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Marco Legal da Primeira Infância

Para Tod@s

UNIDADE IV
UNIDADE IV - A adoção no contexto do direito à
convivência familiar e comunitária
Sylvia Nabinger, Assistente Social e Doutora em Direito de
Família pela Universidade de Lyon 3.
Colaboração: Isabely Fontana, Subcoordenadora do GT de
Gestão dos Cadastros Nacionais do CNJ; Ivânia Ghesti,
Doutora em Psicologia Clínica e Cultura pela UnB.
Introdução
A adoção é uma medida de garantia do direito à convivência familiar e comunitária,
por meio da qual crianças cujos pais são falecidos, desconhecidos ou foram destituídos do
poder familiar, passam a fazer parte de outra família, na condição de filhos, de forma
definitiva (BRASIL/PNCFC, 2006).
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “a adoção é medida
excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos
de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa” (Lei 8.069/1990,
Art.39).
O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (BRASIL/PNCFC, 2006)
tem como diretriz a realização da adoção centrada no interesse da criança e do
adolescente: “Não se trata mais de procurar “crianças” para preencher o perfil desejado
pelos pretendentes, mas sim de buscar famílias para crianças e adolescentes que se
encontram privados da convivência familiar” (p.73).
Nos últimos cinco anos, mais precisamente entre maio de 2015 e maio de 2020,
mais de dez mil crianças e adolescentes foram adotados no Brasil, segundo dados do
Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA/CNJ, 2020).

Figura 1 – Número de adoções realizadas no Brasil de 2015 a 2020 (Fonte: SNA, maio de 2020)

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Do total dessas adoções, 5.204 (51%) foram de crianças de até 3 anos completos,
2.690 (27%) foram de crianças de 4 a 7 anos completos, 1.567 (15%) foram de crianças de
8 a 11 anos completos e 649 (6%) foram de adolescentes, ou seja, maiores de 12 anos
completos. A idade média das crianças e adolescentes na data da sentença de adoção
encontra-se na faixa de 4 anos e 11 meses. Deste modo, a primeira infância é o período em
que se realizam mais adoções, no Brasil.

Figura 2 – Número de adoções conforme a idade (Fonte: SNA, 2020)

Em maio de 2020, havia um total de 34.443 pretendentes habilitados a adotar,


2.008 em processo de adoção e 9.887 que já tinham adotado alguma criança ou
adolescente e aguardavam uma nova adoção (SNA/CNJ, 2020). Em sua maioria, os
brasileiros interessados em adotar tem disponibilidade para acolher crianças abaixo de 7
anos de idade, cerca de 82,64%.

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Figura 3 – Idade aceita da criança pelos pretendentes à adoção. Fonte: SNA (CNJ,
julho/2020).

Apesar do elevado número de brasileiros habilitados a adotar, ainda há um total de


5.154 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, que permanecem sem família,
vivendo em cerca de 4.500 serviços de acolhimento (dados do SNA em 12/10/2020).
Em 12/10/2020, existiam registradas no SNA 61.051 vagas (ocupadas e não
ocupadas) em serviços de acolhimento institucional, e somente 2691 em serviços de
família acolhedora. E das crianças e adolescentes disponíveis para adoção, apenas 155
estavam em acolhimento familiar.

Figura 4 – Número de ocupação dos serviços de acolhimento (Fonte: SNA, 2020)

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Diante desse contexto, nesta unidade vamos conhecer aspectos psicossociais e
jurídicos que merecem atenção na aplicação da medida de adoção, assim como algumas
especificidades e razões para o tempo dispendido na realização de um processo de adoção.
Além de inovações nessa forma de promoção do direito à convivência familiar e
comunitária, que implica a instituição de uma nova filiação, considerando os desafios para
priorizar o atendimento ao superior interesse da criança.

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Aula 1: Razão do tempo de espera pela adoção: A
importância do apoio à família para prevenção da
destituição do poder familiar e do cuidado da criança

A adoção, nos casos em que os pais não são falecidos ou desconhecidos, só pode ser
realizada após a destituição do poder familiar originário, que por vezes é um processo
demorado. A isso se relaciona um questionamento que já virou senso comum entre a
população: por que as pessoas ficam anos em uma fila de adoção se existem tantas crianças
nos serviços de acolhimento?
A primeira resposta é que a grande maioria das crianças que estão nos serviços de
acolhimento possui família e ainda estão ligadas a ela de alguma forma. Seja através de
contatos para resgate ou reconstrução dos vínculos, quando isso se faz possível, ou para
realização dos trâmites que o processo jurídico necessita passar para garantir o direito de
ampla defesa da família biológica, diante de um processo de destituição do poder familiar.
Isso significa que ao ingressar no serviço de acolhimento a criança tem um caminho a
percorrer neste espaço, que é traçado pela singularidade de cada caso e tem uma razão de
ser.
Algumas crianças são acolhidas logo que nascem, por motivo de abandono ou
entrega para adoção, estas necessitarão de um período de tempo para localização dos pais,
ou para que os pais possam espontaneamente renunciar ao Poder Familiar. Outras são
retiradas provisoriamente de suas famílias, por circunstâncias que inviabilizam a condição
de a família manter consigo seus filhos, nesses casos as famílias necessitam receber apoio
para que tenham a possibilidade de retorno da criança de modo seguro. São as tentativas
de reintegração familiar.
Este tempo é definido ao longo do processo de investimento no apoio necessário
às famílias, de acordo com o movimento apresentado pela família e pela criança. Somente
após esgotados estes investimentos, sem resultados suficientes, é que se destitui o Poder
Familiar (DPF) e a criança pode ser colocada em adoção. Os dados no SNA (CNJ, 2020)
revelam que cerca de 50% das crianças desacolhidas são reintegradas à família natural ou
extensa. Quanto às demais, recebido o relatório que revela que foram esgotadas as
possibilidades de manutenção da criança ou adolescente na família, o Ministério Público

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terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar
(ECA, art. 101, §§ 9º e 10º).
Existem as crianças que chegam ao serviço de acolhimento institucional retiradas
de seus familiares, por motivos de negligência, maus-tratos, violência física, psicológica e
sexual. Nestes casos, apresentam muitas marcas físicas e emocionais, vivenciando um
padrão de relacionamento afetivo conflituoso ou inseguro, em razão do qual não
suportariam de imediato estabelecer novos vínculos afetivos, em função do trauma sofrido.
Necessitam então de um tempo de reparação.
Assim o serviço de acolhimento institucional ou familiar representa um espaço
intermediário entre a família de origem e a família adotiva, quando não é possível a
reintegração familiar.

Figura 5 – Serviço de acolhimento como espaço intermediário. (Fonte: Autoria própria,


2020)

Diante da importância das ações para cuidado da família de origem com vistas à
reintegração familiar, ou preparação para colocação em uma nova família, por meio da
adoção, o tempo de acolhimento deve ser um tempo ganho e não perdido para a criança
(ou o adolescente). Daí a importância desta medida de proteção e dos cuidados
reparadores neste período de transição.

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A questão temporal é diferente para cada um dos envolvidos (adotado, adotante,
família de origem e rito processual), fazendo-se necessária a análise e intervenção
interdisciplinar em cada caso concreto.
De qualquer modo, a lei determina que “A permanência da criança e do adolescente
em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 (dezoito)
meses, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente
fundamentada pela autoridade judiciária.” (ECA, art. 19, §2)
O presidente da ABRAMINJ, Desembargador José Daltoé (2020) ressalta que “o
tempo de acolhimento deve ser breve, pois por mais que a instituição de acolhimento
atenda as normas de cuidado adequado da criança, ela nunca vai substituir a família,
sobretudo durante a fase da primeira infância, período em que a criança mais se
desenvolve”.
Segundo dados do SNA, em 12/10/2020, 7.997 crianças na primeira infância
estavam em situação de acolhimento, sendo que 1.875 delas tinham até 3 anos e
aguardavam aproximadamente até seis meses pelo retorno à família de origem ou pela
adoção. Já a maior parcela das crianças entre 3 e 6 anos permanece entre 12 e 24 meses
nas unidades de acolhimento (CNJ, 2020).
Ressalta-se que diariamente milhares de crianças e adolescentes entram e saem do
sistema de acolhimento, de modo que não podemos presumir que os atuais acolhidos estão
ali há anos. Muitos chegam após a primeira infância, quando as chances de adoção são
remotas.

O papel do Executivo Nacional

Ângela Gandra, Secretária Nacional da Família,


Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos
Nesse sentido, oportuno ressaltar os esforços empreendidos pela Secretaria
Nacional da Família, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na
formulação de políticas e diretrizes para a articulação das medidas referentes à
promoção e defesa da família. Assim como para a adequação e o aperfeiçoamento da
legislação, articulando ações com órgãos governamentais e organizações da sociedade
civil, bem como com outras secretarias do Ministério para suporte à formação e
desenvolvimento da família; no fortalecimento dos vínculos familiares; monitorando,

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apoiando e subsidiando as ações governamentais relacionadas à adoção e promovendo
ações que promovam o fortalecimento da unidade familiar e dos vínculos paterno-filiais
e fraternais.
Em uma ação conjunta, a Secretaria Nacional da Família e a Secretaria Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente elaboraram em julho de 2020 a nova cartilha
“Adoção e o Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária”, com um panorama geral da adoção no Brasil, destacando alguns dados
do relatório de maio de 2020 do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA)
elaborado pelo CNJ, com estatísticas referentes ao perfil das crianças e adolescentes
adotados e disponíveis e um capítulo com perguntas e respostas sobre adoção (inclusive
sobre adoção tardia) e o passo a passo para a adoção. A cartilha pode ser visualizada no
site Cartilha_Adoção_Convivência Familiar e Comunitária_MMFDH_2020.
Contudo, a Secretaria Nacional da Família destaca que todos os esforços devem
perseverar no objetivo de garantir que a adoção seja um encontro entre prioridades e
desejos de adotandos e adotantes. Desse modo, a criança ou adolescente permanecem
sob a proteção do Estado apenas até que seja possível sua integração a uma família
definitiva e que essa adoção seja realizada com agilidade e com segurança jurídica,
sempre mediante os procedimentos previstos no ECA.
A Secretaria Nacional da Família compreende ser prioridade promover o
fortalecimento dos vínculos familiares, de forma a reintegrar a criança e o adolescente
ao seio familiar, desde seu primeiro processo de medida protetiva de acolhimento, até
seu retorno à família biológica - ou colocação em família substituta.
Da mesma forma, compreende-se ser prioridade o atendimento preventivo a
famílias em situação de risco, da tutela dos direitos da criança e do adolescente a
convivência familiar, assim como a promoção do equilíbrio entre o melhor interesse da
criança/adolescente e o interesse do pretendente à adoção, com segurança jurídica.

Adoção: um Direito da Criança


O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos trata do tema
adoção de forma efetiva e contínua, trabalhando em conjunto com o Judiciário e o
Legislativo, e articulando ações com organizações da sociedade civil na promoção de
políticas públicas de forma que todos os brasileiros tenham um lar. Toda criança precisa

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de uma família, ou seja, de um lugar de excelência para promover o desenvolvimento
integral de todo ser humano e de sua plena dignidade. Dessa forma, a primeira
preocupação será, sempre, em reintegrar a criança e o adolescente ao seio familiar,
desde seu primeiro processo de medida protetiva de acolhimento, até seu retorno à
família biológica ou sua colocação em família substituta.
Neste ano várias propostas de projetos de leis estão em tramitação e análise
para o aperfeiçoamento do processo de adoção. São proposições que buscam incentivar
e dar prioridade de tramitação aos processos de adoção de irmãos; promover e
sensibilizar a sociedade sobre a adoção tardia (adoção de crianças com mais de 4 anos),
a adoção especial (adoção de crianças com deficiência física ou intelectual) e a adoção
inter-racial; garantir isonomia nos prazos de licença-maternidade ou paternidade para
os casos de adoção de bebês; criar programas que ofereçam apoio psicológico aos
adotados para superação de traumas e conflitos, entre várias outras iniciativas
promovidas com a participação da sociedade civil.
É de grande importância também que eliminemos o tráfico de crianças e a
adoção ilegal de crianças e adolescentes, e que mais incentivos sejam dados para que
quem pretenda adotar uma criança ou adolescente que está habilitada(o) à adoção, não
especifique muito um perfil, seja pela idade ou pelo sexo, seja pela cor da pele ou por ter
irmãos.

Avanços históricos

Quando percorremos o histórico da Adoção no Brasil, observamos que antes do


ECA (1990), o encontro entre adotantes e adotados muitas vezes ocorria de forma
desordenada e em segredo, atendendo à necessidade dos adultos mais que as da criança,
para a qual não havia qualquer organização jurídica ou governamental. As crianças eram
procuradas para adoção nas maternidades, orfanatos ou nas ruas. Inclusive, houve épocas
em que as crianças maiores eram as mais procuradas para adoção, pois deviam dar prova
de que eram “normais”, ou seja, capazes de ouvir, ver, caminhar, falar, obedecer, etc.
(NABINGER, 1989).
As legislações e o Judiciário costumavam agir de forma reativa, dando respostas
somente às situações que já tinham sido consolidadas, sem intervenções preventivas ou
considerando como preventiva a instalação de mecanismos como a “Roda dos Expostos”.

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Os adotantes, antes de serem vistos como pessoas com motivações decorrentes de suas
próprias necessidades, eram considerados “santos” ou “loucos”. Deste modo, a adoção
tinha em alguns casos uma nuance de favor que se fazia à criança, ainda não compreendida
como sujeito de direitos.
Neste contexto, a maioria das adoções não passava pela intervenção do Estado e
era comum os pais procurarem o Juizado da Infância apenas quando havia conflitos, como
por exemplo frente ao arrependimento de uma mãe biológica na entrega de seu bebê ou
quando a criança se tornava adolescente e começava a “dar problemas”. Então se buscava
o juiz para que se encarregasse do “adotado”, já que o adotado não era “filho” de verdade.
Nas últimas quatro décadas, iniciou-se uma conscientização do problema junto aos
profissionais e instituições, assim como ações de prevenção do abandono de crianças. Em
1981, por exemplo, o juiz Moacir Danilo Rodrigues, de forma inédita, decidiu centralizar
todas as adoções a partir de um Provimento do Juizado de Menores de Porto Alegre,
determinando que todo o contato entre candidato à família adotante e criança devia se dar
no âmbito do Judiciário. Esta organização inspirou o ECA, centralizando todas as adoções
no Poder Judiciário, embora as adoções “à brasileira” subsistam. Chama-se “adoção à
brasileira” àquela em que a criança recebe um falso registro de nascimento, pois se registra
como próprio, o filho gerado por outra pessoa sem o devido processo legal, o que
representa quatro tipos de crime, conforme o art. 242 do Código Penal (hiperlink desse
artigo: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1980-
1988/L6898.htm#:~:text=%E2%80%9CArt.,de%20dois%20a%20seis%20anos.).
Com a criação da Declaração de Nascido Vivo (DNV) em março de 1990, a
possibilidade de adoção à brasileira diminui muito. Sua ocorrência, contudo, persiste em
vários casos de adoção unilateral, quando um homem assume a paternidade de filho alheio
para posteriormente assumir a guarda exclusiva e, por fim, juntamente com a esposa ou
companheira, buscarem a destituição do poder familiar da genitora e concretizar a adoção.
Esse procedimento de assunção da paternidade continua sendo crime, conforme descrito
acima. E a partir da Lei 13.509/2017, o ato de “entregar de forma irregular o filho a
terceiros para fins de adoção” passou a ser motivo para perda do poder familiar.
Na vigência do Código de Menores, era comum a figura dos “filhos de criação” e a
adoção era instituída como uma filiação de segunda categoria, pois era discriminada no
próprio registro de nascimento. Foi com o advento da Constituição Federal de 1988,
influenciada pelas novas práticas e pelos debates internacionais que subjaziam à

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construção da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), que esta distinção foi
abolida. A partir do artigo 227 da Constituição Federal do Brasil (1988), definiu-se que:

§5º A adoção será deferida pelo Poder Público, na forma da lei, que
estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros.
§6º Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação (grifo nosso).

Essa mesma redação consubstancia o artigo 20 do Estatuto da Criança e do


Adolescente (Lei 8.069/1990), que regulamenta o instituto da adoção de crianças
e adolescentes.
Assim, se compreendeu a adoção como uma forma de filiação tão legítima como
qualquer outra. Mas com especificidades que a diferenciam da forma de filiação biológica,
pois requer a mediação do Poder Público. A adoção é uma “filiação juridicamente assistida”,
como bem conceitua Nabinger (1997).
Isso foi instituído com o objetivo de garantia do tratamento da criança como sujeito
de direitos, por isso um recém-nascido abandonado na rua, por exemplo, não passa a
“pertencer” a quem o encontra. Mas deve ser tutelado pela Justiça, que fará diligências
para encontrar a família biológica e, apenas não localizando, “serão cadastrados para
adoção recém-nascidos e crianças acolhidas não procuradas por suas famílias” (ECA, Art.
19-A, § 10). Dessa forma, visando a segurança da colocação as crianças em famílias por
adoção, o Sistema de Garantia de Direitos e de Justiça estipulou modos de acolhimento
das crianças, requisitos e procedimentos para destituição do poder familiar, habilitação
dos interessados em adotar e a adoção propriamente dita (GHESTI, 2010). Assim, a adoção
se consolidou como uma forma de garantia do direito de convivência familiar da criança,
sendo importante compreender que não existe para o adulto o “direito de adotar”.
Apesar da criação dessa estrutura de mediação pela Justiça para garantir que a
adoção seja realizada segundo o melhor interesse da criança, ainda ocorre muito no Brasil
a adoção dirigida, ou intuitu personae. Neste tipo, os adotantes recebem a criança
diretamente da genitora ou de intermediários e buscam a Justiça da Infância e da
Juventude apenas para homologar a ação, sem ter ocorrido processo prévio de destituição
do poder familiar e, na maioria dos casos, de habilitação para adoção pelos pretendentes.
Além de esta forma abrir espaço para situações indesejáveis, como o apoio financeiro à

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gestante, que muitas vezes se sente pressionada a entregar o filho mesmo que mude sua
intenção, também representa um dos maiores motivos da demora na fila de adoção pelos
que estão habilitados de acordo com a sistemática da adoção legal, aguardando receber a
criança por meio do sistema de cadastros. Portanto, a adoção intuitu personae é uma prática
que “desrespeita a ordem de habilitação de pretendentes à adoção e traz maiores
dificuldades para coibir a venda de crianças” (CNJ, 2020). E tem sido observada
principalmente em casos de recém-nascidos, que não teriam dificuldade de ser adotados
por famílias habilitadas.

ADOÇÕES INTUITU PERSONAE ENTRE


QUANTIDADE DE ADOÇÕES

287

01/08/2019 E 14/10/2020
97

57

49

36

31
26
25

23

20

19
18

18
17

17

9
7

6
O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
IDADE

Figura 6 – Número das adoções intuitu personae (Fonte: SNA, 2020)

Apesar do importante papel do Sistema de Justiça para garantia do tratamento da


criança como sujeito de direitos e instituição de um vínculo tão importante como de
filiação, a adoção não é um fato que se restringe ao Poder Judiciário. Seu sucesso depende
dos cuidados da criança em diferentes níveis, tanto na área da saúde quanto da assistência
social, dos direitos humanos, da educação, da segurança pública, da sociedade civil
organizada, das instituições religiosas, das empresas, da mídia e da sociedade como um
todo.
Os profissionais envolvidos na adoção incluem:

✓ Profissionais das maternidades (enfermeiros, médicos, assistentes sociais,


psicólogos);
✓ Profissionais das emergências de saúde;
✓ Profissionais da segurança pública (policiais, bombeiros);
✓ Unidades Básicas de Saúde/Unidades de Saúde da Família (UBS/USFs);
✓ Universidades (pesquisadores, professores que incluem o tema em estágios e
atividades de extensão, estudantes);
✓ Centros de Atenção Psicossocial (CAPS);

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✓ Conselheiros Tutelares;
✓ Equipamentos de Assistência Social (CRAS, CREAS, Serviços de Acolhimento);
✓ Conselhos Nacional, Municipais e Distrital de Direitos da Criança e do
Adolescente;
✓ Organizações da Sociedade Civil dedicadas à infância e à adolescência;
✓ Ministério Público;
✓ Defensoria Pública;
✓ Varas da Infância e da Juventude;
✓ Grupos de Apoio à Adoção;
✓ Comunicadores sociais, entre outros.

A comunicação entre os diferentes profissionais e instituições encarregados pelas


crianças em privação do direito à convivência familiar e comunitária constitui uma
possibilidade de facilitação do processo. Mas, apesar dos avanços científicos, tecnológicos
e legislativos, muitos profissionais continuam trabalhando de forma isolada e
compartimentada. Neste sentido, torna-se ainda mais relevante a oferta de formação
específica e intersetorial, criação de fóruns de debates sistemáticos e de protocolos de
atuação integrada. O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, que necessita
ser formulado também em nível estadual e municipal, pode constituir um importante
instrumento para coordenação das ações neste campo.

Você sabia...
Que desde 2000 o Brasil buscou desenvolver um cadastro nacional de adoção
informatizado, que favorecesse o encontro entre crianças e adolescentes em condições de
serem adotados e interessados em adotar, inscritos nas Varas da Infância e Juventude?
O Cadastro Nacional de Adoção foi progressivamente aprimorado, passando a chamar-se
SISTEMA NACIONAL DE ADOÇÃO E ACOLHIMENTO (SNA) e a partir de outubro de
2019. Após o Conselho Nacional de Justiça capacitar todos Tribunais do País, este Sistema
tornou-se obrigatório.
O SNA realiza buscas automáticas de famílias para as crianças em qualquer região do país. E
disponibiliza dados em tempo real sobre as crianças acolhidas, aptas para adoção e em
processo de adoção, assim como sobre os pretendentes inscritos para adotar. Você pode
consultar esses dados em: https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-

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8999-4434-b913-f74b5b5b31a2&sheet=4f1d9435-00b1-4c8c-beb7-
8ed9dba4e45a&opt=currsel&select=clearall
Umas das inovações trazidas pelo SNA foi um sistema de alerta, que sinaliza para os juízes e
as corregedorias os prazos sobre o acolhimento das crianças e os processos de adoção.

Para saber mais:

• Diagnóstico do Sistema Nacional de Adoção – SNA. Disponível em:


https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2020/05/relat_diagnosticoSNA2020_25052020.pdf

• Mais de 5.000 crianças estão disponíveis para adoção no Brasil. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/mais-de-5-mil-criancas-estao-disponiveis-para-adocao-
no-brasil/

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Aula 2: A Era dos Direitos Positivos: esforço histórico
do Marco Legal da Primeira Infância
Shyrlene Nunes Brandão, Mestre em Psicologia, Psicóloga
da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal

É importante estarmos atentos aos muitos preconceitos naturalizados no


cotidiano que estigmatizam e culpabilizam as mulheres e tratam os bebês e as crianças
como objetos a serem destinados a alguma família, sem as reconhecerem como cidadãs e
sujeitos de direito. É importante compreender que a vida criança, considerando os
conhecimentos que adquirimos sobre primeira infância, inicia-se antes de sua chegada na
família por adoção. Esse respeito favorece a saúde mental da criança e da genitora, assim
como a qualidade da relação com a família por adoção.
A partir de estudos mais aprofundados, começamos a avançar na atenção
humanizada às mulheres que entregam filhos recém-nascidos em adoção, começando a
conhecer melhor sua história de vida, gestação, processo de entrega, motivações e vida
após a entrega (MOTTA, 2005; FÁVERO, VITALE e BAPTISTA, 2008; PENSO e COSTA,
2015).
Um avanço importante foi a criação do direito à assistência psicológica no período
pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado
puerperal. Esse direito foi acrescentado como § 4o ao artigo 8º do ECA, pela Lei
12.010/2009. E explicitamente aplicado às mães que entregam os filhos para adoção, pelo
Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016, artigo 19), ao acrescentar ao ECA
que:
A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser prestada também a
gestantes e mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para
adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem em situação de
privação de liberdade (Art. 8º, ECA).

Além disso, a Lei nº 13.509/2017 também acrescentou ao ECA um artigo sobre a


matéria, com dez parágrafos, dos quais se destacam:

“Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu


filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será encaminhada à
Justiça da Infância e da Juventude.

§ 1º A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da


Justiça da Infância e da Juventude, que apresentará relatório à

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autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos do
estado gestacional e puerperal.

§ 2º De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o


encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua expressa
concordância, à rede pública de saúde e assistência social para
atendimento especializado.

A inclusão de cuidados e acompanhamento da gestante ou puérpera diante de uma


gestação não desejada podem contribuir preventivamente para reduzir o risco de abortos
ilegais que colocam a vida de mulheres e bebês em risco. Evita também que os bebês sejam
deixados de forma desprotegida em locais públicos, assim como a entrega direta a famílias
não habilitadas para adoção ou, caso a mulher opte por ficar com o bebê, pode minimizar o
risco de maus-tratos e outras violências.
No entanto, apesar dos marcos legais, muitas pesquisas apontam que as histórias
dessas famílias e dessas mulheres que entregam filhos em adoção são permeadas por
lacunas, silêncios e ausências de ações preventivas, acompanhamento e registros no
âmbito das diferentes políticas públicas e serviços ofertados (FÁVERO, VITALE e
BAPTISTA, 2008; PENSO e COSTA, 2015; ASSIS e FARIAS, 2013). Na maioria das vezes,
essas mulheres com histórias de vida marcadas por violência estrutural e social, ao
expressar o desejo de entrega do bebê são revitimizadas, maltratadas, estigmatizadas em
sua comunidade e nos serviços de saúde, onde prevalece um discurso que busca mudar a
opinião dessa mulher pela entrega, sem a escuta e o acompanhamento necessários para
uma decisão tão importante e que expressa mais amor pelo bebê, que a falta dele
(MARTINS e col., 2015; FARAJ e col., 2017).
Dessa forma, há muito a se aperfeiçoar no atendimento à mulher que expressa o
desejo de entregar um bebê em adoção, nos cuidados pela equipe de saúde (FARAJ et al,
2016), na articulação dos serviços de saúde, assistência social e sistema de justiça, a fim de
fazer valer os avanços legais.
Este foi um dos motivos pelos quais foi selecionada e premiada como Boa Prática
no Pacto Nacional pela Primeira Infância, o projeto “Entregar de Forma Legal é Proteger”,
desenvolvido pela Coordenadoria da Infância, Juventude e Idoso do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro.

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VÍDEO 1
Entregar de Forma Legal é Proteger (TJRJ). Disponível em:
https://youtu.be/KgrJvLFk2G4

Acompanhamento da gestante na rede de saúde


A seguir apresentamos alguns aspectos teóricos e práticos importantes no
acompanhamento da entrega para adoção, que foram sistematizados a partir de estudos e
experiência profissional em uma maternidade pública, por Brandão (2018; BRANDÃO e
SANTOS, 2019).

1. Amor materno não é inato


O mito do amor materno, já há tanto tempo debatido, ainda impera entre
profissionais de saúde e na sociedade em geral. Porém, o vínculo entre mãe e bebê é
afetado pelo contexto sócio-cultural-econômico e pela subjetividade e história de vida dos
envolvidos (IACONELLI, 2015). No entanto, ainda predomina o discurso social da
maternidade como algo que faz parte da essência da mulher, do amor materno como
natural, apesar de haver muitos questionamentos sobre isso (BADINTER, 1985;
HILFERDING, PINHEIRO E VIANNA, 1991; SZEJER E STEWART, 1997).

2. É preciso diferenciar gestação de maternidade


Desejo de ter filho é diferente do desejo de ser mãe. Nem toda mulher que dá à luz
a um bebê se tornará mãe dele e para ser mãe não é necessário parir. Para que uma mulher
se torne mãe do bebê que gerou, também é preciso “adotá-lo”, não do ponto de vista legal,
obviamente, mas é preciso reconhecer, no organismo que nasce, que há um bebê, que é o
seu bebê. Em alguns casos, as múltiplas gravidezes parecem indicar mais um desejo de
gestação, na qual a mulher ocupa o lugar do bebê, de ser cuidada, que o desejo de se tornar
mãe (FOLINO, 2014; LABAKI, 2008).

3. Entregar em adoção não é o mesmo que abandonar


Muitos são os fatores que levam uma mulher a entregar o bebê em adoção. Os
fatores mais objetivos, como sociais e econômicos, normalmente são os mais evidenciados,
não apenas por serem frequentes como por serem mais aceitos para justificar o que é
socialmente tão criticado em função da idealização da maternidade (MOTTA, 2005;

2 18
19
FONSECA, 2012). Mas também há os fatores mais subjetivos, às vezes inconscientes, que
nem mesmo a mulher consegue reconhecer. O não assumir os cuidados com o bebê; a
vivência de várias formas de violência contra as crianças pode sugerir uma dificuldade no
exercício da função materna para além das condições sociais, que muito as afetam. A
história de vida da mulher, desde quando ela própria era um bebê, de como foi cuidada, se
foi “adotada” ou não pela própria mãe, afetam a forma como ela se relaciona com seu bebê.
Estes processos subjetivos podem requerer ajuda psicológica (SZEJER, 2016).

4. É preciso apoio para a decisão de entregar em adoção


Deve haver tempo-espaço e escuta para o acolhimento das ambivalências e dos
diversos sentimentos presentes nas mulheres que relatam “não querer o bebê”, mas ao
mesmo tempo sofrer por entregá-lo (FARAJ e cols., 2017; BRANDÃO, 2018). Os casos em
que há diversas gestações seguidas de entrega em adoção - ou a terceiros, da família ou
não, apontam para a necessidade de acompanhamento psicológico e social mais efetivo a
essas mulheres. O ideal é que esse acompanhamento se iniciasse no pré-natal, para isso é
importante que essa mulher tenha abertura para ser ouvida no não desejo de assumir o
bebê como filho, para que ela possa pensar, repensar dentro de si e em suas relações qual
o lugar que quer/pode dar a esse bebê. Nesse sentido, a Caderneta da Gestante – adotada
na Rede de Saúde, já contempla essa questão.

5. Espaço para o luto materno


Em muitos casos, apesar de a mulher decidir-se pela entrega do bebê, ela ainda o
nomeia como “filho”. Mesmo que não pretenda assumir a função materna, ela se coloca na
posição materna, conforme discutido por Garrafa (2017) ao analisar o filme: “Que horas
ela volta?” (Filme brasileiro, indicado pelo Ministério da Cultura para concorrer ao Oscar,
em 2015. Produção: Fabiano Gullane, Caio Gullane, Débora Ivanov e Anna Muylaert), a
destituição do poder familiar não destitui subjetivamente a mulher dessa função, fazendo-
se necessário o acompanhamento psicológico para que ela faça o “luto” do bebê entregue.
Esse luto é fundamental para a saúde mental dessa mulher e para que ela possa seguir sua
vida sem tantos prejuízos (FARAJ, 2017).

6. E o bebê sente essa separação? E o luto do bebê?


Além da escuta da mulher no processo de entrega ou não do bebê, é preciso cuidar
também da criança que chega ao mundo imersa em uma narrativa que nem sempre lhe é

2 19
20
contada. É muito comum que crianças adotadas desenvolvam sintomas,
comportamentos, dificuldades de desenvolvimento, que refletem lacunas, não-ditos que
poderiam ter sido evitados se também houvesse um cuidado com o bebê nesse momento
de separação e em todas as etapas de colocação em família substituta. É frequente nos
hospitais a prática de separar o bebê da genitora e impedi-la de vê-lo quando a mesma
manifesta o desejo de entrega. Além de prejudicial para a mulher, essa ação prejudica o
bebê. Szejer (2016) aponta a angústia do bebê quando nenhuma palavra lhe é dirigida em
situações de separação e explica:
“Os bebês não falam, o que não os impede de ouvir e se expressar de
muitas maneiras. As crianças às quais foram dadas informações
necessárias para antecipar a separação dão provas do sentimento de
segurança que isso trouxe para elas, por meio da confiança e da
adaptabilidade que elas manifestam em seguida” (p.138,139).

Dessa forma, cabe ao psicólogo da unidade de saúde em que o parto ocorreu,


mediar esse diálogo genitora-bebê ou falar diretamente com o bebê sobre a separação
daquele corpo no qual viveu por longo tempo e a provável espera pela colocação em nova
família. Ao psicólogo e assistente social cabe também dialogar com os demais integrantes
da equipe de Saúde sobre o respeito a essa despedida, e auxiliá-los a exercer a função
materna temporariamente, sem “adotar” o bebê, devido ao longo tempo que alguns deles
precisam ficar internados.

7. Importância do Registro de cada História


A garantia legal de poder conhecer sua história de adoção, assegurada pela Lei
12.010/2009, acrescentando o direito à origem no ECA (Art. 48), é muito importante, mas
insuficiente se não houver o registro de todas as etapas de acompanhamento da
gestante/mulher e da história de como a criança foi entregue para adoção.
A escuta acolhedora da mulher, de sua realidade social e familiar, de suas
motivações na entrega e dos afetos envolvidos são importantes de serem registrados e
constarem no processo de adoção. Não apenas por questões legais, mas também para que
haja memória da história do nascimento do bebê, de sua origem; são conteúdos que fazem
parte da identidade de um sujeito.
Fonseca (2012) analisou casos de pessoas que foram adotadas e buscavam acesso
a informações, tais como os motivos de sua entrega em adoção, assim como casos de mães

2 20
21
que entregaram “seus filhos” e queriam saber sobre eles e lhes contar sua versão da
história. No entanto, observou que nesses casos geralmente se deparavam com a quase
total ausência de informações e silenciamento por parte dos envolvidos, dificultando o
acesso das pessoas às suas próprias histórias.
O Registro do acompanhamento da genitora ou outra forma de mensagem que esta
possa deixar ao bebê, como uma carta, vídeo, fotos, registro da equipe são elementos
fundamentais para que o adotado possa ter acesso à sua história e responder questões que
tanto afetam sua identidade.
Exemplo de Protocolo Humanizado de Entrega de Bebês em Adoção
Estes princípios subjazem ao Protocolo Humanizado de Entrega de Bebês em
Adoção, em uma maternidade do Distrito Federal, que propõe uma forma de acompanhar
a mulher no âmbito da saúde, quando a mesma manifesta o desejo de entrega no momento
do parto. A escuta qualificada pode ser detalhada no pré-natal, caso a manifestação ocorra
antes, devendo essa mulher ser encaminhada à Vara da Infância e Juventude, como orienta
o ECA (Lei 8.069/1990, art. 19-A).

Protocolo humanizado de entrega de bebês em adoção


Fonte: BRANDÃO, S. Boa Prática apresentada no Pacto Nacional pela Primeira Infância, 2019.

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Escuta qualificada
• Realizada por Psicólogo e Assistente Social
• História de vida (às vezes com uso do genograma, Linha da vida)
• História gestacional (perdas, entregas na família ou a terceiros, história de maternagem)
• História da gestação atual
• Relação com o bebê
• Dados socioeconômicos
• Rede de apoio (Mapa de Rede, Ecomapa)
• Orientação para equipe do Centro Obstétrico em caso de recusa de ver e amamentar o
bebê
Orientações
• Após a alta hospitalar, a mulher deve ser encaminhada para a Justiça da Infância e
Juventude
• Informar sobre o segredo de justiça a que terá direito
• Importante informá-la também sobre o direito à desistência da entrega (ECA, art. 19-A,
§8º)) e à assistência gratuita pela Defensoria Pública.
Registro
• Registro cuidadoso, rigoroso, descrição do histórico, palavras da mulher, sem
interpretações pessoais ou pré-julgamentos
• Resguardar a história do bebê, da criança e/ou do adolescente, com maior número de
informações possíveis
• Carta da genitora ao bebê
• Se possível, fotos, vídeos
• Informações sobre a equipe que realizou os cuidados, nome com o qual a equipe chamava
o bebê
Despedida
• Permitir contato da mulher com bebê caso ela manifeste esse desejo.
• Espaço para despedida do bebê no momento da saída da mulher do hospital.
• Elaboração do luto pela “perda” do bebê
• Liberação do bebê para novos vínculos
• Fundamental para identidade dessa criança
Intervenção com o bebê
• Nomear ao bebê sobre a ausência da genitora
• Informar ao bebê sobre a necessidade de permanência na internação hospitalar
• Atenção aos comportamentos, manifestações de afetos e avaliação da necessidade de
novas intervenções
• Liberação do bebê para novos vínculos
• Possibilidade da despedida da equipe na alta do bebê, sobretudo se o bebê teve longa
internação
Intervenção com toda a equipe
• Tempo de internação
• Capacidade de subjetivar esse bebê, sem se “apropriar” dele
• Despedida da equipe

Deste modo, o cuidado às gestantes e genitoras que manifestam o desejo da


entrega do bebê deve considerar tanto os aspectos objetivos, evidentes pelo contexto de
desigualdade econômica, racial, de gênero e estruturalmente violento em que vive a maior
parte dessas mulheres; como os aspectos subjetivos que envolvem suas histórias

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familiares e afetivas, possibilitando também a escuta e o olhar subjetivante para esse bebê
- parte dessa história, mas ao qual é oferecido outra trajetória, que precisa também ser
cuidada e humanizada.
Além disso, ainda se faz necessário avançarmos na inclusão do genitor que também
faz parte da história de uma entrega em adoção.

Não se pode desconsiderar o contexto histórico-cultural do País, em


que recai sobre a mulher a responsabilidade de conduzir sozinha a
gravidez, mesmo que não esteja preparada para a maternagem,
enquanto ao homem se tolera o chamado aborto social, abandonando
por completo o filho (CEVIJ/TJRJ, 2017).

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Aula 3: Passo a passo para concretização da Entrega
Protegida para Adoção – uma referência
Niva Maria Vasques Campos, Mestre em Psicologia,
Analista Judiciário – Psicologia, TJDFT

Os únicos aperfeiçoamentos realizados pelo Marco Legal da Primeira Infância em


relação ao tema da Adoção referem-se às gestantes ou mães que entregam seus filhos para
adoção, o que denota ser este um ponto sensível e que ainda requer avanços na prática.
Além do artigo referido no tópico anterior (Lei 13.257/2016, art.19, §5º), a segunda
alteração reforça um artigo já acrescido pela Lei 12.010/2009, para prevenção do
preconceito contra a mãe que entrega o filho em adoção e para promoção da adoção por
intermédio da Justiça:
As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos
para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas, sem
constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude (Artigo 13 do ECA,
modificado no que está em negrito pelo art. 23 da Lei 13.257/2016).

Ao mesmo tempo que se reconhece a convivência familiar e comunitária como


direito da criança e do adolescente, sendo possível de ser atendido por meio da adoção,
como medida excepcional, quando não for possível sua permanência na família biológica,
também se reconhece que a entrega em adoção não é crime, é uma medida prevista em lei
(art. 8, 13 e 19-A do ECA). Feita de forma protegida, no contexto da justiça da infância e
juventude, com respaldo judicial e responsabilidade, tem efeitos benéficos para todos os
envolvidos, sobretudo para a criança e seu desenvolvimento posterior. A entrega
protegida evita riscos para a mulher e para a criança e condutas tipificadas como crime,
tais como o aborto, a exposição de crianças em vias públicas ou locais remotos e o
infanticídio. Além de prevenir a entrega a pessoas que não estejam habilitadas para adoção.
O ser humano precisa ser amparado ao nascer e a entrega protegida para adoção
pode ser um meio responsável e amoroso de resguardar a vida e o desenvolvimento de
uma criança cujos genitores não reúnem condições de assumi-la.
Protagonizar a entrega em adoção é uma escolha difícil e estigmatizante, mas
historicamente tem sido uma realidade e um fardo solitário para muitas mulheres. Muitos
homens, ao saber da gravidez indesejada, desaparecem, deixando a gestante sozinha para
lidar com a situação. Envergonhadas e com medo, muitas gestantes escondem a gestação

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25
e não buscam ajuda de seus familiares, sequer para conversar a respeito. Temem a
reprovação pela gravidez indesejada ou até mesmo a revelação de uma eventual violência
sexual sofrida. Nem sempre seus familiares podem servir como fonte de apoio, às vezes já
se encontram sobrecarregados com a criação de outras crianças. Assim, muitas mulheres
buscam soluções danosas à sua vida, ao seu corpo, à criança e ao seu desenvolvimento
posterior.
Em seu livro “Mães abandonadas”, Pisano Motta (2005) inaugurou a discussão
sobre a grande diferença entre “abandono” e “entrega” em adoção, chamando atenção
para o dilema vivenciado por mulheres que se vêem sem condições de serem aceitas, tanto
se assumirem a maternidade como se decidirem entregar o bebê a para adoção.
Propomos o termo entrega para o ato que consiste na desistência da mãe
de criar o filho que concebeu e entregá-lo para que outros o façam em
seu lugar. (...) A utilização do termo entrega, em detrimento de abandono,
implica uma postura livre de juízos de valor moral sobre a pessoa da mãe
que entrega o filho em adoção (MOTTA, 2005, p. 49).

Assim, aquelas que corajosamente buscam uma saída e uma alternativa mais
salutar para elas e para a criança como a entrega em adoção devem ser honradas. E a
entrega em adoção mais protegida é aquela que é realizada na Justiça da Infância e
Juventude, posto que é a instância responsável pela organização dos cadastros de adoção
com pretendentes devidamente habilitados e preparados, onde a inserção da criança em
um lar adotivo será acompanhada por equipe interprofissional e, após o devido processo
legal, o juiz da infância e juventude legitimará o ato e a adoção propriamente dita, com a
devida segurança jurídica.
A entrega em adoção é precedida pela escuta especializada por equipe psicossocial
na Justiça da Infância e Juventude, a qual leva em conta os efeitos do estado gestacional e
puerperal, podendo a gestante ou genitora mediante sua expressa concordância, ser
encaminhada à rede pública de saúde e assistência social para atendimento especializado
(ECA, art. 19-A).
Eventual busca à família extensa não pode extrapolar o prazo de 90 dias, mas a
gestante ou genitora tem o direito ao sigilo sobre a gravidez e a entrega em adoção. Em
outras palavras, a partir da Lei 13.509/2017, a gestante ou genitora tem o direito de não
indicar o nome do genitor da criança e de não informar seus próprios familiares sobre a
gravidez e a entrega. Todas essas modificações tornaram a entrega um processo menos

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26
contraditado, mais célere e garantidor dos direitos da criança à convivência familiar por
meio da adoção.
A entrega em adoção só se efetiva após a oitiva judicial que é precedida da oitiva
psicossocial para orientações e esclarecimentos quanto aos efeitos da medida (ECA, art.
166 §2º). Confirmada a entrega em adoção, o juiz extinguirá o poder familiar e determinará
a colocação da criança no cadastro de adoção e em família habilitada, conforme ordem de
inscrição. Os genitores podem desistir da entrega na oitiva e permanecer com a criança,
recebendo o acompanhamento da Justiça da Infância e Juventude pelo prazo de 180 dias.
A revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente pela lei 13.509/2017,
determinou a garantia do direito materno ao sigilo sobre o nascimento e a entrega da
criança em adoção. Ainda que a permanência da criança na sua família biológica seja a
primeira alternativa a se pensar, e que seja desejável que essa mulher compartilhe com sua
rede de apoio (parceiro ou companheiro, família, amigos) tal decisão, se for do desejo dela
que a gravidez e a entrega em adoção permaneçam em sigilo, a lei lhe dá o direito de ter
sua vontade respeitada.
Braun (2014) considera que informar os membros da família ampliada sobre a
gravidez indesejada e consultar sobre o interesse de acolher a criança, sem o
consentimento da mulher, conflita com o direito à intimidade, constitucionalmente
previsto no art. 5º, inc. X da Constituição Federal.
O fato de o sigilo ser invocado não implica no cerceamento do direito do adotando
de conhecer sua origem biológica. A genitora é devidamente identificada, os relatórios e
suas oitivas psicossocial e judicial permanecem nos autos, aos quais o(a) filho(a) poderá ter
acesso integral quando atingir a maioridade. Ressalta-se que a genitora é sempre
informada dessa possibilidade no futuro.
Como vimos antes, entende-se que a vontade da genitora deva ser respeitada. Isso
também se aplica em caso de ela não desejar ver ou amamentar a criança. A despedida é
um evento importante para ambos: mãe e criança, mas a mulher não deve ser constrangida
a fazê-la.
Assim como apresentamos anteriormente uma referência de protocolo
humanizado de entrega em adoção na rede de saúde, apresentamos a seguir um protocolo
de entrega protegida no Judiciário.

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Um passo-a-passo para uma entrega protegida em adoção deve se pautar em três
aspectos fundamentais:
1. Capacitação das equipes interprofissionais do Judiciário e de todo o Sistema
de Garantia de Direito (sobretudo da rede de saúde e assistência social) para o
acolhimento das gestantes, genitoras e genitores – a fim de compreender o
fenômeno, evitar o estigma do abandono e o não reconhecimento da entrega
voluntária como uma possibilidade responsável e garantidora dos direitos e
interesses da criança;
2. O papel do judiciário na entrega em adoção precisa ser conhecido e
reconhecido – isso implica em uma ação contínua de disseminação da
informação e de articulação com a rede de proteção – a entrega em adoção está
prevista em lei (arts. 8, 13 e 19-A do ECA), não é crime, atende o superior
interesse da criança ao proporcionar a possibilidade de sua inserção como
filho(a) em uma família. Esta informação deve estar amplamente
disponibilizada em todo o sistema de garantia de direitos para os usuários de
tais serviços. No Distrito Federal, por exemplo, a Lei Distrital nº 5.813, de 31 de
março de 2017 estipulou que todas as unidades públicas e privadas de saúde
do Distrito Federal devem afixar placas informativas em locais de fácil
visualização contendo os seguintes dizeres: "A ENTREGA DE FILHO PARA
ADOÇÃO, MESMO DURANTE A GRAVIDEZ, NÃO É CRIME. CASO VOCÊ
QUEIRA FAZÊ-LA, OU CONHEÇA ALGUÉM NESTA SITUAÇÃO, PROCURE A
VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. ALÉM DE LEGAL, O
PROCEDIMENTO É SIGILOSO." A lei prevê ainda que as placas informativas
devem conter endereço e telefones atualizados da Vara da Infância e da
Juventude do Distrito Federal. Tal obrigatoriedade é muito importante, porém,
somente cartazes fixados não são suficientes, é preciso que sejam realizados
regularmente encontros, oficinas, palestras, divulgação na mídia (rádio, TV,
redes sociais) para que todos possam conhecer e desmistificar a entrega legal
em adoção, mudar atitudes e humanizar procedimentos. Outras unidades da
federação também estabeleceram legislação própria com a mesma premissa.
Tal iniciativa auxilia na desmistificação da entrega em adoção e na
disseminação da informação correta, favorecendo o superior interesse da
criança e a adoção legal.

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3. Articulação do judiciário da infância e juventude com os demais atores do
sistema de garantia de direitos: rede de saúde (postos de saúde, hospitais e
maternidades), equipamentos de assistência social (CRAS e CREAS), órgãos de
proteção (Conselho Tutelar), e sobretudo Ministério Público e Defensoria
Pública. É fundamental investir no estabelecimento de fluxos, protocolos e
procedimentos, assim como na disseminação da informação e na
comunicação célere e eficiente entre estes órgãos e instâncias a fim de dar
conta dos casos concretos. Em geral, a equipe interprofissional do Juízo e o
Serviço Social dos hospitais e maternidades da rede pública são os
responsáveis pela acolhida e encaminhamentos iniciais da gestante ou
genitora. No Distrito Federal, a mãe que entrega em adoção tem a possibilidade
de ser representada pela Defensoria Pública, de forma inteiramente gratuita,
para autuar uma ação declaratória de extinção do poder familiar. A maioria
das genitoras que entregam em adoção dá à luz em hospitais ou maternidades
públicas que sempre são providas de equipe de Serviço Social, já os hospitais
privados nem sempre contam com esse serviço, o que muitas vezes prejudica a
atuação coordenada pela ocasião do parto, pelo desconhecimento e ausência
dos profissionais com a formação e orientação adequada na rede privada. O
acompanhamento prévio da gestante pela equipe do Judiciário pode evitar ou
minimizar essa situação a partir da orientação ao médico e direção do hospital
no qual será realizado o parto.

Exemplo de passo a passo para Entrega Protegida em Adoção


1. Acolhimento da gestante ou genitora (ou genitores) pelo serviço de saúde ou
assistência social e encaminhamento para a Justiça da Infância e Juventude, caso a
mesma tenha o interesse de entregar a criança em adoção;
2. Acolhimento da gestante ou genitora ou genitores pela equipe interprofissional
(psicólogos, assistentes sociais e/ou pedagogos) do Juízo da Infância e Juventude,
oitiva dos motivos que ensejam a entrega em adoção sem julgamentos e ideias
preconcebidas, orientação e esclarecimentos psicossociojurídicos sobre as

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consequências da entrega e da adoção propriamente dita, assim como
encaminhamentos para atendimento psicológico posterior ou outros que se fizerem
pertinentes;
3. Se possível, articulação com a Defensoria Pública e/ou Promotoria para a assistência
jurídica da gestante, genitora ou genitores, p.ex. com o objetivo de autuar a extinção
do poder familiar e acompanha-la(os) na audiência de oitiva;
4. Após o nascimento da criança, deve ser realizado novo acolhimento e oitiva
psicossocial da genitora ou genitores pela equipe interprofissional do Juízo, mesmo
que o caso já esteja sendo acompanhado pela referida equipe durante a gestação, a
fim de verificar a manutenção do interesse na entrega ou o desejo de assumir a
criança. Cabe ressaltar que a genitora tem direito ao sigilo quanto à entrega e não é
obrigada a indicar o genitor da criança. Também nesta etapa cabe a equipe
interprofissional fazer os encaminhamentos pertinentes. Aqui, contudo, temos um
problema, pois se a mulher é casada, existe a presunção de que o filho é do marido.
Nesse caso, é mais seguro trazer o marido para o processo, muito embora no caso
concreto, o juiz possa dispensar a cientificação do marido, se isso colocar em risco a
saúde física ou emocional da esposa.
5. Audiência ou oitiva judicial da genitora ou genitores para ratificação da entrega em
adoção ou ainda para manifestar eventual interesse em permanecer com a criança;
6. Na audiência, se ratificada a entrega em adoção pela genitora ou genitores, o juiz da
infância e juventude poderá extinguir o poder familiar e cadastrar a criança para
adoção. A criança será então colocada em família substituta devidamente habilitada
para adoção.

Para conhecer mais sobre alguns dos programas de entrega protegida em adoção
existentes no Brasil, acesse:
• Amazonas:
https://sistemas.tjam.jus.br/coij/?s=acolhendo+vid
as

2 29
30
• Distrito Federal: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-
e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/entrega-voluntaria-de-
adocao#:~:text=A%20Lei%2013.509%2F2017%2C%20chamada,Justi%C3%
A7a%20da%20Inf%C3%A2ncia%20e%20da
• Mato Grosso do Sul: https://www.tjms.jus.br/projetos/projeto_dar_luz.php
• Minas Gerais: http://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-
programas/entrega-legal.htm#.X4W2C2hKjIW

• Pará: http://www.tjpa.jus.br/PortalExterno/institucional/Infancia-e-
Juventude/239243-Adocao-Voluntaria.xhtml
• Paraná:
https://www.tjpr.jus.br/documents/11900/11188715/Entega+Volunt%C3%A
1ria+para+Ado%C3%A7%C3%A3o+-
+Dr.+Robespierre+Foureaux+Alves/ca977064-e215-a002-40d5-
995106a1da37
• Pernambuco: https://www.tjpe.jus.br/web/infancia-e-
juventude/adocao/programa-acolher
• Rio de Janeiro: http://www.tjrj.jus.br/noticias/noticia/-/visualizar-
conteudo/5111210/5199329

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Aula 4: A importância da preparação e
acompanhamento das crianças e dos candidatos à
adoção
Como temos visto ao longo do curso, a parentalidade é uma habilidade em contínuo
desenvolvimento, não se nasce sabendo ser pai ou mãe. Assim, a oportunidade de contar
com apoio para esta função tão importante e complexa precisa ser reforçada também no
âmbito da parentalidade e da filiação por adoção. Além disso é uma grande
responsabilidade do Judiciário a colocação da criança em uma nova família, após vivências
de ruptura de vínculos originários pelos.
De fato, inserir uma criança num contexto familiar disfuncional é incorrer em grave
risco, pois esta criança teria possibilidade de sofrer rejeição, maus-tratos, negligência e
novo abandono. Deste modo, é uma responsabilidade do Estado a avaliação dos
interessados em adotar e desde esse processo surgem reflexões sobre o respeito à história
de vida desta criança, a integração de aspectos de sua individualidade já construídos até
então, suas dificuldades, suas características pessoais, sua identidade, seu nome próprio.
Sabemos que todas essas questões exigem um longo trabalho interno de reflexão e
flexibilidade dos candidatos a pais adotivos. A equipe técnica se oferece como facilitador e
até como provocador desse processo.
A avaliação psicossocial ou técnica poderá ser realizada através de diversos
instrumentos. Cada equipe em sua realidade local deverá selecionar os procedimentos
mais acessíveis e disponíveis, conforme a demanda e a sua formação específica, sem
dispensar a necessidade de individualização e privacidade do processo. O fato de os
pretendentes à adoção sentirem-se inseridos num processo avaliativo pode propiciar
ausência de espontaneidade e tendência a um discurso pautado nas convenções sociais ou
em elementos que, segundo suas crenças, poderão ser valorizados no parecer judicial. No
entanto, as consequências de um processo de habilitação mal feito afetarão a vida dos
adotantes e da criança pelo resto da vida, sendo fundamental se estabelecer uma relação
de confiança, colaboração e gestação psicossocial da filiação por adoção.
Cada família deverá ser respeitada e preparada com relação às suas
particularidades no momento da realização de seu projeto adotivo. E a participação dos
diferentes profissionais também deverá ser amplamente discutida com critérios técnicos
estabelecidos de antemão. Não podemos deixar de mencionar que o sucesso da adoção

2 31
32
estará diretamente ligado à intervenção cuidadosa dos que farão a mediação do encontro
entre os que se tornarão família por adoção.
Tanto a preparação dos candidatos, como a das crianças e adolescentes, tem como
objetivo a facilitação do ingresso dos adotados em suas novas famílias e a possibilidade de
uma adaptação favorável em relação ao processo adotivo.
A partir da Lei 12.010/2009, em decorrência de experiências que mostraram a
importância da preparação dos interessados em adotar, esta se tornou obrigatória. Em
alguns lugares este processo é carinhosamente chamado “pré-natal da adoção”:

§ 3º A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de


preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da
Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos
técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do
direito à convivência familiar (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência (ECA, Art. 50).

Se toda parentalidade merece apoio e cuidados, como vimos no decorrer dos


avanços subjacentes ao Marco Legal da Primeira Infância, não é diferente em relação à
parentalidade por meio da adoção. Ao contrário, a formação de uma filiação no encontro
de duas histórias que não contam com a naturalidade do vínculo biológico constitui um
processo de sensível investimento afetivo, social e cognitivo, que merece contar com todo
o apoio possível. Isso, tanto da parte da criança, como dos adultos e não podemos deixar
de pensar no contexto familiar mais amplo ao qual a criança passará a pertencer. Países
como a Itália, por exemplo, incluem os avós nos processos de adoção (GHESTI, 2008).
Um aspecto importante para reflexão no processo de habilitação e preparação
para adoção é a compreensão sobre de onde vem o desejo de adotar uma criança? É
importante que a equipe técnica esteja preparada para ouvir as entrelinhas e devolver aos
candidatos a responsabilidade sobre a demanda real de uma criança (HAMAD, 2002), pois
como avalia Debray (1988), no percurso entre o projeto do filho ideal ao filho real há um
percurso semeado de emboscadas. Muitos elementos participam desta conjuntura de
construção da filiação por adoção, desempenhando geralmente, papéis decisivos.
Esse cuidado é necessário na medida em que as crianças adotáveis por definição
tiveram histórias de separação, perdas, exposição à situações de negligência e violência
onde foram impregnados por sentimentos, hábitos e vivências particulares, diferentes e

2 32
33
difíceis. Elas terão um DNA distinto, que pertence a outro casal. Estas diferenças poderão
acarretar dificuldades na consolidação dos vínculos familiares e, consequentemente, no
desenvolvimento da criança. Do mesmo modo, os adotantes possuem muitas vezes
sentimentos e vivências relacionadas ao luto por não gerar um filho biológico ou pela perda
de um filho natural, que igualmente precisam ser elaboradas.
Deste modo, com base na Doutrina da Proteção Integral, as intervenções
psicossociais e jurídicas visam possibilitar a formação de um vínculo seguro e sustentável,
por meio de procedimentos para a confirmação da necessidade de ruptura do vínculo com
a família de origem, da preparação dos interessados em adotar, assim como da criança –
mesmo ainda bebê, do acompanhamento do estágio de convivência e da sentença de
adoção. Estes procedimentos representam uma resposta responsável do Estado, que deve
atuar de forma integrada, diante da medida de colocação de uma criança ou adolescente
em uma nova família. Quando realizadas com qualidade, as intervenções previstas na
adoção legal previnem devoluções, dificuldades relacionadas à revelação da história de
adoção, fortalecimento das habilidades para lidar com demandas subjetivas específicas da
constituição do vínculo adotivo, elaboração do luto pela infertilidade, entre outros.
O contato com as equipes judiciárias ou serviços encarregados do processo de
habilitação para adoção é recomendável e importante, na medida em que se estabelece um
vínculo profissional de confiança que propicia diálogo e segurança aos adotantes.
A espera pelo filho adotivo é um fator que pode ser marcado por grande
ansiedade e, por vezes, por uma longa espera, principalmente quando o perfil etário da
criança desejada é limitado à primeira infância. Mas, dependendo do projeto adotivo de
cada pessoa ou casal, também pode oportunizar um amadurecimento e
redimensionamento, colocando a adoção num plano mais real e menos idealizado por
parte dos candidatos. Neste sentido, pode-se transformar o tempo de espera em tempo de
preparação e a participação dos pretendentes à adoção em grupos reflexivos, com suporte
técnico, é produtiva, desde que esses grupos funcionem de uma forma não ideologizada
em relação à adoção.
Os Grupos de Apoio à Adoção são formados, na maioria das vezes, por iniciativas
de pais adotivos que, de forma voluntária, trabalharão na divulgação da nova cultura da
Adoção. É um movimento que tomou força a partir da década de 90 no Brasil.
Os Grupos de Apoio à Adoção têm entre suas linhas de atuação:

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✓ Trocas de experiências entre os participantes, formando uma rede de
apoio mútuo.
✓ Orientação e aconselhamento a quem deseja se informar a respeito de
adoção ou mesmo efetivá-la.
✓ Difusão e estimulo para outras pessoas capazes de receber uma criança
que não tem família.
✓ Propagação de uma “nova cultura da adoção”, visando o melhor
interesse da criança, sensibilizando a sociedade para a questão das crianças
institucionalizadas que se encontram privadas da convivência familiar.
É de suma importância a parceria destes grupos com os demais integrantes da rede
de proteção à infância e adolescência.

Para saber mais:


• Consulte a página da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção:
https://www.angaad.org.br/portal/category/institucional/
• Projeto Pré-Adoção: Transformando o tempo de espera em tempo de preparação
para adoção legal. Disponível em: https://docplayer.com.br/9770479-Projeto-
pre-adocao-transformando-o-tempo-de-espera-em-tempo-de-preparacao-para-
a-adocao-legal.html
• Cartilha: Adotar é Legal (TJAM). Disponível em:
https://sistemas.tjam.jus.br/coij/wp-
content/uploads/2014/07/cartilha_completa.pdf
• Guia da Adoção. E-book gratuito (Instituto Geração). Disponível em:
https://geracaoamanha.org.br/ebook-adocao/

A preparação da criança para a adoção


Com a situação jurídica da criança definida, começam os procedimentos acerca de
sua adoção. A reunião de todas as informações a respeito da criança é imprescindível para
que ela possa ser proposta a uma família que efetivamente possa atendê-la em todas as
suas necessidades.

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O histórico processual somado ao histórico institucional formam uma gama de
informações, dando uma visão mais abrangente das condições da criança. São colhidos
todos os dados possíveis junto à equipe técnica da instituição, bem como, junto a seus
cuidadores diretos, pois é fundamental ouvir a criança em todas as situações. O advento
do Plano Individual de Atendimento de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento -
PIA veio favorecer a organização desses registros e da comunicação entre os vários
profissionais, incluindo a escuta da criança ao longo de seu acolhimento.
A compreensão global desta criança com todas as suas dificuldades e
potencialidades fornece subsídios para que se possa encontrar a família mais adequada e
capaz de corresponder a esta demanda.
As crianças que tiverem a oportunidade de compreender sua situação de abandono,
sendo oportunizadas a elas a possibilidade de elaboração do luto da perda de sua família
de origem ou de suas figuras anteriores de apego, terão maior sucesso na formação de
novos vínculos afetivos.
A transição do abandono à filiação adotiva gera na criança ansiedade, pois as
fantasias e expectativas contém elementos relacionados à sua história de vida anterior.
Considerando as inúmeras vivências anteriores de perdas e frustrações, bem como
a percepção diferenciada da criança a respeito do tempo, a preparação para adoção se
iniciará quando tivermos a indicação precisa da nova família. É um processo que dependerá
das necessidades individuais de cada criança, mas deverá ter uma metodologia com
relação ao seu transcorrer, prevendo início, meio e fim.
Os dados a respeito da história individual, atual e pregressa, da criança e seu nível
de desenvolvimento, identificados durante a avaliação prévia, serão essenciais no
direcionamento do trabalho de preparação. Isto diferenciará o nível de elaboração e
compreensão de cada criança a respeito de seu novo projeto de vida. É a partir deste
diagnóstico inicial que se define o tempo necessário para o trabalho e abordagem técnica
a ser utilizada.

Observa-se a importância de serviços de acolhimento manterem arquivos individualizados


com lembranças como fotos, desenhos, objetos pessoais, traços da origem da criança. Estes
são fundamentais para a construção de sua identidade e devem ser entregues aos pais
adotivos que o continuarão com suas histórias posteriores.

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Ao iniciarmos o trabalho de preparação para adoção, é necessário reunir os
fragmentos de sua história pregressa contando a ela de forma mais organizada o que
ocorreu em sua trajetória de vida. Sem a possibilidade de falar nos sentimentos de
abandono, não há como introduzir a perspectiva de novos vínculos. Desta forma, tentamos
preservar a saúde mental da criança frente à mudança, evitando que ela seja brusca e
traumática.

O sucesso da adoção dependerá também da possibilidade de oferecer à criança a


possibilidade de elaboração do luto da perda de sua família de origem.
Este deverá ser o primeiro momento da preparação para adoção.

Para a realização deste trabalho, são proporcionados encontros sistemáticos do


técnico com a criança, nas dependências do local onde está acolhida. Também a instituição
em que se encontra é preparada e orientada com relação à saída da criança que até o
momento foi cuidada pelos educadores. Estas são pessoas de referência que, se engajadas
no momento de saída da criança, facilitam seu desligamento da instituição e apego à sua
nova família.
Após a primeira etapa de trabalho, que dará conta da história pregressa da criança,
esta será apresentada à sua nova família. Primeiramente, através de notícias, cartas e fotos
para que ela possa formar uma representação mental acerca de seus futuros pais. Mais
recentemente, tem-se utilizado também encontros por meio de videoconferência como
estratégia de aproximação entre adotantes e adotandos, especialmente quando residem
em municípios diferentes. Em casos de adoção internacional ainda são necessários alguns
elementos a respeito da mudança cultural, idioma, costumes, para minimizar o impacto
com a aproximação.
De posse dessas informações, auxiliamos a criança a compreender o significado
desta mudança, mesmo que não ainda em toda sua extensão e complexidade. Ela estará
então apta a iniciar o estágio de convivência com sua família adotiva.

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Sabemos da importância do mundo imaginário na infância. A apresentação da
família adotiva à criança através de fotos, imagens e outros objetos simbólicos, dá a
possibilidade a esta de se aproximar desta realidade de forma gradativa. Assim,
despertamos nela a necessidade genuína de novamente estabelecer vínculos verdadeiros
de afeto, vencendo os temores e as barreiras deixadas pelos possíveis traumas que levaram
à ruptura do vínculo com a família de origem.

Da mesma forma, os candidatos a pais são preparados pela equipe a acolher em seu
contexto familiar o filho desejado. Participam a distância da evolução do trabalho de
preparação, sendo informados sobre os pontos de necessidades, de inseguranças de seu
futuro filho e orientados para que possam agir de forma a oferecer a este um ambiente de
suporte e afetividade.
As adoções de crianças maiores de três anos, de crianças com deficiência ou de
grupo de irmãos são mais complexas pelo maior número de variáveis a ser gerido pelos pais.
Na adoção de crianças maiores, em geral, as mesmas passaram mais tempo em
institucionalização, possivelmente tiveram um maior contato com a família de origem e
podem ter passado por experiências de violência ou outras vivências traumáticas. Estas
precisam ser conhecidas pelos profissionais que a acompanharão, bem como pelos futuros
pais para que se instrumentem anteriormente para o manejo destas.

A interação entre as equipes dos Serviços de Acolhimento e as equipes psicossociais do


Sistema de Justiça

Um fator muito importante para o trabalho em rede é a comunicação constante


entre os profissionais que atuam no cuidado das crianças nos serviços de acolhimento e os
profissionais das equipes técnicas da Justiça da Infância e da Juventude. A construção de
fluxos para apresentação das crianças aos candidatos à adoção, com permanente
comunicação entre os serviços, por exemplo, favorece que as equipes que permaneceram
responsáveis pela criança se preparem para o desligamento da criança e preparem melhor
as crianças para o encontro com os adotantes.

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Aula 5: Adoções necessárias na primeira infância:
crianças com deficiência e grupos de irmãos
Graças a muitas campanhas e discussões sobre a realidade das crianças privadas
do convívio familiar, houve uma ampliação da disponibilidade para adoção de crianças que
dificilmente seriam adotadas por candidatos brasileiros há duas décadas atrás. No entanto,
ainda encontramos um grupo de candidatos que busca a adoção de um recém-nascido
como única alternativa para o exercício da parentalidade. Para este grupo, a passagem do
“filho sonhado” ao “filho real” poderá ser mais lenta e difícil.
De acordo com o Sistema Nacional de Adoção (CNJ, 2020), o número de crianças e
adolescentes com problemas de saúde ou deficiências disponíveis para adoção é cerca de
4,2 vezes superior aos que estão em processo de adoção. Do total de crianças e
adolescentes com direito à adoção ainda não atendido, isto é que não encontraram
nenhum pretendente disponível a adotá-las, aproximadamente 21,3% (1.072)
apresentavam algum problema de saúde, dos quais 8,5% possuem deficiência intelectual.

Figura 7 – Número de crianças disponíveis para adoção (Fonte: SNA, maio de 2020)

Esta situação aponta a necessidade de maior investimento nas “adoções


necessárias”, que de acordo com o SNA se referem a crianças maiores de sete anos ou com
problemas de saúde ou deficiência e/ou pertencentes a grupos de irmãos, que necessitam
de uma nova família por já terem esgotado as chances de retorno à família de origem.
A adoção de crianças maiores, muitas vezes chamada de adoção tardia, por
exemplo, ainda é preterida porque muitos pretendentes acreditam ser impossível que a

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criança supere as experiências pessoais anteriores à adoção, embora o cuidado e o amor
que possam vir a receber pela família adotante e o período de plasticidade cerebral tragam
resultados significativos.
O ponto de vista dos pretendentes, que em sua grande maioria deseja crianças
abaixo de 7 anos, influencia bastante a chance de vinculação crianças/pretendentes. A
maioria dos pretendentes deseja crianças de até 4 anos de idade e apenas 0,3% desejam
adotar adolescentes. Contudo os adolescentes representam 77% do total de crianças e
adolescentes disponíveis e não vinculados no SNA, havendo mais adolescentes
cadastrados no SNA do que pretendentes que desejam adotá-los.

Figura 8 – Idade atual das crianças e adolescentes disponíveis para adoção × Idade desejada pelos
pretendentes à adoção (Fonte: SNA, maio de 2020)

Além disso, a invisibilidade da situação real da adoção também assola o discurso da


mídia que, não raro, apresenta reportagens que reduzem as dificuldades da adoção,
fazendo referências ao processo, equipe jurídica e burocracia, sem serem porta-voz das
crianças que estão sem família e não correspondem ao perfil desejado pelos adotantes.
Aqui encontramos o grande desafio dos profissionais que trabalham na mediação
para adoção: a aproximação entre o desejo dos pretendentes e a realidade das crianças
disponíveis à adoção, respeitando os princípios éticos.

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Em resposta à demanda dessas crianças que aguardam uma família, a Lei
12.955/2014 acrescentou ao art. 47 do ECA o § 9º, determinando “prioridade de
tramitação aos processos de adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
deficiência ou com doença crônica”. Ademais, a Lei 13.509/2017 acrescentou ao Art. 50 do
ECA o inciso 15, determinando que: “Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
interessadas em adotar criança ou adolescente com deficiência, com doença crônica ou
com necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos.”
O Sistema de Justiça e os Grupos de Apoio à Adoção tem desenvolvido ações de
busca ativa para promoção das adoções necessárias.
A Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD) apresenta de
forma clara o significado da BUSCA ATIVA, que significa promover:
Família para quem precisa. A ideia central da Busca Ativa é conseguir
famílias para crianças, em vez de crianças para os pais. Desta maneira é
possível efetivar as adoções necessárias, em geral, de crianças mais
velhas, com deficiência, doenças crônicas ou grupos de irmãos – as
crianças reais que aguardam por uma família em abrigos - em lugar de
esperar por anos que uma criança idealizada seja incluída no cadastro
(ALMEIDA; GADELHA, 2018).

Exemplos de atuação em prol das adoções necessárias:


O Tribunal de Justiça de Sergipe, por meio de sua Coordenadoria da Infância e
Juventude realiza um conjunto de ações para dar promoção das adoções necessárias:
a) PROJETO ENCONTROS - Consiste numa tarde interativa de lazer com a
participação de crianças e adolescentes das unidades de acolhimento
institucional e dos pretendentes à adoção, com o objetivo de incentivar a
reflexão e a ampliação dos perfis escolhidos pelos pretendentes à adoção.
Fotos de atividades do projeto encontros:

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b) CAMPANHA ADOÇÃO: DEIXA CRESCER O AMOR - Objetiva sensibilizar os
pretendentes à adoção e proporcionar uma mudança de perfil para a adoção
necessária.

c) INFORME LEGAL - Cartilha com grande circulação no Estado de Sergipe,


esclarece o passo a passo da adoção e estimula adoções tardias.

A Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Amazonas


realiza o PROGRAMA ENCONTRAR ALGUÉM, desde 2018. Veja mais detalhes em:
https://sistemas.tjam.jus.br/coij/?p=3298

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Outro exemplo é do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que promoveu uma
campanha que pode ser acessada em: https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/tjmg-
promove-acoes-em-prol-da-adocao-tardia.htm#.X4WzxtBKiUk. Com o podcast:
http://www8.tjmg.jus.br/videos/justica_questao/2019.05.24-SPOT-Dia-Nacional-da-
Adocao2019.mp3
Muitas outras iniciativas são desenvolvidas, em outros estados, em busca de
favorecer as adoções necessárias, de forma proativa.

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Aula 6: O Judiciário frente às entregas dirigidas
(adoção intuitu personae)
As adoções dirigidas ou adoções intuitu personae, também conhecidas como
adoções prontas, são aquelas em que os adotantes buscam a criança diretamente junto à
genitora ou intermediários e se dirigem à Justiça da Infância e da Juventude apenas para
homologar a ação. Exceto quando se trata de motivações legítimas, previstas no art. 50,
§13 do ECA, como parentes que adotam criança da família extensa ou adoções unilaterais
(em que um dos adotantes possui relacionamento estável com o pai ou mãe da criança e
relação de afetividade com a mesma), esta modalidade consiste em uma forma de burlar a
fila representada pelo cadastro para adoção. Desconstitui, assim, o sistema democrático
em que todos pretendentes à adoção teriam direito equitativo de acesso às crianças
adotáveis, traduzindo-se em um dos motivos da demora da adoção pelos que respeitam o
cadastro. De fato, esta prática persiste em nosso País, como mostram os dados do SNA
(2020):

Adoções entre agosto de 2019 e setembro de


2020
800 707
700
600
500
400 364
283 261
300
202
200
100
68 45 42
100 21 28 15
0
0-3 anos 3-6 anos 6-9 anos 9-12 anos 12-15 anos 15-18 anos

Adoção pelo cadastro Adoção intuitu personae

Figura 9 –Adoções pelo cadastro X Adoções intuitu personae (Fonte: SNA, 2020)

Como a adoção intuitu personae, na maioria das vezes, chega à Justiça como fato
consumado, majoritariamente inviabiliza-se a realização de todos os procedimentos de
avaliação dos motivos para destituição do poder familiar, assim como de preparação para
adoção. Desse modo, a intervenção das equipes nessa forma de adoção, também chamada
de “adoção pronta” pode ter sua abrangência e efetividade limitadas. A intervenção do

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judiciário, nestes casos, é vista com muita desconfiança e parcimonialidade por parte dos
pais adotivos que veem na equipe alguém que pode significar uma simples ameaça ao
sucesso da adoção, uma vez que seu parecer pode vir a tirar-lhes o tão sonhado filho.
Nesses casos, cabe também a atuação do Ministério Público, que pode ajuizar ação
civil pública por danos morais coletivos, em razão da realização da adoção fora a fila, como
já tem sido realizado por diversos promotores no Brasil.
De qualquer forma, investir no trabalho de prevenção é tarefa das equipes
interprofissionais, buscando a discussão dos temas fundamentais da adoção como a
compreensão e aceitação dos adotantes acerca da história pregressa de seu filho, crenças
a respeito do segredo e revelação da adoção, bem como percepções a respeito do
desenvolvimento e necessidades específicas do filho por adoção.
Desde a discussão que ensejou a criação da Lei 12.010/2009, já se buscava refletir
sobre a sobreposição do interesse do adulto em relação ao superior interesse da criança,
quando se despreza o sistema legal e democrático da adoção, empregando-se a adoção
intuitu personae sem os critérios que a justificariam.
Os pretendentes à adoção que se disponibilizam a adotar apenas recém-nascidos
também são os que mais restringem o perfil esperado da criança em relação à cor branca,
ao sexo feminino e a não terem problemas de saúde, de acordo com os dados do SNA
(2020).

VÍDEO 2
O Documentário: Se essa Casa fosse Minha, desenvolvido pela Associação dos
Magistrados Brasileiros, em 2008, em campanha pela Adoção Consciente, nos ajuda a
refletir sobre o que avançou em relação à prática da adoção centrada no interesse da
criança e o que ainda precisa ser realizado na rede em que você atua para melhor
implementação do sistema de adoção preconizado na Doutrina da Proteção Integral, a
começar das crianças na primeira infância. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7S8PcWjAMQo

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Aula 7: Adoção Internacional
Uma das recomendações da Convenção das Nações Unidas Sobre os Direitos da
Criança em Nova York (1989) foi a da excepcionalidade da adoção por estrangeiros,
reservada para os casos de esgotamento de todas as possibilidades de manutenção da
criança na sua família e no seu país de origem. O legislador brasileiro acolheu a tese, como
se vê no art. 31 do ECA, onde dispôs se tratar de medida excepcional.
Quanto aos estrangeiros residentes no país, a Constituição Federal assegurou
tratamento igualitário aos nacionais (CF, 1988, art. 5º).
Quanto aos brasileiros residentes fora do Brasil), a lei nº 12.010/2009 considera
que estes devem preencher todos os requisitos do país de domicílio, passando pelos
mesmos procedimentos dos candidatos estrangeiros, sendo incluídos no Sistema Nacional
de Adoção na categoria “Residentes no exterior”. Estes terão preferência aos candidatos
estrangeiros na adoção de crianças ou adolescentes brasileiros.
No âmbito da adoção internacional o Conselho da Autoridades aprovou
requerimento de busca às origens, que visa auxiliar os adotados a encontrar informações
sobre sua adoção. Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-
internacional/adocao-internacional/direito-a-origem

Para saber mais:


Consulte o site da Autoridade Central Brasileira sobre adoção internacional:
https://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/adocao-
internacional/adocao-internacional

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Aula 8: O direito de saber a própria história: a busca às
origens
O estigma da adoção, antes cercado por segredos, cai por terra com a decretação
formal do direito do adotado em saber sobre suas origens, a partir da Lei 12.010/2009, que
alterou o art. 48 do ECA:

O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de


obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus
eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Cada criança que chega ao mundo carrega uma herança, e não se pode fazer dela
uma tábula rasa; mas aquilo que vai ser buscado no passado e reafirmar a história dessa
criança pode nos dizer mais sobre a nova identidade de filho adotivo que ela vai assumir do
que sobre esse suposto passado.
Assim, a família biológica precisa perder o significado de fantasma persecutório e
reconquistar aquele espaço de visibilidade da história vivida, que é necessário ser
integrado à experiência adotiva. Calar ou desestimular a curiosidade do filho alimentará a
construção de zonas de segredos. Dessa forma, tacitamente, se estabelecerão os temas a
serem evitados e será criado um contexto relacional de evitação e possível crise de
confiança, que limitará os espaços da filiação recíproca.
No Brasil, a grande dificuldade enfrentada cotidianamente por aqueles que buscam
informações sobre suas origens é, justamente, a falta de uma normativa precisa que
regulamente a preservação e o arquivamento dos dados de crianças adotadas ou
institucionalizadas. Muitos documentos importantes são mal formulados, mal preenchidos
e, muitas vezes, extraviados ou até mesmo incinerados pelos órgãos públicos e judiciais que
deveriam ser os responsáveis por esta memória.
Além disto, temos ainda a realidade da “adoção à brasileira”, na qual a falta da
intervenção do Estado faz com que as informações permaneçam apenas no foro subjetivo
dos envolvidos, comprometendo ainda mais a possibilidade do sujeito de buscar dados de
realidade e com estes construir sua leitura.
Atualmente, a informação digital – sites, armazenamento de informações – e a
possibilidade de acesso a estas através da informatização tem ajudado na busca e

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localização de pessoas desaparecidas. Ademais, a mídia com seus programas televisivos
tem levado a grande público o tema, no entanto de forma não especializada e fantástica.
O Brasil necessita dar um novo enquadre às solicitações de centenas de pessoas
que, tendo sido adotadas ou tendo vivido sob a guarda do estado, buscam resgatar suas
memórias e vínculos afetivos ou biológicos para a reconstrução de sua história.
A adoção, não sendo mais um tabu social, favorece a quebra dos segredos sobre a
filiação, mesmo que o segredo a respeito das origens possa ser difícil de ser revelado.
Ocorre que as famílias são capazes de lidar abertamente com a questão da adoção, no
entanto, falar sobre a história anterior e a família de origem da criança ainda é um ponto
de muita inquietação aos pais adotivos. Este é um aspecto importante a ser trabalhado na
preparação para adoção, pois muitas vezes os adotantes justificam não querer contar a
história “para a criança não sofrer”, no entanto também para se preservarem de lidar com
receios de a criança desejar voltar à família de origem. O que se observa na prática da
adoção é que ao se realizar a adoção com segurança afetiva e jurídica, a revelação da
história de adoção torna-se algo natural e mesmo uma declaração de amor, por se tratar de
uma filiação ativa, da qual não se tem nada a esconder ou se envergonhar.
Este é um ponto importante, pois ao negar ao filho o direito de conhecer a sua
identidade genética, estamos negando-lhe o exercício pleno de seu direito de identidade e
a possibilidade de buscar, nos pais biológicos, as explicações para as mais variadas dúvidas
e questionamentos que surgem em sua vida, como, por exemplo, questões genéticas,
comportamentais e de saúde.
A busca de informações sobre a família de origem tem sido cada vez mais um pedido
rotineiro no dia-a-dia das Varas da Infância. Adolescentes e adultos adotados, bem como
pessoas com longas histórias de institucionalização procuram informações sobre si.
O ECA, através do seu artigo 48, expressou que o adotado tem o direito de
conhecer sua origem biológica, após completar 18 anos ou mesmo antes dessa idade,
prevendo também apoio jurídico e psicossocial nesse momento:

Art. 48. (...) Parágrafo Único. O acesso ao processo de adoção poderá


também ser deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu
pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. (Lei
8.069/1990).
Os motivos que levam estas pessoas a esta busca podem ter as mais diferentes
influências, podem estar ligados a questões que desde sempre foram motivo de reflexão

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por parte do adotado e que interferiram ao longo de sua vida, como por exemplo, pessoas
que desde criança questionam seus pais adotivos sobre sua história pregressa, pessoas que
percebem problemas de relacionamentos familiares ou interpessoais que julgam ligados a
sua história de origem, entre outros. Estes problemas intra ou intersubjetivos estão dentro
de um largo espectro a ser avaliado, considerando a possibilidade de distúrbios afetivos
graves associados. Podem também estar ligados a questões situacionais, mudanças de vida
acidentais, como por exemplo uma importante perda afetiva – perda de um dos pais
adotivos, perda de algum relacionamento duradouro, mudanças de status na vida adulta,
dentro de uma perspectiva evolutiva normal, como o casamento ou o nascimento dos filhos.
A compreensão dos motivos manifestos e latentes pelo profissional que
acompanha as buscas por informações à família de origem é fundamental. As expectativas
com relação aos resultados e as repercussões das informações e contatos devem ser
dimensionados e avaliados junto a este adolescente/adulto.
O acolhimento do pedido é o primeiro passo e deverá ser feito por profissional
treinado para tanto, tendo em vista que é um momento de importante ansiedade para
aquele que busca sua história. O primeiro encontro será fundamental para a construção de
um vínculo de confiança e segurança entre o profissional e o adotado, portanto, o
estabelecimento deste lugar como local de escuta e continência para as dúvidas e
questionamentos trazidas se faz neste instante. Além do acolhimento, este momento terá
um caráter exploratório de sua história de vida, sua experiência de adoção, seu
funcionamento emocional no momento da procura, qual a motivação para esta busca neste
momento de vida (fatores desencadeantes), sua adaptação psicossocial e laboral.
A demanda da maioria dos adotados concentra-se apenas em uma esfera de
informações. Primeiramente, reconstruir sua história, checar as informações dúbias
relativas a seu nascimento, aos motivos de seu abandono, a identificação desta mãe
biológica e outras informações possíveis que possam levá-lo a compreender o
desencadeante desta outra trajetória de vida.
Poucos são os casos em que o pedido é o contato com a família de origem. Esta, em
geral, será uma demanda daquele adotado que, por outros meios ou em um momento
anterior, já percorreu o caminho de reconstrução de sua história. O desejo de contato com
a família de origem, no entanto, poderá se constituir a medida em que este adotado tiver
os dados a respeito de sua história e está passar a ser menos ameaçadora.

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O acompanhamento desta trajetória propiciará que os sujeitos vivenciem essa
experiência de forma construtiva nos diversos aspectos de sua vida pessoal futura.

Para saber mais:


• Cartilha Passo a Passo para Adoção de Crianças e Adolescentes no Brasil.
Campanha da AMB pela Adoção Consciente. Disponível em:
https://www.defensoria.pb.def.br/criative/Documentos/Cartilha-
adocaopassoapasso.pdf

2 49
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, P.; GADELHA, F. Três Vivas para Adoção! Guia para Adoção de Crianças e Adolescentes.
Brasília, 2018. Disponível em: www.adocoesnecessarias.org

ASSIS, Simone Gonçalves; FARIAS, Luís Otávio Pires. Levantamento nacional das crianças e
adolescentes em serviço de acolhimento. São Paulo: Hucitec, 2013.

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1985.

BRANDÃO, Shyrlene Nunes e SANTOS, Josefa Joelma Silva. Protocolo humanizado de entrega de
bebês em adoção em uma maternidade do DF. Trabalho submetido ao Edital de Boas Práticas do
Conselho Nacional de Justiça, alcançando o quinto lugar na categoria Governo. 2019. Disponível
em https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/11/Classificacao_Preliminar___categoria-
Sistema_de_Justica.pdf

________. “Escolhei a qual quiser”: uma análise psicossociológica da entrega de bebês em adoção.
Trabalho de conclusão de Curso de pós-graduação apresentado ao Instituto Gerar – Psicanálise,
Perinatalidade e Parentalidade. Texto não publicado. 2018.

BRAUN, K. P. O direito de entregar um filho para adoção. (Monografia de Especialização em


Controle de Constitucionalidade e Direitos Fundamentais). Rio de Janeiro: PUC Rio,2014.

BRASIL. Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990: Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em: 5 de abril de 2017.

_______. Lei nº 12.010 de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13
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