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ADOÇÃO TARDIA E OS OBSTÁCULOS À SUA CONCRETIZAÇÃO

Adriana Almeida Medina 1


Prof. Orientadora Fernanda Prata Moreira Ribeiro 2

RESUMO
Este estudo tem por objetivo identificar os principais obstáculos à concretização da
adoção tardia, demonstrando, ainda, os vínculos que se estabelecem e a relevância
social do instituto. A adoção tardia é aquela destinada, principalmente, a adolescentes
ou crianças na pré-adolescência, público que não se adequa ao perfil procurado pela
grande maioria dos adotantes, que buscam prioritariamente recém nascidos. Logo, é
de suma importância abordar a temática, até mesmo para a conscientização da
sociedade. A pesquisa classifica-se como hipotético-dedutiva, descritiva e
bibliográfica. Constata-se que o preconceito ainda é o principal obstáculo à adoção,
pois há, por parte dos adotantes, receio de que os vínculos não serão estabelecidos
ou que o pré-adolescente ou adolescente trará consigo traumas, que dificultarão a
convivência. Assim, cabe à sociedade civil e ao Estado implementar medidas para
conscientização da importância de se possibilitar lares também a outras crianças,
além das recém nascidas, pois os vínculos se estabelecem a depender da forma como
é conduzido o processo de adoção e o estágio de convivência.

Palavras-chave: Adoção Tardia. Dificuldade. Laços Afetivos. Conscientização.

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por objetivo identificar os principais obstáculos à


concretização da adoção tardia, demonstrando, ainda, os vínculos que se
estabelecem e a relevância social do instituto. Assim, busca-se analisar as relações
de vínculos paterno e materno na perspectiva da adoção tardia, aquela que envolve
crianças maiores de dois anos de idade. Esta modalidade de adoção tende a gerar
medos e pré-conceitos por parte dos adotantes, não raras vezes, dificultando a
inserção de crianças e adolescentes nas famílias substitutivas.
O receio de que a criança/adolescente não se adapte no novo lar, ou o medo
da bagagem genética e comportamental, além das experiências traumáticas vividas

1 Gestora Ambiental pela UNA, Pós Graduada em Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela
FAMINAS.
2 Advogada e Consultora Jurídica em Direito Tributário; Mestra em Direito Público pela Universidade

FUMEC. Professora de Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Processual Tributário em cursos
preparatórios para carreiras jurídicas. Professora da Unidade Curricular Sistema Tributário Nacional e
a Atividade Empresarial, Direito Tributário Constitucional e Tributos em Espécie e Execução Fiscal no
Graduação em Direito do Centro Universitário UNA.
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pelos adotandos, são fortes obstáculos para a realização da adoção tardia na


atualidade brasileira. Esse estigma traz expectativas negativas que influenciam na
hora da escolha, fazendo com que a preferência seja por recém-nascidos.
Por isso a importância da pesquisa, para que se possa mostrar a possibilidade
de a adoção tardia ser um sucesso, desde que haja, por parte dos adotantes,
comprometimento, disponibilidade, determinação e paciência, pois a completa
adaptação do adotando na família substituta pode demorar, até mesmo, anos. Daí a
relevância do papel do pai e da mãe nesta modalidade de adoção.
Destarte, para alcançar o objetivo central desse trabalho, utilizou-se o método
de abordagem hipotético-dedutivo e, quanto ao método de procedimento, adotou-se
o descritivo. A técnica utilizada na elaboração da presente pesquisa foi a bibliográfica,
buscando em vários autores, legislação, artigos, dentre outras fontes, elementos para
a compreensão do tema.

2 ADOÇÃO: ASPECTOS GERAIS

2.1 HISTÓRICO E CONCEITO

O vocábulo adoção advém do latim, do adoption e, na definição de Chaves


(1998, p. 449), é um ato sinalagmático e solene. Desde que observados os requisitos
estabelecidos na legislação, estabelece vínculo de paternidade e filiação legítimas.
Felipe (1998, p. 79), por sua vez, pontua que a adoção é o ato jurídico que cria,
entre duas pessoas, uma relação semelhante à que resulta da paternidade e filiação
legítimas.
A esse conceito Monteiro (1997, p. 03) acrescenta o fato de que a adoção gera
laços de filiação independentemente de fato natural de procriação.
A legislação brasileira não apresenta um conceito de adoção. Logo, como
ressalta Silva Filho (2019, p. 69-70), fica a cargo da doutrina a delimitação conceitual
do instituto, o que conduz a uma diversidade de definições.
Acrescenta o autor que a grande maioria dos estudiosos do Direito conceituam
o instituto a partir do vínculo de parentesco que se instaura entre adotante e adotado,
para, assim, distinguir a adoção da filiação natural (SILVA FILHO, 2019, p. 71). Porém,
há estudiosos que partem da análise do bem-estar da criança e adolescente, para,
então, apresentar uma definição do que vem a ser a adoção.
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Gonçalves (2020, p. 362) observa que o conjunto de definições é amplo e


aberto, inexistindo conceituação única e que se sobreponha às demais. Entretanto, é
pacífico o entendimento de que o instituto estabelece a filiação a partir de uma ficção
jurídica.
Ainda segundo Silva Filho (2019, p. 71) a adoção é, pois, o instituto que cria
um vínculo especial de parentesco entre adotante e adotado, chamando-o de civil.
Não se pode ignorar que tal definição é extraída da análise do art. 41 da Lei n°
8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que expressamente ressalta que
a adoção impõe ao filho adotado os mesmos direitos dos demais filhos, inclusive no
âmbito do Direito Sucessório, além de desligar o adotado de qualquer vínculo com a
família biológica, salvo no tocante aos impedimentos matrimoniais (BRASIL, 1990).
Ainda com fulcro no referido dispositivo de lei, é possível concluir,
preliminarmente, que a adoção é um ato jurídico que impõe um vínculo de filiação,
sem qualquer relação com a afinidade consanguínea ou afim.
Rodrigues (2008, p. 340), por sua vez, pontua que a adoção é ato do adotante
pelo qual traz ele, para sua família e na condição de filho, pessoa que lhe é estranha.
Na sua obra o autor explica que a adoção confere ao adotado o status de filho, como
se natural fosse, recebendo o adotado, deste modo, uma família e todos os efeitos
sucessórios. Portanto, a adoção é modalidade artificial de filiação, conhecida como
filiação civil, que se distingue da biológica em virtude da manifestação de vontade dos
envolvidos.
Não é demais ressaltar que muito embora os autores falem em filiação civil,
desde o advento da Constituição de 1988 inexiste qualquer distinção entre os filhos
adotivos e os filhos biológicos. Assim, a adoção gera a filiação e o adotado se
transforma em filho, com todos os direitos e deveres dos filhos naturais (LÔBO, 2021,
p. 269).
Sobre o ato jurídico, relata Lôbo (2021, p. 270) que sem autorização judicial
não há adoção, pois é necessário que haja decisão judicial para que possa surtir
efeitos, já que é um ato de natureza complexa e de sentido estrito. Por isso preconiza
tratar-se de ato jurídico de natureza complexa, pois os efeitos da adoção dependem
da decisão judicial. E por dizer respeito ao estado de filiação, é indisponível e
irrevogável.
Evidencia-se, portanto, que a adoção, apesar de instituir a filiação por vínculo
jurídico, assegura ao filho os mesmos direitos e garantias advindos da filiação natural,
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sendo vedada qualquer forma de discriminação, sendo, pois, instituto que possibilita
às crianças e adolescentes uma família, independente de vínculo consanguíneo.
A adoção, na antiguidade, tinha fundamentos políticos e religiosos, e não era
voltada à instituição familiar, pois inexistia a preocupação com a constituição da
família, como há na atualidade, e muito menos a preocupação em se assegurar aos
adotandos uma vida digna. Logo, com a adoção, procurava o indivíduo sem
posteridade obter filhos que lhe perpetuassem o nome e lhe assegurassem o culto
doméstico, considerado entre os romanos como necessidade natural dos que se
finavam (BORDALLO, 2020, p. 199-200).
Segundo Monteiro (1997, p. 12), isso se dava em virtude da necessidade de
perpetuação da família, já que situações jurídicas exigiam a continuidade por meio de
descendentes.
Em Roma, por sua vez, a configuração do instituto assume desenvolvimento
com os contornos de maior precisão e larga utilização devida ao caráter limitado dos
laços de sangue e a índole profundamente religiosa do povo, sobretudo no culto do
lar. A adoção, em meio a esse cenário, atendia à necessidade de preservação da
unidade religiosa, política e econômica da família romana.
Ainda, para atender aos fins políticos, até imperadores foram adotivos, tais
como Otávio Augusto (adotado por Júlio César) e Justiniano (por Justino). No sistema
do direito romano existiam dois tipos de adoção: ad-rogação, pela qual um pater
familias entrava na família do ad-rogante, e a adoção em sentido restrito, pela qual o
adotado entrava na família do adotante na qualidade de filho, filha, neto ou neta do
pater familias (BORDALLO, 2020, p. 201).
A adoção de um pater familias exigia efetiva intervenção do Poder Público,
concordância do adotado e adotante, a anuência da sociedade e um ritual
eminentemente público, pois se processava cerimonial que primeiro abrangia a
extinção do pátrio poder do pai natural e, depois, num segundo tempo, sua
transferência para o adotante.
Havia, ainda, uma terceira forma, a adoção testamentária, através da qual o
adotante recorria ao testamento para efetuar a adoção desejada. Controvertido era o
seu caráter, pois uns a consideravam como verdadeira ad-rogação, enquanto outros
uma simples instituição de herdeiro sob condição de tomar o adotado o nome do
testador (MONTEIRO, 1997, p. 13-14).
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No Direito Canônico a adoção permaneceu quase que desconhecida, posto que


a Igreja manifestava importantes reservas. Acreditava que a adoção seria um meio de
suprir o casamento e a constituição da família legítima. Exatamente por isso a adoção
entrou em franco declínio com o passar dos tempos, chegando a cair em desuso no
curso da Idade Média, por ser contrária ao direito feudal, que seguia os estritos termos
da consanguinidade. A adoção, naquela época, estabelecia parentesco civil, ficto,
contrário ao vínculo de sangue (MONTEIRO, 1997, p. 14).
Para Albergaria (1996, p. 29), foi o advento do Código de Justiniano que
reascendeu a utilização do instituto, fazendo surgir a adoção simples e a adoção
plena. Esta se dava dentro da própria família natural. Servia para atribuir patria potesta
a quem não tinha, como o pai natural que desse o filho em adoção ao seu avô. Pátrio
poder para o ascendente que o adotasse sem mudar de família.
Porém, o Decreto-lei de 29 de julho de 1939 estabeleceu a legitimação adotiva,
que permitia ao menor ingressar na família do adotante desde que contasse com
menos de cinco anos ou nascido de pais desconhecidos ou mortos.
Importa registrar, ainda, que no antigo Direito Português, segundo Chaves
(1998, p. 668), a adoção era na sua essência, um título de filiação. Não acolhida no
Código Civil de 1867, foi, no entanto, reestruturada pelo de 1916, dividindo-se em
duas modalidades: adoção plena, na qual o adotado adquiria a situação de filho
legítimo para todos os efeitos legais, salvo alguns sucessórios; e a adoção restrita,
que atribuía ao adotado e aos adotantes apenas os direitos e deveres estabelecidos
na Lei.
No Brasil, na vigência do Código Civil de 1916, a adoção era regulamentada
nos arts. 368 a 378, dispositivos estes que foram alterados pelo advento da Lei n°
3.133/1957. De acordo com Silva Filho (2019, p. 42), o referido Código de 1916
traçava distinção entre a adoção plena, (o adotado adquiria a situação de filho legítimo
para todos os efeitos legais, salvo alguns direitos sucessórios) e a adoção restrita
(atribuía ao adotado e aos adotantes apenas os direitos e deveres estabelecidos na
Lei).
Na vigência do Código de 1916 percebia-se, ainda, a existência de duas formas
de adoção, sendo uma destinada aos maiores de 18 anos, e outra aos menores, ou
seja, às crianças e adolescentes.
A finalidade básica da adoção, à época, era dar aos casais filhos que não
puderam gerar, e às crianças desamparadas uma família, além de apresentar um
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caráter assistencial, posto que é uma forma de colocação em família substituta


(OLIVEIRA, 2001, p. 115).
Em 1965 veio à lume a Lei nº 4.655, que dispôs sobre a legitimação adotiva,
forma especial de adoção através da qual se procurou equiparar quase que totalmente
o adotado ao filho legítimo (OLIVEIRA, 2001, p. 116), disciplina esta que perdurou até
a aprovação do Código de Menores - Lei nº. 6.697/1979, que extinguiu a legitimação
adotiva e passou a admitir, para menores, duas formas de adoção: a simples e a
plena, com as características já apontadas.
Leciona Chaves (1998, p. 606) que o Código de Menores se fundamentava na
doutrina da situação irregular, isto é, havia um conjunto de regras jurídicas que se
dirigiam a um tipo de criança ou adolescente específico, aqueles que estavam
inseridos num quadro de patologia social. Logo, o instituto perdeu o seu caráter
assistencialista para se revestir de uma finalidade corretiva.
Por fim, cumpre asseverar que a adoção, na doutrina da situação irregular,
consagrada pelo Código de Menores, caracterizava-se como medida paliativa para
dar conta do quadro de desamparo que marcava o cenário brasileiro infanto-juvenil.
Ou, ainda, uma prática de repercussão pública, em consonância com a lógica vigente
à época, isto é, a incompetência moral, econômica e social da família pobre e sua
culpabilização pelo Estado ditatorial, o que sucumbiu com o advento da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988.

2.2 REQUISITOS PARA A ADOÇÃO

Em relação ao adotante, o requisito é referente à idade, devendo esta ser maior


de 18 anos. Assim, qualquer pessoa maior de 18 anos poderá adotar, não havendo
idade máxima para isso. Quanto ao adotando, este deverá ter no máximo 18 anos de
idade. Nos casos de pessoas maiores de 18 anos, a adoção será permitida e regida
pelo Código Civil. Em ambos os casos, deverá haver a diferença de 16 anos entre
adotante e adotado.
Além da questão da idade, existem os requisitos da real vantagem e dos
motivos legítimos. O primeiro significa dizer que a criança adotada está, de fato, sendo
adotada com uma real vantagem emocional para si mesma, e por sua vez, os motivos
legítimos correspondem à vontade de formação familiar. A estabilidade familiar deverá
ser comprovada em juízo, indo muito além de uma mera comprovação de casamento,
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ou união estável. Neste caso, a estabilidade está vinculada a um ambiente equilibrado


e bem administrado, de forma a garantir o cumprimento do maior interesse da adoção,
que é o bem-estar do menor, financeiro, psicológico e social.
Segundo Diniz (2020), seriam três os principais requisitos para adoção:
maioridade do adotante, diferença mínima de 16 anos e consentimento dos pais ou
representante legal. Ainda que o adotante seja emancipado, se não possuir 18 anos
na data do requerimento da adoção, ficará impossibilitado de adotar. Além da
maioridade, os adotantes devem possuir capacidade legal para tal, restando
impossibilitados aqueles que não possuam discernimento para tal ato ou que reste
impossibilitado em exprimir sua vontade, mesmo que de causa transitória.
Quanto à diferença mínima entre adotante e adotado, esta busca garantir uma
maior estabilidade na construção familiar, tanto financeira quanto psicológica. Por fim,
o consentimento dos pais ou representantes legais a quem se deseja adotar está
exposto no art. 45 do ECA (DINIZ, 2020). Cumpre destacar que conforme §1° do
referido artigo, o consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente
cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. Ainda
referente ao consentimento, o art. 28, §§ 1° e 2° do ECA estabelecem, que em sendo
o adotado maior de 12 anos, é obrigatório o seu consentimento (BRASIL, 1990).
Preenchidos os requisitos, para sua concretização a adoção precisa passar
pelo chamado “estágio de convivência”, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar,
salvo nos casos do art. 46 do ECA. O mesmo artigo também regula o caso de o
adotante ser residente ou domiciliado fora do país, bem como assegura o
acompanhamento profissional durante a realização do estágio. Segue o artigo 46 do
Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou


adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as
peculiaridades do caso
§ 1° O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver
sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que
seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
§2° A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização
do estágio de convivência.
§3° Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do
País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no
mínimo, 30 (trinta) dias.
§4° O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional
a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio
dos técnicos responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da
conveniência do deferimento da medida (BRASIL, 1990).
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Em suma, após o preenchimento destes requisitos, o futuro adotante deverá


procurar uma Vara da Infância e da Juventude, para saber quais os documentos e
procedimentos necessários para iniciar o processo de adoção. Após ter todas as
informações e ter todos os documentos necessários, é preciso fazer uma petição,
preparada por um defensor público ou advogado particular, junto à Vara da Infância e
Juventude. Depois de ter o nome aprovado e habilitado nos cadastros local e nacional,
é obrigatório o curso de preparação psicossocial e jurídica, com duração de dois
meses. Após o curso, o pretendente é submetido a uma avaliação psicossocial, uma
entrevista técnica e uma visita domiciliar (DINIZ, 2020).
Durante a entrevista técnica, o candidato descreve o perfil da criança que
deseja adotar. É possível escolher idade, sexo, condições de saúde, se tem irmãos,
etc. No caso de irmãos, a lei prevê que esses não sejam separados. Somente depois
desses processos, o candidato pode, ou não, ser habilitado pela Vara de Infância e
Juventude para a adoção. Se aprovado, o nome do pretendente entra no Cadastro
Nacional de Adoção. O registro no CNA é válido por dois anos. Após esse prazo, as
informações devem ser atualizadas (DINIZ, 2020).
Uma vez com o nome cadastrado na fila de adoção, a Vara de Infância e
Juventude informará o pretendente caso exista uma criança compatível com o perfil
descrito. O histórico da criança será apresentado e, se houver interesse, criança e
pretendente serão apresentados. Após a apresentação, o pretendente é entrevistado
para saber se há desejo de continuar o processo. A criança também pode ser
entrevistada. Em caso positivo, inicia-se o período de convivência monitorada, em que
o futuro adotante pode dar pequenos passeios com a criança, visitar o abrigo onde ela
mora, dentre outros.
Se tudo correr bem nessa etapa, a criança então é liberada e o pretendente
iniciará a ação de adoção, quando receberá a guarda provisória da criança, que fica
válida até a conclusão do processo. Mesmo com a criança já morando com a família,
nesse período ainda ocorrem visitas técnicas periódicas e uma avaliação conclusiva
da equipe da Vara da Infância e Juventude. Se o parecer do juiz for favorável à
adoção, então é lavrado o novo registro de nascimento da criança, já com o
sobrenome da nova família, podendo, inclusive, ser trocado o primeiro nome. Desse
momento em diante a criança passa a ter todos os direitos de um filho biológico
(DINIZ, 2020).
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Percebe-se, portanto, que há um procedimento legal que norteia a adoção no


ordenamento jurídico brasileiro, com vistas a proporcionar a segurança jurídica, e
sempre pautando-se no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente,
objeto do próximo tópico.

2.3 DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Tem-se, ainda, o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. À


luz do art. 227, caput, da Constituição Federal de 1988, o Estado, a sociedade e a
família devem priorizar a proteção da criança e do adolescente. Assim, o melhor
interesse do menor engloba a preservação do direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao respeito, à dignidade, à liberdade, dentre outros.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).

Pode-se afirmar que, ainda que não seja possível atender com excelência todas
as circunstâncias fáticas e jurídicas que mais beneficiassem o menor, a excelência
deverá ser buscada ao máximo possível. Aqui, cabe a aplicação do princípio da
razoabilidade, sendo entendido que atenderá ao princípio do melhor interesse toda e
qualquer decisão que primar pelo resguardo amplo dos direitos fundamentais.
Contudo, pela importância ao presente estudo, o princípio em comento será retomado
oportunamente.
Ainda, tem-se o princípio da igualdade entre os filhos. Esse princípio decorre
da antiga classificação dos filhos entre legítimos, ilegítimos e adotivos, que acabou
por imprimir nas relações de filiação um nível de inferioridade a depender da origem
de sua formação, sendo abolida pela Constituição de 1988, que passou a assegurar
que filhos são filhos, independentemente da maneira como foram concebidos.
De acordo com Pereira (2021), a Constituição de 1988, em virtude da
consagração do princípio da dignidade da pessoa humana, também consagrou
princípios outros, dentre os quais se destacam a responsabilidade e a igualdade entre
os filhos, que encontram, no entender do autor, sustento no “macroprincípio da
dignidade da pessoa humana”, princípio que autoriza pensar novas formas de
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estrutura familiar e, consequentemente, reflete nos institutos afetos ao Direito de


Família.
Portanto, o constituinte inovou sobremaneira ao tratar do tema na Constituição
de 1988, consagrando o princípio da igualdade não apenas como um princípio geral,
já que em se tratando do Direito de Família deu especial atenção à igualdade entre os
cônjuges e, também, à igualdade entre os filhos, obstando toda e qualquer forma de
discriminação.
Por fim, não se pode ignorar a intrínseca relação entre o princípio do melhor
interesse do menor e o da prioridade absoluta. O princípio estabelece primazia em
favor das crianças e dos adolescentes em todos os âmbitos em que houver em jogo
seus interesses (PEREIRA, 2021). Não existe a possibilidade de ponderações e
indagações a respeito de sobre qual interesse primeiramente tutelar. O interesse da
criança e do adolescente deve ser sempre o primordial a atender, já que este é um
princípio inserido da Constituição Federal sendo, portanto, interesse de toda uma
nação. Logo, é importante esclarecer que a prioridade deve ser assegurada por todos:
família, comunidade, sociedade em geral e Poder Público, inclusive no fomento da
adoção tardia, como se passa a expor.

3 ADOÇÃO TARDIA E OS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS PARA A


SUA CONSOLIDAÇÃO

3.1 CONCEITO

Segundo Weber (2004, p. 130) “a adoção tardia representa no Brasil, um


processo de ordem ética e de natureza constitucional. Seu objetivo é atender as
verdadeiras necessidades da criança e do adolescente, assegurando-lhes o direito
peculiar da convivência familiar”, principalmente das crianças maiores e adolescentes
esquecidos nos abrigos e que se sentem rejeitados pela sociedade.
Através dessa modalidade de adoção, busca-se promover a reconstrução de
vida dessas crianças e adolescentes em desenvolvimento que vivem em instituições
de abrigo, ou àquelas que foram abandonadas, muitas, ao nascer. Por intermédio da
adoção tardia, o adotado deve encontrar apoio, amor e companhia dos adotantes que
passam à condição de pais (WEBER, 2004, p. 132).
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Portanto, atualmente a adoção tem caráter filantrópico, humanitário, o qual de


um lado procura dar às pessoas a possibilidade de criar como filho crianças não
havidas naturalmente, e, de outro, dar às crianças desamparadas, provenientes de
pais sem recursos ou desconhecidos, a oportunidade de estarem inseridas em um lar,
numa família onde encontrarão condições para se desenvolverem de forma saudável,
cercadas de amor e respeito, como seres humanos dignos.
A função da adoção tardia é possibilitar e garantir que crianças com mais de
dois anos de idade e adolescentes sejam adotados, aceitos e acolhidos em uma nova
família. A busca é feita de maneira a encontrar “uma família para a criança” e não
“uma criança para a família” (FIGUEIREDO, 2005, p. 19)
A criança ou o adolescente ao ser integrado na nova família, passa a ter todos
os direitos e deve ser reconhecido em igualdade com os demais irmãos se os tiver,
ou seja, torna-se filho biológico da família que o acolher, podendo inclusive receber
tratamentos disciplinares, ajudando, dessa forma, no desenvolvimento familiar e
comunitário (MADALENO, 2021, p. 672).
A intenção da adoção tardia é de incorporar a criança na nova família através
da convivência familiar sadia onde adotantes e adotados se reconheçam como pais e
filhos, sem o preconceito da adoção ou a distinção entre aos filhos naturais ou
adotados.
Isto posto, demonstra-se que a função social da adoção, é a busca de uma
família para menores desamparados. Assim a adoção deixa de ser meramente uma
maneira de perpetuar a família, para se tornar uma ferramenta de inclusão social e
assistencial (BORDALLO, 2020, p. 260).

3.2 A REALIDADE EM NÚMEROS

Não é demais ressaltar, de plano, que no Brasil estudos estatísticos são


poucos, principalmente no que tange à temática adoção. Delimitada à questão da
idade, torna-se ainda mais complexo compreender os dados quantitativos. A situação
melhorou bastante com a criação do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento
(SNA), que traz algumas informações.
Anote-se que a última atualização seu deu em setembro do corrente ano, e
permite identificar que das 29.353 crianças/adolescentes acolhidos, mais de 7.700 mil
possuem mais de 15 anos de idade, ou seja, há uma pequena chance de serem
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adotadas. Entre 12 e 15 anos são mais de 5.700 adolescentes; e, entre 9 e 12 anos,


são mais de 4.200 adolescentes e crianças. Logo, o maior percentual é de maiores de
09 anos de idade, conforme se extrai do gráfico abaixo.

Gráfico 01: Crianças e Adolescentes acolhidos por faixa etária

Fonte: SNA, 2021.

Registra-se, ainda, que das 4.234 crianças e adolescentes disponíveis para


adoção, a situação não é diferente, pois o maior número possui idade superior a 09
anos, senão veja-se:

Gráfico 02: Crianças e Adolescentes disponíveis para adoção

Fonte: SNA, 2021.


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Portanto, não há dúvidas que o grande número de crianças e adolescentes,


com 09 anos ou mais, revela as dificuldades da adoção tardia.

3.3 EFEITOS DA ADOÇÃO TARDIA NAS FAMÍLIAS E NO ADOTADO

Hoje em dia ainda é bastante escassa a procura pela adoção tardia. Os motivos
são inúmeros, como, por exemplo, a preferência por crianças recém nascidas, com o
intuito de acompanhar seu crescimento, poder dar mamadeira, trocar fraldas, dar
banho. Há, também, a apreensão de que a criança traga consigo maus costumes,
mágoas provocadas pelo abandono e pela institucionalização; além do medo de que
a criança herde dos pais biológicos o “sangue ruim”, ou seja, que tenha uma herança
genética desconhecida, como, por exemplo, traços negativos de caráter e
temperamento.
De acordo com Vargas (1998, p. 39):

Adotar é um pouco difícil, pelo motivo de convivência com pessoas que nunca
tivemos contato ser sempre um empecilho. Ficar obrigado a ter que receber,
aceitar o outro em sua integridade, com seus problemas, pois também temos
dificuldades e limitações. Esse amor que suporta tudo, que se fala que só
Deus Pode nos amar assim, muitas pessoas não tem essa capacidade, pelo
simples motivo de possuímos problemas em receber e amar o que não
conhecemos, sem medo e sem explicações.

Semelhantemente torna-se ainda mais complicada a adoção de crianças que


já estão com sua personalidade formada, com uma idade em que têm uma visão sobre
as coisas. Fica, sim, um pouco mais difícil de se falar sobre este assunto de grande
relevância e pouca aceitação.
Vargas (1998, p. 39), também destaca que:

É importante que a criança deseje ir viver com a família, que esteja disposta
a aceitá-los. Ela é encaminhada pelos profissionais encarregados de operar
a sua adoção por aquele(s) adotante(s), é escolhida por ele(s), mas deve
manifestar sua vontade, deve ser ativa no processo de aceitação daquela(s)
pessoa(s) como seus pais. Nesse processo, é fundamental a atitude do
adotante, de se mostrar disponível para ser adotado pela criança numa
postura mais passiva do que ativa. A criança necessita se sentir livre para a
sua escolha e, ao mesmo tempo, segura de que é querida, é aceita. Isso nem
sempre acontece nas primeiras semanas ou meses de convivência. A
angústia dos pais, ante a incerteza de ser aceito pelo filho, que ainda resiste
a lhe chamar de pai/mãe, muitas vezes, pode ser o passo inicial para as
dificuldades de adaptação da criança numa família. A aproximação paulatina
entre criança-família também pode operar o ajuste necessário entre a criança
idealizada e a criança que está ali para ser adotada, que já tem traços bem
definidos, além de uma história e de hábitos adquiridos em relações
anteriores.
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Hoje em dia adotar crianças maiores de dois anos é sempre uma segunda
opção. Porém nos últimos anos houve uma mudança significativa do perfil das
famílias, de mães/pais solteiros a casais homoafetivos, essas crianças maiores já não
são mais excluídas do processo de adoção.
Além disso, há quem não consiga mais conciliar sua rotina pessoal e de
trabalho com um bebê, troca de fraldas, banhos, mamadeiras e noites mal dormidas.
Dessa forma, uma criança maior, que já tenha passado por essa fase de total
dependência e que exige muitos cuidados, identifica-se melhor com famílias que já
tenham realizado o sonho de ter um bebê em casa ou que não tenha tempo para lidar
com as necessidades de um recém-nascido.
As pessoas veem na adoção tardia um obstáculo, pois se relacionar com um
filho não biológico que já tem suas próprias vontades pode trazer insegurança, porém
esquecem-se que a maior parte dos relacionamentos são com pessoas estranhas,
como, amigos(as), namorado(a), marido ou esposa. Inicialmente são pessoas
estranhas, mas com o tempo essas pessoas estranhas tornam-se pessoas queridas.
Não é por isso que essas relações são piores ou melhores. Os novos e diferentes
tornam-se, muitas vezes, melhores. Criar um laço de família precisa-se de muito
esforço, dedicação, trabalho e, sobretudo, tempo (VARGAS, 1998, p. 40).
Não é demais ressaltar que no processo de adoção tardia há vários
sentimentos envolvidos. E, por parte dos pais, há sempre o receio de que a criança e
o adolescente tragam sofrimentos da convivência com a família passada (de origem)
ou com outros familiares ou, até mesmo, da instituição de acolhimento.
De fato, como lembram Fernandes e Santos (2019, p. 72), num primeiro
momento os sentimentos trazidos pela criança e adolescente podem, sim, apresentar-
se como elementos que dificultem a construção de novos vínculos. E acrescentam:

[...] observou-se uma apreensão frente aos costumes e aprendizados


adquiridos pela criança anteriormente à adoção. Tais dimensões foram
consideradas um dos principais obstáculos iniciais na construção do vínculo
parento-filial. As autoras relatam que as vivências passadas das crianças
podem ter deixado marcas e emoções desagradáveis que potencialmente
terão efeitos nas futuras vinculações, por conta do rompimento precoce de
vínculos familiares, do abandono e da negligência sofridos na família
biológica e nas instituições de acolhimento.

Isso se deve a diversos fatores, mas principalmente ao processo de rupturas


pelos quais crianças e adolescentes, numa adoção tardia, já vivenciaram, seja em
relação à família de origem, a outras famílias ou instituições de acolhimento. Estas
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rupturas causam impactos quando se trata de estabelecer novos vínculos e


demandam esforços de todos os envolvidos, em especial dos pais.
Sobre a ruptura e a formação de novos vínculos, Fernandes e Santos (2019, p.
01) lecionam: “[...] devido à existência de vivências anteriores à adoção, a construção
de vínculos com os pais adotivos pode se iniciar fragilizada, já que tanto os pais quanto
as crianças devem se adaptar aos modos de viver de cada um”.
De acordo com Fernandes e Santos (2019, p. 71), no processo de adoção não
basta que vínculos sejam firmados, mas, sim, que o sentimento de pertencimento seja
estabelecido e a criança e adolescente passe a sentir-se membro do núcleo familiar.
Acrescentam Fernandes e Santos (2019, p. 71-72) que é plenamente possível
que uma criança se adapte ao contexto familiar, costumes e hábitos de uma família,
embora isso não signifique, necessariamente, que tenha se estabelecido vínculos de
familiaridade. E o mesmo pode ocorrer com sentimentos, ou seja, ainda que se
mantenha afetivamente vinculada aos pais adotivos, pode inexistir o sentimento de
pertencimento acima descrito.
Não se pode ignorar que o período de convivência ou estágio de convivência é
de suma importância no estabelecimento destes vínculos. O estágio de convivência é
o período de avaliação da nova família, que deverá ser acompanhada por uma equipe
técnica do juízo. Essa fase do processo tem por objetivo proporcionar uma amostra
de como será a convivência entre os membros da família após a adoção, mostrando
se há verdadeira compatibilidade entre as partes. Essa averiguação do dia a dia da
família é extremamente necessária, a fim de verificar o comportamento de seus
membros e como enfrentam os problemas diários surgidos pela convivência.
O juiz poderá dispensar o estágio de convivência, apenas se o adotando já
estiver sob a guarda legal ou tutela do requerente por tempo suficiente para que se
possa avaliar a convivência da adoção e a formação de vínculo afetivo entre adotante
e adotando. A guarda de fato, por si só, não autoriza a dispensa da realização do
estágio de convivência (COELHO, 2016, p. 172).
Conforme o art. 46, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente, o legislador
não especifica a duração do estágio de convivência, pois não há como avaliar quanto
tempo seria necessário ao acompanhamento da vida do adotando na sua nova família.
Por esse motivo, o juiz deverá fixar o prazo analisando as peculiaridades de cada
caso, atento ao conteúdo dos relatórios e pareceres apresentados pela equipe
interprofissional.
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O §3º, do art. 46, do Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece,


também, a obrigatoriedade do estágio de convivência em caso de adoção por pessoa
ou casal residente ou domiciliado fora do País, que deverá ser cumprido em território
nacional pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias.
O período de estágio de convivência deverá ser acompanhado por uma equipe
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude com a finalidade de
apurar a presença dos requisitos subjetivos para a adoção: idoneidade do adotando;
reais vantagens para o adotando e motivos legítimos para a adoção. Esse
acompanhamento terá, preferencialmente, o apoio dos técnicos responsáveis pela
execução da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão
relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida (art. 46, §4º
ECA) (ROSSATO, 2009, p. 53).
Em se tratando da adoção tardia, o estágio de convivência ganha ainda mais
importância, período no qual os envolvidos, em especial os pais, podem refletir sobre
o histórico e vivências prévias à adoção, aprendendo a construir os laços e vínculo
parento-filial (FERNANDES; SANTOS, 2019, p. 73).
Portanto, a motivação dos pais é de grande relevância no processo de
construção dos vínculos na adoção, ou seja, quando os pretendentes estão abertos a
receberem uma família e já passaram por uma preparação para a adoção, as chances
de sucesso são muito maiores, o que se deve especialmente ao estabelecimento de
laços que vão muito além do afeto. Há uma abertura para que a criança e/ou
adolescente sinta que faz parte da nova família, ao mesmo tempo em que os
pretendentes passam a acolhê-las, considerando as mesmas com suas vivências
afetivas, e demonstrem disposição para se tornar pais, viabilizando a formação de
vínculos afetivos.
A grande preocupação dos adotantes em adotar crianças maiores está no
medo que essas pessoas têm da carga genética supostamente trazida pelo(a) filho(a)
da família de origem. Temem pelos hábitos, manias e costumes adquiridos durante
seu crescimento.
Porém, deve-se esclarecer que o comportamento não é determinado pela
genética. O que se herda são características físicas como a cor dos olhos, dos
cabelos, da pele, a estatura e etc., além da possibilidade de desenvolver algumas
doenças genéticas como, por exemplo, hipertensão, cardiopatia ou diabetes
(BARBOSA, 2006, p. 30).
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Portanto, fica claro que o comportamento é aprendido pelo sujeito desde o dia
de seu nascimento até o dia de sua morte e são totalmente influenciados pelos
estímulos materiais, intelectuais afetivos, físicos, espirituais e emocionais que receber.
Dessa forma, ao ser adotado, a tendência é que desenvolva novos comportamentos,
de acordo com os novos estímulos que receber nessa nova família (BARBOSA, 2006,
p. 31).
Vargas (1998, p. 53-60) explica que durante a fase de adaptação a criança
passa por alguns estágios de mudança de comportamento, como, por exemplo: a fase
do encantamento onde ocorre, normalmente, durante o estágio de adaptação, pois
ainda está conhecendo o novo lar, onde existem muitas novidades, tudo que ela
sempre desejou e fará de tudo para não perder essa oportunidade se comportando
do modo como os pais desejam. A fase teste surge quando a criança ou adolescente
se sentir acolhido, ele começará, então, a testar os limites, através de provocações,
agressividade física e verbal, para que possam se certificar se os pais
verdadeiramente o amam e se não irão abandoná-lo. Nesse momento é necessário
que os pais saibam lidar de forma firme, impondo regras e limites, mas sempre com
carinho e afeto. Na fase da regressão a criança/adolescente passa agir como se bebê
fosse, ou seja, faz xixi na cama ou na roupa, fala como bebê, quer usar chupeta e
mamadeira, quer colo a toda hora, como que quisesse renascer nessa nova família e
viver todas as fases da infância com os novos pais. E, por derradeiro, a fase da
adaptação se dá com a criação de novos hábitos e costumes de acordo com a nova
família. Isso não é algo fácil, mas acontecerá gradativamente com o passar dos
meses, de modo que em breve a criança/adolescente estará totalmente inserido no
novo ambiente familiar.
Resta claro, portanto, que para oferecer uma família a essas crianças com
todos esses problemas precisa-se que elas estejam destinadas a dar conforto e,
acima de tudo amor. E que sejam capazes de proporcionar à criança uma base para
o desenvolvimento independentemente de sua idade.

3.4 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS À ADOÇÃO TARDIA

A adoção, instituto de suma importância, busca assegurar o bem-estar e melhor


interesse da criança e do adolescente. Porém, em se tratando de adoção tardia há
alguns obstáculos a serem enfrentados, que serão analisados neste tópico.
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A esse respeito Campus (2006, p. 01) disserta:

Construir um vínculo de filiação exige esforço, dedicação, trabalho e


sobretudo tempo. Adotar uma criança maior às vezes pode ser parecido com
casar com uma pessoa após um breve namoro: você estava apaixonado e
achava que seriam “felizes para sempre”, mas na convivência diária descobre
que não a conhecia direito, suas características pessoais, suas “manias”,
seus “defeitos”. Essa situação pode levar ao divórcio; mas, se o casal investe
na relação com amor e ambos procuram superar suas divergências, o vínculo
se fortalece. Na adoção também é necessário esse investimento e a solução
do divórcio não existe, pois a adoção é irrevogável. Por esta razão, o estágio
de convivência é tão importante e não deve ser apressado, pois é nele que
ambos, adotantes e adotandos, devem se conhecer; é nele que devem surgir
as dificuldades e sondadas as possibilidades e os desafios que aquela
adoção implica. Os adotantes devem se questionar se realmente querem e
estão dispostos a enfrentar os percalços que certamente existirão. O
acompanhamento do estágio de convivência por profissional capacitado
também se reveste de grande importância na formação e consolidação do
vínculo entre pais e criança.

Nesse contexto, portanto, é importante mencionar que há grandes chances de


sucesso ou fracasso nas relações que se estabelecem no meio social, isso se aplica
tanto na adoção tardia, como na vida em si. Para haver êxito, essas relações
dependem da capacidade de suporte, amor, entrega, trocas afetivas, confiança,
companheirismo, amizade, dentre outros, entre os protagonistas (VARGAS, 1998, p.
35).
Destarte, acredita-se que a conscientização social quanto à relevância da
adoção tardia e a inexistência de óbices ao estabelecimento de vínculos é de suma
importância, ficando a sugestão para análise de eventuais projetos sociais com vistas
a fomentar tal modalidade de adoção.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se analisar, ao longo deste estudo, as relações de vínculo paterno e


materno na adoção tardia e, assim, identificar os principais obstáculos a esta
modalidade de adoção, pois ainda prevalece a busca por crianças recém nascidas, o
que leva à exclusão do público adolescente e pré-adolescente, cujas chances de
adoção são bem menores.
Constatou-se que esta modalidade ainda enfrenta vários obstáculos no Brasil,
muitas vezes criados por medos que acabam influenciando no processo de adoção e
que fazem com que as pessoas desistam de adotar uma criança mais velha.
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O principal objetivo da adoção, é acolher a criança ou adolescente que, por


algum motivo, perderam suas famílias, independentemente da idade.
Notou-se que a aprovação da Lei nº 12.010/2009, a nova lei de adoção, trouxe
muitas mudanças no processo da adoção, visando garantir os direitos fundamentais
da criança e do adolescente e, entre eles, o direito a uma família substituta - mesmo
que a adoção seja a última opção, pois é preciso esgotar todas as possibilidades de
manter essas crianças e adolescentes em suas famílias de origem. O objetivo, agora,
não é mais o de encontrar uma criança para a família que deseja, mas, sim, o de
encontrar uma família para a criança que dela necessita, para seu desenvolvimento e
crescimento adequado.
Mais recentemente novas alterações foram introduzidas na adoção por força
da Lei nº 13.509, de 22 de dezembro de 2017, o que evidencia a preocupação do
legislador em aperfeiçoar o procedimento e, assim, tornar mais eficaz a adoção no
país.
Notou-se também, que algumas crianças e adolescentes têm dificuldades de
adaptação à nova família e que, por causa dessas dificuldades, muitas delas são
maltratadas por seus pais, principalmente quando atingem a adolescência - período
esse que praticamente todos adolescentes apresentam mau comportamento, sejam
filhos biológicos ou adotivos. Por isso, o Judiciário com base nos relatórios das
equipes técnicas, deve sempre priorizar sempre o bem estar da criança levando em
conta, principalmente, os princípios constitucionais explanados no decorrer deste
artigo, além de analisar de maneira sistêmica os aspectos psicológicos e o ambiente
que eles possam proporcionar a essa criança.
Destarte, o papel dos pais é de suma importância, pois o acolhimento da
criança e do adolescente tem papel fundamental no sucesso do processo de adoção
tardia. Enfrentar os problemas com paciência e amor, superando as dificuldades, é
medida que se impõe, sendo dever do Estado, nesse contexto, disponibilizar apoio e
orientação aos envolvidos, o que decerto contribuirá para o maior número de adoções
tardias no país.
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REFERÊNCIAS

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