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RESUMO
A família tradicional foi considerada padrão por muitos anos, porém, com a implantação da
Constituição Federal de 1988, essa ideologia foi rompida, já que houve o surgimento de novos
modelos familiares, entre elas estão as famílias homoafetivas que são formadas por duas
pessoas do mesmo sexo. A partir disso, nasceu para essas novas entidades os direitos
inerentes à família, contudo, ainda percebe-se obscuridades, como o direito em adotar, pois,
mesmo já tendo acontecido atualizações na Lei Nacional de adoção, o ordenamento jurídico
não os incluiu aos que tem legitimidade para adotar. Dentro desse contexto, busca-se
compreender quais foram os avanços realizados no ordenamento jurídico acerca da adoção de
crianças por casais homoafetivos? A pesquisa teve como objetivo geral analisar os elementos
jurídicos da adoção por casais homoafetivos. Esse estudo é de suma relevância social, pois
tem o objetivo de contribuir para a incitação de estudos e aperfeiçoamentos legislativos, além
disso, colabora para a ampla e geral aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana e
da igualdade. A presente pesquisa trata-se de um estudo bibliográfico que visa trazer uma
percepção atual e inovadora, com a finalidade de contribuir com o desaparecimento do
preconceito, bem como a elaboração de normas acerca do tema. Conclui-se, desta forma, que
devem ser rompidas as amarras do preconceito tanto social, quanto jurídico, colocando-se à
frente fatos realmente importantes para o bom desenvolvimento do adotando, como por
exemplo, o melhor interesse da criança/adolescente.
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Acadêmica do Curso de Bacharelado em Direito da Christos Faculdade do Piauí – CHRISFAPI
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Professora-Orientadora do trabalho acadêmico
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1 INTRODUÇÃO
O tema aqui proposto é de extrema relevância social e jurídica, haja vista que no
decorrer dos últimos anos vem sendo muito abordado a respeito dos conceitos que norteiam
os modelos de família na sociedade mundial, estando entre elas a família homoafetiva que
enfrenta várias dificuldades no ato da adoção, seja por puro preconceito, seja por confronto de
crenças religiosas ou pela falta de previsão legal.
Com o advento da lei 12.010/ 2009, Lei Nacional de Adoção, o instituto da adoção de
crianças e adolescentes passou a ser regido exclusivamente pelo Estatuto da Criança e
Adolescentes e o Código Civil Brasileiro teve revogados e modificados dispositivos
concernentes à adoção.
O sistema legal brasileiro não traz nenhuma proibição à adoção por pares
homoafetivos, porém o ECA, em seu artigo 42 § 2°, exigia, assim como o Código Civil, em
seus dispositivos revogados, que a adoção conjunta só poderia se concretizar caso os parceiros
fossem casados ou vivessem em união estável.
Contudo, sabe-se que, até pouco tempo atrás, a união estável homoafetiva não era
reconhecida juridicamente, tampouco podiam contrair matrimônio, isto é, havia uma espécie
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de vedação implícita a adoção por parceiros homossexuais, já que somente parceiros de sexo
oposto, casados ou em união estável, poderiam adotar conjuntamente.
Esse cadastro foi definido em resolução pelo CNJ, e para realizar o cadastro é
necessário comparecer a uma Vara de Infância e Juventude do município, observar alguns
requisitos, que serão abordados posteriormente, além de apresentar alguns documentos, como
de identificação pessoal, comprovante de residência, atestado médico de sanidade mental,
certidões cíveis e criminais, dentre outros.
Para Nakamura (2018), tratar a adoção como medida excepcional engloba uma medida
pública soberana, a de preservar o direito constitucional e essencial do convívio familiar e
comunitário. Assim, quando se diz que a doção deve ser uma medida excepcional está
evidenciando a preponderância da família biológica.
Considerando que todo ser humano tem assegurado o direito à convivência familiar, e
que essa convivência pode naturalmente ocorrer por meio de uma adoção, qualquer pessoa,
independente de estado civil, poderá adotar se já for civilmente capaz, ou seja, é necessário ter
18 anos completos, desprezado seu estado civil.
Rolf (2018) aponta que a maioridade também não determina a existência de uma
compreensão absoluta do ato de adotar pelo adotante, ao passo que ao completar 18 anos não
significa que o indivíduo alcançou amadurecimento necessário e suficiente para compreender
a extensão e significado de uma adoção.
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De acordo com Rosenvalde e Farias (2017), O modelo familiar não pode ser
caracterizado pela diversidade de gêneros, devendo ser levada em consideração a afetividade,
e esta, estar presente nas relações homoafetivas. Não se pode privar os casais homossexuais
de experimentar a paternidade/maternidade, seja por reprodução assistida, seja por adoção.
Contudo, com o passar dos anos, os homossexuais lutaram para ter seus direitos
reconhecidos. Em vista disso, um grande marco ocorreu em 2011, o reconhecimento da união
estável por homossexuais como entidade familiar, pelo Supremo Tribunal Federal.
Posto isso, fica claro que não existe justificativa para o impedimento da adoção por
pares do mesmo gênero, haja vista que estes já foram reconhecidos como entidade familiar,
fato que os concede os mesmos direitos de casais heterossexuais, inclusive o direito à adoção
que já havia sendo realizada através das lacunas da lei.
Para Silva; Sousa; Fernandes (2017), essa orientação marca o início de uma nova
concepção na área da saúde, marcada pelas transformações histórico-políticas, relativas à
solidificação dos direitos dos homossexuais. Assim sendo, o código de ética de psicologia
estipula princípios fundamentais baseados na igualdade, liberdade e respeito, colaborando
assim, com práticas que visam extinguir o preconceito.
Nesse contexto, cabe ressaltar que o Conselho Federal de Medicina (1985), antes
mesmo da manifestação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Classificação
Internacional das Doenças (CID), retirou de sua lista de patologias a homossexualidade
classificando como normal e saudável o amor e desejo de pessoas do mesmo sexo.
Diante do exposto, é válido ressaltar que não existe indícios que provem que a
orientação sexual dos pais possa interferir na orientação sexual dos filhos, prova disso é a
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existência casais heterossexuais que possuem filhos homossexuais. A sexualidade não é uma
escolha baseada na orientação sexual dos pais.
Segundo Maria Berenice Dias (2020), Excluir o direito dos pares homossexuais de
adotar baseado nessas dificuldades impostas pela sociedade é ferir descaradamente o respeito
à dignidade humana, visto que essas adversidades também estão presentes nas famílias
homoparentais, porém não quer dizer que um ser humano educado por apenas um dos
genitores desenvolva problemas psicológicos, assim como a sociedade não discrimina e,
tampouco deixa de reconhecer a legitimidade desse tipo de família.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, cabe ressaltar que embora muitas mudanças positivas tenham sido
realizadas a favor da classe homossexual, muitos direitos ainda estão obscuros, e, ao longo
dessa pesquisa, foi possível observar que um dos pontos indefinidos diz respeito ao instituto
da adoção, pois mesmo havendo o reconhecimento dessas famílias o que consequentemente
os dar os mesmos direitos de uma família formada por heterossexuais não existe uma lei que
regulamente esse tipo de adoção.
Ademais, foi possível constatar que houve mudanças na lei que trata da adoção e,
mesmo com tais alterações, o legislador optou por silenciar mais uma vez, inclusive foi
suprimido do projeto da lei o dispositivo que tratava sobre a adoção por famílias
homoparentais, dando a ideia de que o legislador pretendia dificultar a adoção por pares
homoafetivos.
Nesse contexto, parece que o legislador silencia por medo de desagradar seu
eleitorado, então não aprova leis que concedam direitos a essa classe, que é uma minoria, não
há outra justificativa para a exclusão das famílias homoafetivas no que tange à adoção do
ordenamento jurídico, porém, cabe ressaltar que a falta de uma lei que regule tal direito não
significa dizer que esse direito não exista.
REFERÊNCIAS
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.13. ed. Salvador: Editora Juspdvm,
2020.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil Famílias. 9.
ed. Salvador: Editora Juspodvm, 2017.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Direito de família.14. ed. São
Paulo: Saraiva Jur, 2017.
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2018.