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FAMÍLIAS
Proteção dos filhos
Janaina Marcos Souza
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Assim como a sociedade mudou, as famílias e seus núcleos familiares tam-
bém sofreram alterações. Aquela família composta por pai e mãe, casados até
o final da vida e com muitos filhos já não é mais o modelo padrão. Com isso,
o Direito teve de se adaptar à realidade. A valorização do afeto ganhou força,
sendo o sentimento o principal fundamento para o elo familiar. Nesse sentido,
a proteção legal dos filhos no cenário pós-divórcio deve ser atendida de maneira
especial e prioritária.
Neste capítulo, vamos explicar como se desenvolveram, historicamente,
os direitos das crianças e dos adolescentes e a proteção da figura dos filhos após
a separação dos pais. Também vamos tratar da Doutrina da Proteção Integral, dos
estatutos normativos que corroboram essa defesa e da Lei de Alienação Parental.
[...] quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada
a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que
não deseja a guarda do menor (BRASIL, 2002, documento on-line).
A visita que melhor seria identificada pela expressão convivência, pois pais con-
vivem com seus filhos e não apenas os visitam, é um expediente jurídico forjado
para preencher os efeitos da ruptura da convivência familiar, antes exercida no
primitivo domicílio conjugal. A convivência representa, em realidade, um desdo-
bramento da guarda definida com a separação dos pais, e como tal detém a tarefa
de assegurar a adequada comunicação e supervisão da educação dos filhos, do
pai ou da mãe não convivente a respeito dos filhos, cuja guarda foi outorgada
ao outro, a parente, a terceiro ou, mesmo, à instituição, consiste no direito de
manter um contato pessoal com o menor, da maneira mais ampla e fecunda que
as circunstâncias possibilitam.
O tempo de convívio dos filhos com ambos os pais deve ser dividido de
maneira equilibrada, priorizando a proteção integral da criança e do adoles-
cente. A guarda compartilhada, quando ambos os pais possuem condições
de exercê-la, é obrigatória por força de lei (BRASIL, 2002) e essa modalidade,
por conceituação teórica e legal, determina a divisão do tempo de convívio
de forma equilibrada entre os pais.
Entretanto, a efetivação do direito ao convívio não se dá mediante simples
determinação da guarda compartilhada: é preciso o comprometimento e a
responsabilidade dos pais para que ela funcione da melhor maneira possível
para as crianças e os adolescentes. De fato, a decisão relativa à guarda e ao
direito de convivência pode ser reconsiderada a qualquer momento pela
justiça brasileira, bastando, para tanto, que a situação fática se altere, seja por
parte do pai, da mãe, de terceiros responsáveis pela a guarda ou do próprio
menor, em qualquer circunstância; porém, o princípio do melhor interesse
da criança deve prevalecer (NADER, 2016).
Alienação parental
O Brasil, desde 2010, possui uma lei que versa sobre atos classificados
como “alienação parental”. A Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, estipula,
no art. 2º, o conceito da alienação parental, bem como traz alguns exemplos
do que seriam esses atos na prática. Vejamos o teor do artigo (BRASIL, 2010,
documento on-line):
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos
assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou
com auxílio de terceiros:
I — realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II — dificultar o exercício da autoridade parental;
III — dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV — dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V — omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI — apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra
avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII — mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar
a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós.
(2012), existe uma gradação na sanção, desde uma medida mais branda,
a advertência, podendo culminar com uma imposição muito mais grave,
a suspensão do poder familiar. Os atos processuais, apesar disso, garantem
o contraditório e a ampla defesa em qualquer circunstância.
A guarda compartilhada abriga a esperança da divisão equânime entre as
atribuições de vigilância, companhia e proteção dos filhos, mesmo quando os
pais não vivem mais sob o mesmo teto ou não constituem entidade familiar
(NADER, 2016). Porém, o art. 7º da Lei nº 12.318/2010 define que, nos casos em
que são inviáveis a guarda compartilhada, a criança ou o adolescente ficará,
preferencialmente, com o genitor que viabiliza a efetiva convivência com o
outro genitor (BRASIL, 2010).
Cabe destacar que o juiz pode, provisoriamente, ouvindo especialistas,
restringir ou suspender o direito de convivência, na hipótese de um filho, por
causas conhecidas ou não, apresentar resistência ou rejeição à presença de
um dos genitores, medida cabível, por exemplo, quando um dos pais abusou
ou tentou abusar sexualmente de um filho, causando-lhe trauma (NADER,
2016). O art. 1.638, III, do Código Civil prevê perda do poder familiar em uma
situação como essa (BRASIL, 2002).
Gonçalves (2012) opina que a Lei nº 12.318/2010 tem mais caráter educa-
tivo, uma vez que o Judiciário já vinha aplicando providências para proteger
crianças e adolescentes quando constatadas práticas de alienação parental.
Quanto à matéria recursal, a Lei nada prevê, devendo ser aplicado o regime
do Código de Processo Civil, não do ECA (DIAS, 2016).
A guarda, em qualquer situação, deve ser exercida com responsabili-
dade, atendendo-se o melhor interesse dos filhos (NADER, 2016). Portanto,
deve-se atentar para o uso correto da Lei de Alienação Parental, uma vez
que, se utilizada de má-fé, como instrumento de beligerância entre pai e
mãe, mantém e prolonga o desgaste emocional das crianças e de todos os
envolvidos, não trazendo eficácia, tampouco focando na proteção integral
dos filhos, no superior interesse dos menores e na paternidade responsável.
A proteção integral das crianças e dos adolescentes deve ser sempre levada
em consideração e de maneira prioritária.
Referências
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Direitos da Criança. Diário Oficial da União, Brasília, 22 nov. 1990a. Disponível em: http://
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23 nov. 2020.
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BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e
altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União, Brasília,
27 ago. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/
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DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil. 14. ed. São Paulo:
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2012. 6 v.
LÔBO, P. L. N. Direito civil: família. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MADALENO, R. Direito de família. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
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Leituras recomendadas
BRASIL. Lei nº 11.698, de 13 de junho de 2008. Altera os arts. 1.583 e 1.584 da Lei
nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, para instituir e disciplinar a guarda
compartilhada. Diário Oficial da União, Brasília, 16 jun. 2008. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11698.htm. Acesso em: 23 nov. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.058, de 22 de dezembro de 2014. Altera os arts. 1.583, 1.584, 1.585
e 1.634 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para estabelecer o
significado da expressão “guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Diário
Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13058.htm. Acesso em: 23 nov. 2020.
STAUDT, A. C. P.; WAGNER, A. A experiência da guarda compartilhada dos filhos: uma
revisão integrativa. Revista da Faculdade de Direito UFPR, v. 64, nº 3, p. 107–132, set./
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em: 23 nov. 2020.
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