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1 Bacharel em Direito pela Universidade Estadual do Norte Pioneiro (UENP). Juiz do trabalho titular da
1ª Vara do Trabalho de Brusque (SC). Diretor do Foro do Trabalho de Brusque (SC). Juiz convocado para
atuar no Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (SC) desde março de 2017. Mestrando em Ciência
Jurídica da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).
2 Bacharel em Direito pela Universidade da Fundação Educacional de Brusque (UNIFEBE). Advogada
inscrita na OAB/SC nº 23.863. Especialista em Direito do Trabalho pela Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI). Professora de Direito do Trabalho pelo Curso de Direito da Universidade da Associação
Educacional Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI).
1.121.633 com o Tema Jurídico nº 1.046 acerca da delimitação dos direitos
absolutamente indisponíveis previstos na ordem constitucional e legal trabalhista.
Pretende-se inserir o garantismo jurídico de Luigi Ferrajoli e seu pacifismo jurídico
como um dos fundamentos para a solução da questão, bem como o alinhamento às
previsões das Nações Unidas para a Agenda 2030, em especial o Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8, 10 e 16.
Palavras-chave: Direito do Trabalho. Direitos Absolutamente Indisponíveis. Tema nº
1.046 do STF. Garantismo e Pacifismo jurídico de Luigi Ferrajoli. ARE 1.121.633.
ABSTRACT
This article deals with placing the professional in the field of Labor Law on a recent and
thought-provoking theme brought by the Federal Supreme Court in the judgment of
ARE 1.121.633 with Legal Issue nº 1.046 about the delimitation of absolutely
unavailable rights provided for in the constitutional order and labor law. It is intended to
insert the legal guarantee of Luigi Ferrajoli and his legal pacifism as one of the
foundations for the solution of the issue, as well as the alignment with the United
Nations forecasts for the 2030 Agenda, in particular the Sustainable Development Goal
(SDG) 8, 10 and 16.
Keywords: Labor Law. Absolutely Unavailable Rights. Theme nº 1.046 of the STF.
Legal Guaranteeism and Pacifism by Luigi Ferrajoli. ARE 1.121.633.
INTRODUÇÃO
O tema acerca dos direitos fundamentais sempre foi marcante e crucial para o
pensamento jurídico desde os tempos imemoriais: faz parte do próprio fundamento da
regulação das relações humanas através de regras e procedimentos que marcam aquilo
que se conhece por Direito e Justiça.
Como todo movimento que envolve ação e reação, vimos com frequência o
pêndulo balançar de lado a outro, marés indo e vindo, não se consegue chegar a um
equilíbrio perfeito. Ora vemos a prevalência de uma força, ora de seu contrapeso. A
prevalência dos direitos fundamentais é expressa na Constituição Federal da República
Federativa do Brasil de 1988 (CF-88), tanto que é chamada de constituição garantista,
em clara referência ao pensamento de Luigi Ferrajoli.
Na Justiça do Trabalho, o Supremo Tribunal Federal (STF) chamou à baila a
discussão de tais direitos de uma forma muito ampla, algo que seguramente irá perdurar
por anos a fio nas lides trabalhistas, com o martelar da jurisprudência, mediante a Tese
Jurídica fixada no Tema 1.046, relativa ao processo ARE 1.121.633:
ele ensina que “a norma não existe, não é ‘aplicável´ ”, ou seja, “ela é
produzida apenas no processo de concretização”, sendo que “o operador do
direito se vê incluído nesse processo de construção da normatividade,
normativa e materialmente vinculada, da mesma maneira como a estrutura
do problema do caso ou do tipo de caso”.
7 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5415427 - acesso
em 12 de janeiro de 2023.
Que não se perca de vista, portanto, a inserção do Tema nº 1.046 do STF de tal
dimensionamento especial e contundente.
4 - ARE 1.121.633
9 https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15340227643&ext=.pdf - acessado em 11 de
janeiro de 2023.
Mineração Serra Grande S.A. interpôs recurso extraordinário, com alegada
base na alínea “a” do inciso III do artigo 102 da Constituição Federal,
contra acórdão no qual o Tribunal Superior do Trabalho manteve o
entendimento do Juízo acerca da invalidade de supressão, por meio de
acordo coletivo, do tempo despendido pelo empregado até o ambiente
laboral no cômputo da jornada, assentando decorrer o direito de lei.
Afirma violados os artigos 5º, incisos II, XXXV e LV, 7º, incisos XIII e
XXVI, e 8º, inciso III, da Carta da República.
Destaca a constitucionalidade dos instrumentos coletivos de trabalho,
dizendo permitida a flexibilização, mediante negociação coletiva, de
direitos trabalhistas relativos a salário e jornada de trabalho. Sublinha
ultrapassados, no pronunciamento recorrido, os limites da intervenção
judicial e inobservados os princípios da prevalência da negociação coletiva
e segurança jurídica.
O extraordinário não foi admitido na origem. Sucedeu-se o agravo, o qual
foi desprovido, ensejando a interposição de agravo interno.
Em pronunciamento enviado ao Plenário Virtual, o Relator reconsidera a
decisão, julgando prejudicado o agravo interno e passando diretamente à
análise do extraordinário.
Manifesta-se pela constitucionalidade e existência de repercussão geral da
controvérsia alusiva à validade de norma coletiva que restringe direito
trabalhista não assegurado constitucionalmente. Assinala a necessidade de
revisão das teses firmadas nos Temas nº 357 e 762 da sistemática da
repercussão geral, no que adotado entendimento no sentido de
circunscrever-se ao âmbito infraconstitucional a discussão atinente a
disposição de direitos trabalhistas por instrumento coletivo de trabalho.
Assevera que a autonomia coletiva da vontade não se encontra sujeita aos
mesmos limites que a individual, ante a inexistência de assimetria de poder.
Antecipa o voto, dando provimento ao recurso extraordinário para reformar
o acórdão recorrido e julgar improcedente o pedido inicial no tocante ao
pagamento do tempo de deslocamento do empregado ao trabalho. Propõe a
seguinte tese: “Os acordos e convenções coletivos devem ser observados,
ainda que afastem ou restrinjam direitos trabalhistas,
independentemente da explicitação de vantagens compensatórias ao
direito flexibilizado na negociação coletiva, resguardados, em qualquer
caso, os direitos absolutamente indisponíveis, constitucionalmente
assegurados”.(destaquei)
Nada melhor que uma tabela comparativa (autoria própria) para facilitar a
visualização das diferenças e semelhanças entre aquilo que foi proposto inicialmente
para a redação da tese e o texto final, dá para entender de forma muito clara a evolução
da discussão.
Convergências Divergências
Devem ser protegidos os direitos absolutamente Não há limitação de tais direitos aos previstos na
indisponíveis Constituição.
Tal delimitação deverá ser o foco orientador das razões da futura publicação do
acórdão da ARE 1.121.633, não obstante o que se pretenda pinçar nas linhas e
entrelinhas das dezenas de páginas que virão, e do(s) embargos de declaração que serão
seguramente interpostos e que serão objeto das mais diversas interpretações postuladas
pelos advogados das partes respectivas.
4.2 RE 590.415 - SC
10 https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=306937669&ext=.pdf - acesso em
13/01/2023.
aos diferentes setores da economia e a diferenciadas conjunturas
econômicas17. (negrito do texto original, sublinhado atual)
Por oportuno, as notas de rodapé mencionadas são a seguir transcritas:
16 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. Op. cit.,
p. 1226-1227. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito
Sindical. Op. cit., p. 401 e ss; MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do
Trabalho. Op. cit., p. 812.
17 É importante ressalvar, contudo, que os limites da autonomia coletiva
constituem questão das mais difíceis, ensejando entendimentos díspares. No
âmbito da doutrina trabalhista, consideráveis vozes defendem que só é
possível reduzir direitos mediante negociação coletiva no caso de
autorização normativa explícita (como ocorre em alguns incisos do artigo 7º
da Constituição) ou desde que não tenham sido deferidos por lei, a qual
deve prevalecer sobre eventual acordo coletivo conflitante. Trata-se,
contudo, de concepção que reduz o âmbito da negociação coletiva a um
campo limitadíssimo.
12 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário Com Agravo nº 1.121.633 / GO.
Relator: Ministro Gilmar Mendes. Brasília, DF, 02 de junho de 2022. Brasília, 28 abr. 2023. Disponível
em https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15357610710&ext=.pdf acesso em 12 de
maio de 2023.
13 jurisp. cit. - p. 16.
14 jurisp. cit. - pp. 21 e 22.
Ora, é preciso aceitar que a Constituição de 1988 aconteceu; e, com ela,
uma nova configuração entre público e privado, entre a esfera estatal e a
sociedade. Simplesmente negar a autonomia coletiva para deliberar sobre
condições de trabalho próprias a determinada categoria, promovendo
anulações seletivas daquilo que foi acordado entre forças econômicas e
profissionais autônomas, acaba por representar uma reedição da tutela do
Estado sobre os sindicatos
[...]
Justamente por ser clara a opção do constituinte de privilegiar a força
normativa dos acordos e convenções coletivas de trabalho, a jurisprudência
recente do STF tem reconhecido que o debate sobre a validade de normas
coletivas que afastam ou limitam direitos trabalhistas possui natureza
constitucional.
Em tabela de cunho próprio, estabelece o voto 19, tendo a redação das súmulas e
orientação jurisprudencial sido colacionadas do próprio endereço eletrônico do TST:
9 - Considerações Finais
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros Editores
Ltda., 1986. Tradução de Virgílio Afonso da Silva da 5ª edição alemã Theorie der
Grundrechte publicada pela Suhrkamp Verlag (2006).
FERRAJOLI, Luigi. Razones Jurídicas Del Pacifismo. Madrid: Editorial Trotta, 2004.
Edición de Gerardo Pisarello.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: Ideias e ferramentas úteis para o
pesquisador do direito. 8. ed. Florianópolis: Oab Editora, 2003. 243 p.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Priscila Pereira Vasques Gomes.
ZANON JUNIOR, Orlando Luiz. Teoria Complexa do Direito. 3 ed. São Paulo: Tirant
lo Blanch, 2019.