Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ALIENAÇÃO PARENTAL
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA
ALIENADA
Goiânia
2015
2
ALIENACAO PARENTAL
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA
ALIENADA
Goiânia
2015
3
ALIENACAO PARENTAL.
A VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DA CRIANÇA ALIENADA
Banca Examinadora:
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
RESUMO
A Alienação Parental foi o termo criado pelo psiquiatra americano Dr. Richard
Gardner para nomear o transtorno comportamental pelo qual um genitor (alienante)
denigre a imagem do outro genitor (alienado) com adjetivos desqualificadores e
desmoralizantes para filho comum entre eles. Tal comportamento tem como objetivo
colocar o filho contra o genitor alienado como forma de vingança, na maioria das
vezes ocasionada pelo divórcio, usando o filho para atingir o outro. Essa atitude faz
com que a criança fique dividida, se sentindo culpada de algumas situações e chega
a até mesmo a evitar a companhia do cônjuge alienado por medo, ódio ou por achar
que este não o ama, desenvolvendo assim o sentimento de revolta, rejeição, dentre
outros prejudiciais ao bom desenvolvimento psicológico da criança e seu convívio na
sociedade. A Declaração Universal dos Direito Humanos foi instituída como medida
para a proteção da dignidade da ser humano, e é considerada um dos institutos
jurídicos mais importante, pois, o Princípio da Dignidade da Pessoa humana se
sobrepõe a muitos, independente da nação que ele pertença, da cor de sua pele, da
sua orientação sexual e muito menos a sua idade ou capacidade civil. Apesar de
existente há muitas décadas, somente através da Lei nº 12.318, positivada em 2010,
que o assunto se tornou mais conhecido pela sociedade. Muito se fala em alienação,
mas pouco se discute sobre a relação que esse fenômeno tem com a violação da
dignidade da criança alienada e a importância do afeto para um crescimento e
desenvolvimento saudável.
INTRODUÇÃO
mesmo quando há brigas entre os genitores, mesmo que não estejam separados.
Apesar de sempre ter existido o ato de alienação parental, muito
tem se falado sobre o tema nesses últimos anos. O ato de denegrir a imagem do
genitor alienado existe bem antes de existir a separação. Contudo, somente através
da Lei nº 12.318, positivada em 2010, que o assunto se tornou mais conhecido pela
sociedade.
A alienação tem sido tratada com mais ênfase no genitor alienado,
esquecendo-se de que quem mais sofre nessa briga pela atenção do filho é o
próprio infante. Em decorrência de uma infância cheia de brigas e perturbações o
infante poderá se tornar um adulto cheio de traumas psicológicos. Assim, o estudo
detalhado sobre o tema é pertinente não somente para o operador do direito, mas
para todos os envolvidos nessa relação principalmente os responsáveis pela prática.
O referido tema tem fundamento, como se pode aferir, na lei da
Alienação Parental número 12.318 de agosto de 2010, que versa sobre a alienação
e suas penalidades, na Constituição Federal de 1988, que relaciona os princípios
constitucionais tendo entre o de maior relevância o Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, o Direito de Família que dispõe sobre o poder familiar , no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) que dispõe sobre o os direitos do menor e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos- Resolução 217-A(III) – que dispõe
direitos básicos e fundamentais para todo e qualquer ser humano.
A Alienação Parental
Origem
A origem da Alienação, Segundo Welter, tem relação com a mudança das
estruturas de convivência familiar trazida pelo divórcio3.
Antes do Código Civil vigente, o casamento era considerado indissolúvel,
tendo os cônjuges muita dificuldade para se separarem. Com o Código Civil de
2002, o casamento se tornou mais descomplicado de se dissolver.
3
WELTER, Belmiro Pedro. Guarda Compartilhada: um jeito de conviver e de ser-em-família. São
Paulo: Método, 2009. p. 43. ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental nos casos
de separações judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito. PUCRS,
Porto Alegre, 2008
6
Conceito
Alienação pode ter vários significados, pode ser uma cessão de bens,
transferência de domínio de algo ou uma perturbação mental. Para o Direito de
Família, a alienação é o ato pelo qual um indivíduo tem sua capacidade de pensar
ou agir por si próprio reduzido ou até mesmo impossibilitado5.
A alienação parental ocorre quando ou o pai ou mãe da criança, tenta
separá-la do convívio do cônjuge alienado, fazendo com que a criança passe a
sentir desprezo e até mesmo ódio do outro cônjuge através de mentiras e
implantações de falsas percepções.
O ato repetitivo de alienar pode desencadear a Síndrome da Alienação
Parental. Embora muito semelhante, a Síndrome da Alienação Parental não se
confunde com mera Alienação Parental. Priscila Maria disserta que:
4
BRASIL, Novo Código Civil, lei 10.406/2002, Brasília, DF, Senado Federal, 2002.
5
http://www.significados.com.br/alienacao/ acessado em dezembro de 2015
6
FONSECA, Priscila Maria Corrêa da. Bacharel em ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade
Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica. Artigo publicado em Pediatria (São Paulo),
7
O Pai da teoria da SAP a definiu como a rejeição não justificada por parte
da criança em relação a um dos genitores em um período após a separação dos
pais, onde se envolve também litígios sobre a guarda daquela criança.
A rejeição é ocasionada devido a uma programação feita por um dos
genitores com o objetivo de denegrir a imagem do outro, levando a sérias
consequências, como até mesmo, ao afastamento da criança e do genitor.
Hoje, a Síndrome também é comumente chamada de “Implantação de
Falsas Memórias” ou “Abuso do Poder Parental” e também definido por Podervyn
em 2001 como um processo que corresponde às ações de um dos genitores em
programar a criança para criar sentimentos ruins como mágoa ou ódio em relação
ao outro, fazendo uma espécie de campanha de desmoralização do cônjuge
alienado8.
2006; p.12.
7
http://www.parentalalienation.org/articles/parental-alienation-defined.html
8
PODEVYN, François (04/04/2001). Tradução para Português: Apase – Associação de Pais e Mães
Separados (08/08/2001): Associação Pais para Sempre: disponível em
http://www.paisparasemprebrasil.org - ROSA, Felipe Niemezewski. A síndrome de alienação parental
nos casos de separações judiciais no direito civil brasileiro. Monografia. Curso de Direito. PUCRS,
Porto Alegre, 2008
8
Para alguns o tema pode ser até mesmo desconhecido, mas ele é de
grande importância. Principalmente se pensarmos que as vítimas da
alienação parental terão problemas no futuro. Ou seja, é um ciclo
vicioso que precisamos quebrar e com urgência. E isso cabe a nós, já
que as crianças e adolescentes, enquanto vítimas ficam
desamparadas. A SAP pode causar diversas e até mesmo
irreversíveis consequências à criança alienada10.
9
BAKER,Amy J. L. Adult Children of Parental Alienation Syndrome.Disponível em:
http://familycourtstories.files.wordpress.com/2011/11/adult-children-of-pas-text.pdf
10
PAIM alerta para problemas da alienação parental. Disponível em:
9
<http://www.senadorpaim.com.br/verImprensa.php?id=216-paim-alerta-para-problemas-da-alienacao-
parental>. Acesso em: 25 novembro de 2015.
11
DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? Disponível em:
http://www.apase.org.br
10
relações entre os entes familiares, suprindo esse sentimento essencial para a vida
emocional e psicológica dos integrantes.
Assim, a entidade familiar deve ter como principal foco e existência do
afeto entre os seus membros. É indispensável que os entes familiares se relacionem
através do afeto, tendo em vista que sem a presença da afetividade, uma relação
saudável e douradora não poderá se constituir e ultrapassar as naturais diferenças e
discordância entre os seus membros.
Essas diferenças entre os entes familiares são absolutamente naturais,
são inerentes aos seres humanas, que são por essência uns diferentes dos outros,
cada um possui um forma particular de pensar e agir, desta forma, sempre existirá
conflitos de interesse dentro da entidade familiar. O que faz os membros familiares
se unirem e superarem essas diferenças é exatamente a existência da afetividade.
De acordo com Tânia da Silva Pereira, indicando que a grande novidade
desse tempo é que a convivência familiar, seja esta dentro ou fora do casamento,
eis que as relações de afeto permitem que pessoas convivam e compartilhem as
vidas, como famílias monoparentais, famílias reconstituídas depois de separações
ou divórcios, dentre outras, devendo ser reconhecidas como núcleos familiares12.
É sabido que a família é a estrutura fundamental para o desenvolvimento
do ser humano quando regada de afeto, amor, carinho, porquanto é na entidade
familiar que ocorrem as primeiras trocas emocionais, sendo tais sentimentos
formadores e moldadores do desenvolvimento psíquico do infante.
É importante salientar que o afeto é necessário para a vida de todos os
seres humanos, possuindo reflexo na personalidade da pessoa e, na sua ausência,
observam-se diversos efeitos, como depressão, dificuldade de aprendizagem e
baixa autoestima.
Pode-se concluir que o afeto é o sentimento essencial na vida do ser
humano, surge da convivência duradoura e concreta, que é diretamente afetada pela
alienação parental.
A Alienação Parental é um processo desencadeado pela ruptura familiar,
que gera a disputa pela guarda dos filhos. O genitor alienador objetiva a alienação
do filho não lhe permitindo a convivência com aquele que não é o seu guardião
12
PEREIRA, Tânia da Silva. O princípio do “melhor interesse da criança” no âmbito das relações
familiares. In GROENINGA, Gisele Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de família
e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. p. 207 - 217.
11
judicial. O alienador poderá ser a mãe ou o pai que detém a guarda do filho; e, o
alienado será aquele que é vítima da alienação.
O alienador distorce a percepção do filho de quem realmente é alienado,
difamando, promovendo mentiras que denigrem a personalidade do genitor alienado.
Em várias ocasiões o menor é usado até mesmo como forma de chantagem contra o
ex-cônjuge ou ex-companheiro, com objetivos de retomar a relação e até objetivos
financeiros, pois mantendo o genitor alimentante afastado, este não poderá fiscalizar
e opinar como o dinheiro da pensão alimentícia é gasto.
A Alienação Parental, além de ser uma afronta aos princípios
constitucionais e aos direitos da criança do adolescente, é inaceitável por tornar
esses seres em pleno desenvolvimento vítimas de um abuso emocional que lhes
gera graves consequências psicológicas, decorrentes da inobservância do princípio
da afetividade.
16
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90 , 1990.
14
conseguir viver em sociedade, com uma vida digna, sem ser colocado em
patamares inferiores ou superiores, adultos ou crianças17.
Somente após o fim da Segunda Guerra Mundial é que a dignidade da
pessoa humana passou a ser positivada, inclusive em documentos constitucionais,
como pode-se analisar no artigo 1,inciso III da Constituição Federal de 1988, que
traz em seu rol, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da
Republica Federativa do Brasil18.
O artigo 227 da Constituição Federal afirma que é dever de todos,
inclusive do Estado, resguardar o menor de qualquer ofensa ou ato atentatório
contra a sua dignidade19.
Em complemento, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz a
previsão legal do princípio da dignidade ao dispor que a criança e o adolescente têm
direito ao respeito e a dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento.
O ECA vem proteger a criança e o adolescente contra qualquer ofensa
ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física e moral. O desrespeito a
esses preceitos são considerados como falta grave ao autor da conduta, visto que, o
comprometimento do desenvolvimento emocional do menor, pode ocasionar
inúmeros transtornos psicológicos, que podem perdurar até mesmo para o resto da
vida. Em meio a um conflito no qual esteja envolvida uma criança ou adolescente, o
Estado deve garantir que os interesses destes venham prevalecer. Isso tem levado
aos juristas a tentar entender como se dá sua prevenção e/ou repressão por parte
do Estado.
Com o intuito de resguardar a criança da pratica abusiva da Alienação
Parental, além de respaldar-se na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e
do Adolescente, deve-se atentar para a existência de uma lei específica: A Lei nº
12.318, sancionada em 26 de agosto de 2010, mais comumente chamada como “Lei
da Alienação Parental” que e exemplifica as suas formas, no caput e parágrafo único
do 2º artigo20.
17
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Declara%C3%A7%C3%A3o-Universal-dos-Direitos-
Humanos/declaracao-universal-dos-direitos-humanos.html acessado em 26 de Dezembro de 2015.
18
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988.
19
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado,
1988.
20
Lei nº 12.318, de 26 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental
15
REFERÊNCIAS
______. Novo Código Civil, lei 10.406/2002. Brasília, DF, Senado Federal, 2002.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 26 ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
FONSECA, Priscila Maria Corrêa da. Bacharel em ciências Jurídicas e Sociais pela
Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica. Artigo publicado
em Pediatria (São Paulo), 2006;
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010.
18
SILVA, Maria Amélia de Sousa. O fim do silêncio na violência familiar. São Paulo:
Summus, 200.