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Mas, ao que parece, a educação na primeira infância tem sido marcada pela
ausência de ações efetivas, compatíveis com esta importante fase do desenvolvimento
da criança. Na verdade, não obstante o reconhecimento geral do valor da educação na
primeira infância para o desenvolvimento regular da criança, as ações governamentais
e não governamentais são limitadas, atingindo apenas parte da população infantil.
Outra parcela sequer tem acesso à Educação Infantil, e a que teve a sorte de conseguir
uma vaga, muitas vezes, é premiada com uma escola de baixa qualidade e/ou longe de
sua moradia.
A família por sua vez recorria, e em muitas situações ainda recorre, às escolas
de Educação Infantil, com uma finalidade assistencial e não conta com o necessário
esclarecimento de aquele local faz parte do desenvolvimento global da criança. A
preocupação é deixar a criança com alguém para que possa trabalhar ou mesmo
realizar outras atividades. Em algumas situações, é o local onde a criança ainda
encontra algo para comer ou tem a atenção de uma pessoa adulta.
A sociedade por sua vez, com rara exceção, pouca atenção dispensa à educação
na primeira infância. Mobiliza-se para buscar a redução da maioridade penal taxando
todo e qualquer adolescente infrator como marginal. Esquece, porém, que um dia esse
adolescente foi uma criança que não teve seus direitos efetivamente garantidos, fato
que resultou, muitas vezes, na sua iniciação para a atividade criminosa.
Enfim, há um contrassenso muito grande quando se analisa essa questão, pois
apesar do reconhecimento da importância do tema, o mesmo não se materializa ou
não se concretiza conforme estabelece a legislação, criando um círculo vicioso
perverso, pois “sem a nutrição básica, assistência à saúde e os estímulos necessários à
promoção do crescimento saudável, muitas crianças pobres ingressam na escola sem
estarem prontas para aprender. Estas crianças têm um mau desempenho na sala de
aula, repetem o ano e apresentam altos índices de evasão escolar. Estão em
desvantagem quando ingressam no mercado de trabalho, ganhando salários mais
baixos e, como pais, transmitem sua pobreza aos filhos.” (YOUNG, 2010, p. 2).
Para a grande maioria das famílias que aguardam por uma vaga, a preocupação
não é com a eventual qualidade do ensino, mas tão somente com a oferta da vaga. De
fato, fica até difícil discutir qualidade da educação infantil quando a dimensão
quantitativa ainda não foi atingida.
Sabe-se que a creche, que compreende a faixa etária dos 0 a 3 anos e 11 meses
não é obrigatória, diferentemente da pré-escola e doensino fundamental. Contudo, a
partir do momento que a família manifesta a intenção de matricular o(a) filho(a), surge
a obrigação do poder público de ofertar a vaga solicitada. É o que determina a
Constituição Federal:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos
os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II - ...
III - ...
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco)
anos de idade;
Assim, com a proteção judicial ocorre a garantia da vaga bem como a obrigação
de ser oferecida em quantidade suficiente para a demanda reprimida existente.
O problema é que a criança tem um nome, e esse nome é hoje. Decisões e mais
decisões estão aguardando o efetivo cumprimento, sendo que as crianças continuam
fora do sistema educacional. E mesmo que se cumpram tais decisões, isso não ocorre
de imediato, fazendo com que dezenas de milhares de crianças fiquem com este
direito fundamental tolhido, posto que irão ultrapassar a idade adequada para o
ingresso nas creches.
Colaboração interfederativa
Mensagem básica
Pelo exposto, pode-se afirmar que “o tornar-se social” não é algo genérico.
Trata-se de uma criança concreta, constituída por pessoas concretas, nascida em um
grupo social, que será socializada. Reconhece-se, portanto, a enormidade da tarefa
socialmente atribuída às famílias, sobretudo às mais pobres.
1
Este capítulo tem como referência o artigo: FERREIRA, L.A.M e GARMS, G. M. Z. EDUCAÇÃO
INFANTIL E A FAMÍLIA – Perspectiva Jurídica desta Relação na Garantia do Direito à Educação.
Como afirma Lefrèvre (2000, p. 3), “na creche, a criança pequena pobre
brasileira pode, ainda, entrar, com os dois pés, no mundo da cultura”.
Consequentemente, as famílias pobres não podem enfrentar por mais tempo, sós e
desamparadas, a responsabilidade da construção do futuro de seus filhos. Nesse
sentido, agrega-se como fator primordial a educação infantil.
Considerações finais
Não há como negar que a educação é vista por todos como um instrumento de
mudança social, que busca equalizar as pessoas de modo a garantir-lhes as mesmas
oportunidades. E mais. A educação tem uma ligação direta com os fundamentos e
objetivos da República Federativa do Brasil, pois representa um instrumento de
cidadania e dignidade da pessoa humana, garantindo o desenvolvimento nacional e
contribuindo para erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades.
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O que aconteceu com essas crianças que, de acordo com a política vigente à
época, para serem protegidas, foram colocadas em instituições e terminaram
perdendo o contato com seus familiares? E o que aconteceu com suas famílias?
Inúmeras pesquisas e publicações surgiram para retratar e refletir sobre os
efeitos dessa forma de intervenção. Uma das pesquisas mais divulgadas é a dos
“Órfãos da Romênia”, desenvolvida pelos cientistas Charles Nelson, Charles e Natan
Fox, do Hospital de Boston, em parceria com a Universidade de Harvard.
Embora o contexto estudado nessa pesquisa não seja o mesmo do Brasil, este
estudo teve importante papel na revisão da atuação do Estado e da Sociedade em
relação aos cuidados oferecidos diante do afastamento do convívio familiar,
especialmente na primeira infância.
O Acolhimento institucional representa a separação da criança do seu núcleo
familiar, por isso de ce acordo com o Estatuto da Criança e Adolescente o acolhimento
deve ser um medida extrema, excepcional e temporária, somente aplicada pelo poder
judiciário e em alguns casos pelo Conselho Tutelar.
A aplicação dessa medida deve ser feita com conhecimento dos males causados
pela ruptura do convívio familiar da criança, quando ela é acolhida, bem como do
reconhecimento mútuo do trabalho que é feito pelas diferentes equipes: das unidades
de Acolhimento institucional, Conselhos Tutelares, Juizados e demais órgãos que
compõem a Rede de Atendimento neste período de afastamento.
No artigo 101 do ECA, que descreve as medidas de proteção aplicadas em casos onde
os direitos da criança/adolescente forem ameaçados ou violados, o acolhimento
institucional vem em 7º lugar, antecedendo apenas a colocação em família substituta. Isto
significa que o acolhimento deve ser entendido realmente como último recurso frente ao
trabalho junto às famílias, priorizando-se sempre a busca por alternativas que fortaleçam os
vínculos familiares.
A criança acolhida passa por um momento de ruptura com o meio familiar de onde é
originária. Tal vivência é sentida e manifestada no acolhimento de diversas formas. Algumas
crianças apresentam grande resistência inicial à convivência, caracterizada por
comportamento desafiador opositor, tristeza, quadros depressivos, desespero... Outras
reprimem todo e qualquer sentimento de estranhamento e manifestam uma capacidade de
adaptação imediata. Geralmente neste último caso trata-se de situações familiares por
demais caóticas, e a necessidade de sobrevivência da criança fala mais alto.
A priori, a criança que é acolhida, retirada de sua família, interrompe a relação com a
figura cuidadora de referência, tão importante nesta fase de sua vida. Por mais dificuldades
e fragilidades que existissem nesta relação, era o referencial que a criança possuía até ali.
Sabe-se através de pesquisas que a criança desde a fase perinatal está conectada com a voz
e os sentimentos da mãe. Da mesma forma, pesquisas mostram que, quanto menor a idade
da criança no momento da privação materna, mais probabilidades possui de desenvolver
traumas.
Já no que se refere às famílias, compete a toda equipe iniciar contatos com toda rede
sócio assistencial e pessoal para amparar, cuidar e encaminhar estes familiares para
atendimentos que se fizerem necessário, além de estabelecer uma linha de conexão entre a
criança e sua família através de diversas ações que possibilite o fortalecimento dos vínculos
saudáveis viabilizando o retorno seguro ao convívio familiar. Para que estas famílias tenham
chances de reaver os cuidados da criança / adolescente necessitam compreender a
gravidade da situação e se propor à mudança, para tanto , os profissionais precisam
trabalhar na perspectiva da verdade, da confiança e sobretudo da amizade ,já que seus
filhos estão sob a guarda e responsabilidade destes profissionais. Sem estas etapas percebe-
se que a família não avança e o retorno da criança torna-se cada vez mais remoto. Neste
processo a participação dos técnicos do abrigo é de fundamental importância, pois são eles,
num primeiro momento, a ponte entre a família e a criança.
Sobre este aspecto nos fala GolseinSzanto-Feder (2006), referindo que o papel da
cuidadora consiste em dar à criança uma atenção suficientemente boa, porém mantendo
aberto o lugar da figura materna real. Por este motivo entende-se que existem limites a
serem respeitados na relação cuidadora/criança, a fim de que o lugar materno esteja pronto
para ser ocupado e a criança, através da falta, possa desejar esta ocupação.
Por mais cuidado que se tenha para compor boas equipes de trabalho nos serviços de
acolhimento, é comum observar na rotina destas instituições que durante horas do dia os
bebês permanecem em seus berços sem contato com a figura da cuidadora. Da mesma
forma, crianças maiores e adolescentes acabam tendo pouco tempo de atenção
individualizada. As cuidadoras transitam, é difícil criar vínculos mais específicos. Para dar
conta desta falta de atenção individualizada as suas necessidades, as crianças acabam
criando mecanismos para controle da ansiedade como: chupar o dedo, movimentos
estereotipados (balanceio), se acalmando sozinhas. Já os adolescentes, não raras vezes,
acabam recorrendo a companheiros do serviço de acolhimento em busca desta atenção e
carinho, a vivência na rua e as drogas – ocorrendo em algumas situação a gravidez na
adolescência.
Nesta busca pela família, num primeiro momento, cabe à equipe técnica do abrigo a
avaliação do contexto familiar e das relações que se constituíram até então. Não raras vezes,
constatam-se grandes falhas na constituição dos vínculos primários, sendo a grande maioria
de raiz transgeracional. São mães que não foram maternadas, que não tiveram infância, que
não tiveram o apoio do pai de seus filhos para criá-los. Somado à falta de bases para o
cuidado afetivo, muitas vezes, são famílias que não possuem condições mínimas de
subsistência. Tais situações fazem com que o trabalho junto a estas famílias seja
literalmente de base, necessitando de equipe especializada e união de esforços no trabalho
em Rede. Esta Rede será composta pelas equipes técnicas do abrigo e Juizado da Infância e
Juventude, pelos Conselhos Tutelares, pelos Módulos de Assistência Social, pelas Unidades
Básicas de Saúde, pelo Juiz, pelo Promotor de Justiça, entre outros órgãos.
Existem, entretanto, casos em que os esforços feitos pelos técnicos para que a criança
possa retornar ao convívio familiar fracassam. São situações onde as famílias não
conseguem suplantar sua história de violência, negligência, abandono, drogadição... Trata-se
de um momento muito difícil onde decisões difíceis necessitam serem tomadas. Como diz
Nabinger (2004), “O rompimento dos vínculos de filiação biológica é um processo lento e
penoso em todos os lugares do mundo”.
Mais especificamente com relação à equipe técnica, faz parte do seu trabalho o
acompanhamento e encaminhamento das famílias para órgãos que se fizerem
necessário, construção do PIA - plano individual de atendimento, produção de
relatórios circunstanciados a cada trimestre e ou sempre que houver demanda por
parte do judiciário, dentre outras funções conforme listadas nas orientações técnicas
do CONANDA.
Estando a equipe formada, respeitando os limites de crianças/adolescentes por
cuidadora, dividindo funções e responsabilidades e mantendo uma boa comunicação,
pode-se desenvolver um bom trabalho.
Considerações Finais
Fica evidente que inúmeras ações têm sido efetivadas no que tange o cuidado
com crianças e seus familiares, vários órgãos no âmbito nacional e internacional tem
buscado ações integradas para alcançar a proteção integral dos nossos meninos e
meninas conforme preza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Orgânica
de Assistência Social (LOAS), a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), o Sistema
Único da Assistência Social (SUAS) e, mais recentemente, os Planos Nacional e Estadual
de Promoção e Proteção do Direito à Convivência familiar e Comunitária (PNCFC).
Estes documentos reconhecem que a situação de vulnerabilidade pela qual a família
está inserida é propiciadora de violação de direitos contra os filhos.
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente priorizou em
suas ações a garantia do direito à convivência familiar e comunitária, em 2003criou a
comissão intersetorial para elaboração do Plano Nacional, onde propõe mudanças
consideráveis no olhar para as crianças e adolescentes.
Vamos ser observadores da vida, vamos ver o que dá certo e o que deve ser
melhorado, vamos ousar coisas diferentes, vamos experimentar novas ideias
baseadas em outras experiências bem-sucedidas pelo mundo. A separação dos
filhos da mãe nem sempre e a solução mais óbvia, mas certamente e a mais fácil.
2
O Provimento nº 32/ 2013 do Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre a obrigatoriedade da
realização dos os eventos denominados "Audiências Concentradas", a se realizarem, sempre que
possível, nas dependências das entidades de acolhimento, com a presença dos atores do sistema de
garantia dos direitos da criança e do adolescente, para reavaliação de cada uma das medidas protetivas
de acolhimento, diante de seu caráter excepcional e provisório, com a subsequente confecção de atas
individualizadas para juntada em cada um dos processos.
imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a
entidade responsável pelo acolhimento institucional ou familiar
elaborará um plano individual de atendimento, visando à
reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e
fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente,
caso em que também deverá contemplar sua colocação em família
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
O termo utilizado para referir-se às crianças que estão nas ruas modificou ao
longo dos anos. Anterior ao Estatuto da Criança e do Adolescente ECA denominava-se
menino de ru atualmente fala-se em criança em situação de rua. Pois, a maior parte
destas possui família pais e irmãos apesar de passarem a maior parte do tempo nas
ruas. São múltiplas as causas que levam crianças e adolescentes a esta vivência de
extrema vulnerabilidade. A nível macro estas crianças e adolescentes são o reflexo da
ineficiência na articulação das políticas sociais que envolvem moradia, educação,
saúde. No que compete às vivências familiares não raras vezes nos deparamos com
famílias desestruturadas onde os vínculos afetivos são precários, os recursos materiais
e habitacionais são insalubres e existe a presença de tipo de violência física, sexual,
emocional e negligência. Diante desta realidade muitas crianças e adolescentes vão
para as ruas praticar a mendicância como forma de subsistência. Algumas retornam
para casa no final do dia, outras pernoitam nas ruas por dias e ainda uma parcela
menor vive literalmente nas ruas e nos abrigos. A vivência nas ruas leva muitos destes
meninos e meninas ao uso de drogas e a prática de atos infracionais. Hoje, o uso de
drogas na rua é entendido mais como uma consequência do que propriamente uma
causa da situação de vulnerabilidade social.
http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/
2017/08/0344c7_4fe2ba1cd6854b649d45d71a6517f80d.pdf
4
“Dependência de crack é responsável por 90% dos bebês adotados na região central de SP”.
In: Rede Brasil Atual, 23.07.17. Disponível em:
<https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/07/crack-e-responsavel-por-cerca-de-90-
dos-bebes-colocados-para-adocao-em-sao-paulo/>. Acesso em 02/11/19
5
Dados extraídos da página “De quem é este bebê?”, disponíveis em:
https://dequemeestebebe.wordpress.com/. Acesso em 16.10.20
6
O segundo principal fundamento utilizado para a aplicação das medidas de acolhimento
institucional contra bebês filhos/as de mulheres usuárias de substâncias psicoativas foi, durante
quase duas décadas, o suposto “direito” destas crianças de serem criados e educados “em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes” (redação
original do art. 19 do ECA). A redação do dispositivo, todavia, sofreu alteração com o advento
do chamado Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/16) que suprimiu, definitivamente,
referida locução.
Os estigmas da “mulher de rua” ou da “mulher usuária” se tornam, então,
sinônimo de “mulher inapta à maternagem”, ainda que, concretamente, a mãe não
tenha praticado qualquer conduta diretamente dirigida contra seu/sua filho/a7.
7
Em 2017, a Clínica de Direitos Humanos “Luiz Gama”, da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, publicou relatório de pesquisa intitulado “Primeira infância e
maternidade nas ruas da cidade de São Paulo”, que, após a escuta das mulheres em situação
de rua e de trabalhadores e trabalhadoras da Rede de Proteção concluiu: “a destituição do
poder familiar em um cenário em que a falta estrutural de vagas, de condições nos serviços de
saúde e assistência municipais são fundamentos para a judicialização, acarreta em processos
institucionais e judiciais que acabam por compreender que o exercício da maternidade por
essas mulheres, no limite, violaria os direitos das crianças à saúde, bem-estar, moradia digna.
Mulheres vulnerabilizadas pela violência, pela situação de rua, pela drogadição e outras
doenças, de fato, se não receberem auxílio – estatal ou de seus núcleos de apoio familiar –
para uma reestruturação de suas vidas, terão pouco a ofertar e assegurar em termos de
acesso a direitos para suas filhas”, bem como que “acolher a mãe para assegurar-lhe
condições de subsistência e de construção de sua autonomia é também acolher e proteger a
criança recém-nascida em condições de vulnerabilidade social. Ao acolhermos as famílias
como um todo, estaremos enxergando os direitos da criança de maneira mais completa,
conforme preconizado por nossa legislação. Sob o prisma do quanto apresentado neste
relatório, entendemos que o melhor interesse da criança reside em um acompanhamento
continuado, pré e pós-natal, com efetivo suporte às famílias, laudos aprofundados, equipes de
apoio multissetorial e a vinculação com a mãe. Apenas com o suporte à mãe e o
acompanhamento caso a caso é que se poderá decidir pela intervenção estatal no sentido da
destituição do poder familiar, sempre sendo colocada como última opção”
8
Bastante ilustrativa, a propósito, é a Nota técnica Conjunta MS e MDS nº 01/16 que
estabeleceu “diretrizes e fluxograma para a atenção integral à saúde das mulheres e das
adolescentes em situação de rua e/ou usuárias de crack/outras drogas e seus filhos recém-
nascidos” .Os Ministérios, em suma, reconhecem que as necessidades decorrentes do uso de
álcool e outras drogas requerem uma abordagem multisetorial e interdisciplinar, diante da
complexidade das situações apresentadas, que envolvem tanto aspectos relacionados à saúde
quanto à exclusão social..
Paralelamente, também vêm aumentando os estudos científicos que
contestam os fundamentos apresentados para a prática. ABRUZZI (2011) 9, por
exemplo, afirma que para o processo de constituição da maternidade – que, em si,
inicia-se muito antes da concepção – contribuem diretamente diversos fatores
transgeracionais, culturais e ambientais10.
Não por outro motivo que o próprio Conselho Nacional dos Direitos da
Criança (CONANDA) se posicionou contrariamente às práticas de retirada compulsória
de bebês de mães usuárias de substâncias psicoativas, entendendo-as como
discriminatórias, desproporcionais, desnecessárias e violadoras dos direitos da criança
e do/a adolescente e reconhecendo que tal medida
E concluem:
Caso se conclua que a mulher não reúne condições, naquele momento, para
assumir os cuidados da criança, quer pela gravidade da situação de vulnerabilidade em
que se encontra, quer em razão da extrema fragilização dos vínculos familiares e
comunitários, deve-se-lhe garantir, dentre outros encaminhamentos possíveis, o
direito à convivência familiar assistida, com o referenciamento da mãe e da criança à
uma unidade da acolhimento (Serviço de Acolhimento do SUAS, Unidade de
Acolhimento ou mesmo à Casa da Gestante, Bebê e Puérpara), de modo a manter o
convívio mãe/filho, sem deixar a criança exposta a riscos ao seus desenvolvimento.
E arremata:
11
Sobre o direito ao planejamento sexual e reprodutivo, cf. Declaração e Plataforma de Ação da IV
Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim, 1995)
12
Nesse sentido, recorde-se que a Lei nº 13.146/15, que institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência, e
a Lei nº 10.216/01, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais
reconhecem a autonomia inclusive da pessoa com deficiência/transtorno mental, garantindo-lhe amplas
condições para o exercício dos direitos e liberdade fundamentais, bem como tratamento com
humanidade e respeito
planejamento conjunto e compartilhado das ações de cuidado, antes,
durante e após o parto. Ao se oportunizar à mulher que desenvolva
hábitos e estilo de vida mais saudáveis – sozinha ou em parceria familiar
– as intervenções têm o potencial de implicar a ressignificação das
escolhas sobre o que lhes afeta e o que por elas é desejado (Cf. Nota
Técnica Conjunta MS/MDS 01/16).
13
Cf. Art. 226, §7º, da Constituição Federal e Lei Federal nº 9.263/96 que trata do planejamento
familiar;
14
No documento intitulado Marco Legal: Saúde, um Direito de Adolescentes (Brasília, 2007), editado
pelo Ministério da Saúde, é previsto que “qualquer exigência, como a obrigatoriedade da presença de
um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, que possa afastar ou impedir o exercício
pleno do adolescente de seu direito fundamental à saúde e à liberdade, constitui lesão ao direito maior
de uma vida saudável. Caso a equipe de saúde entenda que o usuário não possui condições de decidir
sozinho sobre alguma intervenção em razão de sua complexidade, deve, primeiramente, realizar as
intervenções urgentes que se façam necessárias, e, em seguida, abordar o adolescente de forma clara a
necessidade de que um responsável o assista e o auxilie no acompanhamento. A resistência do
adolescente em informar determinadas circunstâncias de sua vida a família por si só demonstra uma
desarmonia que pode e deve ser enfrentada pela equipe de saúde, preservando sempre o direito do
adolescente em exercer seu direito à saúde. Dessa forma, recomenda-se que, havendo resistência
fundada e receio que a comunicação ao responsável legal, implique em afastamento do usuário ou dano
à sua saúde, se aceite pessoa maior e capaz indicada pelo adolescente para acompanhá-lo e auxiliar a
equipe de saúde na condução do caso, aplicando-se analogicamente o princípio do art. 142 do Estatuto
da Criança e do Adolescente”
disponibilizadas pela rede de proteção básica e especializada das
Secretarias Municipais de Assistência Social, bem como aos programas
habitacionais, provisórios ou definitivos, priorizando-se seu direito à
moradia.
➢ Garantia de que a mulher seja sempre informada sobre para qual Vara
da Infância e Juventude o relatório conjunto será encaminhado e, se o
caso, em qual serviço de acolhimento institucional/familiar o bebê
eventualmente será acolhido.
Esta nova redação do artigo 19 do ECA foi dada pelo Marco Legal da Primeira Infância,
substituindo-se “em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes” por “em ambiente que garanta seu desenvolvimento
integral”. Tal modificação teve por fundamento a prevenção da retirada compulsória
da criança em casos de mães usuárias de drogas, por exemplo, onde se faz necessário
ofertar antes o tratamento para a dependência química, não simplesmente a
destituição compulsória do poder familiar.
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CAFE´S 2018
Moradia
Família
Adequada
Acolhedora
Acolhimento
Institucional
Sistema de Garantia de
direitos da C/Adl
Família e
comunidade
criança e
adolescente
Sistema de
Justiça Criminal
Sistema
de
INTRAMU
Execuçã
ROS
Extramur
Segurança os
pública
17
https://portalbnmp.cnj.jus.br/#/estatisticas
18
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/conteudo/arquivo/
2017/04/23902dd211995b2bcba8d4c3864c82e2.pdf
Segundo o relatório do Projeto Conexões PróConvivência Familiar e
Comunitária,no contexto social brasileiro:
Existem Impactos duradouros na vida dos bebês e crianças vivendo com suas
mães nas prisões,sobretudo, os efeitos psicológicos da separação.
Todo o processo da justiça criminal dos quais os pais passam, geram impactos
psicossociais nas crianças e adolescentes, ainda não mensurados.
“Na verdade, de acordo com um estudo realizado por Bowlby e com base em
dados coletados em todo o mundo, a maioria das pessoas que passaram os primeiros
anos de suas vidas fora do ambiente familiar, posteriormente revelam aberrações em
sua personalidade. Estas se manifestam,essencialmente, e em relações sociais
superficiais, em dificuldades de controlar suas manifestações emocionais (raiva,
explosões) e, eventualmente, em deficiências nas funções cognitivas e perceptivas.
Essas aberrações que aparecem posteriormente, embora a criança tenha
posteriormente recuperado um ambiente familiar, são atribuídas aos dois ou aos três
primeiros anos passados em uma instituição.”
Pressões
sua identidade
Novas
Desenvolvimento de
configurações
individuais
traumas
familiares
Angústia e afeto x
medo x culpa x raiva
Dificuldade em criar
laços e em construir
relações
Falta de esperança
Dilema: felicidade x
vergonha (reinserção)
O Brasil tem normativas importantes tanto do sistema de execução penal como
do sistema de garantia de direitos que garante a convivência familiar e comunitária.
Mas para implementar é preciso transformar a lei em prática, emsinergia, na
intersetorialidade dos sistemas que poderemos perceber tanto as violações como
também as ações que promovem os direitos. Criar pontes entre os sistemas está sendo
alternativa viável para a atenção ao cuidado das crianças, e o direito a maternidade de
paternidade. Algumas experiências estão sendo experimentada em alguns estados
brasileiros.
CONVIVÊNCIA
FAMILIAR E
COMUNITÁRI Sistema de
A Sistema de
Justiça
Garantia de
direitos da Sistem
Família
C/Adl a de INTRAM
e
criança
e Extram
Segurança
pública
Lei nº 8.069/90 (Art.4º, Art. 7º, Art. 8º, Art. 9º, Art. 19º, Art.87º)
Lei nº 11.942/09
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Uma produção do Peripécias Filmes para o ITTC, o vídeo faz parte do lançamento do
relatório de pesquisa elaborado pelo programa Justiça Sem Muros, “Diagnóstico da
aplicação do Marco Legal da Primeira Infância para o desencarceramento de
mulheres“: Maternidade sem prisão - vídeo completo
Sequência de CINCO videos da Vila Sésamo, um programa infantil que tratou de forma
lúdica os sentimentos de uma criança em relação a familiar privado de liberdade: Vídeo
1 - Vídeo 2 - Vídeo 3 - Vídeo 4 - Vídeo 5
Vídeo foi produzido pela CWS no âmbito da pesquisa regional " Infância que conta " e
reúne as vozes de algumas das 70 crianças e adolescentes que foram entrevistados
para o projeto.
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, podemos observar nos encontramos em um processo de
mudança de paradigmas, transitando de um modelo conhecido como “cultura da
institucionalização” para um modelo de aumento do apoio do Estado e da Sociedade
às famílias para exercerem seu papel protagonista de cuidado dos filhos.
Espiral: