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EDUCAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DA CULTURA DE PAZ NO AMBIENTE

ESCOLAR
EDUCATION: THE CONSTRUCTION OF A CULTURE OF PEACE IN THE
SCHOOL ENVIRONMENT
Jussara Ribas Avila1

Sumário: Introdução. 1. Educação, o dever da escola família e Estado; 2. Mitigar a


violência a partir das escolas e difundir a cultura da paz; 3. Considerações finais;
Referências das fontes citadas.

Resumo: O presente artigo trata a educação como base capaz de transformar o ser
humano e nele infundir a cultura da paz. Partindo da premissa de que é na escola que se
busca o aperfeiçoamento desse ser humano desde o início de sua compreensão, além
família, para o meio social preparando-o para a cidadania através da democracia. Sendo
que a educação deve ter o apoio da família e Estado, que devem estar comprometidos
para que essa busca pela paz seja alcançada mitigando a violência a partir das escolas a
difundindo para os alunos a importância da cultura da paz.

Abstract: This article treats education as a basis capable of transforming the human
being and in infusing the culture of peace. Starting from the premise that it is in the
school that the improvement of this human being is sought from the beginning of his
understanding, beyond family, to the social environment preparing him for citizenship
through democracy. Since education must have the support of the family and state,
which must be committed so that this search for peace is achieved by mitigating
violence from schools by spreading to students the importance of the culture of peace.

Palavras Chave: Educação. Violência. Paz.


Keywords: Education. Violence. Peace.

1
Advogada sócia do Escritório Avila Junior Sociedade de Advogados, com atuação no Brasil e Portugal.
Mestra em Ciências Jurídicas pela Universidade Autónoma de Lisboa, área de pesquisa em direito à
educação. Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Presidente da Comissão
de Direito Constitucional - OAB - Itajaí –SC. Investigadora colaboradora CIDEP - Centro de Investigação
Baiano de Direito Educação e Políticas Públicas vinculado ao programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
da UniFG/BA. E-mail: jussara@avilajunior.adv.br Currículo lattes: <
http://lattes.cnpq.br/0690121960984838>

1
INTRODUÇÃO
A educação é um direito fundamental assegurado como direito de toda pessoa
conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH. Reconhecida
internacionalmente como direito de suma importância para o desenvolvimento humano.
É um direito reconhecido pela Constituição da República Federativa do Brasil-
CRFB de 1988. E apesar da educação ter previsões em Constituições anteriores à de
1988, foi nesta que ganhou maior visibilidade devido ao entendimento da importância
de formar cidadãos.
A escola juntamente com a família e o Estado tem grande papel na educação
para formar cidadãos. E principalmente de formar cidadãos com consciência de mitigar
a violência valorizando a ausência de conflitos. Lembrando que historicamente a família
detinha totalmente o poder de educar, até que essa obrigação foi incumbida também ao
Estado e a sociedade a fim de que essa união em busca da transformação do ser humano
obtivesse melhor resultado.

1 – EDUCAÇÃO, O DEVER DA ESCOLA, FAMÍLIA E ESTADO


A Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH do ano de 1948 em seu
artigo 26º, elenca a educação como direito de toda pessoa, tendo como obrigatório o
direito elementar, bem como de igual acesso os níveis superiores e a disseminação do
ensino técnico de forma ampla com a finalidade de favorecer a compreensão do homem
expandindo sua personalidade através dos conhecimentos e desenvolvimento de
atividades para a manutenção da paz.
Na Década de 1950 a educação passou a ter proteção internacional através da
Organização das Nações Unidas, através da UNESCO e UNICEF que deram efetividade
e proporcionar o desenvolvimento da educação sobretudo nos países que encontravam-
se na época subdesenvolvidos e depois passaram a ser chamados de países em
desenvolvimento.2 A educação é um direito fundamental social, assegurado pela

2
LIMA, Carolina Alves de Souza. Cidadania, direitos humanos e educação. São Paulo. Almedina.
2019. p.41,42.

2
Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB/88 em seus artigos 6º 3, 205º 4,
tendo a colaboração da família da sociedade e do Estado como garantidores desse
direito conforme estabelece também o art. 208 da referida Lei.
Vale lembrar que a CRFB/88 é conhecida como Constituição Cidadã, e foi
elaborada através da participação popular de forma democrática por sindicatos,
associações, comitês etc, e teve como abrangência de vários temas com a proteção de
muitos direitos.5 Dentre esses direitos está a educação, um direito humano tutelado pela
CRFB/88.
A Educação dispunha de proteção em Constituições precedentes à de 1988,
porém ganhou maior visibilidade e reconhecimento nesta CRFB/88, uma vez que está
assegurada em conformidade com a dignidade da pessoa humana, sendo um direito que
colabora para o progresso do indivíduo aumentando suas possibilidades de compreensão
e do senso crítico, sendo indispensável para o desenvolvimento de sua personalidade
para o convívio em sociedade.
A Lei 9.394/96 conhecida como Lei de Diretrizes e Base – LDB, estabelece em
seu artigo 1º,6 que a educação abrange a participação familiar na formação e o
desenvolvimento da convivência humana, seja no trabalho na sociedade civil e na
própria instituição de ensino.
Necessário lembrar que a educação é um direito para o exercício da cidadania.
Portanto é necessário estimular o conhecimento e habilidades humanas, sem deixar de
mencionar que a educação e o conhecimento quando são exercidos, fatalmente obtém-se
melhor emprego, melhor saúde, melhor alimentação, resultando em maior crescimento
pessoal, social com redução da pobreza.

3
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988 - Art. 6º São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
4
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988 - Art. 205. A educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.
5
LIMA, Carolina Alves de Souza. Cidadania, Direitos Humanos e Educação: avanços, retrocessos e
perspectivas para o século 21. São Paulo. Almedina. 2019. p.285.
6
LEI DE DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Art. 1º A educação abrange os
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.

3
Deve se mencionar que a educação é um direito fundamental positivado na
Constituição, portanto é um direito que garante condições de existência do ser humano
bem como assegura a dignidade, sendo um direito inalienável.
Como denota-se, a educação tem como base o comprometimento familiar com a
finalidade de incentivar e dar suporte em busca dos conhecimentos para os indivíduos.
Dessa forma a família é o primeiro lugar do qual o indivíduo encontra a base da
educação contando com o comprometimento Estatal para aperfeiçoar seus
conhecimentos através do convívio com outras pessoas de forma democrática
respeitando o próximo e o ambiente do qual está inserido.
O artigo 2267 da CF/88 conceitua a família como base da sociedade com
assistência assegurada pelo Estado. Porém a partir da metade do seculo XX as
instituições familiares tiveram algumas alterações, a contar da edição do Estatuto da
Mulher casada Lei 4.121/62, permitindo que a mulher pudesse ir além dos limites do lar
sem a autorização marital que outrora era essencial.8
Vale mencionar que família e escola juntas tem um papel fundamental no
desenvolvimento humano, sendo assim nota-se uma necessidade de estreita relação
entre ambos para alcançar resultados satisfatórios no que tange aos conhecimentos e
formação do indivíduo.
Considerando o termo família, vale dizer que a Lei 6.515/77 intitulada Lei do
Divórcio também foi um marco para remodelação da família, percebendo-se que as
proteções jurídicas de forma rígida elencadas no Código Civil de 1916 estavam
defasadas e fazia-se necessário proteger os novos modelos de família que estavam
surgindo.9
Desse modo os valores morais e culturais provenientes do meio familiar devem
ser levados em consideração e apesar de todas as modificações ocorridas até aqui.
Porém sem perder o importante foco que é o benefício da educação e dos
conhecimentos.
Vale mencionar que a família historicamente sempre influenciou na educação
dos filhos, porém diante das obrigações destinadas ao Estado e a sociedade houve uma
certa restrição no total poder familiar e o Estado juntamente coma sociedade uniram-se
7
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL - Art. 226. A família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado.
8
MORAES, Maria Celina Bodin; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Comentários ao artigo 226 –
História da norma. In: CANOTILHO J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.;STRECK,
Lenio L. (coords) Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina 2013. P 2114.
9
Ibidem.

4
à esse processo de educar, até então apenas de responsabilidade familiar, para a
formação do indivíduo.
Como mencionado no artigo 205 de CFRB, o Estado também tem a
responsabilidade para com a Educação juntamente com a família e a sociedade. De
modo simples a sociedade colaborando para a educação nada mais é que a possibilidade
do ensino não somente na esfera pública, de modo que o resultado da educação seja o
preparo do indivíduo para viver em sociedade.
Como perspectiva na educação, vale mencionar que em 2015 em Incheon na
Coreia do Sul, A ONU liderou o Fórum Mundial de Educação, com apoio UNESCO,
órgão que definiu 169 metas globais e 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável -
ODS a serem alcançados até o ano de 2030, denominada como agenda 20 30. Dentre
um dos objetivos do desenvolvimento sustentável está o de número 04 que diz respeito à
educação de qualidade, o qual visa assegurar a educação inclusiva, equitativa e de
qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.10
A escola é o lugar onde se busca o conhecimento, e esta deve estar preparada
para atender as necessidades de cada aluno, incluindo a sua obrigação em ofertar o
ensino regular, com qualidade e igualdade de condições para o acesso e permanência
nas escolas conforme previsto nos incisos I, VII do artigo 206 da CRFB.
É por intermédio da escola que se aprende como viver em sociedade e tornar-se
cidadãos. É na escola que se inicia o convívio com pessoas diferentes de classes
diferentes e se aprende sobre as diversidades, bem como inicia a troca de conhecimentos
com análises individuais que são mostradas coletivamente.
Porém, segundo UNICEF, o sistema brasileiro de educação não tem garantido
aprendizagem para todos, uma vez que, quando o aluno reprova por diversas vezes,
acaba abandonando a escola e/ou fica com dois ou mais anos de atrasos nos estudos. 11
Sendo assim os educandos acabam não tendo a oportunidade de interagir e obter o
conhecimento necessário para entender seus direitos no meio social.
Denota-se portanto, a necessidade dessa conexão entre família, Estado e
sociedade na busca pelo desenvolvimento do indivíduo através da educação,

10
IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social - Desenvolvendo o Investimento Social
– Disponível em: https://www.idis.org.br/o-que-sao-ods-e-o-que-eles-tem-a-ver-com-impacto-social/?
gclid=CjwKCAiA5sieBhBnEiwAR9oh2j3G6IWbkxgmpOX9DygJKah2dW8ZrglANRbzYYfWm_6Cw-
Isbp3iURoCVLsQAvD_BwE
11
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA - UNICEF BRASIL– Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/situacao-das-criancas-e-dos-adolescentes-no-brasil

5
valorizando a ausência de conflitos bem como propagando a paz social. É sobre essa
busca pela paz que falaremos no próximo tópico.

2 - MITIGAR A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E DIFUNDIR A CULTURA DA


PAZ
Para que possamos entender a necessidade de buscar a paz nas escolas, deve-se
ter em mente que, as escolas têm um papel fundamental na construção do ser humano
no que tange ao seu intelecto. Para que seja possível estar inserido em um ambiente
escolar, é necessário exercer o respeito e a tolerância.
Sem dúvida a escola tem um papel fundamental no incentivo de propagar a
cultura da paz, independente do meio familiar, uma vez que a paz deve ser um dos itens
inseridos nessa construção humana, moldando o ser humano para se tornar um bom
cidadão.
Sendo assim, a escola deve preparar seus alunos para enfrentar situações que os
levarão ao desenvolvimento pessoal sendo um dos primeiros locais em que os alunos
têm maior contato com outras pessoas fora do seio familiar e que terão a oportunidade
de conviver pessoas diferentes, com ideias diferentes das suas, certos de que essa
relação é de toda importante para o desenvolvimento humano.
Vygotski entendia que através da relação com outras pessoas é que construímos
nossa identidade. Ou seja, através da interação junto ao meio social podemos aprender a
viver de melhor forma, e por mais que pensemos de forma individual, esses
pensamentos estão ligados à atividades sociais colaborativamente.12
Para Bruner para que a aprendizagem ocorra, é necessário instruir, não basta
apenas reservar na mente os conhecimentos, mas participar do processo de para adquirir
esses conhecimentos através do raciocinar.13
A primeira infância na escola tem um papel fundamental para o
desenvolvimento da criança, afinal é na escola o local onde essa criança vai ter a
oportunidade de aprender e interagir, portanto a escola é o local onde começa o
investimento humano no que tange aos conhecimentos juntamente com profissionais
especializados para esse fim, onde novas informações se juntam com o que a criança já
sabe.

12
VYGOTSKI, Lev. Construímos nossa identidade pela relação com os outros. In: O livro da
psicologia. Tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São Paulo. Globo. 2012. p. 270.
13
BRUNER Jerome. Saber é um processo, e não um produto. In: O livro da psicologia. Tradução Clara
M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São Paulo. Globo. 2012. p.164.

6
Portanto, importante mencionar que a escola é o local ideal para promoção do
conhecimento e a integração dos alunos com o meio social com os devidos cuidados a
fim de evitar a competitividade, mas preconizar o cooperativismo entre os alunos.
Um passo importante para que a violência seja mitigada nas escolas é usar de
maior cooperativismo. Ou seja, fazer da escola um local onde todos aprendem juntos, e
não individualmente. Fazer com que todos participem de maneira a colaborar com a
aprendizagem do colega. Desse modo não gera competição e sim cooperação.
Em várias áreas a competição está presente, por meio de jogos de poder dos
quais o ser humano busca sobressair-se a qualquer custo e dessa forma o egoísmo e o
orgulho que aniquila qualquer cooperação, lançando mão de inúmeros sentimentos
mesquinhos como por exemplo a inveja, e ainda enaltecendo o sentimento de
superioridade de quem quer alcançar a vitória a qualquer custo diminuindo a auto-
estima e aumenta o receio de falhas.14
Vale lembrar que a violência dentro das escolas ascende um alerta para a
sociedade, do qual é necessário buscar solução eficiente a fim de que a vida escolar não
tenha resultando contrário ao que se busca encontrar naquele local, qual seja
conhecimento e respeito.
Devemos ter em mente que existem vários tipos de violência, das quais pode ser,
psicológicas através de manipulações de forma emocional, violência física da qual
ofende a integridade corporal, violência institucional através de omissões e abusos da
própria instituição, e também a violência interpessoal que acarreta o medo dos
indivíduos de apanhar dentro das escolas, bem como outros modos de violências que
ocorrem no dia a dia dentro das instituições de ensino.15
Essas violências prejudicam o ambiente escolar tornando-o um local
desfavorável e hostil para aqueles que o frequentam e muitas vezes o resultado disso é a
evasão escolar pelo fato de sentirem-se excluídos e discriminados.
A violência quando ocorre dentro das escolas acaba trazendo malefícios à todas
as crianças, seja no sentido de aprendizado, uma vez que essa criança acaba muitas
vezes não participando como deveria das aulas, seja na atenção que deveria dispensar
para aprender, já que muitas vezes perdem o gosto até mesmo de estar na escola.

14
GOMES, Taís Angélica Viegas. Educação em valores humanos para a cultura da paz através de jogos
cooperativos. Trabalho de monografia. Curitiba. 2003.
15
Por uma Escola livre de violências. Disponível em: https://respeitarepreciso.org.br/por-uma-escola-
livre-de-violencia/?gclid=Cj0KCQiA8aOeBhCWARIsANRFrQEBnYskWv9uPa-
3zjC5ODdsfYosr828nuDzS6TUqtRw8oGnQihD6ZAaAkerEALw_wcB

7
Não se pode negar que quando há violência há perdas para quem aprende.
Segundo o UNICEF: “a cada hora face mais trágica das violações de direitos que
afetam meninos e meninas no Brasil são os homicídios de adolescentes: a cada hora,
alguém entre 10 e 19 anos de idade é assassinado no País [estimativa do UNICEF
baseada em dados do Datasus (2018)] — quase todos meninos, negros, moradores de
favelas.”16
Vale mencionar que estamos aqui citando crianças e jovens que são mortos
mesmo com a proteção das Leis estipuladas no Brasil voltadas para proteção dessas
crianças e que há ausência de políticas públicas para efetivar essa proteção e manter
essas crianças nas escolas livres de violências.
Conforme mencionado, anteriormente sobre os Objetivos a ser alcançados até
2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS) a promoção pela paz que se
encontra como objetivo de número 16 também está assegurada nessa cooperação
internacional. O qual segue: “Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades
pacíficas e inclusivas par ao desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à
justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos
os níveis”.17
O referido objetivo também deve contar com a contribuição de todos os países
membros para que tenha êxito no decorrer dos 15 anos. Deve-se ter em mente que a
população cresce a cada dia e cada vez mais se torna importante educar para a paz.
Segundo o Fundo de população das Nações Unidas - UNFPA que trata das
questões de desenvolvimento populacional, em novembro de 2022 a população mundial
atingiu 8 bilhões de pessoas com expectativa de vida e melhoria na área da saúde18.
Porém o crescimento populacional trás consigo a importância de maior
responsabilidade humana no sentido de proteger o meio em que se vive e as pessoas que
estão inseridas nesse meio, e de forma geral proteger o planeta com o olhar de todos,
cada um fazendo sua parte pensando na coletividade, e buscando a paz para viver de
forma mais harmoniosa.
Nota-se que há um longo caminho a ser percorrido no que tange à educação para
a paz, e com um prazo mais curto até 2030, sem contar que é uma luta diária já que a

16
UNICEF BRASIL- Para Cada Criança. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/situacao-das-
criancas-e-dos-adolescentes-no-brasil.
17
NAÇÕES UNIDAS – Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/16
18
UNFPA – Brasil. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/a-medida-que-populacao-
mundial-atinge-8-bilhoes-de-pessoas-onu-pede-solidariedade-no-avan%C3%A7o-do

8
violência cresce a cada dia e as escolas não estão preparadas para mudar esse cenário. E
principalmente há deficiência nas políticas públicas voltadas para essa linguagem
específica de educar para promover a paz. Por isso é fundamental movimentar ações
voltadas a atribuir a devida importância desse propósito.
Diante disso é necessário por em prática os conhecimentos das diversidades
existentes entre os alunos em todas as escolas e dessa forma demonstrar aos alunos a
importância em manter a paz através da convivência e o respeito entre todos de forma
democrática.
Neste sentido importa destacar que a cultura da paz está ligada num contexto
global onde os tratados internacionais tiveram e têm grande importância na fomentação
da paz entre os países, bem como as Nações Unidas têm o protagonismo na busca pela
paz mundial contando com a reciprocidade dos Estados em prol dos direitos humanos.
Segundo Xavier Pires; “Percebe-se que, longe de encerrar o sistema de paz a
carta das nações Unidas deflagrou a árdua tarefa de formação da consciência
individual possibilitada pelo amadurecimento moral baseado na constante e perpétua
manutenção da paz e da segurança internacionais num ambiente de cooperação,
diálogo e respeito por seres humanos, povos, nações e Estados, (…)”.19
Neste sentido deve-se pensar que para haver paz é necessário que haja o
engajamento do indivíduo no contexto coletivo, ou seja, é possível manter a paz desde
que cada um faça sua parte respeitando os limites impostos pela sociedade.
Sales filho aduz que a cultura de paz tem diferença de educação para a paz
porém as duas se completam. Para o autor a cultura da paz está incutida em um ser
humano melhor, e um mundo melhor mais humano, ou seja, no sentido de todas as
coisas positivas no quesito humanidade. Porém, sabe-se que haverá a vertente negativa
que trará a violência, e nesse ponto há a necessidade de educar para manter a paz.20
Sem dúvida devemos buscar a harmonia e a paz, independente de classe social, e
neste contexto Braslavsk entende que:

Quienes planteaban que se deben formar las emociones argumentaban que


es necesario que la gente quiera vivir junta, que desee vivir en paz, que
busque revertir las tendencias a las desigualdades y a la violencia en todas
sus formas. Los partidarios de esta posición afirmaban que "si queremos
construir un mundo de paz tenemos que formar gente que sepa amar”.

19
PIRES Xavier, Alex Sander. Sistema de Paz no âmbito das Nações Unidas e Estados
Constitucionais. Coord. Pedro Trovão do Rosário, Luciene Dal Ri, denise Hammerschmidt. In: Direito
Constitucional Luso e Brasileiro No âmbito da pacificação Social. Porto. Editora Juruá. 2020. p. 50 .
20
SALLES Filho, Nei Alberto. Cultura de paz e educação para a paz: olhares a partir da complexidade.
Campinas. SP. Papirus. 2019. p. 9.

9
Frente a esta posición surge inmediatamente la reflexión respecto de si en el
mundo “ganaron” las personas buenas. Las evidencias empíricas muestran
que no, que en muchas oportunidades “ganaron los malos”. El planteo de
formar personas que sólo sean buenas es pobre. A las personas buenas
muchas veces las arrasan las personas prácticas y egoístas, sí además tienen
una aguda capacidad de razonamiento y de argumentaciónLos partidarios
de esta posición afirmaban que "si queremos construir un mundo de paz
tenemos que formar gente que sepa amar”. Frente a esta posición surge
inmediatamente la reflexión respecto de si en el mundo “ganaron” las
personas buenas. Las evidencias empíricas muestran que no, que en muchas
oportunidades “ganaron los malos”. El planteo de formar personas que sólo
sean buenas es pobre. A las personas buenas muchas veces las arrasan las
personas prácticas y egoístas, sí además tienen una aguda capacidad de
razonamiento y de argumentación.21 22

Quando há compreensão e respeito às liberdades no sentido de democracia,


compreende-se que deve haver um cuidado não apenas em acordos políticos ou tratados,
mas de forma geral o ser humano deve ser preparado para fazer a sua parte mesmo que,
individualmente, mas que seu comportamento acrescente no coletivo de forma positiva.
Neste contexto uma das palavras que tem sido difundida é o engajamento. Ou
seja, os profissionais da área da educação devem estar engajados nos planejamentos dos
quais não apenas os Estados, mas também professores, diretores e todos os profissionais
que compõe a rede de ensino, pensando e elaborando juntos estratégias que buscam
construir uma educação que traga resultados mais completos.23
Portanto, diante dos mecanismos para difundir a paz, a educação sem dúvida é o
caminho, principalmente quando integrada aos valores humanos e o respeito ao
próximo, visto que, através da educação é possível evitar ou ao menos mitigar conflitos.
E do mesmo modo as escolas devem aperfeiçoar as práticas pedagógicas voltadas ao
crescimento específico da educação para a cultura da paz, contando com o compromisso
de políticas públicas voltadas para esse resultado.

21
Tradução livre. Aqueles que propuseram que as emoções deveriam ser formadas argumentaram que é
necessário que as pessoas queiram viver juntas, que queiram viver em paz, que busquem reverter as
tendências das desigualdades e a violência em todas as suas formas. Os defensores desta posição
afirmaram que "se queremos construir um mundo de paz, temos que formar pessoas que saibam amar".
Diante dessa posição, surge imediatamente a reflexão sobre se as pessoas boas "venceram" no mundo.
Evidências empíricas mostram que não, que em muitas ocasiões "os bandidos venceram". A proposta de
formar pessoas que só são boas é pobre. As pessoas boas são muitas vezes destruídas por pessoas
práticas e egoístas, mas também têm uma capacidade aguda de raciocínio e argumentação.
22
BRASLAVSK, Cecilia. REICE - Revista Electrónica Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio
en Educación 2006, Vol. 4, No. 2e. p. 86 ,87.
23
TODOS PELA EDUCAÇÃO. Planejar é bom – mas para mudar o jogo na educação, a chave esta em
engajar. Disponível em: https://todospelaeducacao.org.br/noticias/para-mudar-o-jogo-na-educacao-a-
chave-esta-em-engajar/

10
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta do presente trabalho é demonstrar que a busca pela paz pode ocorrer
por meio da educação já que a educação é a base para tornar o ser humano um cidadão
preparado para o meio social. Afinal é na escola que se aprende como respeitar as
diferentes ideias bem como a troca de experiências. Lembrando que a família e o Estado
também são fundamentais nesse processo de transformar o ser humano e que a
importância da convivência entre os alunos dentro de uma escola os prepara para o
mundo de forma mais segura.
A concretização dos objetivos que devem ser alcançados até 2030 sem dúvida
trás um ânimo para que haja educação de qualidade, equitativa, inclusiva de forma que a
oportunidade de aprendizagem para todos se concretize, bem como a cooperação
internacional para que sociedades pacificas assegurem a paz mundial.
É fato que atualmente estamos assistindo uma série de violências, de várias
formas inclusive a violência que se inicia dentro de casa, e não se olvida que devemos
ficar atentos para que isso não se torne normal, banindo qualquer ato de violência para
que não se propague ou perpetue.
A Educação é, sem dúvida o caminho para difundir a paz, uma vez que integra
os valores humanos e o respeito ao próximo. Somente através da educação é possível
evitar ou mitigar conflitos. Portanto as escolas devem aperfeiçoar suas práticas
pedagógicas especificamente preparadas para a educação no que tange à cultura de paz
bem como as políticas públicas devem estar cada vez mais voltadas para essa prática
com o compromisso de juntos obter melhores resultados.

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS


BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASLAVSK, Cecilia. REICE - Revista Electrónica Iberoamericana sobre Calidad,
Eficacia y Cambio en Educación 2006, Vol. 4, No. 2e.
BRUNER Jerome. Saber é um processo, e não um produto. In: O livro da psicologia.
Tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São Paulo. Globo. 2012.

11
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA - UNICEF BRASIL–
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/situacao-das-criancas-e-dos-adolescentes-
no-brasil.
GOMES, Taís Angélica Viegas. Educação em valores humanos para a cultura da
paz através de jogos cooperativos. Trabalho de monografia. Curitiba. 2003.
IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social - Desenvolvendo o
Investimento Social – Disponível em: https://www.idis.org.br/o-que-sao-ods-e-o-que-
eles-tem-a-ver-com-impacto-social/?
gclid=CjwKCAiA5sieBhBnEiwAR9oh2j3G6IWbkxgmpOX9DygJKah2dW8ZrglANRb
zYYfWm_6Cw-Isbp3iURoCVLsQAvD_BwE.
LIMA, Carolina Alves de Souza. Cidadania, Direitos Humanos e Educação. São
Paulo. Almedina. 2019.
MORAES, Maria Celina Bodin; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. Comentários ao
artigo 226 – História da norma. In: CANOTILHO J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.;
NAÇÕES UNIDAS – Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/16
PIRES Xavier, Alex Sander. Sistema de Paz no âmbito das Nações Unidas e Estados
Constitucionais. Coord. Pedro Trovão do Rosário, Luciene Dal Ri, denise
Hammerschmidt. In: Direito Constitucional Luso e Brasileiro No âmbito da pacificação
Social. Porto. Editora Juruá. 2020.
SALLES Filho, Nei Alberto. Cultura de paz e educação para a paz: olhares a partir
da complexidade. Campinas. SP. Papirus. 2019.
SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (coords) Comentários à Constituição do
Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina 2013.
UNFPA – Brasil. Disponível em: https://brazil.unfpa.org/pt-br/news/a-medida-que-
populacao-mundial-atinge-8-bilhoes-de-pessoas-onu-pede-solidariedade-no-avan
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UNICEF BRASIL- Para Cada Criança. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/situacao-das-criancas-e-dos-adolescentes-no-brasil.
POR UMA ESCOLA LIVRE DE VIOLÊNCIAS. Disponível em:
https://respeitarepreciso.org.br/por-uma-escola-livre-de-violencia/?
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TODOS PELA EDUCAÇÃO. Planejar é bom – mas para mudar o jogo na
educação, a chave esta em engajar. Disponível em:

12
https://todospelaeducacao.org.br/noticias/para-mudar-o-jogo-na-educacao-a-chave-esta-
em-engajar/
VYGOTSKI, Lev. Construímos nossa identidade pela relação com os outros. In: O
livro da psicologia. Tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São Paulo.
Globo. 2012.

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