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FACSUL - FACULDADE DE CAMPINA GRANDE DO SUL

A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO

CAMPINA GRANDE DO SUL


2022
JAMILE PINTO KULEVICZ
JULIANA MOTTA MACIEL
LAYZA RIBEIRO DOS SANTOS DA SILVA

A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO

CAMPINA GRANDE DO SUL


2022
RESUMO

Este artigo tem o propósito de abordar aspectos referente à judicialização do direito


à educação, que ganhou maior destaque após a Constituição Federal de 1988,
como um direito essencial que deve ser garantido pelo Estado e pela família. No
corpo do trabalho há também análises das normatizações internacionais por
intermédio da ONU – Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), Protocolo
Adicional à Convenção Americana sobre Direitos humanos em Matéria de Direitos
Humanos Econômicos, Sociais e Culturais (1988) e Convenção sobre os Direitos da
Criança (1990) – e normatizações nacionais – Constituição Federal (1988), LDB
(1996) e ECA (1990). Conclui-se nesse estudo que a judicialização presta-se como
elemento de grande importância para garantir a concretização e efetivação do direito
à educação através das normas jurídicas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda sobre o direito à educação em que são garantidos
na legislação brasileira, em âmbito internacional e nacional, com a constituição
federal de 1988 aqui no Brasil. Sobre seus direitos e deveres sejam eles do estado
ou da família. Em que os direitos são garantidos, mas muitas vezes não são
reconhecidos, por aqueles em que devem cumprir, com isto se é abordado sobre a
Judicialização do poder público, para que os mesmos sejam assegurados aos
cidadãos, e para que o estado cumpra seus deveres.
1. O DIREITO À EDUCAÇÃO

A Constituição Federal do Brasil de 05 de outubro de 1988 diz no art. 205 que


a educação é um direito de todos, dever do estado e da família:

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1988, Art.
205)

A educação aparece pela primeira vez como um direito de todos na


constituição federal de 1934, a primeira a dedicar um Capítulo à educação e à
cultura, no art. 149, nesse período a educação, passava por grandes influências dos
idealistas Anísio Teixeira e Lourenço Filho, que defendiam um Modelo ideal de
Escola Nova no Brasil, porém, o dever do estado foi atestado apenas na constituição
federal de 1988. Além da constituição, outras leis afirmam o direito à educação como
a Lei 9394/96 a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e a Lei n° 10.257/01 o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). Desde 05 de abril de 2013 toda criança deve ser
obrigatoriamente inserida na educação básica, mais especificamente na educação
infantil com 4 anos e devem permanecer até os 17 anos, sendo obrigação dos pais
ou responsáveis manter a criança/adolescente matriculada em alguma instituição de
ensino durante essa idade.
A importância da Educação na sociedade vai além de aprender o que está
presente nas disciplinas curriculares, ela contribui na formação do cidadão, qualifica
para o mercado de trabalho e facilita o convívio em sociedade. Quem não tem o
acesso à educação fica impossibilidade de exercer seu papel como cidadão, seus
direitos civis, econômicos, políticos e sociais.

1.1. O DEVER DA FAMÍLIA

A educação não é apenas um dever legal dos pais. É comum encontrarmos


pais que fogem dessa responsabilidade da educação dos filhos, deixando toda a
responsabilidade para a escola, como se a educação dos filhos não fosse uma
obrigação deles. Ocorrem ainda casos em que a “culpa” cai sobre os professores, o
aluno, como centro da aprendizagem acaba sendo sempre a vítima, deixando um
peso excessivo sobre o professor. O art. 227 e o art. 229 dizem que:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

“Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos


menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na
velhice, carência ou enfermidade”. (BRASIL, 1988. Art. 227 e Art. 229)

A família é o primeiro contato da criança com a sociedade e com outras


pessoas, é ali que se deve formar a personalidade, que muitas das vezes acaba
sendo influenciada pela família ou por pessoas que são próximas. Devemos ter em
conta que cuidar dos filhos é um dever ético. A criança tem o direito, independente
da forma que ela foi colocada nesse ambiente familiar, sendo fruto do
relacionamento, adoção, etc. A criança precisa de todos os cuidados para se
desenvolver. é compreensível que os pais que trabalham precisam das escolas, às
vezes até em período integral, a escola reforça e auxilia nesse processo, mas não
isenta os pais dessa obrigação. Não é necessário compreender o que os filhos estão
estudando, mas ter a educação como um valor familiar, demonstrar interesse e
acompanhar seus estudos pode contribuir para que eles aprendam cada vez mais.
O inciso V do art. 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que:

Art. 129
- São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
[...]
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar. (BRASIL, 1990. Art 129.)

É obrigação dos pais darem aos filhos a devida educação, dando orientações
para que exerçam o papel de cidadão, ensinando o uso adequado da liberdade, de
seus limites e das suas responsabilidades. O Art. 22 ainda diz sobre a educação
básica:

Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o


educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício
da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores. (BRASIL, 1996. LDB)

1.2 DIREITO À EDUCAÇÃO NÃO EXERCIDO

Pela legislação brasileira, já citada, diz que a educação básica é obrigatória


dos 4 aos 17 anos de idade, no Art. 246 do código penal define como:

Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de


filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
(BRASIL, 1940. CÓDIGO PENAL ART. 246)

O direito à educação não é apenas algo individual, é social e coletivo, pois


traz benefícios a toda sociedade. Segundo Teixeira, a educação escolar é
caracterizada como um direito individual a ser assegurada pelo estado.
Em todo o país, encontramos pessoas sem acesso à educação, O Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) diz que:

“Em 2019, havia quase 1,1 milhão de crianças e adolescentes em idade


escolar obrigatória fora da escola no Brasil. A maioria deles, crianças de 4 e
5 anos e adolescentes de 15 a 17 anos. A exclusão afeta principalmente as
camadas mais vulneráveis da população, já privadas de outros direitos”.
(UNICEF, 2020)

As minorias são as grandes afetadas, que, apesar de na lei não haver a


discriminação, na prática e no dia a dia encontramos outra realidade, negros, indios,
lgbt, pessoas com deficiencia e etc, a necessidade de trabalhar e a gravidez na
adolescencia também são grande fatores. Além da falta das crianças na escola,
podemos citar a qualidade do ensino no país, pois é comum encontrarmos crianças
que estão na escola sem aprender nada, isso pode se dar por diversos fatores,
inclusive a região em que a criança mora.
O Busca Ativa Escolar é um projeto e uma das estratégias do “Fora da Escola
Não Pode!” para ajudar os municípios a combater a exclusão escolar. criado para
ajudar na garantia do direito à educação de crianças e adolescentes, segundo ela, o
número total de estudantes que abandonaram a escola em 2020 é de 342.806, o
Busca Ativa foi desenvolvido pela UNICEF:

“A intenção é apoiar os governos na identificação, registro, controle e


acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou
em risco de evasão” (UNICEF)

Pessoas sem o devido acesso se tornam excluídas em sociedade, sem as


oportunidades que deveriam obter, afetando não somente a vida da pessoa mas
também a sociedade como um todo,a falta de acesso aumenta o abandono e
consequentemente a desigualdade que encontramos no país, as oportunidades de
trabalho se limitam e o crescimento da sociedade como um bem para todos é
afetado, trata-se de um direito fundamental.

2. NORMATIZAÇÕES

Dentro da listagem dos direitos humanos fundamentais encontra-se o direito à


educação, defendido por normas internacionais, nacionais e locais. Trata-se de um
direito essencial, pois abrange um processo de desenvolvimento individual próprio à
condição humana, que tem como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas e
qualifica o cidadão para o trabalho e facilita sua participação na sociedade.

2.1 ÂMBITO INTERNACIONAL

Após o cenário da segunda guerra mundial, a compreensão de educação


como um direito humano obtém maior centralidade. Em 1945, com a fundação da
Organização das Nações Unidas (ONU), é determinada uma normativa internacional
de proteção dos direitos humanos, sendo um dos principais o direito à educação.
Dessa forma:

A educação, por um lado, é reiteradamente reconhecida como um direito


humano. Por outro, é pensada como um instrumento de formação em
direitos humanos, formação esta fundamentada nos valores assumidos pela
ONU no seu projeto de cooperação entre os Estados e de construção da
paz (BORGES, 2015, p. 220).

Assim por intermédio da ONU alguns documentos que incluem o direito à


educação são estabelecidos no contexto internacional.

2.1.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Desfrutamos do direito a coisas diferentes, como à liberdade, ao voto, à


educação ou à saúde, e cada um deles se exibe de várias maneiras, como
atribuição de distintas pessoas ou instituições. Há direitos, inclusive, que criam
obrigações universais, ou seja, que devem ser respeitados por todas as pessoas do
mundo, tal como o direito à vida. Isso se deve ao documento ratificado no dia 10 de
dezembro de 1948, como Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH),
criado para estabelecer medidas que garantam direitos básicos para uma vida digna.
O objetivo da Declaração é que os direitos humanos sejam assegurados a
todos os cidadãos do mundo. Dessa forma, a educação é consagrada como direito a
todas as pessoas, em todos os países. Através da educação, o homem pode
capacitar-se de forma digna para enfrentar a vida em sociedade. Em seu preâmbulo,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 26 sobre a educação,
afirma:

1.Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser


gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar
fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e
profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu
mérito.
2.A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana
e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e
deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução
que será ministrada a seus filhos (ONU, 1948).

Como direito humano, a educação, é um importante instrumento para a


realização de quase todos os demais direitos. A declaração universal dos diretos
humanos ao estabelecer o direito à educação como direito humano, os autores, não
estavam simplesmente preocupados com uma educação destinada a preparar os
indivíduos para o mercado de trabalho, mas proporcionar o desenvolvimento pleno
dos indivíduos.

2.1.2 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS

O avanço dos indivíduos como sujeito de direitos e para a universalização dos


direitos do homem, aconteceu a partir do texto da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH). E foi reafirmada, em seguida, por meio do Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 e pelo Pacto Internacional Sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais de 1966. A DUDH não possui caráter vinculante,
sendo estimada pela doutrina uma norma de caráter costumeiro, a sua associação
com os Pactos é de muita relevância. Pois, estes pactos internacionais, ao contrário
da DUDH, exigem ratificação e pressagiam o monitoramento da concretização
destes direitos (SILVA E SILVA, 2020, p. 4 e 5).
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC),
é um tratado multilateral adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 16
de dezembro de 1966 e em vigor desde 3 de janeiro de 1976. O acordo diz que seus
membros devem trabalhar para a concessão de direitos econômicos, sociais e
culturais para pessoas físicas, incluindo os direitos de trabalho e o direito à saúde,
além do direito à educação e a um padrão de vida adequado.
O PIDESC explicitou direitos já colocados pela DUDH, ou seja, os valores da
DUDH foram reafirmados sistematicamente, incorporando os sob a forma de
preceitos juridicamente obrigatórios e vinculantes. Em seu preâmbulo estabelece
normas programáticas e de cumprimento progressivo, não aceita alegações capazes
de limitar ou extinguir direitos afirmados e apronta que a legislação interna do país
não poderá ser adotada caso utilize regras menos favoráveis que as constantes no
Pacto. (SILVA E SILVA, 2020, p. 6).
Conforme Borges (2015, p.232), o direito à educação, é reconhecido de forma
extensa, abrangendo aspectos não considerados na DUDH, enfatizando a
implantação progressiva da gratuidade no ensino secundário e no ensino superior;
garantia do direito das pessoas jovens e adultas a concluírem o ensino fundamental;
bolsas de estudo; melhoria das condições de trabalho do corpo docente. Por sua
vez, reitera-se a capacidade individual como critério de acesso à educação superior.
Ressalta esses aspectos sobre educação nos artigos 13 e 14:

13. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de


toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá
visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do
sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos
humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a
educação deverá capacitar todas as pessoas a participar
efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos
raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
14. Todo Estado Parte do presente pacto que, no momento em que se
tornar Parte, ainda não tenha garantido em seu próprio território ou
territórios sob sua jurisdição a obrigatoriedade e a gratuidade da
educação primária, se compromete a elaborar e a adotar, dentro de
um prazo de dois anos, um plano de ação detalhado destinado à
implementação progressiva, dentro de um número razoável de anos
estabelecidos no próprio plano, do princípio da educação primária
obrigatória e gratuita para todos. (ONU, 1966).

A presença do direito à educação no PIDESC possui múltiplas faces:


social, econômica e cultural. Segundo Claude (2005, p. 37):
[...] Direito social porque, no contexto da comunidade, promove o
pleno desenvolvimento da personalidade humana. Direito econômico,
pois favorece a autossuficiência econômica por meio do emprego ou
do trabalho autônomo. E direito cultural, já que a comunidade
internacional orientou a educação no sentido de construir uma cultura
universal de direitos humanos.

Com esses aspectos, a educação contribui para o conhecimento, saber,


discernimento e crescimento pessoal, formando o sujeito e a maneira como
deve agir na sociedade atual.
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, foi
adotado pelo Brasil através do decreto n° 591, de 6 de julho de 1992.

2.1.3 PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE


DIREITOS HUMANOS NA ÁREA DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS

Os instrumentos legais internacionais assumem a forma de tratado


(também chamados de acordo, convenção, protocolo) os quais podem ser
firmados entre os estados participantes. Um deles é o Protocolo Adicional à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos na área de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Conhecido como "Protocolo de San
Salvador", foi aberto para assinatura na cidade de San Salvador, El Salvador,
em 17 de novembro de 1988, entrou em vigor em 16 de novembro de 1999 e
foi ratificado por 16 nações.
Representou uma tentativa de elevar o nível do sistema interamericano
de direitos humanos, ao proteger os chamados direitos de segunda geração
nos âmbitos econômico, social e cultural. Tais como aqueles relativos às leis
trabalhistas, questões de saúde, direitos educacionais, direitos econômicos,
direitos da família, direitos das crianças, dos idosos e dos portadores de
necessidades especiais. O Protocolo Adicional mostra que os Estados podem
cumprir essas obrigações por meio de legislação efetiva, reforçando medidas
de proteção e contenção da discriminação.
Em seu artigo 13 reforça o direito à educação:

1. Todos têm direito à educação.


2. Os Estados Partes neste Protocolo concordam que a educação
deve ser orientada para o pleno desenvolvimento da
personalidade humana e da dignidade humana e deve fortalecer o
respeito aos direitos humanos, pluralismo ideológico, liberdades
fundamentais, justiça e paz. Concordam ainda que a educação
deve permitir a todos participar efetivamente de uma sociedade
democrática e pluralista e alcançar uma existência decente e deve
promover a compreensão, tolerância e amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover
atividades para a manutenção da paz [...] (ONU, 1988).

O Protocolo de San Salvador foi adotado pelo Brasil em 1998, por meio do
Decreto nº 3.321.

2.1.4 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral


da ONU em 20 de novembro de 1989. Entrou em vigor em 2 de setembro de 1990.

A Convenção dos Direitos da Criança tem como meta incentivar os países


membros a implementarem o desenvolvimento pleno e harmônico da personalidade
de suas crianças, favorecendo o seu crescimento em ambiente familiar, em clima de
felicidade, amor e compreensão, preparando-as plenamente para viverem uma vida
individual em sociedade e serem educadas no espírito dos ideais proclamados na
Carta das Nações Unidas, em espírito de paz, dignidade, tolerância, liberdade,
igualdade e solidariedade.

O direito a educação é colocado nos artigos 28 e 29:

1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança à educação e,


a fim de que ela possa exercer progressivamente e em igualdade de
condições esse direito [...].
2. Os Estados Partes adotarão todas as medidas necessárias para
assegurar que a disciplina escolar seja ministrada de maneira
compatível com a dignidade humana da criança e em conformidade
com a presente convenção.
3. Os Estados Partes promoverão e estimularão a cooperação
internacional em questões relativas à educação, especialmente
visando a contribuir para a eliminação da ignorância e do
analfabetismo no mundo e facilitar o acesso aos conhecimentos
científicos e técnicos e aos métodos modernos de ensino. A esse
respeito, será dada atenção especial às necessidades dos países em
desenvolvimento (ONU, 1990).

A Convenção Sobre os Direitos da Criança, trata de forma interligada de


todos esses direitos que ela possui. O Brasil promulga a Convenção sobre os
Direitos da Criança, com o decreto n° 99.710, de 21 de novembro de 1990.

2.2 ÂMBITO NACIONAL

No Brasil, a educação teve importância secundária por muito tempo, o Estado


não tinha a obrigação formal de garantir a educação de qualidade a todos os
brasileiros, o ensino público era tratado como uma assistência, um amparo dado
àqueles que não podiam pagar. O direito à educação recebeu destaque apenas em
1988, através da Constituição Federal Brasileira, sendo também reforçada por
outras leis anos mais tarde.

2.2.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

No âmbito nacional, o direito a educação é estabelecido na Constituição


Federal de 1988. Colocado no artigo 6, como direito social, ao dispor que “São
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. E também
enfatizado no terceiro capítulo, nos artigos 205 a 214.
Assim sendo, a partir de 1988, o Poder Judiciário passou a ter papéis mais
significativos na efetivação desse direito. Implantou-se no Poder Judiciário uma nova
relação com a educação, que se consolidou por meio de ações judiciais visando a
sua garantia e efetividade. É possível, designar este fenômeno como a
“judicialização da educação”, que significa a intervenção do Poder Judiciário nas
questões educacionais em vista da proteção desse direito até mesmo para
cumprirem-se as funções constitucionais do Ministério Público e outras instituições
legitimadas. (CURY E FERREIRA, 2009, p. 33).
2.2.2 LDB

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) aprovada


em dezembro de 1996, é a legislação que regulamenta o sistema educacional
(público ou privado) do Brasil (da educação básica ao ensino superior). Reafirma o
direito à educação, garantido pela Constituição Federal. Estabelece os princípios da
educação e os deveres do Estado em relação à educação escolar pública, definindo
as responsabilidades, em regime de colaboração, entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios.

Reconhece a criança e o adolescente como


sujeitos de direitos; a educação como direito
social e público subjetivo; que garante a busca
pelos interessados da efetividade e consolidação
deste direito; a acessibilidade da Justiça, com
mudança de paradigma em relação a questões
como educação, saúde, criança e adolescente; a
intervenção de outras instituições como o
Conselho Tutelar e o Ministério Público
apresentam-se como fatores determinantes
desse novo fenômeno: a judicialização da
educação (CURY E FERREIRA, 2009, p. 33).

Rocha, Aranda e Cunha (2018, p.11), destacam que a LDB “disciplina o direito
à educação e o dever de educar”, em seus 92 artigos, determinando todos os
princípios, diretrizes, estrutura e organização do ensino, abrangendo todas as suas
esferas e setores.

2.2.3 ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente, regulamentado pela Lei Federal


n°8069/90, foi publicado em 13 de julho de 1990, representando um grande
progresso legislativo para os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil. De
tal modo, passam a ser vistos como sujeitos de direitos, que precisam de proteção
integral para se desenvolverem de maneira plena. Possibilitou a concretização dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.

3 O QUE É JUDICIALIZAÇÃO

A judicialização é o momento em que o poder Judiciário se evidencia em


circunstâncias que geralmente têm grande importância nacional. A separação de
poderes. Segundo o autor: Nesse cenário, há pontos positivos e negativos da
judicialização, principalmente pelo limite entre atuação do Poder Judiciário e a
interferência na própria separação dos Poderes. Este marco apenas ganhou
poderes a seguir da segunda guerra mundial, onde os países perceberam a
importância de um poder judiciário forte e autônomo. Com a chegada da
Constituição de 1988, teve grande importância para este processo aqui no Brasil,
esta foi amplamente discutida e teve a inclusão de muitas pautas, principalmente por
sua estruturação ter ocorrido após um regime ditatorial com uma abertura lenta,
gradual e segura. A judicialização foi um avanço para a democracia
brasileira.(BOBSIN, 2021).

Trata-se de um fenômeno mundial por meio do qual importantes


questões políticas, sociais e morais são resolvidas pelo Poder
Judiciário ao invés de serem solucionadas pelo poder competente,
seja este o Executivo ou o Legislativo.( MANSUR,2016).

JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Com a Constituição Federal de 1988 estabeleceu um marco muito importante


para os contratempos e dificuldades sobre o direito à educação Brasileira, sendo
assim estabeleceu diretrizes, princípios e normas, reconhecendo a educação como
um direito fundamental e social, proporcionando a evolução de ações por todos
aqueles responsáveis pela sua efetivação, ou seja, o Estado, família, sociedade,
escola, professores e educadores (FERREIRA, 2008, p. 37).
O Poder Judiciário passou a ter funções mais significativas na eficiência do
direito. Com a estreia do Poder Judiciário para uma nova educação, garantindo sua
efetividade. A Judicialização do direito à educação quer dizer então que é a ação do
Poder Judiciário em assuntos educacionais, em visão da assistência e proteção
desse direito (CURY E FERREIRA, p. 3).

O direito a educação passou a ser regulamentado por leis e é desta


forma que está caracterizada na Constituição Federal . A partir de
então a questão educacional não ficou mais restrita aqueles
profissionais que atuam diretamente com a questão, pois outros
atores foram chamados para garantir este direito fundamental, entre
eles, o Promotor de Justiça (FERREIRA,2008, p.16).

Verifica-se que a atual Constituição Federal (1988) apresenta o


Ministério Público com um novo perfil institucional, como guardião
dos direitos fundamentais assegurados ao homem, defensor dos
ideais democráticos e dos interesses sociais. A dimensão social do
direito, que via de regra se realiza por meio de políticas públicas,
encontrou respaldo na atuação institucional do Ministério Público,
que acabou por adquirir destaque no Estado Social de Direito,
contemplado pela nova ordem constitucional.(FERREIRA,2008,
p.16).

Com a atual Constituição e as leis que se passaram, a educação passou a


ser dentro dessas leis, havendo regras jurídicas do direito à educação, para suas
ações, para sua eficiência (CURY E FERREIRA, p. 3).

A educação está regulamentada por meio do capítulo de educação na


Constituição Federal de 1988, e por meio de leis, como a do Estatuto
da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/96), o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério – FUNDEF, agora substituído pelo Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da
Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, o Plano
Nacional de Educação, e inúmeros decretos e resoluções que
direcionam toda a atividade educacional, com reflexos diretos para os
estabelecimentos escolares e os sistemas de ensino onde estão
presentes responsáveis pelo ensino como 5 diretores, coordenadores
pedagógicos, supervisores, professores, os próprios alunos e
dirigentes de ensino seja dos órgãos executivos, seja dos órgãos
normativos (CURY E FERREIRA, p. 4).

Segundo (CURY E FERREIRA) estabeleceu os seguintes direitos a


educação:
• Universalização do acesso e da permanência da criança e do adolescente;
• Gratuidade e obrigatoriedade do ensino fundamental;
• Atendimento especializado aos portadores de deficiência;
• Atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 5 anos de idade;
• Oferta de ensino noturno regular e adequado às condições do adolescente
trabalhador;
• Atendimento no ensino fundamental por meio de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte alimentação e assistência à saúde;
• Direito de ser respeitado pelos educadores;
• Direito de contestar os critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;
• Direito de organização e participação em entidades estudantis;
• Acesso à escola próximo da residência;
• Ciência dos pais e ou responsáveis do processo pedagógico e participação na
definição da proposta educacional;
• Pleno desenvolvimento do educando e
• Preparo para o exercício da cidadania e para o trabalho.
• Qualidade da educação;

Estabeleceu estes direitos a serem cumpridos, e caso não sejam seguidos de


forma devidamente correta e aí em que a Judicialização do Direito à Educação se
encaixa, e passa a ser investigado e analisado pelo Poder Judiciário.

Com a judicialização mostrasse que os direitos essenciais dos cidadãos estão


sendo desempenhados na sociedade, quando o indivíduo recorre aos poderes
públicos, para que estes direitos sejam assegurados, com a finalidade de garantir o
direito à educação. (RIBEIRO, PENA E BAGANHA, 2020, p.162).
REFERÊNCIAS

ROCHA, ARANDA E CUNHA, A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO -


https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/educacao/article/download/9433/4969
Acesso em; 06 Abr 2022

BRASIL - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE -


https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2021/julho/trinta-e-um-anos-do-estatu
to-da-crianca-e-do-adolescente-confira-as-novas-acoes-para-fortalecer-o-eca/ECA20
21_Digital.pdf
Acesso em: 10 abr 2022

BRASIL - CONSTITUIÇÃO FEDERAL -


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Acesso em: 20 abr 2022

BRASIL - LDB 9394/96 -


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
Acesso em: 20 abr 2022

FAGUNDES, Lygia - EDUCAÇÃO: RESPONSABILIDADE DOS PAIS.


https://www.cpp.org.br/informacao/ponto-vista/item/15640-educacao-responsabilidad
e-dos-pais
Acesso em: 20 abr 2022

BRASIL - CÓDIGO PENAL -


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
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