.
Rolf Madaleno18 in strui que a estabilid ade da relação de conju galidade, seja
pelo casament o ou pela uni ão estável, s upera o aspec to tempo ral, devendo -se
analisar atr avés de est udo psicosso cial a est abilidade emo cional e o s motivos p elos
quais o casal adotante de seja o víncul o da adoção.
O mo tivo deve ser altruísta, por amor, por afeto a ser dedicado à criança,
jamais para super ar um trauma pe la perda de um filho ou pela infertilid ade genética
ou impossibil idade de ger ar filhos.

adoção, uma comissão técnica multidisciplinar avalia previamente os pretensos adotantes, o que
minimiza consideravelmente a possibilidade de eventual tráfico de crianças ou mesmo a adoção por
intermédio de influências escusas, bem como propicia a igualdade de condições àqueles que pretendem
adotar. Entretanto, sabe-se que não é absoluta a observância da ordem de preferência das pessoas
cronologicamente cadastradas para adotar determinada criança. A regra legal deve ser excepcionada em
prol do princípio do melhor interesse da criança, base de todo o sistema de proteção ao menor, evidente,
por exemplo, diante da existência de vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção. Além disso,
recorde-se que o art. 197-E, § 1º, do ECA afirma expressamente que a ordem cronológica das habilitações
somente poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art.
50 daquela lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. Precedentes
citados: REsp 1.172.067-MG, DJe 14/4/2010, e REsp 837.324-RS, DJ 31/10/2007. REsp 1.347.228-SC,
Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/11/2012. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/SearchBRS?b=INFJ&tipo=informativo&livre=@COD=%270508%27, p.
20. Acesso em 14/03/2017.
18
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 641.
118
5.3 Adoção unilateral – Vínculo de Socioafetividade com Padrasto ou
Madrasta

O núcleo familiar é muito importante para o desenvolvimento psíquico, físico


e moral de uma criança, tendo como base o amor, o afeto, o cuidado e a segurança
para se criar uma estrutura sólida para a vida em sociedade.
A Lei da Adoção apresenta a figura da família extensa ou ampliada, formada
por familiares ou outras pessoas importantes e imprescindíveis para a estruturação
psicológica e moral da criança, baseada na afinidade e na afetividade.
Na sociedade atual é muit o comum a formação de famílias recompostas,
decorrentes de dissolução do casamento ou união estável anterior. Assim, outros
vínculos vão se formando entre as pessoas que possuem filhos de outros
relacionamentos, constituindo relacionamentos de amizade, parceri a, carinho,
responsabilidade entre padrasto/madrasta e enteados, possibilitando, assim, a adoção
unilateral da criança ou adolescente, com ou sem a destitu ição do poder familiar do
pai/mãe biológico.
Nesta espécie de adoção o vínculo da filiação com um dos genitores é
mantido, surgindo o vínculo de parentesco civil pela socioafetividade com o(a)
companheiro(a) ou cônjuge deste genitor, que não perde o poder familiar, passando a
exercê-lo conjuntamente com seu par. Neste tipo de adoção não se exige prévio
cadastro de habilitação para adoção, considerando que já há uma convivência prévia
com a criança.
No art. 41, §1º, a lei abre exceção para a adoção unilateral, na hipótese de um
dos cônjuges ou companheiros adotar o filho do outro, “o filho permanece tal em
relação ao genitor biológico e aos respectivos parentes, combinando-se com o
parentesco que se estabelece com o cônjuge ou companheiro que o adotou e seus
respectivos parentes”19.
A respeito da socioafetividade, Maria Berenice Dias afirma que “A constância
social da relação entre pais e filhos caracteriza uma paternidade que existe não pelo
simples fato biológico ou por força de presunção legal, mas em decorrência de uma
convivência afetiva. Constituído o vínculo de parentalidade, mesmo quando desligado
da verdade biológica, prestigia-se a situação que preserva o elo da afetividade. Pai
afetivo é aquele que ocupa, na vida do filho, o lugar do pai (função). (...) É aquele que
ao dar abrigo, carinho, educação, amor... ao filho expõe o foro mínimo da filiação,

19
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Op. cit., p. 288.
119
apresentando-se em todos os momentos, inclusive naqueles em que se toma a lição de
casa e/ou verifica o boletim escolar. Enfim, é o pai das emoções, dos sentimentos...”20
Ressalte que, a despeito da ado ção unilateral, o art. 57, § 8º da Lei de
Registros Públicos (Lei 6015/73) autoriza a inclusão de nome de padrasto ou madrasta
por enteado na certidão de nascimento.

Art. 57. “A alteração posterior de nome, somente por exceção


e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será
permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro,
arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela
imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei”.
“§ 8o O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e
na forma dos §§ 2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz
competente que, no registro de nascimento, seja averbado o
nome de família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que
haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus
apelidos de família.”

6. DO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO

Criado em 29 de abril de 2008, o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) é uma


ferramenta digi tal que funciona junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para
auxiliar os juízes das Varas da Infância e da Juventude na condução e efetivação dos
procedimentos dos processos de adoção em todo o país 21.
De acordo com dados de 2017 publicados no site do CNJ22, o número total de
pretendentes cadastrados é de 39.376 (trinta e nove mil, trezentos e setenta e seis)
pessoas interessadas e habilitadas à adoção e o número total de crianças/adolescentes
cadastradas é de 7.434 (sete mil quatrocentos e trinta e quatro) cadastradas aguardando
a finalização do burocrático e moroso processo de adoção.
Esses dados sugerem indícios da não efetividade plena das medidas e
ferramentas, necessitando de reestrutura e reformulação do sistema para reduzir a
burocracia e a morosidade das ações de Adoção no Brasil.23

20
DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 405/406.
21
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/cadastro-nacional-de-adocao-cna. Acesso
em 22/04/2017.
22
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf. Acesso em 22/04/2017.
23
Durante a abertura do Fórum Nacional da Infância e Juventude (FONINJ), realizado por iniciativa da
presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Carmen Lúcia, no dia 06/04/2017 em
Brasília , o corregedor nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, afirmou que “O papel do
Cadastro Nacional de Adoção não é apenas estatístico, mas é um instrumento de gestão para que aquele
adolescente que não está encontrando uma família que possa ampará-lo em sua cidade possa encontrá-la
120
Para que haja o deferimento da inclusão no Cadastro Nacional de Adotantes,
deve haver o prévio deferimento da habilitação para adoção em que irá ser verificada
e atestada a idoneidade dos requerentes, circunstância obrigatória na ação de
habilitação.
Entretanto, caso o(s) requerente(s) não sejam cadastrados, ou não tenham
ajuizado a ação de hab ilitação à adoção, necessária a juntada de certidões relativas a
inexistência de condenações criminais ou civis da parte requerente.
De acordo com entendimento da 3ª Turma do STJ, sob a relatoria do Ministro
Sidnei Beneti, “A observância do cadastro de adotantes, não é absoluta. A regra legal
deve ser excepcionad a em prol do princípio do melhor interesse da criança, base de
todo o sistema de proteção ao menor. Tal hipótese configura-se, por exemplo, quando
existir vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção, ainda que este não se
encontre sequer cadastrado no referido registro”24
Ademais, a adoção é um instituto jurídico humanitário, destinado ao melhor
interesse da c riança, cuide-se entender por definitivo que, em razão de sua natureza
jurídica, não deve ser ela pautada em modelos fechados.
O Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) tem contribuído
consideravelmente para o aperfeiçoamento do Anteprojeto da Reforma da Adoção25,
sugerindo ajustes necessários, tais como simplificação e redução dos prazos
processuais e a suspensão do poder familiar, que deve ser feita tão logo constatada a
impossibilidade de permanência no núcleo familiar originário.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald afirmam que “a referida
norma pode ser afastada, por decisão judicial, casuisticamente, na defesa do m elhor
interesse da criança e do adolescente e de sua proteção integral, em especial quando
o pedido de adoção é antecedido de período razoável de convivência afetiva”.26
O melhor interesse da criança ou adolescente deve ser sopesado pelo juiz,
como intérprete da lei, com a decisão mais justa de acordo com cada caso concreto
que for levado à sua apreciação, mitigando o aspecto formal em prevalência do
aspecto material.

em outra”, considerando que a situação do menor no país está se agravando e os planos de ação devem
ser urgentes para minorar o sofrimento de tantas crianças e adolescentes do país. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84603. Acesso em 22/04/2017.
24
STJ - 3ª Turma, HC 294729, SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 07.08.2014.
25
Minuta do Anteprojeto de Lei. Disponível em http://pensando.mj.gov.br/adocao/texto-em-
debate/minuta-do-anteprojeto-de-lei/ (acesso em 22/04/2017).
26
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. cit., p. 1064.
121
7. ASPECTOS PROCESSUAIS DA ADOÇÃO

As normas procedimentais para a concretização jurídica da adoção, desde a


prolação da sentença até a sua inscrição no registro civil mediante mandato judicial,
está prevista no Art. 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente que prevê que: “O
vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil
mediante mandado do qual não se fornecerá certidão”.
Desta forma, os dados para o novo assento de nascimento a ser lavrado no
Cartório de Registro Civil do Município de sua residência devem ser informados na
ação como: Nome, Data de Nascimento, Local, Filiação, Avós Paternos e Avós
Maternos.
Na Ação de Adoção é necessário um procedimento judicial próprio para que
haja a consolidação do ato, sendo possível e viável a cumulação dos pedidos,
considerando que a adoção dev e ser precedida de destituição ou extinção do poder
familiar, assim nomeada: AÇÃO DE DESTITUIÇÃO (ou EXTINÇÃO) DE PODER
FAMILIAR E ADOÇÃO.
Os pais biológicos devem ser citados para contestação facultativa do pedido,
serem ouvidos para oportunizar a resolução da questão de forma sumária, através de
uma possível renúncia ao poder familiar, evitando a litig ância com produção de
provas, evitando, assim o julgamento do pedido, mas tão somente a sua homologação.
A competência da Ação é da Vara da Infância e Juventude. A autuação é no
próprio Cartório, não havendo protocolo na Distribuição. Há isenção do pagamento
de custas e emolumentos, nos termos do artigo 141, § 2º, da Lei 8.069/90, e os atos
são desenvolvidos sob segredo de justiça.
O objetivo da Lei da Adoção, tendo como base o princípio constitucional da
proteção integral do direito da criança e do adolescente, especificamente a garantia do
direito à con vivência familiar. A presença do advogado deve ser indispensável para
um acompanhamento processual próximo que garanta a efetividade dos direitos que
se pretende.
Assim, deve ser requerido em Juízo, em atenção ao princípio constitucional
previsto no artigo 227 da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do
Adolescente, visando o melhor interesse e o bem da criança ou adolescente:

a) a concessão da guarda prov isória da menor até o trânsit o em julgado da


sentença que deferir a ado ção postulada, de modo a regularizar de imediato a posse
de fato do menor;

122
b) a manifestação do represen tante do Minis tério Público como fiscal d a
ordem jurídica, conforme art. 129, IX da Constituição Federal, art. 201, III do
Estatuto da C riança e do A dolescente e a rt. 178, II do Código de P rocesso Civil ;
c) a realização de estudo social e psicológico da criança/adolescente po r
profissionais que compõem o Juízo da Vara da Infância e da Juventude;
d) a designação de Audiência de Conciliação, Mediação e Instrução e
Julgamento para o depoimento pessoal dos Requerentes, da genitora da crian ça, da
própria criança e, se necessário for, a oitiva das testemunhas arroladas pelos
requerentes;
e) a procedên cia da açã o, para conceder ao(s) Requerente(s) a ADOÇÃO da
criança/adolescente, com a consequente extinção (ou destituição) do poder familiar
de sua mãe biológica, de mo do a reg ularizar a guarda de fato através de sentença
declaratória constitutiv a de filiação ;
f) a exped ição de man dado judicia l com toda s as prerrog ativas lega is
previstas pela Lei 8.069/90, ao Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais do em
que a criança/adolescente foi registrada, para as averbações necessárias,
determinando o cancelamen to da inscri ção no regist ro civil.
g) a expedi ção de manda do judicial, ao Cartório do Registro Civil do
município de residência dos adotantes para que o novo registro seja lavrado constando
o nome e a filiação d os adotantes com os elementos acima citados, conforme os
ditames do Art . 47 da L ei nº 8 .069/90, mantido o prenome da criança/adolescente,
com alteração do sobrenome dos pais ado tivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado d emocrático d e Direito tem como o bjetivo pri ncipal e essencia l a


garantia da dignidade da p essoa humana , sendo o Estatuto da Cri ança e do
Adolescente um dos meios necessário s para o ef etivo cumpr imento desse s direitos,
promovendo o direito à convivência familiar, por meio da Adoção socioafetiva, que,
em regra, é a base para a garantia de todos os demais direitos fundamentais no
contexto de uma família sólida e responsável e que possui como valor a importância
do afeto e da responsabilidade no cuidado, indispensáveis ao desenvolvimento
humano e social.
A Adoção tem como base o princípio constitucional da proteção integral,
especificamente a garantia do direito à convivência familiar e a preponderância do
direito da criança e do adolescente, assim como a essencial garantia da dignidade da
pessoa humana.

123
A interpretação da lei deve ser extensiva, em atendimento aos fins sociais, aos
anseios e particularidades do caso concreto, mormente em relação à adoção da criança
por parte daqueles que lhe dão afeto, carinho, amor e cuidado, em contraposição à
preferência da adoção pela família extensa (daqueles com quem possui vínculo
biológico), com o escopo de consagrar o princípio constitucional do melhor interesse
e garantir que a “prioridade absoluta” dos direitos da criança e do adolescente,
assegurada no artigo 227 da Constituição Federal, seja efetivada e se torne realidade.
Que prevaleça a paternidade socioafetiva, geradora da filiação de fato, que pretende
ser, igualmente, de direito.
Necessária uma visão periférica da questão, por todos os operadores do
Direito, sejam magistrados, membros do Ministério Público, advogados, relativizando
a aplicação literal da lei, socializando e humanizando o Direito, através da análise d a
situação fática do caso concreto para que a finalidade do Direito seja alcançada, qual
seja, a verdadeira Justiça. Justiça, esta, baseada na Manifestação livre e consciente da
Vontade, no Afeto, no Amor e na Verdade.
A motivação da Adoção é a afetividade, o Amor, a compatibilidade pelo
encontro de almas. O ser humano é animal, corp o, mas também, primordialmente,
alma, espírito e intelecto. Mais importante que o vínculo genético e biológico é o
“DNA da alma”.27
Nos dizeres de Rodrigo da Cunha Pereira28, somente os pais adotivos podem
repetir aos seus filhos o que Cristo disse aos seus apóstolos: “Não fostes vós que me
escolhestes, mas fui eu quem vos escolhi a vós”.

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27
BITTENCOURT. Sávio. MANUAL DO PAI ADOTIVO. Rio de Janeiro: 2008, p.25.
28
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Brasil é cruel com as crianças e os adolescentes. Data de publicação: 19/12/2016. Disponível em:
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124
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Corregedor: Teremos um Cadastro Nacional de Adoção de que a Justiça
precisa. Brasília, DF, 07 abr. 2017. Disponível em:
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