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PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

Todo conhecimento filosófico demanda a existência de princípios que fundamentam


esse conhecimento.

Os princípios são “enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade


das demais asserções que compõem dado campo do saber” (Miguel Reale).

Os princípios são verdades fundantes em um sistema de conhecimento. São admitidos


por serem evidentes ou por terem sido comprovados e também por motivos de ordem
prática.

Categorias dos princípios:

1) Princípios omnivalentes, quando são válidos para todas as formas de saber, como
é o caso do:

- Princípio de identidade (tudo é idêntico a si mesmo) Exemplos: o “A” é o “A”, uma


flor é uma flor, um carro é um carro.

- Princípio da razão suficiente (tudo o que acontece tem uma razão de ser);

2) Princípios plurivalentes, quando aplicáveis a vários campos de conhecimento,


como se dá com o princípio da causalidade, essencial às ciências naturais, mas não
extensivo a todos os campos do conhecimento.

Causalidade significa que um ato/evento/processo tem relação com um outro.

3) Princípios monovalentes, que só valem no âmbito de determinada ciência, como é


o caso dos princípios gerais do direito.

4) Princípios setoriais, são aqueles inerentes à um certo setor de uma determinada


ciência. (Direito civil, direito penal, direito do trabalho)

DISTINÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E NORMAS JURÍDICAS

Os princípios consistem em enunciados lógicos indeterminados, atingindo um grande


número de indivíduos. Por outro lado, as normas jurídicas produzem um efeito mais
específico.

As normas jurídicas fazem obedecer a uma determinada ocorrência e quando


acontece essa ocorrência, a norma tem incidência. Porém, quando não acontece, não
há incidência. Quando duas regras colidem, fala-se em conflito, sendo que no caso
concreto só uma será aplicável. Para decidir qual norma é aplicável utiliza-se os
critérios de hierarquia, cronologia e especialidade.
Já os princípios são as diretrizes gerais de um ordenamento jurídico. Sua
perspectiva de incidência é muito mais vasta do que o das regras. Entre eles pode
existir colisão, mas não conflito, ou seja, quando colidem, não se eliminam.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS

Em nosso ordenamento jurídico, geralmente, os princípios gerais do direito estão


previstos na Constituição Federal, e são chamados de princípios constitucionais
explícitos, mas podem estar implícitos também, ou seja, não estão diretamente
previstos (escritos) na Constituição Federal, sendo decorrentes dos explícitos.
Vejamos, alguns exemplos:

Princípios Explícitos - Artigo 37 da Constituição Federal (CF)

Art. 37 da CF A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

Princípios Implícitos - Princípio da Razoabilidade, Princípio da Proporcionalidade.

PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE

Princípio da Soberania (Artigo 1º, I da Constituição Federal)

Art. 1º da CF A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

I - a soberania;

A soberania consiste na autoridade/poder exercido por alguém (nação), e não pode


ser limitada ou diminuída por nenhum outro tipo de poder, sendo una, integral e
universal. A soberania não pode sofrer cerceamentos, a não ser para manter a
convivência pacífica das nações em âmbito internacional.

Princípio da Igualdade (Isonomia) (Artigo 5º da Constituição Federal)

Art. 5º da CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Esse princípio garante o tratamento igual entre as partes, onde se trata igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (Artigo 1º, III da Constituição Federal)

Art. 1º da CF A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

O princípio da dignidade da pessoa humana assegura a condição humana expressada


pelos valores morais e espirituais das pessoas.

Trata-se da liberdade exercer seus direitos e de construir seus destinos.

Immanuel Kant, o principal teórico na construção do princípio da dignidade da pessoa


humana, parte da premissa de que nenhuma pessoa é passível de valoração, pois,
sendo detentora de racionalidade gera a possibilidade de autoafirmação, ou seja, a
liberdade em seu sentido amplo.

Diversos direitos decorrem da dignidade da pessoa humana, por exemplo, os


estabelecidos no artigo 6º da Constituição Federal.

Art. 6º da CF São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Princípio da Legalidade (Artigo 5º, II da Constituição Federal)

O princípio da legalidade impõe que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de


fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”.

Dessa forma, tudo que não for proibido em lei, pode ser feito.

*Princípio da Legalidade Estrita diz respeito a administração pública. Nesse sentido, a


administração pública só poderá fazer algo quando a lei possibilitar esse ato.

Princípio da Reserva Legal (Artigo 1º do Código Penal)

Art. 1º do CP Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.

Esse princípio determina que só existe determinado crime se houver previsão legal da
conduta reprovável. Além disso, só existe pena, se a lei determinar.

Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa (Artigo 5º, LV da Constituição


Federal)

Art. 5º, LV da CF Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
O princípio do contraditório e da ampla defesa garante que ninguém será condenado
sem ter a oportunidade de se defender dentro de um processo, utilizando todos os
meios lícitos aceitos no direito.

Princípio do Juiz Natural (Artigo 5º, LIII da Constituição Federal)

Art. 5º, LIII da CF Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

Dessa maneira, a sentença só poderá se prolatada (expedida) por autoridade


autorizada a fazer isso, ou seja, um juiz legalmente investido no cargo para
desemprenhar essa atividade

Princípio da Motivação das Decisões (Artigo 93, IX Constituição Federal)

Art. 5º, IX da CF Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação;

O princípio da motivação das decisões impõe ao magistrado a obrigatoriedade de


demonstrar os motivos que o levaram a decidir de certa maneira. Assim, o juiz deve
explicitar de forma extensa quais os fundamentos que o convenceram daquele
resultado.

Princípio do Duplo Grau de Jurisdição (Decorre do Artigo 5º, LV da Constituição


Federal)

O duplo grau de jurisdição manifesta a possibilidade de reexame do processo judicial


ou administrativo. Toda decisão pode conter vícios e devem ser passiveis de revisão
para a garantia de uma decisão justa e livre de erros. Geralmente, o reexame acontece
por uma instância superior formada por um colegiado, o que diminui as chances de
erros judiciais.

Princípio do Devido Processo Legal (Artigo 5º, LIV da Constituição Federal)

Art. 5º, LIV da CF Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Garante a obrigatoriedade de garantia de todas as fases processuais descritas na lei,


evitando que as partes sejam surpreendidas por atos diversos e não oportunos naquele
momento ou não cronológicos. Importa dizer que a violação de tal princípio resulta na
nulidade do processo.
RELATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS

Os princípios não são absolutos, podendo sofrer relativizações em alguns casos.

Exemplo: Os atos processuais (atos tomados dentro de um processo judicial) devem


ser publicados, ou seja, deve-se respeitar o Princípio da Publicidade. Entretanto, não
haverá essa publicidade em processos que tenham segredo de justiça (ex: investigação
de paternidade)

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