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Tutela Jurisdicional

APRESENTAÇÃO

A jurisdição consiste em uma atividade pública, substitutiva às partes, que busca pôr fim à lide,
satisfazendo os interesses ainda insatisfeitos e reintegrando o direito objetivo. No ordenamento
jurídico, há diversas formas de tutelas jurisdicionais possíveis a serem prestadas pelo Estado na
busca da efetiva pacificação social.

Nessa Unidade de Aprendizagem, você verá o conceito de jurisdição para definirmos o conceito
de tutela jurisdicional, analisando cada espécie de tutela prevista no nosso ordenamento jurídico.
Ao final, poderá contrastar as espécies de tutela jurisdicional com a efetividade do processo.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir o que é tutela jurisdicional.


• Analisar as espécies de tutela jurisdicional.
• Contrastar as espécies de tutela jurisdicional com a efetividade do processo.

DESAFIO

A atividade jurisdicional do Estado surgiu para regular as relações entre os indivíduos que
compõem a organização social, tutelando direitos. Assim, o Estado avocou o monopólio do
exercício da tutela dos direitos e, ao mesmo tempo, proíbe a autotutela, ressalvadas algumas
exceções.

Acompanhe na imagem a seguir a problemática em que André, seu cliente, encontra-se.


Tendo em vista as tutelas jurisdicionais estudadas, qual seria a sua orientação para André do
ponto de vista processual?

INFOGRÁFICO

O Poder Judiciário está incumbido de produzir soluções corretas e, constitucionalmente


legítimas, para as causas apresentadas, com a cooperação dos interessados. Esse resultado
produzido é o que a doutrina chama de atividade jurisdicional. É por meio da jurisdição que se
busca a tutela de um direito preexistente. Essa tutela ocorre por meio de reconhecimento
judicial.

Tendo em vista a importância da tutela jurisdicional provisória de natureza antecipada de


urgência e evidência, no Infográfico a seguir você poderá compreender melhor.
CONTEÚDO DO LIVRO
Dentro do universo da tutela jurisdicional, a doutrina apresenta algumas espécies de proteção de
direitos, e o sistema processual classifica as espécies de tutela jurisdicional, que dependendo do
bem da vida tutelado, deverá ser diferenciada, buscando, assim, maior efetivação do direito e
promovendo a paz social, principal objetivo da jurisdição.

No capítulo Tutela Jurisdicional do livro Teoria Geral do Processo, que é a base teórica dessa
Unidade de Aprendizagem, você verá sobre o conceito de tutela jurisdicional e as espécies desta
previstas no ordenamento jurídico brasileiro, bem como poderá contrastá-las, traçando um
paralelo com a efetividade do processo.

Boa leitura.
TEORIA GERAL
DO PROCESSO

Rosana Antunes
Tutela jurisdicional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o que é tutela jurisdicional.


 Analisar as espécies de tutela jurisdicional.
 Comparar as espécies de tutela jurisdicional com a efetividade do
processo.

Introdução
A atividade jurisdicional do Estado surgiu para regular as relações entre
os indivíduos que compõem a organização social, tutelando direitos.
Assim, o Estado, ao mesmo tempo que avoca o monopólio do exercício
da tutela dos direitos, proíbe a autotutela, salvo algumas exceções.
A tutela jurisdicional será prestada ao observar o direito lesionado
no plano material para produzir resultados úteis às partes. Dessa forma,
para cada direito violado ou ameaçado de lesão, deve haver uma forma
de tutela jurisdicional que assegure os direitos.
Neste capítulo, você vai estudar a definição de tutela jurisdicional e
vai analisar as espécies de tutela jurisdicional previstas no ordenamento
jurídico brasileiro, para, ao final, contrastar as espécies de tutela jurisdi-
cional com a efetividade do processo.

Tutela jurisdicional
O Estado avocou a solução dos conflitos intersubjetivos como garantidor da paz
social, monopolizando as soluções de conflitos sociais e limitando a autotutela.
Como consequência desse monopólio, ao Poder Judiciário foi atribuída
a função de solucionar os referidos conflitos, aplicando o Direito ao caso
concreto, solucionando as lides a partir do direito posto.
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O poder de solucionar os conflitos intersubjetivos é a manifestação coativa


e soberana do Estado a cerca das contendas, de tal forma que os jurisdicio-
nados devem respeitá-la de forma absoluta. Essa função estatal é chamada
de jurisdicional.
Assim, a jurisdição é a função estatal de solucionar as causas que são
sometidas ao Estado, por intermédio do processo, aplicando a solução juridi-
camente correta (CÂMARA, 2017).
Trata-se de uma atividade destinada a efetivar os preceitos pretendidos pelas
normas, quando não respeitados de forma espontânea, produzindo resultados
concretos na vida das pessoas. Assim, o jurisdicionado busca o reconhecimento
de um direito existente, cabendo ao juiz dar, à causa, a solução, conforme
determina o Direito, aplicando a norma jurídica adequada ao caso concreto.
Dessa forma, o Poder Judiciário está incumbido de produzir soluções
corretas e constitucionalmente legítimas para as causas apresentadas, com
a cooperação dos interessados. Esse resultado produzido é o que a doutrina
chama de atividade jurisdicional.
É importante entender que a jurisdição atua sobre uma situação concreta,
ou seja, sobre um problema específico, o qual é levado à apreciação do Órgão
Jurisdicional, diferente da atividade legislativa, que cuida de situações abstratas.
Salienta-se que, embora a função jurisdicional seja monopólio do Estado,
ela pode ser exercida por agentes privados, desde que estes sejam autorizados
pelo próprio Estado. Como exemplo, temos a arbitragem.
Segundo a doutrina clássica de Direito processual, a jurisdição tem três
características essências: inércia, substitutividade e natureza declaratória.
A primeira característica é a inércia da jurisdição. Por inércia da jurisdição
se entende a exigência, estabelecida por lei, de que o Estado exerce a jurisdição
por provocação, sem a qual não ocorre o seu exercício, salvo os casos que
a lei admite a instauração do processo de ofício pelo juiz. Essas exceções
estão expressamente previstas no ordenamento jurídico, como, por exemplo,
a restauração dos autos nos termos do art. 712 do Código de Processo Civil
(CPC) de 2015 (BRASIL, 2015).
Assim, em regra, o processo jurisdicional se inicia com a petição inicial
protocolizada, segundo o art. 312 do CPC de 2015.
A segunda característica da jurisdição é a substitutividade. O Estado, ao
agir, substitui a vontade das partes e produz um resultado, tornando dispensável
a vontade das partes.
A substitutividade é exercida em razão da vedação da autotutela, pois não
se autoriza que as pessoas pratiquem atos necessários à satisfação de seus
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interesses por mão própria. Entretanto, vale ressaltar que o Direito brasileiro
adota a excepcionalidade da autotutela, ou seja, apenas quando previsto na
norma jurídica é que a autotutela poderá ser exercida. Um exemplo é o art.
1.210, do Código Civil (BRASIL, 2002). Nesse caso, a norma autoriza o
uso de meios não excessivos para proteger sua posse, inclusive utilizando
a força física.
Assim, como regra, cabe ao Poder Judiciário compor os litígios, substituindo
a vontade das partes e aplicando a lei a cada caso concreto apresentado.
A terceira característica da jurisdição é a sua natureza declaratória, sendo
assim, o Estado-juiz não cria direitos subjetivos, apenas os declara. Portanto,
o que se busca no Poder Judiciário é o reconhecimento de um direito que
já se tem: direitos preexistentes. A atividade jurisdicional é essencialmente
declaratória de direitos, reconhecendo uma situação jurídica de vantagem
que preexiste.
De acordo com a definição de Cândido Rangel Dinamarco (2009, p. 107),
tutela jurisdicional é “[...] o amparo que, por obra dos juízes, o Estado ministra
a quem tem razão num litígio deduzido em processo”.
Dessa forma, o autor de uma ação deve demonstrar, por meios de pro-
vas, que tem razão no seu pleito, enquanto o juiz lhe entregará a tutela
jurisdicional nos termos do Direito material. Contudo, se a pretensão do
autor for infundada, a tutela jurisdicional deverá ser concedida ao réu, que,
com o julgamento de improcedência dos pedidos do autor, terá a sua esfera
jurídica preservada.
Agora que você aprendeu o que é jurisdição e o que é tutela jurisdicional, é
importante conhecer a diferença entre jurisdição e tutela jurisdicional. Segundo
Alexandre Câmara (2007, p. 88), a jurisdição “[...] é uma das funções do Poder
estatal a qual todos os indivíduos, sem distinção, têm direito que seja prestada”.
Já a tutela jurisdicional “[...] é uma das formas com que o estado assegura a
proteção a quem seja titular de um direito subjetivo ou outra posição jurídica
de vantagem.” (CÂMARA, 2007, p. 88). O autor ainda completa que o “Estado
só presta a verdadeira jurisdição quando ela é adequada a proteger o direito
material lesado ou ameaçado de lesão” (CÂMARA, 2007, p. 88).
Por fim, cabe salientar que, dependendo da lesão ocorrida no plano material,
o provimento jurisdicional atuará de maneira diversa, objetivando produzir
resultados úteis às partes, por essa razão a doutrina e o CPC de 2015 enumeram
as espécies de tutelas jurisdicionais.
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Uma pessoa se comprometeu a outorgar uma escritura pública de compra e venda


de um imóvel, no entanto, depois de um tempo, nega-se a praticar essa conduta. O
judiciário, por meio de uma sentença, substitui a atuação do contratante (art. 501 do
CPC de 2015) (BRASIL, 2015).

Espécies de tutela jurisdicional


Como vimos, é por meio da jurisdição que se busca a tutela de um direito
preexistente. Essa tutela ocorre por meio do reconhecimento judicial que a
doutrina chamada de tutela jurisdicional em sentido amplo.
Entretanto, dentro do universo da tutela jurisdicional, a doutrina apresenta
algumas espécies de proteção de direitos, enquanto o sistema processual
classifica as espécies de tutela jurisdicional.
Antes de adentrarmos nas espécies de tutela jurisdicional, é importante
ressaltar que existem várias formas de classificar as tutelas e essa classificação
dependerá do critério adotado.
Assim, serão objetos de análise as classificações de tutela jurisdicional
da seguinte forma: tendo em vista a atividade preponderante realizada pelas
partes e pelo juízo, tutela jurisdicional de conhecimento e tutela jurisdicional
de execução; tendo em vista a definitividade do provimento jurisdicional,
tutela jurisdicional definitiva e tutela jurisdicional provisória; tendo em vista
o direito tutelado pelo processo, se individual ou coletivo; tendo em vista a
existência ou inexistência de conflito a ser resolvido pelo juiz, jurisdição
contenciosa e jurisdição voluntária.
A seguir, vamos analisar cada uma das espécies de tutela separadamente.

A atividade preponderante realizada pelas


partes e pelo juízo

Tutela jurisdicional de conhecimento

Na doutrina clássica, entende-se por tutela de conhecimento (ou cognitiva) a


que afirma sobre a existência ou não do direito postulado em juízo, ou seja,
ela está voltada para a declaração de qual dos litigantes tem razão. Assim,
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a prestação dessa tutela é feita por meio do processo de conhecimento, cujo


procedimento está previsto nos arts. 313 a 512 do CPC de 2015.
As atividades primordiais do processo de conhecimento são um ofereci-
mento de alegações, por meio de petição, contestações, produção de provas,
entre outros. O juiz, por sua vez, tem como atividade primordial conhecer do
litígio para, ao final, julgar a lide.
A tutela jurisdicional de conhecimento está dividida de acordo com a
pretensão do autor da ação em: tutela meramente delatória, tutela constitutiva
e tutela condenatória.
Assim, a tutela meramente declaratória está voltada à declaração da exis-
tência ou inexistência da relação jurídica ou da falsidade e à autenticidade de
documentos (Art. 19 do CPC de 2015) (BRASIL, 2015). A tutela constitutiva
tem como objetivo, além de declarar, criar, modificar e extinguir direitos. Já
tutela condenatória, além de declarar direitos, autoriza a via executiva, ou
seja, declara que tem razão com a determinação do juiz, para que o réu con-
denado, de forma geral, faça ou deixe de fazer alguma coisa. Assim, salvo o
cumprimento espontâneo da sentença condenatória, a tutela do direito exigirá
a tutela executiva.

Tutela jurisdicional executiva

Essa tutela ocorre quando há descumprimento da ordem jurisdicional contida


na sentença, tornando necessária a efetivação desse comando jurisdicional.
Assim, o objetivo da tutela executiva é voltado para a realização de atos
materiais pelo Estado-juiz para que se realize um comando contido em uma
decisão judicial ou um título dotado de eficácia executiva pela lei.
O autorizador da prestação da tutela jurisdicional executiva é o título executivo,
o qual pode ser judicial ou extrajudicial. O título executivo é um documento indis-
pensável. Apenas a Lei Federal pode atribuir, a um documento, a força executiva
capaz de autorizar a prestação da tutela executiva. Os arts. 515 e 784 do CPC de
2015 arrolam os títulos executivos judiciais e extrajudiciais, respectivamente.

A definitividade do provimento jurisdicional

Tutela jurisdicional definitiva

Essa tutela pressupõe uma atividade plena e exauriente. A tutela final tem a
tendência a ser definitiva, uma vez que a cognição exauriente é uma atividade
completa, na qual as partes, no exercício dos seus direitos, tiveram oportu-
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nizadas as alegações e as provas que foram apreciadas pelo juízo. Contudo,


pela força do duplo grau de jurisdição, é possível questionar a tutela final por
meio de recurso cabível.

Tutela jurisdicional provisória

A tutela jurisdicional provisória se caracteriza por ser prestada antes mesmo


de ser esgotada a atividade processual. Sendo assim, fica sujeita a uma con-
firmação, à modificação ou à revogação posterior.
As tutelas provisórias são utilizadas nas situações em que o juiz, com base
em um juízo de probabilidade, e não de certeza, pode antecipar a concessão de
forma mais célere, mas provisória. Em duas situações jurídicas, via de regra,
observa-se esse tipo de tutela. São as situações de urgência e as situações
de evidência. Elas só podem ser concedidas quando figuradas as situações
previstas em lei e estão previstas nos arts. 296 a 306 do CPC de 2015.
A tutela de urgência é prevista para as circunstâncias que não podem esperar
a tutela final, sob pena de ineficácia ou inutilidade do provimento final. As
tutelas provisórias de urgência se subdividem em tutela cautelar e antecipada.
A doutrina traz a distinção entre elas basicamente pelo seu conteúdo,
assim, a tutela cautelar concede uma medida de apoio voltada à preservação
da tutela final, o que não se confunde com o direito pleiteado. É o caso dos
bloqueios de bens para a entrega do próprio ou do seu produto, satisfazendo o
credor no final da ação. Já a tutela antecipatória é a entrega, ao autor da ação,
exatamente daquilo que ele receberá na prestação de tutela final. É caso do
requerimento de uma cirurgia, que o pedido final é a realização desta, mas
que se requer que seja feita imediatamente, por não ser possível esperar todo
o trâmite processual, ou seja, é uma tutela antecipatória é satisfativa.
Por fim, vale ressaltar que tanto a tutela cautelar como a tutela antecipada
podem ser requeridas de forma antecedente ou incidentalmente no processo
em que se pleiteia a tutela final.

As liminares, comumente tratadas na prática forense, não são um terceiro gênero de


provimento de urgência. As denominas liminares nada mais são do que a concessão
de um dos dois tipos de tutela de urgências, ou seja, ou é um provimento cautelar ou
antecipatório de tutela satisfativa.
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No que diz respeito a tutelas provisórias de evidência, é importante salientar


que elas são utilizadas nas hipóteses em que o autor tem altíssima probabi-
lidade de ser vencedor da ação demonstrada de plano, conforme se observa
nas hipóteses previstas no art. 311 do CPC de 2015, uma vez que só podem
ser requeridas de forma incidental (Figura 1).

Figura 1. Esquema explicando as tutelas provisórias.

O direito tutelado pelo processo


Tutela de direito individual é para a resolução de conflito que envolve uma
ou mais pessoas identificadas, as quais, em nome próprio, defendem o que
acredita ser seu direito (Art. 18 do CPC de 2015) (BRASIL, 2015).
Tutela jurisdicional coletiva é utilizada para resolver conflitos que en-
volverem lesão ou ameaça de um direito classificado como difuso coletivo
ou individual homogêneo. Nos casos em que for impossível de identificar
as pessoas lesadas ou os lesados forem um grupo numeroso, em vez de
se atribuir a possibilidade de ir a juízo a cada um dos titulares do Direito
litigioso, admite-se a demanda por meio de um representante do grupo, da
classe ou categoria. A característica da jurisdição coletiva é produzir efeitos
erga omnes ou ultra partes, ou seja, a decisão proferida nessa tutela atinge
a todos os integrantes do grupo, da classe, ou da categoria de pessoas tidas
pela decisão como lesadas.
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A existência ou a inexistência de conflito a ser resolvido


A jurisdição voluntária é a atividade estatal de integração e fiscalização,
isto é, busca-se, do Poder Judiciário, a integração da vontade para torná-
-la apta a produzir determinada situação jurídica. Não há substituição da
vontade. São procedimentos especiais de jurisdição voluntária: notificação,
interpelação e protesto, alienação judicial, homologação de divórcio e
separação consensuais.
Já a jurisdição contenciosa é qualquer pedido que não seja mera integração.
É o Estado substituindo a vontade das partes e por meio de um provimento
jurisdicional. A atuação da jurisdição é, via de regra, necessária quando
verificado o litígio. O Estado-juiz atua, exercendo a jurisdição, declarando,
constituindo ou desconstituindo, condenando e praticando atos materiais
para a realização do Direito (Quadro 1).

Quadro 1. São as diferenças entre jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa

Jurisdição voluntária Jurisdição contenciosa

Caráter administrativo Caráter jurisdicional

Finalidade: criação de Finalidade: atuação do Direito;


situações jurídicas novas pacificação social

Existe uma espécie de negócio Existe a substituição da vontade


jurídico com a participação do juiz das partes que, se não cumprida,
pode ser aplicada coercitivamente

Não há conflito de A jurisdição atua a partir de uma


interesses, não há lide lide, há conflito de interesses

Há interessados Há partes

Não existe ação Presença da ação

Não há coisa julgada Há coisa julgada

Procedimento Processo

Fonte: Adaptada de Cintra, Grinover e Dinamarco (2012, p. 54).


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Os equivalentes jurisdicionais são formas não judiciais de solução de conflitos. Estes


são chamados de equivalentes, exatamente porque, não sendo jurisdição, funcionam
como técnica, ou seja, como um meio de resolução de conflitos ou para certificar
situações jurídicas. Exemplo: mediação

Tutela jurisdicional e a efetividade do processo


O direito à tutela jurisdicional é o direito de exigir uma prestação do Estado.
Esse Direito protecional reclama outros direitos, como, por exemplo, a exis-
tência de procedimentos capazes de viabilizar a reposta jurisdicional efetiva.
Já a efetividade do processo é o alcance imediato da finalidade precípua
do processo, proporcionando, à parte, a tutela jurisdicional mais adequada,
reconhecendo e realizando o Direito material de forma rápida, satisfatória e
segura, tudo isso com comprometimento social de garantir a paz social.
Quando se fala na efetividade do processo, deve-se pensar, inicialmente, em
uma tutela jurisdicional idealizada sob a perspectiva do Direito material e do
Direito processual. Assim, o Direito material deve regular as relações da vida
em sociedade, enquanto o Direito processual deve oferecer diversas espécies de
tutela jurisdicional para a realização dos direitos e das pretensões materiais que
conduzem a tutela rápida, adequada e justa. Trata-se de técnicas processuais que
são capazes de propiciar a efetiva proteção do direito, à luz do caso concreto.
A efetividade do processo pode ser compreendida como uma série de
exigências que convergem para que se concretize um processo adaptável ao
caso concreto, aproximado da verdade dos fatos, breve e voltado à realização
da tutela jurisdicional efetiva.
Ressalta-se que existem situações do Direito substancial e posições sociais
que justificam distintos tratamentos, por isso a necessidade de espécies de
diferenciação de procedimentos para se alcançar o direito à tutela jurisdicional
efetiva, pois um único procedimento (procedimento é uma espécie de técnica
processual destinado a permitir a tutela dos direitos) jamais terá aptidão para
dar conta de situações materiais distintas. Os procedimentos para tutelas e os
direitos materiais estão previstos, no Brasil, no CPC de 2015 e em lei esparsa.
Assim, tendo em vista a tutela jurisdicional pretendida, deve-se escolher
uma das espécies de tutela prevista em lei para a resolução do litígio apre-
sentado ao Poder Judiciário.
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Nesse sentido, temos a tutela cognitiva, ou de conhecimento, a qual é


utilizada para a afirmação acerca da existência ou não do direito postulado em
juízo. Dependendo do direito pleiteado em juízo, a tutela pode ser meramente
declaratória, constitutiva ou condenatória.
Já a tutela executiva está vocacionada para os casos em que se estará diante
da necessidade de praticar atos que estão voltados para a efetivação de um
direito já reconhecido, o qual pode ser uma sentença judicial ou documentos
ou contratos, desde que a lei reconheça a sua força executória, ou seja, é a
realização do direito no plano fático.
Não há como negar que o tempo do processo prejudica o autor que tem
razão, beneficiando, na mesma proporção, o réu que não a tem. Assim, para
os casos em que há urgência na solução, o ordenamento jurídico prevê como
tutelas de urgências e de emergências. Assim, nos casos que se está diante da
necessidade de tutela célere, sob pena de frustrar a proteção judicial, ou seja,
frustrar a tutela jurisdicional efetiva, várias são as hipóteses que a urgência
reclama por procedimentos mais céleres. Como exemplos, podemos citar o
requerimento de medicamentos e a intervenção cirúrgica.
Já tutela de evidência é para os casos em que não se exige urgência, ape-
nas a probidade da vitória do autor. Assim, não é a urgência que justifica a
concessão da tutela de evidência, mas, sim, o comportamento censurável do
réu, ou a fortíssima probabilidade do direito do autor, por exemplo.
Há, ainda, tutelas jurisdicionais voltadas para reparar situações litigio-
sas, que repercutem na esfera de inúmeras pessoas, às vezes até mesmo da
sociedade como um todo. Nesses casos, a tutela coletiva se apresenta como
uma prestação jurisdicional, que, em síntese, vota-se para tutelar o Direito
metaindividual e que legitima órgão e entidades para agir em juízo, com
a atribuição erga omnes ou ultra partes às decisões proferidas em sede de
tutela coletiva. Alguns exemplos hábeis são a tutela quanto ao desrespeito aos
consumidores (propaganda enganosa) e as transcrições ao Direito ambiental.
Por fim, resta comentar que a tutela jurisdicional diferenciada, como vimos
acima, está intimamente ligada à efetividade do processo, à medida que deve ser
assegurada, à parte, a espécie de tutela mais adequada à efetiva e real proteção
do direito invocado. A tutela diferenciada, segundo José Roberto Bedaque
(2003, p. 26), pode ser entendida de duas maneiras diversas: a existência de
procedimentos específicos, de cognição plena e exauriente, cada qual elaborado
em função das especificidades da relação material, ou a regulamentação de
tutelas sumárias típicas, precedidas de cognição não exauriente, visando a
evitar que o tempo possa comprometer o resultado do processo.
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As liminares comumente tratadas na prática forense não são um terceiro gênero de


provimento de urgência. As denominas liminares nada mais são do que a concessão
de um dos dois tipos de tutela de urgências, ou seja, ou é um provimento cautelar ou
antecipatório de tutela satisfativa.

1. Acerca da jurisdição e de seus d) A tutela provisória de urgência


equivalentes, assinale a opção correta. é subdivida em cautelar
a) A ação de execução pode ser e antecipada, podendo
considerada um equivalente ser concedida em caráter
jurisdicional nos casos de antecedente ou incidental.
título extrajudicial. e) A tutela provisória é apenas
b) Os equivalentes jurisdicionais cautelar antecipatória
são formas de não jurisdição. 3. Segundo a doutrina, a atividade
c) Os equivalentes jurisdicionais são primordial do processo de
uma espécie de jurisdição que conhecimento é voltada para:
tem a mediação como exemplo. a) a existência ou não do direito
d) A jurisdição voluntária é postulado em juízo, ou seja,
uma espécie de equivalente voltada a declaração de qual
jurisdicional. dos litigantes tem razão.
e) A jurisdição contenciosa pode ser b) a realização de atos matérias
exercida por juízes e seus auxiliares. pelo Estado-Juiz.
2. Considere as seguintes afirmativas c) a declaração das situações
sobre o tema da tutela provisória preexistentes.
no âmbito do CPC de 2015 e d) a execução das sentenças judiciais.
assinale a opção correta. e) o conhecimento das lides, mas
a) A tutela provisória de urgência, sem caráter substitutivo.
cautelar ou antecipada 4. Com relação à tutela jurisdicional
pode ser concedida apenas coletiva, assinale a opção correta.
em caráter incidente. a) Pode ser requerida sempre
b) A tutela provisória de urgência, que for possível identificar
cautelar ou antecipada pode as pessoas lesadas.
ser concedida apenas em b) Pode ser requerida para solucionar
caráter antecedente. conflito quando a relação
c) A tutela provisória de urgência jurídica conflituosa envolver
se subdivide em tutela cautelar, lesão ou ameaça de um direito
antecipada e imediata.
12 Tutela jurisdicional

classificado como difuso, coletivo 5. Tendo em vista a atividade


ou individual homogêneo. preponderante realizada pelas partes e
c) Pode ser requerida quando pelo juízo, na ação de reconhecimento
existir uma ou mais pessoas na de paternidade, é correto afirmar
relação processual, as quais, em que é uma tutela jurisdicional é:
nome próprio, defendem um a) condenatória.
direito que acreditam ser seu. b) executiva.
d) Pode ser requerida para resolver c) declaratória.
os direitos de um particular, como d) afirmativa.
interesses de uma coletividade. e) provisória.
e) Pode ser requerida apenas para os
direitos individuais homogêneos.

BEDAQUE, J. R. dos S. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência


(tentativa de sistematização). 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/l10406.htm>. Acesso
em: 14 jun. 2018.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF, 2015.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 14 jun. 2018.
CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017.
CÂMARA, A. F. Lições de direito processual civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
CINTRA, A. C. de A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. 28.
ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
DINAMARCO, C. R. Instituições de direito processual civil. 6. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2009. v. 1.
Tutela jurisdicional 13

Leituras recomendadas
BUENO, C. S. Curso sistematizado de direito processual civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual
civil, parte geral e processo de conhecimento. 20. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. v. 1.
LIEBMAN, E. T. A prova no direito processual civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
MOREIRA, J. C. B. Efetividade do processo e técnica processual. In: MOREIRA, J. C. B.
Temas de direito processual: sexta série. São Paulo: Saraiva, 1997.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR

Há tutelas jurisdicionais voltadas para reparar situações litigiosas, que repercutem na esfera de
inúmeras pessoas, às vezes até mesmo da sociedade como um todo. Nesses casos, a tutela
coletiva apresenta-se como uma prestação jurisdicional, que, em síntese, vota-se para tutelar o
direito metaindividual e que legitima o órgão e as entidades para agir em juízo, com a atribuição
erga omnes ou ultra partes às decisões proferidas em sede de tutela coletiva.

Nesta Dica do Professor, você verá sobre tutela coletiva. Essa tutela pertence ao gênero processo
jurisdicional, que exige os conhecimentos de conceitos importantíssimos, dentre eles, os
conceitos de direito difuso e direito individual homogêneo. Entenda esses conceitos na imagem
a seguir.

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EXERCÍCIOS

1) Acerca da jurisdição e de seus equivalentes, assinale a opção correta.

A) A ação de execução pode ser considerada um equivalente jurisdicional nos casos de título
extrajudicial.

B) Os equivalentes jurisdicionais são formas de não jurisdição.

C) Os equivalentes jurisdicionais são uma espécie de jurisdição, que tem a mediação como
exemplo.

D) A jurisdição voluntária é uma espécie de equivalente jurisdicional.

E) A jurisdição contenciosa pode ser exercida por juízes e seus auxiliares.

2)
Considere as seguintes afirmativas sobre o tema da provisória no âmbito do Código
de Processo Civil. Analise a opção correta:

A) A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada é concedida exclusivamente em


caráter incidente.

B) A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada pode ser concedida exclusivamente


em caráter antecedente.

C) A tutela provisória de urgência subdivide-se em tutela cautelar, antecipada e imediata.

D) A tutela provisória de urgência é subdividida em cautelar e antecipada, ambas podendo ser


concedidas em caráter antecedente ou incidental.

E) A tutela provisória é apenas a cautelar antecipatória.

3) Segundo a doutrina, a atividade primordial do processo de conhecimento é voltada


para:

A) afirmar acerca da existência ou não do direito postulado em juízo, ou seja, voltada à


declaração de qual dos litigantes tem razão.

B) realizar atos materiais pelo Estado-Juiz.

C) declarar e executar títulos extrajudiciais e sentenças judiciais.

D) executar apenas sentenças judiciais.

E) conhecer as lides, mas sem caráter substitutivo.


4) Com relação à tutela jurisdicional coletiva assinale a opção correta:

A) Pode ser requerida sempre que for possível identificar as pessoas lesadas.

B) Pode ser requerida para solucionar um conflito quando a relação jurídica conflituosa
envolve a lesão ou a ameaça de um direito classificado como difuso, coletivo ou individual
homogêneo.

C) Pode ser requerida quando existir uma ou mais pessoas na relação processual que em nome
próprio defende um direito que acredita ser seu.

D) Pode ser requerida para resolver os direitos de um particular, como interesses de uma
coletividade.

E) Só pode ser requerida para direitos individuais homogêneos.

5) Tendo em vista a atividade preponderante realizada pelas partes e pelo juízo, na ação
de reconhecimento de paternidade, é correto afirmar que é uma tutela jurisdicional:

A) Condenatória.

B) Executiva.

C) Declaratória.

D) Definitivas.

E) Provisória.
NA PRÁTICA

A tutela cautelar e a tutela antecipada podem ser requeridas de forma antecedente, ou


incidentalmente, no processo em que se pleiteia a tutela final.

Na imagem a seguir, você vai observar a decisão do Tribunal Superior do


Trabalho que, julgando um pedido de tutela antecipada em mandado de segurança, analisou os
requisitos autorizativos para concessão de tutela antecipada e entendeu que estes não estavam
presentes. Sendo assim, o Tribunal indeferiu o pedido de tutela antecipada.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Tutela dos direitos no novo Código de Processo Civil - Projeto 166

Neste link, você terá acesso a um artigo para aprofundar seus conhecimentos sobre Tutela dos
direitos no novo Código de Processo Civil.

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O processo coletivo no Código de Processo Civil (CPC) de 2015

Neste link, você terá acesso a um vídeo que abordará sobre o processo coletivo no CPC de 2015.

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