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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

CURSO DE DIREITO

REGINA ANTÔNIA DOS SANTOS

ALIENAÇÃO PARENTAL :
CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO JURÍDICO

Goiânia
2015
REGINA ANTÔNIA DOS SANTOS

ALIENAÇÃO PARENTAL :
CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO JURÍDICO

Artigo Científico apresentado à Disciplina


Orientação Metodológica para Trabalho de
Conclusão de Curso, requisito imprescindível à
obtenção do grau de Bacharel em Direito pela
Universidade Salgado de Oliveira.

Orientadora: Professora Ma. Cristina Dias de


Souza Figueira

Goiânia
2015
Regina Antônia dos Santos

ALIENAÇÃO PARENTAL :
CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO JURÍDICO

Artigo Científico apresentado ao Curso de Direito da Universidade Salgado de


Oliveira como parte dos requisitos para conclusão do curso.

Aprovada em 08 de dezembro de 2015.

Banca Examinadora:

Professora Ma. Jacqueline Araújo Brito Alves – Mestre em Ciências Sociais, UFSCar
Examinador - UNIVERSO

Professora Ma. Cristina Dias de Souza Figueira – Professora Orientadora


Dedicatória
Dedico este artigo aos meus pais, que
embora não estejam mais presentes no
corpo físico, permanecem queridos e
presentes em minha memória.
Agradecimentos
Agradeço à minha orientadora Ma.
Cristina Dias de Souza Figueira, pela
paciência e habilidade ao conduzir minha
orientação. Agradeço de igual forma, a
todos os professores que passaram por
minha vida, porque cada um, a sua
maneira, acrescentou a ela uma gota de
saber.
ALIENAÇÃO PARENTAL : CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO
JURÍDICO

Regina Antônia dos Santos1

Orientadora: Professora Ma Cristina Dias de Souza Figueira2

RESUMO

Dentre os conflitos familiares que merecem ser estudados por suas implicações na
vida da criança e do adolescente encontra-se a alienação parental.
Fenômeno que, embora não seja recente, visto que sempre esteve presente no
cotidiano das famílias, somente em 2010 foi aprovada uma lei para combatê-la - a
Lei 12.318/2010. Esta Lei tem a intenção de proteger a criança e o adolecente dos
abusos cometidos pelos pais, quando um deles denigre a imagem do outro para
essa criança e adolescente, com a intenção de que eles não queiram mais manter
contato com o genitor alienado, e com isso, conseguir com que ele sinta-se mal por
não ter mais o amor dos filhos. Este é um grande problema porque os filhos amam
igualmente pai e mãe, e quando são obrigados a optar por um deles, podem não ter
estruturas psicológicas para suportar tal decisão.
Este artigo tem como objetivo a análise da alienação parental e suas conseqüências
no âmbito jurídico. Dessa forma, intenciona demonstrar, sob a ótica jurídica, os
prejuízos que a alienação parental pode causar em adultos que sofreram esse
abuso, levando-os a se tornarem pessoas agressivas, e, por conseguinte, um
problema para a sociedade.
Para tanto será utilizado o método de pesquisa bibliográfica para a investigação do
objeto em estudo.

Palavras chave: alienação parental, família.

1
Acadêmica do 10° período do Curso de Direito da Universidade Salgado de Oliveira - Universo -
Goiânia. Graduada em Administração em Turismo pela PUC - Goiás.

2
Possui graduação em Letras Inglês e Literaturas Correspondentes pela Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (1993) e mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (2002) e
especialização em Docência Universitária pela Universidade Salgado de Oliveira(2004). Atualmente é
professor titular da Universidade Salgado de Oliveira.
INTRODUÇÃO

Diante da alta violência por que passa nossa sociedade, faz-se necessário um
estudo sobre a influência causada pelo comportamento dos pais, sobre a vida de
seus filhos, quando um desses pais tenta colocar o filho contra o outro genitor.
Esse ato é cometido, geralmente pelo cônjuge que se sente lesado de alguma
forma com a separação, e na tentativa de afetar o outro cônjuge, que em sua opinião
merece ser punido, tenta tirar dele o afeto de seus filhos. Muitas vezes, o cônjuge
que realiza tal ato, sequer tem a percepção das consequências devastadoras que
pode acarretar na vida da criança ou do adolescente.
A essa prática, a qual se deu a denominação de Alienação Parental, sempre
ocorreu em nossa sociedade, porém, somente nos últimos anos é que ocorreram
movimentos no sentido de coibi-la.
O primeiro passo dado nesse sentido foi a criação do projeto de lei
4.053/2008 do Deputado Regis de Oliveira, que após aprovado foi transformado na
Lei Ordinária 12.318/2010.
Após essa iniciativa passou-se a discutir dentro do âmbito jurídico, e da
própria sociedade, a problemática da alienação parental, buscando-se com isso um
exame mais aguçado acerca desse tema, visando a busca de soluções.
Convém observar que a problemática já existia anteriormente, no entanto, não
havia leis próprias, que pudessem direcionar uma tomada de decisão unificada,
assegurando que tanto as crianças como os adolescentes tivessem os seus direitos
garantidos e respeitados.
Diante do exposto, o presente trabalho tem o objetivo de analisar as
consequências da alienação parental no âmbito jurídico. Esse estudo é essencial,
visto que, a criança e o adolescente que passa por uma situação de alienação
parental pode criar traumas difíceis de serem tratados. Esses traumas se não forem
orientados e conduzidos com cuidado, podem levar essa criança ou adolescente, a
se tornar um adulto violento, descarregando toda a sua frustração e revolta contra a
sociedade.
1. A INSTITUIÇÃO FAMILIAR

1.1 – A FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA

Não há como abordar o tema alienação parental sem antes analisar a


instituição familiar, visto ser ela a base das primeiras relações interpessoais que a
criança tem com o mundo.

Carlos Roberto Gonçalves faz o seguinte comentário sobre a família:


(...) A Constituição Federal e o Código Civil a ela se reportam e
estabelecem sua estrutura, sem, no entanto defini-la, uma vez que não há
identidade de conceitos tanto no Direito, quanto na Sociologia. Dentre o
próprio Direito a sua natureza e sua extensão variam, conforme o ramo.
Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por
vínculo de sangue e que precedem, portanto, de um tronco ancestral
comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende os
cônjuges e os companheiros, os parentes e os afins.

O entendimento do que seja a família foi sendo modificado através dos anos.
Antigamente, a noção de família era aquela constituída por um casal, formado por
um homem e uma mulher, ligados única e exclusivamente pelo laço do matrimônio,
devendo ser esse enlaçe realizado e abençoado por um padre.

A relação entre os entes da família era configurada pelo patriarcado, onde o


pai era o provedor e a autoridade máxima da família, devendo sua mulher e filhos
devotar-lhe total obediência. A mulher tinha como obrigação a criação dos filhos e os
cuidados com a casa, sendo muito rara a notícia de que alguma mulher fizesse
algum curso superior.
Era, nessa época, inadimissível a separação dos casais, que após a união
deveriam manter-se unidos até o final da vida, mesmo não havendo mais harmonia,
lealdade e afeto entre eles. A traição feminina era crime passível de morte, e o
homem traído recebia a absolvição da justiça ao alegar legitima defesa da honra.

Atualmente, verificamos que a sociedade adquiriu novos hábitos, as mulheres


entraram para o mercado de trabalho, consquistaram espaços antes exclusivamente
masculinos, e tornaram-se responsáveis, junto com o marido, e muitas vezes
sozinhas, pelo sustento da casa. Para acompanhar essa evolução da instituição
familiar, fez-se necessário a criação de novas leis, que traduzissem essa nova
realidade vivenciada pela sociedade, retirando modelos antigos e ultrapassados
para garantir uma nova estrutura familiar. Estrutura, essa, que exige, também, novas
definições e posições sobre o direito de família, garantindo assim, todos os seus
direitos e deveres.

Como foi dito anteriormente, esses direitos e deveres que regem as relações
familiares foram, ao longo dos tempos, se modificando, contudo, a instituição familiar
quedou-se protegida, visto ser ela à formadora e mantenedora da sociedade.

Sua importância é tão significativa que foi amparada pela Constituição


Federal Brasileira de 1988, nos artigos 226 a 230, sob o Título VIII – DA ORDEM
SOCIAL, Capítulo VII – da família, do adolescente, do jovem e do idoso.
A Carta Magna em seu artigo 226 preconiza que a família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado.

Além da Constituição Federal Brasileira, a instituição familiar também recebe


amparo no Livro IV, do Código Civil Brasileiro, intitulado DO DIREITO DE FAMÍLIA.

Segundo Carlos Alberto Bittar, o Direito de Família representa em si, o


conjunto de princípios e de regras que regem as relações entre o casal e os
familiares.

Esses princípios e regras que regem as relações familiares foram, ao longo


dos tempos, se modificando e obrigando as leis a também se atualizarem, com a
intenção de se adequar a essas mudanças.

Diferentemente do que vivenciavam os casais que outrora estavam sujeitos


ao Código Civil de 1916, onde não havia paridade entre homens e mulheres, hoje
as leis preocupam-se com a igualdade entre o casal. Podemos verificar este fato no
artigo 1.511 do Código Civil de 2002, que considera que o casamento estabelece
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos
cônjuges.
O código civil também declara que é dever dos cônjuges: a fidelidade
recíproca; a vida em comum no domicílio conjugal; a mútua assistência; o sustento,
quarda e educação dos filhos e o de respeito e considerações mútuas.

O Código Civil Brasileiro de 2002 estabeleceu uma visão mais ampla da


instituição familiar garantindo em seu artigo 1.723 que a união estável é reconhecida
como entidade familiar, quando configurada a convivência pública, contínua e
duradoura, além de ter o objetivo de constituição familiar.

1.2 – DISSOLUÇÃO DA FAMÍLIA

Quando duas pessoas decidem se casar e constituir uma família, esperam


que essa união seja definitiva. Porém, na maioria das vezes e por fatores
diversos, essa união acaba, e o casal se vê diante de uma separação judicial.

A separação judicial é um instituto do Direito de família que põe fim aos


deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime de bens, conforme dita
o artigo 1576 do Código Civil de 2002.
Existem duas possibilidades de separação judicial, uma é denominada
separação consensual, realizada com o consentimento mútuo do casal e onde,
geralmente, não ocorre nenhum entrave à separação. A outra é a separação
litigiosa, onde uma das partes não aceita a separação, ou determinados termos
da separação.

A separação litigiosa torna-se penosa para ambas as partes, e é ainda,


mais dolorosa, quando há crianças e adolescentes envolvidos.
Muitas vezes uma das partes utiliza o filho para atingir aquele que,
segundo ela imagina, é o causador de toda a desarmonia que se instalou dentro
do lar. A questão é que para as crianças e adolescentes, a figura do pai e da
mãe são referências necessárias para que possam sentir-se amados e cresçam
sabendo que são pessoas possuidoras de valor e merecedoras de respeito, e em
conseqüência disso, venham a desenvolver confiança em suas relações
interpessoais. Quando ocorre a quebra dessa referência a criança tende a sentir-
se isolada, desprotegida e, principalmente não amada.
Lenita Pacheco Lemos Duarte concluiu sobre esse assunto:

É possível constatar, por meio da clínica, que nos litígios familiares e


judiciais a instituição da guarda unilateral pode trazer angústia e prejuízos
emocionais para o sujeito criança/adolescente, quando um deles, o
“guardião”, geralmente a mãe, embora às vezes também possa ser o pai,
dificulta, ou proíbe os filhos de conviverem com o outro genitor.

Podemos ver que a criança e o adolescente não passam incólumes por


essa separação litigiosa. Estes sujeitos necessitam, além dos direitos que lhes
garante o artigo 4º da Lei 8.069 – Estatuto da Criança e do Adolescente, qual
seja, direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à liberdade e à convivência familiar e comunitária; o
direito a uma estrutura familiar saúdável, que lhe propicie um bom
desenvolvimento físico e psicológico

2. ALIENAÇÃO PARENTAL

A alienação parental sempre esteve presente na vida das pessoas. Mas


somente agora está sendo debatida em sociedade, principalmente após a Lei
12.318/2010. Esse debate se torna essencial porque muitas pessoas não têm
consciência do prejuízo de tal comportamento e muitas vezes não possuem nem
mesmo a noção de que estão praticando tal ato.

Conforme Maria Berenice Dias A Síndrome da Alienação Parental (SAP) foi


mencionada pela primeira vez pelo psiquiatra americano Richard Gardner que assim
nominou o processo de programar uma criança para que odeie o genitor sem
justificativas.

Essa programação tenciona colocar a imagem do genitor alienado, perante os


filhos, como um ser que não merece ser amado. Para conseguir esse intento o
genitor alienante utiliza-se de justificatívas, que para a criança, são doloridas, como
por exemplo, que o cônjuge alienante saiu de casa porque não gostava, ou não se
importava com a criança. Outro método muito empregado é o de se colocar como
vítima, fazendo com que seu filho se sinta culpado caso não se afaste do genitor
alienado.
São inúmeras as atitudes tomadas pelo cônjuge que pratica a alienação
parental para afastar os filhos do cônjuge alienado. Todos sob a jusfificativa que
será melhor para a criança ficar sem a presença dele.

Essas atitudes causam confusão na cabeça da criança, que não tem o


discernimento capaz de identificar a manipulação da qual está sendo vítima, afinal a
pessoa que pratica a alienação parental é, também, alguém que ela ama, e por isso
não acredita que essa pessoa lhe diga algo que não seja verdade.

A alienação parental é realizada não somente pelos pais, mas também pelos
avós ou qualquer outra pessoa que tenha a criança sob sua autoridade.

Sobre isso rege a Lei 12.318/2010, em seu artigo 2º:

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente
sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Quem geralmente obtém a guarda da criança é quem comete a alienação


parental, sendo que essa muitas vezes ocorre pelo não pagamento de pensão
alimentícia ou pelo simples fato do parceiro estar frustrado com a separação.

3. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A Síndrome da Alienação Parental (SAP) e a alienação parental, muito


embora abordem o mesmo tema, são institutos diferentes.
Enquanto que a Alienação parental decorre do fato de um dos pais tentar
promover a separação seu filho da figura do outro genitor, por meio de difamações
ao cônjuge alienado; a Síndrome da Alienação Parental se configura pelas
consequências que esse ato irá provocar na criança, ou seja, ela internaliza tudo o
que foi dito pelo seu genitor alienador e passa, por conseguinte, a reproduzir suas
atitudes, desprezando aquele que em seu íntimo ela ama, mas que devido a
confusão que se estabeleceu em sua mente, pelas falsas ideias implantadas pelo
genitor alienante, ela se sente convicta de que ele não deve ser amado, que não é
uma pessoa digna do seu afeto.

4. LEI 12.318/2010

Os inúmeros casos em que um dos pais era forçosamente retirado do


convívio com seus filhos, devido à tentativa, por parte de seu ex-companheiro, de
denegrir sua imagem perante os mesmos, levaram a discussão a cerca desse tema.

Além do citado impedimento de convívio com os filhos imposto a um dos pais,


a criança, sem dúvida a mais prejudicada com a situação, tornava-se vítima indefesa
dessa manipulação. Estes fatos levaram o Deputado Federal Regis de Oliveira a
propor, no ano de 2008, um projeto de lei para tratar sobre esse assunto, buscando
coibir a prática da alienação parental.

Para justificar a necessidade da existência de uma lei para penalizar a prática


da alienação parental o Deputado buscou respaldo nas palavras de Maria Berenice
Dias, que assevera que:

(....) muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe sentimento de


abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito
grande. Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da
separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de
descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a
convivência com o filho, quer vingar-se, afastando este do genitor.

Após as devidas tramitações no Congresso Nacional, em 2010, o projeto de


Lei 4.053/2008 foi aprovado e transformado na Lei 12.318. E a partir desse momento
a Alienação Parental foi incluída no âmbito jurídico brasileiro.

Em seu artigo segundo, a Lei 12.318/2010 traz o conceito de Alienação


parental, exemplificando em seu parágrafo único as ações que a caracteriza.

As ações discriminadas no supracitado artigo são: Realizar campanha de


desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
dificultar o exercício da autoridade parental; dificultar contato de criança ou
adolescente com genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de
convivência familiar; omitir deliberadamente a genitor informações pessoais
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações
de endereço; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente; mudar o domícílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.

De igual forma, são considerados atos de alienação parental aqueles


declarados pelo juiz ou constatados pela perícia.

A Lei ainda traz as seguintes orientações a cerca da alienação parental:


Caso seja cometido qualquer desses atos e havendo indício de que houve a
prática de alienação parental, o juiz, se julgar necessário, em ação autônoma ou
incidental irá determinar a realização de perícia, realizada por profissional ou
equipe multidisciplinar, que terão o prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável
exclusivamente por autorização judicial, para apresentar laudo conclusívo.

Após a realização da perícia, se ficar constatado a prática da alienação


parental, o juiz poderá, via ação autônoma ou incidental e sem prejuízo de ações,
decorrentes da responsabilidade civil ou criminal, tomar as seguintes providências:
advertir o alienador; ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor
alienado, estipular multa ao alienador. Determinar acompanhamento psicológico,
determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão,
determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente e, por fim,
declarar a suspensão da autoridade parental.

Em análise última, o artigo oitavo da mencionada Lei, garante que a


alteração do domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação
da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar,
exceto se houver consenso entre os genitores ou decisão judicial.
5. CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL NA VIDA DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

A criança e o adolescente, vítimas da alienação parental e que, em


decorrência disso desenvolvem a Síndrome da Alienação Parental, podem também
desenvolver doenças psíquicas. Esse fato requer muita atenção, visto que essas
doenças futuramente, quando esses sujeitos se tornarem adultos, podem vir a se
tornar um grande problema para a sociedade.

Lenita Pacheco Lemos Duarte faz a seguinte explanação sobre o tema:

Quando o genitor alienador passa a destruir a imagem do outro perante aos


filhos (...) trazem insegurança e dúvidas para os filhos, que acabam, muitas
vezes, precisando se calar (...) para não desagradar o genitor com o qual
reside, e que os mantém sob seu controle. Também podem passar a evitá-
los, rejeitá-los podendo até odiá-los, repetindo as mesmas falas e
sentimentos do guardião alienador. No entanto, muitos conflitos decorrentes
do que as crianças e os adolecentes ouvem e sentem, permanecem
recalcados, mas atuantes em suas subjetividades, e o que se verifica
nesses casos é o aparecimento de diversos sintomas a curto, médio e longo
prazo, quando se tornam adultos.

Essa situação pode gerar na criança e adolescente uma sensação de raiva e


culpa, gerada pela confusão mental que se caracteriza pela dicotomia de ter que
odiar alguém que deveria amar, visto ser essa pessoa seu genitor.

Ademais, a alienação parental gera, também, uma sensação de abandono na


criança, devido ao fato dessa criança não ter capacidade cognitiva suficiente para
perceber e entender o jogo mal intencionado do genitor alienante.

A alienação parental pode trazer outras consequências que serão observadas


em longo prazo, quando essa criança ou adolecente já forem adultos, em seus
relacionamento com seus futuros parceiros.

Devido ao abuso sofrido, eles podem desenvolver relacionamentos


patológicos, que se destacará pela falta de confiança, pela crença no desvalor do
parceiro e até mesmo pela violência.
Nesse sentido Lenita Pacheco Lemos Duarte faz o seguinte comentário:

Algumas meninas, identificadas imaginariamente com suas mães, repetem


as falas maternas agressivas dirigidas ao ex-parceiro. Dessa forma passam
a enquadrar os homens e futruros parceiros nessa categoria desvalorizada,
transmitida sob o olhar e o discurso materno. Quanto aos meninos, estes
podem se tornar violentos, exploradores ou indiferentes às mulheres,
quando se identificam com pais nomeados de “abusados, ausentes, que
abandonaram segundo os ditos das mães alienadoras”

Sabedores dessa situação vivenciada pelo menor, os Tribunais brasileiros


tem julgado favoravelmente as ações daqueles que procuram a justiça no sentido de
buscar proteção contra a alienação parental pela qual tem passado esse menor.

Nº 70014814479 2006/CÍVEL 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GUARDA. SUPERIOR
INTERESSE DA CRIANÇA. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL.
Havendo na postura da genitora indícios da presença da síndrome da
alienação parental, o que pode comprometer a integridade psicológica da
filha, atende melhor ao interesse da infante, mantê-la sob a guarda
provisória da avó paterna. Negado provimento ao agravo. AGRAVO DE
INSTRUMENTO SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Nº 70014814479 COMARCA
DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR G.S.A. AGRAVANTE T.M.W. ..
AGRAVADA M.M.W. . INTE

Temos, ainda:

TJ-MG - Apelação Cível AC 10395110003872003 MG (TJ-MG)


Data de publicação: 19/05/2014
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE GUARDA - MEDIDA CAUTELAR
INOMINADA - DISPUTA ENTRE AVÓS MATERNOS E GENITOR -
AGRESSÕES PRATICADAS CONTRA O MENOR - ALEGAÇÕES
INSUBSISTENTES - ATOS TÍPICOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL -
CONSTATAÇÃO - MEDIDAS TENDENTES À OBSTAR A INSTALAÇÃO
DA SÍNDROME - ARTIGO 6º DA LEI 12.318 /10 - OBSERVÂNCIA -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MANUTENÇÃO - RECURSOS
DESPROVIDOS. Demonstrada a insubsistência das agressões imputadas
ao genitor que, contrariamente ao argumentado, reúne condições morais,
psicológicas e financeiras para exercer a guarda do filho menor, deve ser
mantida a sentença que julga procedente o pedido por ele formulado,
rejeitando a pretensão de idêntica natureza apresentada pelos avós
maternos. Caracterizados atos típicos de alienaçãoparental, cumpre ao
magistrado determinar a adoção de medidas necessárias para obstar a
instalação da síndrome, na forma estabelecida no artigo 6º da Lei n. 12.318
/10. Incabível a minoração dos honorários sucumbenciais fixados em
patamar condizente com os critérios delineados pelo § 3º , do artigo 20 do
CPC .
Apesar do empenho da justiça em julgar os casos de alienação parental, é
interessante observar que a procura pela justiça deveria ser a última alternativa para
a busca de solução dessa problemática. Devendo haver sempre um esforço
conjunto para a resolução do conflito, de forma a não sobrecarregar o judiciário.
Uma das possibilidades que se adequaria a essa resolução seria a busca de
ajuda psicológica, ou até mesmo o emprego do instituto da mediação.

5. CONCLUSÃO

Diante dos estudos realizados vemos que a Alienação Parental é uma forma
de manipulação utilizada por um dos genitores para difamar o outro genitor, levando
seus filhos a se afastar dele.

Embora as crianças e adolescentes sempre tenham sido vítimas da alienação


parental e da Síndrome da alienação parental, não havia leis que as definissem e
regulamentassem. Por conseguinte, elas não tinham existência no mundo jurídico, o
que obrigava os operadores do Direito a quedar-se inertes e omissos perante essa
prática, que coloca a criança e o adolescente em uma situação de vulnerabilidade
psicológica.

Na alienação parental as questões pessoais de insatisfação do genitor


alienante para com o genitor alienado sobrepõem-se ao dever de proteger seus
filhos e dar-lhes assistência emocional. Ao invés disso ocupam-se em difamar o
cônjuge alienado para que seus filhos passem a evitá-lo e até mesmo a odiá-lo.

Contudo, a alienação parental passou a ser combatida com o advento da Lei


12.318/2010. A partir do seu surgimento, tanto a alienação parental quanto a
Sindrome da Alienação Parental ganharam visibilidade no âmbito jurídico, tornando
possível àqueles que atuam na área jurídica debater seus malefícios e buscar meios
para combatê-la.

Segundo pesquisa bibliográfica realizada, verificou-se que os danos causados


pela Alienação Parental e pela Síndrome da Alienação Parental abalam
psicologicamente a criança e o adolescente que se sentem angustiados e rejeitados
pelos pais. Esse quadro pode evoluir para bloqueios emocionais, podendo levar a
criança e o adolescente a um comportamento depressivo.

Essa situação pode levar o indivíduo a tornar-se apático, ou em extremo


oposto pode tornar-se violento por não saber como lidar com suas emoções.

Elaborar esse quadro é necessário para que o indivíduo entenda que ele
nada tem a ver com os problemas conjugais dos pais, não devendo se espelhar nas
atitudes deles.

A vontade de querer ser como os pais, ou até mesmo imitá-los com a


intenção de agradá-los ou até mesmo para provocá-los, sendo este um
comportamento típico de adolescentes, somada ao fato de terem sido vítimas da
alienação parental, pode vir a se tornar uma ligação perigosa. Isto porque, tendo em
vista que se a criança ou adolescente se identifica com o agente alienador, podem
eles, futuramente, tornarem-se amargos e descrentes dos valores humanos, pois
foram essas as impressões passadas a eles.

Por outro lado, se eles se identificam com o cônjuge alienado, poderão se


tornar pessoas que não tem consideração com outras pessoas, em virtude de
enxergarem, o genitor alienado como tal. Ou seja, por sempre escutar do genitor
alienante que o genitor alienado não se importava com ninguém, os filhos podem
entender, de forma distorcida, ser interessante agir dessa forma.

A preocupação com esse quadro torna-se pertinente, uma vez que, esses
sujeitos integram a sociedade e suas atitudes trazem reflexo na vida das demais
pessoas. A vista disso, as pessoas que fazem parte do seu circulo de convivência,
como por exemplo, sua família, podem de igual forma desenvolver depressão
transformando-se em pessoas descrentes ou desenvolverem atitudes violentas.

Verifica-se, enfim, que as atitudes de quem foi vítima de alienação parental,


resultam em muito mais do que os próprios prejuízos da vítima, porquanto, esses
malefícios podem ser repassados de um indivíduo para outro, criando uma cadeia
de pessoas psicologicamente afetadas.
REFERÊNCIAS

BITTAR, Carlos Alberto. Direito de família – 2ª ed., Ed. Forense Universitária, Rio
de janeiro: 1993.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de família, 15 ed. São Paulo: Saraiva.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito de Família - 9ª ed.


Ed. Saraiva, São Paulo:2012

DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. A guarda dos filhos na família em litígio – uma
interlocução da psicanálise com o Direito – 3ª ed., Ed. Lúmen júris, Rio de
Janeiro: 2009.

FIGUEIREDO, Fábio Vieira; Alexandridis, Georgios. Alienação Parental – 2º ed.


Ed. Saraiva, São Paulo: 2014.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família - 11ª ed. Ed. Atlas, São
Paulo: 2011.

TACHIZAWA, Takeshy; MENDES, Gildásio. Como fazer monografia na prática. 12


ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. 45 p.

BRASIL. Projeto de Lei 4053, de 07 de outubro de 2008. Dispõe sobre a alienação


parental . Disponível em:
< ttp://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=411011
> Acesso em 02.10.2015.

DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental, o que é isso? Disponível


em: <http://www.apase.org.br.> Acesso em 25.08.2015.
ONG APASE – Associação de pais e mães separados, Síndrome da Alienação
Parental. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm> Acesso
em 25.08.2015

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altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso
em 13.08.2015.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Agravo de Instrumento, Sétima


Câmara Cível nº 70014814479 Comarca de Santa Vitória do Palmar. Disponível em:
<http://www.alienacaoparental.com.br/jurisprudencia-sap> Acesso em 25.08.2015.

BRASIL., Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Apelação Cívil, Segunda Câmara


Civil nº AC 10395110003872003 MG. Disponível em: <http://tj-mg.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/120457400/apelacao-civel-ac- 10395110003872003-mg>.
Acesso em 25.08.2015.

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