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Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 143

AS GARANTIAS DOS FILHOS FRENTE


À ALIENAÇÃO PARENTAL
Monaliza Costa de Souza*

RESUMO parece ainda desconhecer que a


criança e o adolescente são pessoas
AAlienação Parental, reconhecida em desenvolvimento e merecem
juridicamente no âmbito da Lei n. prioridade na observância aos seus
12.318, de 26 de agosto de 2010, direitos e garantias, e respeito a
apresentou um problema já existente, eles. Nesse contexto, entendeu-se
que já possuía respaldo nas legislações importante desenvolver o assunto
existentes, mas que encontrava destas garantias e direitos, face aos
dificuldade de identificação e prova. princípios do Direito de Família da
Apesar da lei publicizar o ato de atualidade, como uma possibilidade de
alienação, as dificuldades ainda alertar a sociedade e os profissionais
permanecem, e, enquanto tem das áreas multidisciplinares que estão
sido observada e discutida pelos envolvidos em questões ligadas à
profissionais da área, ainda presencia Alienação .Parental, para estas crianças
muitas crianças e adolescentes vítimas e adolescentes que podem ver-se
sem uma solução eficiente, que afetados psicológica e socialmente de
não repercuta para os seus futuros. forma profunda, podendo refletir em
A sociedade, em contrapartida, suas vidas adultas.

*Advogada; Pós-graduanda em Direito de Família Contemporâneo e Mediação pela


ESADE; Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família- IBDFAM/RS.
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Palavras-chave: Alienação Pa- direitos de seus membros e não pela


rental. Síndrome da Alienação Pa- forma como se organizam.
rental (SAP). Crianças. Adolescentes. Nesse sentido o presente trabalho
Direitos. Garantias. traz o desenvolvimento do tema
demonstrando aquilo que de mais
Introdução. 1 A Alienação importante tem a doutrina atual,
Parental. 2 A família. 2.1 A tutela da com algumas referências à história,
família nas Constituições Federais. 2.2 sobre: a alienação parental; a família;
Breve histórico dos filhos e da família. os princípios do direito de família
3 Os princípios do direito de família aplicáveis às relações entre os pais
com relação aos filhos (crianças e os filhos; e o sistema protetivo
ou adolescentes). 3.1 Princípio da conferido à criança e ao adolescente.
Dignidade da Pessoa Humana. 3.2 Deste modo, será possível criar
Princípio da Solidariedade. 3.3 um panorama que define em que
Princípio da Liberdade. 3.4 Pri~cípio linhas estão traçadas as garantias que
da Igualdade. 3.5 Princípio,, da crianças e adolescentes têm e que
Convivência Familiar. 3.6 Princípio são feridas nos atos de alienação.
da Afetividade. 3. 7 Princípio do De modo que, com isso, se possa
Melhor Interesse da Criança e demonstrar que aos profissionais
do Adolescente. 3.8 Princípio da cabe auxiliar na divulgação desses
Paternidade Responsável. 4 O sistema direitos, e aos pais cabe a real
protetivo conferido à criança e ao responsabilização pela formação
adolescente. 4.1 O Poder Familiar. 4.2 familiar, ato que lhes é livre e, por
A Guarda. 4.3 Os beneficios trazidos este motivo, deve ser bem pensado,
pela Lei da Alienação Parental (Lei no planejado e assumido com seriedade.
12.318/2010). Conclusão. Referências. A escolha da bibliografia
utilizada foi dentre os autores que
têm public~ções mais recentes, para
INTRODUÇÃO que a pesquisa pudesse esboçar um
pensamento desta doutrina, não
Analisar as garantias das crianças descartando, algumas menções a
e dos adolescentes, decorrentes autores já consolidados no âmbito
dos princípios do direito de família jurídico e alguns estrangeiros que
especificamente com relação aos complementam os entendimentos
casos de alienação parental é tarefa acerca da alienação parental, tema
de grande relevância, principalmente novo no Direito brasileiro.
num momento em que as entidades Pretende-se contribuir para que
familiares têm ganhado espaço pelos este tema tenha uma repercussão
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positiva e seja possível aperfeiçoar jurídico - a fim de consolidar mais


a aplicação das normas com base uma forma de cuidado com crianças
numa interpretação que atente para as e adolescentes (além daquelas
necessidades da sociedade atual. contidas no Estatuto da Criança e do
Adolescente) -, o mesmo diz em sua
justificativa que:
1 A ALIENAÇÃO PARENTAL
Nesse sentido, é de fundamental
A Alienação Parental é a importância que a expressão "alie-
nação parental" passe a integrar o
campanha de desqualificação feita,
ordenamento jurídico, inclusive para
geraln1ente, pelo genitor guardião, induzir os operadores do Direito a
em desfavor do não guardião, aos debater e aprofundar o estudo do
seus filhos, com o objetivo de afastá- tema, bem como apontar instrumentos
los, podendo em um nível mais grave que permitam efetiva intervenção por
transformar-se o ato em transtorno parte do Poder Judiciário.
psicológico, a síndrome. 1 Desde
26 de agosto de 201 O, com a Lei n° Na Alienação um genitor ou
12.318, a Alienação Parental passou alguém que tenha influência sobre uma
a ser oficialmente reconhecida como criança ou adolescente a convence de
um ato de extrema preocupação para que o outro genitor não lhe faz bem, ou
o mundo jurídico e a sociedade civil não quer a sua companhia, ou de que
brasileira. Foi através de um projeto de é necessário que ela se afaste dele. O
lei apresentado pelo Deputado Regis que funciona como a "implantação de
de Oliveira2 que a Alienação Parental falsas memórias". 3 O objetivo básico
ganhou contornos no ordenamento de quem aliena é afastar a criança

1 TRINDADE, Jorge. Síndrome de Alienação Parental. ln: DIAS, Maria Berenice


(Coord.). Incesto e Alienação Parental. 2.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010, p. 22.
2 BRASIL. Projeto de Lei no 4.053. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 07 out. 2008. Disponível em: <http://www.camara.gov.
br/sileg/integras/601514.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2011.
3 OLIVEIRA, Euclides de. Alienação Parental. ln: VII CONGRESSO BRASILEIRO
DE DIREITO DE FAMÍLIA. Família e Responsabilidade- teoria e prática do Direito
de Família. Coord. Rodrigo da Cunha Pereira, 7., 2009, Belo Horizonte. Anais ... Porto
Alegre: Magister/IBDFAM, 2010, p. 232.
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do conviVIO com alguém que lhe é praticados diretamente ou com


importante, principalmente com um auxílio de terceiros:
dos pais, normalmente numa resposta I - realizar campanha de desqua-
vingativa ao rompimento da relação lificação da conduta do genitor
conjugal. Não se trata de um conceito no exercício da paternidade ou
fechado, é amplo, porque as maneiras maternidade;
de alienação são várias, nesse sentido II - dificultar o exercício da auto-
a Lei no 12.318/20104 estabeleceu: ridade parental;
III -- dificultar contato de criança ou
Art. 2° Considera-se ato de alienação adolescente com genitor;
parental a interferência na formação IV - dificultar o exercício do direito
psicológica da criança ou do regulamentado de convivência
adolescente promovida ou induzida famÍliar;
por um dos genitores, pelos avôs
V - omitir deliberadamente a genitor
ou pelos que tenham a criança ou
informações pessoais relevantes
adolescente sob a sua autoridade,
guarda ou vigilância para que repudie sobre a criança ou adolescente,
genitor ou que cause prejuízo ao inclusive escolares, médicas e
estabelecimento ou à manutenção de alterações de endereço;
vínculos com este. VI - apresentar falsa denúncia contra
Parágrafo único. São formas exem- genitor, contra familiares deste ou
plificativas de alienação parental, contra avôs, para obstar ou dificultar
além dos atos assim declarados a convivência deles com a criança ou
pelo juiz ou constatados por perícia, adolescente;

De acordo com Môniza Guazzelli, advogada e mestre em Direito, "O que se denomina
de Implantação de Falsas Memórias advém, justamente, da conduta doentia do genitor
alienador, que começa a fazer com o filho uma verdadeira 'lavagem cerebral', com a
finalidade de denegrir a imagem do outro- alienado-, e,.pior ainda, usa a narrativa do
infante acrescentando maliciosamente fatos não exatamente como estes se sucederam,
e ele aos poucos vai se 'convencendo' da versão que lhe foi 'implantada'. O alienador
passa então a narrar à criança atitudes do outro genitor que jamais aconteceram ou que
aconteceram em modo diverso do narrado" (GUAZZELLI, Mônica. A Falsa Denúncia
de Abuso Sexual. ln: _ _. Incesto e Alienação Parental - Realidades que a Justiça
insiste em não ver: de acordo com a Lei no 12.318/2010. 2. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais/ IBDFAM, 2010, p. 43- 44)
4 BRASIL. Lei no 12.318, de 26 de agosto de 2010. Diário Oficial [da] União, Brasília,
DF, 27 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2010/Lei/L12318.htm>. Acesso em: 17 jun. 2011.
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VII - mudar o domicílio para local direito contextualizar aquilo que já


distante, sem justificativa, visando a ocorria na prática e que os preocupava
dificultar a convivência da criança ou
face à dificuldade de demonstração
adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avôs. aos juízes. Joel R. Brandes bem afirma
que os Tribunais de Família de Nova
O termo Alienação Parental Iorque não discutem a Síndrome da
surgiu com o Psiquiatra e Psicanalista Alienação Parental como uma teoria,
Richard Gardner em 1985 5, através mas sim consideram a questão no que
de um estudo feito sobre a Síndrome diz respeito ao fato que a determina
da Alienação Parental, a partir da como sendo um fator para alteração
observação de que era uma prática da guarda. 7
comumente utilizada nas disputas Richard Ducote, advogado de
judiciais de guarda pelos pais, que com Nova Orleans (LA), nos Estados
a clara intenção de beneficio próprio Unidos, acredita que a teoria de
programavam os filhos a odiarem o Gardner é falsa, e seria pró-pedofilia,
outro genitor sem justificativa.6 Embora além de não ser aceita pela comunidade
haja quem duvide da cientificidade científica. O que se destaca em seu
dos seus estudos, os conceitos comentário é o fato de que a alegação
por ele trazidos se perpetuaram e da Síndrome prejudicaria a ação em
oportunizaram aos profissionais do face de reais casos de abuso sexual. 8

5 KRAUSS, Daniel A.; Lieberman, Joel. D. Psychological Expertise in Court:


psychology in the courtroom, v. II. United States: Ashgate, 2009. p. 113.
6 LAGO, Vivian de Medeiros; BANDEIRA, Denise Ruschel. A Psicologia e as
Demandas Atuais do Direito de Família. Psicologia Ciência e Profissão, Porto Alegre,
29 (2), p. 290-305, 2009. p. 295.
7 "The Family Court acknowledged that New York cases have not discussed PAS as a
theory, but have discussed the issue in terms ofwhether the child has been programmed
to disfavor the noncustodial parent, thus warranting a change in custody." (BRANDES,
Joel R .. Parental Alienation. New York Joumal, New York, 26 mar. 2000. Disponível
em: <http://www.fact.on.ca/Info/pas/brandeOO.htm#FN4>. Acesso em: 1 jul. 2011.
8 DUCOTE, Richard. A comment about Dr. Richard Gardner's suicide released by
the last manto cross examine him, attomey Richard Ducote. Site Cininnatipas.com.
Jun. 2003. Disponível em: <http://cincinnatipas.com/dr-richardgardnerautopsy.html>
Acesso em: 23 jun. 2011.
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O que seria de certo modo radical perspectiva ideológica que é


porque apesar da síndrome não ser extremamente estreita. A colaboração
reconhecida pela sociedade científica de Richard Gardner com a cunhagem
de psiquiatria, nos Estados Unidos, o do termo (Alienação Parental) e os
fato ocorre e tem atenção do Tribunal conceitos trazidos pelo estudo da
de Nova Iorque conforme afirma Joel síndrome despertaram a comunidade
R. Brandes9 em artigo sobre o assunto jurídica brasileira para um problema
publicado no New York Journal, de 26 também existente no país, e constatado
de março de 2000. 10 como delicado e de dificil resolução.
Estes tipos de críticas refletem O que provocou a publicação da Lei
o pensarnento equivocado, uma n° 12.318/2010.

9 O mencionado autor diz: "ln Matter of JF v. LF, [694 NYS2d 592, 1999 N.Y. Slip
Op. 99408] the Family Court became the first New York court to discuss PAS [Parental
Alienation Syndrome] at length in a custody decision. It pointed out that the theory is
controversial, and noted that according to one of the expert witnesses who testified, the
syndrome is not approved as a term by the American Psychiatric Society, and it is not
in DSM-IV as a psychiatric diagnosis." (BRANDES, Joel R .. ParentalAlienation. New
York Joumal, New York, 26 mar. 2000. Disponível em: <http://www.fact.on.ca/Info/
pas/brandeOO.htm#FN4>. Acesso em: 01 jul. 2011.).
1O A Ph. D Reena Sommer, em artigo publicado em meio eletrônico, confirma tal
raciocínio, complementando que o conteúdo da pesquisa de Richard Gardner tem
sido objeto de validação pelo meio acadêmico e que aqueles que entendem seu estudo
de maneira negativa, como uma defesa à pedofilia, tem, nas suas palavras, uma
perspectiva ideológica estreita e resistente à razão: "[ ... ] Dr. Gardner's early writings
are now supported by empirical research on PAS conducted by numerous academics,
thus adding credence to PAS's validity and existence. Nevertheless, there are some who
have chosen to misinterpret Dr. Gardner's writings by suggesting that he advocated
pedophilia and placing children at risk with their abusers. This clearly is not true since
Dr. Gardner stipulates in his papers that allegations of abuse that are frequently made
in custody disputes must have no prior history, nor upon investigation are they to be
found to have any basis. These types of criticisms are reflective of misguided thinking,
ignorance and an ideological perspective that is extremely narrow and resistant to
reason. " (SOMMER, Reena. Parental Alienation Syndrome. Divorcing Mistakes.com,
Texas, 2004. Disponível em: <http://www.divorcingmistakes.com/articles/PASreview.
pdt>. Acesso em 01 jul. 2011.).
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O Tribunal do Rio Grande do possibilidade de se estar frente à hi-


Sul, desde 2006 tem precedentes a pótese da chamada síndrome da alie-
respeito do assunto, li seguem alguns nação parental. Negado provimento.
(SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo
deles, anteriores à Lei:
de Instrumento N° 70015224140,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de
GUARDA. SUPERIOR INTERES-
Justiça do RS, Relator: Maria Bere-
SE DA CRIANÇA. SÍNDROME
nice Dias, Julgado em 12/07/2006)
DA ALIENAÇÃO PARENTAL.
(grifou-se).
Havendo na postura da genitora in-
dícios da presença da síndrome da APELAÇÃO CÍVEL. MÃE FA-
alienação parental, o que pode com- LECIDA. GUARDA DISPUTADA
prometer a integridade psicológica PELO PAI E AVÔS MATERNOS.
da filha, atende melhor ao interesse SÍNDROME DE ALIENAÇÃO
da infante, mantê-la sob a guarda PARENTAL DESENCADEADA
provisória da avó paterna. Negado PELOS AVÔS. DEFERIMENTO
provimento ao agravo. (segredo de DA GUARDA AO PAI. 1. Não me-
justiça) (Agravo de Instrumento· N° rece reparos a sentença que, após o
70014814479, Sétima Câmara Cível, falecimento da mãe, deferiu a guar-
Tribunal de Justiça do RS, Relator: da da criança ao pai, que demonstra
Maria Berenice Dias, Julgado em reunir todas as condições necessárias
07 /06/2006) (grifou-se). para proporcionar à filha um ambien-
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMI- te familiar com amor e limites, neces-
LIAR. ABUSO SEXUAL. SÍNDRO- sários ao seu saudável crescimento.
ME DA ALIENAÇÃO PAREN- 2. A tentativa de invalidar a figura
TAL. Estando as visitas do genitor à paterna, geradora da síndorme de
filha sendo realizadas junto a serviço alienação parental, só milita em
especializado, não há justificativa desfavor da criança e pode ensejar,
para que se proceda à destituição do caso persista, suspensão das visitas
poder familiar. A denúncia de abuso aos avôs, a ser postulada em processo
sexual levada a efeito pela genitora, próprio .. NEGARAM PROVIMEN-
não está evidenciada, havendo a TO. UNÂNIME. (Apelação Cível No

11 Precedentes localizados no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul através


da pesquisa de jurisprudência pelo termo "alienação parental". Disponível em: <http://
www1.tjrs.jus.br/busca/?q=aliena%E7%E3o+parental&tb=jurisnova&pesq=ementari
o&partialfields=%28TipoDecisao%3Aac%25C3%25B3rd%25C3%25A3o%7CTipoD
ecisao%3Amonocr%25C3%25A 1tica%29&requiredfields=&as_ q=&ini=20> Acesso
em: 01 jul. 2011.
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70017390972, Sétima Câmara Cível, MENTO. (Agravo de Instrumento N°


Tribunal de Justiça do RS, Relator: 70028169118, Sétima Câmara Cível,
Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado Tribunal de Justiça do RS, Relator:
em 13/06/2007) (grifou-se). André Luiz Planella Villarinho, Jul-
AGRAVO DE INSTRUMEN- gado em 11103/2009) (grifou-se).
TO. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE Os precedentes colacionados re-
GUARDA DE MENOR. DECISÃO velam alguns pontos importantes: a
QUE RESTABELECEU AS VISI- alienação já ocorria, mesmo antes do
TAS PATERNAS COM BASE EM advento da lei, normalmente em pro-
LAUDO PSICOLÓGICO FAVORÁ- cessos de guarda, sendo observados
VEL AO PAI. PREVALÊNCIA DOS
pelos juízes na busca pelo melhor in-
INTERESSES DO MENOR. Ação
teresse da criança.
de alteração de guarda de menor em
Lenita Duarte, 12 psicóloga, afirma
que as visitas restaram reestabeleci-
das, considerando os termos do laudo que a ocorrência da alienação se
psicológico, por perita nomeada: pelo dá normalmente em decorrência de
Juízo, que realizou estudo nas partes processos de divórcio que geram
envolvidas. Diagnóstico psicológico desgaste muito grande, mas ao
constatando indícios de alienação mesmo tempo respostas diferentes
parental no menor, em face da con- de pais e filhos. Para a autora a
duta materna. Contatos paterno- questão complica quando um dos
filiais que devem ser estimulados ex-cônjuges reagem de forma hostil,
no intuito de preservar a higidez fí-
com violência (ainda que não física),
sica e mental da criança. Princípio
e passam a inviabilizar a relação de
da prevalência do melhor interesse
parentalidade do outro com o filho,
do menor, que deve sobrepujar o
dos pais. NEGARAM PROVIMEN-
que acaba por tomar-se uma arma
TO AO AGRAVO DE INSTRU- de vingança, num momento em que,

12 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Qual a posição da criança envolvida em denúncias


de abuso sexual quando o litígio familiar culmina em situações de alienação parental:
inocente, vítima ou sedutora?. ln: _ _. Incesto e Alienação Parental- realidades que
a Justiça insiste em não ver. Coordenação de Maria Berenice Dias. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010, p. 104.
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em meio à discussão dos pais, se vê "A síndrome da alienação parental


confuso e inseguro. deve ser vista como uma moléstia.
De acordo com o advogado Em muitas situações o alienador
não tem consciência plena do mal
Euclides de Oliveira 13 a complicação causado. Sua intenção é mais do que
de um processo de divórcio se dá denegrir, destruir o outro genitor
mais precisamente no que diz respeito perante os filhos. Se necessário, o
à guarda e convivência, pois em não juiz determinará realização de perícia
havendo filhos a discussão recai sobre psicológica ou biopsicossocial (art.
5° da Lei n° 12.318/2010). A escolha
o patrimônio.
do profissional capacitado para essa
Nesse sentido é possível perícia será essencial, podendo ser
depreender-se que, quando não há realizada por equipe multidisciplinar.
filhos o processo, por mais que seja Psicólogos, psiquiatras, pedagogos,
doloroso e dificultado, não demanda assistentes sociais poderão participar
do exame. Provada a existência de
a convivência prolongada do casal,
desvio psicológico, essa sociopatia
como ocorre no caso de haver filhos é sumamente prejudicial para os
comuns. A própria manutenção , do filhos e o genitor inocente."
vínculo de parentalidade prolonga o
sentimento de perda, porque faz com Usar o filho, como instrumento de
que o convívio entre os ex-cônjuges agressão, o induzindo a odiar o outro
seja de certa forma inevitável, e, genitor, denota a imaturidade em
dependendo do caso, pode gerar um lidar com fatos normais à realidade
desejo de vingança, como detectado atual, como é o caso da separação. A
pela psicóloga Lenita Duarte no texto criança e o adolescente nem sempre
mencionado acima. conseguem discernir que está sendo
Sílvio de Salvo Venosa confirma manipulado. Além de que o alienador
essa ideia de que a alienação é um mal se esquece de que a criança ou o
que pode ser prejudicial tanto para os adolescente ainda estão em processo
filhos quanto para o genitor alienado: de desenvolvimento e, portanto, são

13 OLIVEIRA, Euclides de. Alienação Parental. ln: III CONGRESSO BRASILEIRO


DE DIREITO DE FAMÍLIA- Família e Responsabilidade: teoria e prática do direito
de família, 7 ., 2009, Belo Horizonte. Anais... Porto Alegre: Magister/IBDFAM, 201 O,
p. 231.
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indivíduos frágeis, não se devendo a tutelá-las, ampliando a sua proteção,


exigir deles que escolham nas suas mesmo sem acompanhar exatamente
relações de afeto, principalmente o ritmo da evolução social, mais
quando se fala de pai e mãe. 14 acelerada que a legislativa. 15
A relação da criança e do
adolescente com a família, seu núcleo 2.1 A tutela da família nas
familiar (pai e mãe, por exemplo), Constituições Federais
é de extrema relevância para a sua
formação como indivíduo dentro da Só as Constituições de 1934, 193 7
sociedade. Se há um mal ocorrendo e 1946, das sete anteriores à de 1988,
dentro deste, mais do que nunca reservaram espaço para a família,
o jurista precisa observar todo o porém as disposições diziam respeito
delineamento do problema sobre fundamentalmente ao instituto do
diferentes óticas. Nesse sentido, é casamento do que propriamente
preciso tirar um pouco o focq no às garantias concedidas aos seus
estudo do instituto da Alienação, para integrantes. Aquela que chegou mais
visualizar a criança, dentro do seio próximo de constitucionalizar alguma
familiar, e os seus direitos. garantia decorrente da constituição
familiar foi a de 193 7, que falava sobre
o dever dos pais de educar os filhos,
2AFAMÍLIA fossem eles naturais ou legítimos,
e a possibilidade de punição pelo
Os conceitos relativos à família abandono moral, intelectual ou tisico.
sofrem constantemente modificação, Vejam-se os artigos:
tanto que ao longo dos anos esta
evolução foi ganhando plano nas Art 125 - A educação integral da
prole é o primeiro dever e o direito
Constituições. Aos poucos as relações natural' dos pais. O Estado não será
familiares foram sendo abarcadas estranho a esse dever, colaborando,
pelo texto constitucional, que passou de maneira principal ou subsi-

14 PEZZELLA, Maria Cristina Cereser; SILVA, Femanda Pappen da. Os Seres Sujeitos
de Direitos em Família. ln: SILVA FILHO, José Carlos Moreira da; PEZZELLA, Maria
Cristina Cereser (coords.). Mitos e Rupturas no Direito Civil Contemporâneo. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 350.
15 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 17.
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diária, para facilitar a sua execução A Constituição de 1946 tratou em


ou suprir as deficiências e lacunas da seu art. 164 da obrigatoriedade de
educação particular.
assistência à infância e adolescência,
Art 126 - Aos filhos naturais, mas não especificou garantia aos filhos.
facilitando-lhes o reconhecimento,
De acordo com Leonardo Barreto
a lei assegurará igualdade com os
legítimos, extensivos àqueles os Moreira Alves: 16 "Até o advento
direitos e deveres que em relação a da Constituição Federal de 1988,
estes incumbem aos pais. o conceito jurídico de família era
Art 127 - A infância e a juventude extremamente limitado e taxativo,
devem ser objeto de cuidados e pois o Código Civil de 1916 somente
garantias especiais por parte do conferia o status familiae àqueles
Estado, que tomará todas as medidas
agrupamentos originados do instituto
destinadas a assegurar-lhes condições
fisicas e morais de vida sã e de do matrimônio."
harmonioso desenvolvimento das Foi, então, com a Constituição
suas faculdades. Federal de 1988 que a revolução do
O abandono moral, int~lectual ou Direito de Família teve seu marco,
fisico da infância e da juventude através do reconhecimento da
importará falta grave dos res- família aberta e plural - advinda do
ponsáveis por sua guarda e educação, casamento, da união estável ou da
e cria ao Estado o dever de provê-
monoparentalidade. 17 Além disso,
las do conforto e dos cuidados
ela também consagrou o princípio da
indispensáveis à preservação fisica
e moral. igualdade entre homens e mulheres
Aos pais miseráveis assiste o direito e reconheceu a igualdade entre os
de invocar o auxílio e proteção do filhos (arts. 5°, inciso I, e 227, § 6°
Estado para a subsistência e educação da Constituição Federal de 1988)
da sua prole. independentemente de sua origem. 18

16 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Temas A tuais de Direito de Família- atualizado


de acordo com as leis de números 12.004/09 e 12.010/09. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 1.
17 THOMÉ, Liane Maria Busnello. Dignidade da pessoa humana e mediação familiar.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 201 O, p. 17.
18 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2008, p. 3.
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2.2 Breve histórico dos filhos e importava ao direito. 20 A formação


da família familiar de Roma não era restrita à
consanguinidade, assim é importante
Num panorama, vale lembrar transcrever o que diz o Professor
que os filhos, até a Constituição de Doutor Carlos Silveira Noronha21 a
1988, possuíam direitos restritos, respeito da família romana:
e, antes, sequer direitos tinham. Na
Antiguidade Clássica, em Roma, O paterfamilias, que unificava sob
por exemplo: sua autorictas todos os membros
da família, desfrutava em relação a
eles de direitos de ordem e de ordem
[... ] o pater dispunha sobre o filho do
patrimonial, tais como a patria
desumano jus vitae et necis, direito
potestas ou o poder sobre os filhos
de vida e morte, portanto, o direito de
matá-lo, ou de transferi-lo a outrem in e netos masculinos; a manus ou o
causa mancipi e o de entregá-lo como poder sobre as mulheres casadas com
indenização, mediante ius • ,noxae o pater ou com seus descendentes;
dandi. No âmbito patrimonial, o' filho o mancipium ou o poder sobre as
era equiparado ao escravo, servus, pessoas a ele vendidas como escravos
sem qualquer bem patrimonial, (in mancipi); e ainda, a dominica
pois tudo que por ele era adquirido potes tas, que era o poder geral sobre os
integrava o patrimônio do pater. 19 escravos. Sobre os seus dependentes
ou fi/ii familias, o pater tinha o ius
Além disso, nessa mesma vitae et necis, o ius exponendi, o ius
vendendi e o ius noxae dandi, ou
Roma, da Antiguidade Clássica, o
sejam, respectivamente, os direitos
princípio da família não era o afeto, de vida e de morte; de abandonar o
que, embora pudesse existir, não filho infante; de vender as pessoas

19 NORONHA, Carlos Silveira. Da instituição do Poder Familiar, em perspectiva


histórica, moderna e pós-moderna. Revista da Faculdade de Direito da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, n° 26, p. 89- 120, dez.
2006, p. 90.
20 NORONHA, op. cit., p. 97.
21 NORONHA, Carlos Silveira. Conceito e fundamentos de família e sua evolução na
área jurídica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: UFRGS, no 10, p. 161- 174, jul. 1994, p. 163.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011 155

sob o seu poder; de livrar-se do filho [... ] A patria potes tas dos Romanos
que comete delito; abandonando-o era dura criação de direito despótico,
em favor das parte lesada, através da e não tinha correlação com os
noxae delitio. Estes poderes (direitos) deveres do pai para com o filho. É
do pater foram sendo amenizados, certo que existiam deveres, porém
com o passar dos tempos, sendo os esses quase só eram providos da
dois últimos finalmente abolidos no moral. Juridicamente, a patria
período imperial, por Justiniano, sob potesta constituía espécie de direito
a influência da ética cristã. de propriedade.[ ... ]

Sob essa mesma ótica Jorge Com a evolução do direito de


Shiguemitsu Fujita lembra o que família o modelo familiar foi se
Caio Mário da Silva Pereira disse: "A alterandQ até alcançar o que se tem
família romana, chefiada pelo pater
atualmente: pais e filhos, e a que se
familias, ao invés de se fundar no
chama de família nuclear, célula
princípio ético da afeição, era calcada
básica da sociedade, mais coesa e
no princípio da autoridade. " 22
unida pelo afeto, não mais calcada na
A grande autoridade que o chefe de
autoridade do pai. O Professor Doutor
família possuía apenas demonstrava a
Carlos Silveira Noronha24 muito bem
pouca ou nenhuma autonomia que os
observou que:
demais membros da família tinham.
O reconhecimento de direitos à
[... ] Nenhuma dúvida mais pode
época, portanto, vislumbrava garantir
residir no sentido de que a grande
a autoridade e patrimonialidade do ou numerosa família reunida sob
pater, porque nele estava fundada o regime da agnatio romana ou da
a família. Pontes de Miranda23 sippe do direito germânico, não tem
complementa tal ideia dizendo que: mais espaço no mundo moderno,

22 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Reconhecimento de paternidade e seus efeitos. 5.


ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 8 apudFUJITA, 2009, p. 13.
23 PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado - Parte Especial - Tomo IX
-Direito de Família: Direito parental. Direito Protetivo. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1974, p. 106.
24 NORONHA, Carlos Silveira. Conceito e fundamentos de família e sua evolução na
área jurídica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: UFRGS, no 1O, p. 161 - 174, jul. 1994, p. 168.
156 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

onde surge a família conjugal, Embora no conceito exposto


ou a família nuclear, centrada pelo autor haja a determinação da
na tríade pai-mãe-filho, que vem aproximação entre os dois sexos,
substituindo a ideia de autoridade
homem e mulher, como uma remessa
pela do companheirismo solidário
e da afetividade. Sob o enfoque à família tradicional, formada pelo
do respeito e sobrelevação casamento, é importante destacar
dos direitos humanos que as que atualmente a família tem outras
codificações políticas modernas constituições, quais sejam:
vêm consagrando [... ] eis que deve
a família preparar-se para enfrentar [... ] monoparental (um dos pais e
conjuntamente os embates acima sua prole, ainda advinda da adoção ),
denunciados, que lhe são impostos mosaico (é a família monoparental
pela nova realidade social neste passo que passa a ter um novo membro,
vigente. (grifou-se) madrasta ou padrasto, por exemplo),
anaparental (constituída por uma
Na mesma linha de pensamento é ou mais pessoas, sendo ou não
o que diz Clóvis Beviláqua: 25 parentes entre si, estruturadas
com um propósito familiar), ou
Os fatores de constituição da família homoparental (resultante de relações
são: em primeiro lugar, o instinto homoafetivas) [... ]. 26
genesíaco, o amor, que aproxima os
dois sexos; em segundo, os cuidados Assim, sob esta nova ótica da
exigidos para a conservação da família:
prole, que tomam mais duradoura a [... ] A tutela jurídica ultimamente
associação do homem e da mulher, e tem sido direcionada no sentido
que determinam o surto de emoções de resguardar a entidade familiar,
novas, a filoprogênie e o amor filial, considerando sua subjetividade,
entre procriadores e procriados, promovendo efetivamente a dignidade
emoções essas que tendem todas a individual de seus membros, sempre
consolidadar a associação familiar. permeado pela figura principal do

25 BEVILAQUA, Clovis. Direito da Família. 7. ed. São Paulo: Editora Rio, 1976. p.17.
26 SOUZA, Monaliza Costa de et al. O papel do advogado na alienação parental. ln:
_ _ .Família contemporânea: uma visão interdisciplinar. Coordenação de Ivone M.
Candido Coelho de Souza. Porto Alegre: IBDFAM: Letra&Vida, 2011, p. 169.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 157

afeto, e baseados na solidariedade e e educar os filhos, formando-os e


na mútua assistência. 27 robustecendo-os para a sociedade e a
vida. A expressão 'poder' tem sentido
O que Clóvis Beviláqua afirma de exteriorização do querer, não de
imposição e violência[ ... ].
no trecho mencionado anteriormente
é um dos pontos-chave que este
É nesse sentido que Leonardo
estudo quer destacar, a respeito da
Barreto Moreira Alves29 , a respeito
importância na constituição familiar
da evolução da família, assevera que
estar formada em tomo da intenção do
"[ ... ] a família advinda da Constituição
casal de viver junto, para compartilhar
Federal de 1988 tem o papel único e
e praticar o amor que sentem, bem
específico de fazer valer, no seu seio,
como para terem filhos e cuidarem
a dignidãde dos seus integrantes como
dos mesmos juntos. Parece subjetivo forma de garantir a felicidade pessoal
mas isso quer dizer que ao se propor de cada um deles."
a constituir uma família, com 04 sem O mesmo autor colabora com
filhos, os indivíduos que componham o entendimento de que com a
a mesma se dispõem a viver mediante Constituição Federal de 1988 o
respeito e cuidado, é como a missão conceito de família sofreu profundas
mencionada Pontes de Miranda28 no alterações. Isso se deu através de
trecho de sua obra abaixo transcrito: alguns princípios que a Carta Magna
trouxe, sejam eles: o princípio do
O pátrio poder moderno é conjunto
reconhecimento da união estável (art.
de direitos concedidos ao pai ou à
própria mãe, a fim de que, graças 226, § 3°) e o princípio da família
a eles, possa melhor desempenhar monoparental (art. 226, § 4°), que,
a sua missão de guardar, defender nas palavras do autor, quebraram

27 Idem, ibidem.
28 PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado - Parte Especial - Tomo IX
-Direito de Família: Direito parental. Direito protetivo. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1974, p. 106-107.
29 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Temas A tua is de Direito de Família- atualizado
de acordo com as leis de números 12.004/09 e 12.010/09. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 99.
158 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

o monopólio do casamento como fonte de produção de riqueza como


único legitimador da família. Além outrora. É o âmbito familiar o local
do princípio da dignidade da pessoa mais propício para que o indivíduo
venha a obter a plena realização da
humana (art. 1°, inc. III), que trouxe
sua dignidade enquanto ser humano,
a promoção pessoal dos componentes porque o elo entre os integrantes
da entidade familiar, preconizando, da família deixa de ter cono-
por isso, o afeto sobre a antiga tação patrimonial para envolver,
constituição familiar com base na sobretudo, o afeto, o carinho, amor
constituição jurídica. 30 E complementa e a ajuda mútuaY
dizendo que:
Ou seja, com o tempo a família
Consubstanciando o princípio vetor foi adquirindo um espaço diferente na
da dignidade da pessoa humana no seu sociedaâe, em que a importância do
art. 1°, III, a Carta Magna provocou seu patrimônio foi sendo substituída
uma autêntica revolução no Direito
pela de cada um de seus membros.
Civil como um todo, dando ensejo
a um fenômeno conhecido ··como O ser humano, hoje, assim como vê
despatrimonialização ou persona- a concepção eudemonista32 , busca
lização desse ramo do Direito. No a felicidade e a liberdade em suas
campo específico do Direito de relações, não cabendo mais aquela
Família, verifica-se que a entidade
figura familiar que juntava esforços
familiar passa a ser encarada como
uma verdadeira comunidade de afeto para uma conquista primordial-
e entreajuda e não mais como uma mente econômica. 33

30 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Temas A tua is de Direito de Família- atualizado


de acordo com as leis de números 12.004/09 e 12.010/09. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010, p. 1-2.
31 ALVES, op. cit., p. 8-9.
32 FACHIN, Luiz Edson. As Intermitências da Vida- O Nascimento dos Não-Filhos à
Luz do Código Civil Brasileiro. la ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
33 É importante destacar que não se tem a pretensão, aqui, de dizer que todas as
disposições legais patrimoniais deveriam ser substituídas. As disposições a respeito da
sucessão, de ordem patrimonial, por exemplo, são necessárias à própria organização
social. O que há de se observar é a preocupação que se modificou ao longo dos anos
em substituir o objetivo patrimonial da constituição familiar, pelo objetivo maior do
afeto. As uniões, em sua maioria, ocorrem fundadas no objetivo de conjugação de vida,
de troca afetiva, de busca pela felicidade. É o que se entende com base na leitura dos
autores mencionados nessa pesquisa.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 159

Isso demonstra o porquê de nos aqueles relevantes ao entendimento


últimos anos ter-se discutido tanto do assunto em estudo.
problemas que já ocorriam há muito,
mas que ainda não eram vistos com
tanta relevância e preocupação como 3 OS PRINCÍPIOS DO
o são na atualidade, como é o caso DIREITO DE FAMÍLIA
da alienação parental. Seja porque COM RELAÇÃO AOS
a família de hoje tem resguardada a FILHOS (CRIANÇAS OU
dignidade de seus indivíduos, porque ADOLESCENTES)
os filhos têm garantias e direitos
iguais aos dos pais (observadas as Por tratar-se a alienação de
suas peculiaridades), ou porque a problema que afeta diretamente
criança hoje é vista como um sujeito a criança ou adolescente, no seio
de direitos garantidos pelo Estatuto familiar, até o momento vem se
da Criança e do Adolescente. É o, que delineando o conteúdo da família
destaca o trecho a seguir: e dos seus componentes. Assim, é
importante lembrar que a própria
Nesse contexto histórico, a criança Constituição Federal de 1988 trouxe
despontou como sujeito de direitos em seu texto um capítulo dedicado
e, consequentemente, seus interes- à família, à criança, ao adolescente,
ses passaram a ser priorizados, po-
ao jovem e ao idoso (arts. 226 a
dendo, inclusive, contrapor-se aos
interesses de seus genitores, uma 230), sinal efetivo da preocupação
vez que a primazia é pelo bem-estar do Estado, principalmente com
da criança. 34 (grifo nosso). os membros mais frágeis dessa
entidade. O art. 226 em seu § 7° da
É sob esses aspectos da vida em Carta Magna cita dois princípios de
comum que a Constituição de 1988 suma importância quando o assunto
estabeleceu princípios que norteiam é criança e adolescente: o princípio
tal convivência, seguem, portanto, da dignidade da pessoa humana

34 PEZZELLA, Maria Cristina Cereser; SILVA, Fernanda Pappen da. Os Seres Sujeitos
de Direitos em Família. ln: SILVA FILHO, José Carlos Moreira da; PEZZELLA, Maria
Cristina Cereser (coords.). Mitos e Rupturas no Direito Civil Contemporâneo. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 325.
160 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

(aplicado a todos os indivíduos) te fático hipotético necessariamente


e o da paternidade responsável. indetermina e aberto" dependente
Mas existem outros que podem ser do intérprete, no caso o juiz, diferen-
extraídos do texto Constitucional, te da regra "determinada e fechada"
como por exemplo os destacados no concretizada por uma realidade que
art. 227, os princípios: da liberdade leva à sua incidência. O autor diz,
(caput), da convtvencia familiar in verbis:
(caput), da igualdade de filiação(§ 6°)
e o princípio da solidariedade familiar Ainda que não seja este o espaço
no art. 229. para se discorrer sobre esses temas,
amplamente discutidos no âmbito do
Na atualidade os princípios têm
direito constitucional e da teoria do
grande papel no direito, são eles que direito, perfilhamos o entendimento
aproximam as normas existentes da de que as normas constitucionais,
realidade social. Bem colocou o todas com força normativa própria,
advogado Sérgio Gabriel quando classificam-se em princípios e regras,
disse que: "O termo princípio, em distinguindo-se por seu conteúdo
regra, parece designar o começo semântico e, consequentemente, pelo
modo de incidência e aplicação. A
ou início de alguma coisa, porém,
regra indica suporte fático hipotético
em termos jurídicos, é muito (ou hipótese de incidência) mais
mais amplo; o princípio quer na determinado e fechado, cuja
verdade alicerçar uma estrutura, concretização na realidade da vida
garantir a sua existência e a sua leva à sua incidência, confirmando-a
aplicabilidade. [ ... ]". 35 o intérprete mediante o meio
Cabe destacar as esclarecedoras tradicional da subsunção (exemplo,
na CF: 'Art. 226, (§ 4°: Entende-se,
palavras de Paulo Lôbo 36, que, com-
também, como entidade familiar a
plementando a explanação acerca da comunidade formada por qualquer
importância dos princípios constitu- dos pais e seus descendentes'; ou
cionais, os classifica como "supor- seja, toda vez que uma pessoa passa

35 GABRIEL, Sérgio. O papel dos princípios no Direito brasileiro e os princípios


constitucionais. Jus Vigilantibus, São Paulo, 23 jul. 2007. Disponível em: <http://jusvi.
com/artigos/29789>. Acesso em: 07 jul. 2011.
36 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 57.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 161

a conviver com um filho, seja ele a ponderação dos interesses


biológico ou não biológico, ainda legítimos e valores adotados pela
que sem a companhia de cônjuge comunidade em geral. 37 (grifou-se)
ou companheiro, a regra incidirá
para assegurar a constituição de uma O que Paulo Lôbo coloca tem
entidade familiar; em outras palavras,
grande interesse no estudo, porque
a norma constitucional incidirá sobre
esse suporte fático concreto e o reafirma qual postura o juiz deve ter
converterá no fato jurídico por ela mediante um caso, por exemplo de
previsto, que passará a produzir os alienação parental. Ele, o juiz, ao
efeitos jurídicos por ela tutelados). receber petição que indica a ocorrência
(grifou-se). de alienação, a priori observará as
situaçõe_s fáticas concretas conforme
E segue dizendo que: os dispositivos da Lei no 12. 318/20 11
que orientam quais as ações que
O princípio, por seu turno,
indica suporte fático hipot~tico configuram a possibilidade de
necessariamente indeterminado' e ocorrência de alienação parental, em
aberto, dependendo a incidência seguida ele parte para a avaliação dos
dele de mediação concretizadora princípios envolvidos, para garantir
do intérprete, por sua vez orientado
que todos os envolvidos tenham seus
pela regra instrumental da equidade,
entendida segundo formulação grega direitos fundamentais garantidos.
clássica, sempre atual, de justiça do Nesse sentido, é importante
caso concreto. Tome-se o exemplo destacar alguns princípios do Direito
do princípio da dignidade da pessoa de Família que reforçam as garantias
humana, referido expressamente
da criança e do adolescente frente
no § 7° do art. 226 da Constituição:
o casal é livre para escolher seu à ocorrência de atos de Alienação
planejamento familiar, mas deve Parental, são eles os princípios
fazê-lo em obediêucia ao princípio da: dignidade da pessoa humana,
da dignidade da pessoa humana, solidariedade familiar, liberdade,
cuja observância confirmará
o intérprete apenas em cada
igualdade de filiação, afetividade,
situação concreta, de acordo com convivência familiar, e do melhor
a equidade, que leva em conta interesse da criança e do adolescente.

37 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 58.
162 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

Não há como analisar princípio apenas uma demonstração de que


por princípio sem considerar que eles há um modelo ideal abarcado pelos
estão todos correlacionados, e que princípios do Direito de Família e
através desta correlação é que eles que dentro disso algumas atitudes
formam um sistema equilibrado, que legais podem ser tomadas sob esta
garante que a família seja um campo ótica. Seguem, portanto, algumas
seguro para os seus componentes. considerações acerca dos princípios
Isso significa, de modo geral, que não mencionados.
há família se não há uma motivação
afetiva para sua formação, decorrendo 3.1 Princípio da Dignidade da
desta a solidariedade entre os seus Pessoa Humana
membros, a quem é deferido pelo
texto constitucional liberdade e O princípio da dignidade da
igualdade, sem deixar de considerar as pessoa humana faz parte do rol de
suas desigualdades 38 , tudo sob a. ótica princípios fundamentais da República
de que todo cidadão merece ter· sua Federativa do Brasil, como Estado
dignidade respeitada, pelos demais Democrático de Direito, estando
e pelo Estado. É claro que dizer isto presente no art. 1o, inciso III, da
não é garantia de efetividade, mas Constituição Federal de 1988. 39

38 No caso das crianças e dos adolescentes, por exemplo, essa desigualdade se refere
ao fato de estes serem pessoas em desenvolvimento.
39 O artigo da Constituição de 1988 em referência diz o seguinte:
Art. 1o A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I- a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 163

Ainda assim o constituinte nitária, além de colocá-los a salvo


entendeu por bem reforçar tal de toda forma de negligência,
princípio nas disposições relativas à discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (Redação
família, considerada por ele mesmo
dada Pela Emenda Constitucional no
com a base da sociedade, deixando-o 65, de 2010).
claro nos dispositivos a seguir:
[... ]

Art. 226. A família, base da sociedade, Art. 230. A família, a sociedade e


tem especial proteção do Estado. o Estado têm o dever de amparar
as pessoas idosas, assegurando
[... ]
sua participação na comunidade,
§ 7° - Fundado nos princípios defendendo sua dignidade e bem-
da dignidade da pessoa humana estar e garantindo-lhes o direito à vida.
e da paternidade responsável, o
§ 1õ - Os programas de amparo
planejamento familiar é livre decisão
aos idosos serão executados prefe-
do casal, competindo ao Estado
rencialmente em seus lares.
propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse § 2° - Aos maiores de sessenta e
direito, vedada qualquer forma cinco anos é garantida a gratuidade
coercitiva por parte de instituições dos transportes coletivos urbanos.
oficiais ou privadas.
§ 8° - O Estado assegurará a A família tem sua proteção como
assistência à família na pessoa um todo. A cada um de seus membros
de cada um dos que a integram, é designado tratamento digno.
criando mecanismos para coibir a Contudo, é possível observar que à
violência no âmbito de suas relações.
criança, ao adolescente e ao idoso a
Art. 227. É dever da família, da
preocupação é especial e mereceu
sociedade e do Estado assegurar
disposições específicas. É também
à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o que destaca Maria Helena Diniz4°,
o direito à vida, à saúde, à quando menciona
alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à que constitui [o princípio do respeito
dignidade, ao respeito, à liberdade à dignidade da pessoa humana] base
e à convivência familiar e comu- da comunidade familiar (biológica ou

40 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5: Direito de Família. 25.
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 23.
164 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

socioafetiva), garantindo, tendo por princípio é, senão o mais, um dos


parâmetro a afetividade, o pleno de- mais abrangentes.
senvolvimento e a realização de todos Mazzoni e Marta42 destacaram tal
os seus membros, principalmente da princípio como "valor supremo"43 ,
criança e do adolescente (CF, art. abarcando em si outros princípios,
227). (grifou-se).
o que colabora com o entendimento
emitido no parágrafo anterior. As au-
Para a Liane Maria Busnello toras, ainda, muito bem lembraram o
Thomé41 : "o conteúdo do princípio art. 1o da Declaração dos Direitos do
constitucional da dignidade da pessoa Homem e do Cidadão, proclamada
humana se relaciona com os direitos pela Organização das Nações Unidas
fundamentais, significando que, de 1948: "Todos os homens nascem li-
para respeitar a dignidade da pessoa vres e iguais em dignidade e direitos".
humana, é necessário respeitar os O texto atual, seguindo a evolução,
direitos fundamentais dos indivíduos deixou de falar em homens e substituiu
[... ]", clara demonstração de que tal a expressão para "seres humanos"44 •

41 THOMÉ, Liane Maria Busnello. Dignidade da pessoa humana e mediação familiar.


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 47.
42 MAZZONI, Renata Mariana de Oliveira; MARTA, Taís Nader. Síndrome da
Alienação Parental. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões. Porto
Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM, 2007, ano XIII, no 21, bimestral abr/mai
2011, p. 34-35.
43 Tratar o princípio da dignidade humana como valor supremo: "Significa dizer que,
no âmbito da ponderação de bens ou valores, o princípio da dignidade da pessoa humana
justifica, ou até mesmo exige, a restrição de outros bens constitucionais protegidos,
ainda que representados em normas que contenham direitos fundamentais, de modo
a servir como verdadeiro e seguro critério para solução de conflitos" (MAZZONI,
Renata Mariana de Oliveira; MARTA, Taís Nader. Síndrome da Alienação Parental.
Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões. Porto Alegre: Magister; Belo
Horizonte: IBDFAM, 2007, ano XIII, n° 21, bimestral abr/mai 2011, p. 34- 35).
44 ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro, dez. 2000.
Disponível em: <http://unicrio.org. br/img/DeclU_ D_HumanosVersoInternet. pdf>
Acesso em: 12 jul. 2011.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 165

A garantia trazida por este de modo a constituir o grupo unidade


princípio, como valor supremo, sólida, capaz de resistir às forças
aparenta-se como que o referencial exteriores e mesmo de tomar-se ainda
para a ordem jurídica lidar com os mais firme em face da oposição vinda
demais direitos do cidadão, tanto que de fora".
há quem diga que trata-se do princípio Este conceito remete a uma ideia
da dignidade da pessoa humana ampla de solidariedade e, nesse
de fundamento que a Constituição sentido, possivelmente, tenha o
abordou para garantir que cada ser constituinte o colocado como objetivo
humano constitua sua família sob fundamental no inciso III do art. 3°.
outros princípios: da solidariedade, da Pela sua importância este
pluralidade familiar, da isonomia, da princípio também passou a ser tratado
liberdade e da autonomia de vontade. 45 como um princípio de Direito de
Família. Nesse âmbito, Paulo Lôbo 47
3.2 Princípio da Solidaried~de entende que a solidariedade entre
pais e filhos é construída dentro dos
Solidariedade46 envolve a noção seus próprios valores, mas precisa
de "mutualidade de interesses e preservar um mínimo:
deveres", "laço ou ligação mútua entre
duas ou muitas coisas dependentes Logicamente, a solidariedade familiar
é construída sob valores traçados
umas das outras", "compromisso pelo
pelos ascendentes em favor dos
qual as pessoas se obrigam umas pelas descendentes. E estes, por seu turno,
outras e cada uma delas por todas", acabarão por trilhar caminho parecido
"Condição grupal resultante da com aquele que lhes foi ensinado.
comunhão de atitudes e sentimentos, Muito embora o parâmetro da

45 THOMÉ, Liane Maria Busnello. Dignidade da pessoa humana e mediação familiar.


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 201 O, p. 44.
46 SOLIDARIEDADE. ln: MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa.
São Paulo: Melhoramentos, 1998. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/
modemo/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=solidariedade>.
Acesso em: 13 jul. 2011.
4 7 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5: direito de família e sucessões.
5. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 15-16.
166 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

solidariedade interna sofra uma fundamentais da República, no


oscilação de uma entidade familiar inciso I do art. 3° da Constituição
para outra em virtude dos padrões Federal. Não é princípio dificil
culturais vigentes e da procedência de se conceituar, mas é preciso
de cada entidade, há um mínimo
compreender que a liberdade ocorre
a ser preservado: os direitos
personalíssimos de cada integrante
dentro dos parâmetros legais.
da família, sua subsistência e a Paulo Lôbo49 conceitua tal
concessão de auxílio para que se princípio no âmbito do direito de
possa ter a oportunidade de se família, remetendo-se a questões
atingir o nível de desenvolvimento que encontram-se no âmbito das
esperado pelo interessado. Enfim, disposições constitucionais e também
assistência material e imaterial constantes no Estatuto da Criança e
entre os membros da entidade do Adolescente:
familiar devem sempre se fazer
presentes nas relações jurídicas
O princípio da liberdade diz
existentes. (grifou-se) respeito ao livre poder de escolha
ou autonomia de constituição,
Assim, aos filhos os pais devem realização e extinção de entidade
deferir tratamento solidário no sentido familiar, sem imposição ou restrições
de dar o suporte necessário para que externas de parentes, da sociedade
ou do legislador; à livre aquisição e
eles tenham uma vida digna, com administração do patrimônio familiar;
saúde, alimentação, educação, lazer, ao livre planejamento familiar; à livre
respeito, liberdade e convivência definição dos modelos educacionais,
familiar, assim como dispõe o art. dos valores culturais e religiosos; à
4° do Estatuto da Criança e do livre formação dos filhos, desde que
respeitadas suas dignidades como
Adolescente (Lei no 8.069/1990)48
pessoas humanas; à liberdade de agir,
assentada no respeito à integridade
3.3 Princípio da Liberdade fisica, mental e moral.

A liberdade, assim como a Na Constituição também encontra


solidariedade, faz parte dos objetivos a liberdade, no seu sentido amplo,

48 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União, Poder


Executivo, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em 13 jul. 2011.
49 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 69.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 167

amparo no caput do art. 5°, ou no filhos(§ 6° do art. 227 da Constituição


âmbito do Direito de Família, através Federal e art. 20 do Estatuto da
do art. 226, no seu §7°, quando fala na Criança e do Adolescente), seja qual
liberdade dos indivíduos planejarem for a sua origem, seja com relação à
suas famílias: se vão se casar, ou mulher e ao homem (inciso I do art.
viver em união estável, quantos filhos 5°,§ 5° do 226 da Constituição Federal
terão, como os educarão. Ocorre que e art. 21 do Estatuto da Criança e do
a liberdade familiar é pautada pela Adolescente).
garantia aos direitos fundamentais A igualdade entre homem e
de cada indivíduo, ou seja, cumpre mulher, dentro da entidade familiar,
lembrar que a liberdade não significa foi conquistada com a própria
que um genitor poderá impor ao seu mudança social, em que a mulher
filho a convivência somente com foi adquirindo espaço e o homem
ele, ou que minta, há parâmetros de foi assumindo papéis que antes não
razoabilidade que devem ser se~uidos. lhe eram destinados. A conquista de
porque, conforme dito inicialmente, igualdade foi um processo evolutivo e
os princípios e regras referem-se a um hoje não cabe dizer que a mulher não
sistema equilibrado. possa sustentar o lar ou que o homem
Já no Estatuto da Criança e do não possa cuidar com zelo dos filhos.
Adolescente, o art. 16 faz uma lista Carlos Roberto Gonçalves50 diz a
do que compreende a liberdade: respeito que:
ir e vir, opinar, se expressar, ter
determinada crença, brincar, praticar [ ... ] A regulamentação instituída no
esportes e divertir-se, participar da aludido dispositivo [art. 226, § 5°,
vida familiar e comunitária sem da Constituição Federal] acaba com
discriminação, e outros. o poder marital e com o sistema de
encapsulamento da mulher, restrita a
tarefas domésticas e à procriação. O
3.4 Princípio da Igualdade
patriarcalismo não mais se coaduna,
efetivamente, com a época atual, em
A igualdade refere-se tanto à que grande parte dos avanços tec-
equivalência de tratamento dada aos nológicos e sociais está diretamente

50 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, v. 6: Direito de Família. 8.


ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 23.
168 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

vinculada às funções da mulher na Esses conceitos são importantes


família e referenda a evolução mo- para compreender que, atualmente,
derna, confirmando verdadeira revo- a pessoa tem sido valorizada como
lução no campo social.
indivíduo pertencente de uma unidade
social, e, nesse sentido, a criança, bem
No que se refere à filiação esta
como seus pais, merece e tem tantos
também modificou-se ao longo dos
direitos um quanto o outro e não é por
anos. A liberdade de constituição fa-
estar numa situação de submissão ao
miliar (art. 226 da Constituição Fede-
poder familiar que ela pode ter suas
ral) contribuiu para que a situação do
liberdades restringidas por um mero
filho não fosse mais vista sob a ótica
desejo egoísta dos pais de atingir
da sua origem, mas sobre as suas ne-
alguém que para ela tem grande
cessidades protetivas. Ou seja:
valor. A criança e o adolescente têm
O Código Civil de 1916 exaltava o direito a ter uma convivência familiar
casamento civil como único mo~elo saudável, no meio daquelas pessoas
da família legítima e, desta forina, que lhe tratam com carinho, respeito,
todos os filhos nascidos à margem e por quem elas têm admiração.
deste modelo eram considerados
ilegítimos e impróprios à proteção
social e jurídica. No entanto, 3.5 Princípio da Convivência
assim como a própria família e a Familiar
condição feminina sofreram intensas
transformações, a filiação também A convivência familiar e comu-
percorreu um longo trajeto até
seu reconhecimento expresso pela nitária é direito garantido pelo
Constituição Federal de 1988, que Estatuto da Criança e do Adoles-
retirou do ordenamento jurídico a cente, que prevê no seu art. 19, caput:
vergonhosa descriminação entre os "Toda criança ou adolescente tem
filhos, dispondo em seu artigo 227, §
direito a ser criado e educado no seio
6°, que todos os filhos havidos ou não
do casamento, ou por adoção, terão de sua famí~ia e, excepcionalmente,
os mesmos direitos. 51 em família substituta, assegurada a

51 THOMÉ, Liane Maria Busnello. Dignidade da pessoa humana e mediação familiar.


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 74-75.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 169

convtvencia familiar e comunitária, o exercício do poder familiar. Ainda


em ambiente livre da presença de quando os pais estejam separados, o
pessoas dependentes de substâncias filho menor tem direito à convivência
entorpecentes." familiar com cada um, não podendo
Este é o direito/princípio que trata o guardião impedir o acesso ao
do cerne da questão da Alienação outro, com restrições indevidas".
Parental, em que a criança é privada Esclarece, contudo, que tal direito
da convivência com um genitor ou não se restringe à pessoa dos pais,
alguém que lhe é importante. No porque o núcleo familiar importante
geral ele é ferido em decorrência da ao desenvolvimento da criança varia
ocorrência da separação dos pais, conforme os valores familiares, que
contudo "salutar é que a criança podem_ incluir nas relações os tios,
com o fim do relacionamento possa avôs e outros familiares.
continuar desfrutando da convivência A convivência passou a ter uma
entre o pai e a mãe em igualdade de importância tão grande dentro do
condições buscando dessa forma Direito de Família, que atualmente
evitar o sentimento de abandono."52 os advogados têm considerado a
Paulo Lôbo 53 menciona que "a substituição do termo "direito de
Convenção dos Direitos da Criança, visita" para "direito de convivência",
no art. 9.3, estabelece que, no caso de é o que ressalta o trecho abaixo:
pais separados, a criança tem direito
de 'manter regularmente relações Há muito que vem se discutindo
pessoais e contato direto com ambos, acerca do alcance do denominado
a menos que isso seja contrário "direito de visitas", estando pacificado
na doutrina abalizada brasileira,
ao interesse maior da criança'". E
que a expressão "visitas" deve ser
complementa, embora não menciona entendida como "convivência", e
tratar de caso de alienação, situação seguindo a orientação estabelecida na
que bem pertine ao assunto: "A Conve!lção Universal dos Direitos da
convivência familiar também perpassa Criança e do Adolescente promovida

52 MAZZONI, Renata Mariana de Oliveira; MARTA, Taís Nader. Síndrome da


Alienação Parental. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões. Porto
Alegre: Magister; Belo Horizonte: IBDFAM, 2007, ano XIII, no 21, bimestral abr/mai
2011, p. 34.
53 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 74-75.
170 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

pela ONU, em 1989, que estabelece entre quem convive. Assim, o vínculo
que o "direito de convivência" é de convivência familiar é fundamental
direito dos filhos, e atendendo ao para que a criança tenha segurança
comando constitucional no art. 227,
para se desenvolver, pois é lá que ela
que traz de forma expressa o direito
fundamental à convivência familiar
tem seu refúgio, a quem ela recorre nos
de forma mais abrangente possível, momentos mais diversos de sua vida.
e o princípio da prioridade absoluta
em relação aos direitos da criança e 3.6 Princípio da Afetividade
do adolescente, temos que concluir
que o direito de convivência é uma Para Maria Helena Diniz57 o
via de mão dupla, sendo direito/dever
"princípio da afetividade [é] coro-
do pai não guardião de conviver com
lário do_ respeito da dignidade da
o filho e do filho em conviver com o
pai não guardião, com ênfase para o pessoa humana, como norteador das
direito deste, em função do princípio relações familiares e da solidarie-
da prioridade absoluta. 54 dade familiar".
Não é à toa que tal princípio tem
Visitar55 é situação eventual, direta ligação com o princípio da
sem interesse em aprofundar o convivência familiar e do princípio do
relacionamento, diferente de conviver56 pluralismo, não abordado diretamente
em que há um vínculo de intimidade nesta pesquisa, mas característica

54 LIRA, Wlademir Paes de. Direito da Criança e do Adolescente à Convivência


Familiar e uma Perspectiva de Efetividade no Direito Brasileiro. ln: VII CONGRESSO
BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA. Família e Responsabilidade- teoria e
prática do Direito de Família. Coord. Rodrigo da Cunha Pereira, 7., 2009, Belo
Horizonte. Anais ... Porto Alegre: Magister/IBDFAM, 201 O, p. 528.
55 VISITAR. ln: MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 1998. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/
index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=visitar>. Acesso em: 14 jul. 2011.
56 CONVIVER. ln: MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 1998. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/
index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=conviver>. Acesso em: 14 jul. 2011.
57 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5: Direito de Família. 25.
ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 24.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 171

da transformação da família. O seus direitos fundamentais, além do


reconhecimento das entidades forte sentimento de solidariedade
familiares formadas por uma pessoa recíproca, que não pode ser
perturbada pelo prevalecimento de
e sua prole, e pela união estável, e
interesses patrimoniais. É o salto,
a importância dada à convivência, à frente, da pessoa humana nas
demonstra que a ideia de família hoje relações familiares.
é a união de pessoas com uma base
diversa da patrimonial de outrora. É o Mas há um ponto que o autor
que confirma Paulo Lôbo: 58 aborda e que é fundamental que é o
fato deste princípio não se confundir
A família recuperou a função que, com o afeto 59 psicológico. Sua
por certo, esteve nas suas origens
explanàção parece confusa, quando
mais remotas: a de grupo unido
afirma que como princípio jurídico
por desejos e laços afetivos, em
é imposto ainda que haja desamor
comunhão de vida. O princípio
jurídico da afetividade faz despontar ou desafeição entre pais e filhos 60 •
a igualdade entre irmãos biológicos O que se entende pelo que o autor
e adotivos [art. 227, §§ 5° e 6° da diz é que a afetividade está ligada à
Constituição Federal] e o respeito a própria ideia do respeito, do dever se

58 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 71.
59 "A afeição é um sentimento que se tem em relação a determinada pessoa ou algum
bem. Afeiçoar-se significa identificar-se, ter afeto, a111izade ou amor. Os membros
de uma família, em sua maioria, possuem laços de afeição uns com os outros.
Entretanto, isso não é uma realidade absoluta. Há entidades familiares desgraçadas por
inimizades capitais e por relacionamentos praticamente nulos. Ora, nenhuma pessoa
pode ser compelida a afeiçoar-se a outra, pouco importando se há entre elas algum
parentesco ou não. Bom seria se todos tivessem afeto uns pelos outros, cumprindo
assim o mandamento bíblico e de outras religiões não cristãs. Todavia, a complexidade
das relações interpessoais muitas vezes leva a situações que impedem ou mesmo
enfraquecem esse nível de relacionamento. E não há qualquer poder temporal capaz
de modificar esse quadro, compelindo uma pessoa a se afeiçoar por outra" (LISBOA,
Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5: direito de família e sucessões. 5. ed.
reform. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 25, grifou-se)
60 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 71.
172 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

mútua assistência, e da liberdade no "poder familiar", porque, atualmente,


planejamento familiar, porque a partir além do foco ter saído do pai para ir
do momento em que os indivíduos para o filho, à familia, em igualdade
escolhem formar uma família eles de condições, cabe a condução da
têm que se responsabilizar pela sua vida das crianças e adolescentes. 61
existência e condução, seria a ideia do Giselle Câmara Groeninga62 tem
afeto como a de que a união se deu uma ótica interessante sobre este
por ela e merece o cuidado peculiar de princípio, ela diz que:
uma união que a princípio não tem por
base interesse político, patrimonial ou A família não mais pode ser pensada
religioso, embora tais pontos estejam de forma dividida, ela é um sistema
em gue os integrantes exercem
presentes eles não são o fundamento
funções complementares. Da mesma
da constituição familiar. forma, há uma confusão na divisão
que se faz ao falar do superior
3. 7 Princípio do Melhor interesse da criança e do adolescente
Interesse da Criança e do como se fosse contrário ao dos
Adolescente pais. O que existe é, na realidade, o
superior interesse da família sendo
O princípio do melhor interesse que, como sua função primordial é
a do atendimento e cuidado de seus
da criança e do adolescente, assim
membros, priorizando-se o grau de
como outros, foi um resultado da evo- fragilidade de cada um, o interesse
lução, de uma inversão de prioridade da criança traduz, assim, a finalidade
que tirou o foco do interesse na figu- primeira da família.
ra paterna, porque chefiava a família,
para focar na figura dos filhos, pessoas Para efetividade do melhor
dignas e em desenvolvimento, em que interesse da criança é preciso que os
são projetadas as perspectivas para o seus pais tenham a consciência de que
futuro. Tanto que houve uma substi- são eles que viabilizam a vida dos filhos,
tuição do termo "pátrio poder", para lhes proporcionam uma realidade que

61 LÔBO, op. cit., p. 75.


62 GROENINGA, Giselle Câmara. Direito à Família. Boletim IBDFAM, Belo Horizonte,
n° 51, ano 8., p. 3-5,jul./ago. 2008, p. 3.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 173

possibilita o desenvolvimento tisico e 4 O SISTEMA PROTETIVO


psíquico saudável. CONFERIDO À CRIANÇA E
AO ADOLESCENTE
3.8 Princípio da Paternidade
Responsável Sob a ótica dos princípios gerais
e específicos de direito de família
A paternidade responsável é um vislumbra-se a existência de um
dever de ambos os genitores. Sob campo seguro em que deveriam estar
as bases já traçadas nos princípios contidas as crianças e os adolescentes,
anteriormente mencionados. Direta- e que por uma irresponsabilidade
mente ligado ao livre planejamento dos pais acabam por ser excluídos
familiar abordado pelo art. 226°, § nos atos de alienação. Cabe lembrar
7°, da Constituição Federal. 63 Através o que colocou-se no item a respeito
dele a "a família deve outorgar aos do princípio do melhor interesse
filhos, havidos do casamento, ou da criança, em que Giselle Câmara
não, todos os meios para o pleno Groeninga65 fala da família como una,
desenvolvimento de suas faculdades em que cada integrante tem o seu
tisicas, psíquicas e intelectuais."64 papel, e um complementa o outro.
É fundado em todos os princípios Nessa situação, de aliena-
esboçados anteriormente que a lei ção parental, a criança e o ado-
defere à família direitos e deveres lescente, apesar de pessoa hu-
tão fundados no bem-estar de seus mana com dignidade garantida
membros, e que claramente priorizam- constitucionalmente, são tratados
se a criança e o adolescente. como coisa disponíve/66 , um objeto

63 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, v. 6: Direito de Família. 8.


ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 24.
64 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil, v. 5: direito de família e sucessões.
5. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 17.
65 GROENINGA, Giselle Câmara. Direito à Família. Boletim IBDFAM, Belo Horizonte,
n° 51, ano 8., p. 3-5,jul./ago. 2008, p. 3.
66 Conforme Paulo Lôbo: "A dignidade da pessoa humana é o núcleo existencial
que é essencialmente comum a todas as pessoas humanas, como membros iguais do
gênero humano, impondo-se um dever geral de respeito, proteção e intocabilidade.
174 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011

usado para atingir o fim de afastar ou submetê-los a negligência, violência,


punir o genitor alienado. crueldade e opressão, no mínimo.
A Constituição ressalva os direito
da criança e do adolescente (arts. 4.1 O Poder Familiar
226 §7° e 227), e, de certo modo,
que é dever da família colocá-los a Trata-se o poder familiar de
salvo dos atos de alienação parental, "múnus imposto pelo Estado aos
porque a criança e o adolescente têm pais". É o poder-dever conferido
direito à saúde (emocional inclusive), aos pais em relação aos filhos até
à dignidade, ao respeito (e, portanto, completarem a maioridade (ou
de não se ver envolvido pelas brigas serem emancipados), com caráter
conjugais, que como tais referem-se ao protetivo, resguardado pela: ina-
casal e não à relação de parentalidade), lienabilidade, irrenunciabilidade,
à liberdade e à convivência familiar imprescritibilidade e indisponibili-
(o direito a livremente gostar e e~tar dade ou indelegabilidade. 67
com ambos os pais e parentes, ter uma A respeito do poder familiar o
convivência sadia e sern empecilhos Código Civil de 2002 destinou os arts.
que demonstrem o firme egoísmo 1.630 a 1.638 para tratar do assunto.
daqueles que sobre ela tenham Através destes dispositivos é possível
autoridade). Além disso, expô-los aos depreender que o poder familiar é
maleficios da alienação parental é conferido a ambos os pais, sob os

Kant [KANT, Immanoel. Fundamentação da metafisica dos costumes. Trad. Paulo


Quintela. Lisboa: Ed. 70, 1986, p. 77], em lição que continua atual, procurou
distinguir aquilo que tem um preço, seja pecuniário, seja estimativo, do que é dotado
de dignidade, a saber, do que é inestimável, do que é' indisponível, do que não
pode ser objeto de troca. Diz ele: 'No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma
dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra
como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e, portanto, não
permite equivalente, então tem ela dignidade" (LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias.
4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 60).
67 NORONHA, Carlos Silveira. Da instituição do Poder Familiar, em perspectiva
histórica, modema e pós-modema. Revista da F acuidade de Direito da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, no 26, p. 89- 120, dez. 2006.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 175

filhos menores. Além disso, também VI - reclamá-los de quem ilegal-


se verifica que não há término deste mente os detenha;
poder-dever quando houver separação VII - exigir que lhes prestem
(divórcio ou dissolução da união), e obediência, respeito e os serviços
próprios de sua idade e condição.
que nesses dispositivos encontram-se
as determinações sobre a suspensão
O conceito de Pontes de Miranda
e extinção deste poder. O art. 1.634
é bem objetivo e claro quando diz que
é aquele em que se encontra o rol
o pátrio poder moderno (moderno à
de competências relativas ao poder
sua época, mas que continua atual),
familiar, que, por ora, cumpre
é conferido a ambos os genitores, e
transcrevê-lo: não se trata ele de poder no sentido de
imposição e violência, como ocorre
Art. 1.634. Compete aos pais, quanto
nos atos de alienação:
à pessoa dos filhos menores:
I- dirigir-lhes a criação e educação; O pátrio poder moderno é conjunto
II- tê-los em sua companhia e guarda; de direitos concedidos ao pai ou à
III - conceder-lhes ou negar-lhes própria mãe, a fim de que, graças a
consentimento para casarem; eles, possa melhor desempenhar a
sua missão de guardar, defender
IV - nomear-lhes tutor por testa-
e educar os filhos, formando-os e
mento ou documento autêntico, se
robustecendo-os para a sociedade
o outro dos pais não lhe sobreviver,
e a vida. A expressão 'poder' tem
ou o sobrevivo não puder exercer o
sentido de exteriorização do querer,
poder familiar;
não de imposição e violência. 68
V - representá-los, até aos dezesseis (grifou-se).
anos, nos atos da vida civil, e assisti-
los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o Discutia-se, até o Código Civil
consentimento; de 2002 a alteração do termo "pátrio

68 PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado - Parte Especial - Tomo


IX- Direito de Família: Direito parental. Direito Protetivo. 4. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1974, p. 106-107.
176 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

poder", que dizia respeito ao poder relação conjugal não implica o fim
exercido pelo pai, chefe de família, da relação de parentalidade, segundo
a quem era direcionada a "posse" do porque, neste caso, apenas a presença
filho, pensamento não mais cabível física do filho é que determinada pela
atualmente em que os direitos e guarda. Ou seja,
deveres na educação e condução
da vida dos filhos incapazes diz Durante o período de tempo em que
respeito a ambos os pais, e não mais durar o casamento ou a união estável,
compete a ambos os pais o exercício
uma exclusividade do homem. "A
do poder familiar, sendo que, com a
necessidade de o Estado regular a sua dissolução, não há alteração das
relação existente entre os pais e seus relações existentes entre pais e filhos,
filhos, com base na evolução do que senão quanto ao direito, que aos pais
antes se via no pátrio poder, levou o cabe, de terem em sua companhia os
legislador civilista de 2002 a abraçar filhos, ou seja, com a dissolução da
o termo poder familiar [art. 1634 do família, o poder familiar de ambos
os pais continua a ser exercido
Código Civil] [... ]". 69 Como já· dito
conjuntamente, contudo, salvo o caso
anteriormente, achou-se por bem da guarda compartilhada, apenas um
alterar o termo face à substituição dos genitores será responsável pela
do foco, antes no chefe da família, o guarda do menor, enquanto ao outro
pai, para o filho, sob responsabilidade restará o direito convivencial. 71
da família. 70
Nesse sentido, é fundamental ter O próprio Estatuto da Criança
em mente que o poder familiar refere- e do Adolescente no art. 21 fala em
se a um. direito-dever dos pais de ter poder familiar exercido pelo pai e
os filhos em sua companhia, e de pela mãe, em igualdade de condições,
conduzir suas vidas, independente- mas não se refere à sua situação como
mente da relação de conjugalidade. namorados, conviventes, casados,
Esse poder não acaba com a separados, ,etc. Apesar do Código
separação, ou o fim da relação dos Civil, em seu art. 1.631, falar ser
pais, primeiro porque o fim de uma exercido durante o casamento ou a

69 FIGUEIREDO, Fábio Vieira; ALEXANDRILIS, Georgios. Alienação Parental:


aspectos materiais e processuais da Lei n° 12.318, de 26.08.2010. São Paulo: Saraiva,
2011, p. 13.
70 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 75.
71 FIGUEIREDO, op. cit., p. 15.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS - n° 29, 2011 177

união estável, o poder familiar não decisões continuam sendo tomadas


extingue com a separação. 72 pelos dois genitores, que ao divergirem
De outro modo há a possibilidade podem recorrer ao Judiciário, para
de perda do poder familiar, uma decisão, ou seja:
determinada pelo descumprimento
dos deveres a ele inerentes (art. 22 do Pertence aos pais a escolha do tipo de
Estatuto da Criança e do Adolescente) educação escolar que desejam para
seus filhos. Cabe-lhes decidir sobre o
ou através da adoção, caso em que é
ensino público ou privado, o tipo de
extinto dos pais biológicos para ser orientação pedagógica ou religiosa,
transferido aos adotantes: o modelo escolar mais adequado.
A escolha da educação depende de
A adoção também gera a extinção do circunstâncias econômicas e do nível
poder familiar, já que o menor passa de renda dos pais. A Convenção
a integrar a família do adotante, Internacional dos Direitos da Criança
sendo reconhecido como filho, sem estabelece a liberdade dos pais para
qualquer distinção ou discrimimtção a educação e orientação religiosas
quanto à origem adotiva da filiação dos filhos. Em caso de desacordo,
transmitindo aos pais adotivos o qualquer dos pais poderá recorrer
poder familiar. 73 ao juiz, que deve leva em conta
as práticas anteriores e o fato de a
Sendo assim, as responsabilidades escolha poder submeter a criança a
dos pais perdura mesmo sem estes risco de desequilíbrios emocionais. 74
conviverem, e este é um ponto muito
importante de ser lembrado. O ex- Há uma certa confusão entre este
casal não pode, nem deve, entender instituto e o instituto da guarda, que
que na separação o filho pertencerá oportuniza o entendimento de que
a um deles somente. Não se trata a poder familiar é deferido para um dos
criança e o adolescente de objeto pais ou ambos conforme a guarda,
pertencente, mas de ser humano que unilateral çu compartilhada. Mas tal
tem prioridades, nesse sentindo as entendimento é errôneo, de acordo

72 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil, v. 6: direito de família. 11. ed. São Paulo:
Atlas, 2011, p. 306.
73 FIGUEIREDO, op. cit., p. 32.
74 LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 303.
178 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

com Paulo Lôbo 75 , a proteção dos uma separação/divórcio. 76 Inclusive,


filhos é direito e dever de ambos os é o que afirma o próprio Richard
pais, e a guarda estaria no direito de Gardner77 , criador do termo Síndrome
continuar vivendo com o filho, ou da Alienação Parental (SAP).
de conviver com ele, o autor conclui A guarda é a regularização
dizendo que: "[ ... ] Os pais preservam da posse de fato da criança ou
os respectivos poderes familiares em adolescente, que obriga à prestação
relação aos filhos, com a separação, de assistência material, moral e
e os filhos preservam o direito de educacional (art. 3 3 do Estatuto
acesso a eles e ao compartilhamento da Criança e do Adolescente). Ela
recíproco de sua formação.". é deferida a quem tenha melhor
Veja-se, então, o que sena condições para exercê-la. Tanto
especificamente a guarda. que há alguns anos era natural se
pensar que a mãe era quem detinha
4.2AGuarda as melhores qualidades para criar o
filho, seja porque este antigamente
A alienação ocorre no geral em era seu papel mais importante, seja
processos de guarda, que decorrem de por ser ela a os gestar. Mas esta visão

75 LÔBO, op. cit., p. 190.76 OLIVEIRA, Euclides de. Alienação Parental.


ln: III CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA - Família e
Responsabilidade: teoria e prática do direito de famíHa, 7., 2009, Belo Horizonte.
Anais ... Porto Alegre: Magister/IBDFAM, 2010, p. 231.
77 "Parental alienation syndrome (PAS, Gardner, 1985, 1986, 1987a, 1987b, 1989,
1992, 1998) is a disorder thar arises almost exclusively in the context of chi1d-
custody disputes. ln this disorder, one parent (the alienator, the alienating parent,
the PAS-inducing parent) induces a program of denigration against the other parent
(the alienation parent, the victim, the denigrated parent). However, this is not
simply a matter of 'brainwashing' or 'programming' in that the children contribute
their own elements into the campaign of denigration. It is this contribution of
factors that justifiably warrants the designation PAS.[ ... ]" (GARDNER, Richard
A. Differentianting between parental alienation syndrome and bona fide abuse-
neglect. ln: The American Joumal ofFamily Therapy, apr/jun 1999, 27, 2, ProQuest
Psychology Joumal, p. 97)
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 179

do papel da mulher sofreu profunda pela saúde, educação e necessidades


alteração após a última grande guerra, imediatas do filho, aquelas que
como destaca o Prof. Dr. Carlos precisam de alguém que a viabilize.
Silveira Noronha78 : Assim, na guarda unilateral há um
responsável e o outro age como um
É induvidoso que a família modema supervisor, ou seja, embora ambos
passa por uma profunda evolução e tenham o poder familiar de garantir
para isso vêm contribuindo inúmeros
ao filho condições dignas de vida,
fatores que se acentuaram a partir
da última grande guerra, quando um a um deles é deferida a convivência
de seus membros fundamentais - a diária, e o outro a convivência mais
mulher, esposa e mãe - partiu para esporádica, desta feita, aquele que
trabalhar fora do lar, inicialmente tem a guarda pode tomar as decisões
para suprir a falta do marido presente que entender pertinente, contanto que
nos campos de batalha e, terminando não fira os direitos da criança e do
o conflito, para compensa~ no
outro genitor. A guarda compartilhada
orçamento doméstico os influxos da
economia dos países combalida pela pressupõe, portanto, as decisões
guerra. Quando esse não tenha sido "diárias" (por exemplo, qual colégio
o caso, ocorre que ordinariamente colocar) conjuntas, podendo, mas não
precisa a mulher exercer atividade sendo obrigado, a determinação da
laborativa fora do lar para auxiliar o presença tisica do filho seja também
marido a implementar as despesas da
compartilhada ou permaneça com um
família, em razão dos desajustes que
atingem o macrossistema econômico deles (art. 1.583 do Código Civil).
da nação, com reflexos acentuados na A determinação da guarda
economia da família. pode ser por consenso dos pais ou
determinação do juízo (art. 1.584 do
A guarda pode ser unilateral Código Civil).
ou compartilhada. Unilateral quan- O fato é que nas separações
do concedida a uma só pessoa. os adultos precisam distinguir a
Compartilhada quando concedida conjugalidade/convivência da pa-
ao pai e à mãe que não convivam. rentalidade e quando não o con-
Ela diz respeito à responsabilização seguem acabam, por vezes, inserindo

78 NORONHA, Carlos Silveira. Conceito e fundamentos de família e sua evolução


na área jurídica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, no 10, p. 161 -174,jul. 1994, p. 167.
180 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

na criança todas as suas frustrações. da visão de mundo e do sistema


Muito bem coloca Luiz Edson Fachin tanto do Código novo quanto da
que: Constituição, dentre eles:
a) dissociação do estado de filiação
Uma das grandes tarefas dos proces- com o estado civil dos pais (seguindo
sos de terminação do vínculo, quer orientação jurisprudencial do Superior
seja socioafetivo, quer seja apenas Tribunal de Justiça); eis aí um dos
formal para as uniões matrimonia- elementos estruturantes da nova
lizadas, é evidenciar que se os pais disciplina constitucional da filiação
se separam, os pais não devem se que se projetou sobre a jurisprudência
separar dos filhos. A guarda, tanto a e que, agora, vem recolhido, pelo
unilateral quanto a compartilhada, novo Código Civil brasileiro[ ... ]"
deve espelhar um exercício diário de
autocrítica para não despejar sobre as Observando-se que a guarda
crianças ou adolescentes a discórdia
entre os pais. 79
poder ser deferida a terceiro, caso
entenda o juiz que é o melhor para a
Tanto é no sentido desta distinção criança ou o adolescente. 81
que Fachin80 inclui um novo O fato é que nos casos de
princípio no rol dos já mencionados alienação parental, há quem diga que
oportunamente, que seria o princípio a melhor decisão, do juízo Gá que
da dissociação do estado de filiação nesses casos não há consenso dos
com o estado civil dos pais: pais), seria a guarda compartilhada.
Sob o argumento de que é através
"São colacionados diversos prin- dela que ambos os genitores tenham
cípios, à luz da concepção codificada, responsabilidades em equilíbrio

79 FACHIN, Luiz Edson. Desafios e Perspectivas do Direito de Família no Brasil


Contemporâneo. p. 423 - 443 ln: JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antônio; TÔRRES,
Heleno Taveira; CARBONE, Paolo (coord. ). Princípios do Novo Código Civil
Brasileiro e Outros Temas - Homenagem a Tullio Ascarelli. São Paulo, Quartier
Latin, 2008, p. 434.
80 FACHIN, op. cit., p. 428.
81 MAGALHÃES FILHO, Sérgio de. Guarda Compartilhada entre Mãe e Tio.
Boletim IBDFAM, Belo Horizonte, no 51, ano 8., p. 3-5, jul./ago. 2008, p. 9.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 181

de condições, cumprindo o poder diante do ato de alienação e que,


familiar conjuntamente. 82 O problema portanto, precisam ser respeitados,
da guarda unilateral estaria na seguem alguns dispositivos da lei:
possibilidade do guardião dificultar
ou proibir a convivência entre os [... ]
filhos e o outro genitor, impedindo Art. 3° A prática de ato de alienação
as visitas, sob a acusação de que parental fere direito fundamental
da criança ou do adolescente de
o outro o negligencia, ao filho, e convtvencia familiar saudável,
que o afastamento é uma forma de prejudica a realização de afeto nas
protegê-lo. 83 O fato é que ainda que relações com genitor e com o grupo
sobre esses argumentos, imagina-se familiar, constitui abuso moral
contra a criança ou o adolescente
a dificuldade de conceder a guarda
e descumprimento dos deveres
compartilhada, que pressupõe de- inerentes à autoridade parental ou
cisões consentidas, a duas pessoas decorrentes de tutela ou guarda.
que encontram-se em conflito. ·. Art. 4° Declarado indício de ato de
alienação parental, a requerimento
4.3 Os benefícios trazidos pela ou de oficio, em qualquer momento
Lei da Alienação Parental (Lei processual, em ação autônoma
ou incidentalmente, o processo
n° 12.318/2010)
terá tramitação prioritária, e o
juiz determinará, com urgência,
A lei veio como um meio de ouvido o Ministério Público, as
esclarecer os meandros desse ato medidas provisórias necessárias
que preocupa por poder causar tantos para preservação da integridade
psicológica da criança ou do
danos à criança e ao adolescente. Ela
adolescente, inclusive para
fala diretamente sobre alguns dos assegurar sua convivência com
direitos fundamentais que são feridos genitor ou viabilizar a efetiva

82 OLIVEIRA, Euclides de. Alienação Parental. ln: III CONGRESSO BRASILEIRO


DE DIREITO DE FAMÍLIA- Família e Responsabilidade: teoria e prática do direito
de família, 7., 2009, Belo Horizonte. Anais... Porto Alegre: Magister/IBDFAM,
2010, p. 235.
83 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Qual a posição da criança envolvida em
denúncias de abuso sexual quando o litígio familiar culmina em situações de alienação
parental: inocente, vítima ou sedutora?. ln: _ _ . Incesto e Alienação Parental-
realidades que a Justiça insiste em não ver. Coordenação de Maria Berenice Dias. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 108 e 113.
182 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

reaproximação entre ambos, se for a convivência com o outro, de modo


o caso. saudável, isto quando não for possível
Parágrafo único. Assegurar-se-á à a guarda compartilhada (art. 7° da Lei
criança ou adolescente e ao genitor
n° 12.318/2010).
garantia mtmma de visitação
assistida, ressalvados os casos em Fábio Botelho Egas 8\ advogado
que há iminente risco de prejuízo à especialista em direito de família,
integridade fisica ou psicológica da coloca em seu artigo opinião a
criança ou do adolescente, atestado respeito da Lei da Alienação Parental:
por profissional eventualmente
designado pelo juiz para acompa-
Contudo, deixa a nova lei de ir além
nhamento das visitas.
naquilo que talvez seja da maior
importância nesse momento em que
Além disso, vem exemplificando especialmente a criança apresenta-
atos que podem configurar a alienação se na sociedade como objeto, fruto
parental, o que auxilia os operadores de um projeto pessoal do adulto,
do direito na observância dessas que é a conscientização acerca da
ocorrências, para, se for o caso, poder maternidade e da paternidade.
A lei fresca repete o modelo já
agir a respeito.
esgotado de crime e castigo.
A lei garante a cautelosa Reascende questões maniqueistas,
avaliação da situação fática em que novamente dando espaço para
foi levantada a possibilidade de questões de culpas, deixando
alienação, inclusive através de perícia de lado a responsabilização por
feita por profissional de áreas como escolhas feitas, inclusive de ter um
a psicologia e a assistência social ou filho com alguém. (grifou-se)
por equipe multidisciplinar (art. 5° da
Lei n° 12.318/2010). De certo modo, Egas tem razão
De outro modo, a lei, verificada quando fala que é preciso uma
a alienação, determina que o juiz conscientização da maternidade e da
analise o fato e determine a atribuição paternidade, é o que se depreende do
da guarda ao genitor que melhores princípio da paternidade responsável
condições tenha de proporcionar à e do conceito que se tem da expressão
criança ou ao adolescente, inclusive, planejamento familiar. Os genitores

84 EGAS, Fábio Botelho. Alienação parental, a Lei no 12.318/10. Revista Visão


Jurídica, n° 55, sem ano, São Paulo, Editora Escala, p. 67.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011 183

para o serem precisam compreender mas uma parte de uma autoridade que
o papel a que se dispõem. Não basta vem envolta em alguns importantes
apenas gerar um filho e colocá-lo no deveres: de preservar sua saúde
mundo sem se responsabilizar pelo física e psíquica; de possibilitar que
suporte dele enquanto incapaz. crianças ou adolescentes tenham uma
A Lei da Alienação Parental, veio, existência digna, com o carinho de
de certo modo, alertar a sociedade para ambos os pais, e daqueles que lhes
essa responsabilização que os pais são importantes; de propiciar-lhe
podem sofrer quando negligenciam alimentação, e tudo aquilo que seja
os filhos. necessário ao seu sustento; de protegê-
los dos riscos morais e daquilo que
possa p_rejudicar sua convivência
CONCLUSÃO em comunidade.
O princípio da dignidade da
O Direito vem atender à pessoa humana e da paternidade
realidade atual da sociedàde, responsável são de certo modo um
por este motivo não basta que os alerta para a observância de todos
aplicadores do Direito e sociedade os demais princípios, viabilizados
o antevejam como norma petrificada pelos textos da Constituição,
nas palavras que o legislador do Código Civil, do Estatuto da
determinou, é preciso que se Criança e do Adolescente e da Lei
tenha uma visão do todo, uma de Alienação Parental, dentre outras
interpretação que leve em conta o não mencionadas nesta pesquisa.
texto da lei, os princípios e regras É preciso deixar claro que todos os
constitucionais, a situação de fato, cidadãos têm responsabilidade sobre
de forma conjunta. E nesse sentido o que ocorre na vida em comunidade,
não seria diferente a necessidade do e que não há como se vislumbrar
Direito de Família no que tange às um futuro ,digno se se deixam de
garantias de crianças e adolescentes lado direitos e garantias básicas,
que sofrem ou não atos de alienação. principalmente relativos a crianças e
Não basta entender que o poder adolescentes, os quais determinou-se
familiar o é, em seu sentido literal, constitucionalmente serem pessoas
um poder sem limites, conferido aos em desenvolvimento, e, portanto,
pais para comandar a vida dos filhos, com prioridade.
184 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS- n° 29, 2011

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