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RESUMO
Este estudo tem por objetivo identificar os principais obstáculos à concretização da
adoção tardia, demonstrando, ainda, os vínculos que se estabelecem e a relevância
social do instituto. A adoção tardia é aquela destinada, principalmente, a adolescentes
ou crianças na pré-adolescência, público que não se adequa ao perfil procurado pela
grande maioria dos adotantes, que buscam prioritariamente recém nascidos. Logo, é
de suma importância abordar a temática, até mesmo para a conscientização da
sociedade. A pesquisa classifica-se como hipotético-dedutiva, descritiva e
bibliográfica. Constata-se que o preconceito ainda é o principal obstáculo à adoção,
pois há, por parte dos adotantes, receio de que os vínculos não serão estabelecidos
ou que o pré-adolescente ou adolescente trará consigo traumas, que dificultarão a
convivência. Assim, cabe à sociedade civil e ao Estado implementar medidas para
conscientização da importância de se possibilitar lares também a outras crianças,
além das recém nascidas, pois os vínculos se estabelecem a depender da forma como
é conduzido o processo de adoção e o estágio de convivência.
1 INTRODUÇÃO
1 Gestora Ambiental pela UNA, Pós Graduada em Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela
FAMINAS.
2 Advogada e Consultora Jurídica em Direito Tributário; Mestra em Direito Público pela Universidade
FUMEC. Professora de Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Processual Tributário em cursos
preparatórios para carreiras jurídicas. Professora da Unidade Curricular Sistema Tributário Nacional e
a Atividade Empresarial, Direito Tributário Constitucional e Tributos em Espécie e Execução Fiscal no
Graduação em Direito do Centro Universitário UNA.
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sendo vedada qualquer forma de discriminação, sendo, pois, instituto que possibilita
às crianças e adolescentes uma família, independente de vínculo consanguíneo.
A adoção, na antiguidade, tinha fundamentos políticos e religiosos, e não era
voltada à instituição familiar, pois inexistia a preocupação com a constituição da
família, como há na atualidade, e muito menos a preocupação em se assegurar aos
adotandos uma vida digna. Logo, com a adoção, procurava o indivíduo sem
posteridade obter filhos que lhe perpetuassem o nome e lhe assegurassem o culto
doméstico, considerado entre os romanos como necessidade natural dos que se
finavam (BORDALLO, 2020, p. 199-200).
Segundo Monteiro (1997, p. 12), isso se dava em virtude da necessidade de
perpetuação da família, já que situações jurídicas exigiam a continuidade por meio de
descendentes.
Em Roma, por sua vez, a configuração do instituto assume desenvolvimento
com os contornos de maior precisão e larga utilização devida ao caráter limitado dos
laços de sangue e a índole profundamente religiosa do povo, sobretudo no culto do
lar. A adoção, em meio a esse cenário, atendia à necessidade de preservação da
unidade religiosa, política e econômica da família romana.
Ainda, para atender aos fins políticos, até imperadores foram adotivos, tais
como Otávio Augusto (adotado por Júlio César) e Justiniano (por Justino). No sistema
do direito romano existiam dois tipos de adoção: ad-rogação, pela qual um pater
familias entrava na família do ad-rogante, e a adoção em sentido restrito, pela qual o
adotado entrava na família do adotante na qualidade de filho, filha, neto ou neta do
pater familias (BORDALLO, 2020, p. 201).
A adoção de um pater familias exigia efetiva intervenção do Poder Público,
concordância do adotado e adotante, a anuência da sociedade e um ritual
eminentemente público, pois se processava cerimonial que primeiro abrangia a
extinção do pátrio poder do pai natural e, depois, num segundo tempo, sua
transferência para o adotante.
Havia, ainda, uma terceira forma, a adoção testamentária, através da qual o
adotante recorria ao testamento para efetuar a adoção desejada. Controvertido era o
seu caráter, pois uns a consideravam como verdadeira ad-rogação, enquanto outros
uma simples instituição de herdeiro sob condição de tomar o adotado o nome do
testador (MONTEIRO, 1997, p. 13-14).
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Pode-se afirmar que, ainda que não seja possível atender com excelência todas
as circunstâncias fáticas e jurídicas que mais beneficiassem o menor, a excelência
deverá ser buscada ao máximo possível. Aqui, cabe a aplicação do princípio da
razoabilidade, sendo entendido que atenderá ao princípio do melhor interesse toda e
qualquer decisão que primar pelo resguardo amplo dos direitos fundamentais.
Contudo, pela importância ao presente estudo, o princípio em comento será retomado
oportunamente.
Ainda, tem-se o princípio da igualdade entre os filhos. Esse princípio decorre
da antiga classificação dos filhos entre legítimos, ilegítimos e adotivos, que acabou
por imprimir nas relações de filiação um nível de inferioridade a depender da origem
de sua formação, sendo abolida pela Constituição de 1988, que passou a assegurar
que filhos são filhos, independentemente da maneira como foram concebidos.
De acordo com Pereira (2021), a Constituição de 1988, em virtude da
consagração do princípio da dignidade da pessoa humana, também consagrou
princípios outros, dentre os quais se destacam a responsabilidade e a igualdade entre
os filhos, que encontram, no entender do autor, sustento no “macroprincípio da
dignidade da pessoa humana”, princípio que autoriza pensar novas formas de
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3.1 CONCEITO
Hoje em dia ainda é bastante escassa a procura pela adoção tardia. Os motivos
são inúmeros, como, por exemplo, a preferência por crianças recém nascidas, com o
intuito de acompanhar seu crescimento, poder dar mamadeira, trocar fraldas, dar
banho. Há, também, a apreensão de que a criança traga consigo maus costumes,
mágoas provocadas pelo abandono e pela institucionalização; além do medo de que
a criança herde dos pais biológicos o “sangue ruim”, ou seja, que tenha uma herança
genética desconhecida, como, por exemplo, traços negativos de caráter e
temperamento.
De acordo com Vargas (1998, p. 39):
Adotar é um pouco difícil, pelo motivo de convivência com pessoas que nunca
tivemos contato ser sempre um empecilho. Ficar obrigado a ter que receber,
aceitar o outro em sua integridade, com seus problemas, pois também temos
dificuldades e limitações. Esse amor que suporta tudo, que se fala que só
Deus Pode nos amar assim, muitas pessoas não tem essa capacidade, pelo
simples motivo de possuímos problemas em receber e amar o que não
conhecemos, sem medo e sem explicações.
É importante que a criança deseje ir viver com a família, que esteja disposta
a aceitá-los. Ela é encaminhada pelos profissionais encarregados de operar
a sua adoção por aquele(s) adotante(s), é escolhida por ele(s), mas deve
manifestar sua vontade, deve ser ativa no processo de aceitação daquela(s)
pessoa(s) como seus pais. Nesse processo, é fundamental a atitude do
adotante, de se mostrar disponível para ser adotado pela criança numa
postura mais passiva do que ativa. A criança necessita se sentir livre para a
sua escolha e, ao mesmo tempo, segura de que é querida, é aceita. Isso nem
sempre acontece nas primeiras semanas ou meses de convivência. A
angústia dos pais, ante a incerteza de ser aceito pelo filho, que ainda resiste
a lhe chamar de pai/mãe, muitas vezes, pode ser o passo inicial para as
dificuldades de adaptação da criança numa família. A aproximação paulatina
entre criança-família também pode operar o ajuste necessário entre a criança
idealizada e a criança que está ali para ser adotada, que já tem traços bem
definidos, além de uma história e de hábitos adquiridos em relações
anteriores.
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Hoje em dia adotar crianças maiores de dois anos é sempre uma segunda
opção. Porém nos últimos anos houve uma mudança significativa do perfil das
famílias, de mães/pais solteiros a casais homoafetivos, essas crianças maiores já não
são mais excluídas do processo de adoção.
Além disso, há quem não consiga mais conciliar sua rotina pessoal e de
trabalho com um bebê, troca de fraldas, banhos, mamadeiras e noites mal dormidas.
Dessa forma, uma criança maior, que já tenha passado por essa fase de total
dependência e que exige muitos cuidados, identifica-se melhor com famílias que já
tenham realizado o sonho de ter um bebê em casa ou que não tenha tempo para lidar
com as necessidades de um recém-nascido.
As pessoas veem na adoção tardia um obstáculo, pois se relacionar com um
filho não biológico que já tem suas próprias vontades pode trazer insegurança, porém
esquecem-se que a maior parte dos relacionamentos são com pessoas estranhas,
como, amigos(as), namorado(a), marido ou esposa. Inicialmente são pessoas
estranhas, mas com o tempo essas pessoas estranhas tornam-se pessoas queridas.
Não é por isso que essas relações são piores ou melhores. Os novos e diferentes
tornam-se, muitas vezes, melhores. Criar um laço de família precisa-se de muito
esforço, dedicação, trabalho e, sobretudo, tempo (VARGAS, 1998, p. 40).
Não é demais ressaltar que no processo de adoção tardia há vários
sentimentos envolvidos. E, por parte dos pais, há sempre o receio de que a criança e
o adolescente tragam sofrimentos da convivência com a família passada (de origem)
ou com outros familiares ou, até mesmo, da instituição de acolhimento.
De fato, como lembram Fernandes e Santos (2019, p. 72), num primeiro
momento os sentimentos trazidos pela criança e adolescente podem, sim, apresentar-
se como elementos que dificultem a construção de novos vínculos. E acrescentam:
Portanto, fica claro que o comportamento é aprendido pelo sujeito desde o dia
de seu nascimento até o dia de sua morte e são totalmente influenciados pelos
estímulos materiais, intelectuais afetivos, físicos, espirituais e emocionais que receber.
Dessa forma, ao ser adotado, a tendência é que desenvolva novos comportamentos,
de acordo com os novos estímulos que receber nessa nova família (BARBOSA, 2006,
p. 31).
Vargas (1998, p. 53-60) explica que durante a fase de adaptação a criança
passa por alguns estágios de mudança de comportamento, como, por exemplo: a fase
do encantamento onde ocorre, normalmente, durante o estágio de adaptação, pois
ainda está conhecendo o novo lar, onde existem muitas novidades, tudo que ela
sempre desejou e fará de tudo para não perder essa oportunidade se comportando
do modo como os pais desejam. A fase teste surge quando a criança ou adolescente
se sentir acolhido, ele começará, então, a testar os limites, através de provocações,
agressividade física e verbal, para que possam se certificar se os pais
verdadeiramente o amam e se não irão abandoná-lo. Nesse momento é necessário
que os pais saibam lidar de forma firme, impondo regras e limites, mas sempre com
carinho e afeto. Na fase da regressão a criança/adolescente passa agir como se bebê
fosse, ou seja, faz xixi na cama ou na roupa, fala como bebê, quer usar chupeta e
mamadeira, quer colo a toda hora, como que quisesse renascer nessa nova família e
viver todas as fases da infância com os novos pais. E, por derradeiro, a fase da
adaptação se dá com a criação de novos hábitos e costumes de acordo com a nova
família. Isso não é algo fácil, mas acontecerá gradativamente com o passar dos
meses, de modo que em breve a criança/adolescente estará totalmente inserido no
novo ambiente familiar.
Resta claro, portanto, que para oferecer uma família a essas crianças com
todos esses problemas precisa-se que elas estejam destinadas a dar conforto e,
acima de tudo amor. E que sejam capazes de proporcionar à criança uma base para
o desenvolvimento independentemente de sua idade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Adoção. In: MACIEL, Kátia Regina Ferreira
Lobo Andrade. (Coord.) Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos
teóricos e práticos. 13. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020.
CHAVES, Antônio. Adoção, adoção simples e adoção plena. 4. ed. São Paulo:
Julex Livros, 1998.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: família, sucessões. vol. 5. 8. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito de família, v. 5, 34.
ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020.
FERNANDES, Maitê Broering; SANTOS, Daniel Kerry dos. Sentidos atribuídos por
pais adotivos acerca da adoção tardia e da construção de vínculos parento-filiais.
Nova Perspectiva Sistêmica, v. 28, n. 63, p. 67-88, 2019.
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2021.
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021.
OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Guarda, tutela e adoção. 4. ed. Rio de Janeiro:
Lúmen Júris, 2001.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021.
SILVA FILHO, Artur Marques da. Adoção. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais,
2019.