Você está na página 1de 18

1

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA


CURSO DE DIREITO

ANA PAULA FARIA PEIXOTO

ALIENAÇÃO PARENTAL
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA
ALIENADA

Goiânia
2015
2

ANA PAULA FARIA PEIXOTO

ALIENACAO PARENTAL
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA
ALIENADA

Artigo científico apresentado à Disciplina


Orientação Metodológico para Trabalho de
Conclusão de Curso, requisito imprescindível à
obtenção do grau de Bacharel em Direito pela
Universidade Salgado de Oliveira.

Orientador: Prof. Éder Francelino Araújo

Goiânia
2015
3

Ana Paula Faria Peixoto

ALIENACAO PARENTAL.
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA ALIENADA

Artigo Científico apresentado ao Curso de Direito da Universidade


Salgado de Oliveira como parte dos requisitos para conclusão do curso.

Aprovada em 11 de Dezembro de 2015.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________

Nivaldo dos Santos – Doutor em Direito, PUC/SP.


Examinador – UNIVERSO

___________________________________________________________________

Éder Francelino Araújo – Professor na Universidade Salgado de Oliveira.


Professor Orientador

___________________________________________________________________

Gleyzer Alves e Silva – Mestre em Ciências Ambientais, UniEvangélica.


Professor Convidado
4

ALIENAÇÃO PARENTAL. A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


DA CRIANÇA ALIENADA
Ana Paula Faria Peixoto1
Orientador: Eder Francelino Araújo2

RESUMO

A Alienação Parental foi o termo criado pelo psiquiatra americano Dr. Richard
Gardner para nomear o transtorno comportamental pelo qual um genitor (alienante)
denigre a imagem do outro genitor (alienado) com adjetivos desqualificadores e
desmoralizantes para filho comum entre eles. Tal comportamento tem como objetivo
colocar o filho contra o genitor alienado como forma de vingança, na maioria das
vezes ocasionada pelo divórcio, usando o filho para atingir o outro. Essa atitude faz
com que a criança fique dividida, se sentindo culpada de algumas situações e chega
a até mesmo a evitar a companhia do cônjuge alienado por medo, ódio ou por achar
que este não o ama, desenvolvendo assim o sentimento de revolta, rejeição, dentre
outros prejudiciais ao bom desenvolvimento psicológico da criança e seu convívio na
sociedade. A Declaração Universal dos Direito Humanos foi instituída como medida
para a proteção da dignidade da ser humano, e é considerada um dos institutos
jurídicos mais importante, pois, o Princípio da Dignidade da Pessoa humana se
sobrepõe a muitos, independente da nação que ele pertença, da cor de sua pele, da
sua orientação sexual e muito menos a sua idade ou capacidade civil. Apesar de
existente há muitas décadas, somente através da Lei nº 12.318, positivada em 2010,
que o assunto se tornou mais conhecido pela sociedade. Muito se fala em alienação,
mas pouco se discute sobre a relação que esse fenômeno tem com a violação da
dignidade da criança alienada e a importância do afeto para um crescimento e
desenvolvimento saudável.

Palavras-chave: alienação parental, SAP, afeto, dignidade da pessoa humana,


traumas psicológicos.

INTRODUÇÃO

Neste artigo abordar-se-á a Alienação Parental e a síndrome que se


desencadeia, denominada SAP, sua ligação com o Direito Família, bem como a
integração do Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana e a
importância do afeto a criança para seu bom desenvolvimento psicológica
saudável. . A alienação se dá pela disputa da atenção do infante, querendo ser o
genitor alienante o único e exclusivo dono do carinho do filho, podendo ocorrer até
1
Graduando em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira.
2
Professor da Universidade Salgado de Oliveira-UNIVERSO.
5

mesmo quando há brigas entre os genitores, mesmo que não estejam separados.
Apesar de sempre ter existido o ato de alienação parental, muito
tem se falado sobre o tema nesses últimos anos. O ato de denegrir a imagem do
genitor alienado existe bem antes de existir a separação. Contudo, somente através
da Lei nº 12.318, positivada em 2010, que o assunto se tornou mais conhecido pela
sociedade.
A alienação tem sido tratada com mais ênfase no genitor alienado,
esquecendo-se de que quem mais sofre nessa briga pela atenção do filho é o
próprio infante. Em decorrência de uma infância cheia de brigas e perturbações o
infante poderá se tornar um adulto cheio de traumas psicológicos. Assim, o estudo
detalhado sobre o tema é pertinente não somente para o operador do direito, mas
para todos os envolvidos nessa relação principalmente os responsáveis pela prática.
O referido tema tem fundamento, como se pode aferir, na lei da
Alienação Parental número 12.318 de agosto de 2010, que versa sobre a alienação
e suas penalidades, na Constituição Federal de 1988, que relaciona os princípios
constitucionais tendo entre o de maior relevância o Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, o Direito de Família que dispõe sobre o poder familiar , no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) que dispõe sobre o os direitos do menor e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos- Resolução 217-A(III) – que dispõe
direitos básicos e fundamentais para todo e qualquer ser humano.

A Alienação Parental

Origem
A origem da Alienação, Segundo Welter, tem relação com a mudança das
estruturas de convivência familiar trazida pelo divórcio3.
Antes do Código Civil vigente, o casamento era considerado indissolúvel,
tendo os cônjuges muita dificuldade para se separarem. Com o Código Civil de
2002, o casamento se tornou mais descomplicado de se dissolver.

3
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda Compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. São
Paulo: Método, 2009. p. 43. ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos
de separações judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito. PUCRS,
Porto Alegre, 2008
6

Anteriormente, quando o casal resolvia se separar, a guarda era quase


que automaticamente concedida à mãe. Esse quadro vem mudando e a cada dia
mais os pais tem discutido na justiça o direito de ter a guarda do filho.
Com a facilitação da dissolução da união matrimonial, principalmente por
não existir mais um lapso temporal a ser cumprido antes de dar entrada ao
procedimento, o número de divórcios tem crescido. Na maioria dos casos de
dissolução conjugal, espera-se que a guarda dos filhos seja acordada
consensualmente entre os cônjuges, como define o artigo 1583 do Código Civil de
20024.
Quando a guarda não é consensual, é incumbido ao juiz decidir qual dos
pais reúne a melhor qualidade para ficar com a guarda, iniciando assim a
competição entre os pais para obtê-la judicialmente, dando origem a Alienação
Parental e desenvolvendo a Síndrome da Alienação Parental por consequência.

Conceito

Alienação pode ter vários significados, pode ser uma cessão de bens,
transferência de domínio de algo ou uma perturbação mental. Para o Direito de
Família, a alienação é o ato pelo qual um indivíduo tem sua capacidade de pensar
ou agir por si próprio reduzido ou até mesmo impossibilitado5.
A alienação parental ocorre quando ou o pai ou mãe da criança, tenta
separá-la do convívio do cônjuge alienado, fazendo com que a criança passe a
sentir desprezo e até mesmo ódio do outro cônjuge através de mentiras e
implantações de falsas percepções.
O ato repetitivo de alienar pode desencadear a Síndrome da Alienação
Parental. Embora muito semelhante, a Síndrome da Alienação Parental não se
confunde com mera Alienação Parental. Priscila Maria disserta que:

A alienação parental é o afastamento do filho de uns dos genitores,


provocado pelo outro, via de regra, o titular da custodia. A síndrome
da alienação parental, por seu turno, diz respeito às sequelas
emocionais e comportamentais de quem padecer a criança vitima
daquele alijamento6.

4
BRASIL, Novo Código Civil, lei 10.406/2002, Brasília, DF, Senado Federal, 2002.
5
http://www.significados.com.br/alienacao/ acessado em dezembro de 2015
6
FONSECA, Priscila Maria Corrêa da. Bacharel em ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade
Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica. Artigo publicado em Pediatria (São Paulo),
7

O termo “Síndrome da Alienação Parental” (SAP),foi introduzido a


alienação parental em 1987 por intermédio do médico psiquiatra Richard Gardner,
para nomear os atos sucessivos da alienação parental, quando passou a observar o
aumento de um fenômeno antes raro, ocorrido especialmente diante da separação
de um casal que possui filhos. Portanto tem-se que a SAP surge a cada dia.
Gardner descreveu sobre a SAP quando passou a observar um
comportamento até então, raro, mas que começava a tomar grandes proporções.
Segundo o psiquiatra Gardner, considerado o pai da teoria, a SAP é:

A SAP é um transtorno infantil que emerge quase que exclusivamente


no contexto de disputa de guarda. Sua manifestação primária é a
campanha da criança direcionada contra o genitor para denegri-lo,
campanha esta sem justificativa. Isso resulta da combinação da
“programação” (lavagem cerebral) realizada pelo outro genitor e da
própria contribuição da criança na desqualificação do pai alienado.
Quando o abuso e/ou negligência parental são presentes, a
animosidade da criança pode ser justificada e então a explicação de
síndrome de alienação parental para essa hostilidade não pode ser
aplicada. ( GARDNER, 2002,p.95)7.

O Pai da teoria da SAP a definiu como a rejeição não justificada por parte
da criança em relação a um dos genitores em um período após a separação dos
pais, onde se envolve também litígios sobre a guarda daquela criança.
A rejeição é ocasionada devido a uma programação feita por um dos
genitores com o objetivo de denegrir a imagem do outro, levando a sérias
consequências, como até mesmo, ao afastamento da criança e do genitor.
Hoje, a Síndrome também é comumente chamada de “Implantação de
Falsas Memórias” ou “Abuso do Poder Parental” e também definido por Podervyn
em 2001 como um processo que corresponde às ações de um dos genitores em
programar a criança para criar sentimentos ruins como mágoa ou ódio em relação
ao outro, fazendo uma espécie de campanha de desmoralização do cônjuge
alienado8.

2006; p.12.
7
http://www.parentalalienation.org/articles/parental-alienation-defined.html
8
PODEVYN, François (04/04/2001). Tradução para Português: Apase – Associação de Pais e Mães
Separados (08/08/2001): Associação Pais para Sempre: disponível em
http://www.paisparasemprebrasil.org - ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental
nos casos de separações judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito. PUCRS,
Porto Alegre, 2008
8

Deve ser ressaltado, entretanto, que a alienação parental, não ocorre


apenas em relação aos ex-cônjuges, qualquer pessoa que possa ter o poder, a
guarda ou o cuidado sob sua autoridade pode exercer a prática alienando a criança.
Pode-se citar, por exemplo, a avó que cuida da criança para o pai ou a mãe
trabalhar e denigre a imagem de um desses. Por isso diz-se que, a alienação
parental se caracteriza pela interferência na formação psicológica da criança ou do
adolescente, para que este repudie o genitor/genitora alienado(a) causando
dificuldades na manutenção dos vínculos, promovida por um dos genitores, parentes
próximos, como os avós ou quaisquer pessoas que estejam sob a responsabilidade,
guarda ou vigilância do menor.

EFEITOS LESIVOS DA ALIENAÇÃO AO PSICOLÓGICO DA


CRIANÇA ALIENADA

Psiquiatras, psicólogos, operadores do direito e demais pesquisadores


estão, a cada dia mais, desempenhados a estudar os efeitos da Alienação Parental
sobre as crianças que são acometidas pelos sintomas.
Baker em seu livro: “Adult children of parental alienation syndrome:
breaking the ties that bind”, descreve que a Alienação pode gerar graves
consequências nas crianças a ela expostas, podendo perdurar até na fase adulta,
muitas delas irreversíveis, incluindo a depressão, abuso de substâncias químicas,
problemas de personalidade, e futuramente praticar a alienação de seus próprios
filhos9.
Uns dos grandes defensores da proteção da criança contra a Alienação
Parental, Senador Paulo Paim, faz uma alerta para o caso e ressalta: “10 milhões de
crianças são atingidas pela alienação parental” e ainda acrescenta:

Para alguns o tema pode ser até mesmo desconhecido, mas ele é de
grande importância. Principalmente se pensarmos que as vítimas da
alienação parental terão problemas no futuro. Ou seja, é um ciclo
vicioso que precisamos quebrar e com urgência. E isso cabe a nós, já
que as crianças e adolescentes, enquanto vítimas ficam
desamparadas. A SAP pode causar diversas e até mesmo
irreversíveis consequências à criança alienada10.

9
BAKER,Amy J. L. Adult Children of Parental Alienation Syndrome.Disponível em:
http://familycourtstories.files.wordpress.com/2011/11/adult-children-of-pas-text.pdf
10
PAIM alerta para problemas da alienação parental. Disponível em:
9

A doutrinadora Maria Berenice Dias descreve que como consequência da


SAP pode-se destacar:

Depressão crônica, incapacidade de adaptação em um ambiente psicossocial


normal, transtornos de identidade e imagem, desespero, sentimento
incontrolável de culpa, sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta
de organização, dupla personalidade e às vezes suicídio 11.

Ter a sensibilidade em diagnosticar a Alienação no momento do


processo de separação judicial pode-se evitar muitos dos traumas advindos.
Percebe-se que o assunto abordado é muito importante e de grande
relevância não somente para os pais, mas também para os operadores do direito,
que tem, na maior parte do tempo, em suas mãos o poder de analisar o que será
melhor para a criança, não somente ganhar a guarda e sim de fazer o que for melhor
para o infante, resguardando sempre a dignidade da pessoa humana desta.

A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE


DA CRIANÇA PARA CRESCER COM DIGNIDADE

O afeto é a base na formação da personalidade humana, possuindo


enorme influência na inteligência, cultura, comportamento, e no desenvolvimento
psicológico do ser humano. Nessa linha de raciocínio a conduta afetiva é essencial
para construir as relações do homem nos aspectos pessoais, sociais e culturais.
Pois bem, o afeto ocupa lugar central nos relacionamentos amorosos,
trançando cidadania, como ingrediente para a compreensão do outro, vitamina para
o desenvolvimento da personalidade dos sujeitos, antídoto contra os efeitos mais
perversos e nocivos dos conflitos, tinta para o planejamento do futuro compartilhado
e, no crepúsculo da relação, se ele não foi suficiente ou se findou, reveste-se como
derradeira gota de expressão de respeito para um desenlace digno e saudável.
Contudo, é dentro do ambiente familiar que a afetividade possui um maior
desenvolvimento, constituindo laços permanentes e concretos, fortalecendo as

<http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=216-paim-alerta-para-problemas-da-alienacao-
parental>. Acesso em: 25 novembro de 2015.
11
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? Disponível em:
http://www.apase.org.br
10

relações entre os entes familiares, suprindo esse sentimento essencial para a vida
emocional e psicológica dos integrantes.
Assim, a entidade familiar deve ter como principal foco e existência do
afeto entre os seus membros. É indispensável que os entes familiares se relacionem
através do afeto, tendo em vista que sem a presença da afetividade, uma relação
saudável e douradora não poderá se constituir e ultrapassar as naturais diferenças e
discordância entre os seus membros.
Essas diferenças entre os entes familiares são absolutamente naturais,
são inerentes aos seres humanas, que são por essência uns diferentes dos outros,
cada um possui um forma particular de pensar e agir, desta forma, sempre existirá
conflitos de interesse dentro da entidade familiar. O que faz os membros familiares
se unirem e superarem essas diferenças é exatamente a existência da afetividade.
De acordo com Tânia da Silva Pereira, indicando que a grande novidade
desse tempo é que a convivência familiar, seja esta dentro ou fora do casamento,
eis que as relações de afeto permitem que pessoas convivam e compartilhem as
vidas, como famílias monoparentais, famílias reconstituídas depois de separações
ou divórcios, dentre outras, devendo ser reconhecidas como núcleos familiares12.
É sabido que a família é a estrutura fundamental para o desenvolvimento
do ser humano quando regada de afeto, amor, carinho, porquanto é na entidade
familiar que ocorrem as primeiras trocas emocionais, sendo tais sentimentos
formadores e moldadores do desenvolvimento psíquico do infante.
É importante salientar que o afeto é necessário para a vida de todos os
seres humanos, possuindo reflexo na personalidade da pessoa e, na sua ausência,
observam-se diversos efeitos, como depressão, dificuldade de aprendizagem e
baixa autoestima.
Pode-se concluir que o afeto é o sentimento essencial na vida do ser
humano, surge da convivência duradoura e concreta, que é diretamente afetada pela
alienação parental.
A Alienação Parental é um processo desencadeado pela ruptura familiar,
que gera a disputa pela guarda dos filhos. O genitor alienador objetiva a alienação
do filho não lhe permitindo a convivência com aquele que não é o seu guardião

12
PEREIRA, Tânia da Silva. O princípio do “melhor interesse da criança” no âmbito das relações
familiares. In GROENINGA, Gisele Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família
e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 207 - 217.
11

judicial. O alienador poderá ser a mãe ou o pai que detém a guarda do filho; e, o
alienado será aquele que é vítima da alienação.
O alienador distorce a percepção do filho de quem realmente é alienado,
difamando, promovendo mentiras que denigrem a personalidade do genitor alienado.
Em várias ocasiões o menor é usado até mesmo como forma de chantagem contra o
ex-cônjuge ou ex-companheiro, com objetivos de retomar a relação e até objetivos
financeiros, pois mantendo o genitor alimentante afastado, este não poderá fiscalizar
e opinar como o dinheiro da pensão alimentícia é gasto.
A Alienação Parental, além de ser uma afronta aos princípios
constitucionais e aos direitos da criança do adolescente, é inaceitável por tornar
esses seres em pleno desenvolvimento vítimas de um abuso emocional que lhes
gera graves consequências psicológicas, decorrentes da inobservância do princípio
da afetividade.

A CRIANÇA ALIENADA E A VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO DA


DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Os direitos da criança e adolescente reputam-se premissas debruçadas


no bojo do texto constitucional de 05 de outubro de 1988, em cuja menção reluz o
capítulo VI, artigos 226 e seguintes, como tema específico quanto à família, a
criança, o adolescente, o jovem e o idoso13.
Os textos constitucionais primam pela harmonia da família, com a
especial proteção do estado, assegurando assim, o bem estar familiar, a união entre
à sociedade conjugal, em seus temas de direitos e obrigações, assegurando com
absoluta prioridade, o cuidado nas temáticas de proteção que asseguram todos os
cidadãos ao direito, invariavelmente a quaisquer distinções, a uma vida digna e
respeitosa, conforme previsão do artigo 227 da Carta Magna.14
A Constituição preconiza as bases desta proteção, dos quais, fora
promulgado posteriormente a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, conhecida como:
Estatuto da Criança de do Adolescente, que em sua disposição legal, acrescentou
maiores diretrizes a aplicação da proteção dos menores em face da proteção
13
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988.
14
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988
12

familiar, tão logo descreve com maiores detalhes a forma de cumprimento e


assistencialidade a proteção dos menores15.
Observa-se que o cuidado familiar, ainda que individual direto ou indireto
abranja uma proteção inerente a própria família, pois a proteção é estendida
também àqueles sobre os quais não pertencessem diretamente à família, como
responsáveis pela criança que não possuem laços de consanguinidade. A relação
protética é advinda da conjectura de que o direito é indisponível, não podendo ser
renunciado em seu próprio nome ou de outrem, principalmente, no que tange
aqueles que necessitam de um cuidado especial, haja vista sua incapacidade de
auto definição, gerenciamento de cuidados, tão logo de sua compreensão.
Dessa forma, nasce para a família, a obrigação deste convício de
proteção, sustentabilidade e educação, a partir do momento que nasce a intenção
de constituir uma família, ou seja, o feto, antes do nascer, já possui capacidade
protetiva que lhes asseguram tamanhos cuidados.
Essa pequena introdução é necessária para demonstrar que devemos
observar o cuidado de proteção, mantença e educação à criança e adolescente, se
sobrepõem ao interesse de permanência a união marital e agora, homo afetiva do
casal constituidor da família, dos quais, na ausência deste convívio, não possibilite o
rompimento dos laços diretos entre os genitores e sua prole, ou indiretos quando ao
caso de filhos adotados.
Assim, criar uma situação de conforto que possa assegurar à criança e os
adolescentes a um convívio no bem estar à nova situação familiar, possibilitará a
segurança da proteção e garantias que os direcionam a aplicação contundente do
menor, permitindo o fiel cumprimento dos deveres assumidos. A separação de
corpos ou o divórcio não podem interferir no interesse da criança e do adolescente.
Contudo, observa-se que em muitas relações, a separação do casal, cria uma
incerteza de identidade para a criança e ao adolescente, dos quais, alguns pais,
preconizam uma relação de desequilíbrio e desconforto a imagem da criança,
atenuando atos sobre o outro, que destronam seu conceito, implantando falsas
memórias, ferindo a identidade de relacionamento da criança sobre o afetado.
A alienação parental promoverá a criança e ao adolescente submetido a
estes tipos de comportamentos psicológicos seqüelas ou instalação de moléstia
crônica ou síndromes que comprometerão, em curto espaço de tempo, o
15
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90 Brasília, DF, Senado Federal, 1990.
13

desenvolvimento normal destes cidadãos, prejudicando, na maioria dos casos, o


crescimento de uma vida saudável.
Este tipo de tratamento, advindos de pais, avós ou responsáveis, ferem
todo o arcabouço constitucional de proteção a criança e o adolescente,
principalmente, no que se referem ao princípio da dignidade da pessoa humana (art.
1º, inciso III da CF/88), conforme previsão em seu artigo 3º da referida Lei:

Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da


criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui
abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.16

Conclui-se que a dignidade da proteção a criança e o adolescente é dever


não apenas na família, mas também, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, conforme previsão do artigo 4º do Estatuto, devendo a todos,
agir efetivamente contra abusos cometidos a estes menores, principalmente, contra
atos diretos de seus responsáveis legais.

INSTRUMENTOS ASSECURATÓRIOS AO DIREITO À VIDA DIGNA.

Quando nos referimos à proteção da dignidade da criança e do


adolescente, precisamos nos respaldar especialmente na sua condição de pessoa
humana, tendo em vista o seu completo desenvolvimento, resguardando a
integridade física, moral e psíquica, preservando o direito previsto
constitucionalmente de proteção.
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10
de dezembro de 1948, através da Resolução 217-A (III), a Declaração Universal dos
Direitos Humanos delineou direitos básicos e fundamentais para o ser humano

16
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90 , 1990.
14

conseguir viver em sociedade, com uma vida digna, sem ser colocado em
patamares inferiores ou superiores, adultos ou crianças17.
Somente após o fim da Segunda Guerra Mundial é que a dignidade da
pessoa humana passou a ser positivada, inclusive em documentos constitucionais,
como pode-se analisar no artigo 1,inciso III da Constituição Federal de 1988, que
traz em seu rol, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da
Republica Federativa do Brasil18.
O artigo 227 da Constituição Federal afirma que é dever de todos,
inclusive do Estado, resguardar o menor de qualquer ofensa ou ato atentatório
contra a sua dignidade19.
Em complemento, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz a
previsão legal do princípio da dignidade ao dispor que a criança e o adolescente têm
direito ao respeito e a dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento.
O ECA vem proteger a criança e o adolescente contra qualquer ofensa
ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física e moral. O desrespeito a
esses preceitos são considerados como falta grave ao autor da conduta, visto que, o
comprometimento do desenvolvimento emocional do menor, pode ocasionar
inúmeros transtornos psicológicos, que podem perdurar até mesmo para o resto da
vida. Em meio a um conflito no qual esteja envolvida uma criança ou adolescente, o
Estado deve garantir que os interesses destes venham prevalecer. Isso tem levado
aos juristas a tentar entender como se dá sua prevenção e/ou repressão por parte
do Estado.
Com o intuito de resguardar a criança da pratica abusiva da Alienação
Parental, além de respaldar-se na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e
do Adolescente, deve-se atentar para a existência de uma lei específica: A Lei nº
12.318, sancionada em 26 de agosto de 2010, mais comumente chamada como “Lei
da Alienação Parental” que e exemplifica as suas formas, no caput e parágrafo único
do 2º artigo20.
17
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Declara%C3%A7%C3%A3o-Universal-dos-Direitos-
Humanos/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.html acessado em 26 de Dezembro de 2015.
18
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988.
19
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988.
20
Lei nº 12.318, de 26 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental
15

A Lei trouxe mudanças significativas, pois, tem como finalidade, combater


ou amenizar a ocorrência da Síndrome da Alienação Parental. Ela disserta que a
prática de alienação parental fere o direito fundamental da convivência familiar
saudável, pois prejudica a relação do menor com um dos seus genitores, por isso,
constitui abuso moral e descumprimento dos deveres legais.
Além de todos os conceitos e medidas protetivas contra a Alienação
Parental, uma das medidas mais importante contida na lei é a prioridade do
processo de guarda quando se trata de alienação. Ao suspeitar que a criança está
sofrendo alienação, tendo indício do ato, o processo passará a ter prioridade e
julgado com urgência sobre todos os demais processos existentes, tomando assim,
o juiz, após a oitiva do Ministério Público como “regis legis”, medidas necessárias
para a preservar a integridade psicológica do menor, visando acima de tudo, que
não seja violada a sua dignidade e reestabelecer a convivência saudável com o
genitor alienado.
Ademais, a Lei determina a realização de acompanhamento psicológico e
inclusive a realização de perícia para melhor elucidação dos fatos e sendo
constatada a prática, o genitor alienante será punido, de acordo com a complexidade
da alienação, podendo este, até mesmo, chegar a perder a guarda.
Percebe-se claramente, em nossa sociedade, a utilização dos filhos como
“moeda de barganha” ou como “mecanismo de vingança”, de um genitor em
desfavor do outro.
A alienação parental consiste no ato da destruição da imagem que a
criança tem no conjugue alienado com a implantação de falsas memórias, mentiras
dos sentimentos deste em relação à criança e até mesmo por denúncia de atos que
não aconteceram.
O conjugue que aliena, faz de tudo como forma de garantir a guarda da
criança para si sem se preocupar com o bem estar da criança, sua vontade e muito
menos seus sentimentos ou as consequências que estes atos podem trazer à
criança Alienada.
Antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), era difícil para o judiciário a identificação da
existência da Síndrome Da Alienação parental e saber quais as consequências que
poderia deixar nas vítimas, deixando os juízes de certa forma inseguros em decidir
16

questões envolvendo a alienação parental e tinha como fundamento legal, na


maioria dos casos, o princípio do melhor interesse da criança.
O judiciário tem reconhecido que o principal bem jurídico que deve ser
resguardado é o bem estar e a preservação da integridade psicológica da criança,
sobressaindo a preservação da dignidade da pessoa humana da criança sobre o
princípio de melhor interesse da criança, podendo os juízes lançar mão de auxílios
de profissionais habilitados (psicólogos e psiquiatras) para diagnosticar a síndrome
da alienação parental, atribuindo assim as penalidades cabíveis.
A prática da alienação parental fere o direito da criança de obter um
crescimento em um ambiente saudável. É dever da família, da sociedade e do
Estado a manutenção do sistema de garantias de direitos e o fato da violação
desses vir a ocorrer dentro do próprio vínculo familiar, demonstra uma clara e nítida
desarmonia quanto ao dever de proporcionar o crescimento digno.
Crescer com dignidade vai além de uma estrutura física de uma casa,
brinquedos, escolas caras, viagens e afins. Envolve acima de tudo um ambiente
sadio, sem brigas, mentiras, onde os pais, mesmo separados, possam conviver
amigavelmente em função do filho.
17

REFERÊNCIAS

APASE. Falsas acusações de abuso sexual alastram-se por todo o país.


Disponível em: http://www.apase.org.br. Acesso em: Dez. 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e


documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro: 2002.

BAKER,Amy J. L. Adult Children of Parental Alienation Syndrome. Disponível


em: http://familycourtstories.files.wordpress.com/2011/11/adult-children-of-pas-
text.pdf. Acesso em: Nov. 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF, Senado, 1988.

______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. Dispõe sobre o


Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.1990.

______. Lei nº 12.318, de 26 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação


parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069 de 13 de julho de 1990.
BRASIL. Código Civil comentado. São Paulo: RT, 2009

______. Novo Código Civil, lei 10.406/2002. Brasília, DF, Senado Federal, 2002.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada


pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de
dezembro de 1948. Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br. Acesso em: Dez.
2015.

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010.

_____, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? 2011.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 26 ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.

FONSECA, Priscila Maria Corrêa da. Bacharel em ciências Jurídicas e Sociais pela
Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica. Artigo publicado
em Pediatria (São Paulo), 2006;

FRAGA, Thelma. A guarda e o direito à visitação sob o prisma do afeto. Niterói:


Impetus, 2005.

GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de


síndrome de alienação parental (SAP)? Disponível em:
http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente.
Acesso em: Nov. 2015.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010.
18

PAIM, Senador. Alertas para problemas da alienação parental. Disponível em:


http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=216-paim-alerta-para-
problemas-da-alienacao-parental. Acesso em: Nov. 2015.

PEREIRA, Tânia da Silva. O princípio do “melhor interesse da criança” no


âmbito das relações familiares. In GROENINGA, Gisele Câmara; PEREIRA,
Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova
epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

PSICOLOGADO. Síndrome da alienação parental. Disponível em:


https://psicologado.com/atuacao/psicologia-juridica/sindrome-da-alienacao-parental-
e-saude-mental-da-crianca-causas-e-seus-efeitos © Psicologado.com. Acesso em:
Dez. 2015.

ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos de


separações judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito.
PUCRS,Porto Alegre, 2008.

SIGNIFICADOS.com. O que é alienação? Disponível em:


http://www.significados.com.br/alienacao/. Acesso em: Dez. 2015.

SILVA, Evandro Luiz et al. Síndrome da alienação parental e a tirania do


guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre: Equilíbrio, 2007

SILVA, Maria Amélia de Sousa. O fim do silêncio na violência familiar. São Paulo:
Summus, 200.

TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito.


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

TRINDADE, Jorge. Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insisteem


não ver / Maria Berenice Dias, coordenação – São Paulo, Editora Revista
dosTribunais, 2007.

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA, Sistema de Bibliotecas. UNISISB, Inez


Barcellos de Andrade [et al] (Organizador). Manual para elaboração de trabalhos
acadêmicos e científicos: guia para alunos, professores e pesquisadores da
UNIVERSO. São Gonçalo, 2002.

WELTER, Belmiro Pedro. Guarda Compartilhada: um jeito de conviver e de ser-


em-família. São Paulo: Método, 2009.

Você também pode gostar